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J.R.R.

Tolkien

Sr. Feliz
Título original: Mr. Bliss

Tradução de Leonardo Rosati

Edição publicada por Houghton Mifflin Company 1982

® TOLKIEN ® são marcas registradas


de The J.R.R. Tolkien Estate Limited.
O Sr. Feliz . . .
morava numa casa branca com telhado vermelho. Os aposentos
eram altos e a porta da frente muito alta, porque o Sr. Feliz usava
chapéus igualmente altos.
Tinha muitos deles pendurados no corredor.

Um dia ele olhou pela janela de manhã e perguntou ao Coelhongo


(que ficava lá embaixo no jardim, mas com seu pescoço longo,
geralmente podia ver pelas janelas mais altas):
“Hoje vai ser um dia bom?”
“Claro que vai!” respondeu o Coelhongo. Todo dia era bom para ele,
pois sua pele era de courvim. Ele tinha feito um buraco muito fundo
no quintal; era meio cego, então nunca sabia se o sol estava
brilhando ou não. Só pra constar, ele geralmente vai dormir depois
do café da manhã e levanta só para jantar, sendo assim ele sabe
pouco do dia.

Depois do café o Sr. Feliz colocou seu alto chapéu verde, porque o
Coelhongo lhe disse que ia ser um bom dia, e falou:
“Vou sair e comprar um carro!”
Aí ele pegou sua bicicleta e desceu até a cidade; ao chegar à loja
disse:
“Eu quero um carro!”
“Que cor?” perguntou Sr. Binks.
“Bem amarelo” respondeu Sr. Feliz, “por dentro e por fora.”
“Vai custar $5000” disse Sr. Binks.
“E eu quero rodas vermelhas” continuou Sr. Feliz.
“Mais $600”
“Está bem, só que esqueci minha carteira em casa” disse Sr. Feliz.
“Tudo bem, então deixe sua bicicleta aqui e quando trouxer o
dinheiro pega sua bicicleta de volta.”
Era uma bicicleta bonita toda prateada, mas sem pedais, porque o
Sr. Feliz só descia a ladeira.
Este é o carro do Sr. Feliz.

Sr. Feliz ligou seu carro e saiu, então perguntou a si mesmo:


“Aonde vai Sr. Feliz?”
“Eu não sei, Sr. Feliz” respondeu a si mesmo.
“Vou visitar os Cevados e fazer uma surpresa!”
“Muito bem,” dizia Sr. Feliz, “é isso aí!”
Então ele virou bruscamente à direita da próxima esquina e
trombou direto com o Sr. Dias, que vinha do seu canteiro com um
carrinho cheio de repolhos.

Isso mostra o que aconteceu.

Ele teve que levar o Sr. Dias e todo seu repolho no banco de trás
porque ficou contundido para ir caminhando.
E assim partiu de novo, e na segunda esquina virou bruscamente
para a esquerda dando de cara com a Sra. Nites e sua carroça
cheia de bananas, puxada por um burrinho.
A carroça quebrou e ele teve que empilhar as bananas sobre o
repolho, e levar a Sra. Nites junto com Sr. Dias, e ainda amarrar o
burrinho atrás do carro.

O carro estava lotado e não ia muito rápido. Logo chegaram ao


bosque, porque a estrada passava no meio dele.
Então surgiram os ursos, e ficaram no meio da estrada acenando:
o Archie, o Teddy e o Bruno.

O Sr. Feliz teve que parar pois não podia passar sem atropelá-los.

“Eu gosto de bananas” disse Teddy.


“e eu gosto de repolho” disse Archie.
“e eu quero um burrinho!” disse Bruno.
“e queremos o carro” disseram juntos.

“Mas não podem pegar o carro, porque é meu” disse Sr. Feliz.
“e não podem pegar o repolho, porque é meu” disse o Sr. Dias.
“e também não podem pegar as bananas ou o burrinho porque são
meus” disse Sra. Nites.
“Então nós vamos devorar vocês, tem um para cada” disseram os
ursos.
É claro que estavam apenas provocando; eles rosnaram e olharam
ferozmente com seus olhos amarelados, tão ameaçadores que o Sr.
Feliz ficou apavorado (e também o Sr. Dias e a Sra. Nites). Então
eles deram aos ursos as bananas e o repolho.

Archie e Teddy colocaram tudo sobre o burrinho e levaram para


sua casa no bosque. Bruno sentou e ficou olhando o Sr. Feliz. Ele
na verdade ficou vigiando para que Sr. Feliz não partisse antes que
Archie e Teddy voltassem.

Quando voltaram os ursos disseram: “Agora queremos uma


carona!”
“Mas eu vou visitar os Cevados” disse Sr. Feliz, “e vocês nem os
conhecem.”
“Mas podemos conhecer.” disse Archie.

Então Sr. Feliz teve que deixá-los subir atrás, e estava tão lotado
que a Sra. Nites teve que sentar na frente junto com Sr. Feliz, e ele
ficou tão espremido que mal podia dirigir.
Então partiram de novo e sairam do bosque para o topo da colina,
pois a estrada subia e descia para o outro lado.

O desenho mostra o carro do Sr. Feliz subindo e depois descendo do


outro lado.

O pobre burrinho foi amarrado atrás do carro novamente. Ele não


se importou muito a principio, pois com seis dentro do carro, não ia
muito rápido para subir a colina, mas quando chegaram lá em
cima e começaram a descer, (porque os Cevados moravam lá em
baixo) aí a coisa mudou. Sr. Feliz estava tão espremido pela Sra.
Nites, que nem conseguia frear. Logo estava tão rápido que o
burrinho foi arrastado pelos ares. Desceram a ribanceira tão rápido
até que o carro se chocou contra o muro da casa dos Cevados e
todos foram arremessados pelos ares sobre o muro. Todos menos o
burrinho que de sobresalto caiu sentado dentro do carro.
As bananas e o repolho não estão na figura, claro, pois os ursos
haviam levado para o bosque.

Os Cevados

estavam do outro lado do muro, sentados em banquinhos em seu


lindo gramado do jardim. Eles estavam tomando sopa em tigelas,
numa bela toalha estendida no gramado. Eles eram gordos, mas
um em especial era muito gordo, conhecido como Gordon Cevado (ou
apenas Gorducho).
Ele tinha o cabelo preto encaracolado e não usava casaco, pois
acabavam todos rasgados quando tentava vesti-los. Então usava
apenas uma camiseta cavada branca com bolinhas amarelas. O
segundo mais gordo se chamava Alberto (que está à esquerda) e
tinha as pernas curtas. Humberto é o que está do outro lado da
panela de sopa. Ele está horrorizado porque acabou de engolir um
besouro que caiu em sua sopa. Egberto é o que está de blusa verde.
Ele também está de cara torta porque um outro besouro está na
toalha limpinha (pode reparar que ele está para matá-lo com uma
colher). Mas pouco depois, Alberto ficaria mais horrorizado porque
o besouro ia ali ser esmagado. Não por Egberto. Foi aí que o Sr.
Feliz e toda sua turma caíram do céu, sobre os Cevados, a sopa, o
besouro e a toalha limpa.

O Sr. Feliz caiu de cara no chão sobre o besouro. O Sr. Dias caiu
sobre Alberto e ficou de ponta cabeça sobre a toalha. Bruno caiu
sentado. Teddy caiu sentado sobre Humberto. A Sra. Nites acabou
mandando Egberto para trás. E Archie caiu de cabeça sobre a
panela de sopa e ficou todo ensopado.
Os Cevados levaram um susto e ficaram furiosos. Gorducho estava
menos furioso porque ninguém caiu sobre ele, e embora tenha
perdido sua sopa, ele riu a beça, o que deixou Alberto mais bravo.

“Na próxima vez que vier,” disse ao Sr. Feliz, “venha pela porta da
frente, toque a campainha, e não jogue pessoas de um balão sobre
nosso piquenique!”
“Não viemos de balão, eu trouxe meus amigos de carro, que
deixamos lá no portão.”
“Ainda bem,” disse Egberto, “um carro sobre esta linda toalha seria
demais. E acho que um de seus amigos está sentado sobre um
besouro”
Então a Sra. Nites deu um pulo assustada, embora estivesse caída
reclamando:
“Ai, com mil bananas, estou toda quebrada!” e ela não se sentaria
de novo até que o Sr. Feliz lhe mostrasse o besouro esmagado em
sua testa. Nesse meio tempo, Archie já havia se limpado, lambendo
toda a sopa, e o Sr. Dias havia encontrado seu chapéu e já estava
sentado; e Bruno que era bem pequeno saiu para colher flores.
Então o Sr. Feliz apresentou a todos, e os Cevados que eram muito
educados disseram: “Prazer em conhecê-los, e esperamos que
estejam bem. Não está um dia agradável? Gostariam de ficar para
o almoço?” Na verdade não era isso que eles queriam expressar
(exceto a parte do dia agradável, e o Coelhongo estava certo sobre
isso). O Sr. Feliz e a Sra. Nites disseram: “Muito obrigado”. E os
ursos disseram: “Adorariamos dar uma volta em seu belo jardim,
se não se importam”. Então trouxeram mais sopa, salada de
repolho, banana frita e bolinhos, e todos se sentaram e comeram,
menos os ursos que sumiram.

Depois do almoço, todos caminharam pelo jardim. Não havia sinal


dos ursos, até que chegaram ao jardim da cozinha.

Isto é uma amostra do que eles viram.

Os três ursos dormiram embaixo de uma grande macieira.


Estavam roncando e suas barrigas estavam bem estufadas.
Só restou uma fila de repolho no canteiro da horta.
Os ursos comeram tudo; e muitas maçãs verdes e muitas batatas
ainda cruas.

Os Cevados ficaram realmente furiosos desta vez, porque Archie


não deixou nem mesmo um repolho roxo que usavam para a
salada.
Eles chacoalharam os ursos e acordaram-nos, dizendo para irem
embora imediatamente.

“Seus amigos são pessoas bem grosseiras, hein Sr. Feliz,” disse
Archie. “primeiro nos convidam para almoçar, depois ficam bravos
se comemos! Nós vamos continuar nossa sonequinha.”
Eles deitaram novamente embaixo das árvores e não sairiam dali,
mas o Cevado mais bravo, Alberto, soltou os cachorros.
Aí os ursos levantaram rapidinho, pularam o muro, e saíram
correndo pela estrada o mais rápido que puderam. Para sorte deles
o portão estava fechado e os Cevados não soltaram os cachorros na
estrada.

“Que se dane,” eles gritaram, “nós temos um monte de repolho e


bananas em casa.”

“Meu repolho!” gritou Sr. Dias.

“Minhas bananas!” gritou a Sra. Nites. “ah! eu pego esses ursos,


vou atrás deles!”

“Mas eles a devorariam,” disse Sr. Feliz, “e mesmo assim você não
pode alcançá-los”

“Eles vão devorar todo o repolho e as bananas, você quer dizer,”


comentou Sr. Dias “e nós podemos facilmente alcançá-los com o
carro.”
“Não!” disse Sr. Feliz. “Eu não vou sair para caçar ursos. Prefiro
que comam bananas a mim.”
“Isso porque não são suas as bananas,” disse Sra. Nites. E eles
empurravam o Sr. Feliz para o portão.

Mas não conseguiam convencê-lo, embora o empurrassem e tudo


mais. Até que ele concordou em ir atrás dos ursos se os Cevados
também fossem e levassem os cachorros. Os Cevados gostaram da
idéia porque ainda estavam bravos com o acontecido. Mas quando
chegaram ao carro, os Cevados perceberam que estava todo
quebrado e precisaria de muitos reparos.

“O que vamos fazer?” perguntou Sr. Feliz. “Este carro me custa


$5600 e o Sr. Binks está com minha bicicleta prateada!”
“Hin-hó! Hin-hó!” disse o burrinho de repente atrás da cerca. Eles
se esqueceram totalmente dele, e ele tinha ido atrás de seu próprio
almoço: cardos.
“Já sei!” disse o Sr. Feliz assim que ouviu o burrinho, “o burrinho
pode nos puxar até em casa.”
“Não pode não,” disse Sra. Nites, “não se eu o conheço bem.”
Ela o conhecia muito bem. Ele já estava indo embora rapidinho. Eles
chamaram e chamaram, e ofereceram cenouras a ele; aí ele parou e
esperou para ver o que aconteceria.
Vocês já podem imaginar o que aconteceu. Eles trouxeram as
cenouras e convenceram o burrinho a voltar. Então o amarraram e
trouxeram três pôneis (do Alberto, do Humberto e do Egberto;
Gorducho era muito pesado para ter um pônei). Amarraram os
pôneis e o burrinho na frente do carro, e depois de desamassarem
as rodas e o consertarem, todos subiram: Sr. Feliz, Sr. Dias, Sra.
Nites, Alberto, Humberto, Egberto, Gorducho e os cachorros, que não
eram confiáveis, pois poderiam sair para perseguir coelhos.
Antes de partir Gorducho disse: “Vai ser a hora do chá antes de
chegarmos lá. Vamos esperar por isso, ou vamos tomar chá agora!”
Os outros não lhe deram atenção, e de qualquer forma seria muito
trabalho descer todo mundo de novo.
Demorou mais do que eles esperavam para subir a longa estrada
da colina, e demorou mais ainda para descer pelo outro lado
porque eles tinham que ir brecando senão o carro com todo peso
passaria por cima dos pôneis e do burrinho. Já estava bem tarde
quando eles chegaram à hospedaria do Cruzamento. E Gorducho
insistiu que parassem para o chá. Tomaram um lanche bem
reforçado, especialmente Gorducho. Eles não tinham levado dinheiro,
então o proprietário anotou tudo na conta do Sr. Feliz, pois os
Cevados disseram que a festa era dele.

Fiz o desenho da festa na hospedaria verde do Cruzamento. O


carro também estava lá (assim como os pôneis e o burrinho), mas
estou cansado de desenhá-lo.
Quando Gorducho finalmente havia terminado, eles montaram e
partiram.
É uma longa caminhada do Cruzamento até o bosque dos três
ursos. E logo o sol se punha. Estava escurecendo e a lua surgindo
quando eles chegaram ao bosque.

Até mesmo a Sra. Nites começou a ponderar se suas bananas


valiam o risco, quando viu a aparência sombria do bosque. Ela
pensou: “Os cachorros tomarão conta de nós!” E os cachorros
pensaram: “Uma coisa é correr atrás de ursos no quintal à tarde,
e outra é vir caçá-los em sua própria floresta à noite. Cadê nossa
casinha confortável?”

Alberto perguntou: “Não está na hora de acender os faróis?”


Foi aí que o Sr. Feliz lembrou-se que não havia comprado nenhum
farol, se olhar os desenhos do carro vai perceber isso. Ele se
preocupou apenas com a cor das rodas.
“Sem problemas,” disse Humberto. “não tem nenhum policial aqui
neste fim de mundo mesmo.”

“Queria que tivesse,” replicou Sr. Feliz. “muitos deles, aqui e agora.”

Eles dirigiram apenas até a entrada do bosque, depois arrastaram


o carro para fora da estrada, amarraram os pôneis e o burrinho e
foram a pé. Os cachorros foram na frente para farejarem os ursos,
e Alberto Cevado não os deixariam fugir, porém o Sr. Feliz estava
lá atrás, e provavelmente não teria vindo junto se não fosse o
medo de ficar sozinho. A Sra. Nites toda hora olhava para trás
para certificar-se que ele estava seguindo-os. O bosque ficava cada
vez mais escuro à medida que adentravam nele.
Tudo que podiam enxergar era um caminho, que os ursos fizeram
ate sua casa.
O caminho se abriu numa estrada e eles andavam devagar e
silenciosamente.
O Sr. Feliz sentou-se e achou que poderia esperar ali até que
voltassem.
Isso era tudo o que ele podia fazer, e não gostava nem um pouco
disso. “Nem consigo ver se meu chapéu é preto ou verde” ele disse.
“Eu sei que sua cara está pálida, sem olhar” disse Sra. Nites, que
estava bem na frente dele. “Você vai conosco!” E o Sr. Feliz teve que
acompanhá-los. Não muito longe. Eles estavam bem próximos da
casa dos ursos agora. Na verdade era bem do lado da estrada no
final do desenho, onde Alberto já estava chegando.
Os cachorros fizeram uma curva e de repente deram um grito
horrível; voltaram correndo com o rabo entre as pernas e o pêlo
todo arrepiado. Sr. Feliz não quis esperar para ver o que eles
viram, e fugiu logo atrás deles o mais rápido que pode correr. E
cada vez que ele trombava numa árvore, ficava com mais medo, e
quando tropeçava e caia de nariz no chão, levantava rapidinho e
corria mais rápido ainda sem olhar para trás.
Ele esqueceu o carro, os pôneis, repolho, Cevados e tudo mais.
Correu a noite inteira até de manhã.
Mas nesse meio tempo, você gostaria de saber o que os cachorros
viram, e os Cevados, a Sra. Nites e o Sr Dias. Eles não fugiram, e
já era tarde demais.
E ficariam surpresos ao saber que todos se jogaram no chão e
cobriram suas cabeças, até mesmo Alberto.

Como os ursos fizeram isso? Este é o segredo deles. Eles devem ter
se pintado com alguma tinta que brilha no escuro já esperando que
viessem atrás deles. Assim que ouviram os cachorros chegando
perto de sua casa (que agora podem ver), eles pularam pra fora
para assustá-los.
Mas nem eles pensavam que assustariam tanto assim, como
assustaram a todos.
Acharam que fossem monstros, fantasmas, goblins, ou os três
juntos. Gorducho rolou no chão, e a Sra. Nites também, e dizia:
“bananas, bananas, bananas” como se tivesse contando. Sr Dias
escondeu seu rosto no chapéu e dizia: “Eu vou ser bonzinho, eu vou
ser bonzinho.” Os outros Cevados ficaram quietos e tremendo de
medo.

Então os ursos começaram a rir. Riram muito! Eles se sentaram


rindo e quando se levantaram, deixaram grandes marcas
brilhantes no chão, parecendo grandes vagalumes.

“Agora vamos todos jantar,” disse Archie ao retomar o fôlego.


Humberto foi o primeiro a se levantar, e estava sem graça por se
sentir tão bobo. E quando Gorducho ouviu a palavra jantar, ele
esqueceu todos os problemas.

Os ursos realmente capricharam no jantar. Os Cevados, Sra. Nites


e o velho Sr. Dias perdoaram os acontecidos depois que jantaram,
cantaram e dançaram juntos como velhos amigos.

Não conseguiram encontrar o Sr. Feliz em nenhum lugar, mesmo


acordando todos os pássaros com seus gritos e berros, antes de
desistirem.
Aqui um desenho da festa.

Isto já é no fim da festa quando quase tudo havia sido comido:


frango, alface, beterraba, tomate, aspargo, presunto, queijo, pão
integral, pavê e um bolo que ainda sobrou (mesmo não sendo
aniversário de ninguém), e o barril de cerveja está quase vazio.

Humberto não está neste desenho, pois ele engasgou e foi para
cozinha, mas estava sentado depois do Egberto perto do Teddy.
O Sr. Dias está contando uma história, e a Sra. Nites finge não
escutar. Bruno e Gorducho estão muito cheios para fazer algo, por
isso estão sentados quietos. Já estava muito tarde quando
terminaram e mais tarde ainda quando arrumaram tudo. Como
estava muito tarde para ir para casa, os ursos convidaram todos
para passarem a noite. Imaginem todos passando a noite numa
casa de ursos, mas já estavam à vontade nessa hora, e nem se
lembraram de bananas ou repolho e nem perguntaram de onde veio
toda essa comida maravilhosa, (claro, pois os ursos geralmente não
pagam as coisas, e sim “pegam” as coisas. Na verdade são bem
malandros e embora possam ser bem agradáveis num jantar).

Os ursos tinham uma casa grande, comprida, sem piso superior.


Humberto e Egberto dormiram num beliche e cada um encontrou
uma cama, menos Gorducho, pois nenhuma cama aguentaria ele,
por isso dormiu próximo a lareira sobre um colchão, roncando feliz
a noite toda parecendo uma chaleira ao fogo. Os pôneis e o
burrinho foram acomodados também, ficaram do lado de fora sob
um telhado. Todos estavam bem confortáveis.
Ao acordarem de manhã a história continuou.

O que aconteceu com o Sr. Feliz? Ele correu a noite toda sem saber
para onde estava indo, pulando cercados, caindo em buracos,
rasgando sua roupa nos arames farpados. Quando começou
amanhecer já estava morto de cansaço, e percebeu que estava no
topo da colina. Ele estava muito longe, mas podia ver a cidade lá
embaixo e também sua casa mais longe ainda na colina distante.

“Ou tem uma bandeira na minha chaminé, ou o limpador está lá,


mas eu nem pedi seu serviço,” disse a si mesmo.

“Bem, estou contente!” pensou em voz alta. Ele se levantou e desceu


a colina cambaleando, pelos campos e cercas até atingir a estrada
que ia para a cidade. Foi até a loja do Binks, mas ninguém estava
lá. Então ele pegou sua bicicleta no portão ao lado da loja e partiu
para sua casa.
Claro que ele pretendia retornar mais tarde com sua carteira,
assim que se trocasse e colocasse seu chapéu de compras (e claro
que tomasse um café também).
Mas podemos concordar que isso é muito suspeito. Assim também
pensou o Sr. Binks que olhava pela janela. Ele se vestiu
rapidamente, mesmo antes de seu horário normal e falou: “Muito
bem rapaz! Vou imediatamente à delegacia contar ao Sargento
Boffin que você sumiu com meu carro sem pagar!” Mesmo assim
ele não deixou de tomar seu café da manhã tranquilamente.
Enquanto mastigava, imaginava como o Sr. Feliz passaria seus dias
na prisão.
Este é um retrato do Sargento Boffin sem seu
capacete.

Enquanto isso, na casa dos ursos estava uma converseira. Os


ursos estavam de bom humor esta manhã e devolveram as bananas
da Sra. Nites (bem, parte delas), e deram ao Sr. Dias alguns
repolhos frescos (que nem perguntou onde os conseguira). Mas a
Sra. Nites queria outra carroça e o Sr. Dias queria um carrinho, e
os Cevados queriam uma panela nova de sopa, enquanto os ursos
só queriam mais diversão, e disseram que o Sr. Feliz é quem era
responsável por tudo isso. Os Cevados então, começaram a pensar
em cobrar do Sr. Feliz um aluguel pelos pôneis, o que não era legal
da parte deles, pois não lhe faltava nada e eram muito ricos.

De qualquer forma, logo após o café eles partiram juntos


novamente. E foi aquela bagunça claro. O Sr. Feliz fugiu sabe-se lá
pra onde; os cachorros sumiram, provavelmente voltaram pra casa.

Os ursos, os Cevados e os outros dois juntos são nove. Bruno


sentou no colo da Sra. Nites, Archie e Teddy se espremeram como
puderam, mas Gorducho não pode ceder em nada.
Quando chegaram à cidade, encontraram uma confusão em
andamento. O Sr. Binks estava tentando convencer o Sargento
Boffin de que o Sr. Feliz era um ladrão, e que ele deveria subir a
colina e prendê-lo.

Na figura o Sargento Boffin está falando: “Que coisa! Que Colina?


Quem que corre?”, e o Sr. Binks gritando e as pessoas saindo
para ver. Pode ver Sam, o filho do Sargento Boffin, chamando seus
amigos para ver seu pai brigar com Sr. Binks. O barbeiro e o
açougueiro estão lá, o sapateiro (da porta ao lado) só olhando. Seu
Zé está na porta com seus óculos, a Dona Clarinha com um pacote
na mão até parou a conversa com a Sra. Simkins; o velho Feitor
Gamgee tentando ouvir algo enquanto o elegante Sr Alfredo finge
não escutar. Tem alguém na janela e algumas crianças por ali.

Mas isso nem se compara com a confusão que viria, quando


surgiu o carro do Sr. Binks cheio de ursos e Cevados e outros,
puxado por pôneis e um burrinho.
Estavam todos ali, com muitas pessoas, e começaram a rir e fazer
piadas sobre os carros pequenos que o Sr. Binks vendia, e isso o
deixou mais furioso ainda.
“Tem que prendê-lo sim” disse “como pode deixar um belo carro
ficar desse jeito, todo amassado, e cheio de porcarias, ursos e
estranhos.”

“Grrrrrrr” rosnou Archie. O Sr. Binks deu um passo pra trás,


tropeçou e caiu na sarjeta.
“Levante-se, seja educado e nos agradeça” disse Archie. “Deveria
estar contente por trazermos seu carro de volta, pois o Sr. Feliz o
deixou abandonado no bosque e foi embora, não o vimos mais
depois disso.”

“Ah sim eu o vi” disse Binks “estava espreitando minha loja esta
manhã, como eu contava aqui ao Sargento Boffin”

“Então vamos atrás dele” disse Teddy, “pois ele deve dinheiro para
todo mundo. O Sr. Dias quer um carrinho novo, a Sra. Nites uma
carroça, os Cevados querem uma panela nova, o Sr. Binks seu
dinheiro, e nós queremos vê-lo também. Vamos todos juntos!”

E foi isso que decidiram. Pobre Sr. Feliz, que não estava sabendo de
nada.
Ele tinha mais problemas, assim que chegou na colina (muito
cansado), olhou para a chaminé e ficou parado na estrada.

“Estou contente, mas preocupado,” disse “se aquilo não é a cabeça do


Coelhongo saindo pela chaminé, e parece estar mastigando um
tapete” (por isso parecia uma bandeira de longe).

E era a cabeça do Coelhongo realmente! O Sr. Feliz quando saiu,


esqueceu de dar comida a ele, por isso ele entrou pela porta de
trás se espremendo, e chegou a sala de jantar, e foi comento tudo o
que viu, inclusive o teto para alcançar os níveis superiores,
passando pelo quarto e pelo sótão, até sair pela chaminé. Lá estava
ele, sob o sol da manhã mastigando algum tapete do quarto.
Este desenho dá uma idéia do que o Sr. Feliz viu quando entrou em
casa.

Embora ele já tivesse o Coelhongo por alguns anos, ficou muito


surpreso, pois não havia reparado que o pescoço dele era tão
telescópico.
O Sr. Feliz estava muito zangado e estava puxando o rabo do
Coelhongo lá na sala de jantar, mesmo ele não querendo sair dali.
Tudo o que fazia era gritar: “Vai chover, vai chover! Me deixa em
paz!”
Feliz estava tão cansado que o largou, foi trocar de roupa, pegou o
que sobrou da comida e fez um tipo de café com almoço, ou um
lanche.
Aí ele deitou embaixo de uma árvore e dormiu, esqueceu até de
sonhar.
Lá pelas onze ele acordou com o Coelhongo dizendo: “Tem um
monte de gente subindo a colina, seu Feliz,” e continuou “posso ouvir
as vozes do Sargento Boffin, do Sr. Binks, dos Cevados que vieram
para o chá na terça passada, de outras pessoas, e rugidos de
ursos.”
O Coelhongo é praticamente cego, mas pode ouvir muito bem. “E
parece que estão furiosos com o senhor” comentou.
“Eita!” disse Sr. Feliz, “O que estão dizendo?”
“Eles estão dizendo que vão pegá-lo, nem que seja a força.”
“Ai meu Deus!” disse ele, e logo correu para trancar todas as
portas e janelas. Então ele foi espiar pela janela do quarto, mas o
Coelhongo estava atravessado no caminho.
Logo chegou Boffin, Binks, os Cevados, os ursos, Sr. Dias, Sra.
Nites e muitos outros curiosos da cidade.
E nada da chuva que o Coelhongo falou, estava calor e eles
estavam suando; então começaram a chamar: “Sr. Feliz!!”
Nao houve resposta.
Então Sr. Binks gritou: “Quero meu dinheiro”
E os outros gritaram juntos: “Queremos o dinheiro, e queremos
agora!”
Sem resposta de novo.
“Por que não prende ele?” instigou Archie que estava no portão.
“Vou prendê-lo!” disse o sargento.

“Ah! Aí estão vocês!” disse o Coelhongo de repente colocando seu


longo pescoço para fora da chaminé. Ele podia ouvi-los, mas não
vê-los, mas eles não sabiam disso. As pessoas olharam para cima
e ao vê-lo já foi o bastante. Ficaram assustadas e a maioria caiu
no chão. (o Sr. Feliz guardou segredo sobre o Coelhongo todo o
tempo, pois ele não queria pagar ao Sargento Boffin, a licença do
animal, o que seria com certeza o dobro do valor, por volta de
$7500 ao ano. O Coelhongo foi treinado para se esconder em sua
toca quando estranhos subiam a colina, e até este dia, ninguém
havia visto mais que sua cabeça no buraco. Hoje foi uma exceção
porque o Coelhongo se esqueceu onde estava e achou que estava em
sua toca.)

“Levantem! Levantem!” ameaçou o Coelhongo. “Levantem e vão


embora, antes que eu saia de minha toca e pule sobre vocês!” e
escondeu sua cabeça. Aí eles se levantaram e foram embora
correndo. (como podem ver no desenho)
Todos, menos os ursos, que não se assustaram e ficaram atrás do
muro.

Eles caiam um sobre o outro na pressa. Gorducho e o Sargento


Boffin rolaram ladeira abaixo como barris, foi uma descida e tanto
antes de pararem numa vala.
Foi então que Sr. Feliz começou a rir, e ele não ria desde
anteontem. Sem nada para atrapalhar, ele riu muito. Ele saiu, foi
até a estrada e acenou para os amigos.

“Bom dia!” disseram os ursos surgindo de surpresa por detrás do


muro.
“Eita!” assustou Sr. Feliz com um pulo.
“Podemos fazer algo pelo senhor?” perguntaram.
“Não obrigado!” respondeu. “Bem, na verdade não há nada que
podem fazer a menos que possam tirar meu Coelhongo de dentro
da casa.”
“Com certeza!” falaram “ Será um prazer, mas não de graça!”
“Claro que não” comentou, “vou recompensá-los”
Então eles entraram na casa e gritaram para o Coelhongo que se
ele não saísse imediatamente, iriam devorá-lo começando de baixo
para cima.

O Coelhongo desceu rapidamente seu pescoço cheio de fuligem e


sujeiras, e foi investigar bem de perto (bem de pertinho ele
enxergava um pouquinho), quando viu que pareciam ursos,
cheiravam como ursos e rugiam como ursos, ficou com tanto medo
que deu um pulo pela janela afora.

Mais dois pulos e estava no quintal, pulou o muro e foi pra


estrada.
Quando as pessoas o viram vindo, começaram a gritar e fugiram
correndo ou rolando o mais rápido possível, e todas as casas da
cidade fecharam suas portas.

Como o Coelhongo não parou de pular até se perder na distância; o


Sr. Feliz chorou muito, achando que tinha perdido ele.
Depois do almoço, os ursos calcularam o preço pela ajuda. O Sr.
Feliz foi buscar sua carteira pois achou que já era a hora de
acertar as contas. Achei que gostariam de saber quanto toda essa
aventura custou a ele, e tudo o que ele pagou. Foi uma coisa bem
cara.

Esta é uma cópia da conta que o Sr. Feliz fez em seu diário
quando tudo terminou.
Sr. Binks 1 carro $ 5600
¨ ¨ conserto 3000
Sr. Dias 1 carrinho 1600
Sra. Nites 1 carroça 3600
Cevados panela de sopa 600
¨ aluguel dos pôneis 2000
Sr. Banks reforma e pintura 12600
Carpetes e tapetes novos 7600
Festa na Hospedaria (Gorducho) 6600
Ajuda dos três ursos 2600
Licença para o Coelhongo 7600
Subtotal 53400
Licença do Coelhongo atrasada 22600
Gorjeta para o Sargento 600
Somar: Chapéu amassado 800
Roupas rasgadas 600
Total $ 78000
14 de junho T. Feliz

Ele esvaziou todo seu cofrinho (menos as moedas estrangeiras que


colecionava), e não pode viajar nas férias de verão.
Naquela tarde, após se despedir dos ursos, pegou todo seu dinheiro,
montou na bicicleta e desceu para a cidade. Ele pagou o Sr. Binks,
o Sr. Dias, a Sra Nites em mãos (enviou vale postal para os
Cevados e para a Hospedaria).
Eles sempre disseram que o Sr. Feliz era um homem bom e honesto.
Só para constar, o Sr. Feliz nunca mais usou o carro; ele pegou
trauma dele, então deu de presente de casamento para o Sr. Dias.
Isso mesmo, presente de casamento. Depois desses acontecimentos, o
Sr. Dias resolveu tornar-se o terceiro marido da Sra. Nites. Ela
disse que foi bem apropriado, vendo que ambos estavam no mesmo
ramo dos negócios, e eles tiveram muitas aventuras juntos.
Assim, eles abriram uma quitanda verde na cidade, chamada:
“Dias & Nites.”
Hoje são muito amigos do Sr. Feliz e sempre lhe dão desconto nas
bananas e repolho.

Houve grandes preparativos para o casamento. Sr. Feliz tocou sua


sanfona. Gorducho Cevado cantou uma canção cômica sobre policiais
com pés grandes, mas o Sargento Boffin não achou graça. Os
ursos bebiam à saúde de todos várias vezes e não foram para casa
até a manhã seguinte. Mas o melhor de tudo foi quando o
Coelhongo colocou sua cabeça pela janela e disse:
“Oh! Aqui estamos todos novamente.”
E todos riram.

“Por onde andou?” perguntou Sr. Feliz.

“Ah! Nem queira saber, pergunte aos Cevados e aos ursos!”


respondeu.
Por isso que os Cevados partiram mais cedo. Não queriam nem
ouvir falar disso. Os ursos nem ligaram para isso, mas mudaram
de idéia quando chegaram em casa.

O Coelhongo tinha comido toda comida na casa deles e quebrado a


janela da copa.

E quanto aos Cevados, eles descobriram que ele havia acabado com
o pomar, comeu o topo das árvores, e ainda fez um buraco enorme
no jardim estragando todo gramado.

Os ursos disseram: “Bem, acontece. Seu Feliz levou a melhor desta


vez!” e deixaram por isso mesmo. Mas os Cevados lhe cobraram
por isso, e ainda por cima colocaram o prejuízo que os ursos
causaram com o repolho, que quase haviam esquecidos. Foi um total
de $ 29800.

Mas o Sr. Feliz não tinha mais dinheiro no momento, e já estava


cansado dos Cevados, por isso ele mandou $400 em selos e uma
conta de acertos.
E foi assim que ele fez.

Aos Irmãos Cevados


De T. Feliz
Por pisotearem as flores do meu jardim 3400
Pelos gastos do Gorducho na hospedaria 6000
Por assustarem meu precioso Coelhongo 20000
Balanço com selos 400
Total $ 29800
Atenciosamente, T. Feliz.

Quando os Cevados receberam isto, ficaram muito chateados, e


desde então, não estão tão amigáveis com o Sr. Feliz.
Mas o Sr. Feliz está bem contente, mesmo com as crianças todas
passando pelo seu jardim só para dar uma olhada no Coelhongo.
Ele tem uma carroça com burrinho agora, nada de carro; e o
Sargento Boffin sempre o cumprimenta quando aparece na cidade.

“Como vai seu bichinho?” ele pergunta.


“Muito bem obrigado” responde Feliz, “mas haja repolho! E como
estão os Cevados?”
“Vão bem! Só estão penando com os sapatos de couro.”
E para terminar a história, Sr. Feliz jogou fora o chapéu verde (que
o Coelhongo achou e agora está usando), e agora usa um chapéu
branco no verão e o marrom no inverno. E isso é tudo.
Há mais um desenho ainda.

Fim

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