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AUTISMO e Transtornos Invasivos do Desenvolvimento

- Revisão histórica do conceito, diagnóstico e classificação -

José Raimundo da Silva Lippi

Professor Sênior do Departamento de Psiquiatria e Neurologia Faculdade de Medicina.


Universidade Federal de Minas Gerais (U.F.M.G.).
Presidente da Associação Brasileira de Prevenção do Abuso e Negligência na Infância.
(ABPANI)
Presidente do Grupo de Estudos em Autismo e outras Psicoses (GEPAPI)

SUMMARY

The author compiled a detailled revision about the Autistic and Pervasive Developmental
Disorder concept. The comprehension of this Syndrome was based on the original article
of Kanner (Kanner, 1943). Much research was done in this subject from an array of
diverse authors, from many countries around the world to enlage the frame of this
comprehension. Psychologic, biologic and sociologic theories view consulted. Autism is a
behaviorally defined syndrome with some accuracy in a substantial minority of the cases.
Possible underlying psychological deficits, necessary and suficient for producing the most
important symptoms, are being understood. The multidimentional concept is the best way
to embrace the profundity of the pathology. The author has contributed his own personal
concept.

AUTISMO E TRANSTORNOS INVASIVOS DO DESENVOLVIMENTO


- Revisão Histórica do Conceito, Diagnóstico e da Classificação -

Uniternos: Autismo de Kanner, Autismo Infantil, Precoce; Distúrbio Autístico do


Contado Afetivo, Transtorno Autista; Transtorno Autístico; Distúrbios
Globais do Desenvolvimento (DSM - III - R, 1989); Transtornos Globais do
Desenvolvimento (CID-10, EDUSP, 1995).
Observação: O autor usou os temas “Transtornos Invasivos do Desenvolvimento”,
“Autismo Infantil”por serem a tradução da nossa classificação oficial (CID-
10, Artes Médicas, 1993) e “Transtornos Invasivos do Desenvolvimento”,
“Transtorno Autista” (DSM-IV, 1995).
ÍNDICE

Páginas
Summary
1. Introdução 3
2. Diagnóstico 4
2.1. Instrumento de mensuração 4
2.1.1 Testes Mentais 4
2.1.2 Escalas de Avaliação 5
2.1.3 Critérios Diagnósticos 6
3. Epidemiologia 6
4. Conceitos 7
4.1 Pensamentos adulto-morfo 8
4.2 Pensamentos evolutivo 8
4.3 Cronologia e atualização das concepções de Kanner 8
4.3.1 Psicológica 10
4.3.1.1 Atualização do Processo Psicológico 10
4.3.2 Funcional 11
4.3.2.1 Atualização do Processo Funcional 11
4.3.3 Biológica 11
4.3.3.1 Atualização do Processo Biológica 12
4.4 Cronologia entre outro autores 12
5. Concepção integrativa e atual 15
6. Enfoques atuais de diagnóstico 16
6.1 Enfoques categóricos 16
6.2 Enfoques dimensionais 16
6.3 Classificações internacionais 17
6.3.1 DSM’s (APA) 18
6.3.1.1 DSM-III (1980) 18
6.3.1.2 DSM-III-R (1987) 18
6.3.1.3 DSM-IV 21
6.3.2 CID’s (OMS) 23
6.3.2.1 CID-9 (1979) 23
6.3.2.2 CID-10 (1993) 24
6.3.3 DSM-IV Versão Interacional com os códigos da CID-10 25
7. Considerações finais 27
7.1 Conceito 27
7.2. Diagnóstico 29
7.3 Classificação 29
8. Síntese 29
9. Conclusões 29
10. Referências Bibliográficas 31
1. Introdução:

O estudo da psicopatologia e da assistência psiquiátrica na infância percorreu


longos caminhos. Observações agudas de pesquisadores antigos procuravam relacionar os
achados com os que se conhecia na época: “Doença Mental de Adultos”. Ou seja,
procuravam sintomas de estados patológicos de quadros psiquiátricos em seres de maior
idade. Poder-se-ia dizer, atualmente, que tais descrições da literatura internacional
correspondiam, sem dúvida, a psicoses infantis secundárias e deixavam de lado o que se
iria denominar autismo.

O que se conhecia, predominantemente, era a psicopatologia asilar, onde os


psicóticos crônicos hospitalizados tinham seus dotes intelectuais enfraquecidos ao longo
do tempo. Por isso, sugere-se mais de uma demência vesânica. Muitos se alienaram pela
convivência marcante com os isolados do convívio social e obrigados a criar um modo
próprio de adaptação.

A psicopatologia asilar é um estudo diferenciado de seres que, historicamente,


tiveram suas vidas determinadas pela cultura vigente na época. Nesse trabalho
estudaremos o homem como um ser em constante desenvolvimento.

No início de nossa carreira, com mais de 30 anos, interiorizamos o


preconceito de que as mães daquelas crianças eram “frias”, “esquizofrenogênicas” e outras
denominações originadas do primeiro trabalho sobre o tema autismo infantil (Kanner,
1943). Assim, quando elas entravam no consultório e se referiam ao motivo da consulta,
uma etiologia diagnóstica, preconcebida, já estava esboçada. Hoje se pensa de forma
diferente. Schwartzman afirma: “Sabemos, já , e sem sombra de dúvidas que fatores
emocionais dinâmicos, não podem ser responsabilizados, de forma isolada, pelo quadro do
autismo infantil. Sabemos também, cada vez de forma mais clara, que fatores biológicos
estão presentes na grande maioria, senão em todos os casos de autismo infantil, muito
embora não tenhamos conseguido identificar um marcador biológico específico e que
esteja presente em todos os casos de autismo infantil”. (Schartzman e Assumpção Jr.
1995).

O nosso propósito neste trabalho é tentar conceituar a síndrome através da


evolução dos conhecimentos adquiridos nesses 53 anos da primeira descrição da mesma e
demonstrar o verdadeiro valor e lugar das teorias. As denominações Autismo Infantil
(CID-10, 1993) ou Transtorno Autista (DSM-IV, 1995) fazem parte da terminologia
geral: “Transtornos Invasivos do Desenvolvimento”, que inclui outros quadros com
manifestações psicóticas. O Autismo e condições com “espectro” autístico continua a ser
foco de atenção da Psiquiatria Infantil e como grande fonte de pesquisa neurobiológica em
todo o mundo. Estudos de anos recentes tem mostrado novidades no âmbito da
epidemiologia e antecedentes psicológicos e biológicos. Apesar do desconhecimento das
causas básicas da Síndrome tem ocorrido enormes avanços na compreensão de que fatores
biológicos estão implicados na sua etiologia.
Por isso mesmo terapêuticas farmacológicas tem sido propostas gerando
entusiasmo pelos resultados obtidos com algumas crianças. Assim o uso da fenfluramine
(Geller, Ritvo e Freeman, 1982) melhorou muito o comportamento de alguns pacientes.
Entre nós (Rosemberg, 1995) usou essa droga em crianças com hiper-serotoninemia que
revelaram melhora signficativa em 65%. Observa-se, também, melhoras com o uso de
Vit.B6 e magnésio (Rimland, 1987). Este autor há mais de 20 anos vem defendendo essa
terapêutica e apresentando resultados consistentes. Nós mesmos empregamos drogas no
tratamento dessas crianças (Lippi e Col., 1972, Lippi, 1975, Lippi, 1977, Lippi, 1986
Lippi, 1991). Entretanto, existem pacientes que não respondem positivamente às diversas
tentativas de tratamento com diversas drogas e associações. Entre os fatores clínicos
associados com a resistência ao tratamento do paciente esquizofrênico, está na idade do
início dos sintomas: antes do 20 anos (Jalenques, 1996). Seria o mesmo com o Autismo?
As terapias psicológicas tem sido mais prejudiciais do que benéficas (Gillberg, 1990). As
idéias de que o pensamento dinâmico está ultrapassado e que fatores emocionais não têm
significância na gênese do autismo podem gerar dificuldades na elaboração de pesquisas e
encontrar resultados, também, preconcebidos. O pensamento vigente, mais coerente, é o
da multicausalidade.

2. Diagnóstico.

As crianças com Autismo e outras incluídas nos chamados “Transtornos


Invasivos do Desenvolvimento”, que tem sua equivalência aproximada ao termo da antiga
nomenclatura “Psicoses Infantis”, deverão ser avaliadas sempre por exames
neuropsiquiátricos. Esta necessidade tem sido crescentemente obrigatória nos anos
recentes, em função de ter se tornado óbvio que o Autismo e as desordens descritas como
“Transtornos de Espectro Autista” estão conceitualizadas como Síndromes
Comportamentais biológicamente determinadas, com etiologias variadas. O diagnóstico do
Autismo é clínico e não poderá, portanto, ser feito puramente com base em testes e
algumas escalas de avaliação.

2.1 Instrumentos de mensuração.


Estes instrumentos foram elaborados para observar o comportamento social, o
uso de objetos e a comunicação. Com eles pode-se classificar a gravidade do quadro,
medir evolução da patologia e estabelecer critérios para o atendimento. Os principais
instrumentos de avaliação são: testes mentais; escalas de avaliação e listas de critérios
diagnósticos. Vamos nos louvar em (Rosemberg, 1995) para descrever alguns destes
instrumentos.

2.1.1 Testes Mentais.


Para medir as habilidades do indivíduo autista torna-se necessário adaptar as
condições de aplicação dos testes. Quando aplicados com as precauções preconizadas os
testes mentais tem oferecido bons subsídios para a compreensão desses seres especiais.
Eles são importantes já que encontramos crianças e adolescentes portadores
do síndrome “Transtornos autísticos” com diferentes possibilidades intelectuais. Os
principais testes são:

a - Bayley Scales of Infant Development.


“Este teste avalia as habilidades mentais e motoras e o comportamento na
primeira infância, abrangendo a faixa etária de dois a trinta meses.(...). Tem a desvantagem
de enfatizar a linguagem.”

b - Kaufman Assessment Battery for Children( K-ABC).


“Este teste (Kaufinan, 1983), é um dos testes psico-educacionais mais recentes
e avalia o processamento seqüencial, simultâneo, não verbal, mental composto e busca de
resultados para indivíduos autistas de dois e meio a doze de idade. O teste foi muito
elaborado e padronizado. A escala não-verbal exige instruções verbais relativamente
complexas, de forma que só se adequaria para indivíduos autistas de alto nível”.

c - Leiter lnternational Performance Scales (LIPS).


“Avalia a idade mental e o quociente de inteligência de indivíduos que
funcionem na faixa de três a dezesseis anos (...). Apesar de todas as dificuldades, o
LEITER é frequentemente a única alternativa disponível ao clínico”.

d - Extend Merril-Palmer Scale of Mental Tests (Bal4 1978).


“É um teste composto essencialmente por quebra-cabeças e peças de encaixar,
é recomendado para pré-escolares com autismo que têm dificuldades verbais”.

e - Escala de Inteligência de Stanford Binet.


“( Na sua quarta edição de 1986 - Riverside Publishing Co.) tem a vantagem
de se estender até o nível de dois anos de idade”.
f - Wechsler lnteligence Scale for Children - Revised (WISC-R, 1974) e
Wechler Adult lntteligence Scale - Revised (WAIS-R, 1981).
“Testam os indivíduos dos seis aos setenta e seis anos de idade. Estas escalas
são utéis para pessoas com autismo que tenham um nível de linguagem mais elevado, além
de habilidades conceituais razoáveis e poucos comportamentos estereotipados”.
(Rosemberg, 1995).
2.1.2 Escalas de Avaliação.

“As escalas de avaliação são instrumentos dimensionais que quantificam a


sintomatologia segundo um critério de dimensão contínua. Não são instrumentos
diagnósticos”. Elas são muitos utéis para trabalhos de pesquisas e como subsídio para a
atividade clínica diária, mas exige experiência e conhecimento da área para sua aplicação”.

a - Diagnostic Checklist for Behavior Disturbed Children - E2 (Rimland, 1964).


“É a escala mais antiga e tem 10.000 indivíduos autistas avaliados. A E-2
avalia crianças abaixo de cinco anos de idade e é constituída de um questionário
respondido pelos pais, constando de oitenta itens”.(.... ) “Os quesitos escolhidos foram
baseados na síndrome definida por Kanner em 1943 e correspondem à sintomatologia que
é descrita no DSM-III-R para autismo e que tenham nível de funcionamento intelectual
próximo ao normal .

b - Autism Behavior Checklist (ABC) (Krug, e col., 1980).


“Consiste em cinco áreas a serem avaliadas numa graduação que vai de l a 4.
As áreas são: sensorial; uso de objetos e corpo; social e auto-ajuda; relacionamento;
linguagem”.

e - ERC E ERC-N-Echefie d'Evaluation Clinique et Echefie d'Evaluation Clinique


Nourisson.
“Foram elaboradas para avaliar bebês e crianças pequenas pela equipe de
Sauvage, cidade de Tours, na França (Sauvage, 1988)”.

d - Psychoeducational Profile.
“Merece destaque (Schopler e Reichler, 1979) que se traduz por perfil psico-
educacional, o qual é parte essencial do tratamento desenvolvido pela divisão TEACCH
do programa de atendimento do Estado da Carolina do Norte”. (...) “Esta escala já foi
traduzida para fins exclusivamente clínicos no Brasil e tem sido, ocasionalmente, usada de
forma abreviada, perdendo muito de sua confiabilidade e validade”. “Em 1988, o PEP foi
modificado e teve como corolário o, AAPEP - Adolescent and Adult Psychoeducational
Profile (Mesibov e col., 1988)”. (Rosemberg, 1995).

e - Childhood Autism Rating Scale (CARS).


É uma escala de avaliação do Autismo Infantil muito utilizada. é um
instrumento de fácil aplicação, requerendo somente respostas SIM/NÃO, podendo ser
aplicados por professores, oferecendo indícios para identificação de crianças com elevado
nível de comportamentos autistas (Volkmar e col., 1988).
O diagnóstico realizado pelas escalas não dispensa, jamais, a avaliação
neuropsiquiátrica (Gillberg, 1990).
Como podemos observar são inúmeros os instrumentos que buscam alcançar
uma melhor compreensão do síndrome, avaliando quantitativa e qualitativamente o
comportamento desses seres desde precoce idade. A maioria deles enfatiza a linguagem e
o quociente intelectual. Creio ser necessário a construção de instrumentos que avaliem as
outras possibilidades de compreensão desses seres especiais! A inteligência musical deles
é bastante desenvolvida em muitos casos, assim como suas habilidades motoras! Por quê
não avaliar a inteligências cinestésica e espacial dessas crianças? Tenho tentado
compreendê-las na visão das inteligências múltiplas (Gardner, 1985, 87, 89). Quantos
momentos de emoção e perplexidade vivi com essas crianças! Aparentemente não
emotivos nos falam profundamente com o olhar, gestos e muitas vêzes com lágrimas.

2.1.3 Critérios diagnósticos: estudaremos no ítem 6.3 (classificações internacionais).

3. Epidemiologia.
A epidemiologia do Autismo tem se tornado um crescente e importante campo
de investigação a partir do final dos anos 80. Lorna Wing demonstrou que a frequência era
muito mais comum do que se imaginava anteriormente. Ela encontrou a frequência de 21
por 10.000 no Sudeste da Inglaterra de “Autistic-Like conditions” (Wing e Gould, 1979).
Estes dados foram confirmados mais tarde por Gillberg e seu grupo em Gotemburgo
(Gillberg, e col., 1986) quando descobriram 21 por 10.000 entre os adolescentes que
combinavam retardo mental e a “tríade” prejuízos na área social, de linguagem e no
comportamento. Dois outros estudos significativos foram realizados na Suécia
(Steffenburg e Gillberg, 1986) onde se descobriu 6.6 por 10.000 crianças com Autismo ou
condutas autísticas. 2/3 eram casos típicos do Autismo de Kanner e a maior prevalência
foi no grupo de crianças de 5 a 7 anos de idade: 12.4 por 10.000. Os melhores estudos
metodológicos e epidemiologicamente fundamentados foram conduzidos, particularmente,
na Grã-Bretanha (Zahner e Pauls, 1987). O transtorno, melhor definido, o autismo, é raro
de modo que os estudos devem ser capazes de recorrer a grandes amostras de população;
do mesmo modo é necessário envolver equipes multidisciplinares e múltiplos provedores
de serviço, já que as crianças podem ser identificadas em vários contextos (psiquiátricos,
educacionais, etc). “E mais importante, embora o autismo seja, provavelmente, um dos
exemplos mais claros de transtorno em Psiquiatria Infantil, definições válidas e confiáveis
continuam aparecendo; as definições particulares usadas nos estudos epidemiológicos
variam consideravelmente, com problemas consequentes na interpretação dos resultados
disponíveis”. (Volkmar, 1995). “Quando o autismo é mais rigorosamente definido, em
geral, são relatadas taxas de prevalência de dois casos para 10.000 habitantes; definições
menos rígidas tipicamente sugerem taxas de prevalência de quatro a cinco casos por 10
mil” (Zahner e Pauls, 1987). A síndrome de Asperger foi objeto de estudo epidemiológico
por (Gillberg e Gillberg, 1989). No Brasil ainda não dispomos de estatísticas oficiais.
4. Conceitos.
A evolução dos conceitos das patologias trouxe maior conhecimento do ser
humano, como um todo, influindo nas pesquisas e contribuindo para novas terapêuticas o
que provocou modificações na estrutura assistencial. Um longo caminho foi percorrido até
alcançar-mos uma humanização da assistência à infância. Mas, longe estamos de oferecer
segurança para a maioria das crianças quando necessitam cuidados especiais. O fato é que
desconhemos as verdadeiras causas da patologia o que impede uma política assistencial
coerente. Por isso o estudo dos conceitos implicará em maior possibilidade de
entendimento da síndrome e como consequência maior probabilidade de melhoria
assistencial.
4.1 Pensamento adulto - morfo.
A criança era um adulto em miniatura. O que acontecia na pessoa adulta era
diminuído em tamanho e peso para a criança.. Por isso, é descrita a Demência
precocissima, à imagem do quadro estudado nos pacientes com Demência Precoce (De
Sanctis, 1906). Dentro do mesmo princípio, é proposto o termo dementia infantilis para
caracterizar as crianças que se desenvolvem normalmente por algum período, antes de
ocorrer uma profunda regressão do seu desenvolvimento (Heller, 1930).

Este quadro é descrito hoje como psicose desintegrativa. É normatizado o


termo Esquizofrenia infantil (Howard and Potter, 1933).

4.2 Pensamento Evolutivo.


Surge nos Estados Unidos uma descrição genial de um quadro novo na
psicopatologia, envolvendo aspectos relacionais do ser humano em desenvolvimento até
então negligenciados. Entretanto, para denominar o sua descoberta (ou invenção) Kanner
vai buscar um termo da psicopatologia geral utilizado para quadro psiquiátrico do adulto.
O termo Autismo trouxe muitas controvérsias. O denominou de Transtornos Autísticos do
Contato Afetivo (Kanner, 1943) e mais tarde Autismo Infantil Precoce (Kanner, 1949).
Na mesma época é publicada outra importante contribuição: psicopatia autística
(Asperger, 1944).

DESENVOLVIMENTO DE CONCEITOS DIAGNÓSTICOS:


“PSICOSE INFANTIL”

CONCEITO TERMINOLOGIA CRIADOR ANO


ATUAL

Demência Precoccíssoma Esquizofrenia Infantil De Sanctis 1906

Demência Infantil Transtorno Heller 1930


Desintegrativo

Esquizofrenia Infantil Transtorno Invasivo do Howard/Potter 1933


Desenvolvimento

Distúrbio Autístico do Contato Afetivo 1943


Transtorno Autístico Kanner
Autismo Infantil Precose 1949

Psicopatia Autística Síndrome de Asperger Asperger 1944

Personalidade Atípica T.I.D/T.I.D-S.O.E. Rank 1949

Modificado de “Autismo e Transtornos Globais do Desenvolvimento” (VolKmar, 1995).


4.3 - Cronologia e atualização das concepções de Kanner.

Este autor estudou e descreveu a condição de 11 crianças especiais (Kanner,


1943), numa época em que o termo esquizofrenia infantil viria a se tornar sinônimo de
psicose infantil. Essas crianças tinham características especiais e exibiam uma incapacidade
aparentemente congênita de se relacionarem com outras pessoas e de se “entenderem”
melhor com os objetos. Apresentavam desordens no desenvolvimento da linguagem.
Quando a possuiam era comum a ecolalia, inversão pronominal e concretismo. O
comportamento delas era salientado por atos repetitivos e estereotipados; não suportavam
mudanças de ambiente e preferiam o contexto inanimado. O uso do termo autismo
pretendia mostrar a qualidade incomum e autoconcentrada do comportamento das
crianças, mas também sugeria uma associação com a esquizofrenia. Algumas das
especulações do seu trabalho, tais como: frieza dos familiares, particularmente das mães
como agente causal; os níveis normais da inteligência das crianças, ausência de co-
morbidade, mostraram-se incorretas.
As definições atuais continuam sendo profundamente influenciadas pela
fenomenologia original (Kanner, 1943) e modificações posteriores (Rutter, 1978). Ele a
descreveu como um Síndrome Específico caracterizado por sua precocidade,
sintomatologia, evolução e pelas perturbações das relações afetivas com o meio e
enfatizava: “Autismo Infantil Precoce é o nome dado à estes distúrbios autísticos do
contato afetivo, e se caracterizada por uma incapacidade inata para constituir uma
relação afetiva e para responder aos estímulos do meio”. É, portanto, um modelo
psicopatológico, cujo estudo vai culminar num modelo clínico. Este quadro foi
rapidamente identificado pelos Psiquiatras da Infância mais experientes, mas sua
importância e seu lugar na nosografia dos quadros mentais da criança variaram segundo as
escolas e as tradições nacionais.

Várias linhas de evidência foram revelando a distinção do autismo e a


esquizofrenia ao longo dos anos.

A primeira descrição psicopatológica supõe um distúrbio primário próximo ao


descrito na Esquizofrenia. Entretanto, Kanner considera que o termo autismo empregado,
por ele, não corresponde inteiramente aos critérios utilizados anteriormente: “Afastamento
da realidade com predominância do mundo interior:” (Bleuler,1985): e sim que “não há
um fechamento sobre si mesmo por parte da criança, mais uma espécie de contato
particular e específico com o mundo exterior”.

Desde o início foram identificadas 03 concepções no Síndrome (Mazet e


Lebovici, 1991 ): psicológica, funcional e biológica.

A concepção deste excepcional estudioso, quanto ao distúrbio fundamental do


autismo, vai variar com o passar dos anos: de uma abordagem inaugural psicopatológica
ele vai passar à uma aproximação funcional, para terminar com uma visão biologizante.
Da mesma forma sua concepção psicopatológica vai se transformar num
síndrome clínico à proporção que se aproxima de uma posição cada vez mais
“organicista”. Senão vejamos:
4.3.1. Psicológica (l943).
Existe um distúrbio cultural do contato afetivo com as pessoas, sobretudo
entre a criança e sua mãe. O autor mostra a importância da frieza emocional das mães e
dos pais de seus onze primeiros clientes.
a - Modelo psicopatológico (l949).
“A Síndrome do Autismo Infantil está suficientemente bem estabelecida como
um modelo psicopatológico.” (... ). “Detive-me longamente na personalidade, atitude e
comportamento dos pais, porque estes podem esclarecer a dinâmica das condições da
psicopatologia dos filhos” (Kanner, 1949).

b - Refrigeração Emocional (l 954).


Os termos “mãe geladeira”, “mãe refrigerante” ou “mãe esquizofrenizante”
permaneceram, por um longo tempo, marcando a relação desses pais, particularmente, as
mães, com seus filhos e os profissionais. Eles vieram das observações de Kanner em seus
11 pacientes iniciais que ele acompanhava e cujos pais eram “intelectualizados” e “frios”
(Kanner, 1943).

c - Síndrome Clínico (l955).


“É dificil escapar da conclusão de que esta configuração emocional em casa
desempenha um papel dinâmico na gênese do autismo. Mas parece-nos igualmente
evidente que este fator, embora importante no desenvolvimento da Síndrome, não é
suficiente em si mesmo para culminar no seu aparecimento” (Kanner e Eisenberg, 1955).

d - lnexistência de psicogênese interacional (l968).


“Foi reconhecido por todos os observadores, exceto por um pequeno número
que se atrasou por uma obediência doutrinária, que o autismo não é, na origem, adquirido,
ou uma doença criada pelo homem” (Kanner, 1968).

4.3.1.1.Atualização do processo psicológico.


A partir de 1985 tem-se testemunhado um enorme avanço no estudo dos
processos psicológicos fundamentais no autismo. Quando Rutter reconheceu o campo da
cognição no autismo no início da década de 80 (Rutter, 1983) ele concluiu que os déficits
cognitivos são básicos e não são secundários a outras características da síndrome.
Salientou, também que os déficits cognitivos fundamentam muitas das importantes
desvantagens dessas crianças. Ele sugeriu, ainda, que as anormalidades sociais no autismo
são provenientes de um déficit cognitivo básico. A partir de então o autismo é definido
como uma síndrome comportamental de um quadro orgânico. A prevalência começa a ser
dada aos déficits cognitivos, em relação ao social.
A teoria cognitiva para o autismo surgiu de pesquisas que demonstraram que
essas crianças são incapazes de atribuir estados de intencionalidade na sua conduta.
Também, na pesquisa estava a hipótese do autismo constituir-se em prejuízo específico no
mecanismo cognitivo de representação de estados mentais ou mentalizar (Frith, 1984).

Do ponto de vista afetivo muitas teorias foram elaboradas. “Elas buscam


compreender e dar significados às dificuldades que os autistas têm com o reconhecimento
e a expressão das emoções. Mas, também, apenas esboçam as relações entre a vida
emocional e a incapacidade para o desenvolvimento simbólico” (Araújo, 1995). Desde as
teorias ambientalistas (mães esquizofrenogênicas) e as que consideravam o autismo como
uma patologia de múltiplas causas, continuam surgindo elementos psicológicos para
elaboração da condição autística.

A “teoria afetiva” (Hobson e Col., 1988) postula uma anormalidade


específica no modo de perceber a emoção no rosto dos outros: falhas constitucionais
envolvendo afetos; ausência de coordenação da experiência e do comportamento sensório-
motor/afetivo; déficits na participação intersubjetiva da experiência social e déficits
afetivos comprometendo as habilidades cognitivas e de linguagem. Como salientou
Kanner a multicausalidade do autismo é incontestável (Kanner, 1968).

4.3.2. Funcional (l955).

Esta concepção faz a parte do modelo psicopatológico para um ponto de vista


biológico (Kanner, 1955; Kanner and Eisenberg/l956). Eles a relação pais/filho a partir de
03 pontos de vista:

a - Comportamento dos pais = REAÇÃO a particularidades do filho (Conduta existente


a priori).
b - Pais (sobretudo a mãe) = Fonte básica de patogenicidade.
c - Incapacidade inata da criança em se relacionar (Kanner,l943), comprometido pela
personalidade dos pais = Distúrbio funcional de origem psicopatológica.

4.3.2.1. Atualização do processo funcional


Essas reflexões são finalizadas, pelos autores, com a compreensão mais
globalizada do síndrome: “Uma total desordem psicobiológica, que toma necessário um
estudo da compreensão da disfunção em cada etapa da integração, biológica, psíquica e
social”. (Kanner and Eisenberg, 1956).
É, por si mesma, a concepção mais atualizada.

4.3.3. Biológica.

a - Incapacidade inata para o relacionamento pessoal. (l943).


Esta existe desde a definição de Kanner: “Podemos supor que estas crianças
vieram ao mundo com a incapacidade inata de constituir biologicamente o contato afetivo
habitual com as pessoas, assim como outras crianças vêm ao mundo com deficiências
físicas ou intelectuais inatas” (Kanner, 1943). Este autor levou 12 anos para levar adiante
o ponto de vista inicial. Isso é compreensível por que o predomínio do pensamento
psicodinâmico era a tônica. Muitos trabalhos, em todo o mundo, propunham teorias
psicológicas para explicar as psicoses infantis. E, ademais, os exames clínicos e
laboratoriais eram insuficientes para fornecer respostas adequadas à tanta interrogações!
Mas, o fato de não encontrar dados relevantes no nível biológico não era uma prova da
validade dos modelos psicopatológicos. Os métodos de investigação estavam muito no
início. Ele estava esperançoso: “As explorações bioquímicas recentes podem abrir novas
vias de compreensão sobre a natureza fundamental da síndrome autística” (Kanner,1955).

b - Reserva emocional de fonte biológica ou genética. (I 965).

“(... ) Considera as psicoses da criança e os antecedentes de reserva emocional


como provindo de uma fonte biológica ou genética comum, alguns dos pais dando a
impressão de autistas que escaparam das propensões psicóticas” (Kanner, 1965).

4.3.3.1. Atualização do processo biológico.

O Autismo é agora visto como um síndrome comportamental de prejuízo


neurológico com uma ampla variedade de etiologias médicas fundamentais.

Tabela. Descobertas neurobiológicas associadas com autismo.

Descobertas neurobiológicas associadas com autismo e suas referências importantes:


Proporção menino/menina - Wing (1981)
Retardo Mental - Rutter (I 983)
Epilepsia - Olsson et al. (I 988)
Espasmo Infantil - Riikonen & Amneh (I981)
Deterioração puberal - Gillberg & Steffenburg (I 987)
Síndrome do X frágil - Wahlstrõm et al. (I 986)
Outras anormalidades do cromossoma sexual - Gillberg & Wahlstrõm (I 985)
Esclerose Tuberosa - Lotter (l974)
Neurofibromatoses - Gillberg & Forsel (I 984)
Hypomelanose de lto - Gillberg & Akefeldt (I 990)
Fenilcetonúria - Friedman (I 969), Lowe et al.(1980)
Acidose Lática - Coleman & Blass (I 985)
Distúrbios purínicos - Coleman et al. (1976)
Rubéola intra-uterina - Chess et al. (l971)
Herpes pós-natal - De Long et al. (I981), Gillberg (I 986)
Síndrome de Rett - Witt-Engerstrõm & Gülberg (1987)
Hidrocefalia - Schain & Yannet (l960), Femell et al.
Síndrome de Moebius - Ornitz et al. (I 977), Gillberg & Steffenburg (1989)
Redução favorável no período pré o peri natal - Gillberg (l983), Bryson et alli. (1989)
Gêmeos monozigóticos - Folstein & Rutter (1977), Steffenburg et al. (1989)
Distrofia muscular de Duchenne - Komoto et al. (1984)
Síndrome de Williams - Reiss et al. (1985)
Segundo Gillberg, C. in: The Joumal of Child Psychology and Psychiatry, Jan, 1990

Como em diversas situações de “organicidade” são produzidos comportamentos


autistícos é de se supor a existência de fatores biológicos responsáveis por eles. Ainda,
não dispomos de respostas seguras para esta realidade. Os estudos se dirigem para uma
hipótese disfuncional que não pode ser ainda comprovada. Intensos esforços na área da
genética, bioquímica, neuroimagens, neurofisiológicos e na clínica são realizados, na
tentativa de identificar estes fatores convergentes.

4.4. Cronologia entre outros autores.

Contemporâneos de Kanner, em seu e outros países, trabalhavam algumas idéias


explicativas para essas crianças especiais:

a - U.S.A.
Na década de 50 os autores Americanos por pudor da palavra psicose, nomeavam
essas crianças com denominações diversas, entre as quais: Criança Atípica ou com
Desenvolvimento Atípico; excepcional, entre outras. Em 1966 o Grupo para o Avanço da
Psiquiatria (GAP) define as psicoses da primeira e da segunda infância. Dentre as
primeiras foi colocado o Autismo Infantil Precoce. Tratava-se, portanto, de um quadro
primário e que devia ser diferenciado das formas secundárias à lesões cerebrais ou
retardamento mental. As psicoses precoces, identificadas no desenvolvimento da criança
(Malher,1971), no estádio de separação/individuação, foram etapas que permitiram
compreender desvios e neles definir as psicoses autísticas e simbióticas. No
Desenvolvimento normal, segundo suas idéias, a criança passará pelos estádios autístico e
simbiótico. Ela considera como decisiva o momento em que a criança saí de sua posição
autística e começa a diferenciar sua própria representação e a dos objetos do mundo
externo.

Ritvo, um estudioso do Autismo, afirmava, sendo um dos primeiros a fazê-lo, que


a Síndrome Autística era um transtorno do desenvolvimento e causada por uma patologia
do sistema nervoso central. Ele, também foi um dos primeiros a salientar a importância
dos déficits cognitivos (Ritvo, 1976).
b - U.K.
Melanie Klein, discípula de Freud chega a Londres em 1930 levando enorme
bagagem no estudo de crianças psicóticas. Tinha um filho com essa patologia.
Desenvolve conceitos fundamentais para a compreensão do funcionamento psíquico, tais
como objetos internos e externos, objetos bons e maus. Dentro da óptica da psicanálise
M. Klein exerceu forte influência sobre uma geração de estudiosos das psicoses infantis,
em função de ter sido a pioneira no reconhecimento e tratamento destes quadros. Em
1930, muito tempo antes de Kanner ter publicado seu famoso trabalho, M. Klein descreve
o caso de uma criança de 04 anos de idade, que ela percebera como diferente das outras
crianças psicóticas e cujas características eram: inibição constitucional do
desenvolvimento, diferente da regressão; déficit na capacidade de simbolizar; excesso de
ansiedade impedindo o desenvolvimento simbólico; prematuros bloqueios da relação entre
a realidade e a fantasia e a patogênese era determinada constitucionalmente e favorecida
pelos fatores sócio-afetivos, cognitivos e motivacionais. A psiquiatria Infantil inglesa,
mantinha a tradição do uso do têrmo esquizofrenia infantil. É descrito de forma exemplar,
por Creak, os síndromes Esquizofrênicos da Infância e cria uma escala que foi atualizada e
ampliada por outros autores (Creak, l961). É definido com clareza e propriedade o
conceito desse síndrome clínico: “Os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento
constituem um grupo de transtornos neuropsiquiátricos caracterizados por atrasos
específicos e desvios no desenvolvimento social, comunicativo e cognitivo iniciando
tipicamente no primeiro ano de vida. Embora geralmente associados com retardo mental,
esses transtornos diferem de outros transtornos do desenvolvimento no sentido de que
suas características evolutivas e comportamentais são distintas e não refletem,
simplesmente, nível de desenvolvimento” ( Rutter et Schopler, 1978). Rutter demonstra as
dificuldades das crianças com condutas autísticas no plano da percepção e comunicação
(teoria cognitiva) e defeito específico do reconhecimento das significações das mímicas
maternas na parte superior do rosto (Rutter, 1983).

c - França.
Na França o conceito de Esquizofrenia Infantil foi substituído pelo de Psicoses
Infantis. Para os autores franceses o Autismo se enquadrava na descrição destes estados.
Portanto, autismo era uma psicose. Para eles o termo psicose precoce se aplica para as
psicoses que se instalam na primeira infância e no início da segunda. Já o termo
Esquizofrenia Infantil compreende os quadros maios tardios e que apresentam uma
desestruturação da personalidade, após desenvolvimento relativamente normal. Misés e
colaboradores descrevem, em 1975, as psicoses deficitárias, que incluem as psicoses de
evolução deficitária e os déficits de evolução desarmônica (Berquez, 1983).

d - Europa Oriental.
Os Psiquiatras que trabalhavam na Europa Oriental afirmavam a continuidade do
processo psicótico, quaisquer que fossem as circunstâncias clínicas, (Atchkova, 1984 apud
Mazet e Lebovici, 1991).
Se o Autismo Infantil é uma síndrome especifica, cujo diagnóstico repousa sobre
critérios bastante precisos, teria uma analogia tal com a esquizofrenia ou esquizofrenias ao
ponto de constituir o primeiro momento de um processo esquizofrênico? Veremos que
essa evolução está longe de ser a regra nos casos acompanhados a longo prazo (Lebovici
e Kestemberg, 1978).

e - Suécia.
Na década de 80 surge na Suécia Christopher Gillberg liderando um grupo especial
de pesquisadores. Eles abrangem com suas pesquisas todas as áreas de manifestação da
conduta autística. A maior contribuição do grupo foi estudar os fatores neurobiológicos
(Gillberg, 1988).A tabela de página 12 mostra algumas das pesquisas nessa área.
Pesquisou a epidemiologia (Gillberg, 1986); a classe social e o autismo (Gillberg e
Schaumann, 1982) e várias publicações sobre co-morbidade.

f - Brasil
Entre nós Assumpção (Assumpção Jr, 1995) - membro do Grupo de Estudo e
Pesquisas do Autismo e Outras Psicoses Infantis (GEPAPI), que reune vários
pesquisadores e do qual participamos - estabelece as seguintes considerações:
- O Autismo Infantil Precoce é uma síndrome bem definida, passível de ser observada com
pequenas dificuldades no curso dos dois primeiros anos de vida da criança;
- Sua natureza básica está intimamente relacionada com a Esquizofrenia Infantil e
- O Autismo Infantil poderia ser uma manifestação precoce da Esquizofrenia Infantil.

5. Concepção integrativa e atual

Em síntese, no decorrer de mais de 50 anos, os estudos dos artigos de L. Kanner


no final com seu colega L. Eisenberg, nos permite afirmar:
a) - A descrição semiológica do Autismo Infantil Precoce não sofreu modificações ao
longo dos anos;
b) - A concepção do quadro enquanto síndrome passa de um etapa inicial psicopatológica
à uma síndrome clínica;
c) - A etiopatogenia do Autismo Infantil Precoce vai passar, no decorrer dos anos, de uma
posição psicopatológica a uma posição biológica (genética e ou bioquímica), após
percorrer uma etapa intermediária de posição funcional.
d)- Suas especificações sobre inteligência, frieza afetiva mostraram falhas.

Embora essas concepções parecem se excluir mutuamente elas estão contidas no


artigo inicial (Kanner, l943). Ademais, a clínica, que é o fundamento exteriorizado do
síndrome, foi se tornando independente das teorias etiopatogênicas subjacentes.
6. Enfoques Atuais de diagnóstico.

Os enfoques atuais se prendem à idéia de desenvolvimento. O básico é


compreender o porquê? Para que? (perguntas, ainda de dificil respostas), onde e quando,
no desenvolvimento, ocorreram transtornos. As áreas de desenvolvimento podem
paralisar-se em bloco (Retardo Mental); podem sofrer transtornos específicos (transtorno
da linguagem expressiva, como exemplo) e podem ser atingidas de modo diferenciado.

São muitos os termos que tentam mostrar que a criança sofre modificações em
todas as suas áreas de desenvolvimento, mas de formas e momentos diferentes além de
inconstantes. Contudo, vários são os termos em português que tentam traduzir com
fidelidade o termo - Pervasive Developmental Disorder - da Associação Psiquiátrica
Americana (APA) e Organização Mundial de Saúde (OMS). Estamos usando Transtomo
Invasivo de Desenvolvimento por ser a (CID-10, 1993) nossa classificação oficial e
constar, também da tradução do DSM-IV.

6.1. Enfoques Categóricos.

Neste enfoque existem 03 áreas de perturbação:

6.1.1. Disfunção Social;

6.1.2. Desvio da comunicação;

6.1.3. Insistência na mesmice.

Típicamente, acredita-se que os déficits sociais e de comunicação característicos


são aberrantes em relação ao nível de desenvolvimento do indivíduo, embora faltem
medições precisas para estabelecer como este desvio poderia ser operacionalmente
compreendido (Volkmar e Cohen, 1988).
Vários são os fatores que tem impedido o desenvolvimento de definições
verdadeiramente operacionais (Volkmar, 1995):

a - Questões de continuidade com outros transtornos, tais como a esquizofrenia;


b - Ampla faixa de expressão da síndrome;
c - Mudanças da expressão da síndrome com a idade;
d - Frequência de sintomas tipo autistas em indivíduos com grave retardo mental;
e - Infrequência relativa do transtorno.
Eu acrescentaria um outro fator:
f - Medidas que enfatizam a linguagem e o pensamento lógico-matemático.

6.2. Enfoques Dimensionais.

Aqui as áreas de perturbação são estudadas a partir de:


6.2.1. Relatos de Pais e Professores;

6.2.2. Observação Direta;

6.3.3. Exames clínicos e complementares.

A classificação ou amostragem dos comportamentos tipicamente desviantes veio


criar dificuldades na estandartização e confiabilidade. Mudanças na expressão do síndrome
ao longo do curso do desenvolvimento e a prevalência de comportamento tipo autista com
retardo grave, representam problemas para a criação dos instrumentos de medida. Apesar
das tentativas recentes de definir operacionalmente a disfunção social pelo uso de um
enfoque de base evolutiva (Volkmar e Cophen, 1988), ainda não foi universalmente
estabelecido qualquer sistema diagnóstico unitário.
Embora seja necessário melhores definições das síndromes a validade do Autismo
como um conceito diagnóstico foi bem estabelecida. A validade das definições propostas
para os outros transtornos permanecem controvertidas.

6.3. Classificações Internacionais.

Existe um enorme esforço sendo realizado para fornecer aos pesquisadores e,


particularmente, aos clínicos formas claras de reunir sinais e sintomas em classificação
universalizada e compreensível. Vamos enumerar algumas classificações, em Psiquiatria
Infantil, que denominaram, explicitamente, os termos que estamos estudando.

O resumo realizado por (Lippi, 1994) revela a seguinte cronologia: (Strecker e


Ebaugh, 1931); (Henderseon e Gillespie, 1932); ( Brown; Pollock, Potter e Cohen, 1937);
(Ackemm, 1953); ( Catneron, 1955); (Chess, 1959); (Jensen, 1959); (Selback, 1960);
(Befier, 1962); (Ross, 1964). Gostaríamos de chamar atenção para uma classificação
(Kanner, 1935), na qual o autor do tema objeto do nosso estudo não nomeia os termos
hoje empregados, senão vejamos: Classificação dos Problemas Psicológicos de Crianças:

a. Formas de reação anergásticas;


b. Formas de reação disergásticas;
c. Formas de reação oligergásticas;
d. Manifestações somáticas de distúrbios da personalidade;
e. Dificuldades de personalidade tendo uma relação direta com doença fisica não
neurológica e
f. Dificuldade de personalidade tendo uma relação indireta com a doença fisica.

Era grande a influência do pensamento psicodinâmico quando Kanner elaborou


essa classificação. A “reação psicótica” está encoberta na terminologia usada.
Como vemos existem esforços realizados de longo tempo tentando reunir os
sintomas e os comportamentos da criança para padroniza-los compreensivelmente.
Tentativas de universalização de uma linguagem vem sendo realizadas.
A Associação Psiquiátrica Americana (APA) através dos DSM’s e a Organização
Mundial de Saúde através dos CID’s, estão cada vez mais próximos de uma linguagem
comum no que se refere ao nosso tema.

É necessário fazer importante diferenciação: diagnóstico e classificação não são


sinônimos. O diagnóstico é dinâmico e individual, cuidando portanto da pessoa. A
classificação é relativamente estática e impessoal, reportando-se à doença.

6.3.1 Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais (DSM, APA).

O DSM-1 apareceu pela primeira vez em 1952. Foi o primeiro manual oficial de
dsitúrbios mentais a conter um glossário de descrições e categorias diagnosticas. Este
manual usava o termo “reação” do começo ao fim da classificação. A Psiquiatria
Americana sofria grande influência da psicanálise. O grande psicobiologista e psicanalista
Adolph Meyer defendia a idéia de que os distúrbios mentais representavam reações da
personalidade aos fatores, psicológicos, sociais e biológicos. Os outros manuais retiraram
o termo reação e não adotaram termos que pudessem implicar uma estrutura teórica
especifica.
O autismo infantil e as psicoses da infância têm lugar tímido nas classificações
anteriores.

6.3.1.1. DSM-III (l980).

Foi a partir de sua 3a. Edição que a APA colocou critérios mais claros para a
compreensão do síndrome: déficits sociais difusos; amplos déficits no desenvolvimento da
linguagem; padrões incomuns da fala (quando está presente); respostas bizarras ao
ambiente e ausência de delírios ou alucinações típicos da esquizofrenia. Exigia, também,
que o autismo se manifestasse até os 36 meses.

6.3.1.2. DSM-III-R (l987).

O sistema DSM-III apresentou diversos tipos de problemas. Faltava a ele


um foco evolutivo; os critérios eram demasiadamente restritos; dava-se grande ênfase aos
problemas de linguagem e pouca aos de comunicação. Por isso foram necessárias
importantes revisões.

Distúrbios Globais do Desenvolvimento (Eixo ll)


“Os distúrbios nesta sub-classe são caracterizados pelo comportamento qualitativo
do desenvolvimento da interação social recíproca, do desenvolvimento das habilidades de
comunicação verbal e não-verbal e da atividade imaginativa. Muitas vezes, há um
repertório de atividades e interesses, marcadamente restritos, que frequentemente são
estereotipados e repetitivos. A gravidade da expressão deste comprometimento varia
grandemente de criança para criança”.
O DSM-III-R cataloga 16 critérios para o transtorno autista, agrupados em 03
categorias:

a - Comprometimento da interação social;


b - Comprometimento da comunicação;
c - Repertório restrito de atividades.

Para receber o diagnóstico de Transtomo Autista (299.00) o paciente deve reunir


pelo menos 08 dos 16 critérios; dentro do número mínimo de critérios estabelecido para
cada categoria. Um critério preciso referente à idade de início não é mais incluído, embora
a idade de início (antes ou após 36 meses) possa ser especificada. Essa versão revisada é
mais orientada para o desenvolvimento e tenta alcançar tanto a faixa de expressão da
síndrome quanto as mudanças do transtorno com o progredir da idade. A tabela seguinte
mostra os critérios do (DSM-III-R, 1987), que sofreram modificações para a 4a. revisão e
que serve de base para nosso estudo.

DISTÚRBIO AUTISTA
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA 299.00 - DISTÚRBIO AUTISTA
Ao menos oito dos dezesseis itens seguintes estão presentes; destes incluir pelo menos
dois itens de A, um de B e um de C.
Nota: Considerar um critério a ser preenchido somente se o comportamento for
anormal, para o nível de desenvolvimento da pessoa.

A. Incapacidade qualitativa na interação social recíproca manifestada pelo seguinte:


(Os exemplos entre parênteses estão ordenados de modo que aqueles mencionados
em primeiro lugar, são mais amplamente aplicados aos mais jovens ou mais deficientes, e
os últimos, às pessoas mais velhas ou menos deficientes com este distúrbio).
(1) Acentuada falta de alerta da existência ou sentimentos dos outros (por exemplo, trata
uma pessoa como se ele ou ela fosse uma peça de mobília; não observa o sofrimento de
uma outra pessoa; aparentemente não têm noção da necessidade de privacidade dos
outros).
(2) Ausência ou busca de conforto anormal por ocasião de sofrimento (por exemplo, não
procura por conforto mesmo doente, ferido ou cansado; procura conforto de modo
estereotipado, por exemplo, “sorri, sorri, sorri” quando ferido).
(3) Imitação ausente ou comprometida (por exemplo, não acena “ bye-bye”; não
reproduz as atividades domésticas da mãe; imitação mecânica das ações dos outros fora
do contexto.)
(4) Jogo social anormal ou ausente (por exemplo, não participa em jogos simples;
prefere atividades solitárias de jogo; envolve outras crianças no jogo somente como “ajuda
mecânica”).
(5) Incapacidade nítida para fazer amizades com seus pares (por exemplo, desinteresse
em formar par com amigos; apesar do interesse em fazer amigos, demonstra falta de
entendimento das convenções de interação social, por exemplo, lê lista telefonica para
colega desinteressado).
B. Incapacidade qualitativa na comunicação verbal e não-verbal e na atividade
imaginativa, manifestada pelo seguinte:
(Os itens numerados correspondem àqueles arrolados em primeiro lugar e são mais
amplamente aplicados aos mais jovens ou mais deficientes e os últimos, às pessoas mais
velhas ou menos deficientes com este distúrbio).
(1) Ausência de modo de comunicação, como balbucio comunicativo, expressão fácil,
gestos, mímica ou linguagem falada.
(2) Comunicação não verbal acentuadamente anormal, como no uso de olhar fixo olho
no olho, expressão facial, postura corporal, ou gestos para iniciar ou modular a interação
social (por exemplo, não antecipar se segurado, enrijecer quando segurado, não olhar ou
sorrir para a pessoa quando fazendo uma abordagem social, não cumprimentar pais ou
visitantes, tem olhar fixo em situações).
(3) Ausência de atividade imaginativa como representação de papéis de adultos,
personagens de fantasia ou animais; falta de interesse em histórias sobre acontecimentos
imaginários.
(4) Anormalidades marcantes na produção do discurso, incluindo volume, entoação,
stress, velocidade, ritmo e modulação (por exemplo, tom monótono, cantado ou alta
entoação).
(5) Anormalidades marcantes na forma ou conteúdo do discurso incluindo o uso
estereotipado e repetitivo da fala (por exemplo, ecolalia imediata ou repetição mecânica
de comercial de televisão); uso do “você” quando “eu” é o pretendido (por exemplo,
usando “Você quer um biscoito?” para significar “Eu quero um biscoito”; uso
idiossincrático de palavras ou frases (por exemplo, “Ir balançar na grama” para significar
“Eu quero ir no balanço”); ou freqüentes apartes irrelevantes (por exemplo, começar
falando sobre horários de trens durante uma conversa sobre esportes).
(6) Incapacidade marcante na habilidade para iniciar ou sustentar uma conversa com
outros, apesar da fala adequada (por exemplo, abandonar-se a monólogos lentos sobre um
assunto, indiferente às interjeições dos outros).

C. Repertório de atividades e interesses acentuadamente restritos, manifestado pelo


que se segue:
(1) Movimentos corporais estereotipados, por exemplo, pancadinhas com as mãos ou
rotação, movimentos de fiação, batimento da cabeça, movimentos complexos de todo o
corpo.
(2) Insistente preocupação com partes de objetos (por exemplo, farejar ou cheirar
objetos, percepção repetitiva da textura de materiais, girar a roda de carrinhos) ou
vinculação com objetos inusitados (por exemplo, insistência em levar para todo lado um
pedaço de barbante).
(3) Sofrimento acentuado com mundanças triviais no aspecto do ambiente, por exemplo,
quando um vaso é retirado de sua posição usual.
(4) Insistência sem motivo em seguir rotinas com detalhes precisos, por exemplo,
insistência de seguir exatamente sempre o mesmo caminho para as compras.
(5) Ambito de interesses marcadamente restritos e preocupação com um interesse
limitado, por exemplo, interessado somente em enfileirar objetos, em acumular fatos
sobre meteorologia ou em fingir ser um personagem de fantasia.
D. Início na primeira infância ou infância.
Especificar se o início na infância (após os 36 meses de vida).
Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais - DSM-III-R (APA), Editora
Manole Ltda, 1989.

Este manual chama atenção para a evolução. As manifestações do


distúrbio são, em quase todos os casos, por toda a vida, embora elas variem com a idade
cronológica e a gravidade das deficiências. Algumas crianças experimentam uma melhora
nas habilidades social de linguagem e outras até cerca de 5 anos de idade; em poucos
casos isso pode ser muito marcante.

6.3.1.3. DSM-IV( 1995).


Esta nova edição foi publicada pela APA em 1994 e a tradução Brasileira
surgiu no ano seguinte. Muda o termo Global para Invasivo e altera os critérios
diagnósticos.

TRANSTORNOS INVASIVOS DO DESENVOLVIMENTO


Transtornos Invasivos do Desenvolvimento caracterizam-se por prejuizo
severo e invasivo em diversas áreas do desenvolvimento: habilidades da interação social
recíproca, habilidades de comunicação, ou presença de comportamentos, interesses e
atividades estereotipadas. Os prejuízos qualitativos que definem essas condições
representam um desvio acentuado em relação ao nível de desenvolvimento ou idade
mental do indivíduo. Esta seção abarca Transtorno Autista, Transtorno de Rett,
Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno de Asperger e Transtorno Invasivo do
Desenvolvimento sem outra especificação.

Esses Transtornos em geral se manifestam nos primeiros anos de vida e


frequentemente estão associados com algum grau de Retardo Mental que, se presente,
deve ser codificado no eixo II.

Os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento são observados, por vezes,


com um grupo de várias outras condições médicas gerais (ex. anormalidades
cromossômicas, infecções congênitas, e anormalidades estruturais do sistema nervoso
central). Caso essas condições estejam presentes elas devem ser codificadas no eixo.
Embora termos como “psicose” e “esquizofrenia da infância” já tenham sido usados com
referência a indivíduos com essas condições, evidências consideráveis sugerem que os
Transtornos Invasivos do Desenvolvimento são distintos da Esquizofrenia (entretanto, um
indivíduo com Transtorno Invasivo do Desenvolvimento ocasionalmente pode, mais tarde,
desenvolver Esquizofrenia)” (DSM-IV, 1995).

Critérios Diagnósticos Para 299.00 Transtorno Autista


A. Um total de seis (ou mais) ítens de (1), (2) e (3), com pelo menos dois de (1), um de (2)
e um de (3):
(l) prejuizo qualitativo na interação social, manifestado por pelo menos dois dos
seguintes aspectos:
(a) prejuizo acentuado no uso de múltiplos comportamentos não-verbais tais como contato
visual direto, expressão facil postura corporais e gestos para regular a interação social.
(b) fracasso em desenvolver relacionamentos com seus pares apropriados ao nível do
desenvolvimento
(c) falta de tentativa espontânea de compartilhar prazer, interesses ou realizações com
outras pessoas (por ex., não mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse)
(d) falta de reciprocidade social ou emocional

(2) prejuízos qualitativos da comunicação, manifestados por pelo menos um dos


seguintes aspectos:
(a) atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem falada (não acompanhando
por uma tentativa de compensar através de modos a alternativos de comunicação tais
como gestos ou mímica)
(b) em indivíduos com fala adequada, acentuado prejuizo na capacidade de iniciar ou
desenvolver uma conversação
(c) uso estereotipado e repetitivo da linguagem ou linguagem idiossincrática
(d) falta de jogos ou brincadeiras de imitação social variados e espontâneos apropriados ao
nível do desenvolvimento

(3) padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses, e atividades,


manifestados por pelo menos um dos seguintes aspectos:
(a) preocupação insistente com um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesse,
anormais em intensidade ou foco
(b) adesão aparentemente inflexível a rotinas ou rituais específicos e não-funcionais
(c) maneiras motores estereotipados e repetitivos (por ex., agitar ou torcer mãos ou dedos,
ou movimentos complexos de todo o corpo)
(d) preocupação persistente com partes de objetos

B. Atrasos ou funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes áreas, com início
antes dos 3 anos de idade; (l) interação social, (2) linguagem para fins de comunicação
social, ou (3) jogos imaginativos ou símbolos.
C. A perturbação não é melhor explicada por Transtorno de Rett ou Transtorno
Desintegrativo da Infância.
DSM-IV , Artes Médicas, 1995.
TM

6.3.2. CÓDIGO INTERNACIONAL DE DOENÇAS (CID, OMS).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) é uma agência especializada das


Nações Unidas com a responsabilidade primordial em questões de Saúde Internacional e
Saúde Pública. Através dessa organização, criada em 1948, os profissionais de 170 Países
trocam seus conhecimentos e experiências com o propósito de tomar possível uma maior
integração entre eles e melhoria das condições de saúde da população mundial.
6.3.2.1.CID-9 (l979).

Essa edição inclui “Psicoses Especificas da Infância”. Classifica com os


mesmos títulos utilizados para os adultos as formas mais precoces de esquizofrenia e de
psicose maníaco-depressiva. Coloca na seguinte ordem os títulos propostos para as
psicoses infantis:

a - Autismo infantil (ou síndrome de Kanner).


Síndrome existente desde o nascimento ou que começa quase sempre
durante os trinta primeiros meses. As respostas aos estímulos auditivos e às vezes aos
estímulos visuais são anormais e há habitualmente graves dificuldades de compreensão da
linguagem falada. A fala é atrasada e, quando desenvolve, caracteriza-se por ecolalia,
inversão de pronomes, imaturidade da estrutura gramatical e incapacidade de empregar
terrnos abstratos. Geralmente há uma alteração do uso social da linguagem verbal e
gestual. Os problemas de relação com os outros são os mais graves antes dos 05 anos de
idade e comportam principalmente um defeito de fixação do olhar, das ligações sociais e
da atividade de brincar.

O comportamento é ritualizado, com hábitos anormais, resistências às


mudanças, apego à objetos singulares e brincadeiras estereotipadas. A capacidade de
pensamento abstrato ou simbólico e de fazer fantasias está muito diminuída. O nível de
inteligência varia do retardo profundo ao normal ou acima do normal. O desempenho é
habitualmente melhor para as atividades que requerem aptidões mnêmicas ou visoespaciais
automáticas do que para as que necessitam das aptidões simbólicas ou lingüísticas” (CID-
9, 1979).

b - Psicose desintegrativa ( síndrome de Heller).


“Distúrbio no qual um desenvolvimento normal ou sub normal nos
primeiros anos é seguido pela perda das aptidões sociais e de linguagem, assim como por
um distúrbio grave da afetividade, do comportamento e das relações. Habitualmente esta
perda da linguagem e das aptidões sociais se instala em alguns meses e é acompanhada
pelo aparecimento de hiperatividade e estereotipias”.
“Na maioria dos casos há uma alteração intelectual mas esta última não faz
necessariamente parte dos distúrbios. Este estado pode ser consecutivo a uma afecção
cérebral evidente - como encefalite produzida pelo sarampo - mas também pode aparecer
na ausência de qualquer afecção ou lesão cerebral conhecida” (CID-9, 1979).

c - Psicoses infantis atípicas.


“Conjunto de psicoses infantis atípicas que podem ter certas características,
mas não todas, do autismo infantil. Os sintomas podem consistir em movimentos
estereotipado, hipercinesia, automutilação, atraso no desenvolvimento da linguagem,
ecolalia e uma diminuição da capacidade de relacionamento social. Estes distúrbios podem
surgir em crianças de qualquer nível intelectual, mas são particularmente freqüentes nos
deficientes mentais” (CID-9, 1979).
6.3.2.2.CID-10 (l993).

Na sua 10ª. versão O código Internacional de Doenças (CID - l O) atualiza


sua classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento. É a classificação
oficialmente adotada no Brasil a partir de 1996. Nela se estuda os Transtornos do
desenvolvimento psicológico (F8O-89) que inclui os “Transtornos Invasivos do
Desenvolvimento) sob o título de F84”.
“Esse grupo de Transtornos é caracterizado por anormalidades qualitativas
em interações sociais recíprocas e em padrões de comunicação e por um repertório de
interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Essas anormalidades qualitativas
são um aspecto invasivo do funcionamento do indivíduo em todas as situações, embora,
possam variar em grau.
Na maioria dos casos o desenvolvimento é anormal desde a infância e, com
apenas poucas exceções, as condições se manifestam nos primeiros 05 anos de vida. É
usual, mas não invariável, haver algum grau de comprometimento cognitivo, mas os
transtornos são definidos em termos de comportamento que é desviado em relação à idade
mental (seja o indivíduo retardado ou não). Há algum desacordo quanto à subdivisão
desse grupo global.
Em alguns casos os transtornos estão associados e são, presumivelmente
decorrentes, a alguma condição médica das quais espasmos infantis, rubéola congênita,
esclerose tuberosa, lipoidose cerebral e anomalia de fragilidade do cromossoma X estão
entre as mais comuns. Entretanto, o transtorno deve ser diagnosticado com base nos
aspectos comportamentais, independente da presença ou ausência de quaisquer condições
médicas associadas.

Essas devem ser codificadas separadamente. Se um Retardo Mental está


presente é importante que ele seja, também codificado à parte, sob F7O-79, porque ele
não é um aspecto universal dos transtornos invasivos do desenvolvimento” (CID-10,
1993). Os Transtornos Invasivos incluem:

a - F84.0) - Autismo Infantil.


“Um transtorno invasivo de desenvolvimento definido pela presença de
desenvolvimento anormal e/ou comprometido que se manifesta antes da idade de 3 anos e
pelo tipo característico de funcionamento anormal em todas as três áreas de interação
social, comunicação e comportamento restrito e repetitivo. O transtorno ocorre em
garotos três ou quatro vezes mais freqüentemente que em meninas” (CID- I O, 1993).

a.l - Diretrizes Diagnosticas.


Uma síntese geral, nos mostra: As anormalidades do desenvolvimento
ocorrem antes dos 36 meses de vida. Dificilmente uma criança com Autismo deixa de
apresentar desordens do desenvolvimento até essa idade. Há sempre comprometimento na
interação social recíproca; uso insatisfatório de sinais sociais; falta de reciprocidade socio -
emocional; universais comprometimentos qualitativos da comunicação; respostas
emocionais prejudicadas tanto para estímulos verbais como não verbais; restritos,
repetitivos e estereotipados padrões de comportamento e interesses; vinculação específica
à objetos incomuns; preocupações estereotipadas com datas, itinerários ou horários;
estereotipias motoras; resistência à mudanças de rotina é o mais freqüente.

O termo Autismo Infantil compreende vários outros termos: Transtorno


Autístico; Psicose Infantil e Síndrome de Kanner e exclui Psicopatia Autística.

b - (F84.1) - Autismo Atípico.


Inclui a Psicose Atípica da Infância e o Retardo Mental com aspectos
Autísticos.

e - (F84.2) - Síndrome de Rett.

d - (F84.3) - Outro Transtorno Desintegrativo da Infância.


Inclui: demência Infantil; psicose desintegrativa, Sindrome de Hefler e
Psicose Sirnbiótica. Exclui: Afasia adquirida com Epilepsia (F8O.3); Mutismo Eletivo
(F94.0); Síndrome de Rett (F84.2) e Esquizofrenia (F2O.-).

e - (F84.4) - Transtorno de Hiperativídade Associado a Retardo Mental e


Movimentos Estereotipados.

f - (F84.5) - Síndrome de Asperger.


Por ser motivo das maiores investigações na área neste momento vamos
transcrever esta grande e antiga descoberta: “ Um transtorno de validade nosológica
incerta, caracterizado pelo mesmo tipo de anormalidades qualitativas de ínteração social
recíproca que tipifica o autismo, junto com um repertório de interesses e atividades
restrito, estereotipado e repetitivo.

O transtorno difere do autismo primariamente por não haver nenhum


atraso ou retardo global no desenvolvimento cognitivo ou de linguagem. A maioria dos
indivíduos é de inteligência global normal, mas é comum que seja marcadamente
desajeitada; a condição ocorre predominantemente em meninos (em uma proporção de
cerca de oito garotos para uma menina). Parece altamente provável que pelo menos alguns
casos representem variedades leves de autismo, mas é incerto se é assim para todos. Há
uma forte tendência para que as anormalidades persistam na adolescência e na vida adulta
e parece que elas representam características individuais que não são grandemente
afetadas por influências ambientais. Episódios psicóticos ocasionalmente ocorrem no
inicio da vida adulta” (CID-10, 1993).

6.3.3. DSM-IV, VERSÃO INTERACIONAL COM CÓDIGOS DO CID-10, 1995


A Associação Psiquiátrica Americana publicou em 1994, o Manual de
Diagnóstico e Estatística, na 4ª. Edição, e em 1995 com uma novidade: Versão
Internacional com o CID-10. Os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento são
caracterizados por severo e invasivo prejuízo nas diversas áreas do desenvolvimento:
inabilidades da interação social reciproca; inabilidades na comunicação, ou a presença de
condutas estereotipadas, interesses e atividades. Os prejuízos qualitativos que definem
estas condições são distintamente desviantes do nível relativo do desenvolvimento ou
idade mental do indivíduo. Esta classificação passa a adotar a terminologia da DSM-IV e
a numeração da CID-10:
a - Transtorno Autístico (F84.0);
b - Transtorno de Rett; (F84.2);
c - Transtorno Desintegrativo da Infância (F84.3);
d - Transtorno de Asperger (F84.5) e
e -Transtornos Invasivos do Desenvolvimento sem outra especificação
(SOE).(F84.9).
Aqui deve-se incluir o Autismo Atípico. Esses transtornos são,
usualmente, evidentes nos primeiros anos de vida e são freqüentemente associados com
alguns graus de Deficiência Mental, a qual, se presente, poderá ser codificada no eixo II.
Estes Transtornos são algumas vezes observados com um grupo diversos de outras
condições médicas em geral ex: anormalidades cromossômicas, infecções congênitas e
anormalidades do SNC. Se cada uma dessas condições estiver presente elas poderão ser
anotadas no eixo III. Embora termos como “psicoses” e “esquizofrenia infantil” eram
anteriormente usados para se referir aos indivíduos com essas condições, existem
consideráveis evidencias de que os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento são
distintos da esquizofrenia. ( Entretanto, ocasionalmente pode desenvolver esquizofrenia
mais tarde).

D.S.M.-IV - INTERNATIONAL VERSION with IC.D.-10 CODES


Critério Diagnóstico para F.84.0 - Transtornos Autísticos -
A. Um total de 6 (ou mais) ítens de (1), (2) e (3) com pelo menos 2 de (1) e 1 de cada (2) e
(3):

1. Incapacidade qualitativa na interação social recíproca, como manifestado pelo


menos por 2 dos critérios seguintes:
a. Acentuado prejuízo no uso de múltiplos comportamentos não verbais, tais como:
fixação do olhar (olho/olho), expressão facial, postura corporal e gestos regulares
de interação social;
b. Fracasso no progresso para reconhecer os parentes em etapa apropriada do seu
nível de desenvolvimento;
e. Ausência total de busca espontânea para compartilhar prazeres, interesses ou
confraternização (ex.: incapacidade de demonstrar criatividade ou de chamar a
atenção para os objetos de interesse);

d. Ausência total de reciprocidade social ou emocional.

2. Incapacidade qualitativa na comunicação em pelo menos um dos seguintes:

a. Atraso ou ausência total de linguagem falada (que não se tentativa de compensá-la


por modos alternativos como gestos ou mímica);
b. Impossibilidade de conduzir um discurso adequado, para iniciar e manter uma
conversação com outras pessoas;
c. Uso estereotipado da linguagem ou linguagem idiosincrática;
d. Inabilidade total para participar de variados jogos de faz de conta, imitativos
esperados para o seu nível de desenvolvimento;

3. Padrões de comportamento, interesses e atividades restritos e estereotipados, como


estado por pelo menos um dos seguintes critérios:

a. Preocupação descompassada com um ou mais padrões de interesses restritos e


estereotipados, que é anormal tanto na intensidade como no foco;
b. Aderência aparentemente inflexível Para rituais ou rotinas específicas e não
funcionais;
c. Maneirismos motores repetitivos e estereotipados como: movimentos ou contorsões
de mãos ou dedos ( Flapping ou twisting ) ou movimentos complexos do corpo
inteiro (whole -body );
d. Preocupação persistente com partes de objetos.

Critério Diagnóstico para F.84.0 - Transtornos Autísticos

B. Atraso ou anormal funcionamento em pelo menos uma das seguintes áreas, com
prioridade para os primeiros 3 anos de idade: (1) Interação Social; (2) Uso da linguagem
para comunicação social, ou (3) Jogos imaginativos ou simbólicos.

C. Distúrbios não são superiores daqueles que sugerem a Síndrome de Rett ou Transtorno
Desintegrativo da Infância.

Esta versão IV do DSM altera os critérios para o diagnóstico do Transtorno


Autístico: ao invés de 16 são 12 critérios e ao invés de 08 são 06 itens para concluir o
diagnóstico, mantendo-se as 03 categorias do DSM-III-R. Nota-se, também o enorme
esforço para uniformizar e universalizar as duas classificações usadas no mundo inteiro.

7. Considerações Finais.
Sabendo que um longo caminho foi percorrido, mas que muito falta para a
compreensão total dessa entidade patológica, vamos sintetizar os principais pontos
incluindo nossas idéias:

7.1 Conceito.
Os Transtonos Invasivos do Desenvolvimento, como vimos, estão incluídos
numa classificação maior, a dos Transtornos do Desenvolvimento Psicológico (CID-10,
1993). Portanto, o autismo infantil é um transtorno do desenvolvimento. Para favorecer
a compreensão do nosso conceito vamos explicitar a definição de desenvolvimento.
Existem grandes debates no que diz respeito ao desenvolvimento psicológico do ser
humano e se centram em:
a - Inato e adquirido;
b - biológico e cultural e
c - Organismo e meio ambiente.
Desenvolvimento é considerado modernamente como: “Epigênese controlada
geneticamente”. Epigênese é usada aqui no seu sentido mais freqüente: “Maneira pela
qual um indivíduo é modificado no curso de suas múltiplas interações com meio
ambiente”.
De que ordem podem ser essas modificações? O estudo do fenômeno
“plasticidade cerebral” tem sido rico no encontro de respostas para indagações surgidas a
respeito dos efeitos dos estímulos ambientais sobre os indivíduos. Destes estudos
postulou-se:
“As interações entre o indivíduo e seu meio ambiente modelam, ao longo da
vida, tanto a estrutura como o funcionamento do sistema nervoso central portanto, o
comportamento do mesmo” (Hubel e Wiesel, 1981).
O meio ambiente é uma mera fonte de um certo número de estímulos
sensoriais, cognitivos e emocionais que são necessários para a aprendizagem ou um
verdadeiro meio organizador, através principalmente das relações precoces entre a criança
e seu contexto (essencialmente a mãe), como acentuam os psicanalistas?
Sem estímulos não há possibilidade de maturação, crescimento,
desenvolvimento ou evolução do organismo, mesmo numa criança íntegra. Já uma criança
com um sistema nervoso alterado (lesionado ou funcionando em desordem) não poderá
captar, conduzir ou decodificar as mensagens e os estímulos recebidos. Está na
dependência da gravidade do seu defeito neurológico e da capacidade de reorganização do
Sistema Nervoso Central a possibilidade da criança de se relacionar com o mundo externo
e interno.
Ao alcançar uma visão multi-dimensional do fenômeno especial “criança com
conduta autística”, permite-se a reflexão: Autismo Infantil Precoce é uma CONDUTA.
Toda conduta emerge de um campo (psicológico e geográfico). A manifestação
exteriorizada da conduta se dá, sempre, através de 03 áreas: corpo (SNC, órgãos dos
sentidos, condução elétrica e bioquímica); mente (psiquismo) e Mundo Externo
(comunicação). Com essas idéias podemos formular nossa proposta de conceito:

“Transtorno Autístico é a alteração da epigênese das crianças, proporcionando


o aparecimento de um Síndrome, de característica mulditimencional que abarca todas as
áreas de manifestação da conduta, de forma progressiva, alternada e inconstante,
dificultando o desenvolvimento harmônico e paralelo das mesmas, com início nos 03
primeiros anos de vida. Apresenta comprometimento qualitativo da interação social
recíproca, da comunicação universal e das respostas emocionais aos estímulos verbais/não
verbais, produzindo um paupérrimo repertório de atividades, mantendo o paciente numa
mesmice chocante. De causa desconhecida, sabe-se que diversas condições biológicas
podem produzir alterações comportamentais típicas do Síndrome, mas sempre em junção
com os fatores psíquicos e/ou contextuais”.

7.2 Diagnóstico.
Por ser uma patologia que inclui agentes multicausais na organização dos
sintomas, o diagnóstico exige a presença de uma equipe multidisciplinar. A avaliação
inclui entrevistas formalizadas com os pais e outros parentes interessados, para estudo do
contexto familiar, necessitando-se, às vêzes, de exames complementares para subsidiar o
raciocínio clínico de possíveis doenças genéticas e ou hereditárias. A criança será
exaustivamente examinada na área médica (psiquiátrica e neurológica). Estudos
bioquímicos, cromossômicos, eletroencefalográficos, de neuroimagens e outros, são
usualmente necessários para o esclarecimento da sintomatologia. Avaliação psicológica e
psicopedagógica são imprescindíveis. Deve-se salientar que a aplicação de testes
psicológicos e escalas de avaliação exigem profissionais experientes e ou pessoas
suficientemente instruídas (professoras) para sua aplicação e ou avaliação. Estes
instrumentos de mensuração não são suficientes, por sí, para estabelecer um diagnóstico.

7.3 Classificação.
Os critérios diagnósticos, são usados universalmente. A Associação
Psiquiátrica Americana (APA) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) acabam (1995)
de uniformizar o diagnóstico do “Transtorno Autista” e dos outros “Transtornos Invasívos
do Desenvolvimento”. A partir de 1995 propõe-se os critérios da DSM-IV e o código da
CID-10.
Em nosso país a classificação oficial a partir de janeiro de 1996 é: CID-10

8. Síntese.
Fez-se uma revisão detalhada do conceito de Autismo Infantil e dos
Transtornos Invasívos do Desenvolvimento. Buscou-se no trabalho original (Kanner,
1943) as bases para a compreensão desse Síndrome. Autores de diversos paises são
pesquisados no sentido de ampliar a moldura dessa compreensão. Teorias psicológicas,
biológicas e relacionais são consultadas. O Autismo é definido como uma Síndrome
comportamental com múltiplas etiologias. Uma etiologia básica fundamental pode ser
agora determinada com alguma exatidão em pequeníssimo número de casos. Possíveis
deficits fundamentais psicológicos, necessários e suficientes para produzir os mais
importantes sintomas, estão sendo gradualmente compreendidos. O Síndrome é
multimodal tornando a concepção integrativa um imperativo para sua melhor
compreensão. O conceito multidimensional é o que consegue abarcar melhor a
profundidade da patologia. O autor contribui com seu próprio conceito.

9. Conclusões.

a - O conceito original de Kanner continua atual: iníciou com um modelo psicopatológico,


passando pelo funcional para finalizar com o biológico. Este último já estava
explicitado no primeiro trabalho quando escreveu: “Existe uma incapacidade inata na
criança para relacionamento pessoal”;

b - Não existe uma etiologia básica fundamental para todos os casos de Transtornos
Autísticos.

e - Não existem provas consistentes de que fatores emocionais produzam, isoladamente,


Transtornos Autísticos;
d - Existem cada vez mais evidências do envolvimento dos fatores biológicos na genêse
dos Transtornos Autísticos, mas, ainda, não se conseguiu detectar um marcador
biológico responsável;

e - Tais evidências conduzem o raciocínio para a multicausalidade da síndrome;


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