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Incerteza de Medição Na Calibração Dinâmica de Sensores de Temperatura PDF
Incerteza de Medição Na Calibração Dinâmica de Sensores de Temperatura PDF
, João Nildo S. Vianna1 , Michael E. K. de Almeida2 , Alberto C.G.C. Diniz1 , Alessandro B.S. Oliveira3
1
Laboratório de Metrologia Dinâmica da Universidade de Brasília, Brasília, Brasil.
2
EMBRAER, São José dos Campos, Brasil
3
Ecole National Superieure d’Arts et Metiers , Paris, França
RESUMO: Este trabalho tem por objetivo apresentar um como um canal de comprimento infinito, com possibilidade
metodologia preliminar para o cálculo da incerteza de de variar o número de Reynolds e velocidade de
medição sensores de temperatura em regime dinâmico. Para desmascaramento, para assegurar que o tempo de formação
este estudo utilizou-se um termopar com o elemento do degrau não interfira no tempo de resposta do sensor.Com
sensível exposto, uma vez eu este tipo de sensor responde estes recursos técnicos foi possível proceder a uma rigorosa
com um sistema de primeira ordem quando submetido a caracterização metrológica da cuba rotativa, estabelecendo
uma entrada do tipo degrau. Para geração do sinal de entrada procedimentos operacionais que asseguram a repetitividade
utilizou-se uma cuba rotativa com um dispositivo de dos ensaios e que habilitam a cuba rotativa como um
desmascaramento especialmente desenvolvido para este fim. instrumento de confiabilidade metrológica. Com estes
As incertezas de medição de todos os componentes da recursos disponíveis é possível se propor e testar uma
cadeia de medição foram considerados. Os resultados metodologia consistente para cálculo da incerteza de
experimentais mostram que a metodologia proposta é medição.
adequada para determinação das incertezas de medição na O objetivo deste trabalho é apresentar o desenvolvimento de
fase transiente do processo de calibração. um método para cálculo da incerteza de medição na
calibração dinâmica de sensores de temperatura, tipo
Palavras chave : calibração dinâmica, sensores de termopar com o elemento sensível exposto e submetido a
temperatura, termopares, calibração de temperatura. um degrau. O estudo é realizado na base de tempo e tem
como referência as normas internacionalmente aceitas para
1. INTRODUÇÃO calibração estática (5) e (6).
dS (t )
dinâmica de sensores de temperatura pode-se citar aquelas
oriundas do acoplamento do sensor com o meio, as a1 ⋅ + a0 ⋅ S (t ) = b0 ⋅ E(t ) (2)
dificuldades em determinar suas características intrínsecas, dt
as dificuldades para gerar um degrau exterior de qualidade
dS (t )
metrológica e a conseqüente inexistência de normas ou : τ ⋅ + S (t ) = κ ⋅ E(t ) (3)
específicas para tratar deste tema. Um avanço no sentido de dt
superar alguma destas dificuldades são discutidas nos
trabalhos de Henriques et al (2002) e Almeida et al (2003) onde τ é constante de tempo e κ a sensibilidade estática do
que apresentam a caracterização metrológica de uma cuba sensor. A constante de tempo, Eq.4, é formada pelas
rotativa destinada a gerara um degrau de temperatura para variáveis de acoplamento, o coeficiente global de
calibração em meio líquido. Esta cuba na verdade funciona transferência de calor U e área de transferência de calor As ,
e pelas propriedades intrínsecas do elemento sensível M s , a Observando-se a curva de resposta de um termopar
massa da ponta do sensor e Cs o calor específico do sensor. submetido a um degrau, Figura 1, verifica-se que o início da
M S ⋅ CS resposta dinâmica apresenta derivada não-nula. Portanto, a
τ= (4). função derivada temporal do sinal dinâmico deve apresentar
U ⋅ AS uma descontinuidade no instante de tempo em que ele tem
seu início, possuindo valor nulo em qualquer instante
A solução da Eq.3 mostra a variação da temperatura do anterior. No entanto, ruído existente torna a derivada
termopar S(t) quando submetido a um degrau R. A Eq.5 temporal um sinal aleatório nos intervalos de tempo em que
descreve, então, a resposta dinâmica elemento sensível do a entrada é constante. Desta forma, a descontinuidade não
termopar S(t), a exc itação de amplitude constante R: fica bem caracterizada. Uma maneira de destacar o início da
resposta dinâmica é fazendo-se a derivada segunda. Como a
S (t ) descontinuidade da derivada primeira representa uma
= 1 − e τ
−t
(5) variação infinitamente rápida da função, ela é detectada pela
κ⋅ R derivada segunda no ponto de valor máximo da mesma.
VL δT δT δT δV
Figura 2 - Resposta dinâmica de um sensor de 1a ordem, VT = − VO + dif + U − f + R − γ ⋅ δTamb (8)
experimental e teórica, calculada pela Eq. 5. G κq κq κf G
onde:
4. MODELO MATEMÁTICO DA MEDIÇÃO DE VT = tensão produzida pelo termopar [mV];
TEMPERATURA VL = tensão lida no analisador de sinais dinâmicos
[mV];
A função modelo da medição [8], ou modelo matemático é G = ganho de tensão proporcionado pelo amplificador
a base do cálculo de incerteza de medição, pois define as [mV/mV];
componentes de incerteza que devem ser calculadas, e VO = offset na tensão de entrada no amplificador
estabelece correções para as fontes de erro presentes na [mV];
cadeia de medição. δTdif = diferença entre a temperatura de um sensor de
Na literatura [2] são apresentados métodos de cálculo do referência e a temperatura medida, em um
erro associado à medição dinâmica, baseados nas funções de dado instante de tempo [°C];
transferência dos elementos da cadeia de medição. δTU = erro associado à não-uniformidade da
Conhecidas as características dinâmicas de todos esses temperatura do líquido na seção de teste da
elementos, essa abordagem permite determinar de maneira cuba rotativa [°C];
simples a relação entre a saída e a entrada da cadeia de δTf = desvio da temperatura da junta fria em relação
medição, em função do tempo. Entretanto, o modelo ao ponto de referência 0°C [°C];
resultante, geralmente obtido por meio de uma κq = sensibilidade estática do termopar na
transformação inversa de Laplace, fica restrito à combinação temperatura da junta quente [°C/mV];
das respostas dinâmicas teóricas dos elementos da cadeia de κf = sensibilidade estática do termopar na temperatura
medição. Por ser uma abordagem puramente teórica, este da junta fria [°C/mV];
método não considera as fontes de erro presentes na cadeia δVR = erro devido à resolução limitada do analisador
de medição. de sinais [mV];
γ = coeficiente de temperatura do amplificador
Neste trabalho é desenvolvido um método de cálculo de
[mV/°C]; δTamb = erro associado a variações na
incerteza, realizado no domínio do tempo e baseado na
temperatura ambiente [°C].
observação e detecção das fontes de erro associadas à
A grandeza de saída dessa função modelo é VT, e as O planejamento da coleta de dados experimentais para
grandezas de entrada são VL, VO , δTdif , δTU , δTf , δVR e δTamb . análise baseou-se primordialmente na intenção de
aperfeiçoar o cálculo da incerteza de medição e na análise de
O coeficiente de sensibilidade c associado a cada grandeza correlação entre as grandezas de influência da medição. A
de entrada é dado por: para VL, c1 =1/G; para VO , c2 =-1; análise de correlação entre duas grandezas de influência
para δTdif , c3 =1/κq ; para δTU , c4 =1/κq ; para δTf , c5 =1/κf ; exige a coleta simultânea de dados referentes a cada uma
para δVR , c6 =1/G; para δTamb , c7 =γ. delas, originando pares independentes de observações
A incerteza combinada associada a VT é calculada pelas repetidas. Observando a função modelo da medição
contribuições das sete componentes de incerteza associadas dinâmica de temperatura na cuba rotativa, representada pela
às grandezas de entrada, e depois calcula-se a incerteza Equação (8), foi determinado de forma prática quais as
expandida aplicando um fator de abrangência à incerteza grandezas de entrada que poderiam ser medidas
combinada. A incerteza expandida determina um intervalo simultaneamente em uma seqüência de realizações
de confiança com uma dada probabilidade de que o valor experimentais. Para tanto, foram feitos dez ensaios na cuba
correto da grandeza medida esteja dentro dele. rotativa, utilizando instrumentação descrita anteriormente. A
temperatura da água foi fixada em 60°C para todos os
ensaios, assim como a pressão no dispositivo de
5. APARATO EXPERIMENTAL E METODOLOGIA desmascaramento (5), igual a 5 bar, e a velocidade de
DE ENSAIOS rotação do motor elétrico que aciona a cuba, igual a 250
rpm. A freqüência de aquisição do analisador foi de 2,5 kHz.
Os principais elementos da cadeia de medição dinâmica de
temperatura com a cuba rotativa, Fig. 3, e os respectivos
erros associados são: 6. METODOLOGIA DE CÁLCULO DAS
INCERTEZAS DE MEDIÇÃO
- termopar do tipo K, utilizado na medição da temperatura
da água contida na cuba (termopar auxiliar) - δTU = 0,000°C De acordo com (6), (7), e (8), para se determinar qual das
± 0,035°C; leis de propagação da incerteza será utilizada no cálculo da
- mostrador digital de temperatura para termopares -δTK = incerteza combinada padronizada é necessário avaliar o grau
0°C ± 1°C; de correlação entre as varáveis. Este valor varia de 0 a 1,
- termopar do tipo K utilizado no dispositivo de sendo que este último indica uma forte correlação entre as
desmascaramento (termopar a ser calibrado dinamicamente), variáveis. O grau de correlação entre duas grandezas é dado
e seu cabo de extensão - δVc = 0,000 mV ± 0,005 mV; por:
[u (x , x )]
- fonte fria de referência a 0°C - δTf = 0,0°C ± 0,1°C;
r (xi , x j ) =
- amplificador operacional de tensão - VO = 50,49 mV ± i j
u( x ) ⋅ u (x )
(9)
2,30 mV , G = 101,66 mV/mV e γ = 0,005 mV/°C;
i j
- analisador de sinais dinâmicos - δVR = 0,0000 mV ±
0,0427 mV ;
- termômetros de bulbo de mercúrio para medição da A covariância entre duas grandezas pode ser determinada
experimentalmente por meio de observações simultâneas
temperatura ambiente (δTamb é diferença entre a temperatura
ambiente média medida durante a calibração do das duas variáveis. Sendo xi a média das observações de xi
amplificador e a média das temperaturas lidas durante cada e x j a média das observações de xj , a covariância pode ser
experimento–resolução±0,05°C).
- estimada por:
u (xi , x j ) = (
∑ (( xi ) k − xi ) ⋅ (x j )k − x j )
n
1
n (n −1) k =1
(10)
-
Fig. 3. Desenho esquemático do sistema de cuba ro tativa [10].
por:
Tabela 1 – Coeficientes de correlação médios
uc4 ( y )
νeff = N 4
Grandezas analisadas r (xi , x j ) ui ( y ) (15)
V L e δTamb 0,770425 ∑
i =1 νi
V L e δTdif 0,999988
δTamb e δTdif 0,770036 O cálculo da incerteza utilizada, para cada
conjunto de 10 pontos no tempo t, consiste nos seguintes
Como pode ser visto na Tabela 1 , as três grandezas passos:
analisadas possuem graus de correlação significativos entre -Determinação das estimativas das grandezas de entrada xi
si, principalmente VL e δTdif .. Desta forma a incerteza da função modelo da medição, Equação (8), e suas
padronizada combinada associada a VT é calculada por: respectivas incertezas padronizadas u(x i );
-Determinação dos coeficientes de sensibilidade ci da
u c2 ( y ) = ∑ ci2 ⋅ u 2 ( xi ) + 2 ⋅ ∑ ∑ ci ⋅ c j ⋅ u ( xi ) ⋅ u (x j )⋅ r(xi , x j ) (11)
N N −1 N
Equação (8);
i =1 i =1 j=i +1 -Cálculo da incerteza padronizada combinada u c(y) segundo
a Equação (11);
onde incerteza padronizada u(x i ) associada à estimativa de -Expressão da incerteza expandida U segundo a Equação
entrada xi é o desvio padrão experimental da média s(X i ) , (14) para um k=2;
-Disposição dos resultados em forma de curva de resposta
que é a raiz quadrada positiva da variância experimental da dinâmica da média e das incertezas e em uma tabela,para um
média: tempo t determinado, contendo todas as estimativas de
1 1 2
s2 (X i ) = ⋅ ∑ (( X i )k − X i )
n grandezas de entrada e componentes de incerteza associadas.
⋅ (12)
n n − 1 k =1
7. RESULTADOS EXPERIMENTAIS
A média aritmética X i dos valores n observados (Xi ) k: A metodologia desenvolvida consiste em aplicar as normas
n e recomendações dos modelos estáticos a cada tempo da
⋅ ∑ ( X i )k
1
xi = X i = (13) amostragem do processo dinâmico. Como o zero do
n k =1 processo dinâmico de cada conjunto de 10 realizações é
ajustado segundo o método proposto da segunda derivada, a
A incerteza expandida U é obtida multiplicando-se a cada instante são geradas 10 amostras estáticas de tensão do
incerteza padronizada combinada u c(y) pelo fator de termopar que são relacionadas com as demais grandezas de
abrangência k: influência do sistema de medição. A Tabela 2 apresenta os
U = k ⋅ uc y ( )
(14) resultados de todos os cálculos de um ponto da amostragem
equivalente ao tempo de 0,55430 segundos, aos quais são
associados as incertezas do tipo A e do tipo B, bem como o
O número de graus de liberdade efetivos νeff é determinado valor de tensão estimado pela função modelo da Eq. (8).
Tab. 2 -Cálculo das grandezas de influência e da incerteza associada à tensão do termopar em um ponto no tempo (t = 0,55430 seg.)