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A REFORMA PROTESTANTE E A

REFORMA CATÓLICA

Prof. Sabrina Sales


A REFORMA PROTESTANTE: CONTEXTO

• Em 1517 teve início um dos momentos mais marcantes da Época Moderna. Trata-se da questão envolvendo Lutero
e o Papa Leão X, da qual resultou a excomunhão do primeiro que, apoiado por príncipes alemães, constituiu uma
nova religião, abrindo profunda brecha no poderio até então incontestável da Igreja Católica. No entanto, não se
pode compreender a Reforma Luterana apenas pelo que ocorreu em 1517. O movimento tem causas profundas

Crise da Idade Média, do sistema feudal e da Igreja, instituição representativa desse período e sociedade

Ocorre no momento do apogeu do Renascimento europeu e da consolidação da burguesia e do capitalismo comercial;

Ocorre durante o processo de formação dos Estados modernos ou nacionais (centralização do poder) nas mãos de
príncipes pertencentes a grandes famílias nobres;

Ocorre logo após a “descoberta” de um Novo Mundo;


• A “revolução protestante” (Reforma), assim como a revolução cultural (Renascimento), fez parte das
transformações em curso na Europa, na transição da Idade Média para a Idade Moderna. Foi articulada com o
vigor do individualismo e estruturada com base na economia capitalista e sua sociedade burguesa. Na prática,
os reformistas religiosos responderam às exigências dos novos tempos, colocando em xeque a autoridade
papal e toda a hierarquia eclesiástica, o que resultou na quebra do monopólio cristão ocidental exercido pela
Igreja, com a cisão religiosa.
MOTIVAÇÕES DA REFORMA

• Políticos: desenvolvimento dos Estados Nacionais governados por príncipes;


• Econômicos: sem o poderio da Igreja, os príncipes poderiam tomar as terras da Igreja para si e se
controlassem as suas próprias igrejas, poderiam arrecadar os dízimos e ofertas e administrá-los sem
precisar enviá-los ao papa. Além disso, o enfrentamento católico às práticas lucrativas burguesas,
como a usura eram vistas para os príncipes (reis) como empecilho a taxação à essas atividades (da
burguesia) em seus domínios e a própria burguesia se interessava em ter um rei organizando os
impostos, as taxas e com os quais pudessem fazer acordos comerciais com objetivos monopolistas.
Aos camponeses, pesavam os impostos e a compra das indulgências para garantir a salvação;
• Religiosos: desde o início do Renascimento e mesmo antes houve clérigos e monges que buscaram
voltar ao filósofos clássicos com o intuito de rever, melhorar e reformar as práticas da Igreja, mas
essa reforma foi adiada até que os homens de espírito livre das cidades comerciais europeias a
forçassem. Eles queriam uma religião mais livre, sem hipocrisias (venda de indulgências e relíquias) e
intermediadores que só faziam aumentar o seu poder e prestígio.
OS PRINCIPAIS REFORMADORES

• Igreja Católica: baseada na teologia tomista e • John Wyclif (Oxford): defendeu uma Igreja
escolástica, sistema alicerçado no livre-arbítrio nacional e criticou a opulência da igreja e a
(poder de escolha entre o bem e o mal), levava venda de indulgências. A igreja o
os cristãos a necessitar dos sacramentos excomungou
religiosos para alcançar o bem – o que • Jan Hus: defendeu as ideias de Wyclif e a
aumentava o poder sacerdotal que os independência da Boêmia. Foi queimado vivo
administravam; pela Igreja e seus seguidores, o hussitas,
• Reformadores: baseavam-se na teologia fizeram dele um herói nacional;
agostiniana, cujo alicerce era a noção de • Humanistas: Erasmo de Roterdã e Thomas
predestinação à vontade de Deus e negava o Morus, pregavam a depuração da Igreja por
livre-arbítrio. Para eles, a fé estava acima da meio de reforma realizada por seus
razão e conduzia à salvação. próprios membros;
(...) quando o monge agostiniano Lutero questionou determinados dogmas da Igreja, a
reação papal contribuiu para uma reforma às avessas”, na medida em que o apoio
desfrutado por Lutero significou não uma reforma da, mas fora da Igreja. (MARQUES;
BERUTTI; FARIA. As reformas In História Moderna através de textos. Editora Contexto,
2010).

Martinho Lutero prega as 95 teses na porta da Igreja de Wittenberg


• Em 1520, o papa Leão X analisou a atuação de Lutero e o intimou a se retratar. Por não negar alguns de seus
textos, Lutero foi considerado herege e foi excomungado. O Imperador Carlos V convocou a Dieta (assembleia)
de Worms (1521), diante da não retratação do reformador ele foi expulso do Sacro Império Romano Germânico
e refugiou-se no castelo de Wartburg, onde traduziu a bíblia para o alemão.

• As ideias luteranas influenciaram revoltas camponesas (anabatistas) que, comandados por Thomas Munzer,
pregavam o fim da propriedade privada da igreja de forma violenta. Lutero se opôs violentamente a eles,
contando com o apoio de príncipes e nobres
O PROTESTANTISMO

• Em1529, o Imperador Carlos V decidiu que a


doutrina luterana seria tolerada nas regiões já → As escrituras sagradas são o único dogma;
convertidas, mas não no restante da Alemanha. → A fé como única fonte de salvação;
Os luteranos protestaram – daí o termo → Livre interpretação do texto bíblico.
protestante. → Substituição do latim pelo idioma nacional
→ Separação entre igreja e Estado;
→ Dois sacramentos: batismo e eucaristia
• Em 1530, Lutero e o teólogo Filipe Melanchton
assinaram a confissão de Augsburg, com os
fundamentos da doutrina luterana • Em 1555, os protestantes conseguem a Paz de
Augsburg, no qual cada príncipe teria o direito de
escolher a sua religião e a de seus súditos. Para
isso, Lutero obteve apoio da nobreza alemã
contra o Imperador Carlos V.
CALVINISMO

Na Suíça, o padre Zwinglio foi mais radical do Preceitos


que Lutero e forneceu a base para o Calvinismo • Crença na predestinação
que viria depois. Ele causou uma guerra civil, na absoluta;
qual perdeu a vida. Após o fim dessa guerra, o • Culto simples – Expansão do calvinismo
padre João Calvino ligou-se ao luteranismo e comentários sobre a nas cidades mercantis
depois publicou os fundamentos de sua bíblia; europeias:
doutrina. Obteve êxito em Genebra com as • Sacramentos: batismo e • Escócia – presbiterianos;
suas pregações, estabeleceu o controle desta eucaristia; • Inglaterra - puritanos;
cidade e instituiu uma censura rígida • Valorização da riqueza e • França: huguenotes
(Ordenações Eclesiásticas) pela qual controlava condenação da miséria
a vida religiosa, política e moral dos cidadãos. (sinônimo de pecado)

Calvino criou uma doutrina que alicerçava o capitalismo, estimulando o lucro, o trabalho e, portanto, a
burguesia. Defendia a predestinação e via no sucesso econômico a indicação divina dos escolhidos para a
salvação eterna.
ANGLICANISMO

• Na Inglaterra, o conflito religioso possui um caráter mais político, pois lá o próprio rei,
Henrique VIII (1509 – 1547) rompeu com o papado, utilizando-se de problemas domésticos.
Ele queria desfazer seu casamento com Catarina de Aragão, para se casar com Ana Bolena. Sua
esposa, era tia de Carlos V, imperador do Sacro Império Romano – Germânico (em guerra
com Lutero), por isso o papa recusou a anulação para não entrar em choque com o
imperador. Henrique VIII justificou sua pretensão por ter a necessidade de um herdeiro
homem no trono e, em 1534, rompeu oficialmente com o papado ao publicar o Ato de
Supremacia, por meio do qual se tornou o chefe da Igreja na Inglaterra. Ele confiscou as terras
da Igreja. No reinado de sua filha Elizabeth I, filha de Ana Bolena, a Igreja Anglicana se mesclou
aos dogmas calvinistas.
CONTRARREFORMA OU REFORMA
CATÓLICA

A reforma da Igreja católica, isto é, a moralização do clero e da Igreja, já era discutida desde a Idade Média.
Contudo a necessidade de contenção do protestantismo deu a ela um caráter conservador e urgente.

Convocação do Concílio de Trento para


discutir os problemas da fé católica. Nele, foram
reafirmados dogmas católicos, tais como:
• Salvação por meio da fé e de boas obras;
Criação da Companhia de Jesus • Confirmação do culto à Virgem, aos santos Inquisição
(1534) por Inácio de Loyola. (imagens), a existência do purgatório, a (Tribunal do Santo Ofício) e o
Monopolizaram o ensino em várias infalibilidade do papa, o celibato do clero, a Index (livro de obras
regiões, europeias e do Novo hierarquia eclesiástica; proibidas)
Mundo, para difundir o catolicismo • Proibição da venda de indulgências e a venda
de cargos
• Confirmação da indissolubilidade do
casamento.
COMENTÁRIO OBRA DE MAX WEBER

• Protestantismo é uma das principais causas do capitalismo e de sua consolidação;


• Embora pareça que os protestantes parecessem mais felizes e receptivos às
mudanças mundanas que ocorriam, para Weber eles pressionavam por maior
dominação dos indivíduos, pois buscavam a ascese intramundana,
diferentemente da ascese monástica da Igreja Católica;
• O protestantismo segue a teoria da predestinação, segundo a qual, Deus
concede a salvação a um restrito número de eleitos, e o homem deve buscar
o lucro através do trabalho e da vida sempre regrada (ascese intramundana, modo
de vida restritivo e frugal).
• A valorização da interpretação individual do texto contribuiu para a valorização
da educação e da alfabetização.
• A busca pela confirmação da predestinação através do progresso econômico fez
com que os países protestantes fossem mais ricos e também com mais acesso
à educação.
QUESTÕES E INDICAÇÕES

• Superweb: www.sprweb.com.br/lista/
• Documentário “ A reforma que mudou o mundo” no Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=GoKCZkJOwsU
• Filme “Lutero” no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=PlP-Xt4LLNg
• Filme “Menochio, o herege” no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=FQI0-sa_bbY

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