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CLIFFORD, James. Sobre a Autoridade Etnográfica in. A Experiência Etnográfica.

Antropologia e
literatura no século XX

Relatório de Apresentação
Alanna Antunes de Souza

James Clifford inicia seu artigo explorando as diferentes noções de autoridade e como elas
se construíram historicamente, em linhas gerais essa “autoridade etnográfica seria a forma como o
autor se coloca no texto e a maneira com que ele legitima seus pressupostos.
O autor inicia sua análise destacando que o Etnógrafo é alguém que escreve no escritório,
totalmente envolto de sua piedade religiosa e de seus bens culturais que atribui valor – como as
peças de arte egipcias e gregas. Cita Malinowski para relaciona o Etnógrado a algém que tira a foto,
ou seja, registra o que vê, mas também é visto por aqueles que fotografa. É o trabalho de Campo no
Campo, e não no escritório.
De acordo com Clifford, Malinowski foi um “divisor de águas”, pois, antes de seu trabalho
“o etnógrafo e o antropólogo, aquele que descrevia os costumes e aquele que era construtor de
teorias gerais sobre a humanidade, eram personagens distintos.” (CLIFFORD, 1998, p.26).
O autor faz uma crítica ao “Você está lá...porque eu estive lá”, base do realismo etnográfico.
E aponta que este “estudo traça a formação e a desintegração da autoridade etnográfica na
antropologia social do século XX.” (CLIFFORD, 1998). A crítica também se insere na produção, de
acordo com ele “O ocidente não pode mais se apresentar como o único provedor de conhecimento
antropológico sobre o outro.” (CLIFFORD, 1998)
Após a contribuição de Malinowski, observa-se que houve um processo de
profissionalização e academização do trabalho de campo, este que se torna hegemônico nas práticas
etnográficas, assim as “experiências” do autor são colocadas no texto para que o leitor possa fazer
parte desta experiência.
Adiante, Clifford explica sobre a importância da observação participante, de acordo com ele
a “observação participante obriga seus praticantes a experimentar, tanto em termos físicos quanto
intelectuais, as vicissitudes da tradução”, para que ela seja possível um longo caminho de
aprendizado linguístico “algum grau de envolvimento direto e conversação, e frequentemente um
“desarranjo” das expectativas pessoais e culturais. […]” Para ele os “atuais estilos de descrição
cultural são historicamente limitados e estão vivendo importantes metamorfoses.” (CLIFFORD,
1998)
Todas essas questões foram surgindo pela necessidade de autoafirmação da antropologia, e
sua consolidação. Para que isso ocorresse algumas “legitimações” tiveram que surgir. Em primeiro
lugar “A persona do pesquisador profissional”, para o autor “O etnógrafo profissional era treinado
nas mais modernas técnicas analíticas e modos de explicação científica. Isto lhe conferia, no campo,
uma vantagem sobre os amadores: o profissional podia afirmar ter acesso ao cerne de uma cultura
mais rapidamente, entendendo suas instituições e estruturas essenciais. [...] o pesquisador de campo
deveria viver na aldeia nativa, ficar lá por um período de tempo suficiente, falar a língua nativa,
investigar certos temas clássicos. (CLIFFORD, 1998)
A segunda “inovação” foi o “Domínio da Língua Nativa” que "era tacitamente aceito que o
etnógrafo do novo estilo [...] podia eficientemente ‘usar’ as línguas nativos mesmo sem dominá-las.
[...] "usá-la" [as línguas nativas] apenas para fazer perguntas, manter contato e de forma geral
participar da outra cultura [...] a partir de estadias relativamente curtas e com um foco em domínios
específicos, tais como infância ou personalidade [...] síntese cultural.” (CLIFFORD, 1998)
A terceira inovação tratou do “Poder da Observação, de acordo com o autor “A cultura era
pensada como um conjunto de comportamentos, cerimônias e gestos característicos passíveis de
registro e explicação por um observador treinado. [...] o observador participante emergiu como uma
norma de pesquisa. [...] a interpretação dependia da descrição.” (CLIFFORD, 1998)
A quarta, quinta e sexta inovação expõe respectivamente sobre as “abstrações teóricas”, “o
foco nas instituições” e “o foco no presente etnográfico”. (CLIFFORD, 1998) Em suma um
apanhando de passos técnicos que levariam o pesquisador a compreender a totalidade das
abstrações culturais.
Clifford, a partir destes diálogos passas a analisar os modos de autoridade e como eles se
relacionam entre si. O primeiro modo de autoridade destacado pelo autor é o “Experencial”, que
“está baseada numa ‘sensibilidade’ para o contexto estrangeiro, uma espécie de conhecimento tácito
acumulado[...]” e “Muitas etnografias [...] ainda são apresentadas no modo experiencial,
defendendo, anteriormente a qualquer hipótese de pesquisa ou método específicos, o ‘eu estava lá’
do etnógrafo como membro integrante e participante.” (CLIFFORD, 1998)
O autor segue com o próximo modo de autoridade que é o “Modo de Autoridade
Interpretativo”, que se relaciona com a tradução da experiência, de acordo com ele a Antropologia
Interpretativa “contribui para uma crescente visibiliza dos processos criativos (e, num sentido
amplo, poético) pelos quais objetos “culturais” são inventados e tratados como significativos."
(CLIFFORD, 1998)
A exposição dos informantes se dá no “Modo de Autoridade Dialógica”, onde a relação entre
pesquisador e informante são explicitadas. Nesse modelo, “a autoridade do etnógrafo como
narrador e intérprete é alterada”. (CLIFFORD, 1998)
Quando existe uma co-autoria entre informante e etnógrafo, existe uma etnografia
multivocal. Para o autor, “Dizer que uma etnografia é composta de discursos [...] não significa dizer
que sua forma textual deva ser a de um diálogo literal. [...] um terceiro participante, real ou
imaginado, funciona como mediador em qualquer encontro entre dois indivíduos [...] O diálogo
ficcional é de fato uma condensação, uma representação simplificada de complexos processos
multivocais.” (CLIFFORD, 1998)
Uma outra perspectiva está presente no “Modo de Autoridade Polifônica” o autor explica
“que o romance “polifônico” [...] representa sujeitos falantes num campo de múltiplos discursos.
[...] encena a heteroglossia. [...] Uma “cultura” é, concretamente, um diálogo em aberto, criativo, de
subculturas, de membros e não membros, de diversas facções.” (CLIFFORD, 1998) esse modelo
rompe com as etnografias que objetivavam conter uma única voz, neste caso, a do etnógrafo, e
propõe uma “produção colaborativa do conhecimento etnográfico, citar informantes extensa e
regularmente” (CLIFFORD, 1998).
O autor finaliza apontando que todos os modos de autoridade podem ser usados, inclusive
juntos em uma mesma pesquisa. Explica que há uma dificuldade ruptura com os trabalhos
“monológicos”, e destaca sobre a importância da etnografia não ser monopólio de culturas
ocidentais.

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