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CUBA E O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO

SILVA, Gleice Francisca Pereira da


HILLSHEIN, Kassiano Avancini

RESUMO

A luta revolucionária desde primeiros momentos não foi apenas para derrocada de batista,
mas desde que chegou as serras cubanas a revolução desencadeava a luta incessante da
conscientização da população, a busca pela a aceitação de uma nova estrutura social que
buscava naquele momento. Nos anos da revolução a primeira aproximação foi com os
camponeses que naquele momento estava próximo ao embate entre a vanguarda guerrilheira e
o exército de batista. Passado os anos, após a vitória a luta continuava, mas em outro patamar,
sendo ela a consciência do povo que naquele momento ainda havia resquícios da ideologia
dominante na população. Embora haja semelhanças no socialismo de Cuba e da União
Soviética, Cuba tem seus avanços e consegue superar a União Soviética, prova disso é que já
são os anos de revolução e, mesmo com a queda da União Soviética sua força motriz superou
tempos anteriores. As condições objetivas que está na economia é o alicerce para manter a
estabilidade de Cuba e a consciência política do povo constitui os pilares da manutenção da
revolução conduzida pela vanguarda. Cinquenta anos após o rompimento com o capitalismo
não se pode intitular Cuba socialista, uma vez que não se socializa miséria, mas não se pode
esconder ou negar os avanços deste país comparando com os demais países da América
Latina, Cuba tem como prioridade o ser humano e é neste sentido que todas as ações,
investimentos, planos estão voltadas prioritariamente para o ser humano.

PALAVRAS CHAVE: Revolução Cubana; Movimentos Sociais; Transformação Social;


Revolução Social.

A dificuldade Cubana no processo revolucionário

As características do socialismo Cubano é semelhante as peculiaridades do


socialismo da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviética, esta foi a única alternativa
para Cuba a qual foi empurrada para a crise juntamente com a União Soviética. Cuba só
consegue se sustentar ainda hoje como socialista graças a consciência política da massa.
Antes da revolução havia uma luta por terras, para buscar o sustento das famílias.
Essa situação contribuía para o endividamento do camponês que estava expropriado da
condição de produzir sua própria existência.
“Cuba se deslizou da “dominação colonial direta” (Espanha) para a “dominação colonial
indireta” (Estados Unidos)” (FERNANDES, 2007 p.10). Porém depois da Espanha e dos
Estados Unidos, a URSS, como aliada, também fez uso de Cuba como “colônia”, uma vez
que, por ser a URSS o único país com quem comercializava, Cuba se dedicou e se conservou
estável na economia devido a monocultura açucareira comercializando com a URSS, não
acontecendo assim a diversidade econômica, com a queda do muro de Berlin e a
desintegração da URSS (1991) Cuba ficou desprovida desta diversidade provinda da URSS e
não consegue se manter só do açúcar e do charuto quase entrado em colapso.
Antes mesmo do início das lutas guerrilheiras em cuba, havia a necessidade de um
trabalho com a população, para mostrar as condições em que se encontrava o país naquele
momento. Para isso a vanguarda já em luta campal direcionava a revolução ao mais alto ideal
além dos quais já tinham auxílio, conforme indica Sader:

“...camponeses viu naqueles homens fracos, cuja barba, agora lendária,


começava a crescer, um companheiro de infortúnio, um novo perseguido
pelas forças repressivas, e ele nos deu ajuda espontânea e desinteressada,
sem esperar nada dos vencidos ( 2004, p.94)

Sendo neste momento alcançado um apoio logístico na região das serras.


A partir disso as investidas camponesas receberam represálias da ditadura de
Fugêncio Batista com violências que chegaram a morte de milhares de camponeses naquele
momento. Com esta repressão os camponeses menos destemidos se afastaram, mesmo assim,
naquele momento Guevara dizia: “Nossa política, no entanto, foi justa e compreensiva e pouco a
pouco a população iniciou sua reaproximação á nossa causa” ( p.94). Sendo que naquele momento
o camponês se viu sem opção, mas já não aceitava a estrutura em que o país se sustentava.
Sendo assim a situação em que se encontrava a estrutura social e ainda mais a forma
em que se tratava a sociedade chegou a um patamar insustentável. No período colonial essa
população era explorada pela Espanha, o apoio dos Estados Unidos pela independência
política aproximou Cuba pela dependência econômica. Dessa forma, Cuba se liberta dos
grilhões da Espanha, mas não consegue autonomia econômica. Portanto, a condição de um
país com regime jurídico próprio não garantiu a libertação ao povo cubano.

Se antes haviam sofrido os bombardeios da ditadura, a destruição pelo


fogo de suas choupanas e o assassinato em massa, conheceu então a
desumanidade e a barbárie de um regime que os tratou pior que a
Espanha na época da guerra pela independência. (GUEVARA, apud
SADER, 2004, p.95).

Toda a situação de exploração sofrida pela população contribuiu para que a cada
momento um camponês se somasse as fileiras da guerrilha. Por um simples ideal, porém, a
partir das vitórias já conquistadas pelos guerrilheiros que fazia parte do exército
revolucionário, com a incorporação de novas forças mais próxima se visualizava a vitória que
acontecera de fato no dia primeiro de janeiro do ano de 1959.
A disciplina é um outro fator que se deve levar em consideração para vitória da
revolução. Qualquer movimento social que tem objetivos definidos, se não levar em
consideração a disciplina esta condenado ao fracasso. Mas, a disciplina não é o fim em si
mesmo, porque são normas de condutas, no caso da guerrilha, que nem tinha como meta a
destruição do poder arbitrário da ditadura de Fugêncio Batista e seus aliados econômicos:
Cubanos e Estadunidenses.

Andávamos de choupana em choupana; não tocávamos em nada que não


nos pertencesse, inclusive não comíamos nada que não pudéssemos pagar
e, por causa deste principio, chegamos muitas vezes a passar fome (p. 101).

Note-se a rígida disciplina, mas que ainda não estava associada a uma doutrina
revolucionária no sentido lato do termo. Parece contradição afirmar que uma revolução não
tinha princípios revolucionários, contudo, faz-se necessário uma análise teórica sobre o
caráter de uma revolução orientada por uma doutrina revolucionária.
Segundo Marx e Engels os Estados Nacionais não são outra coisa senão o comitê
para gerir os negócios da burguesia. “O executivo no Estado moderno não é senão um comitê
para gerir os negócios comuns de toda classe burguesa” (Marx e Engels, 2005 p. 42).
Naquele momento o Estado Nacional Cubano não era outra coisa senão um território em
disputa para gerenciar os negócios da cana de açúcar. A miséria da população campesina
contribuiu para somar força contra o poder, mas essa situação não definiu uma doutrina que
orientasse a revolução em favor de um projeto histórico da verdadeira emancipação da
população. As condições subjetivas que são orientadas pelo grau da consciência da população
foram se construindo com o desenrolar do processo revolucionário. Neste sentido, a revolução
cubana se orientou em primeiro momento por interesses econômicos e não por princípios
revolucionários que tem na essência o ser humano como elemento central de uma doutrina.
Pois por grandes períodos na ditadura de Batista a repressão aumentava a todo o
momento chegando a situações desumanas no corte de abastecimento nas regiões onde a
guerrilha se encontrava. Não levando em consideração a população que se encontrava nos
arredores das serras, passando pelas mesmas dificuldades em que a vanguarda naquele
momento se encontrava, mas havia o apoio dos camponeses à guerrilha, assim se iniciou o
auxilio aos guerrilheiros com abastecimento daquilo que os camponeses ainda estavam
produzindo.
Houve um momento em que a guerrilha foi direcionada para atender também as
reivindicações dos camponeses com a incorporação dos mesmos ao exército revolucionário. A
partir daí a revolução começa ter caráter de massa e o governo central começa ceder em
alguns pontos específicos como a lei da reforma agrária.

à incorporação dos camponeses à luta armada por suas reivindicações de


liberdade e justiça social, surgiu a grande palavra mágica que mobilizou as
massas oprimidas de cuba, na luta pela posse da terra: Reforma Agrária.
(...) No dia 3 de novembro na Sierra Maestra decretou-se a lei nº3, que
estabelecia uma verdadeira reforma agrária e que mesmo incompleta,
tomava medidas muito positivas (...)” ( p.102).

A Lei da reforma agrária pode ser considerada como medida de concessão. Como a
velha tática: ceder um pouco para não perder o poder. Mas assim, a luta guerrilheira cubana
estava ganhando força. A incorporação dos camponeses tinha objetivos específicos, mas foi
conduzida pela direção da revolução para um projeto estratégico, ajustando os interesses
econômicos dos mesmos com as táticas da revolução.
Veja-se que num primeiro momento o “povo” é apenas um aliado. Então, a
revolução tinha objetivos de derrubar o governo do poder, a população era considerada como
força indispensável, mas não estava como partícipe do processo. A força que vinha dos
camponeses somando-se ao exército era sempre considerada como força de aliados. A tática
construída pela vanguarda da revolução, entre eles Fidel e Guevara que entendiam a adesão
dos camponeses como ajuda no processo estabelecendo uma relação de vantagens do exército
revolucionário sobre o poder oficial do Estado.

Nessa guerra, contamos sempre com esse aliado imponderável de tão


extraordinário valor que é o povo. Nossas colunas podiam enganar sempre
o inimigo e ocupar sempre as melhores posições, não apenas por vantagem
tática ou graças ao moral dos nossos milicianos, mas, sobretudo graças à
grande ajuda camponesa ( 2004, p.105).

As formas de incorporação naquele momento foram se ajustando a partir da


necessidade da guerrilha. A própria guerrilha sentia a necessidade de suprimentos de
alimentos, sendo auxiliados pelos campesinos da região. Mas em um momento as
propriedades do Estado e dos aliados da ditadura foram divididas aos campesinos. Assim
chegou-se uma situação em que a vanguarda da Revolução levantou a bandeira da Reforma
Agrária.
Os revolucionários de 1959 tiveram um grande desafio antes da vitória, por conta do
sofrimento que se via no povo dava-se mais força a luta, e juntamente com a guerrilha via-se
naquela hora a tentativa da descentralização do movimento por conta da manutenção do
Status-quo do poder central. As lutas além de serem campais muitos foram para além das
armas, mas também para a consciência através de uma educação revolucionária para o povo,
por conta disso os revolucionários perceberam que também havia-se a necessidade do ensino
principalmente para campesino. Assim, cada vez mais os camponeses se aglutinavam em
torno de interesses comuns da população pela superação das injustiças e das desigualdades do
seu país.
Já no afronte final estavam determinados os passos que deveriam ter sido tomados
naquele momento. A bandeira da reforma agrária posta como uma das principais lutas após a
revolução; a educação para todos, até as mais distantes localidades de Cuba; e um
planejamento econômico para superar a condição de miserabilidade da população. Os
camponeses como uma força preponderantemente majoritária, imediatamente abraçou essa
causa, uma vez que já haviam sido conscientizados no processo revolucionário, nos combates.
Mas com toda a luta incessante a partir da guerrilha ainda não havia um partido de
caráter revolucionário para dar direção ao movimento guerrilheiro. Segundo Florestan
Fernandes eles “não se prendia ao dogmatismo de uma “linha revolucionária de partido” (2007, p
133)”. Por essa razão a conscientização da ação revolucionária não pode ser considerada
idêntica a nenhuma outra revolução, pois a análise é feita a partir conjuntura histórica que
apontou o caminho da luta.
Há uma visão recorrente que num primeiro momento os revolucionários cubanos
contaram com apoio dos Estados Unidos, mas tudo pelo interesse de melhorar o comércio da
cana e aumentar os lucros. Diante dessa visão não há como não perceber que esse apoio não
poderia ser hegemônico, provavelmente seria de setores que não estavam lucrando com o
comércio do açúcar devido ao monopólio anteriormente pré-estabelecido com as oligarquias
canavieiras. O próprio Partido Comunista de Cuba não se envolveu no processo da revolução,
mas com a vitória do processo revolucionário, tanto os inimigos como os aliados foram se
definindo.

Ela deslocou e esmagou a burguesia, nacional e estrangeira, porque para


libertar a nação e para criar um Estado democrático soberano ela tinha de
converter-se em uma revolução contra a ordem, ou seja, anti-capitalista
(2007 p.31).

O fato de os dirigentes da revolução ver na burguesia nacional e internacional os


inimigos da população cubana, principalmente inimigos dos operários e campesinos, fez com
que os comunistas se aproximassem dos dirigentes revolucionários, principalmente Fidel
Castro, como líder maior. O castrismo após a vitória revolucionária por muitos momentos foi
considerado um governo populista e até mesmo nacional-democrata, por conta de suas
políticas iniciais, um grande erro dos EUA através de uma carta Castroism Theory And
Pratice. Sendo assim logo no primeiro momento a “ vanguarda revolucionária proletariza-se e,
em seguida, realiza mais dois saltos: torna-se anti-capitalista e busca no socialismo revolucionário
uma saída para Cuba, arrastando consigo a massa dos proletários rurais e urbanos” (2007 p.136).
E por isso também foi buscar apoio na URSS – União de República Socialista
Soviética para garantir o novo modelo econômico e o modelo Leninista construção de uma
nova consciência. Aliança com a URSS era uma das possibilidades de garantir a manutenção
da revolução. Quanto ao modelo de educação soviética, o que se sabe é que nos primeiros
momentos da Revolução Russa e com a organização das repúblicas socialistas Lênin viu no
fordismo a única saída para tirar o país da crise, associando a produção ao desenvolvimento
tecnológico. Para ele essa modalidade de educação era uma questão transitória até que todos
tivessem acesso à ciência e com a consolidação dos planos qüinqüenal pudesse abandonar o
fordismo. Mas isso não aconteceu, o que ocorreu é que isso alienou ainda mais o povo
soviético e a ciência nunca chegou até os trabalhadores da URSS. Cuba, pelo contrário
conseguiu avançar na consciência apoiando-se na forte liderança de Fidel que fez uso da
própria situação real para levar o povo a idealizar uma nova sociedade lutando por uma nova
ordem social.
A procedência da Revolução Cubana não é proletária, mas “a burguesia mostra-se
incapaz de conciliar os interesses particulares aos interesses coletivos da nação...” (2007 p
30) e por isso a classe proletária que é majoritária defendeu e continua defendendo a
Revolução. Defendeu no passado e defende no presente porque segundo Fidel: “não existe
mais do que uma revolução” (CASTRO, apud HARNECKER, 2000 p 52), neste sentido, a
Revolução Cubana não se tratou unicamente de um momento de luta armada contra o domínio
da nação pelo imperialismo, mas se trata também de uma contínua luta tanto ideológica que
ultrapasse os limites do território cubano, quanto econômica contra o bloqueio imposto pelos
Estados Unidos.
Antes da revolução, todos os posseiros eram também como arrendatários e
constantemente eram despejados das terras, os trabalhadores da cana só tinham trabalho de
três a quatro messes e depois ficavam desempregados acontecendo o êxodo rural e os
trabalhadores se deparavam também com o desemprego urbano. O arrendatário do café
pagava a terça ou quarta parte, algo semelhante também acontecia com o fumo e a cana, os
produtos do campo eram comprados a preços muito baixos enquanto os produtos vendidos aos
camponeses eram de valores exorbitantes.
Além de toda essa conjuntura econômica que propiciava um desejo de mudança, o
desenvolvimento político tinha seus avanços, o povo, estava descontente com a situação, a
consciência política atingira um alto grau de maturidade e já não se acreditava mais nas
propagandas imperialistas. Isso tudo se caracterizou como condições objetivas para a
revolução que para ser pensada é necessário se levar em considerações alguns fatores
fundamentais.

“Ou seja, que as revoluções não nascem da mente dos homens. Os homens
podem interpretar uma lei da história, um momento determinado do
desenvolvimento histórico. Fazer uma interpretaçãso correta é dar impulso
a esse movimento, sobre a avaliação de uma série de condições objetivas
(...)”(O.R apud HARNECKER, 2000 p. 45)

As condições objetivas são consideradas fatores essenciais para produção da


consciência revolucionária de uma população. Portanto, não é uma consciência que produz as
condições objetivas, são as condições objetivas que produz a consciência revolucionária.
Assim, as duas condições básicas, segundo as premissas do materialismo histórico, estão
dadas: as condições objetivas que estão na base material e as subjetivas que estão nas
consciências das massas.
Associado a tudo isso há necessidade de direção revolucionária para conduzir o
processo. Por isso, qualquer crítica possível no processo da revolução de Cuba não tira o
mérito da capacidade de conduzir o processo de combate até a vitória. Garantir a maturidade
de forma deslocada das condições reais seria utopia. Essa utopia movida apenas por idéias e
boa vontade não é condição para uma revolução. Contudo a firme direção do processo foi
fator determinante para a vitória.

...Fidel não se limita a constatar que em Cuba existiam condições para fazer
a revolução, nem a esperar que estas amadureçam por si mesmas, mas que,
como vanguarda, atua sobre as próprias condições objetivas aguçando as
contradições existentes e criando outras novas, isto é, permitindo, com sua
ação, que as condições objetivas e subjetivas cheguem a sua plena
maturidade, com o que, de fato, acelerou-se o processo revolucionário neste
país.” (p 49)

Na política Fidel se destacou como estrategista. Em primeiro lugar, no processo


revolucionário alguns setores deveriam sofrer com a revolução. Pois o despotismo que
acompanhava a ditadura Fugêncio Batista era praticamente consorciado com as empresas
nacionais e transnacionais, além da alta burguesia que mantinha todo o poder econômico. Mas
outros setores de apoio logísticos também sofreram com o processo revolucionário. Entre
esses setores pode-se destacar o clero e a imprensa. Em segundo lugar o

“setor da classe burguesa não podia encabeçar a luta anti-


oligárquica e anti-imperialista (...) as experiências dos processos
revolucionários latino-americanos tinham demonstrado
suficientemente que, apesar de seus interesses contraditórios com o
imperialismo ianque, quando chegava o momento, eram incapazes de
enfrentá-lo”. (p. 49)

E em terceiro lugar, a única força que Fidel julgava capaz de alavancar a revolução
era a massa, o povo cubano.
Foi esse povo no qual Fidel acreditou ser o a única força hábil a revolucionar que
pagou o preço com a vitória da Revolução, com privações até mesmo de meios de
subsistência, alimentação, material escolar, combustível, energia elétrica... Tudo foi racionado
para que todos sobrevivessem, concomitantemente, muitas medidas foram tomadas em prol da
classe operária, a primeira delas foi a “expropriação dos expropriadores” e depois muitas
outras: reforma agrária, nacionalização do capital estrangeiro, nacionalização geral da
indústria, vários confiscos além de:

“...contribuição voluntária de 4% do salário, com que os trabalhadores


colaboravam na constituição de fundos para a industrialização, o fomento
da produção açucareira etc.; o congelamento dos salários, decidido pelas
organizações sindicais; o controle da importações, a monopolização estatal
do comércio exterior, a centralização da política cambial etc.(idem).

Com a queda da URSS em 1991, Cuba passa novamente por uma crise sem
precedente. O grau de consciência da população é posto a prova novamente. Mas o país agora
vem se restabelecendo criando cooperativas regionais em todo o setor produtivo para que a
distribuição principalmente dos alimentos seja mais eficiente e econômica. Está se produzindo
gado para o consumo da carne, o que antes era só para a produção do leite e, portanto só
criança e idosos comiam carne bovina; o governo está trocando os ventiladores que vieram
ainda da URSS e consomem muita energia; essas e outras medidas têm contribuído para a
qualidade de vida do povo cubano minimizando os impactos da crise resultado da queda da
URSS e criando nova base para a economia. Fazendo uma comparação com os países da
América Latina, do ponto de vista do subdesenvolvimento, nenhum deles se equipara às
conquistas de Cuba uma vez que ela inverte a lógica de economia de mercado e passa a ter o
ser humano como prioridade.
Entendendo a Revolução Cubana como uma contínua luta que ainda não se findou, é
possível compreender que é pela subjetividade que Cuba eleva cada vez mais a consciência do
povo cubano e causa impacto mundial experimentando e provando que é possível a
manutenção de uma revolução cada vez mais amadurecida rumo ao socialismo. Embora
havendo uma tese recorrente que “Cuba não é socialista, porque não se socializa miséria”, há
que se considerar que geograficamente Cuba está situada em uma ilha carente de riquezas
naturais. Contudo houve muitos avanços na educação, na saúde pública e nas ciências
médicas.
A educação política do povo se deu através da promoção de uma consciência
revolucionária dessa condição de explorados e da própria revolução. E é através desta
organização conduzida por Fidel Castro que Cuba avança no conhecimento político do povo.
É a ditadura do proletariado consciente. “Uma coisa é a conquista do povo. Outra, o que se
faz ou se pode fazer com ele” (p 27).
Florestan Fernandes explica o que representa o episódio da Revolução Cubana:

Ele representa o fim de uma era de acomodação, deveras chocante mas


inevitável, entre a política oficial dos Estados Unidos e o tipo de
conservantismo cultural praticado pelas camadas dominantes nos vários
países de tradição ibérica da América Latina. ( p 23).

Cuba rompe essa cultura entrando em combate contra as condições reais em busca
das condições ideais: a unidade das forças. Para obter essa unidade a vanguarda da Revolução
partia de metas mínimas, às vezes algumas medidas emergenciais precisam ser tomadas; além
disso, a estratégia traçada contra o oponente era mais apropriada que qualquer outra da forças
revolucionárias; e por fim a valorização era igualitária a todos que participavam da
Revolução, não se levava em conta o número de militantes da organização tampouco o grau
de participação.
Contudo, observa-se um grande investimento dos donos dos meios de comunicação
e literatura em geral dos países capitalistas para disseminar no plano das idéias uma
compreensão distorcida do que é o socialismo em Cuba e alienar o proletariado utilizando de
um vocabulário ambíguo para legitimar as condições de explorados e exploradores.

O imperialismo, utilizando os grandes monopólios cinematográficos, suas


agências telegráficas, suas revistas, livros e jornais reacionários, recorre as
mentiras mais sutis para semear o divisionismo e inculcar entre as pessoas
mais ignorantes o medo e as superstição com relação às ideias
revolucionárias, que só aos interesses dos poderosos e dos exploradores e a
seus privilégios seculares podem e devem assustar.” (CASTRO, apud)
(HARNECKER, p 107)

Em Cuba os meios de comunicação estão a serviço da educação, mas nos outros países
subdesenvolvidos, a educação é quem fica a mercê dos meios de imprensa. A educação não é
anunciada, mas se educa para anunciar formando mão de obra, inclusive para trabalhar nos
meios de comunicação nos moldes da própria escola legitimadora do Estado. Tendo em vista
que o capitalismo esta para reproduzir o sistema de exploração.

“Na cuba revolucionária os meios de comunicação – rádio, jornal,


televisão, cinema e revistas – são estatais e funcionam acoplados ao
Sistema Educacional Cubano. Os programas, artigos e opiniões
emitidas pelos meios de comunicação estão de acordo com a Nova
Escola Cubana.” (Guevara, 1981. p 94).

Outro meio de adestramento intelectual do capitalismo para com o povo é a arte,


pois ela já não representa a cultura do povo, mas ao contrário, vem aculturar este povo para se
enquadrar no modelo de homem que se quer formar na sociedade que mantém e legitima a
situação exploradora atual.

“Antes de 1958 a arte cubana era um privilégio da burguesia. A


partir de 1958, as artes populares – expressão legítima de um povo -
passam a ser recebidas com o apoio do Estado. A casa das Américas
é uma realidade na América Latina. A música, a literatura, o cinema,
o teatro e todas as expressões artísticas tomaram um conteúdo e um
sentido tipicamente popular. Hoje, as artes estão a serviço do povo e
fazem parte do processo educacional de Cuba” (Guevara, 1981 p 94).

Nos países capitalistas, o Brasil, por exemplo, o teatro é para a classe alta, a novela é
o pêndulo de hipnose de toda a população, a indústria cinematográfica ianque alastra seu
veneno mental e ainda cobra por isso, a música da vez a fazer sucesso é escolhida pelos
fabricantes de disco e locutores de rádio, a obras abstratas de pintores e escultores atuais nada
representa o interesse da classe trabalhadora, no fim, o que resta é arte circense onde o
respeitável público vê todos os dias o anfitrião do picadeiro no espelho.
Enfim, a Revolução cubana, ou qualquer revolução que se pretenda desencadear, não se
atém a mudar o modelo econômico e político de um país, mas a transformar todas as relações
sociais colocando em contradição qualquer resquício da velha ordem social a fim de eliminá-
la e consequentemente coloca em choque a concepção liberal de democracia que em nada se
parece com a origem grega da palavra: o poder do povo pelo povo.

BIBLIOGRAFIA

MARX E ENGELS. Manifesto Comunista, Ed. Boitempo, 2005 São Paulo SP.
FERNANDES. Florestan. Da Guerrilha ao Socialismo: a Revolução Cubana, Ed. Expressão
Popular, 2007 São Paulo SP.
SADER, Eder. Che Guevara: Política, Ed. Expressão Popular, 2004 São Paulo SP.
RODRIGUES & Outros, Che. Reflexões Sobre a História Cubana, Ed. Edições Populares,
Volume 10 1981 São Paulo SP.Tradução Ronaldo Antonelli - Série Nossa Historia,
Nossos Problemas - Coleção América Latina.
HARNECKER, Marta. Fidel: A Estratégia Política da Vitória, Ed Expressão Popular 2000
São Paulo SP.

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