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um guia sobre fones de ouvido

Nós, da Kuba, fazemos o que fazemos porque somos


apaixonados por música.

Nosso maior objetivo é criar ferramentas que façam com


que as que você ama soem da melhor forma possível. É
para isso que desenvolvemos os nossos produtos.

Uma das ferramentas mais importantes é o conhecimento.


Então, escrevemos este guia sobre fones de ouvido para
que você possa conhecer mais sobre este mundo e, assim,
saber as melhores formas de ter experiências auditivas
realmente memoráveis.

Alguns trechos são mais técnicos, mas não se preocupe:


tentamos ao máximo utilizar uma linguagem simples e
explicar todos os conceitos sobre os quais falamos.

Esperamos que você goste.


SUMÁRIO
O que são sons? 6 Como equalizar um fone de ouvido 44

Preserve sua audição! 8 Como fazer um fone tocar bem 48

Fones de ouvido - Introdução 10 Como funciona um sistema de som 48

Tipos físicos de fones de ouvido 12 Os componentes de um sistema 50

Cuidado com o encaixe! 16 A fonte 52

Tipos de alto-falantes 18 Como funciona o áudio digital 54

Entendendo as especificações técnicas 28 Streaming 58

Outras características 36 E o vinil? Ele é melhor mesmo? 59

Funcionalidades especiais 38 Amplificação 62

Alta resolução 40 Quando montar um distema dedicado 64

Fones gamers 41 Como montar um distema dedicado 68

Como cuidar de um fone de ouvido 42 O mais importante 68


o que são sons?

Vamos começar do início. Afinal, de nada adianta se aprofundar em


fones de ouvido, tipos de arquivo ou tecnologias de transdução sem
antes entender onde toda essa história começa.

Sons nada mais são do que variações de pressão em um meio. Para


facilitar o entendimento, pense na imagem de uma gota d'água caindo
sobre uma piscina bem calma. Essa gota vai causar perturbações na
água, gerando várias pequenas ondas a partir do ponto onde ela caiu.
Essas ondas são, justamente, variações de pressão em um meio - nesse
caso, a água.

A mesma coisa acontece no ar. Vibrações também causam


perturbações e geram ondas nesse meio - e são essas ondas que nosso
corpo percebe como som. São as ondas sonoras.

Nossos tímpanos são membranas que captam essas vibrações do ar e,


com a ajuda de complexos mecanismos biológicos, as transformam em
um sinal elétrico que é enviado ao nosso cérebro.

Ondas mais curtas geram o que percebemos como sons mais agudos
- como pratos de bateria, ou a voz de uma criança -, enquanto as mais
longas são o que ouvimos como sons graves - como o bumbo de uma
bateria ou o motor de um caminhão.

A principal característica que define uma onda é a frequência, que é


medida em hertz (Hz) - unidade que representa quantidade de ciclos
por segundo. Frequências baixas são sons graves, e frequências altas
são sons agudos.

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antes de tudo... preserve sua audição! Nível de Pressão Tempo Seguro de
Som
Sonora (dB) Exposição
Todo esse guia se dedica ao prazer de ouvir música da melhor forma possível. E, para muitos
Turbina de avião (próxima) 140 0
de nós, isso significa ouvir a volumes um pouco mais altos - seja em nossos fones ou em shows
e boates. Música alta, de certa forma, nos parece mais intensa e envolvente - mas também é,
Tiro de escopeta 130 1 minuto
infelizmente, perigosa.
Show de rock 120 7,5 minutos
A audição é um sentido fantástico, porém frágil. Todos nós, com o passar dos anos, perdemos
lentamente a nossa capacidade auditiva. Mas existem certas atividades que fazem com que
Jogo de futebol (estádio) 115 15 minutos
essa deterioração ocorra muito mais rapidamente. A maior vilã é a exposição contínua a
ruídos mais altos. Helicóptero 110 30 minutos

De acordo com a OSHA (Occupational Safety and Health Administration, agência norte-
Serra elétrica 100 1 hora
americana que regula as condições de trabalho no país), o nível de ruído a que uma pessoa
pode estar exposta, por até 8h por dia, sem riscos de perda auditiva, é de 85 dB (decibéis, Secador de cabelo 90 8 horas
medida de pressão sonora), que equivale ao volume do som de um liquidificador. Conforme o
nível dos ruídos aumenta, o tempo seguro de exposição é reduzido. Veja a tabela ao lado. Liquidificador 80 -

Ao ouvir música, portanto, é ideal que monitoremos o volume daquilo que estamos ouvindo Conversa normal 60 -
para garantir que não estamos colocando nossa audição em risco. Os maiores problemas
costumam ocorrer em ambientes naturalmente barulhentos, como em uma estação de Chuva 40 -
metrô, por exemplo. O ruído de fundo nesses lugares já é de 80 dB ou mais, e por isso é
natural que aumentemos o volume das nossas músicas para que ela se destaque do ruído de Sussurro 30 -

fundo. Nesses ambientes, o ideal é utilizarmos fones que oferecem maior isolamento contra
ruídos externos, como os intra-auriculares e headphones com cancelamento ativo de ruídos,
que você vai conhecer ao longo deste guia. Eles vão reduzir a intensidade dos ruídos externos
e, assim, permitir a audição das nossas músicas a volumes mais seguros.

Em shows, boates, outros locais com música ao vivo ou mesmo em lugares com ruídos altos, é
recomendável a utilização de protetores auriculares ou filtros.

E, para checar o nível de volume de ambientes ou até mesmo de seu fone, existem diversos
aplicativos para smartphones que funcionam como decibelímetros. Com eles, você pode
garantir que não irá ultrapassar os limites seguros para a sua audição.

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fones de ouvido - introdução

Existem muitas formas de ouvir música. Atualmente, nenhuma é tão popular quanto os
fones de ouvido. Afinal, são equipamentos que permitem que você tenha um espaço privado
e individual para audições. E, como todos ouvimos músicas diferentes e em circunstâncias
diferentes, é natural que existam fones dos mais diversos tipos - para todos os usos, gostos e
bolsos. É possível encontrar, no mercado, desde pequenos earbuds que custam centavos, até
equipamentos estado-da-arte que custam o mesmo que um apartamento.

E não se engane: os fones mais caros e sofisticados do mundo não são feitos para
profissionais de música, e sim para os audiófilos - pessoas que têm o áudio como hobby e
buscam qualidade de som a literalmente qualquer custo.

Uma outra observação importante é que, ao passo em que a maioria dos fones de ouvido
é projetada para uso em qualquer aparelho com uma saída para fones, como celulares ou
notebooks, existem modelos (normalmente mais sofisticados e/ou destinados ao mercado
profissional) que exigem um nível de potência que não costuma ser encontrado nestes
dispositivos portáteis. Para eles, é necessária a utilização de sistemas de som dedicados.
Mas não se preocupe! Vamos falar sobre isso também.

Na primeira parte deste guia, vamos falar sobre os variados tipos de fones existentes - tanto
em termos físicos, quanto de tecnologias de alto-falantes disponíveis.

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circunaurais

São também conhecidos como over-ear ou around-the-ear. São os fones que cobrem totalmente
a orelha, com almofadas que se posicionam ao redor dela. A grande maioria dos fones mais
sofisticados do mercado é desse tipo, tanto pelo conforto quanto por permitir que um
trabalho mais extenso de acústica seja realizado, com câmaras melhor calculadas e falantes
angulados, para projetar ondas de forma mais fidedigna.

O problema fica por conta da conveniência. Circunaurais são fones maiores, e possivelmente
grandes demais para serem usados em ambientes externos. Contudo, nos últimos anos, têm
se tornado populares circunaurais mais compactos - desenvolvidos justamente para trazer os
tipos físicos de fones de ouvido benefícios desse tipo de fone em equipamentos portáteis. Alguns exemplos de circunaurais
desenvolvidos para uso residencial ou profissional são Sennheiser HD800S, Audio-Technica
Os aspectos mais imediatos que diferem entre fones são seus tipos físicos. Existem desde
ATH-M50X e Superlux HD681. Já alguns modelos portáteis são o Kuba Disco, o Sennheiser
fones muito pequenos - como os intra-auriculares, ideais para uso portátil - até grandes
Momentum, e o Bose QC35 II.
circunaurais para uso estritamente doméstico.

Não há, necessariamente, melhor ou pior: e sim o que é mais ou menos apropriado para cada
uso particular.

s u p r a-au r a i s

São também chamados de supra-auriculares ou, em inglês, on-ear. São fones que ficam
posicionados sobre as orelhas, e não em volta delas. A vantagem em relação aos circunaurais
é o tamanho geralmente menor, o que favorece a portabilidade.

Em compensação, não costumam ser tão confortáveis e, em grande parte dos casos, os
falantes acabam ficando mais próximos dos ouvidos, o que pode prejudicar a espacialidade
(a sensação de que há um "espaço" definido naquilo que ouvimos, com instrumentos bem
posicionados). Nos circunaurais, esse efeito costuma ser melhor. Exemplos desse tipo de fones
são os Grados das linhas Prestige e Reference, assim como a vasta maioria dos fones inclusos
em discmans e toca-fitas das décadas de 1980 e 1990, antes da explosão dos auriculares.

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auriculares a b e rto s

Também chamados earbuds, eram os tradicionais fones pequeninos inclusos em iPods e Os fones abertos, ou open-back ou, ainda, open-air, possuem a parte de trás do alto-
em grande parte dos mp3 players e celulares dos anos 2000, até a popularização dos intra- falante aberta. Quando um alto-falante vibra, ele o faz tanto para frente quanto para trás.
auriculares (ver abaixo). Além do tamanho extremamente reduzido, o que os difere de outros Quando ele vai para trás, também gera som. Num fone aberto, esse som vai para fora e,
tipos de fone é o fato de eles repousarem na concha, a parte externa das orelhas. Isso significa consequentemente, dizemos que os fones abertos “vazam” som. Ou seja: quem estiver do
que eles geralmente são confortáveis e convenientes. Contudo, não há qualquer isolamento seu lado vai escutar claramente o que você está ouvindo e não há isolamento de ruídos
de sons externos e o encaixe é superficial. externos significativo.

A grande desvantagem desse tipo de fone é a qualidade do som. Fora algumas pouquíssimas A vantagem desse tipo de fone é que as reflexões de gabinete, que geram distorções, são
exceções muito bem projetadas, normalmente o som deles é magro, estridente e sem graves reduzidas drasticamente e, por isso, em teoria, o som é mais limpo e a espacialidade é
– e quando eles existem, a extensão (ou seja, a capacidade de atingir frequências realmente maior. A vasta maioria dos melhores fones do mundo são desse tipo. No entanto, devido ao
baixas) é muito ruim. vazamento de som e à carência total de isolamento, fones abertos são mais indicados para o
uso em ambientes domésticos mais silenciosos.

i n t r a-au r i c u l a r e s

Os monitores intra-auriculares, ou IEMs (sigla para In-Ear Monitors), são fones também muito fechados
pequenos, mas o que os difere dos auriculares é o fato de, com uma borracha ou espuma na
ponta, vedarem totalmente o canal auditivo. O resultado é uma qualidade de som geralmente
muito superior à dos auriculares: graves mais presentes e definidos, além de um isolamento
Já os fones fechados, ou closed-back, possuem a parte de trás do alto-falante totalmente
de ruídos externos muito eficaz.
fechada. Consequentemente, não há vazamento de som e o isolamento contra ruídos
externos é melhor.
Com esse tipo de fone, é possível alcançar níveis extraordinários de qualidade de som. Os
intra-auriculares personalizados, ou custom IEMs (CIEMs), por exemplo, levam essa vedação
Em fones fechados, também costuma ser mais fácil conseguir uma resposta com mais força
a um novo patamar por serem confeccionados a partir do molde da orelha do usuário – e
e extensão nos graves. Mas isso não é uma regra, e o resultado nas baixas frequências acaba
também usam, normalmente, diversos alto-falantes, especializados em faixas de frequência
dependendo mais do projeto como um todo.
específicas. Assim, há um nível altíssimo de isolamento de ruídos externos e a possibilidade
de uma bela qualidade sonora. O ponto negativo é o conforto: algumas pessoas simplesmente Além disso, os fones fechados normalmente não são tão naturais quanto os abertos, devido
não gostam da sensação de terem algo introduzido no canal auditivo. às reflexões de gabinete - ainda que fones fechados mais sofisticados consigam lidar com
esse problema -, e a espacialidade costuma ser menor.

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cuidado com o encaixe!
Independente de seu tipo físico, qualquer fone é projetado para operar sob condições
específicas. Caso essas condições não sejam respeitadas, haverá significativa degradação da
qualidade sonora.

Os intra-auriculares são o maior exemplo dessa questão: devido à forma como funcionam,
eles dependem do selamento completo do canal auditivo para que consigam oferecer uma
resposta convincente nos graves. Um IEM mal encaixado irá soar como um auricular dos
piores: magro, estridente e sem peso.

A melhor maneira de encaixar um auricular é a seguinte: passe sua mão direita por cima da
cabeça e, com ela, levante a parte superior da sua orelha esquerda. Com o seu canal auditivo
mais aberto, insira o IEM e solte a orelha. Repita o mesmo procedimento do outro lado. O
importante, como dissemos, é que as borrachinhas vedem totalmente o canal auditivo, então
também é fundamental experimentar os diferentes tamanhos que costumam vir com estes
fones para verificar o que oferece o melhor isolamento. Qualquer orifício que permita que o
ar escape irá degradar severamente a resposta nos graves.

O bom encaixe é absolutamente necessário em intra-auriculares, e a diferença é muito


significativa - mesmo para ouvidos não treinados. Por isso, ao utilizar um IEM, tenha a certeza
de que ele está bem encaixado. Observe que é muito comum ter canais com tamanhos
diferentes, então você pode usar uma ponteira de um tamanho de um lado, e de outro
tamanho no outro.

No caso de circunaurais, a situação não é tão crítica, mas o princípío permanece. É importante
que as almofadas fiquem totalmente em volta das orelhas e em contato total com o rosto,
para que seja criada uma "câmara" selada ao redor dos ouvidos. Óculos, por exemplo, são
costumam interagir bem com esse tipo de fone porque as almofadas ficam em cima de suas
hastes, e esse selamento é quebrado.

O melhor a se fazer é experimentar. Brinque com posições, pressione os fones, solte, ajuste -
e veja o resultado sonoro de cada movimentação. Assim, você descobrirá a melhor forma de
extrair o máximo em conforto, isolamento e qualidade de som com os seus fones.

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t i p o s d e a lt o - f a l a n t e s

Alto-falantes são transdutores - equipamentos que transformam um tipo de energia (nesse


caso, elétrica) em outra (acústica). E existem diversas formas de realizar esse objetivo - cada
tipo traz suas próprias características, que podem ser bem-vindas ou não. Mas é importante
observar que, apesar de todas essas características, todo o projeto de um fone de ouvido é
mais determinante para sua sonoridade final do que o tipo de transdutor empregado.

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dinâmicos
São os falantes mais comuns do mercado, indicados para a maior parte dos aparelhos
reprodutores devido ao baixo custo, à capacidade de atingir níveis muito altos de qualidade
sonora e à enorme variedade de tamanhos disponível (podem ir de 5 mm a 850 mm). Por
esses motivos, é o tipo mais popular de alto-falante. É quase certamente o que está no fone
que você usa.

Não existem aspectos negativos relevantes – talvez apenas a dificuldade de se conseguir uma
boa extensão nos graves. O que pode ser dito é que alguns equipamentos, que têm como
objetivo atingir níveis anormalmente altos de qualidade sonora, podem optar por outros
tipos de transdutores, que são capazes de, em alguns aspectos, proporcionar uma qualidade
ainda maior. Outra questão é o limite de tamanho – alguns equipamentos necessitam de
opções ainda menores, como os de armadura balanceada.

Eles funcionam aplicando-se um sinal elétrico a uma bobina (azul), que fica imersa num campo
magnético criado por um ímã (vermelho). Essa bobina é ligada a um cone (amarelo). A bobina,
sob aplicação do sinal elétrico, se torna um eletroímã variável, que interage com o campo
magnético do ímã no qual está imersa, fazendo com que ela se mova para frente e para trás –
movendo, portanto, o cone ao qual está presa. Esse movimento gera as variações de pressão
contínuas no ar, que percebemos como sons.

20 21
armaduras balanceadas

São geralmente referidas como BAs, sigla para balanced armatures. A vantagem em relação
aos alto-falantes dinâmicos tradicionais é o tamanho muito reduzido. São geralmente usadas
em pequenos fones de ouvido mais sofisticados e aparelhos auditivos. Naturalmente, porém,
sua resposta em frequência é limitada nos extremos, o que é uma desvantagem. Felizmente,
essa característica acaba sendo usada por fones intra-auriculares sofisticados a seu favor:
um conjunto de armaduras balanceadas pode ser regulado para uma resposta em frequência
resultante mais refinada e ajustada ao gosto do desenvolvedor, com o uso de um crossover
(componente eletrônico que divide as faixas de frequência de um sinal áudio e envia cada
parte para um determinado alto-falante, otimizado para essa faixa) e de uma quantidade
específica de armaduras otimizadas para determinadas faixas de frequência.

Os problemas são o alto preço e, como já dito, a resposta em frequência limitada,


principalmente além dos extremos do espectro audível – frequências graves abaixo de 20 Hz
e agudas acima de 20 kHz.
As armaduras balanceadas são, basicamente, um falante dinâmico organizado de maneira
Quando comparados a intra-auriculares dinâmicos, os mais simples (com uma ou duas BAs) diferente. Uma armadura (basicamente é uma vara de metal envolta por uma bobina) é
costumam apresentar uma sonoridade mais centrada nos médios, com menos graves e posicionada no meio de um ímã permanente, presa por um pivô, e conectada a um diafragma.
agudos. A situação muda quando as armaduras balanceadas são implementadas em projetos A armadura é magnetizada com a aplicação de um sinal elétrico (como a bobina do alto-
mais pretensiosos, com múltiplas peças, como em muitos in-ears personalizados. Nesses falante dinâmico), fazendo com que ela interaja com o campo magnético do ímã e rotacione
casos, eles conseguem atingir níveis altíssimos de qualidade. levemente no pivô, movimentando o diafragma – que é como o cone do falante dinâmico e, ao
se movimentar, movimenta o ar, gerando som.

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e l e t r o s tát i c o s

Já os alto-falantes eletrostáticos operam sob princípios totalmente distintos. Enquanto os


outros tipo de transdutor funcionam por meio do eletromagnetismo (utilizando ímas), os
eletrostáticos utilizam, como o nome já indica, a força eletrostática. Alguns exemplos dessa
força são quando, por exemplo, depois de você esfregar uma blusa de algodão em um balão
inflável, esse balão atrai os pelos do seu braço; ou então quando você penteia o cabelo e, se
você aproximar o pente de pequenas peças de papel, elas serão atraídas por ele. Isso é a força
eletrostática.

A grande vantagem dos falantes desse tipo fica por conta da leveza do diafragma - que é
justamente a parte do alto-falante que se movimenta. Lembra quando explicamos como
funcionam sons? Pense que, quanto mais leve for o diafragma, mais fácil será movimentá-lo
- e, por isso, mais preciso será o seu movimento. Consequentemente (em tese), mais próximo
estará o resultado do que eram as ondas sonoras captadas originalmente na gravação da
música que você está ouvindo.

Obviamente, essa é apenas a teoria - por mais que, em termos de velocidade de resposta,
ausência de distorção e extensão eles sejam melhores do que qualquer outro tipo de
transdutor, ainda existem limitações nesta tecnologia e nenhum falante eletrostático é
perfeito. Uma das maiores dificuldades é na reprodução dos graves: como a força eletrostática
é naturalmente mais fraca do que a eletromagnética, gerar sons mais graves, que requerem
maior excursão (movimento) do diafragma, é um desafio. Por isso, frequentemente, a
Em um alto-falante eletrostático, uma película excepcionalmente fina, geralmente de PET, é
sonoridade destes fones é mais voltada para a leveza e a transparência do que para o peso e a
revestida por um material condutivo e suspenso entre dois eletrodos carregados com uma
força nos graves.
carga constante, que cria um campo eletrostático de altíssima tensão - é diferente dos campos

Talvez, porém a maior limitação seja o preço. Fones eletrostáticos são muito caros e, por magnéticos dos alto-falantes descritos anteriormente. Consequentemente, é necessário

operarem sob princípios diferentes dos outros tipos de transdutor, há a necessidade de um tipo especial de amplificador (chamado energizer) para esse tipo de alto falante, que

amplificadores especiais, que também não são baratos. proporciona a tensão necessária para os eletrodos. Conforme um sinal é enviado à película,
ela interage com o campo elétrico no qual está imersa e vibra, gerando som.

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planar-magnéticos

Os planar-magnéticos são um tipo de alto-falante popular nas décadas de 1970 e 1980,


que voltou com força ao mercado audiófilo nos anos 2000 com os modelos da Hifiman e da
Audeze. São como um meio termo entre os dinâmicos e os eletrostáticos: aliam a organização
destes com os princípios de funcionamento daqueles.

O objetivo é aliar os pontos positivos de ambas as tecnologias – e, até certo ponto, esse
objetivo é alcançado. Os planar-magnéticos costumam ser mais rápidos, mais detalhados
e trazem menor distorção que os dinâmicos, ao mesmo tempo em que podem trazer um
desempenho nos graves mais competente do que o de muitos eletrostáticos.

O problema é que, devido à necessidade de um grande número de ímãs, os fones com essa Pode-se dizer que os transdutores planar-magnéticos utilizam o arranjo dos eletrostáticos
tecnologia costumam ser consideravelmente pesados (alguns chegam a pesar mais de meio com os princípios magnéticos dos dinâmicos. Ao invés de eletrodos, eles possuem faixas
quilo), o que prejudica o conforto. Além disso, essa estrutura de ímãs fica na frente e atrás do de ímãs, que criam um campo magnético isodinâmico e, ao invés de filmes revestidos com
diafragma, e por isso é necessário um bom projeto acústico para que não haja interferência material condutivo, apresentam um diafragma (filme) atrelado a serpentinas de condutores
prejudicial à qualidade de som. elétricos. O sinal elétrico de áudio é passado pelos condutores, criando um campo magnético
que interage com o campo magnético isodinâmico criado pelos ímas. Dessa forma, o filme se
Por causa dessas dificuldades, os planar-magnéticos costumam ser fones mais caros que os movimenta para frente e para trás, movimentando o ar.
dinâmicos, apesar de não tão caros quanto os eletrostáticos.

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entendendo as especificações técnicas

Em equipamentos de som, nada substitui as audições para determinar o que é bom para os
nossos ouvidos. No entanto, são raros os casos em que podemos ouvir algo antes de comprar
e, por isso, muitas pessoas confiam nas especificações para julgar um aparelho previamente.
Porém, a verdade é que essas especificações dizem muito pouco sobre aspectos importantes
desses equipamentos, e nunca vão determinar se um fone é melhor que outro. No máximo,
indicam como um fone vai se comportar em algum cenário específico no que diz respeito ao
volume. Portanto, ao pesquisar sobre fones, não se preocupe muito com as especificações.
Leia avaliações e veja o que as pessoas dizem sobre o equipamento de interesse – esta é a
melhor forma de decidir uma compra.

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• DIÂMETRO DO ALTO-FALANTE (DRIVER DIAMETER/DRIVER SIZE) mais alta já poderão chegar a volumes altos a partir de um smartphone; mas aqueles com
sensibilidades baixas (abaixo de, digamos, 95 dB SPL/mW) provavelmente exigirão um
Em teoria, quanto maior o diâmetro do alto-falante, mais capacidade de excursão ele tem.
amplificador dedicado para atingir volumes satisfatórios.
Isso torna possível a movimentação de um volume maior de ar, o que traz mais frequências
graves. • IMPEDÂNCIA (IMPEDANCE)

Porém, na prática, essa especificação não é particularmente representativa porque a resposta A impedância é "a oposição que um circuito elétrico faz à passagem de corrente quando é
dos graves de um fone depende muito mais da intenção de seus projetistas e do projeto submetido a uma tensão". Ela existe em qualquer parte por onde passa o sinal – logo, falantes,
acústico do que do tamanho do alto-falante. É possível extrair graves colossais de fones com cabos, circuitos, conectores e outros possuem impedâncias. Existem dois tipos importantes
falantes pequenos, da mesma maneira que é possível fazer com que fones com diafragmas que merecem atenção:
enormes tenham uma resposta mais tímida nessa região.
1) Impedância de entrada do falante (input impedance): é a resistência que o fone ou
• POTÊNCIA MAXIMA DE ENTRADA (MAXIMUM INPUT POWER) caixa de som irá impor ao sinal proveniente do amplificador;
2) Impedância de saída do amplificador (output impedance): a oposição que este
Algumas caixas de som passivas (sem amplificação interna) e fones divulgam uma
amplificador impõe, na saída de fones, ao sinal que está transmitindo para eles.
especificação que diz apenas "potência". Ela não se refere à potência do fone ou da caixa
de som - visto que são equipamentos passivos -, e sim à potência máxima que seus falantes Vamos começar falando sobre o item 1, a impedância do falante:
conseguem suportar.
Ela ajuda a determinar o volume que um determinado sistema será capaz de atingir porque
• SENSIBILIDADE (SENSITIVITY) define a potência que será extraída de um amplificador. No tópico anterior, SENSIBILIDADE,
explicamos como um fone de ouvido transforma determinada potência em volume, certo?
Em questões práticas, a sensibilidade e a impedância são, provavelmente, as especificações
Pois bem: a potência de um amplificador é invariavelmente determinada a uma impedância,
técnicas mais importantes em um fone ou caixa de som – já que, junto com a potência do
isto é, ela é sempre "X mW de potência a Y ohms de impedância" (ohms, ou Ω, é a medida
amplificador, darão uma ideia do volume ao qual será possível chegar com um determinado
de impedância). Como a impedância é basicamente uma resistência, um amplificador vai
sistema. Você se lembra de quando falamos, na introdução da seção sobre fones de ouvido,
conseguir fornecer uma potência maior caso encontre uma resistência menor, e vice-versa.
que existem modelos que precisam de amplificadores dedicados? A sensibilidade e a
impedância são justamente as especificações técnicas que indicam essa necessidade. Em caixas de som, a faixa normal de impedância é entre 4, 6 e 8 ohms. Já em fones,
normalmente vai de 10 a 600 ohms. No caso de fones com falantes dinâmicos, a impedância
Sensibilidade é, como o nome implica, a sensibilidade de um determinado equipamento a
não é linear, e varia com a frequência (a impedância divulgada pelas fabricantes é nominal).
um sinal elétrico, ou seja, o quão eficientemente ele consegue converter a energia elétrica
Por isso, existem fones dos quais é mais difícil extrair graves mais fortes - a frequências
recebida em um sinal acústico - isto é, som.
baixas, a resistência é maior. No caso dos fones planar-magnéticos isso não ocorre, porque a

A escala costuma ser em dB SPL/W (decibéis de nível de pressão sonora por watt) para caixas impedância é linear ao longo de praticamente todo o espectro audível.

de som e, para fones, dB SPL/mW (decibéis de nível de pressão sonora por miliwatt), já que a
Para ter uma ideia do volume máximo que um sistema pode atingir, basta fazer a seguinte
potência requisitada por eles é muito menor. Então, para cada watt ou miliwatt de potência
conta: se um fone tem 50 ohms de impedância, 100 dB SPL/mW de sensibilidade e é ligado
gerado por um amplificador, o fone ou caixa vai fornecer X dB SPL - ou volume.
a um amplificador que fornece 1 mW em 50 ohms, esse 1 mW gerará 100 dB SPL de pressão

Isso significa que, quanto maior for a sensibilidade, mais volume um fone de ouvido ou caixa sonora. Para que você tenha uma referência do que esses níveis significam, veja a tabela de

de som irá gerar para cada W ou mW de potência que recebe. Fones com sensibilidade decibéis colocada no início deste guia, na seção Antes de Tudo... Preserve sua Audição!

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Há algumas observações importantes com relação a este assunto: primeiramente, conforme a explicamos no início deste guia, a frequência da vibração é o que determina se o som é grave
impedância aumenta, a potência diminui; e a relação entre potência de saída e nível de pressão ou agudo - frequências mais baixas (vibrações mais lentas) correspondem a sons mais graves,
sonora não é linear (a escala de dB é logarítmica), ou seja, nesse sistema, 2 mW de potência enquanto frequências mais altas (vibrações mais rápidas) geram sons agudos.
não vão gerar 200 dB SPL, e sim 103 dB SPL - normalmente, ao dobrarmos a potência do
Nenhum falante apresenta uma resposta perfeitamente igual em todas as frequências,
amplificador, aumentamos o volume em 3 dB SPL.
ou infinitamente, seja para os graves, seja para os agudos. Ao mesmo tempo, eles não
Mas, talvez, o mais importante neste assunto é o seguinte: ao contrário do que muitas pessoas param abruptamente de responder quando chegamos aos extremos. Há o que se chama de
acreditam, impedância é apenas uma característica, e nunca um indicativo de qualidade de decaimento: uma diminuição gradual do volume conforme chegamos aos graves muito graves
um fone. Impedância maior ou menor não quer dizer que um fone seja melhor ou pior. Na e aos agudos muito agudos. Mas, se é uma diminuição gradual, como determinar a resposta
maioria dos casos, inclusive, não há motivo para se preocupar com isso. Se você simplesmente em frequência nominal, isto é, seu início e fim?
quiser um fone portátil comum para usar com um notebook ou celular, não se preocupe com
Para isso, é necessário estabelecer uma tolerência em relação a uma referência. Por exemplo,
essa especificação.
-3 dB. Ou seja: pense que, digamos, com uma senoide de 1 kHz, um determinado fone em
Contudo, caso você já esteja em busca de fones mais sofisticados que exigem um amplificador, um sistema atinja o volume de 100 dB. Quando, nos graves e nos agudos, o volume chegar
ela é mais importante e passa a ser necessário se atentar também ao item 2, a impedância de a 97 dB, é determinado o "fim" de sua resposta em frequência. Afinal, chegamos à tolerância
saída do amplificador. determinada. Mas, aí, já encontramos o primeiro problema: essa tolerância pode variar
drasticamente entre fabricantes diferentes.
A regra básica, aqui, é a seguinte: idealmente, a impedância de um fone deve ser pelo menos
oito vezes maior que a de saída do amplificador. Se isso não acontecer, o amplificador tem Veja o Sony SA5000, por exemplo: a marca determina que sua resposta em frequência é
mais dificuldade de amortecer e controlar o movimento do alto-falante do fone de ouvido, de 5 Hz a 110 kHz, o que parece impressionante. Mas basta observar o gráfico de resposta
e o resultado é que os graves serão mais soltos e menos definidos. Por isso, por segurança, em frequência para ver que não é bem assim. A 10 Hz, sua resposta está a absurdos -25 dB
é possível dizer que o melhor é ter sempre amplificadores com a impedância de saída mais em relação ao que ele toca a 200 Hz. Essa é praticamente a diferença entre o som de chuva
baixa possível, já que eles vão poder tocar qualquer fone sem problemas, desde que tenham a caindo e o do motor de um caminhão. Em outras palavras, se você estiver ouvindo uma música
potência necessária. eletrônica com um vocal feminino na região dos 200 Hz, uma batida com conteúdo a 10 Hz
será tão baixa em relação à voz (a diferença entre o som da chuva e o caminhão) que não será
A grande maioria dos fones do mercado possui por volta dos 32 ohms – para esses, o ideal é
audível. Logo, ao contrário do que a resposta em frequência divulgada pela marca indica, a
que a impedância de saída do amplificador seja, no máximo, de 4 ohms (32/8 = 4). Mas existem
resposta nos graves e subgraves deste fone é quase inexistente.
alguns in-ears ainda menos resistentes, como o JH Audio JH16 Pro, que possui 18 ohms. Para
ele, o ideal é que a impedância não passe de 2,25 ohms. Nos agudos, a situação continua complicada. Além do problema descrito acima, há o fato de
que, em frequências maiores, há uma quantidade significativa de reverberações no espaço
A última questão que deve ser observada é impedâncias mais altas requerem maior tensão
criado entre a concha do fone de ouvido e a orelha do ouvinte, o que traz ganhos e perdas
de saída – ou seja, amplificadores mais fortes. Por exemplo, um smartphone comum
no sinal. Para piorar, pessoas possuem cabeças e orelhas com geometrias diferentes, que
provavelmente terá alguma dificuldade em tocar um fone com impedância acima dos 100
vão interagir de forma diferente com o sinal, e alterar a sonoridade do fone. Por isso, é muito
ohms. Baixa sensibilidade é algo que traz mais dificuldades, mas impedância alta também
difícil - para não dizer impossível - determinar o que de fato é a saída do falante e o que são
deixa as coisas mais difíceis para amplificadores mais simples.
reverberações.

• RESPOSTA EM FREQUÊNCIA (FREQUENCY RESPONSE)


Por esses motivos, a resposta em frequência não traz nenhuma informação relevante sobre
o desempenho real de um fone. Não diz absolutamente nada sobre a sua sonoridade.
Falantes respondem a sinais elétricos, gerando vibrações em diferentes frequências. Como

32 33
Não podemos nos esquecer, também, que a audição humana geralmente só é capaz de +3. Como você pode ver, a amplitude do sinal entre 60 Hz e 400 Hz (região de sons graves)
detectar sons entre 20 Hz e 20 kHz e, mesmo que um fone não chegue a esses extremos (o é consideravelmente maior na curva vermelha, o que significa que, nessas frequências, o
que é relativamente incomum atualmente), poucas músicas chegam a eles. A menos que a volume será maior. Consequentemente, a curva em vermelho representa uma sonoridade
resposta seja criticamente curta (algo como 60 Hz a 15 kHz ou pior), isso não vai fazer muita com uma quantidade maior de sons graves. A partir dos 400 Hz, eles são equivalentes.
diferença - o que conta é como um fone responde dentro de sua faixa de atuação, qualquer
que seja ela na prática: se há alguma região do espectro que se destaca em relação a outra, se 120

110

há algum pico ou vale significativo, se os médios são lineares, etc. Essas são as características 100

90

que farão com que um fone seja bom ou ruim - e não os limites de graves e agudos que ele 80

70

consegue , em teoria, atingir. Amplitude


60

50

(dB) 40

20

E isso vai aparecer apenas no que explicamos no próximo tópico, o Gráfico de Resposta em 10

10

Frequência. 0

-10

-20

• GRÁFICO DE RESPOSTA EM FREQUÊNCIA (FREQUENCY RESPONSE GRAPH)


-30

20 30 40 50 60 70 80 90 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1K 2K 3K 4K 5K 6K 7K 8K 9K 10K 20K

Grave +3 Grave 0 Frequência (Hz)

O gráfico de resposta em frequência é uma especificação rara, mas talvez seja a mais
importante. Ela é o mais perto que se pode chegar de constatar como é a sonoridade de um Mas o que seria uma curva ideal, ou neutra? A resposta, no mundo dos fones, infelizmente

determinado fone, porque evidencia seu equilíbrio tonal. Com isso, é possível enxergar o ainda não está clara. Além de ser impossível fazer um fone que tenha como resposta uma

volume de determinada frequência ou faixa de frequências (como graves, médios e agudos) linha reta, essa utópica linha não seria subjetivamente percebida como neutra.

que o fone apresenta em relação às outras, por meio de um gráfico.


A questão é que fones de ouvido, por natureza, são formas inerentemente artificiais de

Uma questão, porém, é que nem todos os gráficos são feitos da mesma maneira. Existem reproduzir sons. Afinal, a posição a partir da qual eles emanam sons para um ouvinte é

diferentes tipos de compensação, diferentes microfones, diferentes equipamentos de totalmente diferente da de fontes normais de som, e anulam uma série de interferências

medição, diferentes amplificadores usados… então, o ideal é que se tenha uma base de que nosso corpo e o ambiente exercem sobre aquilo que ouvimos. Lembre-se que, quando

dados, com vários fones, feita com os mesmos equipamentos. Só assim a comparação entre alguém fala com você, por exemplo, você não está ouvindo somente a voz dessa pessoa,

diferentes gráficos será devidamente relevante. pura e simples - ela é contaminada por ecos e reflexões do ambiente, e sofre alterações
significativas pelo seu torso, o formato das suas orelhas, e outros fatores.
Outro problema é que ela também depende do resto do sistema, que tem seu próprio
“gráfico”, embora com bem menos personalidade que fones ou caixas. Qualquer gráfico de São variáveis que fazem parte da nossa experiência auditória no mundo real, e que são

resposta em frequência é feito com um sistema específico, e se o seu for diferente, é possível anuladas por fones de ouvido. Por isso, ao analisar o gráfico de um fone, não se preocupe

que alguns detalhes acabem sendo diferentes. Mas não é uma diferença tão grande a ponto tanto com o quão retilínea ou neutra sua curva é. Busque aquilo que está de acordo com o

de invalidar o que esse gráfico nos diz. Ele é especialmente útil caso você tenha o gráfico, feito seu gosto e suas preferências.

com os mesmos equipamentos, de um fone que conheça bem. Assim, será possível compará-lo
Mas, se você deseja se aprofundar no assunto, busque informações sobre as curvas de
a outros, para saber, como ele se comporta em relação a uma referência sua.
compensação mais recentes do grupo Harman, ou então as CORFIG da Etymotic Research.

A interpretação do gráfico é simples: o eixo horizontal representa a frequência e o vertical


o nível de pressão sonora (volume). Para entender melhor, veja o gráfico ao lado, do nosso
headphone Disco. Como ele possui controle de graves, é uma boa forma de ilustrar este
conceito. A curva azul foi feita com o seletor na posição 0, e a vermelha com ele na posição

34 35
outras
características

36 37
Fones deste tipo são extremamente convenientes e, assim como o que ocorre com os fones

funcionalidades especiais noise-cancelling, os últimos anos trouxeram grandes avanços nessa tecnologia com o bluetooth
5.0, o codec aptX, o LDAC da Sony e outras tecnologias. Contudo, essa conveniência tem um
preço: sempre haverá, necessariamente, algum prejuízo em qualidade de som por conta dessa

Existem, também, outras características e funcionalidades de fones de ouvido, que vão além tecnologia, principalmente quando comparamos fones sem fio a opções cabeadas na mesma

dos tipos físicos e tipos de transdutores. faixa de preço.

• CANCELAMENTO ATIVO DE RUÍDOS Por isso, é necessário definir suas prioridades. Caso seu objetivo primário for a melhor
qualidade de som possível, fones com cabos permanecem como a melhor opção. Mas, se
São os tradicionais fones com active noise-cancelling (ANC). Alto-falantes se movem tanto para quiser algo que também traga bastante conveniência, os bluetooth já atingem níveis muito
frente quanto para trás. Quando se movem para frente, é um som em fase; para trás, fora de altos de desempenho, capazes de satisfazer usuários mais exigentes.
fase. É o mesmo som, mas com fases opostas. É a partir daí que o cancelamento ativo de ruídos
funciona: ele possui um microfone que capta os sons externos e, com um circuito interno, gera • MULTICANAL

os mesmos sons, mas com fase invertida. Os que se recordam das aulas de física do ensino
Fones multicanal prometem trazer maior imersão no áudio, e uma sensação parecida com
médio vão se lembrar que isso se chama interferência destrutiva de ondas: elas se cancelam, e
a proporcionada por sistemas surround de caixas de som. Entretanto, o multicanal é um
o que resta é o silêncio.
mecanismo originalmente desenvolvido para sistemas de caixa de som, onde quantidades

Em alguns aspectos, esse cancelamento é muito bom: ele de fato proporciona maior específicas de caixas são distribuídas em posições determinadas em relação a uma pessoa

isolamento de sons externos, mas existem problemas. Primeiramente, não é possível, por em uma sala. O objetivo é fazer com que sons venham de direções diferentes, imergindo o

questões técnicas, fazer com que o cancelamento funcione com todas as frequências – ele é ouvinte na experiência auditiva.

mais efetivo com que são baixas e contínuas, como barulhos de avião, ônibus ou trem –, ou
O problema é que, como forma de ouvir música, fones de ouvido são completamente
seja, ele funciona bem em algumas situações, mas não tanto em outras.
diferentes de caixas de som - e, sob certa ótica, o multicanal "real", com múltiplos falantes

O maior problema, porém, é que a existência desse circuito ativo, com amplificação própria e desempenhando a função de cada canal, faz menos sentido em fones de ouvido.

geração de sinal, traz distorções e a qualidade de som é comprometida. Em outras palavras,


Isto porque fones apresentam um espaço minúsculo onde falantes podem ser posicionados,
um fone com cancelamento ativo de ruídos vai entregar um desempenho pior do que outros
e esse espaço não é suficiente para permitir uma diferenciação significativa entre a direção
na mesma faixa de preço (ou até mais baratos) sem essa funcionalidade.
de cada som - o que é, justamente, o objetivo e o diferencial do multicanal em relação a um

Entretanto, nos últimos anos, essa tecnologia passou por grandes avanços. Hoje, existe um sistema estéreo.

número significativo de fones de ouvido com ANC que são capazes de proporcionar uma
Para que a ilusão possa ser convincente, é necessário introduzir, por software, uma série de
excelente qualidade de som e um cancelamento de ruídos externos altamente eficaz. Fones
modulações (reverberações, atrasos, alterações de fase, etc.) no sinal para simular o resultado
com essa funcionalidade ainda trarão comprometimentos em termos de qualidade sonora,
que teríamos com um sistema de caixas de som numa sala. E a questão crucial é que isso
mas se mostram opções excepcionalmente convenientes para os que buscam ouvir música em
sermpre será uma simulação que independe do fone de ouvido. Qualquer fone comum,
ambientes barulhentos.
estéreo, será capaz de reproduzir esse "surround virtual". Consequentemente, a adição de

• SEM FIO múltiplos falantes para este fim tem benefícios discutíveis, além de trazer problemas de
integração entre cada um deles - sendo, assim, mais difícil atingir uma sonoridade coerente.
É uma característica autoexplicativa: os cabos são substituídos por algum tipo de transmissão
de sinal sem fio, que pode ser bluetooth, radiofrequência ou infravermelho.

38 39
a lta r e s o l u ç ã o ( s e l o h i - r e s ) fones gamers

Cada vez mais, vemos equipamentos no mercado ostentando um pequeno selo preto e O público gamer tem hábitos de consumo bastante característicos, e conseguiu conquistar,
dourado que diz "Hi-Res Audio". Ele está presente em fones, amplificadores, DACs e diversos à sua volta, um enorme mercado de equipamentos de hardware. Fones de ouvido não são
outros equipamentos. A princípio, chama a atenção. Sua relevância, porém, pode ser exceção - há um crescente número de empresas oferecendo fones voltados especificamente
contestada. para os jogadores que, de forma geral, buscam não só trazer boa imersão nos jogos, mas
também, principalmente no caso de FPS competitivo, permitir a fácil identificação da direção
Esse selo foi criado pela Japan Audio Society com o objetivo de certificar aparelhos que, em
dos inimigos.
tese, são capazes de oferecer alta qualidade de som. O problema é que os critérios não são, a
nosso ver, particularmente relevantes. Para equipamentos analógicos (como amplificadores, Não é difícil ser seduzido por esses produtos com marketing bastante ostensivo, promessas
fones de ouvido ou caixas de som), basta que eles sejam capazes de responder ao longo de generosas e uma estética alinhada aos gostos desse público. Contudo, muito frequentemente
um espectro de frequências superior a 40 kHz - mas, como vimos quando explicamos o que essas promessas são vazias e o público gamer seria muito melhor servido por fones de ouvido
é resposta em frequência, nas especificações de fones de ouvido, não há muitos benefícios tradicionais aliados a um microfone externo.
práticos para esta capacidade. A forma como um fone responde dentro de sua faixa de
A questão é que, em termos de áudio, não existe mistério com relação ao que é necessário
atuação (que aparece no gráfico de resposta em frequência), é muito mais importante do que
para um fone ser bom para jogos. A facilidade de identificação da direção dos sons é um
a extensão da faixa em si.
resultado de bom detalhamento, transparência e precisão espacial. E essas características
Vários dos melhores fones do mundo, como Focal Utopia, Stax SR-009S, Hifiman Susvara e são muito mais facilmente encontradas - e em maior proporção - em bons fones de ouvido
muitos outros não têm o selo - e isso, de forma alguma, diminui suas capacidades. comuns. Mais do que isso: elas podem ser conquistadas a preços muito baixos, com os fones
da taiwanesa Superlux, o Arcano SHP80 ou um IEM como o KZ ZS10 Pro.
No caso de equipamentos digitais, a situação não é muito diferente. Mais adiante neste
guia vamos falar sobre áudio digital, DACs e formatos de arquivos - e os conceitos que Há, porém, exceções. Algumas delas são equipamentos tradicionais que foram convertidos
explicaremos são importantes para que você possa entender o motivo do selo Hi-Res para se tornarem headphones gamers, como alguns da Sennheiser, da Audeze e da
também não merecer muita atenção. Então, se quiser, continue lendo este guia e volte para Beyerdynamic. Também encontramos, no mercado, headphones white-label (produtos
cá ao terminar. desenvolvidos por fabricantes terceirizados, que são comprados e vendidos por outras
marcas em suas linhas de produto) transformados em headsets gamers, como os HyperX
Nesses dispositivos digitais, a exigência da JAS para conceder o selo Hi-Res é simplesmente
Cloud. Em ambas as situações, temos resultados geralmente respeitávels porque são fones de
que eles sejam capazes de decodificar arquivos com resolução igual ou superior a 96 kHz
ouvido tradicionais, feitos para música, convertidos para o uso focado em games.
de taxa de amostragem e 24 bits de profundidade. E, como explicaremos na seção Como
Funciona o Áudio Digital e os Diferentes Formatos de Arquivos, a teórica melhor qualidade Contudo, é necessário observar que existem outros aspectos importantes para além da
de som proporcionada por esses arquivos, para consumidores comuns, é alvo de debates. qualidade sonora, como por exemplo a existência de um microfone de boa qualidade com um
conector dedicado, o que geralmente não é encontrado em headphones tradicionais. O que
Consequentemente, nosso conselho aqui é simples: ignore o selo Hi-Res. Ele não apresenta
pode ser feito é usar um microfone externo aliado ao fone de ouvido.
nenhum significado relevante para uma reprodução com qualidade.
Há também a dúvida entre um headphone aberto e um fechado. Os fones abertos trazem uma
sonoridade mais natural, arejada e espacial, enquanto os fechados são, como o nome já indica,
fechados - mas isolam o ouvinte mais eficientemente de ruídos no ambiente. A escolha entre
um ou outro tipo deve ser baseada nas particularidades do uso de cada um.

40 41
como cuidar de um fone de ouvido grande maioria dos fones que utiliza madeira na construção - e não são muitos - já possui um
acabamento que protege o material. Por exemplo, o arco do Kuba Disco é finalizado com um

Não existem muitos mistérios para cuidar bem de um fone de ouvido, mas algumas questões verniz especial, que é hidrofóbico e impermeável. Então, não é necessário mais nada além de

merecem atenção. um pano seco.

Primeiramente, alto-falantes são, com exceções muito raras, componentes cuja durabilidade O que pode exigir um pouco de atenção são fones com almofadas de couro genuíno.

é altíssima. Um falante comum pode durar muito mais do que normalmente imaginamos Normalmente, esse material só é encontrado em fones caros e sofisticados - e, neles, pode ser

quando bem cuidado - ou seja, sem estresse excessivo causado por volumes exagerados ou interessante utilizar produtos de hidratação do couro uma ou duas vezes ao ano. Contudo, a

choques físicos. grande maioria dos fones utilizam couro sintético, que não requer nenhum cuidado especial
além de uma limpeza periódica com álcool isopropílico.
Então, quando fones apresentam algum problema, geralmente a culpa é de outros
componentes - o cabo é o mais comum. Por isso, muitos fones permitem que ele seja As espumas de tecido ou de veludo muitas vezes acumulam poeira mas, assim como as peças

removido e substituído. A maior dica que podemos dar para que um cabo dure é evitar dobrá- de courino, não devem ser limpas com nada além de um pano úmido.

lo excessivamente, principalmente próximo aos conectores. Lembre-se, também, quando for


Uma observação é que a maioria das partes macias (espumas laterais e superiores de fones
desconectá-lo, de puxar pelo conector, e não pelo fio em si.
ou ponteiras de intra-auriculares, particularmente as de espuma) sofrem desgaste natural,

Quanto ao fone, o principal é ter cuidado com o volume. Fones mais sofisticados aguentam e eventualmente terão de ser substituídas. As espumas mais comuns em fones mais baratos

volumes muito altos sem maiores problemas, mas plugá-los em algum equipamento que são revestidas de vinil, material que em algum momento irá descascar. Mesmo as mais

forneça muita potência pode danificá-los permanentemente. sofisticadas, por ficarem muito tempo sofrendo a pressão da cabeça do usuário, se tornarão
mais finas com o tempo, o que pode prejudicar a aparência do fone e, crucialmente, alterar
Para a limpeza, existem alguns cuidados que devem ser observados. Os materiais geralmente sua sonoridade, já que a distância entre os falantes e os ouvidos será menor.
usados em fones de ouvido são plástico, madeira e metal, e as partes macias costumam ser
feitas de couro genuíno, couro sintético, veludo ou tecido. Para cada material, há uma forma E como guardar os fones? O ideal é mantê-los num local seco e ventilado, sem exposição

de limpeza. direta à luz solar. Mas sabemos que muitos fones podem ser uma bela peça de decoração,
particularmente se colocados em suportes específicos. Se você pretende expor seu fone
Partes de plástico ou metal podem ser limpas apenas com um pano úmido, ou no máximo com em algum desses suportes, o maior cuidado que deve ter é evitar que eles contribuam para
álcool isopropílico. Já será o suficiente. O mesmo vale para as conchas de acrílico dos IEMs o desgaste de alguns elementos. Qualquer pressão maior exercida sobre as almofadas ou
personalizados, como os da linha Kuba Pro, mas vale lembrar que, neles, a limpeza deve ser formato que estique elásticos presentes em alguns fones de ouvido vai contribuir para um
mais frequente. Afinal, o contato constante com a parte interna dos ouvidos faz com que haja desgaste prematuro desses componentes.
maior acúmulo de cera.

Também é importante, para esse tipo de fone, a limpeza dos canais, os tubos por onde sai
o som. É natural que entre um pouco de cera nesses tubos, mas não é bom deixar que ela
acumule – caso contrário, durante a limpeza se torna mais fácil empurrar a sujeira para dentro,
o que em casos extremos pode entupir o canal. Fones personalizados costumam incluir uma
ferramenta de limpeza nos seus acessórios inclusos. Use a pequena haste de metal para
remover partes maiores e, depois, a escovinha para retirar o que sobrar.

Fones com partes de madeira podem exigir algum cuidado especial, mas são casos raros. A

42 43
como equalizar um fone de ouvido 20 40 60 100 200 400 600 1k 2k 4k 6k 10k 16k 20k

É muito difícil que um fone tenha um equilíbrio tonal perfeito - tanto objetivamente quanto
subjetivamente. A equalização pode, em diversos casos, ser uma ótima solução para tal Masculina Harmônicos
Vozes
limitação. Esse efeito permite que você reduza ou incremente alguma frequência na resposta Feminina Harmônicos

de um fone de ouvido. Bumbo Harmônicos

Tímpano Harmônicos
Existem inúmeras soluções de equalização - desde aplicativos em seu smartphone até
Tons Harmônicos
sofisticadas soluções de calibragem profissionais. Algumas são mais eficientes do que Percussão
Caixa Harmônicos
outras, mas a funcionalidade básica, de modo geral, é exatamente a mesma - e o processo
Conga Harmônicos
em si é bastante simples. A maioria dos equalizadores oferece uma representação gráfica de
Pratos Harmônicos
determinadas faixas de frequência (a quantidade de faixa depende do equalizador utilizado) e
você pode aumentar ou diminuir cada uma delas a gosto. Tuba Harmônicos

Trompa Harmônicos
Nossa maior recomendação aqui é: teste! Brinque com o equalizador, e veja o efeito que Metais Trombone bai xo Harmônicos
aumentar ou diminuir cada faixa de frequência vai exercer sobre aquilo que você está Trombone tenor Harmônicos
ouvindo. Se você aumentar frequências mais agudas - acima dos 3 kHz, por exemplo - notará Trompete Harmônicos
que o som ficará mais estridente e brilhante, e pratos de bateria, por exemplo, serão mais
Contrafagote Harmônicos
audíveis. Se aumentar os 50 Hz, verá que o resultado será um som mais pesado, com mais
Fagote Harmônicos
graves, e o contrabaixo ou a batida do bumbo terá uma presença mais notável.
Saxofone tenor Harmônicos

Para que o processo fique mais fácil, colocamos ao lado um gráfico que mostra onde o som Saxofone alto Harmônicos
Madeiras
de diversos instrumentos se posiciona dentro do espectro audível por um ser humano. Então, Clarinete Harmônicos

caso você queira aumentar, por exemplo, o som das guitarras, já sabe por quais frequências Oboé Harmônicos

pode começar. Flauta Harmônicos

Harmônicos

Observe que o gráfico diferencia notas fundamentais de harmônicos - quando ouvimos


Contrabaixo Harmônicos
um som, a frequência mais baixa e com maior volume (ou seja, a que mais ouvimos) é a
Violoncelo Harmônicos
fundamental. Os harmônicos são frequências específicas responsáveis pelas ressonâncias.
Viola Harmônicos
Cordas
Violino Harmônicos
O único alerta é que é aumentos exagerados podem causar distorções potencialmente
Guitarra Harmônicos
danosas ao falante de um fone. Por isso, é necessário ter cuidado ao equalizar - e qualquer
Harpa Harmônicos
distorção é o primeiro sinal de que você talvez esteja indo além dos limites de um transdutor.
Órgão
Muitas vezes, ao invés de aumentar uma determinada frequência (principalmente se ela
estiver nos graves), pode ser mais seguro diminuir as outras.
Subgraves Graves Médios Médio-Agudos Agudos

44 45
c o m o fa z e r u m f o n e t o c a r b e m
Agora, você já sabe tudo sobre fones de ouvido e já tem as informações necessárias para
escolher os que melhor se encaixam em seu uso e no seu orçamento.

Mas e o restante do sistema? Quais os componentes envolvidos, e quais as suas influências no


resultado final que ouvimos?

Nas próximas páginas, você vai ver um infográfico que ilustra como funciona toda uma cadeia de
gravação e reprodução de áudio, utilizando como exemplo o vinil. Essa escolha foi feita porque,
com essa mídia, é mais fácil entender o processo. Mas tenha em mente que, hoje, a vasta maioria
das pessoas utiliza o áudio digital, que será explicado posteriormente.

46 47
4
como funciona um sistema de som?

2 mídia
Microfones são transdutores: transformam
energia acústica em elétrica. Eles
funcionam praticamente da mesma forma

micro que nossos tímpanos: há um diafragma


que vibra de acordo com as variações de
Alguma mídia, então, guarda

fone
informações análogas a esse
pressão do ar - ou seja, os sons - e
sinal elétrico. Aqui, vamos
transformam essas variações em um sinal
considerar um disco de vinil.

1
elétrico.
Os discos têm sulcos que
representam as variações de
tensão do sinal elétrico

3
gravado.

geração
de som

5
Como explicamos na primeira seção
sinal

7
elétri
deste guia, sons nada mais são do
que variações de pressão no ar. Esse sinal elétrico possui variações
Considere, aqui, a gravação da voz
de uma cantora. co de tensão análogas às variações de
pressão no ar. É uma representação
elétrica de um fenômeno mecânico.
A fonte é o equipamento
responsável por ler as

fon
informações de uma

6
mídia. Aqui, a agulha do

alto te toca-discos percorre os

falan
sulcos do vinil e vibra de
acordo com eles - e essa

te Caixas de som e fones


vibração é transformada
em um sinal elétrico
próximo ao que foi
também são transdutores
gravado originalmente.
- mas fazem o contrário
do microfone: recebem

ampli
um sinal elétrico e ele Um amplificador recebe
excita o diafragma dos esse sinal e aumenta sua
seus alto-falantes, potência para que ele
fica
dor
fazendo com que eles tenha a força suficiente
vibrem - gerando sons. para movimentar os
alto-falantes de uma caixa
de som ou fone de ouvido.
os componentes de um sistema

O infográfico da página anterior mostra que um sistema de reprodução de som começa com a mídia
e a fonte, e segue com o amplificador e o transdutor. Todo e qualquer sistema que toque sons possui
obrigatoriamente esses estágios.

Entretanto, existem inúmeras formas de organizar um sistema, e a maioria dos equipamentos que
utilizamos atualmente possuem, internamente, todas essas etapas. Por exemplo, seu smartphone
consegue ler arquivos digitais - consequentemente, ele tem uma fonte. E como ele possui um alto-
falante, que é um transdutor, necessariamente também há um amplificador ali dentro. O mesmo ocorre
com o seu notebook.

Mas, da mesma forma que você pode conectar um headphone de alto nível ao seu notebook para obter
uma maior qualidade de reprodução do que aquela proporcionada pelos seus alto-falantes integrados,
é possível ligá-lo a um DAC e um amplificador externos, dedicados, com o mesmo objetivo.

É como na fotografia: seu smartphone provavelmente já tira ótimas fotos mas, se você quiser se
aventurar nesse mundo, seja profissionalmente ou como um hobby, ele não vai substituir uma câmera
de alto nível, com boas lentes, um tripé, equipamentos de iluminação e outros acessórios. Em áudio, a
situação não é muito diferente.

Você pode ouvir música com o seu smartphone e o fone que veio com ele mas, se quiser melhorar a
qualidade do que ouve, é possível montar um sistema de som dedicado. Nas próximas páginas, vamos
explicar em detalhes os componentes envolvidos e quando e como montar um sistema.

50 51
a fonte

Observe com atenção o infográfico da página 48, mas pense em como seria um show ao vivo.
Não mudaria muito: os microfones e os instrumentos geram um sinal elétrico mas, ao invés
de "impresso" em uma mídia, ele seria imediatamente amplificado e enviado às caixas de som.
Portanto, se simplificarmos ao máximo esse sistema, veremos que ele é simplesmente uma
cadeia de manipulação de energia elétrica.

O que permite que essa cadeia seja "quebrada", e faz com que se possa armazenar sons para
que eles sejam reproduzidos posteriormente, em um sistema de reprodução, é a mídia. Ela é
simplesmente uma maneira de armazenar e transmitir informações.

Ou seja: nela, há informações referentes ao sinal elétrico que foi captado e manipulado em
estúdio, de forma que essas informações possam ser lidas por um sistema de reprodução
- que, por sua vez, recria este sinal elétrico para que ele possa ser amplificado e enviado às
caixas de som.

A fonte é justamente o dispositivo que faz esta leitura.

A mídia pode ser um CD, um disco de vinil ou um arquivo digital - esteja ele em seu
computador ou em uma plataforma de streaming, como o Spotify. Portanto, existem fontes
de diversos tipos. Por exemplo, um toca-discos é uma fonte.

Hoje, porém, a maior parte do que ouvimos são sons armazenados em mídias digitais - ou
seja, basicamente, arquivos de música. E, como alto-falantes e amplificadores operam
exclusivamente sob princípios analógicos, é necessário que esses dados digitais sejam
transformados em um sinal analógico, elétrico, para que a cadeia que explicamos seja
continuada. Essa conversão é feita por um dispositivo que se chama DAC - que significa
digital-to-analog converter, ou conversor analógico-digital.

Todo e qualquer equipamento que toque som digital (smartphones, computadores, caixas
de som bluetooth, minisystems, CD players, o som de um carro, e outros dispotivos) possui,
internamente, um DAC - que é, em suma, um pequeno chip. Esse DAC é, justamente, uma
fonte. Mas, como esse chip é pequeno e pode ser bastante simples, atualmente o mais comum
é que fontes estejam integradas em outros aparelhos, que executam outras funções. Um
smartphone, por exemplo, possui internamente toda a cadeia de reprodução. Entretanto,
para os que buscam sistemas mais sofisticados, existem DACs independentes, que trazem um
desempenho superior aos integrados em dispositivos comuns.

52 53
O que um DAC faz é recriar, a partir dessa série de pontos, um sinal analógico. Há dois
c o m o f u n c i o n a o á u d i o d i g i ta l
fatores que medem a precisão (ou resolução) desse processo: a taxa de amostragem e a
e o s d i f e r e n t e s f o r m at o s d e a r q u i v o s profundidade de bits.

A taxa de amostragem indica quantas medições são feitas por segundo. No gráfico, ela pode
Se você está lendo este guia, já deve saber que existem diversos tipos de arquivos de áudio.
ser representada pela quantidade de linhas verticais. O padrão do áudio digital foi estipulado
FLACs, mp3, e muitos outros - e existem claras diferenças entre alguns deles. Mas, para
pelo CD, e é de 44,1 kHz. Ou seja: a cada segundo, são realizadas 44.100 medições do sinal
entender melhor essas diferenças, é importante que expliquemos como funciona o áudio
analógico original.
digital e, por extensão, os DACs.

Já a quantidade de linhas horizontais se refere à profundidade de bits, que representa


Como já explicamos, as ondas sonoras de uma gravação são representadas por um sinal
quantos bits de informação estão contidos em cada amostra. O áudio de CD contém 16 bits.
elétrico, cuja variação de tensão é análoga às variações de pressão no ar que caracterizam
essas ondas sonoras. Esse sinal elétrico é como na imagem abaixo: Intuitivamente, é fácil pensar que, se aumentarmos o número de linhas verticais e horizontais,
chegaríamos a uma curva que pode representar mais precisamente a onda original. Ao passo
em que matematicamente este pode ser o caso, na prática, para a audição, os benefícios não
são necessariamente relevantes.

Tempo Em relação à taxa de amostragem, a questão é que, de acordo com o Teorema de Nyquist-
Shannon, o alicerce do áudio digital, para que um sinal analógico possa ser amostrado e
reconstituído sem perda de informações é necessário que a frequência de amostragem seja
igual ou maior que o dobro da largura de banda total do espectro desse sinal. Traduzindo:
Tensão
nós, humanos, ouvimos frequências entre 20 Hz e 20 kHz. Para que todas essas frequências

A tensão do sinal varia de acordo com o tempo, e há infinitas variações de tensão. sejam devidamente reconstituídas a partir de uma amostragem, é necessário que ela seja

Entretando, no âmbito digital, todas as informações são representadas por meio do sistema feita a, no mínimo, 40 kHz, que é aproximadamente o dobro da banda entre 20 Hz e 20 kHz.

binário, que utiliza sempre 0s e 1s. O processo de representação digital dessa curva chama-
Consequentemente, um arquivo cuja taxa de amostragem é 44,1 kHz já permite a
se amostragem. Existem algumas formas para fazer isso, mas o mais comum é chamado PCM
reconstrução de um sinal analógico com perfeição ao longo de todo o espectro audível por
(pulse-code modulation). Por meio deste processo, um conversor analógico-digital, ou ADC,
um ser humano. Nesse momento, você talvez se lembre dos gráficos em escada que vemos
mede constantemente a amplitude de uma onda sonora e cria valores para cada ponto de
frequentemente pela internet para explicar os motivos pelos quais o áudio de alta resolução
medição. Os pontos azuis, no gráfico abaixo, são os pontos de medição:
é superior. Infelizmente, porém, esses gráficos não são uma representação apurada do que
realmente ocorre. O que um DAC enxerga, durante o processo de conversão, é na realidade
uma série de pontos, como ilustrado na página anterior. Crucialmente, para a conversão de
um arquivo de 44,1 kHz, dentro do espectro audível, só haverá uma solução matemática
possível para o conversor - e essa solução é a curva analógica original.
Tempo

Para entender a influência da profundidade de bits, observe novamente o último gráfico com
atenção, e veja que, em alguns casos, os pontos azuis não coincidem perfeitamente com a
curva do sinal analógico. Isso ocorre porque a curva passa no meio de dois pontos possíveis
Tensão
dentro da profundidade de bits considerada nesse exemplo. Torna-se necessário arredondar

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cada amostra para o ponto possível mais próximo - e esse processo de arredondamento arquivos WAVE extraídos diretamente de um CD. O objetivo é reduzir a quantidade de
chama-se quantização. O resultado da quantização é a distorção, que nada mais é do que informações dos arquivos para que eles tenham tamanhos menores - e, consequentemente,
ruído. mais práticos de armazenar e transmitir.

No entanto, durante o processo de gravação, o ruído de quantização é substituído pelo Para isso, eles utilizam complexos algoritmos que descartam informações que são, ao menos
dither, uma forma de ruído aleatório introduzido intencionalmente para que o de quantização em tese, pouco ou não audíveis. Esse descarte de informações acontece principalmente na
se torne aleatório, prevenindo possíveis padrões de larga escala que poderiam ser mais profundidade de bits - a maioria dos arquivos comprimidos estipula uma taxa máxima de bits
facilmente audíveis. por segundo. Na prática, isso acaba cortando frequências nos extremos: as mais graves e as
mais agudas. Antigamente, os arquivos mais comuns eram os mp3 com 128kbps (kilobits por
Por isso, todo sistema de reprodução de digital possui um ruído de fundo inerente à
segundo). A taxa máxima desse formato é 320kbps.
conversão digital-analógica. E o que a profundidade de bits determina é a relação sinal-ruído
e a faixa dinâmica desse arquivo - em outras palavras, a diferença entre o ruído de fundo e A audibilidade desse efeito depende do nível de compressão aplicado e da acuidade auditiva
os sons mais altos possíveis na gravação. do ouvinte. Entretanto, para a vasta maioria das pessoas, na vasta maioria dos sistemas, um
mp3 a 320kbps será indistinguível de um áudio de CD. Taxas de compressão maiores, porém,
A questão, aqui, é que o áudio do padrão de um CD, com 16 bits, já permite um teórico alcance
são mais facilmente audíveis.
dinâmico percebido (com o uso de técnicas como o shaped dither) de 120 db. Isso quer dizer
que, no caso dessa mídia, para que o ruído de fundo seja audível, você teria que ouvir música Atualmente, também existem os formatos de compressão sem perdas, ou lossless, como
no volume equivalente ao de uma motosserra ligada ao seu lado - suficiente para causar dor os famosos arquivos FLAC (sigla que significa Free Lossless Audio Codec, ou Codec Livre de
a seres humanos, além de danos permanentes à audição, mesmo com uma curta exposição. Áudio Sem Perdas). O objetivo desses formatos é reduzir o tamanho dos arquivos em relação
Ou seja: para que o nível de ruído de uma gravação de 16 bits esteja no limite da audibilidade, ao áudio original de um CD, porém sem perda de dados, como ocorre no mp3. Não é um
teríamos que ouvir música a um volume impraticável. mecanismo muito distante de um arquivo .zip, por exemplo. Os FLAC podem conter uma
faixa em resolução padrão, de CD, e também em alta resolução.
O padrão de CD, 16 bits/44,1 kHz, não foi escolhido aleatoriamente, e sim porque,
justamente, em teoria é o suficiente para trazer a qualquer ser humano a maior qualidade Consequentemente, oferecem um tamanho reduzido - ainda que não tanto quanto o de um
subjetiva possível. Devemos frisar, porém, que resoluções maiores que a padrão têm grande arquivo mp3 - sem as perdas normalmente associadas à compressão. Mas vale lembrar que,
utilidade em estúdios, visto que fornecem aos engenheiros de som uma maior faixa onde assim como o que ocorre com os CDs, a grande maioria das pessoas não notará diferenças
podem trabalhar. Mas é uma situação distinta e que não se replica em sistemas de reprodução entre o FLAC e um mp3 bem codificado a 320kbps.
de uso recreativo.
Por isso, ao passo em que, hoje, não há exatamente a escassez de espaço e de velocidade de
Estes são os motivos pelos quais acreditamos que não há benefícios audíveis no uso de conexão que faça com que o áudio comprimido seja tão necessário, também não há motivos
arquivos de resolução maior do que a padrão de um CD - os chamados arquivos de alta- para nos obcecarmos com o FLAC.
resolução, com 24 bits e 96 kHz de taxa de amostragem ou ainda mais.
Muito mais importante que a qualidade do arquivo é a qualidade da gravação, da mixagem
Mas tenha em mente que essa é nossa opinião - e existem especialistas que pensam o e da masterização. Diversos álbuns populares, como por exemplo o Californication, do Red
contrário. Ambas as posições são válidas. Hot Chilli Peppers, possuem compressão dinâmica excessiva (todos os sons são colocados
em volumes próximos ao limite), o que torna a sonoridade agressiva e cansativa - e não há
Mas e os arquivos menores, compactados, como os mp3? Esses arquivos foram desenvolvidos
arquivo que resolva o problema. Da mesma maneira, um álbum bem gravado, como o Random
em uma época em que a velocidade da internet era lenta e a capacidade de armazenamento
Access Memories, do duo Daft Punk, soará incrível até mesmo em um mp3 a 256kbps.
dos computadores baixa. Isso trazia dificuldades para armazenar e compartilhar os enormes

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streaming e o v i n i l? e l e é m e l h o r m e s m o ?

A internet banda larga rápida e onipresente, inclusive em smartphones, tornou possível a Os discos de vinil não são uma tecnologia nova, mas eles estão longe de mortos. Não são
existência de serviços como Spotify, Apple Music, Deezer e outros. Sob diversos aspectos, raros, também, os que acreditam que os bolachões são uma mídia mais fiel do que os CDs
é muito conveniente: não é necessário gastar espaço em disco e, contanto que você tenha - inclusive audiófilos, que frequentemente possuem sistemas altamente sofisticados com
acesso à internet, tem disponíveis 30 milhões de músicas a qualquer momento. toca-discos que custam até dezenas de milhares de dólares.

O streaming nada mais é do que um download temporário. O software baixa a música que você Nas seções anteriores deste guia, você aprendeu que um sistema de áudio funciona
quer ouvir (muitas vezes simultaneamente, você ouve enquanto ela está sendo baixada, como majoritariamente por princípios analógicos - o digital é simplesmente uma mídia mais
um vídeo no YouTube) e, após um curto período de tempo – por exemplo, quando a próxima eficiente. Mas, tanto a gravação quanto a reprodução passam por diversos processos
música começa –, ela é deletada automaticamente. Por isso, a qualidade do streaming vai mecânicos. Para a criação de um arquivo digital, há o processo de amostragem, que transforma
depender da qualidade desse arquivo, que depende do serviço que você utiliza. uma curva analógica em uma série de pontos digitais - o que, em tese, traz perdas, como vimos
na explicação sobre a profundidade de dados e a taxa de amostragem.
A maioria deles – como Spotify, Google Play Music e outros – faz streaming de até 320kbps
(alguns apenas nos planos pagos). Já o Apple Music trabalha com AAC de 256kbps. Tidal Intuitivamente, é fácil acreditar que a "curva" armazenada pelo vinil é naturalmente mais
e Deezer possuem planos mais caros que trabalham com arquivos lossless, ou seja, sem precisa que a amostrada, já que não existem as perdas inerentes ao áudio digital.
compressão. Porém, como já dito, a vasta maioria das pessoas é incapaz de diferenciar um
arquivo lossless de um arquivo com boa compressão, como os fornecidos pelos serviços de Contudo, não é bem assim. Como já vimos, essas perdas são basicamente imperceptíveis.

streaming em qualidade normal. O áudio que sai de um CD não possui, na prática, menos informação que o proveniente de
um disco de vinil. A verdade é que a natureza física dos discos de vinil apresenta uma série
Esses arquivos serão tocados em seu computador, smartphone ou player normalmente, de limitações consideravelmente mais severas, que prejudicam sua capacidade de uma
como um arquivo comum. Logo, é possível usá-los com um sistema bastante sofisticado, reprodução objetivamente fiel. Consequentemente, em termos puramente objetivos, ao
com um DAC e um amplificador externos sem nenhum problema. Mas, é claro, nesse caso é contrário do que muitos pensam, pode-se dizer que o áudio digital é superior ao do vinil,
recomendável que os serviços sejam usados com qualidade de pelo menos mp3 a 320kbps. especialmente se o custo for considerado.

Para escolher um serviço de streaming, pense primeiro nas funcionalidades que você deseja. Por exemplo, apesar de a resposta em frequência possível com um disco de vinil ser
Por mais que o Tidal e o Deezer ofereçam arquivos sem perdas, existem diversas outras semelhante à de um CD, na prática é muito comum, durante as mixagens, ter que cortar sons
funcionalidades que podem ser muito mais interessantes. muito graves ou muito agudos, já que eles podem fazer com que, em toca-discos mais simples,
a agulha saia do sulco. Devido a problemas como esse, diversos renomados engenheiros de
Por exemplo, o Spotify conta com uma inteligência artificial que cria playlists fantásticas
som, como Bob Ludwig e Bob Clearmountain, já disseram, em entrevistas, que ouvir o LP
baseadas no seu gosto musical, com muito sucesso, além de mantê-lo atualizado com os
prensado em sua versão final trazia, infalivelmente, uma decepção. Muito do que eles haviam
últimos lançamentos dos artistas que você segue. Já o Google Music permite que você faça
feito no estúdio era perdido devido às limitações técnicas dos discos, algo que não ocorre com
o upload de até 100.000 músicas próprias - uma ótima solução para centralizar toda a sua
o áudio digital.
biblioteca em um único aplicativo, acessível em qualquer dispositivo, incluindo músicas que
não estão disponíveis na plataforma. Outra questão é a faixa dinâmica: apesar de no áudio digital haver o ruído de fundo da
conversão digital-analógica, a faixa dinâmica possível com um CD, na prática, é muito superior
Todos os serviços têm ótima qualidade e funcionalidades. O importante é descobrir o que
à de um disco de vinil. Devido ao fato de vinis serem uma mídia física, sujeira entra nos sulcos
funciona melhor para você!
e os danificam permanentemente, gerando os tradicionais cliques e pops sempre presentes

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nos bolachões. Esses artefatos, assim como o piso de ruído imposto pela fricção da agulha no muito maior do que a dos discos de vinil, infelizmente são raros os álbuns que façam seu
disco, fazem com que o piso de ruído dos vinis seja muito mais alto do que o do áudio digital, o devido proveito dessa faixa. O infeliz fenômeno da Loudness War, uma busca pela maior
que prejudica a relação sinal-ruído e traz problemas mais sérios para gravações mais baixas, compressão dinâmica, tentando levar todos os sons ao máximo volume possível, às custas da
como as de música clássica, por exemplo. emoção da música, é quase onipresente em álbuns modernos. Ao invés de os engenheiros, os
músicos ou as gravadoras aproveitarem a maior capacidade do áudio digital para trazer mais
Hás também uma rápida degradação. Tocá-lo dez ou quinze vezes já pode piorar seu
qualidade, frequentemente o objetivo é apenas ser mais alto, para brigar pela atenção do
desempenho - muito diferente dos sofisticados mecanismos de compensação de erros
ouvinte no rádio ou em uma plataforma de streaming.
utilizados nos CDs, que fazem com que até mesmo pequenos arranhões em sua superfície
não tragam nenhum prejuízo. Um outro fato curioso é que as primeiras músicas num disco Assim, a menor faixa dinâmica dos discos de vinil, que em teoria representa um problema,
apresentam melhor qualidade que as últimas porque, nestas, a agulha tem que percorrer os acaba trabalhando em seu benefício. Afinal, com eles, não é possível atingir níveis tão
sulcos muito mais rapidamente. grosseiros de compressão, o que pode resultar em uma mixagem muito mais agradável do
que o do mesmo álbum mixado para CDs ou distribuição online. Aqui, vale observar que
Há também um grande desafio em termos de contaminação. Como a agulha de um toca-discos
prensagens de vinis quase sempre trazem uma mixagem diferente dos álbuns lançados
está percorrendo um caminho, lendo sua superfície e transformando-a num sinal elétrico
digitalmente, e com alguma frequência essa mixagem pode ser melhor – assim como no caso
através de vibrações, ela não vai vibrar apenas de acordo com o que está gravado – afinal,
de álbuns lançados em formatos de alta resolução.
qualquer ambiente comum apresenta diversas fontes de vibração. Andar na sala, por exemplo,
já pode trazer contaminações; e a própria música que está tocando traz perturbações no Essa, aliás, frequentemente é a explicação para diferenças ouvidas entre arquivos FLAC
ar que serão capturadas de volta pela agulha. Por isso é que toca-discos extremamente de alta resolução baixados na internet e as mesmas faixas em plataformas de streaming ou
sofisticados utilizam os mais diversos (e caros) artifícios para driblar essa limitação natural. provenientes de CDs - esses FLACs muitas vezes são digitalizações de discos de vinil, que
Essas dificuldades fazem com que um sistema topo de linha baseado em vinis acabe saindo apresentam mixagens diferentes.
mais caro do que outro igualmente pretensioso baseado em áudio digital.
Por isso, no final das contas, não existe um “melhor”, existe o que você prefere. Apesar de o
Então, pode-se concluir que o áudio digital é melhor que o analógico, certo? Bem, não áudio digital logicamente trazer problemas, como o aliasing ou o ruído de quantização, sua
exatamente – e por um simples motivo: objetivamente e mensuravelmente melhor nem tecnologia, por qualquer método mensurável, será superior ao áudio analógico em termos de
sempre quer dizer subjetivamente melhor. O que ocorre é que todas as imperfeições do vinil fidelidade: maior transparência, resolução, extensão e faixa dinâmica, menor degradação e
trazem distorções que são vistas como prazerosas pelas pessoas. A carência de extensão nos interferência de vibrações do ambiente e, em termos de equipamentos para reprodução de
agudos e alguns tipos de distorção analógica são frequentemente interpretados por ouvintes qualidade, muito mais barato.
como calor, algo que pode ser muito agradável.
O problema, curiosamente, é que os que fazem música frequentemente não utilizam todos
Até mesmo os cliques e pops de vinis que não são mais virgens trazem uma experiência mais esses benefícios para buscar qualidade de som propriamente dita.
nostálgica, e não podemos esquecer do ritual necessário para ouvirmos um disco – temos
E mesmo todas essas vantagens ténicas não garantem superioridade subjetiva. Muitos
uma enorme mídia física, que exige cuidado, frequentemente guardada num envelope com
gostam da fidelidade, da transparência e da autoridade do áudio digital, mas também não
belíssimas artes, que precisa ser colocado num toca-discos seguindo alguns procedimentos.
são poucos os que se apaixonam pela experiência que o uso dos vinis representa e pelo
É muito diferente de simplesmente clicar duas vezes num arquivo num computador. Não é
calor e eufonia que eles trazem – características que podem, ironicamente, nos trazer
apenas o ato de ouvir música, é um ritual e uma experiência muito envolventes, que podem,
audições subjetivamente mais próximas àquelas que temos com música ao vivo. Ainda que
potencialmente, trazer uma relação mais íntima com a música.
essas questões se devam justamente às suas imperfeições técnicas, o juiz final são os nossos
E o áudio digital também traz suas desvantagens. Apesar de ele oferecer uma faixa dinâmica ouvidos e o nosso gosto pessoal. Se eles preferem assim, isso é tudo o que importa.

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amplificação

A função do amplificador, como já explicamos, é amplificar o sinal proveniente da fonte para


que ele tenha "força" suficiente para movimentar o alto-falante de um fone ou caixa de som.

Seu funcionamento, de forma resumida, é bastante simples: utilizando energia elétrica, o


amplificador aumenta a amplitude do sinal recebido em suas entradas, produzindo um sinal
com amplitude proporcionalmente maior em suas saídas. Em outras palavras, ele aumenta a
potência do sinal que recebe da fonte. Quando você aumenta o volume em algum aparelho de
som, está, justamente, aumentando o ganho de potência no amplificador.

Semelhante ao que ocorre com os DACs, qualquer sistema que toque sons possui algum
tipo de amplificação. Ela pode ser desde apenas um circuito interno, feito para alimentar um
pequeno alto-falante, como por exemplo em um celular ou em um notebook, até sofisticados
equipamentos dedicados de dezenas de milhares de dólares.

O que muda, em resumo, são a qualidade e a potência da amplificação em si e as


funcionalidades do aparelho. Por exemplo, um amplificador pode ter mais ou menos entradas,
de diferentes formatos, DACs internos, equalizadores, etc. Além disso, existem diversos
tipos de amplificadores, com tecnologias diferentes - cada uma com suas vantagens e
desvantagens. No meio audiófilo, tecnologias antigas, como as válvulas (aqueles componentes
que se parecem com lâmpadas) ainda são comuns porque, em tese, trazem um tipo específico
de sonoridade que ainda conquista admiradores. A escolha de um amplificador depende de
todos esses fatores.

Veja, também, que amplificadores de caixas de som são diferentes de amplificadores de fones
de ouvido - a função e o funcionamento são parecidos, mas caixas, normalmente, exigem
muito mais potência do que fones. Muitos amplificadores de caixas ou receivers têm saídas
para fones de ouvidos, mas trata-se de um circuito dedicado, independente do que alimenta
as caixas de som.

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q u a n d o m o n ta r u m s i s t e m a d e d i c a d o de fones do seu computador apresente muito ruído de fundo com intra-auriculares mais
sensíveis. Um DAC quase certamente solucionará o inconveniente. Também é possível que
você queira utilizar um mesmo fone com um computador, uma televisão e um toca-discos. Um
Antes de começarmos, uma observação: todas essas informações se referem, exclusivamente,
amplificador de fones com múltiplas entradas tornará isso possível.
a fones de ouvido cabeados. Em fones sem fio, que trazem amplificação e fonte internos, não
faria sentido investir em um sistema, já que na vasta maioria dos casos ele não substituiria
Avaliar estas necessidades não é simples e, muitas vezes, só será possível verificar a
seus circuitos integrados. O mesmo ocorre em fones USB.
compatibilidade de dois componentes com um teste. É difícil prever como determinado
fone irá interagir com o seu computador ou o seu celular, principalmente porque estes
Dito isso, vamos seguir em frente. O mais importante, na hora de montar um sistema de
equipamentos não costumam divulgar suas potências de saída - entretanto, vale dizer que a
som dedicado, é avaliar se ele é realmente necessário. Isto porque, em um sistema de som,
vasta maioria dos headphones do mercado, feitos para uso comum (ou seja, não profissionais)
o transdutor é responsável, em nossa opinião, por 90% do resultado que ouvimos. Além
é desenvolvida justamente para o uso com smartphones e notebooks. Consequentemente, não
disso, atualmente, boa parte dos notebooks ou smartphones já são capazes de entregar uma
são muito exigentes em termos de potência. E intra-auriculares, mesmo os projetados para
qualidade de som bastante respeitável. Consequentemente, na vasta maioria das situações,
uso profissional, costumam trazer excelentes resultados ligados a praticamente qualquer
faz mais sentido investir todo o orçamento disponível na compra do melhor fone possível que
equipamento com uma saída de fones, ainda que haja exceções.
se adeque às suas necessidades.

Só vale lembrar que existem celulares anormalmente pouco potentes, como alguns modelos
Por exemplo, considere dois circunaurais abertos da alemã Sennheiser: o HD600, de
da Xiaomi, por exemplo. Para os tradicionalmente eficientes intra-auriculares ele será
aproximadamente R$2.000, e o mais simples HD599, que custa mais ou menos R$1.300. O
satisfatório - mas headphones, mesmo os mais fáceis de tocar, como o Kuba Disco, já saem
HD599, plugado em um sofisticadíssimo sistema de mesa, de dezenas de milhares de dólares,
um pouco da zona de conforto desse tipo de smartphone. Felizmente, casos como esse são
trará uma qualidade sonora inferior à de um HD600 conectado a um notebook com uma
exceção. Os Samsung da linha Galaxy ou Note, ou ainda os iPhones, por exemplo, trazem um
boa placa de som integrada, como um Apple MacBook. O maior desempenho proporcionado
resultado bastante satisfatório com praticamente qualquer fone de ouvido para uso comum.
pela fonte e amplificação do sistema dedicado não é o suficiente para anular a superioridade
do transdutor e do projeto acústico do HD600.
Já nos profissionais, ou audiófilos de nível mais alto, ainda que existam modelos fáceis
de serem tocados, os desafiadores são um pouco mais comuns. Para descobrir, observe a
Isso só começa a mudar quando consideramos fones particularmente exigentes (com
impedância e a sensibilidade. Mais do que, digamos, 70 ohms de impedância e/ou menos
impedância alta e/ou sensibilidade baixa), para os quais os circuitos integrados de dispositivos
de 98 dB/mW de sensibilidade já começam a representar maiores dificuldades para atingir
comuns não serão suficientes. Continuando neste mesmo cenário, um Sennheiser HD800
volumes satisfatórios e indicam que pode ser necessária a utilização de um amplificador.
já deixa esta questão evidente. Trata-se de um headphone bastante faminto, para o qual
um amplificador dedicado é fundamental. Ligado diretamente a um smartphone, o volume
Caso você de fato queira montar um sistema, por qualquer um dos motivos já citados, tenha
será baixo e sua sonoridade magra e estridente, com poucos graves. No final das contas, a
em mente o principal: o fone é muito mais determinante do que o restante dos equipamentos
experiência com os dois fones mais simples possivelmente será mais completa e agradável.
para a qualidade final do que você ouve. Por isso, é fundamental que analise cuidadosamente
as suas necessidades para determinar o orçamento que irá destinar para cada componente.
Por isso, acreditamos que montar um sistema de mesa deve deve ser em primeiro lugar para
resolver problemas, em segundo para trazer funcionalidades que podem ser importantes
E, nesse cenário, nossa opinião sobre um fone mais sofisticado aliado a um sistema mais
para você e apenas em terceiro para melhorar a qualidade de som.
simples trazer um resultado melhor do que um fone mais simples ligado a um sistema
sofisticado é ainda mais veemente. Em outras palavras, um Sennheiser HD800 plugado em
Por exemplo, você pode estar utilizando uma fonte que fornece pouca potência para o seu
um amplificador básico mas que consegue suprir suas necessidades será, em termos gerais,
fone e, consequentemente, o som é baixo. Esse é um problema que um amplificador ou uma
superior a um HD600 aliado a um sistema altamente sofisticado.
placa de som (que nada mais é do que um circuito que contém um DAC, um amplificador
e, frequentemente, algumas outras funcionalidades), poderá resolver. Ou, talvez, a saída

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c o m o m o n ta r u m s i s t e m a exploratória. Dessa forma, você conseguirá entender como funciona cada equipamento e
sua real influência na cadeia. Quando (e se) for montar sistemas mais sofisticados, terá o

Nesta seção, consideraremos sistemas digitais, baseados em computadores ou smartphones. conhecimento necessário para tomar decisões informadas e adequadas aos seus gostos e

Afinal, é assim que a vasta maioria das pessoas ouve música atualmente. expectativas. O mais interessante nesse hobby é a jornada. Apenas trilhando nosso próprio
caminho é que conseguimos saber aonde queremos chegar.
O primeiro passo é definir seus objetivos e o orçamento disponível. Como já comentamos, o
ideal, em nossa opinião, é montar um sistema em torno do(s) fone(s) que você planeja utilizar. Se seu uso for majoritariamente portátil, os benefícios de montar um sistema - isto é, acoplar

Enxergamos alguns cenários possíveis. um DAC e amplificador a um smartphone ou utilizar um DAP (digital audio player, como os
antigos iPods) dedicado - aparecem em casos ainda mais raros. Isto porque fones de ouvido
Se você quer utilizá-lo para tocar fones simples porém um pouco mais exigentes, como um desenvolvidos para uso portátil, salvo raríssimas exceções, são muito pouco exigentes em
Arcano ARC-SHP300 ou um AKG K240 MKII, ou se possui um computador com uma saída termos de amplificação, e já trazem ótimos resultados quando conectados a bons celulares
para fones anormalmente pouco potente, existem soluções de baixo custo que cumprirão ou notebooks. Para exemplificar, pense nos intra-auriculares da Shure: o topo de linha SE846,
esse papel. O Sharkoon Gaming DAC Pro S é um minúsculo DAC e amplificador USB que custa tocando diretamente de um smartphone, traz um resultado consideravelmente superior ao
menos de R$200, e será o suficiente para isso. Também é possível adquirir uma placa de som de um SE535 conectado a um player portátil de alto nível da Astell&Kern.
onboard, como as da linha Xonar, da Asus, por valores semelhantes.
Considere investir em um sistema portátil de alto nível apenas quando já tiver o melhor fone
Se seu orçamento for maior e o objetivo for montar um sistema para fones um pouco possível (por exemplo, um IEM personalizado, como um Kuba Pro Orleans); quando planejar
melhores, o ideal é buscar um conjunto de amplificador e DAC de mesa que forneça a potência utilizar um headphone que pede mais do que o que seu smartphone pode entregar; ou quando
necessária e as funcionalidades desejadas. Existem muitas ótimas opções no mercado a você precisar de alguma funcionalidade específica de DAPs ou DACs e amplificadores
preços acessíveis - a marca FiiO é conhecida por entregar ótimos produtos a bons preços, portáteis - algumas são bastante úteis, como a possibilidade de atuar também como
como o E10K ou o K3, mas também existem opções interessantes de fabricantes como conversor digital-analógico em um sistema de mesa, de forma que um único dispositivo pode
Topping, SMSL ou, a preços um pouco maiores, os modelos Modi e Magni da americana Schiit. ser utilizado tanto em casa quanto na rua.

Equipamentos do tipo serão capazes de entregar ótimos resultados com boa parte dos fones No caso de fones portáteis mais exigentes, é possível traçar um paralelo com os nossos
do mercado, a preços bastante justos. Só não serão apropriados caso você deseje utilizar conselhos para um sistema de mesa. Alguns dos nossos clientes, na Kuba, relatam que o
headphones realmente exigentes, como alguns planar-magnéticos da Hifiman ou então Disco fica um pouco baixo em seus smartphones, apesar de este fone ser fácil de tocar. Isso
modelos dinâmicos mais famintos, como o já mencionado Sennheiser HD800. ocorre com alguns celulares anormalmente pouco potentes, como os da Xiaomi, conforme
mencionamos anteriormente. Quando não estamos tratando de fones high-end, como no
Neste nível, porém, começamos a entrar em patamares consideravelmente altos de
caso do Kuba Disco, o ideal é investir em soluções simples que resolvam o problema - nossas
investimento, menos comuns para quem está começando no mundo do áudio - justamente
sugestões são o Tempotec Sonata HD, Meizu Hifi DAC e Meizu Hifi DAC Pro.
o público-alvo deste guia. Também é onde as sutilezas começam a ser mais valorizadas e o
gosto pessoal é bem mais determinante. Por exemplo, para um Sennheiser HD800, você pode Entretanto, se você estiver em busca de alguma funcionalidade presente apenas em DAPs,
preferir a sonoridade oferecida por um amplificador valvulado, enquanto outra pessoa pode há ótimas opções a custos relativamente baixos. Pesquise sobre os FiiO e iBasso.
valorizar a apresentação mais direta de um estado-sólido.
Se o plano for utilizar headphones portáteis mais sofisticados e caros, como um Dan Clark Audio
Se você estiver começando agora no hobby, nossa sugestão é ir devagar - comece testando AEON 2, ou então se você já encontrou seu IEM definitivo e busca o melhor resultado com
fones diferentes, para entender aquilo que eles oferecem e de que forma suas assinaturas ele, começa a fazer sentido o investimento em um DAC e amplificador portátil de alto nível,
sonoras se encaixam no seu gosto pessoal e no tipo de música que você costuma ouvir. como um Chord Mojo, ou então em um DAP portátil de marcas como Astell&Kern ou Lotoo.
Quando necessário, invista em sistemas mais simples, e assuma a mesma postura

66 67
o m a i s i m p o r ta n t e

Como dissemos no início, nós, aqui na Kuba, fazemos o que fazemos


porque somos apaixonados por música. Acreditamos que essa é uma
das formas de expressão mais bonitas do ser humano, e por isso está em
nosso DNA a busca pela melhor representação possível dessa arte.

O objetivo deste guia é fornecer as informações necessárias para que


você possa escolher a melhor forma de dar vida às suas músicas - com os
equipamentos que fazem mais sentido para seu gosto e bolso.

Cada um de nós ouve música de formas diferentes, com objetivos


diferentes, e todas essas formas são válidas. O mais interessante no
mundo do áudio é a jornada.

Esperamos que, com este guia, ela seja ainda mais prazerosa.

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w w w. k u b a . a u d i o
i n s ta g r a m @ k u b a a u d i o
fa c e b o o k @ k u b a a u d i o

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