Você está na página 1de 1

Os idosos têm sido rotulados por suas medicações, ora para doenças adquiridas com o

tempo, ora por um discurso preventivo que cria muitas regras e proibições. Como
estamos lidando com essa mudança em termos de saúde mental e qualidade de vida
dessa população? No Brasil, já passam de 30 milhões de pessoas com mais de 60 anos,
predominando mulheres. A expectativa é que nos próximos 15 anos superem o número
de crianças e adolescentes (Dados do IBGE de 2017).

Não é possível olharmos pra a velhice de maneira mais


completa e complexa?
É preciso cuidado sim, mas esse cuidar precisa envolver também empatia e sensibilidade
de quem vive ao redor. Onde fica o prazer de viver no meio de tantas proibições e
isolamento que a aposentadoria pode gerar? O envelhecimento traz o agravamento de
padecimentos que já tínhamos e traz novas dificuldades e dependências em alguns
casos, mas não pode ser sinônimo de privação e frustração.

O que nossa cultura pensa sobre a velhice afeta diretamente o que pensamos sobre nós
mesmos quando envelhecemos, pois é reflexo de como nos tratam. Em nossa sociedade
a vida adulta tem como centro o trabalho remunerado e, ao envelhecer, somos afastados
dele. Porém, dificilmente esse afastamento, que já é sabido por todos desde muito antes
da hora, é planejado.

Como preencher o tempo que usava me dedicando ao


trabalho dentro ou fora dele?
Como levar comigo pessoas importantes que continuarão em sua rotina apertada do
emprego? Que atividade definirá minha rotina a partir de agora? Muitas outras perguntas
como essa são extremamente importantes que façamos a nós mesmos antes de nos
aposentarmos, levando em conta o que gostaríamos e as possibilidades reais para que
asseguremos nossa qualidade de vida e prevenção de adoecimento.

O sofrimento vem do isolamento e do abandono muito mais que do padecimento físico


pelo tempo. A rede de apoio e a nova rotina, por isso, definirão como será essa fase de
nossa vida. Quando há condições de estar sozinho e/ou não temos opção de termos
alguém por perto a maior parte do tempo, essa pode ser mais uma dificuldade. Não
estamos acostumados a estar sozinhos e aproveitar da própria companhia. Estar sozinho
e aproveitar de maneira saudável e feliz estes momentos requer aprendizado e treino. E
se isto não for feito até a velhice, é ótimo momento para começar a descobrir novos
prazeres e, quem sabe, características relevantes de si para ais quais nunca se atentou.
A psicoterapia pode e deve auxiliar esse processo do envelhecer e planejar esse
momento da melhor forma para cada um, trazendo reflexões sobre o passado e como
nossa história pode nos das pistas do presente e ajudar a planejar um futuro possível e
feliz. O futuro tem inúmeras possibilidades e o presente, como a palavra simboliza, pode
ser fazer da vida, em qualquer idade, prazerosa.

Você também pode gostar