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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TURMAS RECURSAIS

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
DHD
Nº 71009036302 (Nº CNJ: 0073271-85.2019.8.21.9000)
2019/CÍVEL

RECURSO INOMINADO. SEGUNDA TURMA


RECURSAL DA FAZENDA PÚBLICA. DIREITO
PREVIDENCIÁRIO. PREVIMPA. PENSÃO PARA
COMPANHEIRA.
A prova da união estável decorre dos elementos
probatórios acostados, conforme prova documental e
testemunhal carreada ao feito, a demonstrar que
perdurou até o óbito do servidor. A Carta Política de
1988 reconheceu a união estável como entidade familiar,
projetando efeitos jurídicos a relações eminentemente
fáticas, deferindo proteção jurídica a fatos sociais desde
muito existentes. Conceitos contidos na Constituição
Federal e no Código Civil que descrevem e qualificam a
união estável, e quando caracterizados, como no caso, é
dever do ente público em acolher a autora como
dependente do segurado falecido. RECURSO
DESPROVIDO.

RECURSO INOMINADO SEGUNDA TURMA RECURSAL DA


FAZENDA PÚBLICA
Nº 71009036302 (Nº CNJ: 0073271- COMARCA DE PORTO ALEGRE
85.2019.8.21.9000)

PREVIMPA - DEPARTAMENTO DE RECORRENTE


PREVIDENCIA DOS SERVIDORES DE
PORTO ALE

MARTA BORGES RECORRIDO

MINISTERIO PUBLICO INTERESSADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Juízes de Direito integrantes da Segunda Turma Recursal da
Fazenda Pública dos Juizados Especiais Cíveis do Estado do Rio Grande do Sul, à
unanimidade, negar provimento ao recurso.

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PODER JUDICIÁRIO
TURMAS RECURSAIS

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
DHD
Nº 71009036302 (Nº CNJ: 0073271-85.2019.8.21.9000)
2019/CÍVEL

Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores DR.ª


ROSANE RAMOS DE OLIVEIRA MICHELS (PRESIDENTE) E DR. MAURO
CAUM GONÇALVES.

Porto Alegre, 14 de maio de 2020.

DR. DANIEL HENRIQUE DUMMER,


Relator.

RELATÓRIO

Dispensado o relatório, nos termos dos art. 38 e 46 da Lei nº 9.099/1995.

VOTOS
DR. DANIEL HENRIQUE DUMMER (RELATOR)

Trata-se de RECURSO INOMINADO manejado por PREVIMPA -


DEPARTAMENTO DE PREVIDENCIA DOS SERVIDORES DE PORTO ALEGRE
em face de sentença que julgou procedente ação movida por MARTA BORGES.

A autora informou (fl. 04/14) ser viúva de servidor público, sustentando


direito a pensionamento. A parte demandada argumentou a ausência de prova de união
estável (fl. 206/209).

O pedido foi julgado procedente (fl. 285/286), sendo apresentado o presente


recurso inominado (fl. 300/307), em que o réu reprisa os argumentos da resposta, destacando
a realização de estudo social administrativo.

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2019/CÍVEL

Entendo que a sentença deve ser mantida.

Conforme descrito pela demandante na petição inicial, esta viveu em união


estável com o réu por muitos anos, e teve com ele três filhos. A existência de prole comum é
fato evidente.

A requerente reconhece que o casal chegou a se separar, apontando


motivação no alcoolismo do falecido para a ocorrência, mas afirma que acabaram retomando
a sociedade conjugal.

Logo, é incontroverso que as partes tiveram união estável desde o final da


década de 1980, tanto que tiveram o primeiro filho comum no ano de 1988. O último filho
nasceu em 1995 (fl. 35).

Também é induvidoso que se separaram, tanto que Antonio Gabriel pagava


pensão alimentícia aos filhos até dado momento. Conforme fl. 38, em 29 de março de 2005 o
falecido restou isento do pagamento de pensão alimentícia, pois os filhos passaram a viver
com o pai.

A autora sustentou a reconciliação do casal. Primeiro, de forma instável, no


ano de 2005, e, segundo alega (fl. 06), a partir de 2010 quando Antonio Gabriel veio morar
com a requerente, na cidade de Canoas. Alega que em Viamão apenas ficou residindo o filho
mais velho do casal e a irmã de Antonio Gabriel.

O Estudo Social e Parecer Técnico (fl. 80 e seguintes) realizados são


bastante contundentes, e apresentam relatos que não podem ser desconsiderados.

É o retorno do convívio comum que é o centro do debate na ação. Pela tese


da autora, viviam como casal em Canoas. Pela argumentação do Município, viviam
separados e a residência dele seria em Viamão.

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O Estudo Social e Parecer Técnico realizados são exaustivos, e apresentam


relatos que não podem ser desprezados. Contudo, mesmo naquela peça, a irmã do falecido
aponta que Antonio Gabriel passava a maior parte do tempo em Canoas, com a demandante.
Existe explicação para as inconsistências documentais apontadas pelo Município. A autora
contou no Estudo desavença com o filho Lukas, mas até esse informou que o pai residia com
a mãe no período imediatamente anterior ao óbito, porque ambos tinham retomado o
convívio conjugal.

Para corroborar, a prova testemunhal colhida durante a instrução reafirmou


que Gabriel morava com Marta na cidade de Canoas. Nessa linha, os relatos de Jaqueline da
Silva Rodrigues, Beloni de Jesus e Neuza da Silva.

Por tais fundamentos, impositivo reconhecer a manutenção da condição de


companheira até a data do óbito do servidor.

A Carta Política/1988 reconheceu a união estável como entidade familiar,


projetando efeitos jurídicos a relações eminentemente fáticas, deferindo proteção jurídica a
fatos sociais desde muito existentes.

§ 3º  Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o


homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em
casamento.

Também, o artigo 1.723 da Lei Civil:

Art. 1.723.  É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o


homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida
com o objetivo de constituição de família.

O artigo 25 da Lei Municipal 478/2002 aponta a condição de dependente


previdenciário à companheira:

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Art. 25. São dependentes dos segurados do RPPS: 


I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não-emancipado de
qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido;
II - os pais;
III - o irmão não-emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e
um) anos ou inválido;
IV - Vetado

Dessa forma, a sentença deve ser mantida por seus próprios fundamentos.

Ante o exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Inominado,


mantendo a sentença de procedência da demanda.
Condeno o MUNICÍPIO recorrente ao pagamento de honorários
advocatícios aos procuradores da parte adversa, que fixo em 20% sobre o valor da
condenação, nos termos do art. 55 da Lei 9.099/1995. Ainda, deverá pagar as custas
processuais, na forma do decidido no incidente de uniformização de jurisprudência nº
710071060991, atualmente suspenso, devendo eventual cobrança aguardar a definição
daquela demanda.

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INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. DETRAN-RS. ESTADO DO RIO GRANDE
DO SUL. LEI ESTADUAL N. 14.634/14. LEI DA TAXA ÚNICA. PAGAMENTO DAS CUSTAS
PROCESSUAIS QUANDO VENCIDA A FAZENDA PÚBLICA. ISENÇÃO PREVISTA NO ART. 5º, I, DA
LEI 14.634/2014 AFASTADA EM CASO DE SUCUMBÊNCIA. INCIDÊNCIA DO PREVISTO NO ART. 3º,
II, DA REFERIDA NORMA EM CONJUGAÇÃO COM O ART. 55 DA LEI 9.099/95 E ART. 27 DA LEI
12.153/2008. INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO ACOLHIDO, SEM EDIÇÃO DE ENUNCIADO NOS
SEGUINTES TERMOS: " 1. NOS PROCESSOS AJUIZADOS ANTES DE 15.06.2015, O ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL É ISENTO DO PAGAMENTO DE CUSTAS E OS MUNICÍPIOS E DEMAIS ENTES
PÚBLICOS RESPONDEM PELO PAGAMENTO DAS CUSTAS, POR METADE, EM APLICAÇÃO DO
ART. 11 DA LEI 8.121/85 E EM ATENÇÃO AO DECIDIDO NA ARGÜIÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE N. 700541334053 E N. 70038755864; 2. NOS PROCESSOS AJUIZADOS
APÓS 15.06.2015, ESTÃO OBRIGADOS AO PAGAMENTO, A FINAL, DA INTEGRALIDADE DAS
CUSTAS PROCESSUAIS, TODAS AS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO, QUANDO
VENCIDAS, NOS TERMOS DO ART. 3º, II, DA LEI 14.634/2014 COMBINADO COM O ART. 55, DA LEI
9.099/95 E ART. 27 DA LEI 12.153/2008.". INCIDENTE CONHECIDO E UNIFORMIZADO O
ENTENDIMENTO, POR MAIORIA, COM EDIÇÃO DE ENUNCIADO. (Incidente de Uniformizacao
Jurisprudencia Nº 71007106099, Turmas Recursais da Fazenda Pública Reunidas, Turmas Recursais, Relator:
Laura de Borba Maciel Fleck, Julgado em 28/08/2018)

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2019/CÍVEL

DR.ª ROSANE RAMOS DE OLIVEIRA MICHELS (PRESIDENTE) - De acordo com


o(a) Relator(a).

DR. MAURO CAUM GONÇALVES - De acordo com o(a) Relator(a).

DR.ª ROSANE RAMOS DE OLIVEIRA MICHELS - Presidente - Recurso Inominado nº


71009036302, Comarca de Porto Alegre: "À UNANIMIDADE, NEGARAM
PROVIMENTO AO RECURSO."

Juízo de Origem: 2. JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PUBLICA PORTO ALEGRE -


Comarca de Porto Alegre

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