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Curso: Direito

DISCIPLINA: Direito Civil II


UNIDADE: Floresta
FONTE DAS OBRIGAÇÕES:

No contexto jurídico, as fontes do direito são os meios pelos quais se formam ou


se estabelecem as normas jurídicas. trata-se, em outras palavras, de instâncias de
manifestação normativa: a lei, o costume (fontes diretas), a analogia, a
jurisprudência, os princípios gerais do direito, a doutrina e a equidade (fontes
indiretas) (GAGLIANO, PAMPLONA, 2018).

Há portanto, que se observar que a noção de fonte está ligada a uma ideia de
elemento gerador de algo. Tratando-se de direito das obrigações, refere-se aos
fatos jurídicos que podem dar origem ao vínculo obrigacional. E nesse sentido,
portanto, tem-se como fontes das obrigações: a Lei, os contratos, os atos ilícitos e
o abuso de direito, os atos unilaterais e os títulos de crédito.
Antes de analisar, no entanto, a fonte das obrigações no âmbito do Direito
atual, há que se analisar a origem no Direito Romano:

• contrato — compreendendo as convenções, as avenças firmadas entre duas


partes;
• quase contrato — tratava-se de situações jurídicas assemelhadas aos
contratos, atos humanos lícitos equiparáveis aos contratos, como a gestão de
negócios;
• delito — consistente no ilícito dolosamente cometido, causador de prejuízo para
outrem;
• quase delito — consistente nos ilícitos em que o agente atuou culposamente,
por meio de comportamento carregado de negligência, imprudência ou imperícia.
No direito contemporâneo (Código Civil 2002), tem-se as seguintes fontes
das obrigações:

• Lei;
• Contratos;
• atos ilícitos e o abuso de direito;
• atos unilaterais;
• títulos de crédito.
 A Lei:
Boa parte da doutrina civilista coloca a Lei como a fonte primeira da obrigações,
sendo certo que consideram que a obrigação surge em decorrência da existência
da lei que a determina. É fonte imediata. Álvaro Villaça Azevedo entende que a Lei
enquanto fonte primária (causa eficiente e suficiente da obrigação):

“é a vontade do estado. É a lei, o ordenamento jurídico positivo, que, fazendo


surgir certas obrigações, como vimos, acaba por regular todas as outras.
devemos, dessa forma, colocá-la em primeiro lugar, por ser um ato do Estado,
um ato de império; depois as outras fontes, que são o agir dos homens, vivendo
em sociedade”.

Há, entretanto, autores como Fernando Noronha que defende a posição de que a
lei sozinha não é fonte obrigacional, sendo necessária a presença da autonomia
privada
Outros autores, como Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona que não negam a lei
enquanto fonte primária, fazem algumas considerações em razão do fato de que
para eles, muito embora a lei seja fonte primária, ela decorre dos efeitos
obrigacionais deflagrados de uma determinada situação de fato.

Ex: A Lei determina o pagamento de alimentos (prestação alimentar), do pai ao


filho, por exemplo, esta causa é o próprio vínculo de parentesco existente entre pai
e filho – dessa forma, muito embora a lei exista como fonte primária, ela decorre
de uma situação de fato havida entre os sujeitos da relação obrigacional.
• A lei é, portanto, uma fonte imediata de direito da obrigação. Há fontes mediatas
de direitos obrigacionais tais quais o ato jurídico em sentido estrito (ato
humano cujas consequências já estão previamente estabelecidas em lei,
independentemente da vontade das partes – Ex:

Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono
ou legítimo possuidor.
Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se
não o encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente.

• O negócio jurídico também pode ser visto como fonte mediata, uma vez que
trata-se do exercício de autonomia privada (Ex: contrato, os atos ilícitos e o
abuso de direito, os atos unilaterais, etc.).
Contratos:
Os contratos embasam as diversas figuras tratadas pelo Código Civil. É uma das
principais fontes do direito das obrigações, até mesmo porque, a própria noção de
contrato parte de ato jurídico bilateral por meio do qual se materializa a declaração
de vontade de ao menos duas pessoas, em regular exercício da autonomia
privada destas para a criação, modificação e extinção de direitos e deveres, com
conteúdo patrimonial.
 Os atos ilícitos e o abuso de direito – Por ato ilícito entende-se a manifestação
da vontade humana que ofende ou viola a norma jurídica. Portanto, é ilícito o ato
de agente que dolosa ou culposamente causou dano a outrem. Assim, aquele que
por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violou direito e
causar dano a outrem, seja patrimonial, físico ou moral, comete ato ilícito,
devendo, portanto, indenizar o ofendido. Na mesma esteira, tem-se a figura do
abuso de direito. Nesse sentido, comete ato ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. O ato ilícito está previsto nos arts. 186
e 187 do Código Civil, sendo que o primeiro trata especificamente do ato ilícito,
enquanto o segundo cuida melhor da figura do abuso de direito.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Exceções: Não constituem atos ilícitos:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:


I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito
reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de
remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites
do indispensável para a remoção do perigo.
Atos unilaterais – são as declarações unilaterais de vontade, fontes do direito
obrigacional que estão previstas no Código Civil, caso da promessa de
recompensa, da gestão de negócios, do pagamento indevido e do
enriquecimento sem causa.

Ao contrário do que se tem nos contratos, que partem de atos bilaterais (vontade
de duas pessoas ao menos), nos atos unilaterais a obrigação nasce da simples
declaração de uma única parte, formando-se no instante em que o agente se
manifesta, com a intenção de assumir um dever obrigacional. Sendo emitida a
declaração de vontade, esta se torna plenamente exigível ao chegar ao
conhecimento a quem foi direcionada. Ex:

• promessa de recompensa (arts. 854 a 860 do CC);


• gestão de negócios (arts. 861 a 875 do CC);
• pagamento indevido (arts. 876 a 883 do CC);
• enriquecimento sem causa (arts. 884 a 886 do CC).
Promessa de Recompensa (arts. 854 a 860, CC):
Art. 854. Aquele que, por anúncios públicos, se comprometer a recompensar,
ou gratificar, a quem preencha certa condição, ou desempenhe certo serviço,
contrai obrigação de cumprir o prometido.
Art. 855. Quem quer que, nos termos do artigo antecedente, fizer o serviço, ou
satisfizer a condição, ainda que não pelo interesse da promessa, poderá exigir
a recompensa estipulada.
Art. 856. Antes de prestado o serviço ou preenchida a condição, pode o
promitente revogar a promessa, contanto que o faça com a mesma publicidade;
se houver assinado prazo à execução da tarefa, entender-se-á que renuncia o
arbítrio de retirar, durante ele, a oferta.
Parágrafo único. O candidato de boa-fé, que houver feito despesas, terá
direito a reembolso.
Art. 857. Se o ato contemplado na promessa for praticado por mais de um
indivíduo, terá direito à recompensa o que primeiro o executou.
Gestão de Negócios (arts. 861 a 875, CC):

Na gestão de negócios há uma atuação sem poderes, uma hipótese em que a parte
atua sem ter recebido expressamente a incumbência. O gestor, que age sem mandato,
ficando diretamente responsável perante o dono do negócio e terceiros com quem
contratou. A gestão, pela ausência de orientação dada pelo dono, não tem natureza
contratual, pois está ausente o prévio acordo de vontades - gestão pode ser provada de
qualquer modo, eis que se trata de negócio jurídico informal. A posição do gestor é
delicada, pois, além de não ter direito a qualquer remuneração pela atuação (negócio
jurídico benévolo), deve agir conforme a vontade presumível do dono do negócio, sob
pena de responsabilização civil. (TARTUCE, 2020).

Art. 861. Aquele que, sem autorização do interessado, intervém na gestão de negócio
alheio, dirigi-lo-á segundo o interesse e a vontade presumível de seu dono, ficando
responsável a este e às pessoas com que tratar.
Pagamento Indevido (arts. 876 a 883, CC):

De acordo com o art. 876 do CC, “todo aquele que recebeu o que não lhe era devido
fica obrigado a restituir; obrigação que incumbe àquele que recebe dívida
condicional antes de cumprida a condição”. O Código Civil de 2002, acertadamente,
trata o pagamento indevido como fonte obrigacional.
Utilizando os ensinamentos de Silvio Rodrigues, pode-se afirmar que o
enriquecimento sem causa é gênero, do qual o pagamento indevido é espécie:
Havendo o pagamento indevido, agirá a pessoa com intuito de enriquecimento sem
causa, visando ao locupletamento sem razão. Duas são as modalidades básicas de
pagamento indevido:

•Pagamento objetivamente indevido – quando a dívida paga não existe ou não é


justo o seu pagamento. Exemplo: a dívida foi paga a mais, com valor maior ao
pactuado.
•Pagamento subjetivamente indevido – quando realizado à pessoa errada. Exemplo:
pagou-se a quem não era o legítimo credor.
Do enriquecimento sem causa (arts. 884 a 886, CC)

Trata-se de inovação do Código Civil de 2002. Baseia-se no Princípio da Eticidade,


visando ao equilíbrio patrimonial e à pacificação social. Assim, nos termos do art. 884, do
Código Civil, “aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será
obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários”.
Em complemento, prevê o parágrafo único do dispositivo que “se o enriquecimento tiver
por objeto coisa determinada, quem a recebeu é obrigado a restituí-la, e, se a coisa não
mais subsistir, a restituição se fará pelo valor do bem na época em que foi exigido.”
De acordo com o Direito Civil Contemporâneo, concebido na pós-modernidade e a partir
dos ditames sociais e éticos, não se admite qualquer conduta baseada na especulação,
no locupletamento sem razão. Desse modo, o enriquecimento sem causa constitui fonte
obrigacional, ao mesmo tempo em que a sua vedação decorre dos princípios da função
social das obrigações e da boa-fé objetiva. O atual Código Civil brasileiro valoriza aquele
que trabalha, e não aquele que fica à espreita esperando um golpe de mestre para
enriquecer-se à custa de outrem. O CC/2002 é inimigo do especulador, daquele que
busca capitalizar-se mediante o trabalho alheio. (TARTUCE, 2020).
Categoricamente, o enriquecimento sem causa não se confunde com o
enriquecimento ilícito. Na primeira hipótese, falta uma causa jurídica para o
enriquecimento. Na segunda, o enriquecimento está fundado em um ilícito. Assim,
todo enriquecimento ilícito é sem causa, mas nem todo enriquecimento sem causa
é ilícito. Um contrato desproporcional pode não ser um ilícito e gerar
enriquecimento sem causa. (TARTUCE, 2020).
 Títulos de Crédito:
Os títulos de crédito, previstos no art. 887, do Código Civil, são documentos
necessários ao exercício do direito literal e autônomo nele contido e somente
produz efeito quando preenche os requisitos da lei: representam um crédito
relacionado a uma transação no mercado, facilitando e impulsionando a economia,
pois substituem a moeda corrente ou o dinheiro em espécie e dão segurança ao
negócio realizado - gera uma obrigação do devedor em relação a um credor. Na
norma processual, possuem a natureza de título executivo extrajudicial.
Ex: duplicata, letra de câmbio, cheque, nota promissória.

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