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A pandemia da COVID-19, que provoca a mais grave crise sanitária no mundo neste primeiro

quarto do século XXI, gerou muitos e diversos debates. De um especialista a uma dona de casa,
o assunto é o mais comentado. E cada um, a sua escolha, faz a defesa que tem mais
proximidade com seu histórico de vida e relações pessoais.

Mas a COVID-19 traz à tona outro grande debate, este mais restrito, mas com o mesmo
impacto. O tipo de desenvolvimento socioeconômico que o mundo quer para si. É um debate
que parece apenas técnico, mas que nestes momentos de crise é fundamental e deve ser
compartilhado por toda sociedade. No centro deste debate está o povo, o ser humano.

Mas a história registra que nestes momentos de crises há uma disputa sobre a realidade. O
que de fato ocorreu. Assim a queda do Muro de Berlim, um dos acontecimentos mais
marcantes do final do século XX, tornou-se um registro da decadência do bloco socialista que
existia no Leste Europeu, o que culminou com a derrocada mundial do socialismo como
alternativa de sistema econômico. Os capitalistas aproveitaram para decretar sua morte. E
com ela avançaram na pauta neoliberal de globalização para os ricos e reformas para os
pobres.

Mas o que é possível dizer sobre os EUA como líderes do sistema capitalista?

Os Estados Unidos foram o epicentro da crise que atravessou o mundo no início do século 21.
Nos aspectos políticos, econômicos e sociais. E que culmina com a crise política e
socioeconômica vivida pela pandemia da Covid-19.

O corona vírus promoveu a falência múltipla do sistema capitalista. O muro de defesa de suas
ações caiu. A necessidade de reformas, de corte de gastos, a meritocracia e o
empreendedorismo como alternativas ao trabalho regulado e justo, a falta de prioridade no
combate às desigualdades – como ter um sistema de saúde público –, entre outras teses,
deram lugar a pautas até então “socialistas”, como renda básica, um Estado forte e atuante...

Mas a defesa de um sistema soberano e coletivo ainda precisa ser escrita, debatida e
compartilhada.

A sociedade precisa saber em que aspectos e como o capitalismo foi responsável por esta
situação de terra arrasada. Em que países ricos, antes exemplos para os países pobres, não
possuem estruturas básicas de renda, sejam empresas ou trabalhadores. Não possuem
capacidade industrial para produzir respiradores e máscaras. Não possuem poupança para
sobreviver por dois ou três meses. Não possuem organização para administrar seus estados e
municípios. Como de uma hora para outra, o sistema mais perfeito e democrático dos tempos
modernos se dá o direito de confiscar produtos, romper com qualquer sistema mínimo de
trocas legais.

A sociedade precisa entender que ações o sistema capitalismo adotou muito antes de o
mundo conhecer a Covid-19: na área da saúde, nas finanças, na política, no trabalho, na
educação, nas relações internacionais, no direito, na infraestrutura, nas tecnologias, na
comunicação, nas artes, nas famílias, nos indivíduos, entre tantos outros aspectos.

Em função disso que o presente livro contribui com o debate ao buscar agregar o histórico da
ruína do sistema capitalista, mais ou mesmo tempo mostrar que suas teses, que tinham apoio
da maioria da sociedade, não são eficientes. E que o sistema capitalista não pensa no coletivo.
E o mundo é coletivo e o capitalismo se tornou o epicentro político e socioeconômico da crise
aberta pela pandemia do corona vírus.
O desafio desta publicação que se apresenta de maneira ensaísta ousa ir além das
superficialidades atualmente existentes. Por isso, reuniu pensadores que produzam textos
urgentes. Que entendam a urgente prioridade de se organizar o pensamento crítico e dar
condições de a sociedade em geral não aceitar a continuidade e liderança do capitalismo acima
dos países e das pessoas.

Assim sendo, podemos concluir que a globalização, representada aqui pela construção de
políticas públicas no âmbito dos organismos internacionais e das relações entre atores
subnacionais, levam à fragmentação da ideia de soberania, uma vez que boa parte dos países
precisa cooperar, em múltiplos níveis, para resolver o problema global da pandemia - inclusive
porque há pressões internas demandando que ele crie uma agenda de cooperação. Todas
essas pressões levam, no fim, ao enfraquecimento do poder soberano do Executivo central.
Ainda assim, a interpretação das ações dos Estados Unidos é a prova de que há, em alguns
casos, o reforço da soberania por meio de reações realistas, embora sejam questionáveis os
resultados dessas atitudes no sistema internacional.

Pandemia, Isolamento Social e Tecnologia

Com o avanço das tecnologias de comunicação, o mundo se tornou mais conectado,


possibilitando que as informações sejam em tempo real. Com isso, problemas como a
epidemia do corona vírus identificados inicialmente na China fosse de conhecimento de
praticamente grande parte da população mundial.

Nesse sentido, as autoridades governamentais ao tomarem conhecimento do novo


coronavírus, teriam condições de antecipar medidas tanto preventivas quanto curativas. Uma
das modalidades adotadas no enfrentamento da pandemia foi o isolamento social, visando
impedir a continuidade do fluxo humano, ocasionador da difusão do vírus. Por conta disso,
ganhou dimensão o exercício crescente de muitas atividades em casa. Nessas atividades, o
trabalho, o entretenimento, educação, entre outros ampliaram o uso recorrente das
tecnologias de informação e comunicação.

As firmas prestadoras serviços onlines desse setor passaram a ser ainda mais demandadas.
Várias empresas têm adotado alternativas para atender seus clientes e não sofrerem prejuízos
drásticos. Uma das alternativas tem sido o investimento na ampliação do plano de negócios,
como serviços onlines operados por grandes corporações transnacionais (Apple, Disney,
Amazon) através das plataformas de streaming (Apple TV, Disney Plus e Amazon Prime). Para
essas empresas, o cenário da quarentena se revelou tanto uma oportunidade como um grande
desafio. De um lado, as plataformas de streaming elevam os lucros, podendo conter parte dos
prejuízos verificados no fechamento de lojas. De outro, a proliferação da demanda dos
serviços por recente número de clientes indica a perda de qualidade, prejudicando os demais
canais digitais já existentes.

Além disso, as medidas de isolamento social impostas pelos governos para combater o novo
coronavírus foram acompanhadas da expansão do trabalho em casa (Home Office).
Inicialmente, as empresas sem grandes experiências na organização do trabalho à distância
estabeleceram aos seus empregados a opção do trabalho em casa. Mas rapidamente, pelo
sucesso alcançado, essas mesmas empresas passaram a tornar obrigatoriamente o exercício
do teletrabalho. Ainda no período de pandemia, essa mudança no ambiente de trabalho
terminou sendo difundida para as demais empresas de vários setores econômicos. Nesse
sentido, grandes corporações transnacionais como Intel e AMD, por exemplo, rapidamente se
reestruturaram na prevalência do trabalho de seus empregados na condição do Home Office1.

É evidente que a organização do teletrabalho não se aplica generalizadamente a todos os


setores de atividade econômica, como restaurantes, indústrias, agricultura e eventos culturais.
No caso dos serviços de transporte e turismo, por exemplo, os prejuízos foram imediatos e
profundos, sem permitir que o trabalho em casa pudesse evitar os constrangimentos gerados
pelo SARS-CoV 2 e pela adoção do isolamento social 2.

No que se refere à condição do exercício laboral em casa, começam a surgir os primeiros


questionamentos. Inegavelmente, o Home Office constitui alternativa de manutenção do
trabalho diante da prevalência de quarentena, impedindo que as empresas tenham ainda
maiores prejuízos pela paralisação da produção.

Por outro lado, o trabalho à distância impõe novidades até então desconhecidas em relação ao
controle da jornada laboral, intensidade de esforços e repercussões mais gerais relacionadas
ao convívio doméstico e familiar. Um dos aspectos já identificado pelo Home Office é o uso
excessivo de horas em atividades do trabalho, contraindo o tempo disponível para o livre
arbítrio em relação à família e em outras possibilidades de convivência. Como o indivíduo não
está presente no local tradicional de exercício de trabalho, o controle da jornada desaparece,
passando ser constante demandado pelo teletrabalho e desconectado da relação da
remuneração com a produtividade.

Ao mesmo tempo, constata-se também indícios de novas doenças profissionais. Em geral,


associadas aos aspectos emocionais (frustração, estresse, cansaço) até então pouco
identificados no tradicional exercício do trabalho fora de casa.

Por fim, a tecnologia de informação e comunicação não se encontra somente relacionada ao


trabalho e ao entretenimento, mas também associada a praticamente todas as dimensões da
vida humana.

Exemplo disso pode ser percebido na esfera educacional, quando escolas e universidades
passam a providenciar metodologias tecnológicas para o Ensino a Distância (Ensino Digital com
uso de plataformas online que permite ter conversa com diversas pessoas) como forma de
sustentar o processo de ensino e aprendizagem aos alunos.

De forma geral, o cenário da crise de pandemia parece compatível com a expansão do uso das
redes sociais, cada vez mais importantes na manutenção da sociabilidade em condições
excepcionais de isolamento social. Assim, o monitoramento do vírus possibilitado por diversas
instituições, por exemplo, tem ajudado as pessoas estarem informadas sobre o contexto do
mundo, bem como o acesso a informações que permitam proteger da transmissão e infecção
da nova corona vírus.

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