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Universidade de Brasília

Instituto de Relações Internacionais


Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais

ARNALDO MONTEIRO COSTA JÚNNIOR

A história da Agência Brasileira de Inteligência:


A contra-inteligência organizacional

Brasília – DF
Abril, 2011
ARNALDO MONTEIRO COSTA JÚNNIOR

A história da Agência Brasileira de Inteligência:


A contra-espionagem organizacional

Trabalho de conclusão de Curso


de Especialização em Relações
Internacionais para a Universidade
de Brasília, apresentado como
requisito parcial à obtenção do
título de Especialista em Relações
Internacionais.

Orientador: Pio Penna Filho

Brasília
2011

2
FICHA CATALOGRÁFICA

Costa Júnnior, Arnaldo Monteiro.


A história da Agência Brasileira de Inteligência: A contra-
espionagem organizacional / Arnaldo Monteiro Costa Júnnior;
Orientador: Pio Penna Filho – Brasília, 2011.
46p.
Trabalho de Conclusão de Curso. Instituto de
Relações Internacionais / Universidade de Brasília.
Curso de Especialização em Relações Internacionais.
1. ABIN 2. Contra-espionagem organizacional
Instituto de Relações Internacionais.

3
Dedico este trabalho à minha bisavó
Ducelina que aos 96 anos de idade
contagia a todos com sua alegria e
sabedoria!

4
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais (Arnaldo e Lucinha) e aos meus irmãos


queridos (Anderson e Aline) por seu apoio e amor incondicional.

5
RESUMO

O presente estudo analisa os conceitos e o contexto histórico


das atividades de Inteligência na esfera internacional. Estamos
inseridos num mundo globalizado onde somos bombardeados por
uma miríade de informações diariamente. Cabe à atividade de
Inteligência à coleta e análise de tais informações para descobrir o
que pode ser maléfico. A Contra-Inteligência e a Espionagem são
métodos utilizados para tal feito, tendo em vista as novas
operações de nível organizacional. O que antes tinha teor
ideológico, hoje a atividade é empresarial. As principais agências
internacionais são identificadas e o papel da Abin é analisado tanto
no âmbito interno quanto externo. Os programas de contra-
inteligência utilizados pela Abin também são analisados. O
presente estudo busca fazer uma análise do papel da Abin e das
demais agências de inteligência no que se referem os temas como
biotecnologia, espacial, armas de destruição em massa,
proliferação nuclear. A atenção das agências de inteligência hoje
são voltadas a tais temas que implicam na ordem de relação entre
os Estados.

6
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: A atuação do Sfici..............................…………………16

Figura 2: A atuação do SNI……………………………………………..17

Figura 3: Linha do tempo da inteligência brasileira....................19

Figura 4: Logo da ABIN.........................................................20

Figura 5: Logo da CIA...........................................................31

Figura 6: Logo do MI6...........................................................32

Figura 7: Logo da KGB..........................................................34

Figura 8: Logo da Mossad......................................................35

Figura 9: Logo da BND..........................................................37

Figura 10: Logo do PRONABENS............................................41

7
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Competências da ABIN.......................……………… 20

Quadro 2: Objetivos do PRONABENS.................................... 42

8
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................ 10

CAPÍTULO 1 – CONCEITOS E HISTÓRIA........................ 12


1.1 Atividade de inteligência.......................................... 12
1.2 Atividade de inteligência no Brasil............................. 15

CAPÍTULO 2 – A INTELIGÊNCIA NO ÂMBITO


ORGANIZACIONAL........................................................ 22
2.1 Contra-inteligência e segurança de informações........... 22
2.2 O perfil organizacional da inteligência......................,. 25
2.2.1 Inteligência de Segurança.................................. 28
2.2.2 Agências internacionais de inteligência............... 31

CAPÍTULO 3 – OS PROGRAMAS DE CONTRA-INTELIGÊNCIA


DA ABIN........................................................................ 39
3.1 O PNPC.................................................................... 39
3.2 O PRONABENS.......................................................... 41

CONCLUSÃO.................................................................. 43

REFERÊNCIAS............................................................... 45

9
INTRODUÇÃO

No mundo atual há um crescente número de discussões e


estudos sobre a atividade de Inteligência. No decorrer da história
das relações internacionais, ela sempre teve o seu papel de
destaque mesmo que muitas vezes discretamente, afinal a
espionagem é considerada a segunda profissão mais antiga do
mundo.
A área de atuação dos órgãos de Inteligência não possui
limite algum, seja ele no campo interno ou externo. Os serviços de
Inteligência estão inseridos na estrutura governamental dos Estados
e tem como principal função a coleta de informações para que o
Estado se previna contra possíveis ameaças. A espionagem, uma
das atividades de Inteligência, ocorre quando se consegue obter
informações sobre um outro Estado ou organização sem sua
autorização. Grande parte dos serviços de inteligência já se
beneficiou com o uso dos serviços secretos.
No século XVI, os ingleses foram pioneiros na organização
de uma rede de informações cujas atividades incluíam o
recrutamento de agentes dentro e fora do país. Para não levantar
suspeitas, os agentes atuavam disfarçados como diplomatas,
artistas e homens de negócios. Já no reinado de Luís XIV na
França, o primeiro serviço de inteligência institucional foi criado.
Séculos passaram-se e a atividade continuava a atua de forma
tímida. Isso mudaria no século XX após a Primeira Guerra
Mundial. As grandes potências investiram pesadamente em
Inteligência e instituíram agências que teriam informantes
espalhados no globo. Após a Segunda Guerra Mundial, as
principais agências de inteligência atuaram clandestinamente com o
intuito de roubar informações sobre tecnologia uma das outras. No
período da Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética
opuseram o mundo a guerra ideológica: o capitalismo contra o
comunismo. Nessa arena, a CIA e KGB tornaram-se imprescindíveis
para que seus ataque e manobras fossem bem sucedidos. Foi
justamente durante a corrida armamentista entre as duas potências
que se notou a real importância das atividades de Inteligência.
As principais agências de Inteligência no mundo foram a CIA
norte-americana, a KGB da União Soviética, o MI6 da Inglaterra, a
Mossad israelense e o BND alemão.
No Brasil, a história da Inteligência remonta ao ano de 1927,
ainda no governo de Washington Luís quando o Conselho de Defesa
Nacional foi instituído. No entanto, o primeiro serviço de
inteligência brasileiro só foi criado em 1956 durante o governo de
Juscelino Kubtschek. O Serviço Federal de Informações e Contra-
Informação ou simplesmente Sfici funcionaria até o golpe militar
de 1964. A partir daí seria denominado de Serviço Nacional de
Informações (SNI), órgão que foi bastante temido uma vez que
atuou na repressão à esquerda e aos movimentos sociais.

10
Somente três décadas após o início da ditadura militar, o
Brasil teria de fato uma agência de inteligência que não fosse
liderada por um militar, mas sim por um civil. No governo de
Fernando Henrique, foi criada a Abin (Agência Brasileira de
Inteligência). Atualmente, a maior parte das ações da agência estão
relacionadas à investigação de crimes políticos e a fiscalização de
seus programas de inteligência: o PNPC e o PRONABENS.

O estudo está baseado nos seguintes objetivos:


• Apresentar o conceito e o contexto histórico da
atividade de Inteligência no mundo e no Brasil
• Apresentar e discutir conceitos de Contra-inteligência,
Espionagem e Inteligência Organizacional
• Discorrer sobre as principais agências de Inteligência
no mundo e a representante nacional
• Identificar os programas de Inteligência da Abin e seus
desafios: inteligência competitiva, biotecnologia e
armas de destruição em massa.

A metodologia usada nessa monografia caracteriza-se como


um estudo descritivo-analítico, sustentado por pesquisa
bibliográfica e documental: livros, revistas especializadas,
manuais, sites e dados oficiais colocados na internet.
A monografia está organizada em três capítulos. O primeiro
apresenta conceitos e o contexto histórico da atividade de
Inteligência no mundo e no Brasil. O segundo analisa a atividade
de Inteligência no âmbito organizacional focando na espionagem
empresarial, além de enumerar e discorrer sobre as principais
agências de Inteligência do mundo. O último apresenta os
programas de contra-inteligência usados pela Abin para combater a
ameaça crescente da Inteligência competitiva.

11
CAPÍTULO 1

CONCEITOS E HISTÓRIA

1.1 A atividade de inteligência

Desde os tempos primórdios, a atividade de Inteligência vem


sendo utilizada nos interesses das nações. O livro A Arte da
Guerra, atribuído ao general chinês Sun Tzu, já identificava, no
distante século 4 a.C., os tipos de espiões e táticas utilizadas pelos
estrategistas da época. Alexandre, o Grande, tinha o hábito o de
interrogar viajantes provenientes de outros territórios para
conhecer detalhes sobre outras culturas e povos. Tal atitude lhe
propiciara grande utilidade na invasão do Império Persa.
No século XX, durante a Segunda Guerra Mundial, as forças
militares das potências envolvidas produziram códigos para que
assim pudessem transmitir suas mensagens, impossibilitando a
descoberta de seus segredos pelos inimigos.
Em 1942, uma das maiores batalhas navais foi travada entre
os Estados Unidos e o Japão, seis meses depois do ataque japonês a
base norte-americana Pearl Habor. Na batalha de Midway como
ficou conhecida, os americanos acompanhavam o tráfego de
mensagens criptografadas enviadas pelo governo japonês e as
decifraram.

Intelligence is concerned with that


component of the struggle among nations
that deals with information. Intelligence
seeks to learn all it can about the world. But
intelligence can never forget that the
attainment of the truth involves a struggle
with human enemy who is fighting back and
that truth is not the goal but rather only a
means toward victory. (SHULSKY,
1992:197)

O termo inteligência pode ser compreendido através de três


diferentes significados: um tipo de informação, uma atividade
peculiar e um tipo de organização.
A inteligência quando tratada como informação é avaliada e
submetida a um processo especial de elaboração cujo objetivo
fundamental é auxiliar os decisores no processo de tomada de
decisões.

12
[...] intelligence is best defined as
information collected, organized, or
analyzed on behalf of the actors or decision
makers. Such information include technical
data, trends, rumors, pictures, or hardware.
(SIMS, 1995:4)

Através dessa definição podemos depreender que o objetivo


básico da inteligência é a produção de um conhecimento específico
para os decisores, visando aumentar a probabilidade de uma
decisão correta.
O segundo significado a ser considerado em sua definição é
seu caráter conflitivo. Como atividade, a inteligência atuará em um
ambiente onde o sigilo é fundamental. Entraria aqui a competição
entre aqueles Estados que não desejam que seus conhecimentos,
atividades ou ações sejam descobertos.

Intelligence comprises the collection and


analysis of intelligence information –
information relevant to the formulation and
implementation of governmental national
security policy (...). Therefore, intelligence
as an activity may be defined as that
component of the struggle between
adversaries that deals primarily with
information. (SHULSKY, 1991:2)

De acordo com Shulsky, como o governo tem que estar


sempre processando informações, é justamente o segredo e a
necessidade de proteção que definem o que deve e o que não deve
ser considerado um produto de inteligência.
Finalmente o terceiro significado seria o da inteligência
como organização. Seria uma espécie de órgão do Estado baseado
no segredo e cujo produto, embora reverta em favor da sociedade,
não está acessível a ela. Para prevenir algum ataque contra a
sociedade, comissões de controle da atividade de inteligência são
criadas e exercidas pelo parlamento. A partir de um contexto
organizacional é interessante destacar uma definição mais precisa
sobre a atividade de inteligência apresentada por Michael Herman.

Intelligence in government is based on the


particular set of organizations with that
name: the “intelligence services” or
“intelligence community”. Intelligence
activity is what they do, and intelligence
knowledge, what they produce. (HERMAN,
1996:2)

13
É sabido que o senso comum geralmente associa a atividade
de inteligência a espionagem, trapaças e chantagens, imagem
amplamente estimulada pela literatura ficcional e pela mídia. Não
somente devemos fazer essa diferenciação como compreendermos
que a atividade de inteligência refere-se a certos tipos de
informações, relacionadas à segurança de Estado, às atividades
desempenhadas no sentido de obtê-las ou impedir que outros países
a obtenham e por fim às organizações responsáveis pela realização
e coordenação da atividade no Estado.

Do ponto de vista operacional, [..] os


critérios mais importantes para a distinção
entre inteligência e outros tipos de
aquisição de informações são o grau de
intervenção humana requerido para a análise
e a disseminação dos dados obtidos,
associados ao grau de vulnerabilidade das
fontes de informação às contramedidas de
segurança e à conseqüente necessidade de
segredo para a proteção das atividades de
inteligência. (CEPIK, 2003:32)

Assim poderíamos esclarecer o motivo que levam aos


governos a possuírem serviços de inteligência através de oito
utilidades. Primeiramente, a inteligência contribui para o que o
processo decisório governamental seja mais racional e realista e
não baseado em evidências e reflexão. O processo de interação
entre os decisores e os oficiais de inteligência produz efeitos
cumulativos.
A possibilidade de apoio ao planejamento de capacidades
defensivas e ao desenvolvimento a aquisição de sistemas e armas.
A obtenção de informações relevantes através das negociações
diplomáticas em várias áreas. A capacidade de subsidiar o
planejamento militar e a elaboração de planos de guerra. A
antecipação quanto aos possíveis contra-ataques surpresa alertando
aos responsáveis civis e militares.
A monitoração dos alvos e ambientes externos prioritários
reduzindo assim a incerteza e aumentando o conhecimento e a
confiança. E finalmente, os sistemas de inteligência preservariam o
segredo sobre as necessidades informacionais uma vez que é do
interesse dos adversários saber de tais coisas.

14
1.2 A atividade de inteligência no Brasil

A história da atividade de inteligência no Brasil se deu


através da criação do Conselho de Defesa Nacional em 1927, órgão
subordinado diretamente ao Presidente Washington Luís. Na
corrente década, o país assistia a ascensão do tenentismo e o
surgimento de movimentos operários que objetivavam mudanças
profundas em sua estrutura política e social. Esse foi um dos
motivos que levou o governo brasileiro a criar um organismo de
Inteligência.
O Conselho de Defesa Nacional tinha como missão reunir
“informações sobre todas as questões de ordem financeira,
econômica, bélica e moral, relativas à defesa da pátria”. Na
prática, o conselho tinha o direito de, por exemplo, investigar a
vida pessoal de adversários políticos do presidente ou espionar
operários em greve. Embora possuísse uma abrangência enorme em
seu campo de atuação, o conselho não podia ser considerado um
serviço secreto, pois lhe faltava o básico: os agentes secretos.
Em outubro de 1945, um mês após o fim da Segunda Guerra
Mundial, Getúlio Vargas foi derrubado por um golpe militar. O
substituto de Getúlio foi seu ex-ministro da Guerra por quase nove
anos, o general Eurico Gaspar Dutra. No ano seguinte, o general-
presidente criou oficialmente o primeiro serviço secreto brasileiro
chamado Serviço Federal de Informações e Contra-Informação, ou
simplesmente Sfici.
Apesar de ser civil, o Sfici ficaria subordinado ao Conselho
de Segurança Nacional (novo nome do Conselho de Defesa
Nacional), instituição federal legalmente apta a levantar e
processar informações para o presidente. Ficou estabelecido que o
Sfici estaria encarregado de duas missões: levantar informações e
preparar o país para a guerra.

15
Figura 1: A atuação do Sfici (1956-1964)

Presidência
da República Conselho de
Segurança Nacional

Ministérios Ministérios
Civis Militares

SFICI

Com o golpe militar em 1964, o Sfici foi extinto. No mesmo


ano foi criado o Serviço Nacional de Informações – SNI e tinha
como prioridades:

Subsidiar o presidente da República na


orientação e coordenação das atividades de
informações e contra-informações;
estabelecer e assegurar os necessários
entendimentos e ligações com os governos
de estados, com entidades privadas e
quando for o caso com as administrações
municipais; proceder à coleta, avaliação,
integração das informações em proveito
das decisões do presidente da República e
dos estudos do CSN; promover a difusão
adequada das informações.
Lei nº4.341, de 13 de junho de 1964.

O SNI incorporou todo o acervo do Sfici e também todos os


funcionários civis e militares que nele exerciam funções. Na
prática, foram criadas uma Agência Central e doze Agências
Regionais, distribuídas por todo o território nacional.
Na comparação com outros serviços secretos, o SNI era um
campeão de poderes: sua área de atuação era mais abrangente; seu
grau de autonomia era maior; o status do seu chefe era mais
elevado; a fiscalização externa não existia sendo assim a menor de
todas e o poder de interferência em outros órgãos do Estado era
gigantesco.

16
Figura 2: A atuação do SNI (1964-1985)

Presidência
da República SNI

Ministérios Ministérios
Civis Militares

O sistema nacional de informações estava estruturado como


uma grande rede. Para cada ministério havia uma divisão de
segurança e informação, cada autarquia ou estatal possuía uma
assessoria de segurança e informação de forma a fornecer
informações para a agência central do serviço que estava
onipresente em todos os estados do país. Seu modelo
organizacional era similar àquele utilizado pelo antigo SFICI, onde
um órgão superior encontrava-se numa posição intermediária entre
os resultados da Inteligência e o Presidente da República.
O SNI persistiu até mesmo depois do final da ditadura
militar. Somente no governo de Fernando Collor o órgão seria
extinto passando por uma ampla reforma administrativa. Para a
continuidade do exercício da atividade de informações, foi criada a
Secretaria de Assuntos Estratégicos – SAE. No governo Collor, a
Secretaria de Assuntos de Defesa Nacional (Saden) foi extinta e
tanto o chefe do Estado Maior das Forças Armadas como o chefe do
Gabinete Militar perderam seus respectivos status de ministros.
Em 1994, o primeiro seminário sobre inteligência no país foi
realizado nas dependências da Câmara dos Deputados. Intitulado
por “As Atividades de Inteligência em um Estado Democrático –
Atualidade e Perspectivas” teve a participação de políticos,
membros do executivo, estudiosos da área e diplomatas de outros
países.

17
o exercício permanente de ações
especializadas orientadas para a produção de
conhecimentos em proveito da política
nacional, especificamente no tocante à
soberania nacional e à defesa do Estado
democrático e para a salvaguarda de
segredos que ao Estado interessa proteger.
(Ministério a Justiça. Apud. ANTUNES,
2002:146)

Embora o seminário não tenha tinha grandes realizações,


ficou claro que o Brasil precisava direcionar as ações de
inteligência também para o exterior e não só permanecer em sua
abrangência doméstica. Então, em 1996 a Escola Superior de
Guerra criou o Curso Superior de Inteligência Estratégica (CSIE)
que tinha como objetivo: a habilitação de civis e militares par
exercer funções de direção e assessoria em inteligência e a
contribuição para o aperfeiçoamento das atividades de Inteligência.
Com o impeachment de Collor em 1992, Itamar Franco
ascendeu à Presidência. Em seu governo, os destinos da atividade
de inteligência eram incertos. Nesse mesmo ano, foi criada a
Subsecretaria de Inteligência que embora mantivesse a mesma linha
de pensamento, lhe faltava acesso direto ao Presidente.
Durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso,
a atividade de inteligência ficou subordinada ao GSI (Gabinete de
Segurança Institucional) e foi autorizada a criação da Agência
Brasileira de Inteligência – Abin. No entanto, a lei só foi
sancionada quatro anos depois e junto com a agência também foi
instituído o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) e criado o
Ministério da Defesa. A nova entidade teria dentre suas
finalidades, planejar e executar atividades de natureza permanente,
relativas ao levantamento, coleta, análise de informações assim
como atividades de natureza sigilosa, necessárias à segurança do
Estado e da sociedade.

18
Figura 3: Linha do tempo da inteligência brasileira

A Abin é um órgão de Estado e tem como missão a


coordenação das ações do Sistema Brasileiro de Inteligência –
Sisbin e a supervisão e controle da atividade de inteligência. Seu
objetivo estratégico é o desenvolvimento de atividades de
inteligência voltadas para a defesa do Estado, da sociedade e da
soberania nacional.
A Lei número 9.8883 que regulamentou a criação da Abin
define a atividade de inteligência como:

uma atividade que objetiva a obtenção,


análise e disseminação de conhecimentos
dentro e fora do território nacional sobre
fatos e situações de imediata ou potencial
influência sobre o processo decisório e a
ação governamental e sobre a salvaguarda e
a segurança da sociedade e do Estado... e
como contra-inteligência uma atividade que
objetiva neutralizar a inteligência adversa.
(Medidas Provisórias número 1.799-1 e
número 1.99910, apud, ANTUNES,
2002:173)

19
Figura 4: Logo da ABIN

A logomarca da Abin configura-se da seguinte forma: a


informação é representada dentro da esfera azul-celeste; o globo
circundado pelos anéis coloridos implica na localização geográfica
em que o Brasil se encontra, abaixo do Cruzeiro do Sul. O
movimento por completo está envolto em um círculo azul-real que
sugere proteção e segurança e as estrelas brancas representam as
doze agências regionais da Abin quando foi criada.

Quadro 1: Competências da ABIN

I - executar a Política Nacional de Inteligência e as ações dela decorrentes,


sob a supervisão da Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional, do
Conselho de Governo;

II - planejar e executar ações, inclusive sigilosas, relativas à obtenção e


análise de dados para a produção de conhecimentos destinados a assessorar o
Presidente da República;

III - planejar e executar a proteção de conhecimentos sensíveis, relativos


aos interesses e à segurança do Estado e da sociedade;

IV - avaliar as ameaças, internas e externas, à ordem constitucional;

V - promover o desenvolvimento de recursos humanos e da doutrina de


Inteligência; e

VI - realizar estudos e pesquisas para o exercício e o aprimoramento da


atividade de Inteligência.

Fonte: Institucional na página da internet da agência

20
Segundo o institucional da agência de inteligência, ela atua
em duas vertentes:

a) inteligência – por meio da produção de


conhecimentos sobre fatos e situações de
imediata ou potencial influência no processo
decisório e na ação governamental e sobre a
salvaguarda e a segurança da sociedade e do
Estado; b) contra-inteligência – pela adoção
de medidas que protejam os assuntos
sigilosos relevantes para o Estado e a
sociedade e que neutralizem ações de
Inteligência executadas em benefício de
interesses estrangeiros. (Institucional da
Abin)

21
CAPÍTULO 2

A INTELIGÊNCIA NO ÂMBITO ORGANIZACIONAL

2.1 Contra-inteligência e segurança de informações

Na atividade de inteligência, procura-se a obtenção de


informações de outros atores e ao mesmo tempo é necessário que se
proteja e neutralize as capacidades destes outros atores em relação
às suas próprias informações.

“[...] they want accurate information and


good forecasts about other than them, but
they also want to control what these others
are able to find out about them, so they
erect information defenses”. (HERMAN,
1996:165).

A manutenção da segurança é mantida através de um amplo


campo de informações sensíveis pelos governos. Tal proteção
envolve uma série de medidas de segurança que almejam pela
frustração da inteligência adversária.

[...] enquanto a inteligência procura


conhecer o que os comandantes e
governantes que a dirigem necessitam saber
sobre as ameaças e problemas relativos à
segurança do Estado e dos cidadãos, a área
de segurança de informações procura
proteger as informações que, uma vez
obtidas por um adversário ou inimigo – por
exemplo, através das operações de
inteligência de um governo estrangeiro –,
poderiam tornar vulneráveis e inseguros o
Estado e os cidadãos. (CEPIK, 2003: 57)

O senso comum frequentemente iguala erroneamente


inteligência e segurança. Do ponto de vista operacional, a primeira
tenta conhecer o “outro” e a última tem como objetivo garantir que
o “outro” só conhecerá o que quisermos que ele conheça sobre nós.
Ambas as missões são cumpridas por organizações distintas e
geralmente tal confusão ocorre porque as duas atividades existem
simultaneamente e interagem de forma sinérgica para cada ator
envolvido num conflito informacional.

22
É de responsabilidade dos órgãos de inteligência a segurança
cuja obtenção se dá através de padrões e medidas de proteção para
conjuntos definidos de informações, instalações, comunicações,
pessoal, equipamentos ou operações.

A segurança de informações está relacionada


com medidas de proteção que pautam por
técnicas ofensivas de inteligência, que
incluem restrição de pessoas a determinados
lugares, proteção física de documentos e
pessoas, controle de viajantes, de contratos
estrangeiros, além de regras para a
classificação, custódia e transmissão dos
documentos. (ANTUNES, 2002:25)

A segurança de informações pode ser dividida em três


componentes: segurança defensiva, detecção e neutralização de
ameaças, e fraude.
A segurança defensiva é baseada na segurança de
comunicações, computadores e controle de emissão. Aqui são
incluídas cripto-segurança, segurança física de comunicações e
segurança material de informações; a proteção dos computadores da
invasão de hackers.
Em segundo lugar teremos as disciplinas defensivas de
segurança que envolvem a eliminação física de agentes, contra-
espionagem e contra-inteligência: detecção e neutralização.
Através da prisão de agentes é possível coletar informações da
inteligência adversária.
O terceiro e último componente seria a fraude. Atividade
onde o envolvimento de agentes duplos é aplicado
consideravelmente em tempos de guerra. A Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN) a define como:

“[...] those measures designed to mislead


the enemy by manipulations, distortion or
falsification of evidence to induce him to
react in a manner prejudicial to his
interests”. North Atlantic Treaty
Organization (Nato). Intelligence doctrine,
1984, p.A-3.

No Brasil, a atividade de informações confundiu-se com a


própria segurança nacional. No final da década de 1960 com o
intuito de combater a subversão, foram criados dois órgãos de
informações das Forças Armadas: o Centro de Informações do
Exército (CIE) e o Centro de Informações e Segurança da
Aeronáutica (Cisa). Um terceiro órgão de informações chamado
Cenimar (Centro de Informações da Marinha) fora o único existente
antes da tomada do poder pelos militares em 1964.

23
Com o surgimento do SNI em 1967, os demais órgãos uniram-
se para atuar em defesa do Estado de Segurança Nacional através
do culto ao segredo. É fato que os órgãos de informações sempre
privilegiaram o segredo como demonstra Sheppele:

“[...] a piece of information that is


intentionally withheld by one or more social
actor(s) from one or more other social
actor(s). [...] “The requirement that a secret
be an intentional withholding means that
there must be a self-conscious and
identifiable motivation for keeping someone
else in the dark about something in
particular”.” (SCHEPPELE, 1988:12)

O segredo pode ser apresentado de duas formas distintas além


da retenção intencional da informação: a mentira, onde a
informação retida é substituída por outra, e a meia-verdade, onde o
segredo é parcialmente revelado. Diferentes tipos de inferência
sobre a verdade que o outro conhece de forma plena podem ser
conduzidos através do conhecimento parcial de uma informação. A
meia-verdade criaria uma impressão que é falsa uma vez que os
fatos verdadeiros são revelados. (ANTUNES, 2002).

24
2.2 O perfil organizacional da inteligência

No final do século XIX, a atividade de inteligência separada


organizacionalmente surgiu para atender as necessidades do
grandes exércitos envolvidos nas guerras. Tal setor era incumbido
de planejar e coletar informações que pudessem ser usadas pelos
responsáveis do alto comando. Ainda no princípio do mesmo
século, as polícias secretas surgiram com o objetivo de evitar
revoluções populares; e para tal fim desenvolveram mecanismos de
vigilância, de interceptação de cartas e de informação.
Em decorrência do fim da Segunda Guerra Mundial já no
século XX, departamentos criminais de investigação emergiram
recorrendo ao uso de técnicas científicas sobre as populações
criminosas. Tais técnicas iam desde a detecção e apreensão até a
vigilância e armazenagem de informações que pudessem ser
utilizadas, como analisa Sherman Kent:

“[…] intelligence represented nationality,


and the statesman who rejected it should
recognize that he is turning his back on the
two instruments by which western man has,
since Aristotle, steadily enlarged his
horizons of knowledge – the instruments of
reason and scientific method.” (KENT,
1965:5)

No entanto, é imprescindível diferenciar os sitemas


governamentais dos serviços de inteligência. Os primeiros são
encarregados de coletar, analisar e disseminar informações sobre
problemas e alvos consideráveis para a política externa do país
enquanto os últimos são organizações cujas atividades são
ofensivas e defensivas na área de informações onde busca-se
compelir um ator contra o outro.

The intelligence and security activities of


the nations (...) are the products of many
factors – national interests, international
obligations (…), the technology available
for intelligence collection, and the
resources a particular nation can afford to
devote to intelligence and security
activities. (RICHELSON, 1988:307)

A natureza dessas novas organizações de inteligência é


especulada quanto à sua função primária (provimento de
informações) pois existe nela uma função secundária que seria a
tentativa de dominar e maximizar o poder em períodos e contextos

25
nacionais diversos. Assim, os serviços de inteligência
contemporâneos teriam surgido com dupla finalidade. Entretanto,
há pouca evidência histórica para demonstrar tal suposição, mas do
ponto de vista teórico há dois exemplos.
O primeiro seria Anthony Giddens (1987:178) cuja
argumentação dá-se sobre o controle governamental de informações
cruciais sobre a população e como os recursos de cada país foi
importante para consolidar a autoridade soberana do Estado:

(...) modern societies have been


‘information societies’ since their
inception. There is a fundamental sense, as I
have argued, in which all states have been
‘information societies’, since the generation
of state power presumes reflexively
monitored systema reproduction, involving
the regularized gathering, storage, and
control of information applied to
administrative ends. But in the nation-state,
with its peculiarity high degree of
administrative unity, this is brought to a
much higher pitch than ever before. (…)
Records, reports and routine data collection
become part of the day-to-day operation of
the state, although of course not limited to
it.

O segundo teórico é Charles Tilly (1996:72) quando menciona


que a função dos serviços de inteligência é simplesmente a
coerção:

Governantes (...) enfrentaram alguns


problemas comuns, mas o fizeram de modo
diferente. Forçosamente, distribuíram os
meios de coerção de forma desigual por
todos os territórios que tentaram controlar.
Na maioria das vezes, concentraram a força
no centro e nas fronteiras, tentando manter
a sua autoridade entre um e outro por meio
de grupos coercivos secundários, leais
aplicadores locais de coerção, patrulhas
volantes, e pela disseminação de órgãos de
inteligência.

Enquanto Tilly realça a função coercitiva nos órgãos de


inteligência enquanto Giddens destaca a importância dos sistemas
de informação sem ser específico quanto aos serviços de
inteligência. Analisando o comentário do primeiro autor podemos
identificar dois riscos significantes: primeiro, ele trata os serviços
de inteligência de forma genérica e afirma que as organizações não
se compreendem porque são repressivas em relação às outras

26
organizações do Estado como as Forças Armadas por exemplo;
segundo, existe o risco de tratar os serviços de inteligência
modernos como continuações dos que surgiram primeiro. De acordo
com Cepik (2003:90),

[...] a trajetória moderna dos serviços de


inteligência é marcada por grandes
descontinuidades entre os primeiros serviços
secretos surgidos no contexto do
absolutismo e as inúmeras organizações que
configuram atualmente os sistemas nacionais
de inteligência e segurança. É justamente
essa diversidade de funções e perfis
organizacionais que torna equivocado
caracterizar os serviços de inteligência
exclusivamente como organizações de força
do Estado. Como parte do núcleo coercitivo
do Estado contemporâneo, os serviços de
inteligência desempenham um papel
predominantemente informacional, com
algumas funções diretamente coercitivas
sendo exercidas por unidades específicas no
sistema.

Ainda segundo o autor, um outro problema na caracterização


dos serviços de inteligência é a de que as macrofunções realizadas
por eles seriam apenas uma parte da explicação sobre o motivo do
seu surgimento e ainda, qual perfil organizacional atual eles
possuíam.

27
2.2.1 Inteligência de segurança

Atualmente, diversos países mantêm organizações de


inteligências que respondem aos seus ministérios de relações
exteriores com a finalidade de, por exemplo, acompanhar crises,
tratados internacionais e negociações de acordos. Por um outro
lado, existem as chamadas agências nacionais de coleta de
inteligência externa. Trata-se de organizações que respondem
diretamente ao primeiro-ministro, ao presidente ou ao secretário-
geral prestando serviço para o governo em geral e não apenas para
um ministério qualquer.
Como exemplos desse tipo de organização podemos elencar: o
Bundesnachrichtendienst (BND) da Alemanha; o Servizio per lê
Informazioni Generali e Sicurezza (sisde) italiano; ou da francesa
Direction Générale de la Sécurité Extérieure (DGSE); o Mossad
israelense ou o atual SVR russo e finalmente a CIA norte-
americana.

Os serviços de inteligência exterior são


“clássicos”, pois têm como característica
comum o fato de serem os principais
responsáveis pela espionagem propriamente
dita e também pela coleta de informações a
partir de fontes ostensivas fora do território
nacional. Eles diferem bastante de um país
para outro em termos organizacionais, na
escala de operações e pela composição
predominantemente civil ou militar de seus
oficiais de inteligência. Mas isso não
impede que cada um desses serviços veja a
si próprio como primus inter pares dentro
do sistema de inteligência de seus
respectivos países. (CEPIK, 2003:94)

A inteligência de segurança ou doméstica como também é


conhecida tem como especialidade a vigilância, a infiltração, o
recrutamento de informantes e a interceptação de mensagens. Em
meados do século XIX, o czar Alexandre II foi morto devido a um
atentado à bomba. Então, a dinastia Romanov reorganizou a polícia
e consolidou uma força policial especializada conhecida como
Okhrana. Essa polícia secreta do czar tornou-se o símbolo de uma
era mesmo sendo taxada como sendo cruel e nem tão eficiente. A
princípio, organizações como a Okhrana não conduziam operações
de espionagem contra alvos estrangeiros, mas isso mudou logo
depois que adversários políticos exilados do regime começaram a
ser perseguidos.
No início do século XX, já era notável a quantidade de
missões e alvos voltadas para o exterior realizadas tanto pelas
polícias quanto pelas organizações de inteligência.

28
As polícias políticas controlavam redes
próprias de agentes recrutados nas
embaixadas estrangeiras situadas nas
capitais de seus países, interceptavam
comunicações dos grupos dissidentes e das
embaixadas estrangeiras, além de tentarem
estabelecer rede de agentes e informantes
em outros países. [...] Com o processo de
descolonização durante a Guerra Fria e com
o terrorismo nos anos 1970, certas
operações de suporte à contra-insurgência,
contramedidas defensivas e antiterrorismo
foram acrescentadas ao leque de missões
desse tipo de organização. (CEPIK,
2003:100)

Raramente as missões de inteligência de segurança são


designadas a apenas uma agência. Nos Estados Unidos o FBI
(Federal Bureau of Investigation) é uma organização de
inteligência voltada para as questões internas do país, enquanto
que a CIA (Central Intelligence Agency) tem suas atividades
voltadas para além das fronteiras americanas.

A expansão das missões dos serviços de


inteligência interna (security intelligence),
inicialmente restrita ao policiamento
político de dissidentes e mais tarde
abarcando a contra-inteligência, o
contraterrorismo e inteligência sobre o
crime organizado, acabou por aproximar
esses serviços das unidades investigativas
das polícias encarregadas de dinâmicas
criminais mais complexas, tais como
narcotráfico, fraudes financeiras, lavagem
de dinheiro e outros crimes eletrônicos. [...]
Essa expansão vertical do uso de métodos e
técnicas de inteligência para a base dos
sistemas policiais, em combinação com uma
maior integração e busca de sinergia entre
as unidades de inteligência policial e as
agências nacionais de inteligência de
segurança, pode ser apontada como uma
tendência na direção da formação de
subsistemas de inteligência de segurança.
(CEPIK, 2003:103)

A segurança interna baseia-se no processo político no qual o


Estado está inserido, ou seja, governo fechado com tolerância
menor e segurança interna maior. Até mesmo nas grandes
democracias, a linha entre a diligência do Estado e a privcidade e
os direitos individuais do outro é bastante tênue.

29
Por outro lado, a segurança externa está relacionada às
aptidões, atividades e intenções de países ou indivíduos
estrangeiros. Grande parte da atividade de inteligência é focada na
busca de informações sobre outros países e em sua própria
segurança interna.

The protection of national security and, in


particular, its protection against threats
from espionage, terrorism and sabotage,
from the activities of agents of foreign
powers and from actions intended to
overthrow or undermine parliamentary
democracy by political, industrial or violent
means. (Security Service Act (1989), apud
Herman, 1996:47)

30
2.2.2 Agências internacionais de inteligência

As principais agências de inteligência foram formadas na


segunda metade do século XX nos países mais importantes do
mundo. A seguir discorreremos sobre a CIA norte-americana, o MI6
inglês, a KGB russa, o MOSSAD israelense e o BND alemão.

Figura 5: Logo da CIA

Fonte: Homepage da CIA

A Agência Central de Inteligência foi criada em 1947 após a


assinatura do Ato de Segurança Nacional pelo presidente Truman.
Sempre foi notável o engajamento dos Estados Unidos em
atividades de inteligência estrangeira. O ato também criaria o
cargo de diretor de inteligência central cujas principais funções
eram aconselhar o presidente em questões de segurança e também
chefiar toda a comunidade de inteligência do país.
A CIA tem como missão declarada a coleta, a avaliação e a
distribuição de inteligência estrangeira com o objetivo de auxiliar
tanto o presidente quanto os demais responsáveis na tomada de
decisões sobre a segurança nacional do país. Teoricamente a
agência é proibida de espionar os cidadãos americanos e de
participar em assassinatos, mas na prática já foi acusada de
cometer ambas as atividades.
Até hoje uma de suas principais falhas foi não ter previsto o
bombardeio causado pelos japoneses à base militar de Pearl Habor
no Havaí, principal motivo pelo qual os Estados Unidos entraram
na Segunda Guerra Mundial. Após a guerra, foi aprovado um ato da
agência central de inteligência pelo congresso americano
permitindo à CIA a manutenção do segredo quanto à verba e o
quadro de funcionários. Durante décadas, o principal objetivo da
agência era aniquilar a influência do comunismo e a União
Soviética durante a Guerra Fria. Hoje, sua tarefa mais complexa é a
de proteger o país das ameaças terroristas.

31
A verba destinada à agência é secreta e a própria tem
permissão para manter seu pessoal, estrutura organizacional assim
como salário e um número considerável de funcionários em
segredo. Durante seus mais de 50 anos de história, a agência se
envolveu em grandes polêmicas. Em 1953 no Irã, a CIA restaurou o
poder para o Xá através da expulsão do primeiro ministro. Já em
1961, Cuba teve sua Báia dos Porcos atacada por uma força
paramilitar dos cidadãos cubanos apoiados pela CIA. O desfecho
dessa artimanha foi de saldo negativo para os americanos, pois
foram derrotados polemizando assim uma operação que deveria ter
sido secreta e bem sucedida.
O próximo escândalo de visiblidade internacional seria em
1972 com o caso do Watergate onde ex-oficiais da Agência foram
acusados de invadir o quartel-general do CND (Comitê Nacional
Democrático) onde parte do grupo estava envolvida na campanha de
reeleição do presidente Nixon. Duas décadas depois a CIA estaria
na mídia internacional por causa do seu agente Aldrich Ames. Ele
atuou durante nove anos como espião da KGB e delatou vários
espiões americanos trabalhando na URSS. Aldrich recebeu mais de
dois milhões de dólares da KGB e ainda lhe foi destinado a um
banco em Moscou uma segunda quantia de valor idêntico. Foi sem
dúvida o espião mais bem pago da história.
Finalmente, o ataque terrorista de 11 de setembro em Nova
York deflagrou uma série de críticas à CIA por sua falha em
impedir os ataques. Uma das questões levantadas para tal fracasso,
seria a de que as agências de inteligência do país não trabalham
entre si. Desde o ataque, mudanças estruturais na comunidade de
inteligência foram realizadas visando uma maior cooperação e o
seu programa de espionagem foi reforçado.

Figura 6: Logo do MI6

Fonte: Homepage do MI6

A criação do MI6 deu-se com a dissolução do Serviço Secreto


em 1909. Naquela época, o serviço foi divido em duas seções: uma
naval e a outra militar. A primeira (MI6) ficou encarregada de
espionar territórios estrangeiros, enquanto que a última (MI5) era
responsável pela contra-inteligência dentro do Reino Unido.
A sigla SIS (Secret Intelligence Service) só foi tomada em
1911, já com as duas agências em operação. Depois da guerra, o

32
serviço inglês começou a instalar oficiais nas embaixadas que
controlavam a atividade de inteligência naquele determinado país.
Embora fosse eficiente, o sistema tornou-se conhecido por outros
Estados no final da década de 1930. Durante os anos da década
anterior, a atenção do serviço voltou-se para a Rússia e logo
atividades de espionagem foram iniciadas naquele país. O sistema
de inteligência inglês tentou causar a queda do partido comunista
com a ajuda de personalidades como Boris Savinkov e Sidney
Reilly.
Com a ascensão do nazismo ainda na década de 1930, o MI6
transferiu sua atenção para a Alemanha. Embora tenha conseguindo
informantes confiáveis naquele país, a agência não foi bem
sucedida na Segunda Guerra Mundial. Operações de outros espiões
recrutados por eles foram prejudicadas durante a guerra.
Nos primeiros anos da Guerra Fria, os soviéticos conseguiram
penetrar no governo inglês em oficiais do mais alto escalão. Um
dos motivos foi porque um dos diretores encarregados do
departamento de contra-inteligência era simpatizante do
comunismo e proveu durante vários anos informações para a KGB.
No entanto, a situação começou a se inverter nos anos de 1960. O
MI6 recrutou diversas fontes seguras dentro da URSS, sendo uma
dessas fontes o coronel Oleg Penkovsky. Ele forneceu milhares de
documentos confidenciais sobre as operações militares russas
inclusive os planos soviéticos de instalar mísseis em Cuba.
O MI6 colaborou com a CIA para derrubar o governo do Irã
em 1953 e também conseguiu iniciar uma luta de poder entre
grupos militares no Líbano em 1980. A maior parte dos esforços do
MI6 foram destinados à URSS e conseguiu recrutar inúmeros
agentes russos para viver em outros países a serviço da agência.
Depois da Guerra Fria, o sistema de inteligência inglês direcionou
sua atenção para riscos de segurança e não mais se concentrou em
regiões geográficas. As principais áreas de interesse do serviço era
a atuação do Exército Republicano Irlandês, crimes hediondos,
combate ao terrorismo, narcotráfico, proliferação nuclear dentre
outros. Algumas dessas atividades se deram a partir de uma
colaboração entre o MI6 e outras agências.
Hoje, a agência é liderada pelo cavaleiro Collin McColl que
adotou uma política de abertura limitada sobre o trabalho da
agência para o público. Depois da ameaça soviética, a Inglaterra
cortou o seu orçamento de defesa resultando na diminuição de vinte
e cinco por cento dos fundos passados à agência sem falar que
quarenta por cento do seu quadro de funcionários foi aposentado.

33
Figura 7: Logo da KGB

Fonte: Homepage do FSB

O KGB (Komityet Gosudarstyennov Bezopasnosty) era o


nome da mais famosa agência de inteligência do mundo. Produto da
antiga União Soviética, ela desempenhou atividades em espionagem
internacional e em vigilância interna contra revolucionários e
adversários políticos de quem estava no poder; ela desempenhou
atribuições da polícia secreta do governo durante quase quatro
décadas a partir de 1954.
Antes da KGB, houve outras agências de inteligência cujo
excesso de poder resultou em grandes barbáries com grandes
assassinatos em massa. Para evitar acontecimentos parecidos, a
KGB tornou-se subordinada diretamente aos principais líderes do
partido comunista. Estruturalmente dividida em vinte diretorias
cujas especialidades eram as mais diversas, a agência era
responsável pela espionagem internacional, contra-espionagem,
segurança das fronteiras e proteção das lideranças políticas.
Durante a Guerra Fria, seu domínio de atuação era irrestrito,
ilimitado podendo ser comparado a soma dos serviços secretos da
CIA e do FBI nos Estados Unidos.
Tamanha expansão a tornou junto com a CIA, a maior agência
de espionagem do mundo e tinha como principal objetivo a
obtenção dos segredos militares e científicos do Ocidente. A maior
vantagem da KGB sobre a CIA, era que a primeira centralizava
inteligência externa junto com a interna, enquanto que os
americanos dividiam trais atribuições entre a CIA e o FBI. Além
das diretorias, ela possuía cinco grandes direções. A primeira, a
mais importante, incluía o apoio logístico aos agentes ilegais em
outros países que viviam sob falsa identidade; um departamento
científico e técnico com serviços de contra-espionagem; operação e
negócios escabrosos como assassinatos, atentados e seqüestros. A
segunda e terceira direções estavam incumbidas de informar, vigiar
e repreender internamente qualquer um que se opusesse ao sistema

34
político vigente; a quarta era formada pelos guardas da fronteira e
a quinta por escolares que eram inúmeros.
O KGB teve seu auge durante a Guerra Fria e tinha como
principal inimiga a CIA. O poder de infiltração da agência era tão
grande que quando os americanos conseguiram desenvolver a
tecnologia nuclear, passados quatro anos, os soviéticos também a
teriam graças a sua rede de espiões. Seus agentes atuavam
disfarçados como diplomatas, empresários e jornalistas. Assim,
poderiam se infiltrar em grandes operações de espionagem e atuar
nas cidades mais importantes do ocidente. Foi devido a esse
trabalho eficiente por parte de seus agentes que a KGB manteve-se
no mesmo nível de desenvolvimento militar dos americanos.
No entanto, a atuação da KGB não se restringia apenas ao
ocidente, ela atuou também nos países do bloco socialista da
Europa Oriental resultando tanto na repressão ao movimento
reformista na Polônia como na invasão da Hungria em 1965 e três
anos depois iria promover uma ação militar na Tchecoslováquia;
sem falar ainda na decisão de construir o Muro de Berlim graças a
seu sistema de inteligência.
Um erro fatal cometido pela KGB foi o seu envolvimento na
invasão do Afeganistão em 1979. Poderíamos dizer que a aventura
no Afeganistão significou para os russos o que a Guerra do Vietnã
representou para os americanos. A invasão soviética durou uma
década e fracassou devido à resistência dos rebeldes cujas armas
eram financiadas por países do ocidente. Nos anos da década de
1980 a URSS era pressionada a acompanhar a escalada
armamentista dos americanos e acabou não conseguindo, entrando
em colapso. Depois da implosão da União Soviética, a KGB foi
extinta e o seu maior sucesso foi o FSB (Segurança de Federação
Russa).

Figura 8: Logo da MOSSAD

Fonte: Homepage da Mosad

A história da Mossad (Instituto para Inteligência e


Operações Especiais) começa quase que imediatamente após a
concepção do Estado de Israel. Em 1949, foi instituído um instituto
para coordenação central que era subordinado ao ministério de

35
relações exteriores do país. Dois anos depois, o instituto foi
substituído pela Mossad sob supervisão direta do primeiro
ministro. Naquele mesmo ano, a agência assinou um tratado
clandestino com a CIA.
A sede principal da Mossad está localizada em Tel Aviv e
possui inúmeros departamentos. O Departamento de Coleta executa
tanto operações oficiais como de espionagem. Já o Departamento
de Ação Política lida com as tensões políticas com países
considerados amigos e também inimigos. A Metsada ou Divisão de
Operações Especiais é encarregada de executar sabotagens e
assassinatos. O Lohamah ou Departamento de Psicologia lida com a
propaganda e a guerra psicológica. O Departamento de Pesquisa
com suas diversas seções recebe relatórios das grandes partes do
mundo todos os dias da semana, todos os meses do ano. E
finalmente o uso de tecnologia sofisticada para auxiliar as suas
operações é fornecido pelo Departamento de Tecnologia.
Uma das primeiras operações de alto nível da agência foi o
seqüestro de Adolf Eichmann em 1960. Adolf, um nazista acusado
de crimes de guerra, foi encontrado na Argentina e foi condenado à
morte por seu envolvimento na morte de judeus na Europa. Antes
disso, em 1956, ela tinha conseguido obter o discurso secreto no
qual Nikita Khrushchov condenava Josef Stalin. Nos anos da
década de 1960, a agência forneceu informações essenciais sobre a
força aérea do Egito durante a guerra dos seis dias. Essa
interferência por parte do governo israelense possibilitou a retirada
do Iraque do desertor Munir Redfa e sua família. Em 1972, durante
os jogos olímpicos de Munique, a Mossad foi responsável por
assassinar membros do grupo que seqüestrou e matou os atletas
israelenses. No ano seguinte, um garçon marroquino foi
assassinado na Noruega pela agência porque foi confundido com o
líder do grupo palestino Setembro Negro, responsável pelo
massacre em Munique.
Em 1975, a Mossad organizou uma reunião secreta entre os
chefes de Estado de Israel e da Jordânia e uma segunda reunião foi
realizada dois anos depois. Em 1982, a agência forneceu
inteligência durante a invasão do Líbano pelo governo israelense.
No entanto, ela falhou em assassinar Saddam Hussein em 1991.
Uma década depois, em 2001, a agência alertou a CIA sobre os
planos da Al-Qaeda mas não foram levados em consideração. Um
outro incidente aconteceu em 2004 quando dois agentes da Mossad
tentaram obter passaportes falsos da Nova Zelândia resultando em
sanções diplomáticas por parte daquele país para Israel.

36
Figura 9: Logo da BND

Fonte: Homepage da BND

Em 1920, o movimento socialista alemão teve início pelo


partido nazista. Esse movimento resultaria no estabelecimento do
terceiro Reich que foi liderado por Adolf Hitler de 1933 até 1945.
O governo nazista então criou a Organização de Inteligência
Nazista que mais tarde passaria a ser chamada de Organização
Gehlen cuja sede era situada na Alemanha central, nas montanhas
de Spessart.
Em 1948, a Organização Gehlen aparentemente trocava
informações com um grupo chamado WIN que operava na Polônia
contra os soviéticos. A organização alemã então começou a
financiar a WIN com dados, equipamentos, armamento e dinheiro.
Em 1952, as pessoas que migravam para a Polônia para trabalhar
para a WIN descobriram que a inteligência fornecida pela agência
não era confiável, alguns inclusive começaram a desaparecer.
Depois foi descoberto que a WIN na verdade estava trabalhando
para os soviéticos e fora instituída pela polícia secreta da URSS.
Em 1956, a organização Gehlen mudou para a República
Federal Alemã e renomeada como BND (BundesNachrichtenDienst),
ou Serviço de Inteligência Federal. O BND somente realiza
operações em países estrangeiros, nesse caso, ela é parecida com a
CIA, pois ambas são proibidas de conduzir atividades domésticas
de espionagem. Com o aumento no quadro de funcionários, a
agência foi transferida para Pullach no distrito de Munique e teve
um papel chave fornecendo inteligência para o desenvolvimento
dos mísseis soviéticos. Na época da Guerra Fria, noventa por cento
dos espiões alemães eram agentes duplos que eram comandados
pela URSS.
A partir da década de 1990, os Estados Unidos e a Alemanha
mantêm relações amistosas e trocam informações sobre inteligência
com o propósito de fortalecer suas influências nos Bálcãs. De
acordo com John Whitley, um analista de inteligência, o BND e a
CIA apoiaram secretamente as atividades do Exército de Libertação
do Kosovo (ELK), um grupo de guerrilha separatista. Esse grupo se
tornou ativo nos primeiros anos de 1990 e tinha como objetivo
principal a independência do Kosovo.

37
Anteriormente, o BND tinha tido um papel importante na
consolidação do governo da Croácia. Inicialmente, a Alemanha
patrocinou o ELK com armas e uniformes. Tanto os Estados Unidos
como a Alemanha influenciaram secretamente na fundação da
grande Albânia, comprimindo partes da Macedônia e do Kosovo.
Em 1994, uma lei contra o crime foi adotada e permitia que o
BND pudesse rastrear chamadas telefônicas com o único propósito
de coletar dados de inteligência. A agência opera em mais de cem
países e troca de dados com outras organizações de inteligência
como alfândega ou polícia federal.
Durante a guerra do Iraque, o BND teria fornecido
inteligência para as tropas americanas em 2003. No ano de 2005, o
BND encarou um de seus piores escândalos públicos conhecido
como o escândalo jornalístico. Tratava-se da vigilância de
inúmeros jornalistas da Alemanha e a razão por trás disso foi
investigar o vazamento de informações de dentro do BND.

38
CAPÍTULO 3

OS PROGRAMAS DE CONTRA-INTELIGÊNCIA DA ABIN

3.1 O PNPC

Durante a Guerra Fria a competição entre as duas grandes


potências mundiais era ideológica. Ao longo de quase cinco
décadas, um dos principais objetivos de ambos os lados era manter
a superioridade militar sobre o outro. Nesse aspecto, a espionagem
tecno-científica teve um papel fundamental.

Com o fim da Guerra Fria e o início do


processo de globalização, onde o fator
econômico assumiu o papel de destaque
antes desempenhado pelo fator militar,
passou a Segurança Econômica a constar nas
agendas dos governos dos países
desenvolvidos e a inserir-se no rol das
preocupações de Segurança Nacional.
(BESSA, 2009:322)

A velha espionagem tecno-militar fora substituída pela


espionagem tecno-econômica. Essa última pode ser praticada ou
patrocinada por governos estrangeiros, através dos seus serviços de
inteligência em benefício das suas empresas de teor público ou
privado e é justamente nesse último onde o uso da espionagem
econômica mais cresce, principalmente nos Estados Unidos e países
europeus.

De acordo com o Annual Report to Congress


Foreign Economic Collection and Industrial
Espionage, publicado pelo National
Counterintelligence Center, os principais
setores que se constituem em alvos
prioritários da espionagem internacional nos
EUA são: biotecnologia, aeroespacial,
defesa, telecomunicações, tecnologia de
computadores e pesquisas de energia.
Segundo dados da American Society for
Industrial Security, coletados entre 325
companhias norte-americanas, o potencial de
perdas decorrentes da espionagem
econômica atinge um total de 14 bilhões de
dólares por ano. (BESSA, 2009: 323)

39
No tocante à espionagem industrial entre empresas nacionais,
não há quase nada que o Estado possa fazer pois configura
competição ilegal entre empresas, tornando-se responsabilidade da
polícia e não do estado. Em 1997, foi apresentada ao governo
brasileiro pela Abin a proposta de criação do Programa Nacional de
Proteção ao Conhecimento Sensível – PNPC.

O primeiro passo do PNPC é desenvolver um


trabalho de conscientização junto a
determinados segmentos da sociedade
brasileira da importância de se proteger o
conhecimento das ameaças ao
desenvolvimento nacional. Principalmente
instituições relacionadas à economia,
ciência e tecnologia. (Homepage da Abin,
apud, ANTUNES,2002:180)

Segundo a definição da própria agência,

O Programa Nacional de Proteção do


Conhecimento Sensível – PNPC é um
instrumento preventivo para a proteção e
salvaguarda de conhecimentos sensíveis de
interesse da sociedade e do Estado
brasileiros. O Programa foi instituído pela
Agência Brasileira de Inteligência – Abin a
fim de exercer a sua atribuição
institucional, estabelecida pelo § 4º da Lei
nº 9.883, de 7 de dezembro de 1999, de
“planejar e executar a proteção de
conhecimentos sensíveis, relativos aos
interesses e à segurança do Estado e da
sociedade”. A execução do PNPC está sob a
responsabilidade do Departamento de
Contra-Inteligência da Abin.

A adoção do programa apresentou a contra-espionagem à


sociedade como um instrumento que pode ser utilizado pelas
empresas para colaborar contra a espionagem. O PNPC atuará nas
seguintes atividades: defesa nacional; pesquisa, desenvolvimento e
inovação científica e tecnológica; energia; minerais e materiais
estratégicos; conhecimentos dos povos indígenas e das
comunidadaes tradicionais; agronegócio; desenvolvimento
socioeconômico; educação e promoção de cultura de proteção do
conhecimento sensível.

40
3.2 O PRONABENS

O Brasil é signatário das principais convenções


internacionais sobre tópicos como desarmamento e não-proliferação
como, por exemplo, o TNP – Tratado de Não-Proliferação de Armas
Nucleares. As armas nucleares, químicas e biológicas têm um
potencial devastador destruição em massa.
Os bens as tecnologias destinados à produção de armas de
destruição em massa são denominados sensíveis e são controlados
severamente por organismos internacionais que fiscalizam o
desarmamento e a não-proliferação.
A legislação brasileira possui controle de exportações de
bens e tecnologias sensíveis e de serviços vinculados a esses bens,
e sua comercialização tem de atender a uma série de exigências por
meio da Cibes – Comissão Interministerial de Controle de Bens
Sensíveis.

Figura 10: Logo do PRONABENS

Fonte: Homepage da Abin

O PRONABENS – Programa Nacional de Integração Estado-


Empresa na Área de Bens Sensíveis foi o segundo programa
instituído pela Abin e cujos objetivos são:

41
Quadro 2: Objetivos do PRONABENS

1. Orientar o empresariado sobre os controles governamentais para a transferência de


tecnologias sensíveis e materiais de uso dual.

2. Atualizar e divulgar as listas de bens sensíveis controlados.

3. Gerar condições para o estreitamento da relação Estado-empresa em âmbito nacional, de


modo a resguardar os interesses estratégicos do Brasil em nível internacional e facilitar a
atuação de empresas brasileiras no mercado mundial.

4. Ampliar a cooperação e a troca de informações do Estado com as empresas desses


setores, de forma a detectar, antecipadamente, quaisquer iniciativas de transferência
ilícita de bens sensíveis controlados.

5. Aperfeiçoar os controles governamentais para a transferência de tecnologias sensíveis e


bens de uso dual.

Fonte: Homepage da Abin: www.abin.gov.br

O programa começou a atuar em 2004 quando começou a


receber empresas estrangeiras no setor de indústrias químicas.
Nesse ano, foram cento e dezoito empresas visitadas pelo
Pronabens e reuniões com o setor químico continuariam a ser
realizadas no ano seguinte totalizando em setenta empresas
visitadas, nesse último.
Em 2005, a atenção foi direcionada ao setor nuclear com dez
empresas e treze instituições. O trabalho no setor biológico teve
seu início no ano de 2006 com mais de trinta empresas visitadas,
além da participação de instituições governamentais.

42
CONCLUSÃO

A atividade de Inteligência é um mecanismo de poder do


Estado e tem como principal objetivo buscar a eficácia no manejo
da política de defesa do país e em último caso da próprio
estabelecimento da ordem nacional.
Inteligência refere-se não somente a atividades de
espionagem ou informações, mas a certos tipos de informações que
estão relacionadas à defesa do Estado; à contra-inteligência e a
outras organizações que são responsáveis pela realização e
coordenação dessa atividade no âmbito estatal. É caracterizada,
portanto pela aquisição, análise, processamento, produção e
disseminação de dados que são utilizados na área de política
externa e na defesa nacional.
A atividade de Contra-Inteligência tenta identificar as
capacidades, operações e intenções dos serviços de inteligência de
outros Estados. Com o intuito de defender as informações e
materiais sensíveis à segurança do país, a agência de inteligência
tomará medidas de proteção para os conjuntos de informações como
instalações, pessoal, equipamentos e comunicações.
Os serviços de inteligência no Brasil foram criados e
voltados para a decisão de questões internas, seguindo apenas uma
das etapas do processo de formação dos demais sistemas mundo
afora. O governo brasileiro criou o Sfici com apoio logístico dos
americanos, e este órgão iria atuar até o golpe militar de 1964,
transformando-se no SNI.
Comandado pelos militares, o SNI se tornou um verdadeiro
complexo de informações sobre os cidadãos brasileiros e
estrangeiros, uma vez que suas funções não foram previamente
estabelecidas na Constituição. Com a extinção do órgão em 1990, o
debate sobre o futuro das atividades de inteligência no Brasil se
arrastou por muito tempo.
Esse impasse constitucional só foi resolvido com a criação da
Abin uma década depois. A Agência Brasileira de Inteligência foi
instituída no governo de Fernando Henrique, mesmo assim durante
seu governo as pessoas especulavam sobre a verdadeira função da
agência e o porquê da sua fundação. É senso comum que a natureza
dos serviços de inteligência são bem parecidos no mundo inteiro e
é justamente essa aproximação do segredo que levanta tantas
supeitas.
O Brasil cada vez mais ganha visibilidade no cenário
internacional, seja com sua forte economia ou com o seu intuito de
assegurar uma cadeira no Conselho Permanente da ONU. O país é
autônomo em termos de energia e sua biodiversidade é única. O
mundo observa a ascensão desse país não necessariamente com
olhos amigos. É aí onde se dá a entrada das técnicas de espionagem
onde podemos incluir: biotecnologia, telecomunicações, armas de
destruição em massa, biodiversidade, conhecimentos indígenas para

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a cura de doenças, etc. A proteção precisa e deve ser reforçada nos
mais variados aspectos da política externa do país. É de
responsabilidade da Abin a identificação e prevenção quanto à
possíveis ameaças ao Estado brasileiro.
Os programas instituídos pela ABIN visam justamente o
combate e proteção dos nossos conhecimentos sensíveis. Tanto o
PNPC quanto o PRONABENS tem como objetivo orientar os
cidadãos sobre as ameaças que eles podem sofrer como é o caso da
inteligência empresarial.
Hoje, a corrida não é mais armamentista, mas sim pelo
conhecimento. Quem o possui por completo, sabe como e quando
utiliza-lo e para que fins. Portanto, é o papel do Estado brasileiro
se tornar a apto a lidar com tais ameaças, usando por exemplo as
técnicas de contra-inteligência. É preciso uma maior elucidação
sobre o assunto para a população em geral como uma tentativa de
diminuir o estigma que envolve tal atividade.

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REFERÊNCIAS

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intelligence. New York: Brassey’s, 1991.

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