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2015
http://rodriguesia.jbrj.gov.br
DOI: 10.1590/2175-7860201566305
Marcelo Freire Moro1,7, Mariana Bezerra Macedo2,3, Marcelo Martins de Moura-Fé4,5, Antônio Sérgio
Farias Castro5, Rafael Carvalho da Costa6
Resumo
Esse artigo apresenta uma revisão dos tipos vegetacionais do estado do Ceará a partir de sua diversidade
paisagística, centrando-se, notadamente, nas condições climáticas e unidades geomorfológicas. Com base
em levantamentos de campo, literatura especializada e mapas das unidades fitoecológicas e geomorfológicas,
pretendemos expor, de forma didática, a caracterização, distribuição e principais ameaças antrópicas
concernentes a cada vegetação. Por fim, utilizamos métodos de análise multivariada para comparar a
similaridade de espécies entre os diferentes levantamentos florísticos disponíveis para o estado e discutimos
os padrões biogeográficos observados.
Palavras-chave: Biogeografia, relevo, geomorfologia, vegetação, Nordeste do Brasil, semiárido.
Abstract
This article presents a review of the vegetation types occurring in Ceará state, Northeastern Brazil. We explain
how climate and geomorphology have produced the different landscapes in Ceará and aim to characterize the
main features, distribution and anthropogenic threats for each vegetation type. To achieve this we performed
fieldwork and evaluated available maps and the literature in order to summarize the main attributes of
each vegetation type. We also compiled floristic surveys for Ceará state and used multivariate analysis to
compare the similarity of species composition among the different phytoecological units and to interpret the
biogeographical patters observed.
Key words: Biogeography, relief, geomorphology, vegetation, Northeastern Region of Brazil, semiarid.
Este artigo possui material adicional em sua versão eletrônica. Além dos suplementos digitais disponíveis em:
http://dx.doi.org/10.6084/m9.figshare.1289920 ; http://dx.doi.org/10.6084/m9.figshare.1289930
1
Instituto de Biologia Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Depto. Biologia Vegetal, Bl M. CP 6109, 13083-970, Campinas, SP, Brasil.
2
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí, 64600-000, Picos, PI, Brasil.
3
Universidade de São Paulo (USP), Depto. Geografia, Av. Professor Lineu Prestes 338, Cidade Universitária, 05508-900, São Paulo, SP, Brasil.
4
Universidade Federal do Ceará (UFC), Depto. Geografia, Campus do Pici, Centro de Ciências, 60455-760, Fortaleza, CE, Brasil.
5
Universidade Regional do Cariri (URCA), Depto. Geociências (DEGEO), 63105-000, Crato, CE, Brasil.
6
Universidade Federal do Ceará, Depto. Biologia, Campus do Pici, Centro de Ciências, Bl. 906, 60455-760, Fortaleza, CE, Brasil.
7
Autor para correspondência: bio_moro@yahoo.com.br
718 Moro, M.F. et al.
Pretendemos neste trabalho fornecer teve influência limitada sobre os estudos botânicos
subsídios que contribuam para uma compreensão posteriores (Paiva 2002).
geral do quadro vegetacional do estado do Ceará. Uma expedição mais influente foi a famosa
Para isso utilizamos uma escala mais apropriada “Comissão Científica de Exploração”, liderada
para o estado do que a escala nacional e abordamos pelo botânico Francisco Freire Alemão (1797-
cada unidade fitoecológica de maneira integrada, 1874). Instituída pelo imperador Dom Pedro II,
a partir de sua interação com os demais elementos a expedição percorreu o território cearense entre
paisagísticos, dentre os quais destacamos o clima, 1859 e 1861 e deixou um conjunto de publicações
a geologia e o relevo. e manuscritos que enriqueceram a compreensão
O Ceará já é alvo de estudos botânicos há fitogeográfica do estado (Paiva 2002; Braga 1962).
cerca de 200 anos (Paiva 2002). Um dos estudos Francisco Freire Alemão e outros naturalistas já
pioneiros foi o trabalho realizado pelo naturalista percebiam, em suas incursões pelo Ceará, a
João da Silva Feijó (1760-1824). Feijó chegou heterogeneidade paisagística e vegetacional
à capitania do Ceará em 1799 e produziu um da província, chamando atenção para as claras
manuscrito intitulado “Collecção Descriptiva diferenças entre a flora da região costeira, do
das Plantas da Capitania do Seará” (Feijó interior semiárido e das serras úmidas (Huber
1818; Pereira & Santos 2012), mas parte desse 1908; Loefgren 1923). O trabalho de Alemão
manuscrito se perdeu e, sem ter sido publicado, forneceu os primeiros esboços da organização
Figura 1 – Localização geográfica dos domínios fitogeográficos do Brasil (biomas sensu IBGE 2004) e do estado do Ceará.
Devido à escala do mapa do IBGE (2004), o Ceará aparece completamente circunscrito à Caatinga. Entretanto, o estado
apresenta um conjunto diversificado de paisagens e vegetações. Elaboração do mapa: M.F. Moro, baseado em IBGE 2004.
Figure 1 – Geographical location of the Brazilian phytogeographical domains and the position of Ceará state, mapped within the Caatinga
Domain. Due the broad scale used by IBGE (2004), Ceará is shown as containing only caatinga within its borders. But the actual situation is
that the state has a diversified set of vegetation and landscapes.
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Vegetações do estado do Ceará 719
fitogeográfica do território do Ceará, o que acabou elementos físicos que caracterizam a diversidade
por influenciar os sistemas atuais de classificação paisagística do território cearense, especialmente
fitogeográfica do estado. As categorias de a geomorfologia. Esse artigo foi escrito em
ambientes reconhecidos por ele são relativamente uma parceria entre diferentes pesquisadores da
equivalentes (mesmo com a mudança de nomes) biologia e da geografia. Ele visa ser um texto
ao que usamos hoje em dia. introdutório e didático sobre a fitogeografia do
Também destacamos o trabalho do território cearense, de modo a oferecer suporte às
naturalista sueco Alberto Loefgren (1854-1918), monografias da Flora do Ceará que estão sendo
que em seu trabalho “Notas Botânicas (Ceará)” publicadas (Matias & Sousa 2011; Sousa & Matias
(Loefgren 1923) percebeu as diferenças florísticas 2013; Menezes et al. 2013; Soares Neto et al.
entre a região costeira, a caatinga do interior e as 2014) e a estudos gerais sobre a biota (fauna, flora
serras úmidas, chamando-as de “agrupamentos ou fungos) do estado.
florísticos”. Loefgren atentou para processos
ecológicos da caatinga, como a caducifolia e Métodos
a presença de muitas ervas anuais (terófitas), Apresentamos aqui uma descrição
componentes fundamentais da biota do semiárido. sintética dos elementos climáticos, geológicos e
Entre o século XIX e início do século XX, os geomorfológicos com ênfase numa caracterização
naturalistas basicamente fizeram levantamentos fitogeográfica para o estado do Ceará. Nos
e elaboraram listagens da flora, com descrições baseamos em observações de campo e trabalhos
gerais sobre as diferentes fitofisionomias acadêmicos para atualizar a proposta de
presentes no Ceará. O trabalho desses naturalistas classificação da vegetação do estado feita no
forneceu a base para os sistemas fitogeográficos Atlas Geográfico do Ceará (Figueiredo 1997;
propostos para o estado no século XX. IPLANCE 1997). Assim, esse trabalho se
Na década de 1980 a fitogeógrafa Maria fundamentou em uma breve revisão histórica das
Angélica Figueiredo (1939-2012), professora e publicações fitogeográficas do Ceará somado a
pesquisadora da Universidade Federal do Ceará, uma explicação sobre cada vegetação do estado,
percorreu amplamente o estado e elaborou um baseado na experiência de campo dos autores e
mapa, denominado de “Unidades Fitoecológicas”, na literatura florístico-fitossociológica publicada.
contendo as respectivas descrições das fisionomias O mapa de vegetação apresentado foi
e principais elementos de cada tipo de vegetação modificado a partir do sistema fitogeográfico
do estado, que foi publicado no “Atlas do Ceará” do Ceará de Figueiredo (1997), obtidos junto à
(IPLANCE 1997; SUDEC 1986). Para denominar Fundação Instituto de Pesquisa e Informação do
as unidades fitoecológicas, Figueiredo (1986, Ceará (IPLANCE). Já o mapa geomorfológico
1997) baseou-se na classificação proposta no mapa apresentado aqui foi elaborado a partir do
de vegetação do Atlas Nacional do Brasil, de 1966. Mapa Geológico do Estado do Ceará (CPRM
Porém, após a publicação pelo IBGE do “Manual [Serviço Geológico do Brasil] 2003) e das Cartas
de vegetação adaptada a um sistema universal” Topográficas da SUDENE (1999), além de
(IBGE 2012; Veloso et al. 1991), a nomenclatura diferentes mapas geomorfológicos e hipsométricos,
utilizada no mapa de Unidades Fitoecológicas do e diversos levantamentos de campo. Também
estado do Ceará ficou desatualizada. Entretanto, produzimos um acervo fotográfico sobre as
a proposta cartográfica de Figueiredo (1997) vegetações do estado (<http://dx.doi.org/10.6084/
para a fitogeografia do Ceará, com pequenas m9.figshare.1289920>), a fim de documentar parte
modificações feitas posteriormente pelo Instituto da diversidade paisagística do Ceará. Os tipos
de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará de solos citados neste artigo seguem o sistema
(IPECE), é atualmente a melhor disponível para estabelecido pela EMBRAPA (2006).
a escala do Ceará. Para cada habitat e vegetação discutidos
Assim, objetivamos atualizar o sistema neste trabalho indicamos algumas espécies
fitogeográfico de Figueiredo a partir de dados características. A lista completa das espécies
recentes e traçar uma síntese que permita, características, acompanhadas de seus respectivos
por meio de explicações e mapas didáticos, a autores e famílias, está disponível como
compreensão do quadro vegetacional do estado, suplemento digital a este artigo (<http://dx.doi.
a partir da interação da vegetação com os demais org/10.6084/m9.figshare.1289930>).
completa (i.e. espécies reportadas como “sp.”) influindo na diversidade de ambientes que
foram excluídas e espécies com identificação caracterizam o mosaico paisagístico cearense.
dúbia (i.e. reportadas como “cf.” e “aff.”) foram A região costeira e as serras, por exemplo,
consideradas como corretamente identificadas. Nas recebem uma quantidade bem maior de chuvas
comparações, demos preferência a levantamentos que a depressão sertaneja (IBGE 2002; Nimer
publicados, mas alguns levantamentos florísticos 1972), configurando encraves paisagísticos
não publicados, disponíveis na forma de trabalhos diferenciados daqueles encontrados no sertão
de conclusão de curso ou teses de pós-graduação, seco do interior do estado.
foram incluídos como complementação das As características climáticas atualmente
análises (Apêndice 2). Nas comparações de flora, vigentes no Ceará notabilizam-se pelo predomínio
utilizamos todas as espécies de plantas vasculares de temperaturas médias do ar elevadas durante
reportadas nos levantamentos, incluindo plantas a maior parte do ano e uma pequena amplitude
lenhosas e herbáceas. anual na temperatura média, já que o estado
é tipicamente quente o ano todo. Já as chuvas
Nomenclatura variam bastante ao longo do ano, com níveis
A nomenclatura associada à vegetação varia de precipitação concentrados no 1º semestre,
não só segundo a nomenclatura regional, mas os quais, por sua vez, condicionam a vazão da
também de acordo com as diversas propostas hidrografia regional (Zanella 2005).
formais. Assim, os nomes utilizados por este De acordo com Nimer (1977), a região
trabalho, pelo Atlas do Ceará (Figueiredo 1997) Nordeste é submetida à forte radiação solar
e pelo IBGE (Veloso et al. 1991; IBGE 2012) devido ao ângulo de inclinação solar, comum
diferem. Para sanar esse problema, o Apêndice a todas as regiões intertropicais do planeta. Em
3 traz uma tabela comparando a nomenclatura virtude disso, a quantidade de calorias absorvidas
utilizada nos três contextos. Um organograma pelos níveis inferiores da atmosfera na região é
didático é apresentado no Apêndice 4, mostrando intensa e com isso, as médias das temperaturas
a relação entre as unidades de relevo do Ceará e anuais são elevadas, derivando em médias
os tipos de vegetação que as ocupam. térmicas anuais situadas entre 26º e 28ºC (Nimer
1972, 1977, 1989).
Resultados e Discussão Se em relação à temperatura o Nordeste
Caracterização Ambiental do Ceará apresenta certa homogeneidade espacial, o
O território do Ceará ocupa uma superfície mesmo não acontece em relação à pluviosidade.
de 148.825,60 km2, é o 4º maior estado da região De maneira geral, os índices pluviométricos se
Nordeste do Brasil, sendo limitado ao norte distribuem de modo decrescente do litoral para
pelo Oceano Atlântico, ao sul pelo estado de o interior, consequência da menor influência dos
Pernambuco, ao leste pelo Rio Grande do Norte e ventos alísios sobre as regiões mais interiores
pela Paraíba, e a oeste pelo Piauí (IPLANCE 1997). (Nimer 1972, 1989), onde as serras elevadas
A maior parte do território cearense encontra- constituem verdadeiras ilhas de exceção no
se inserida no contexto semiárido nordestino em contexto semiárido.
virtude das condições climáticas dominantes, O quadro delineado para o Nordeste aplica-
aspecto que corrobora para sua classificação se ao estado do Ceará, ou seja, há o predomínio
como um dos estados mais secos do país (Zanella de temperaturas médias do ar elevadas durante
2005). Contudo, em função de fatores geográficos a maior parte do ano, resultando em uma
locais, tais como a altitude e a proximidade do pequena amplitude térmica anual, em contraponto
oceano, apresenta áreas úmidas e sub-úmidas com níveis de precipitação que podem ser
que condicionam contrastes significativos no compartimentados em duas estações bem
quadro natural cearense (Silva & Cavalcante distintas: uma estação chuvosa, que se inicia em
2004). Em decorrência dessas variações, embora dezembro e declina em maio, com a ocorrência
o estado esteja majoritariamente sob a influência de precipitações bastante erráticas, e o restante
de um macroclima semiárido, os gradientes do ano, com o predomínio de uma estação seca,
de chuva, temperatura e umidade se alteram marcada pela estiagem pluviométrica.
consideravelmente do litoral para o interior, As características climáticas apresentadas
condicionando um gradiente de umidade e acima, representadas pela sazonalidade das
Tabela 1 – Unidades de relevo e tipos de vegetação do estado do Ceará, com a área aproximada de cada Unidade
Fitoecológica.
Table 1 – Geomorphological units and vegetation types of Ceará state, northeastern Brazil, showing the approximate area occupied by
each Phytoecological Unit.
Unidades Unidades de Relevo Tipos de Vegetação Área Área
Geomorfológicas (km2) (%)
Modelados Região Planície Litorânea Campos Praianos
Sedimentares Costeira/ Arbustais Praianos
Feições Vegetação de Dunas
litorâneas Semifixas e Móveis
Vegetação de Dunas
Fixas
18.636 12,6%
Tabuleiros Costeiros Floresta de Tabuleiro
Arbustal de Tabuleiro
Cerrado e Cerradão
Costeiros
Planície Flúvio-marinha Manguezal 254 0,2%
Planícies Matas Ciliares (inclui 3.721 2,5%
Fluviais várzeas de rios e
carnaubais)
Chapadas Serra da Ibiapaba, Mata Úmida do 2.713 1,8%
interiores Chapada do Araripe e Sedimentar
Chapada do Apodi Mata Seca do Sedimentar 5.148 3,5%
Caatinga do Sedimentar 8.817 5,9%
Cerrado e Cerradão 1.067 0,7%
Interiores
Modelados Depressão Caatinga do Cristalino 102.102 68,8%
Cristalinos Sertaneja
Maciços Serras de Baturité, Mata Úmida do Cristalino 439 0,3%
Residuais Maranguape, Aratanha,
Uruburetama, Meruoca, Mata Seca do Cristalino 5.542 3,7%
do Pereiro, do Machado,
das Matas, da Pedra
Branca, de São Pedro
Total do estado do Ceará 148.439* 100%
* A área total obtida pelo somatório da extensão de cada tipo de vegetação não equivale exatamente à área oficial do estado do Ceará
(148.825,60 km2) devido a imprecisões na extensão geográfica do mapeamento das unidades fitoecológicas feito para o Atlas do Ceará
nas décadas de 1980 e 1990 (ver Figueiredo 1997). Portanto, a área de cada unidade fitoecólogica calculada aqui deve ser tomada apenas
como uma aproximação. Devido à escala de mapeamento e a imprecisões cartográficas, a área de vegetações de menor extensão como
manguezais, matas ciliares e matas secas e úmidas não podem ser tomadas como estimativas precisas.
Sobre as areias quartzosas próximas ao mar menos móvel até atingir o estágio de duna semifixa.
(beira de praia) ou nos campos de dunas podemos Paulatinamente, com a evolução do processo e o
encontrar a chamada vegetação psamófila (ou início da pedogênese (formação do solo), mais
“amiga de ambientes arenosos”). Trata-se de uma espécies colonizam o ecossistema até formar os
vegetação predominantemente herbácea, com arbustais e florestas de dunas fixas. Nesse ponto,
espécies resistentes à alta salinidade, escassez de as dunas não mais migram e a riqueza em espécies
nutrientes do solo, altas temperaturas, alta insolação aumenta.
e elevada mobilidade da areia. Comumente são Devido à diversidade de formações que co-
herbáceas estoloníferas, somadas a algumas poucas ocorrem na região costeira e devido à origem da flora
plantas lenhosas como o guajiru (Chrysobalanus (composta por espécies migrantes das vegetações e
icaco). A vegetação pioneira psamófila se domínios fitogeográficos circundantes), Figueiredo
desenvolve tipicamente sobre a planície de (1997) propôs a expressão “Complexo Vegetacional
deflação (contato externo da faixa de praia) e nas da Zona Litorânea” para agregar todos os ambientes
dunas móveis. e todas as fitofisionomias da região costeira (da
Já nos campos de dunas fixas encontramos Formação Barreiras até a beira mar). Os principais
uma vegetação diferente. As areias quartzosas tipos de ambiente do Complexo Vegetacional da
são um ambiente difícil de colonizar, mas com o Zona Litorânea, abreviado aqui para Complexo
passar do tempo algumas plantas mais resistentes Vegetacional Costeiro, e sua flora são discutidos
como o cajueiro (Anacardium occidentale), em mais detalhes adiante.
murici (Byrsonima crassifolia) e herbáceas das Nas áreas litorâneas, a implantação de
famílias Poaceae, Cyperaceae, Convolvulaceae, grandes empreendimentos turísticos e de projetos
Boraginaceae e Fabaceae vão tornando a duna de grande impacto ambiental, como o complexo
Figura 3 – Mapa de Unidades Fitoecológicas do Ceará. Fonte: Modificado a partir do Mapa de Unidades Fitoecológicas do
Ceará do IPLANCE (Figueiredo 1997).
Figure 3 – Map showing the phytoecological units of Ceará state. Source: Modified from the Phytoecological Map of Ceará state (Figueiredo 1997).
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industrial do Pecém, além da expansão urbana, tornam este ambiente salino. Nesse ambiente
são as maiores ameaças atualmente. As ações instável de areias quartzosas se desenvolve o campo
orientadas ao planejamento da atividade turística praiano, com espécies herbáceas especializadas
desenvolvem a ocupação calculada dos territórios como Ipomoea pes-caprae, Remirea maritima
costeiros, visando integrá-los aos interesses de e Sesuvium portulacastrum, que são espécies
grandes grupos econômicos e, dessa forma, se praticamente restritas a ambientes arenosos e
tornam uma ameaça bastante pungente, já que têm salinos da costa. Poucas são as arbustivas, podendo
promovido a destruição dos ecossistemas costeiros ser citadas Scaevola plumieri e Guilandina bonduc.
e do modo de vida tradicional das populações As espécies que suportam este ambiente estressante
humanas costeiras do estado (Lima & Meireles têm ampla dispersão nas regiões costeiras do
2006; Nascimento 2006; Araújo & Moura 2007). Brasil e são tipicamente características dos campos
praianos. Em alguns locais da costa, há, além do
1.1 Planície Litorânea: Campo Praiano e campo, um arbustal praiano onde a vegetação
Arbustal Praiano, Vegetação de Dunas Semifixas psamófila atinge porte arbustivo composto por
e Móveis, Vegetação de Dunas Fixas espécies lenhosas resistentes ao ambiente arenoso
A planície litorânea (Fig. 2) corresponde a e salino.
uma faixa contínua na orla marítima entre o mar e As ameaças à conservação são especialmente
os tabuleiros costeiros, interrompida apenas pelas o crescimento urbano.
desembocaduras dos rios que chegam ao oceano. Espécies características: Blutaparon
Embutidas na planície litorânea estão diversas portulacoides, Canavalia rosea, Fimbristylis
feições geomorfologicamente muito dinâmicas e cymosa, Guilandina bonduc, Ipomoea pes-caprae,
instáveis, tais como as praias, as dunas móveis (que Panicum racemosum, Paspalum vaginatum,
não apresentam desenvolvimento pedológico), e Remirea maritima, Scaevola plumieri, Sesuvium
as dunas fixas (situadas nas partes mais internas portulacastrum, Sporobolus virginicus, Turnera
da costa e recobertas por vegetação desenvolvida melochioides.
sobre os neossolos quartzarênicos).
É formada pela acumulação recente de l Vegetação de Dunas Semifixas e Móveis
sedimentos Holocênicos e apresenta uma estrutura As dunas semifixas e móveis são a geração
de baixa inclinação definida pela interação mais recente de dunas, que ainda não foram
dos agentes constituintes do processo. Esta fixadas pela vegetação. Em grande medida são
interação resulta numa configuração morfológica desprovidas de cobertura vegetal, embora algumas
predominantemente plana a suave ondulada, que se plantas muito resistentes cresçam nas areias
modifica nas áreas de campos de dunas e planícies quartzosas, pobres em nutrientes e altamente
de deflação, onde o relevo mostra-se mais irregular móveis. Nas dunas semifixas e móveis, o processo
e elevado (Moura-Fé 2008). O conjunto das de pedogênese ainda não se iniciou e, devido
vegetações de dunas (fixas, semifixas e móveis), ao ambiente hostil, poucas espécies conseguem
de arbustais e de campos praianos equivale ao se estabelecer. Nas dunas semifixas, moitas de
que no resto do Brasil comumente se chama de Anacardium occidentale e Byrsonima crassifolia
vegetação de restinga, embora o termo vegetação iniciam o processo de fixação das dunas, embora
de restinga não seja muito comum na literatura elas ainda sejam, nesse estágio, majoritariamente
botânica cearense. móveis, praticamente descobertas de vegetação
e ocupadas predominantemente por espécies
l Campo Praiano e Arbustal Praiano herbáceas (e.g. Stilpnopappus trichospiroides e
Logo após a faixa de marés (praia), a planície Chamaecrista ramosa) e arbustivas resistentes.
costeira do Ceará é constituída por areias quartzosas A espécie invasora Calotropis procera também
que são constantemente retrabalhadas pelo vento e consegue se estabelecer nesse ambiente.
pelo mar: a planície de deflação, também referida Tanto a vegetação de dunas móveis e
na literatura como pós-praia ou anteduna. Esse semifixas quanto a vegetação de beira de praia
ambiente, assim como as dunas móveis, é altamente são denominadas por Figueiredo (1997) como
limitante para as plantas e ainda apresenta um fator Vegetação Pioneira Psamófila, porque o ambiente
extra de estresse: os sprays marinhos e a maresia, geológico é muito recente e as plantas que aqui
resultantes das ondas do mar e da ação do vento, ocorrem são apenas aquelas capazes de suportar
alto grau de irradiação solar e mobilidade dos pela pressão da ocupação imobiliária, uma vez
sedimentos (o termo psamófila se refere ao que as últimas áreas de dunas fixas do município
ambiente arenoso). Levantamentos publicados estão na região do Cocó e, portanto, apresentam
acerca da vegetação de dunas móveis e semifixas alto valor imobiliário, sendo significativa a pressão
estão disponíveis em Matias & Nunes (2001) e econômica para que estas áreas sejam desmatadas
Castro et al. (2012). para dar lugar a condomínios urbanos.
As ameaças à conservação são as mesmas Espécies características: Anacardium
apresentadas para o complexo vegetacional occidentale, Byrsonima crassifolia, Byrsonima
costeiro, somadas à extração de areia para gardneriana, Chamaecrista ensiformis, Chioccoca
construção civil. Contudo, as ameaças derivadas alba, Chloroleucon acacioides, Chrysophyllum
da expansão urbana desordenada, a construção de arenarium, Copaifera arenicola, Eugenia
estradas sobre as dunas e a instalação de resorts luschnathiana, Guettarda angelica, Maclura
e campos de golfe, são as ameaças mais graves. tinctoria, Senna rizzinii, Strychnos parvifolia,
Espécies características: Anacardium Ximenia americana.
occidentale, Byrsonima crassifolia, Centrosema
rotundifolium, Chamaecrista hispidula, 1.2 Planície Flúvio-marinha: Manguezal
Chamaecrista ramosa, Chrysobalanus icaco, l Manguezal
explicar a miscelânea de espécies de outros domínios por isso o nome de savanas ou cerrados costeiros
fitogeográficos que ocuparam esse ambiente. (Fig. 3). Apesar da predominância de espécies do
Devido à sua origem geológica relativamente Cerrado, espécies do Domínio da Caatinga, como
recente (a Formação Barreiras tem idade Croton blanchetianus, também ocorrem nestas
semelhante à do Pantanal), os tabuleiros (assim comunidades. O cerrado costeiro não é restrito ao
como o Pantanal) não têm, de modo geral, uma Ceará. Manchas dessa formação já foram estudadas
flora endêmica característica, mas sim, uma flora no Ceará (Moro et al. 2011), Rio Grande do Norte
colonizadora oriunda das vegetações adjacentes. De (Oliveira et al. 2012) e na Paraíba (Oliveira-Filho
fato, encontramos espécies do Domínio do Cerrado & Carvalho 1993). Mais informações sobre a
que colonizaram tanto a bacia sedimentar costeira vegetação de cerrado no Ceará são apresentadas
do Ceará quanto a bacia pantaneira e hoje fazem mais abaixo, no tópico específico para essa
parte da flora desses dois ambientes. Exemplos formação.
são Genipa americana, Tabebuia aurea, Curatella As ameaças à conservação são as mesmas
americana e Anacardium occidentale, os quais apresentadas no tópico sobre o complexo
são elementos do Domínio do Cerrado presentes vegetacional costeiro. No município de Fortaleza,
tanto no Pantanal quanto na mata de tabuleiro essa formação é altamente ameaçada pela pressão
cearense. Castro et al. (2012) apresentaram um de ocupação imobiliária, uma vez que apenas uma
levantamento florístico e um piloto de levantamento mancha de cerrado costeiro é conhecida na cidade,
fitossociológico para a mata de tabuleiro cearense. na região do Cambeba (Moro et al. 2011; Fortaleza
As ameaças à conservação são as mesmas 2003), em um local com sérios riscos à conservação
mencionadas no tópico do complexo vegetacional devido à pressão de urbanização.
costeiro. Espécies características: Anacardium
Espécies características: Agonandra occidentale, Annona coriacea, Byrsonima
brasiliensis, Anacardium occidentale, Byrsonima crassifolia, Curatella americana, Himantanthus
crassifolia, Byrsonima gardneriana, Chamaecrista drasticus, Hirtella ciliata, Hirtella racemosa,
ensiformis, Curatella americana, Handroanthus Leptolobium dasycarpum, Simarouba versicolor,
impetiginosus, Himantanthus drasticus, Hirtella Stryphnodendron coriaceum, Tapirira guianensis.
ciliata, Hirtella racemosa, Manilkara triflora,
Mouriri cearensis, Myrcia splendens, Ouratea 2. Planícies Fluviais: Mata Ciliar / Carnaubal
fieldingiana, Pilosocereus catinguicola subsp. As Planícies Fluviais são constituídas por
salvadorensis, Tapirira guianensis, Zanthoxylum sedimentos de idade Quaternária e apresentam
syncarpum. tamanhos e extensões diferenciadas, condicionadas
pela vazão dos rios associados. No Ceará destacam-
l Arbustal de Tabuleiro se as planícies dos rios Coreaú, Acaraú, Curu,
É uma vegetação de porte arbustivo que Jaguaribe e Choró. Os solos típicos desses setores,
ocorrem em alguns trechos dos tabuleiros costeiros, ao longo dos grandes rios, são os neossolos
especialmente em áreas de falésias, bem próximas flúvicos, os quais podem alcançar grandes
ao mar. Espécies típicas da caatinga do cristalino e profundidades, permitindo o desenvolvimento de
algumas Cactáceas co-ocorrem nessas áreas. Matas matas ciliares associadas à carnaúba (Copernicia
de tabuleiro degradadas antropicamente também prunifera), constituindo os carnaubais.
podem originar arbustais costeiros.
Espécies características: Anacardium l Mata Ciliar
poucas espécies perenifólias (e.g. Ziziphus spp., Figueiredo (1997) propôs a divisão da
Cynophalla spp., Licania rigida, Libidibia ferrea). caatinga do cristalino do Ceará em três unidades
Como a pluviosidade é concentrada em apenas fitoecológicas: 1. Floresta Caducifólia Espinhosa
alguns meses, durante boa parte do ano as plantas (Caatinga Arbórea); 2. Caatinga Arbustiva Densa;
não possuem água disponível para seu crescimento. 3. Caatinga Arbustiva Aberta. Tal proposta se
Com isso, a maioria das árvores e arbustos evitam baseia no porte da vegetação, mas traz consigo
o estresse hídrico descartando as folhas durante a algumas dificuldades. Temos observado em campo
estação seca. Já as ervas são em sua maioria anuais, que áreas mapeadas em Figueiredo (1997) como
ou seja, possuem forma de vida terofítica. caatinga arbustiva tem porte arbóreo e outras
Além dos fatores climáticos, fatores edáficos áreas mapeadas como caatinga arbórea tem porte
também determinam a ocorrência da caatinga. arbustivo. Por outro lado, se considerarmos as
Estudos biogeográficos (Cardoso & Queiroz áreas de caatinga da depressão sertaneja como
2007; Gomes et al. 2006; Costa et al. 2007) têm uma única unidade fitoecológica, a caatinga do
demonstrado que o que chamamos de caatinga deve cristalino, teremos uma unidade mais coesa,
ser dividido em dois grandes grupos florísticos: a com uma flora característica, condicionantes
caatinga das áreas sobre o embasamento cristalino geológicos e ecológicos próprios e mais facilidade
(caatinga do cristalino, também referida na literatura de mapeamento. Ademais, o porte da caatinga em
como caatinga sensu stricto) e a caatinga das uma área pode estar muito mais ligado ao histórico
áreas sobre as bacias sedimentares (caatinga do de impactos antrópicos do que a fatores ecológicos.
sedimentar, também chamadas na literatura de Do ponto de vista de um sistema fitogeográfico,
caatingas de areia ou carrasco). O que Figueiredo consideramos que a caatinga que cresce sobre a
(1997) chamou de “caatinga” (dividida em arbórea, depressão sertaneja deve ser considerada como uma
arbustiva densa e arbustiva aberta) em seu sistema de única fitounidade: caatinga do cristalino, a qual
classificação, são as caatingas do cristalino. Esse tipo poderá ser descrita em estudos na escala local como
vegetacional é o mais comum no estado do Ceará de porte arbóreo, arbustivo denso ou arbustivo
(Fig. 3), ocupando a maior parte de seu território. aberto. Quais seriam os vínculos florísticos
Tipicamente, a caatinga do cristalino ocorre entre a caatinga do cristalino e a mata seca do
em solos rasos e pedregosos, com média a boa cristalino no Ceará é um ponto interessante a ser
fertilidade que, entretanto, não têm como manter analisado. A publicação de mais estudos florísticos
água edáfica após as chuvas, devido à sua pouca e fitossociológicos, com maior esforço amostral, é
profundidade. Quanto à fisionomia, a caatinga do a chave para responder futuramente esta questão.
cristalino pode apresentar porte desde arbóreo até Embora a caatinga do cristalino seja o tipo
arbustivo denso ou arbustivo aberto (Veloso et de vegetação mais comum no estado, ela foi
al. 1991; Figueiredo 1997). Uma característica curiosamente ignorada pela maioria dos estudos
marcante da caatinga do cristalino é que plantas florísticos publicados para o Ceará. Ambientes de
herbáceas representam uma porcentagem alta ocorrência mais restrita, como as formações costeiras
de espécies nas comunidades vegetais (Moro et e carrasco (caatingas do sedimentar), e ambientes de
al. 2014a). Na caatinga do cristalino, as plantas exceção, como encraves de cerrado e matas úmidas,
anuais (terófitas) são a forma de vida mais dispõem de mais proteção legal (Menezes et al.
representativa na comunidade (Moro 2013). 2010), de mais coletas botânicas (Freitas & Matias
Árvores e arbustos (fanerófitos), entretanto, 2010) e de mais dados florísticos do que a caatinga
também são um componente fundamental. Isso do cristalino. Alguns trabalhos importantes nessa
permite definir estruturalmente a caatinga do formação estão publicados em Costa et al. (2007),
cristalino como uma formação dominada por Araújo et al. (2011) e Costa & Araújo (2012).
micro e nanofanerófitos (árvores e arbustos) A caatinga do cristalino do Ceará está
no componente lenhoso, em geral decíduos e ameaçada especialmente pelo desmatamento e
espinhosos, somados a um estrato herbáceo anual pastoreio excessivo para agricultura e pecuária,
muito rico em espécies. Após a época de chuvas, as retirada de lenha, produção de carvão, bem
plantas lenhosas perdem suas folhas para suportar a como pelo processo de desertificação, em que a
seca, enquanto as terófitas morrem, permanecendo degradação excessiva do ambiente faz com que
no solo apenas na forma de semente até que a haja perda de solos e a vegetação não consiga se
próxima estação chuvosa chegue. recuperar.
vegetação bastante diferenciada, com árvores erosão graves, com deslizamentos de terra e
muito maiores que as da caatinga típica e muitas perda de solos. Ainda hoje as serras úmidas são
espécies de epífitas, samambaias e briófitas. As utilizadas para produção de banana, cana e outros
matas úmidas (e subúmidas) do Ceará ocorrem produtos agrícolas, mas recentemente a expansão
em várias serras dispersas pelo estado, sendo as imobiliária e o turismo resultaram em novas
mais marcantes as serras cristalinas de Baturité, ameaças. Tanto pela expansão urbana de cidades
Maranguape, Aratanha, Uruburetama e Meruoca. localizadas nas regiões com matas úmidas (e.g.
Mas matas úmidas e subúmidas também ocorrem Guaramiranga) quanto pela aquisição de “sítios
nos relevos sedimentares da Ibiapaba (por de veraneio” (que acabam sendo desmatados para
exemplo, em Ubajara) e do Araripe. O estudo instalar equipamentos humanos), a preservação
mais aprofundado já realizado sobre a biota desse conjunto vegetacional está ameaçada.
das matas úmidas cearenses foi direcionado à Algumas espécies só ocorrem nas matas
serra de Baturité (Oliveira & Araújo 2007), mas úmidas do cristalino como Abarema jupunba e
definitivamente falta uma síntese biogeográfica Manilkara rufula, enquanto outras só aparecem
da flora do conjunto das serras cearenses. nas matas úmidas do sedimentar como Cordia
É possível que áreas como Baturité e bicolor e Centrolobium microchaete.
Maranguape possuam uma influência mais forte Espécies características: Abarema jupunba,
da Mata Atlântica na sua biota, enquanto Ubajara, Apeiba tibourbou, Ateleia guaraya, Centrolobium
na Ibiapaba (a mata úmida mais a oeste do Ceará microchaete, Clusia nemorosa, Cordia bicolor,
e que cresce em terrenos sedimentares) tenha Cordia toqueve, Garcinia gardneriana, Guarea
uma influência amazônica mais forte. Algumas guidonia, Handroanthus serratifolius, Jacaratia
espécies da flora Amazônica co-ocorrem na spinosa, Manilkara rufula, Stryphnodendron
serra da Ibiapaba como Catasetum planiceps guianense, Thyrsodium spruceanum.
e Buchenavia grandis, além de elementos
faunísticos, como o caranguejo amazônico l Mata Seca do Cristalino e Mata Seca
Fredius reflexifrons (Magalhães et al. 2005). do Sedimentar
É possível que serras cristalinas muito Enquanto uma maior quantidade de chuvas
interiores, como a serra do Pereiro ou a serra das nas partes altas do barlavento das serras permite
Matas (Fig. 2), tenham tanto maior influência a ocorrência de matas úmidas, o sotavento das
da flora atlântica (como em Baturité) ou que, mesmas serras e as cotas altitudinais mais baixas
por receberem bem menos chuvas que as serras recebem uma quantidade menor de chuvas. São
próximas do mar, sejam constituídas por caatingas nessas áreas e nas serras mais afastadas do oceano
e matas secas do cristalino. que ocorrem as matas secas (Fig. 2; Fig. 3). Nos
Um estudo florístico extenso publicado maciços cristalinos, as matas secas se diferenciam
para a mata úmida do cristalino em Baturité está das caatingas do cristalino pelo porte maior das
disponível em Oliveira & Araújo (2007), enquanto árvores, mas faltam estudos biogeográficos que
que um levantamento florístico da mata úmida mostrem a natureza florística dessas matas. É
do sedimentar no Araripe está disponível em possível que sejam tanto uma forma de maior porte
Ribeiro-Silva et al. (2012). Estudos florísticos da caatinga do cristalino quanto uma formação
e comparações biogeográficas em outras matas floristicamente intermediária entre caatinga do
úmidas e subúmidas (Maranguape, Meruoca, cristalino e as matas úmidas ou, ainda, que sejam
Ubajara) são altamente desejáveis. realmente um tipo de vegetação floristicamente
As matas úmidas estão bastante ameaçadas bem definido.
pelo desmatamento para produção agrícola Em relação às matas secas das áreas
e expansão urbana. Os “brejos” foram sedimentares, como as que ocorrem na Ibiapaba
tradicionalmente reconhecidos como ambientes (Araújo et al. 2011), estas parecem ser,
de maior vocação agrícola que o semiárido floristicamente, apenas um subtipo fisionômico
circundante e foram desmatados e explorados de caatinga do sedimentar, pois sua flora é
em ciclos agrícolas de produção de café, cana e bastante relacionada à flora de outras áreas de
banana (Macêdo 2013; Oliveira & Araújo 2007), caatinga do sedimentar do Nordeste (ver Moro
o que resultou em graves impactos na qualidade 2013). Um levantamento florístico da mata seca de
dos ecossistemas originais e em processos de Baturité (cristalino) está disponível em Oliveira &
1
Cartograficamente, a escala grande é aquela que aborda uma área pequena com muitos detalhes (por exemplo escala 1:1.000),
ou seja, é aquela de abrangência local. Já a escala pequena é aquela em que uma área grande é representada com poucos detalhes
(por exemplo, 1:1.000.000), ou seja, de abrangência regional, nacional ou continental. Um mapeamento na escala do Brasil
possui pequena escala e outro na escala dos inselbergs de Quixadá possui grande escala. No caso, inselbergs e pequenas lagoas
e rios temporários só aparecem em mapeamentos de grande escala, aqueles em escala local, com grande grau de detalhamento.
Rodriguésia 66(3): 717-743. 2015
Vegetações do estado do Ceará 737
Poucos sistemas hídricos do Ceará, a exemplo famílias Alismataceae e Nymphaeaceae. Por ser um
de algumas grandes lagunas costeiras, como o ecossistema completamente diferente do terrestre,
Lagamar do Cauípe, são naturalmente perenes. ambientes aquáticos possuem uma flora bastante
O ambiente aquático é radicalmente diferente peculiar e muito diferente floristicamente de todas
do terrestre em sua ecologia. Dentro da água as plantas as outras comunidades vegetais do semiárido (Moro
não precisam de cutículas espessas e mecanismos et al. 2014a).
eficientes para evitar a desidratação; o CO2 para a Ao contrário do que se poderia pensar à
fotossíntese está dissolvido; e as plantas se utilizam primeira vista, o semiárido brasileiro não é pobre
de aerênquimas para que as folhas tenham diferentes em espécies aquáticas e anfíbias. Análogo ao que
níveis de flutuabilidade, a depender se a espécie é uma ocorre no Pantanal, o Domínio da Caatinga está
planta submersa, emersa ou flutuante. Parte da biota submetido a um ciclo de alternância entre estações
vegetal dos corpos hídricos é composta por plantas secas e chuvosas. Com isso, é possível encontrar no
exclusivamente aquáticas, que dependem desse Ceará uma flora especializada nos corpos hídricos, a
ambiente para crescer, e parte são espécies anfíbias, exemplo das famílias Alismataceae e Nymphaeaceae
que podem crescer tanto em ambientes terrestres (Sousa & Matias 2013; Matias & Sousa 2011).
quanto suportar o encharcamento do solo em parte Levantamentos florísticos e fitossociológicos nos
do ano. É comum que a vegetação anfíbia constitua ambientes aquáticos do Ceará estão disponíveis em
campos brejosos, ricos em Poaceae e Cyperaceae, Matias et al. (2003), Castro et al. (2012), Tabosa et
além da presença de plantas exclusivamente aquáticas al. (2012) e Moro et al. (2014b).
em locais inundados por mais tempo, como as das Os corpos hídricos no Ceará sofrem ameaças
pela poluição derivada da indústria e da falta de
saneamento básico; pelo assoreamento generalizado,
resultante do desmatamento das vegetações ripárias
que protegem os rios; pela construção excessiva de
açudes e barragens, os quais alteram a ecologia dos
rios; e pelo aterramento para expansão urbana.
Embora seja óbvia a necessidade de cuidar
da qualidade dos recursos hídricos em uma região
semiárida, rios e lagoas tiveram e ainda têm sua
vegetação ripária erradicada por particulares e pelo
poder público. Dentre os mais ameaçados estão
os corpos hídricos localizados em áreas urbanas.
Mesmo protegidos por lei, eles são rotineiramente
utilizados para depósito de lixo, aterrados ou
canalizados por particulares e pelo poder público.
A incapacidade (ou falta de desejo) humana para
perceber e se inserir de modo adequado em processos
ecológicos, como nos ritmos de cheia e seca dos
corpos hídricos, resultou em obras indiscriminadas
de canalização e aterramento de rios e lagoas (Maia
Neto 2013). Mesmo hoje, com uma compreensão
dos processos ecológicos e da importância social
da água, e apesar da proteção jurídica, os corpos
hídricos são comumente canalizados e aterrados,
atendendo a interesses privados e quase sempre com
Figura 4 – Gráfico de ordenação NMS (distância de suporte do poder público, mesmo que contra a lei.
Bray-Curtis) mostrando as afinidades de espécies entre Como destaca Maia Neto (2013), as ações humanas
a flora geral (incluindo plantas lenhosas e herbáceas) das em relação aos ecossistemas aquáticos do Ceará
diferentes vegetações do estado do Ceará. Stress final tem sido historicamente a de “controlar o caminho
para a solução bidimensional: 0.1456576. das águas”, mas nunca a de respeitar esse caminho.
Figure 4 – NMS Ordination graph (Bray-Curtis distance used)
showing the floristic resemblance among the vegetation types in Também destacamos as ameaças resultantes
Ceará state. Final stress for the bidimentional solution: 0.1456576. da introdução de peixes exóticos em projetos de
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Marcelo Freire Moro, Mariana Bezerra Macedo, Marcelo Martins de Moura-Fé, Antônio Sérgio Farias
Castro, Rafael Carvalho da Costa
Apêndice 1 – Acervo fotográfico dos principais tipos vegetacionais e paisagens do Ceará. As fotos que compõem
este acervo podem ser acessadas em maior resolução em http://dx.doi.org/10.6084/m9.figshare.1289920.
Appendix 1 – Photographs of the main vegetation and landscapes of Ceará state. These photos can be accessed in higher resolution in
http://dx.doi.org/10.6084/m9.figshare.1289920.
a
c
e f
Figura 1 – a-b. Mata seca do cristalino em Guaramiranga, Serra de Baturité; c. Mata úmida do cristalino em
Guaramiranga, Serra de Baturité; d-e. Cerrados costeiros em Fortaleza e Cascavel, respectivamente; f. Carnaubal em
Caucaia. Fotos a,b,c,e, f. ASF Castro. d. MF Moro.
Figure 1 – a-b. Dry forest, Guaramiranga, Baturité mountain; c. Wet forest, Guaramiranga, Baturité mountain; d-e. Coastal cerrado
savannas in Fortaleza and Cascavel, respectively; f. Carnaubal in Caucaia. Photos: a,b,c,e,f.: ASF Castro. d. MF Moro.
2 Moro, M.F. et al.
a c
e f
Figura 2 – a. Mata dos tabuleiros costeiros; b-c. campo praiano e dunas móveis em Camocim e vegetação de dunas fixas em
Aquiraz, respectivamente; d. Cerrado rupestre em Ipueiras; e. campo de inselbergs em Quixadá; f. Manguezal do rio Ceará
(Fortaleza e Caucaia). Fotos: a,c,d,e,f. ASF Castro; b. MM Moura-Fé.
Figure 2 – a. Coastal semideciduous tabuleiro forests; b-c. Vegetation in dunal ecosystems in Camocim and Aquiraz; d. Rocky cerrado in Ipueiras;
e. Inselbergs in Quixadá; f. Mangrove in Rio Ceará, between Fortaleza and Caucaia. Photos: a,c,d,e,f. ASF Castro; b. MM Moura-Fé.
a b
c d
e f
Figura 3 –a-b. Caatinga do cristalino com porte arbóreo na época chuvosa e na seca em General Sampaio; c. Caatinga do
cristalino com porte arbustivo denso e mata ciliar com carnaúba em Pentecoste; d. Caatinga do cristalino com porte arbustivo
aberto em Jaguaribe; e. vegetação paludosa em um brejo em Fortaleza; f. macrófitas aquáticas no Parque do Cocó, Fortaleza.
Fotos: a-b. fotos gentilmente cedidas por Marcelo de Oliveira Teles de Menezes; c,e,f. MF Moro; d. ASF Castro.
Figure 3 – a-b. Crystalline caatinga in General Sampaio during rainy and dry season, respectively; c. Dense shrubby crystalline caatinga in
Pentecoste; d. open shrubby crystalline caatinga in Jaguaribe; e. marsh in Fortaleza; f. Aquatic macrophytes in Parque do Cocó, Fortaleza. Photos:
a-b. Photos kindly provided by Marcelo de Oliveira Teles de Menezes; c,e,f. MF Moro; d. ASF Castro.
Rodriguésia 66(3): A1-A10. 2015
4 Moro, M.F. et al.
Apêndice 2 – Lista de trabalhos florísticos e fitossociológicos utilizados nas comparações fitogeográficas do Ceará.
As referências completas de cada estudo estão ao fim do Apêndice.
Appendix 2 – Floristic and phytosociological surveys used to perform the biogeographical comparisons of the vegetation of Ceará state.
The complete references for each study are at the end of this appendix.
Nº Vegetação Código da área
Local Referência
1 Carnaubal carnaubalPecém, São Gonçalo Castro et al. 2012
do Amarante
2 Cerrado do Araripe cer.ara01 Chapada do Araripe, Costa et al. 2004
Barbalha
3 Cerrado do Araripe cer.ara02 Nova Olinda Sousa et al. 2007b
4 Cerrado do Araripe cer.ara03 Chapada do Araripe Ribeiro-Silva et al. 2012
5 Cerrado do Araripe cer.ara04 Chapada do Araripe Ribeiro-Silva et al. 2012
6 Cerrado costeiro cer.costeiro01 Fortaleza Sá 1994
7 Cerrado costeiro cer.costeiro02 Fortaleza Moro et al. 2011
8 Campo praiano (vegetação costa.campo.praiano01 Pecém, São Gonçalo Castro et al. 2012
de beira de praia) do Amarante
9 Vegetação de dunas fixas costa.duna.fixa02 Pecém, São Gonçalo Silva 2000
do Amarante
10 Vegetação de dunas fixas costa.dunafixa01 Pecém, São Gonçalo Castro et al. 2012
do Amarante
11 Vegetação de dunas móveis costa.dunasemifixa01 Pecém, São Gonçalo Castro et al. 2012
e semifixas do Amarante
12 Manguezal costa.mang Pecém, São Gonçalo Castro et al 2012
do Amarante
13 Mata de tabuleiro costa.mata.tab01 Pecém, São Gonçalo Castro et al. 2012
do Amarante
14 Mata de tabuleiro costa.mata.tab02 Fortaleza Oliveira Filho 2000
15 Mata de tabuleiro costa.mata.tab03 Caucaia Fernandes & Nunes 1998
16 Caatinga do cristalino crist.caat01 Capistrano Medeiros 1995
17 Caatinga do cristalino crist.caat02 Aiuaba Oliveira et al. 1998
(próximo à transição para o
sedimentar)
18 Caatinga do cristalino crist.caat03 Quixadá Costa et al. 2007
19 Caatinga do cristalino crist.caat04 Crateús Costa & Araújo 2012
20 Caatinga do cristalino crist.caat05 Crateús Araújo et al. 2011
21 Caatinga do cristalino crist.caat06 Aiuba Sousa et al. 2007a
22 Caatinga do cristalino crist.caat07 Iguatú Lima et al. 2012
23 Vegetação rupícola de crist.ins01 Quixadá Araújo et al. 2008
inseberg
Rodriguésia 66(3): A1-A10. 2015
Vegetações do estado do Ceará 5
Apêndice 3 – tipos de vegetação do estado do Ceará com seus respectivos nomes regionais e a nomenclatura corres-
pondente no Atlas do Ceará (Figueiredo 1997) e na Manual Técnico da Vegetação Brasileira (IBGE 2012).
Appendix 3 – vegetation types in Ceará state showing the correspondence between the nomenclature used here and that proposed by
the Atlas do Ceará (Figueiredo 1997) and the Manual Técnico da Vegetação Brasileira (IBGE 2012).
Nome utilizado em nossa Nome aplicado a Nome aplicado a esta Outros nomes em
classificação esta vegetação pelo vegetação pelo IBGE uso
IPLANCE (Figueiredo (2012)
1997)
Modelados Cristalinos
Caatinga do Cristalino Caatinga Arbustiva Savana-Estépica Caatinga; caatinga sensu
Densa; Caatinga Arborizada; Savana- stricto
Arbustiva Aberta; Floresta Estépica Parque; Savana-
Caducifólia Espinhosa Estépica Florestada
Mata Seca do Cristalino Floresta Subcaducifólia Floresta Estacional Mata seca
(quando localizadas Tropical Pluvial Decídual
em maciços residuais Submontana (até 600
cristalinos) m) ou Montana
(acima de 600 m)/
Floresta Estacional
Semidecídual
Submontana (até 600
m) ou Montana
(acima de 600 m)
Mata Úmida do Floresta Subperenifólia Floresta Estacional Mata úmida serrana, brejo
Cristalino (quando Tropical Pluvio-Nebular Sempre-Verde de altitude
localizadas em Submontana (até 600 m)
maciços residuais ou Montana (acima de
cristalinos) 600 m)
Modelados Sedimentares Interiores
Caatinga do Sedimentar Carrasco Savana-Estépica Carrasco, caatinga de areia
Arborizada, Área de
Tensão Ecológica Savana
Estépica / Floresta
Estacional
Mata Seca do Sedimentar Floresta Subcaducifólia Floresta Estacional Mata seca
(quando localizada em Tropical Pluvial Decídual Submontana
superfícies sedimentares (até 600 m) ou Montana
– Chapada do Araripe, (acima de 600 m) /Floresta
Cuesta da Ibiapaba) Estacional Semidecídual
Submontana (até 600 m)
ou Montana (acima de
600 m)
Nome utilizado em nossa Nome aplicado a Nome aplicado a esta Outros nomes em
classificação esta vegetação pelo vegetação pelo IBGE uso
IPLANCE (Figueiredo (2012)
1997)
Cerrado (quando Cerrado Savana Arborizada Cerrado
possui fisionomia
savânica e
predominância de
espécies lenhosas
do Domínio do
Cerrado)
Cerradão (quando Floresta Subcaducifólia Savana Florestada Cerradão
possui fisionomia Tropical Xeromorfa
florestal e (Cerradão)
predominância de
espécies lenhosas
do Domínio do
Cerrado)
Planícies Fluviais
Mata Ciliar / Carnaubal Floresta Mista Dicótilo- Floresta Estacional Carnaubal, Mata
Palmácea Semidecídual ou Ciliar, Mata ripária
Sempre-Verde
Aluvial / Vegetação
com influência fluvial
e/ou lacustre
Modelados Sedimentares da Região Costeira
Mata de Tabuleiro (sobre Complexo Vegetacional Floresta Estacional Mata de Tabuleiro
a formação Barreiras) da Zona Litorânea: mata Decídual das Terras
de tabuleiro Baixas / Floresta
Estacional
Semidecídual das
Terras Baixas
Arbustal de
Tabuleiro (sobre a
formação Barreiras, – – –
especialmente nas
falésias)
Cerrado Costeiro Complexo Savana Arborizada Cerrado litorâneo, savana
(sobre os tabuleiros) Vegetacional da Zona costeira
Litorânea: cerrado
Vegetação de Dunas Complexo Vegetação com Influência Vegetação de dunas
Semifixas e Móveis Vegetacional da Zona Marinha (Restingas)
Litorânea: vegetação
pioneira psamófila
Nome utilizado em nossa Nome aplicado a Nome aplicado a esta Outros nomes em
classificação esta vegetação pelo vegetação pelo IBGE uso
IPLANCE (Figueiredo (2012)
1997)
Vegetação de Dunas Complexo Vegetacional Floresta Estacional Floresta de dunas,
Fixas (Campo, da Zona Litorânea: Semidecídual das vegetação de dunas
Arbustal ou Floresta floresta à retaguarda das Terras Baixas
de Dunas Fixas, a dunas (quando corresponde
depender do porte à Floresta de Dunas
da Vegetação) Fixas)
Campos Praianos e Complexo Vegetação com Influência Restinga, jundu
Arbustais Praianos (sobre Vegetacional da Zona Marinha (Restingas)
as areias quartzosas, Litorânea: vegetação
especialmente na planície pioneira psamófila
de deflação) (corresponde aos
campos praianos).
Arbustais Praianos
não tratados.
Manguezal Floresta Perenifólia Vegetação com Manguezal
Paludosa Marítima Influência Flúvio-
Marinha (Manguezal)
Vegetações especiais (só mapeáveis em grande escala)
Vegetação Rupícola – Refúgio Ecológico Lajedo, inselberg
do Cristalino (em (afloramentos rochosos)
inselbergs e lajedos
do cristalino)
Vegetação Rupícola – Refúgio Ecológico Lajedo
do Sedimentar (em (afloramentos rochosos)
lajedos do
sedimentar)
Vegetação Aquática e – Vegetação com influência Brejo, alagado, ipueira,
Paludosa (macrófitas fluvial e/ou lacustre vegetação aquática.
aquáticas e campos
paludosos em rios
temporários, lagoas
temporárias, lagoas
perenes e reservatórios
artificiais)
Apêndice 4 – Organograma representando os tipos de vegetação do Ceará e sua relação com as unidades de relevo.
Appendix 4 – Organogram representing the vegetation types of Ceará and their relation to the state’s geomorphological units.