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EPSTEIN, Jason.

O negócio do livro: passado,


presente e futuro do mercado editorial.

resenha
Tradução de Zaida Maldonado. Rio de Janeiro:
Record, 2002.

O
livro, esse misterioso objeto de papel, tinta, profissional de quem se esperava que descobrisse
cola e linha, vem atraindo muita atenção. escritores de público regular e constante ao longo
Talvez não tanto a atenção de leitores, mas dos anos.
com certeza a de uma multidão de estudiosos. O A essa geração de profissionais, contrapõe-
mais novo membro da tribo aqui comentado é se a necessidade contemporânea de os editores
Jason Epstein. Ele discute, esbanjando competência descobrirem (ou produzirem?) escritores de best-
e bom humor - passado, presente e futuro do sellers, já que é muito cara a manutenção do
mercado editorial em “O Negócio do Livro”. estoque e mais caro ainda o aluguel de bons pontos
São pouco mais de 150 páginas muito comerciais. Uma analogia: já que o público
agradáveis, cheias de referências e reflexões úteis. aprendeu a trocar carro de forma vertiginosa, por
A originalidade da obra vem do ponto de vista a que deveria manter-se fiel a autores, obras ou
partir do qual ela é escrita: seu autor fala do livro gêneros literários? Viva o materialismo
com a autoridade de quem viveu uma vida entre descontrolado e vicioso.
eles, não apenas como leitor, mas como Atuais estudos em diversas áreas (história
profissional responsável pela transformação de do livro, biblioteconomia, letras, sociologia,
textos em obras: Jason Epstein foi editor. estudos literários e etc.), todos unanimemente
Primeiro na Doubleday, depois na Random apontam o fato de que a grande transformação que
House e, tendo ainda em seu currículo a fundação Gutenberg operou no mundo dos livros e dos
da “New York Review of Books”, ele sabe muito leitores foi a substituição da leitura intensiva pela
bem do que está falando: o mundo em extinção extensiva. Ou seja, em vez de ler muitas vezes os
dos editores, livreiros e consumidores de livros tal mesmos livros, depois de Gutenberg, passou-se a
como o conhecemos até hoje ou - no caso brasileiro ler uma vez só (e cada vez menos criticamente...)
- tal como lamentamos não o ter conhecido. muitos livros.
Do alto de sua escrivaninha nova-iorquina, Esta obra de Epstein permite, na
Epstein descreve como esse mercado se foi originalidade de seu ponto de vista, uma rara e
construindo e transformando ao longo dos tempos. muito bem-vinda reflexão sobre a articulação da
Cinquentões de hoje talvez ainda se lembrem infra e da superestrutura. Com ela aprendemos
daquelas livrarias pequenas e médias, com que discutir leitura e literatura, maior ou menor
vendedores atentos e cultos, que recomendavam índice de leitores, é também discutir valor de uso
títulos e discutiam livros com seus não menos e valor de troca, mercado imobiliário, volatilização
cultos e desapressados fregueses. e imobilização de capitais.
Desaparecidas estas livrarias, a freguesia Nada mais oportuno em um país como o
teve de transferir-se para as “megastores” Brasil de hoje, onde grandes editoras são
contemporâneas, com funcionários uniformizados compradas pelo capital internacional, ao mesmo
que vendem papéis pintados com tinta (Fernando tempo em que programas de governo investem
Pessoa; poema “Liberdade”) com os quais não têm milhões na compra de obras literárias para
lá muita intimidade. No cenário da produção do escolares.
livro, a paisagem também muda radicalmente. Epstein nos ensina que livros foram, por um
Epstein fala com uma certa nostalgia do bom tempo, feitos, vendidos e lidos de um
tempo em que um editor de literatura era um determinado jeito, e que esse jeito parece inviável

Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.16, n.2, p.187-188, jul./dez. 2006 187
hoje. Mas a inviabilidade deste modelo de mercado ilimitada escolha e prenuncia uma estimulante
não equivale ao seu fim nem ao da leitura, menos cultura literária, embora também alarmante em
ainda dos leitores. Em “O Negócio do Livro” fica sua potencial diversidade.”
a pergunta se, emigrado às voláteis redes digitais, Contento-me muito em poder ter investido
o mercado do livro não está mudando de rosto sem alguns poucos reais na compra deste exemplar da
mudar a fisionomia, como dizia o velho e livresco literatura, o qual enaltece o meu gosto por
Dom Casmurro? trabalhar junto ao tão mágico objeto, a saber: o
Ao discutir livrarias virtuais e as livro. Não obstante meu gosto particular desejo
experiências de escritores que vendem on-line sua que esta pequena resenha possa servir de alguma
produção (como fez no Brasil João Ubaldo Ribeiro), inspiração para que outros estudantes,
o autor registra que esse novo movimento, principalmente os de Biblioteconomia sintam-se
afastando os intermediários que se multiplicaram livres das armadilhas mercadológicas e adquiram,
na esteira de Gutenberg, pode resultar numa nova de vez em quando, algum item de leitura mais
intimidade entre leitores e escritores, intimidade apurada.
completamente ausente em um mercado de
megalivrarias e dominado por megabest-sellers. Diego A. Salcedo
“...A Internet, ao conectar leitores e escritores uns Graduando do Curso de Biblioteconomia
aos outros, oferece a possibilidade de uma quase da Universidade Federal de Pernambuco

188 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.16, n.2, p.187-188, jul./dez. 2006

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