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O QUE VOCÊ PRECISA SABER

ANTES DE DAR PLANTÃO


EM UM LUGAR NOVO
SUMÁRIO

SOBRE NÓS
APRESENTAÇÃO
QUESTÕES PESSOAIS
QUESTÕES ESTRUTURAIS
QUESTÕES ADMINISTRATIVAS
SOBRE NÓS

João Vitor Alexandre Remor Micael Hamra


UFES UFSC FAMECA
Fomos residentes de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Universidade
de São Paulo (HC-FMUSP 2016-2018). Chegar até aqui não foi fácil!

A verdade é que, apesar de muito estudo e dedicação, tivemos muitas dúvidas


ao longo do caminho à residência médica.

E não tivemos quem nos orientasse, sobre o que fazer, durante esse período
tão difícil da nossa vida acadêmica.

Percebemos que passar nos concursos de residência médica vai além de


apenas estudar. É necessário ter conhecimento, produtividade e um mindset
ajustado para o seu objetivo.

Nós conseguimos alcançar o nosso objetivo. Queremos te mostrar como fazer


o mesmo.

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Apresentação

Boa; você acabou de ser adicionado no grupo de plantões da sua região, da


sua cidade ou daquele convênio que você tanto queria. Você já ouviu muitos
colegas falarem coisas do tipo: “Lá você atende muito”, ou “Lá não paga tão
bem”... Será que é só isso que conta? Será que é uma equação tão linear assim?
Será que na balança a gente tem que pesar só fluxo e remuneração? Se você
chegou até aqui, você sabe que tem muito mais coisa que deveria influenciar.

Preparando esse e-book, tentamos pensar quais seriam as perguntas que


você deveria fazer antes de assumir um plantão, antes de se expor àquela
sala vermelha que “paga quase R$ 1.500,00 por 12 horas e quase não chega
paciente”. Será que vale a pena? Será que não compensa um plantão que paga
menos, mas também atende menos, em uma cidade pequena, por exemplo?

A verdade é: não existe resposta certa para essa pergunta. Não existe um
plantão ideal universal. Existe o plantão que mais se encaixa com o seu
estilo.

Pensando em perguntas que todo médico deveria fazer, conseguimos


compartimentalizá-las em 3 categorias: Questões pessoais, estruturais
e burocráticas. Vamos tecer breves comentários sobre elas, para
ver se te ajudamos a escolher os plantões com mais propriedade -
Uma coisa ruim para um colega pode ser boa para você e vice-versa.

Vamos começar pelas pessoais.


QUESTÕES PESSOAIS
1 - Eu sei tocar uma
parada sozinho?
Parece uma coisa óbvia, mas acompanha o nosso raciocínio: Se você não sabe
tocar uma parada sozinho, evite locais em que você é o único médico. Ou se
não tiver escolha, veja se tem a possibilidade de você dividir o plantão com
alguém experiente. Você ganha menos, porém não expõe nem o seu CRM e
nem o seu paciente a riscos. Bom mesmo seria você se capacitar para tocar
uma parada.
Recomendamos fortemente que você faça o curso do ACLS.

2 - Eu sei intubar um
paciente sozinho?
A ideia é a mesma da parada. Mas, em alguns casos, é possível postergar
a intubação. É sempre melhor uma intubação eletiva, no paciente estável,
mas se você não domina o procedimento, melhor fazer uma ponte com
suporte ventilatório não invasivo, até que outro colega mais experiente
realize o procedimento. Contudo, nos casos que não for possível aguardar
o colega, você vai ter que manejar a via aérea do doente. Se você ainda se
sente completamente inseguro para realizar uma IOT, compre uma máscara
laríngea e/ou um bougie. Não são caros e podem salvar a vida de um paciente
no plantão (e o seu CRM), se você não souber, ou não conseguir intubar.
3 - Eu sei passar um
central sozinho?
A ideia é a mesma da IOT. Em alguns casos é possível manejar o paciente com
drogas vasoativas no acesso periférico e postergar a passagem do central, até
que o paciente seja encaminhado para a referência. Dificilmente um acesso
central será uma emergência médica, uma coisa para você realizar na correria.
Então se você não se sente seguro para passar um central sozinho, saiba que
isso não deve ser determinante na escolha de um local de plantão - Claro, se
você tem uma cidade de referência a 6 horas (ou mais) de onde você está
dando plantão, ou se você é o médico responsável pela sala vermelha, não
adianta manter o paciente com drogas no periférico - Aí o central passa a ser o
acesso de escolha. Além disso, dificilmente aceitam um paciente transportado
com drogas vasoativas no acesso periférico, principalmente com altas doses,
porque se perder o acesso, as chances de óbito são grandes.

4 - Se tiver um ventilador
mecânico, eu sei usar?
Repare que são duas perguntas combinadas em uma. Na inexistência de um
ventilador mecânico, nem se preocupe com isso. Vai ter que “ambuzar”, nem
ocupe a cabeça (naquele momento, para aquele plantão) com conhecimentos
sobre ventilação mecânica. Porém, se tiver disponibilidade na unidade, você
sabe ajustar os parâmetros? Sabe identificar e corrigir os problemas que
aparecem? Se não souber e tiver que pegar aquele plantão, se proteja de
algumas formas: Opte por lugares em que você não é o único médico de
plantão - e que seu colega saiba ligar, obviamente - ou estude antes parâmetros
de ventilação, procure o manual do ventilador na internet e saiba ao menos
quais são os botões e como ajustar. Se você for ainda mais detalhista, pode
acrescentar uma outra pergunta: “O ventilador mecânico está funcionando?”.
5 - Eu sei drenar um tórax?
Dificilmente uma unidade de pronto-socorro não terá materiais para drenagem
de tórax. Isso significa que você tem que saber? Olha, é muito bom que saiba!
Isso pode salvar vidas. Agora, pense: Drenagem de tórax em selo d’água é
um procedimento definitivo para pneumotórax hipertensivo ou aberto (nesse
caso, a gente ainda associa o curativo em 3 pontas).
O que um cirurgião ou um emergencista fazem enquanto não há
possibilidade de drenagem de tórax? Você faz uma punção de alívio.
Essa sim você deve dominar (e é bem mais fácil, diga-se de passagem).
Se você nunca viu um tórax sendo drenado, não dê uma de super-herói
quando medidas heróicas não são necessárias.

6 - Eu sei conduzir uma


vítima de trauma?
Mesmo que você não tenha atendido sozinho nenhuma vítima de trauma,
temos certeza que você viu ao menos uma ao longo da sua graduação. Se
você viu uma, viu todas. Isso porque todo atendimento de trauma passa
pelo ABCDE. Obviamente, cada trauma tem sua particularidade em cada
uma das letras, mas todos passam por essa ordem. Existem diversas apostilas
que orientam o atendimento ao politraumatizado.
Sempre bom fazer o ATLS.
QUESTÕES ESTRUTURAIS
1 - Qual o tamanho da cidade?
“Só o que me faltava, vou ter que entrar na internet e ver quantos habitantes
moram naquela região”. Claro, meu amigo. Isso é mais do que óbvio!
Lembra quando você estudou patologia? O professor começava a falar da
epidemiologia e seu cérebro já desligava. Prevalência e incidência de doença
eram informações que você fez questão de nem registrar! Então, olhe por
esse lado: A maior chance de você encontrar uma doença mais grave, mais
complicada, mais rara… É em uma cidade de grande porte, concorda?! Só tenha
o cuidado de não se confundir com a matemática. Você pode se deparar
com doenças graves, complicadas na cidade do interior, que costumam ser
pobres em recursos materiais e menos treinadas em emergências, também
por uma menor exposição - “Um plantão no interior pode ser um céu ou um
verdadeiro inferno!” (Djon Machado)

2 - A cidade é “mais urbana”


ou “mais rural”?
“Não é possível que isso influencie na hora da minha escolha”. Não; não é
que influencia na escolha, influencia na sua preparação. Como assim? Se uma
cidade tem um perfil mais urbano, qual a chance de você se deparar com
acidentes ofídicos; acidentes escorpiônicos; ferimentos corto-contusos com
facões, machados... Lesões com arame farpado; mordedura por cachorros
não observáveis; corpo estranho no olho? Repare que é uma preparação
completamente diferente (vale sempre a pena estudar profilaxia de tétano,
de raiva…). Seja inteligente, se for pegar um plantão, seja sagaz e antecipe
problemas! - “Eu mesmo já peguei um coice de cavalo no hipocôndrio
esquerdo. Tive que conduzir como trauma contuso de abdome, mas
ninguém nunca me ensinou a tratar coice de cavalo!” (Gabriel Sgarbosa)
3 - Qual a principal atividade
econômica da cidade?
Mesmo raciocínio da questão anterior. Se você está de plantão numa cidade
em que o cultivo de café ou cana, por exemplo, é a principal atividade
econômica, aumentam as chances de sutura, de traumas oculares, e por aí
vai... Se uma cidade tem um perfil econômico dependente de metalurgia, por
exemplo, também aumentam as chances de sutura. Só dois exemplos bem
básicos!

4 - Tem rodovia de alta velocidade,


ou estrada perigosa, próximo
à unidade?

A explicação desta é bem elementar, mas muita gente não pensa nisso.
Vamos lá, raciocine com a gente: Diante de um trauma de alta energia (carro,
moto, caminhão, atropelamento), quase sempre o serviço móvel de urgências
acaba levando o paciente não para o centro referência de trauma, e sim para
aquele que está mais perto. E, pelo mesmo raciocínio do tamanho da cidade,
concorda que em rodovias de alta velocidade o fluxo de carros é maior?! Logo,
as chances de acidentes aumentam. Você precisa estar seguro de como
realizar um atendimento à vítimas de trauma.
5 - Tem UTI à disposição?
Alguns pacientes precisam de internação em leito de UTI. Infelizmente, no
Brasil temos uma escassez de leitos intensivos. Geralmente o paciente com
clara indicação de cuidados em UTI acaba ficando na sala vermelha, ou pior,
na sala de observação. Saiba se, precisando desse leito, você terá para onde
enviar o paciente ou se terá que permanecer sob seus cuidados e transformar
a “sala vermelha” em uma UTI.

6 - Atende GO? Atende PED?


Nem precisamos nos alongar muito neste tópico. Estudar pediatria e gineco-
obstetrícia são dois mundos completamente diferentes. Se você sabidamente
não atende gestantes, crianças ou queixas ginecológicas, não perca tempo
estudando essas áreas antes de ir pro plantão. Agora, se você vai atender,
sempre vale a pena dar aquela lida em trabalho de parto, recepção do RN,
doenças exantemáticas na criança e até drogas e doses de emergências
pediátricas (não precisa decorar, faz uma nota no celular ou até em um papel
e coloca no bolso do jaleco!)

7 - Qual a distância até a


cidade de referência?
Isso é importante não só para casos de síndrome coronariana aguda ou AVC,
mas também para casos em que você precisará enviar um paciente instável
ou estável para um local de referência. Não adianta nada tentar estabilizar
um abdome agudo perfurativo que você viu no raio-x e encaminhar
ambulatorialmente para a equipe da cirurgia. A conduta só é definitiva com
abordagem cirúrgica.
8 - Tenho um especialista
não presencial? (cirurgião,
pediatra ou obstetra?)
Às vezes você tem um pouco de dúvida no exame físico, ou não consegue
relacionar a história clínica com os exames laboratoriais e gostaria de discutir
o caso com o especialista. Algumas doenças são tão caprichosas que só com
o especialista conseguiríamos “bater o martelo”.
É sempre bom contar com a opinião do especialista. O número do médico
especialista costuma ficar com a enfermagem ou na recepção do hospital. Só
não espere um tratamento gentil e cordial de todos os médicos, ainda mais
se a ligação for durante à noite!

9 - Tenho exames
laboratoriais disponíveis?
Esse é um ponto crítico para muitos recém-formados. Com isso, a gente quer
te perguntar uma coisa: Você precisa dos exames para formular a sua hipótese
diagnóstica? Ou precisa deles para confirmar ou descartar hipóteses? Se você
respondeu que precisa deles para formular sua hipótese - Não é bem assim!
Sua hipótese diagnóstica deve ser feita com base na sua história clínica e no seu
exame físico - Pensa! Paciente etilista crônico, chega no pronto atendimento
com “náuseas e vômitos, dor intensa no epigástrio, hipocôndrio esquerdo e
parece que a dor vai pras costas”. Você tem alguma dúvida de que a principal
hipótese diagnóstica para esse quadro é de pancreatite? Tem dúvida de que a
conduta inicial é analgesia, hidratação e jejum? Não ouse dizer que antibiótico
também! Ela não está indicada! Você pode até dizer: “Mas eu aprendi que o
diagnóstico de pancreatite precisa de fator clínico, laboratórial e imagem” - E
você está certíssimo! - Entretanto, aqui estamos trabalhando com hipóteses.
Consegue levantar outras? Síndrome Coronariana Aguda? (pela história clínica
e pelo ECG você pode começar a descartar); Cetoacidose diabética? (Com
um dextro você já se resolve). Perceba que a hipótese norteia a conduta, não
a confirmação da patologia. Se você suspeita de um IAM sem supra de ST,
o melhor é transportar o paciente ou solicitar transporte até a cidade de
referência, aonde poderão ser seriados os marcadores de lesão miocárdica.

10 - Tenho exames de
imagem disponíveis?
A ideia é a mesma dos exames laboratoriais. Para qual patologia você
precisa de um exame de imagem para fazer sua hipótese diagnóstica? Exato,
nenhuma! Eles complementam a sua hipótese diagnóstica. Quantas foram as
patologias que, para a suspeita clínica, você precisa de um exame de imagem?
(dica: a suspeita é CLÍ-NI-CA). Suspeitar é pela clínica, mas algumas condutas
dependem, sim, de exames de imagem. Um AVC precisa de uma tomografia
para localizar a obstrução. Em muitos casos você vai precisar complementar a
investigação com um raio-x - na suspeita de um abdome agudo, por exemplo
- se for perfurativo você já deve ver evidências de pneumoperitônio. Pelo
menos com a suspeita clínica você já tem uma justificativa para solicitar o
exame e/ou justificar o encaminhamento à cidade de
referência.

11 - Tenho um Eletro disponível?


Básico do básico do básico… E nem é sempre que tem. Infelizmente. Você
concorda que ECG muda a conduta? Nós, particularmente, recomendamos
que você não dê plantões numa unidade sem máquina de eletrocardiograma:
“Ah, mas se der problema a culpa é da unidade que não forneceu o material”.
Na verdade, a culpa é sua, que se submeteu a risco nessa unidade. É triste,
mas é a verdade.
12 - Tenho enfermaria caso
precise internar?
O raciocínio para essa questão é o mesmo da UTI. Às vezes, o paciente não
tem motivos para permanecer na sala vermelha ou no hall de observação
do hospital, contudo se beneficiaria de uma internação, mesmo que curta.
Saiba se, precisando desse leito, você terá para onde enviar o paciente, ou
se terá que permanecer sob seus cuidados, ou transferir para o médico da
observação e transformar a observação em enfermaria.

13 - Se o paciente precisar
ser transportado, quem
faz o transporte?
Visualize! Você está em uma pequena cidade do interior, com cerca de 5.000
habitantes e precisa que um paciente seja internado na UTI, um choque séptico
de foco pulmonar, de uma cidade que fica há cerca de 90 minutos de onde
você está. Você sabe que a vaga foi cedida e ele “só precisa ser encaminhado
até lá.” Você não pode simplesmente deixar um paciente desse ir por meios
próprios. Ele precisa de ambulância. Só que, se você for o único médico, não
pode simplesmente transportar e deixar o PS sem médico. É necessário entrar
em contato com o responsável técnico pela unidade, e ele precisa garantir que
um médico assuma seu lugar, ou que outro faça o transporte. Pense que nem
sempre a cidade tem SAMU. Então é bem provável que, assim como alguns de
nossos professores, você fará transporte de pacientes graves em ambulâncias
que são praticamente caminhonetes com capota, um improviso total.
14 - Quantos médicos
atendem na unidade?
Talvez esta seja uma das perguntas que as pessoas mais fazem, justamente
com “qual o volume” e “quanto paga”. Saber quantos médicos atendem é uma
ótima informação. Questione quantos ficam durante o dia e quantos ficam
durante à noite. Pergunte se durante à noite os médicos costumam dividir
horário. Cuidado! Dividir horário não significa que você pode se ausentar da
unidade naquele período, e nem que, “não importa o que chegar, não é meu
horário”. Não tenha esse tipo de conduta!

15 - Qual o volume de
atendimentos?
Faz sentido para você que isso seja importante saber? Concorda que, se em
12 horas cada médico atende cerca de 80 pacientes… São quase 7 pacientes
por hora, contando que você atendeu as 12 horas sem almoçar, sem ir ao
banheiro, sem tomar aquele cafezinho gostoso no meio da tarde. 7 pacientes
em 1 hora, significa que você vai ter mais ou menos 8 minutos por paciente; 8
minutos para anamnese, exame físico, conduta e anotar tudo no prontuário.
Para as queixas mais tranquilas, uma conjuntivite viral, 8 minutos são mais
do que suficientes. Mas, se chega aquele vôzinho com tosse; Te garanto que,
para uma consulta bem feita, para um prontuário bem feito - Claro! Você vai
demorar (por baixo) uns 15 minutos. Saiba que você não é obrigado a respeitar
o tempo de consulta que o local determina. Você tem autonomia para
definir o tempo da sua consulta, a partir do momento em que o paciente
entrar no consultório. Mas também não fique “galinhando”, enrolando no
atendimento, porque um paciente com IAM, com supra, que abriu ficha
com queixa de náuseas e vômitos pode ficar 2 horas esperando, evoluir
com PCR porque você vacilou nos casos simples.
Seja sempre proporcional no atendimento! Todos os pacientes que estão
no PS, os atendidos e os não atendidos são de sua responsabilidade!

16 - Posso dividir o plantão


com um colega?
Em alguns lugares isso é permitido. Num local em que, por horário, existe
um médico, você e seu colega podem dividir o plantão. Como se cada um
completasse 6 horas do plantão, mas ambos ficam 12 horas. Saiba que o valor
do plantão também é dividido entre os 2, isto é: Se o valor de 12 horas é R$
1.000,00 cada um receberá R$ 500,00... Essa pode ser uma boa saída para
você, que só tem à disposição locais em que só um médico completa a escala
de 12 horas e gostaria de ir em um local com mais profissionais.

17 - Tenho uma sala


vermelha de qualidade?
Por “de qualidade”, não queremos dizer disponibilidade de laringo articulado,
ventilador de última geração. De qualidade: Carrinho de parada, material e
drogas para intubação e desfibrilador. Tudo funcionando, claro.
Nós recomendamos fortemente que você não dê plantões numa unidade
sem uma sala vermelha, com o mínimo necessário para tocar uma parada!
18 - Tem desfibrilador?
Ele funciona?
De nada adianta ter desfibrilador se ele não funcionar. Converse com médicos
que já deram plantão antes e pergunte se eles já o utilizaram. Caso não consiga
perguntar, veja com a enfermagem quando foi a última vez que o desfibrilador
foi testado. O certo é testar antes do plantão (costuma ser, num mundo ideal,
uma das primeiras obrigações da equipe de enfermagem, juntamente com
checar carrinho de parada). Como falamos no tópico anterior, recomendamos
fortemente que você não dê plantões numa unidade sem desfibrilador
que funciona!

19 - Tem bomba de infusão?


Ela funciona?
Bomba de infusão é extremamente importante num plantão, mas nem
sempre disponível. Fato é; na indisponibilidade de bomba de infusão, veja
se há possibilidade de troca da via de administração (esquema Pritchard e
Zuspan para iminência de eclâmpsia, por exemplo), ou no (não tão) bom
e velho “contagem de microgotas”. Infelizmente, sem bomba de infusão
algumas situações são de difícil manejo ideal. Mas, na impossibilidade do
ideal, saiba se virar com poucos recursos (Nada de coisas da sua cabeça! Não
inventa moda!)
20 - Atende convênio
particular ou SUS?
Se você achou que iríamos falar para você atender de jeitos diferentes o
paciente do SUS ou o paciente do convênio particular, você não podia estar
mais enganado. Esteja pronto para atender de forma idêntica a ambos. O
que muda é que, no convênio, você tende a ter uma maior disponibilidade
de exames e leitos para internação (em alguns casos há até incentivo para a
internação). Em contraponto, no SUS costumamos trabalhar com escassez de
recursos. Esteja preparado para os dois cenários.

21 - A equipe de enfermagem
é treinada?
Esse é um ponto crítico no cenário de emergência, e temos que admitir uma
triste verdade: Em muitos locais há uma cisão entre médicos e equipe de
enfermagem. Quando a enfermagem questiona a conduta do médico, o
médico acaba por responder de forma ríspida, e lá se vão 11 horas de plantão
com a cara fechada. O fato de existir uma equipe de enfermagem treinada
te ajuda demais no plantão. Muitas vezes ela já sabe todas as drogas de uma
parada, por exemplo. Já sabe o esquema de insulinoterapia para hiperglicemia
isolada ou cetoacidose diabética, hipercalemia… Aprenda com ela sempre
que possível. Contudo, mostre liderança e, diante de uma equipe não tão
bem treinada, oriente e ajude com todas as dúvidas.
Preze sempre por um bom relacionamento no PS!
22 - Tem Programa de Saúde
da Família na cidade?
Esse é extremamente importante. Se há PSF, diminuem as chances de
queixas simples chegarem ao PS (queixas como unha encravada há 1 mês,
lesões cutâneas há 3 semanas, dor no joelho há 4 meses…). Por outro lado,
se o PSF for de baixa qualidade ou inexistente, há uma chance maior de
você atender queixas que não são emergência ou urgência, e que podem
tumultuar bastante seu plantão.

23 - Pega sinal de celular?


Às vezes, no sufoco, você precisa dar uma olhada na internet, procurar no
aplicativo do celular ou até mesmo ligar para alguém e tirar dúvida de um
caso. Óbvio que na ausência de sinal de celular para ligações você pode
recorrer ao telefone fixo da unidade.

24 - Tem colar cervical e


prancha na unidade?
Parece elementar que isso exista em todas as unidades de PS, ainda mais
aquelas que comumente recebem vítimas de trauma. Colar e prancha são
indispensáveis para o atendimento do paciente politraumatizado (não estão
no A à toa!). Ainda mais se você precisar transportar um politraumatizado,
não ouse colocá-lo numa ambulância sem colar e prancha. Infelizmente, em
alguns locais você precisará transportar o doente e não vai ter colar e nem
prancha. Nesses casos, improvise com os materiais da unidade um colar e uma
prancha, porque nenhum paciente deve ser transportado “se debatendo” na
ambulância.
25 - Se são 2 ou mais médicos
na unidade, tem um que
só atende emergências ou
todo mundo atende tudo?
Isso pode ser libertador para você! Saber que se chegar aquele paciente
bomba, não é na sua mão que cai. Mas, esteja preparado para dar uma ajuda,
caso o colega precise. Não vem com essa de: “Meu plantão é de fichas verdes…”.
Contudo, se você vir que é o mais experiente e, mesmo assim, ainda se sente
inseguro, proponha ao colega que, na presença de uma emergência, os dois
realizam o atendimento.

26 - Se eu der plantão em um
hospital, eu assumo os
pacientes da enfermaria
durante à noite (ou até
durante o dia) ?
Essa é uma das piores situações que você pode enfrentar. Isso pode
acontecer principalmente em cidades de pequeno porte, nas quais o pronto
atendimento vinculado ao hospital da cidade. Acontece que dificilmente o
médico que cuida da enfermaria durante o dia vai permanecer na unidade
durante as 12 horas. Muitas vezes ele passa pela manhã, passa visita, prescreve
os pacientes e vai embora. Sejam 3, 5 ou 10 leitos de enfermaria, o ponto é que
são pacientes que você não conhece, não acompanhou a história e, diante de
uma intercorrência, você vai ter que correr, checar o prontuário e “se virar nos
30” para resolver o problema. Informe-se disso com antecedência!
QUESTÕES ADMINISTRATIVAS
1 - Quanto paga?
Se você nos permite dar uma sugestão, não faça a seguinte conta: “Quanto eu
ganho por paciente?”. Tendemos a fazer essa conta para ver se compensa ir a
um local com menos fluxo e menor pagamento, ou num local com mais fluxo
e maior valor. A medicina do PS não pode ser pautada por uma equação tão
simples assim. Espero que, se você leu tudo até aqui e não pulou direto pra
essa questão, você nem esteja se preocupando tanto com a parte financeira.

2 - Paga em dia?

Por “em dia”, queremos dizer “dentro do combinado”. Alguns locais pagam
regularmente 2 meses após o plantão, e isso é combinado de antemão.
Cuidado com locais em que há uma irregularidade do pagamento (Cada mês
cai um dia, às vezes atrasa…), isso pode prejudicar sua organização financeira
no próximo mês. Ao entrar nos grupos de WhatsApp ou Facebook de plantões,
converse com plantonistas regulares lá ou que já deram plantão naquele local.
Não se exponha a um risco sem se informar!

3 - Aceita PF ou apenas PJ?

No estado de São Paulo temos visto locais que só aceitam Pessoa Jurídica.
Médico pode ter pessoa jurídica? Eu sou uma empresa? É isso mesmo. Você
pode abrir uma empresa de serviços médicos. Mas, como tudo na vida, isso
tem um custo. Você pagará taxas para abrir a conta, precisará de um contador
(se você tiver um na sua família, aproveite!) e, para o conselho de medicina do
seu estado, você vai ter que pagar duas anuidades: De pessoa física e de pessoa
jurídica. A vantagem é que os impostos na pessoa jurídica são inferiores em
relação à pessoa física. Porém, antes de sair todo empolgado
fazendo “a PJ” (sozinho ou com colegas), faça contas na ponta do lápis pra
ver se compensa. Muitas vezes os gastos com contador e anuidade não
compensam os descontos da PJ.

4 - Fica um segurança na
unidade à noite?
“Nossa, não é possível que até isso conte na hora de pegar um plantão.”
Acredite, conta muito. Infelizmente, os relatos de agressão a médicos têm
aumentado. Você dificilmente roda a timeline do Facebook ou do site de
notícias sem ver um relato de agressão a médico ou a profissional da saúde.
Segurança no ambiente de trabalho é essencial. Risco de agressão por
pacientes sob efeitos de álcool ou substâncias ilícitas são maiores durante à
noite.
Preze por locais com seguranças em tempo integral na unidade.

5 - O prontuário é
eletrônico ou manual?
Antes que você vá pensando besteira, nada de exame físico copiado e colado
do bloco de notas. Não faça nada disso. Não faça esse tipo de medicina. Cada
exame merece sua própria anamnese e seu próprio exame físico. Além do
que, é ridículo você escrever como hipótese diagnóstica “GECA” e escrever
no prontuário que as membranas timpânicas estão íntegras e translúcidas;
Ou que diante de uma queixa de IVAS, com congestão nasal, escrever que as
panturrilhas estão livres e sem edema. O fato de o prontuário ser eletrônico
ou manual deve te mover a escrever com mais agilidade (lembrando que
a letra precisa ser legível, sempre!). Naturalmente, prontuários eletrônicos te
permitem um atendimento mais rápido, desde a consulta propriamente dita,
até a prescrição, receitas para casa ou atestados.
Se você estiver em uma unidade com prontuário manual e quiser mais
agilidade, converse com o paciente sobre isso no início do atendimento. Fale
que você vai anotar no prontuário enquanto ele fala, veja se ele se incomoda,
garanta que ele entende que você está prestando atenção enquanto escreve.
Acredite; os pacientes são super compreensivos quando você conversa e
explica tudo para eles!

REDES SOCIAIS

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