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rcadeu@gmail.com
Não se pode falar da sonata no barroco sem que se mencionar outros tipos de formas
instrumentais daquele período, uma vez que esses estilos instrumentais geralmente
influenciavam uns aos outros. Durante o início do século XVII os gêneros
instrumentais mais recorrentes eram os seguintes:
1 O termo “partita” aparece em várias conotações diferentes tanto como peça que apresenta variações sobre melodias,
variações sobre um baixo ou como um sinônimo para o termo “suíte”.
Embora em seu início o termo sonata tenha aparecido de modo genérico para
designar qualquer tipo de peça que fosse instrumental, em seu desenvolvimento
seguinte o termo passou a ser usado para designar peças escritas para um ou dois
instrumentos melódicos, mais comunmente violinos, com acompanhamento de
baixo contínuo. No que diz respeito à forma sua estrutura era muito semelhante à da
canzona sendo baseada seções fortemente contrastantes. Essa característica formal,
herdada da canzona, é de fundamental importância para entendermos como a sonata
mais tarde viria a se consolidar como peça instrumental em vários movimentos.
Nas primeiras sonatas, como no caso da Sonata IV per il violino per sonar a due
corde, de Biagio Marini (1594 - 1663) vê-se claramente a indicação de diferentes
andamentos com diferentes texturas em uma peça sem interrupção. Em outras
palavras, é uma peça em um movimento porém com vários andamentos indicados.
Nessa sonata, por exemplo, vê-se os seguintes andamentos indicados: lento,
moderato, lento, presto, lento, moderato e lento.
Jean Baptiste Lully (1632 - 1687) foi um dos mais influentes compositores do
período barroco, sendo isso indiscutivelmente verdade na música francesa. Sua
vasta produção de ballets e sua iniciativa de incluir música de ballet nas óperas fez
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Essas quatro danças são quase na totalidade das vezes construídas utilizando o que
teóricos mais tarde vieram a chamar de forma binária. “A suíte barroca [...] apresenta
desde sarabandas em andamento lento até gigas em movimento rápido, sendo cada
uma delas desenvolvida sobre a Forma Binária” (LAITZ; BARTLETTE, 2010, p. 156).
A forma binária se caracteriza pela ocorrência de duas seções, as quais designamos como
A e B, respectivamente, sendo cada uma repetida com a indicação de um ritornelo.
/ :A : / /:B : /
FIGURA 1 - Diagrama genérico da forma binária
No que diz respeito à organização tonal, quando ocorre uma cadência no fim da parte
A que termina na tônica então temos uma forma binária seccional, uma vez que ambas
as seções terminam na tônica. Se a parte A de uma forma binária terminar em qualquer
outro tipo de cadência e em qualquer outra função harmônica (dominante, relativo
maior, etc.) temos um exemplo de forma binária contínua (LAITZ, 2008, p. 588).
2 Dependendo do país e da língua os nomes das danças irão variar: Allemanda, Alman etc.
Nas formas binárias, o tamanho de cada uma das partes pode variar, mas é comum
que a parte B seja de tamanho igual ou maior do que a parte A. Nas formas
binárias cíclicas, no início da parte B existe a apresentação de material temático
novo geralmente contrastante com o material da parte A. A apresentação desse
material termina em uma cadência à dominante o que leva à repetição de parte ou
da totalidade do tema da parte A.
/ :A tema a : / / :B tema b : /
Forma binária cíclica:
Além das quatro danças listadas acima, há outras danças que os compositores
opcionalmente incluíam entre a Sarabanda e a Giga. Essas danças são:
1) Boureé; 2) Gavote; 3) Minuette, sendo que essa última esteve presente na tradição
instrumental do período clássico até ter sido substituído pelo Scherzo na Sinfonia n.
3 de Beethoven. Muitas vezes essas danças opcionais aparecem em pares, como por
exemplo “Bourée I” e “Boureé II” da Suíte para Violoncelo n. 3 em do maior de J.
S. Bach. Nesse caso essas peças apresentam uma estrutura maior e mais complexa a
3 Cadência à dominante: grau harmônico expresso em algarismo romano.
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A forma ternária composta consiste em uma peça formada por duas formas binárias
em sequencia com a indicação da capo al fine ao final da segunda forma binária
indicando, assim, a repetição da primeira forma binária.
A B (A)
/ :A : / /:B : / /:A : / /:B : /
fine da capo al fine
QUADRO 1
Princípio estrutural temático e harmônico da forma ternária
A B A ou A’
Repetição literal de A, ou
Material original Material contrastante repetição alterada chamada
de A’
Tonalidade contrastante
(no modo maior: IV, vi, iv,
Tonalidade original Tonalidade original
bVI, i)
(no modo menor: III, iv, VI, I)
Assim como as formas binárias, as formas ternárias simples podem ser seccionais ou
contínuas, dependendo da harmonia.
4 A forma rondó
O contraste que existe no material musical apresentado em cada um dos episódios (partes
B, C etc.) e os refrões (A) é tanto de natureza temática quanto de natureza harmônica.
Geralmente a estrutura harmônica das formas rondó vai se comportar da seguinte maneira:
QUADRO 2
Estrutura harmônica das formas rondó
A B A C A
(Y) Região
harmônica
(X) Região
vizinha que não
harmônica
seja a própria
Tônica vizinha que não Tônica Tônica
tônica e que
seja a própria
seja diferente da
tônica
região harmonia
de B
Possíveis regiões Possíveis regiões
harmônicas no harmônicas no
modo maior: modo maior:
Possíveis Possíveis Possíveis
V, IV, iv, vi, V, IV, iv, vi,
regiões regiões regiões
i, bVI, bII; i, bVI, bII;
harmônicas: harmônicas: harmônicas:
Possíveis regiões Possíveis regiões
I, i I, i I, i
harmônicas no harmônicas no
modo menor: III, modo menor: III,
V, iv, VI, I V, iv, VI, I
É de maior importância notar que todo tipo de diagrama é reducionista e não tem
valor se não for entendido como uma maneira de se comunicar didaticamente
ideias que de outra forma se tornariam difíceis de se comunicar, especialmente ao
leitor que não seja profundamente familiarizado com o repertório da música de
concerto. Assim, quando se fala de uma forma rondó representada por uma estrutura
lógica descrita como A-B-A-C-A, estamos criando uma generalização útil para o
entendimento inicial dessa estrutura. Porém, quanto mais se aprofunda no estudo
de tais formas, observamos variantes e singularidades específicas em peças as quais
identificamos como rondó. Uma dessas peculiaridades, que pode estar presente em
uma forma rondó mas não necessariamente são importantes estruturas chamadas de
transições e tetransições (LAITZ, 2008, p. 737).
QUADRO 3
Exemplo de forma rondó
5 A forma sonata
5.1 Introdução
QUADRO 4
Estrutura da grande forma sonata na sinfonia em quatro movimentos
por regiões harmônicas cada vez mais distantes, repetindo o tema ou recortes dele,
em cada uma dessas novas regiões até que, ao fim do desenvolvimento, acontece uma
cadência à dominante que prepara o início da re-exposição.
A re-exposição vai, como o nome sugere, re-expor os temas A e B com uma diferença
importante. Na re-exposição tanto o tema A quanto o B acontecem na região da
tônica. Isso implica em uma diferença marcante no caso de sonatas em tonalidade
menor, nas quais o tema B, que é exposto no relativo maior é re-exposto na tônica que
é menor. Esse é exatamente o caso da Sinfonia n. 40 de Mozart. Assim o diagrama da
re-exposição da forma sonata fica da seguinte forma:
QUADRO 6
Re-exposição da Forma Sonata
Uma estrutura que pode apresentar grande diferença entre a sua ocorrência na
exposição para sua ocorrência na re-exposição é a transição que ocorre ente os temas
A e B. A transição é uma subseção mais livre do que as outras, assim pode ser bem
mais extensa quando ocorrem na re-exposição.
QUADRO 7
Forma sonata
Repetição, recorte e
Fechamento Fechamento
A B transformação de um dos A B
(A’) (A’)
temas ou dos dois.
Instabilidade harmônica:
Modo Dominante Dominante passagem por várias Modo
maior: (V) (V) regiões harmônicas maior: Tônica (I) Tônica (I)
Tônica (I) geralmente sem que Tônica (I)
ocorram fortes cadências.
Instabilidade harmônica: Tônica Tônica
Modo Relativo Relativo passagem por várias (i), ou (i), ou
menor: maior (III) maior (III) regiões harmônicas Tônica (i) homônimo homônimo
Tônica (i) geralmente sem que maior (I) maior (I)
ocorram fortes cadências
Além das estruturas descritas acima, na sonata clássica pode existir antes da exposição
uma introdução lenta, e após a re-exposição pode ocorrer uma coda, a qual pode
apresentar tamanhos variados. Após a sinfonia n. 3 de Beethoven compositores
começaram a utilizar codas cada vez mais extensas, as quais às vezes são chamadas
por alguns teóricos de “segundo desenvolvimento”.
É importante ressaltar mais uma vez que os diagramas apresentados nesse artigo
têm caráter didático e não podem ser encarados em absoluto como regras. Porém,
caso o leitor se interesse em fazer uma escuta crítica, de preferência com a partitura
em mãos, perceberá o quão útil tais diagramas podem ser ao se buscar um maior
entendimento de como essas formas estruturais ocorrem no repertório da música
de concerto europeia dos séculos XVII e XVIII. Também é importante ressaltar
que acreditamos que toda análise deve servir ou para a construção consciente da
performance de uma peça ou para o entendimento mais aprofundado de uma peça
ou de toda uma tradição musical. Assim, aos estudantes reforçamos a importância
de se conhecer com clareza essas formas, o modo como elas buscam o contraste e a
repetição de modo que essas ideias possam ser enfatizadas ao se propor a performance
de uma peça.
REFERÊNCIAS
CALDWELL, J. Canzona. In: SADIE, I. The new groove dictionary of music and
musicians. v. III. Londres: Macmillan, 1995. p. 742-745.
GROVE, G. Beethoven and his nine symphonies. New York: Dover, 1962.