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microeconomia1_curvas.

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CM

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CMY

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Microeconomia I
Disciplina na modalidade a distância

Palhoça
UnisulVirtual
2012

Book 1.indb 1 27/02/2012 10:09:15


Book 1.indb 2 27/02/2012 10:09:15
André Luis da Silva Leite

Microeconomia I
Livro didático

Design instrucional
João Marcos de Souza Alves

Palhoça
UnisulVirtual
2012

Book 1.indb 3 27/02/2012 10:09:15


Copyright © UnisulVirtual 2012
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Edição – Livro Didático


Professor Conteudista
André Luis da Silva Leite

Design Instrucional
João Marcos de Souza Alves

Projeto Gráfico e Capa


Equipe UnisulVirtual

Diagramação
Alice Demaria
Pedro Teixeira

Revisão
Diane Dal Mago

ISBN
978-85-7817-429-3

330.1
L55 Leite, André Luis da Silva
Microeconomia I : livro didático / André Luis da Silva Leite ; design
instrucional João Marcos de Souza Alves. – Palhoça : UnisulVirtual, 2012.
142 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-429-3

1. Microeconomia. 2. Oligopólios. 3. Monopólios. I. Alves, João Marcos


de Souza. II. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul

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Sumário

Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
Palavras do professor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

UNIDADE 1 - Poder de mercado e monopólio.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17


UNIDADE 2 - Oligopólio e concorrência monopolística. . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
UNIDADE 3 - Análise do equilíbrio geral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
UNIDADE 4 - Falhas de mercado: assimetria de informações,
bens públicos e externalidades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

Para concluir o estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129


Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
Sobre o professor conteudista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
Respostas e comentários das atividades de autoavaliação. . . . . . . . . . . . . . 135
Biblioteca Virtual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

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Apresentação

Este livro didático corresponde à disciplina Microeconomia I.

O material foi elaborado com vista a uma aprendizagem


autônoma e aborda conteúdos especialmente selecionados e
relacionados à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem
didática e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância,
proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a
um aprendizado contextualizado e eficaz.

Lembre que sua caminhada, nesta disciplina, será acompanhada


e monitorada constantemente pelo Sistema Tutorial da
UnisulVirtual. Neste sentido, a “distância” fica caracterizada
somente como a modalidade de ensino por que você optou para
sua formação. É que, na relação de aprendizagem, professores e
instituição estarão sempre conectados com você.

Então, sempre que sentir necessidade, entre em contato.


Você tem à disposição diversas ferramentas e canais de acesso
tais como: telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de
Aprendizagem, que é o canal mais recomendado, pois tudo o
que for enviado e recebido fica registrado para seu maior controle
e comodidade. Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior
prazer em lhe atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal
objetivo.

Bom estudo e sucesso!

Equipe UnisulVirtual

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Palavras do professor

Prezado (a) Estudante,

Seja bem vindo(a) à disciplina de Microeconomia I. O objetivo


central desta disciplina é proporcionar a você o primeiro
contato com os elementos essenciais da teoria microeconômica.

De forma resumida, a teoria microeconômica lida com


o comportamento dos agentes econômicos em diversas
situações. Ou seja, lida com o comportamento do consumidor,
dadas mudanças no sistema de preços. Também lida com as
estratégias das empresas para ganharem mercado.

Ao contrário de outra disciplina, onde você aprendeu que os


mercados são perfeitos, nesta disciplina, o conteúdo abordado
trata essencialmente de concorrência imperfeita e falhas de
mercado, e visa compreender os fenômenos conhecidos como
falhas de mercado. Primeiramente você estudará o poder de
mercado, que se manifesta em estruturas de mercado como
monopólio, oligopólio e concorrência monopolística.

Na sequência analisará outras falhas de mercado, tais como a


assimetria de informações, as externalidades e o provimento de
bens públicos.

Ressalto, por fim, que este livro não esgota o assunto, muito ao
contrario, você deve se sentir estimulado a procurar ler outros
livros textos, especialmente com o intuito de aprender novas
abordagens sobre esses assuntos aqui tratados.

Bom estudo!

Prof. André Luís da Silva Leite

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Plano de estudo

O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da


disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o
contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva


em conta instrumentos que se articulam e se complementam,
portanto, a construção de competências se dá sobre a
articulação de metodologias e por meio das diversas formas de
ação/mediação.

São elementos desse processo:

„„ o livro didático;

„„ o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);

„„ as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de


autoavaliação);

„„ o Sistema Tutorial.

Ementa
O poder de mercado, monopólio e concorrência monopolística.
Oligopólio, modelos clássicos, teoria dos jogos. Mercado de
fatores e oferta de trabalho. Equilíbrio geral: troca e produção.
Teoria do bem estar: eficiência e equidade. Externalidade e
bens públicos. Informação assimétrica.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Objetivos

Geral:
Compreender os conceitos e formulações teóricas referentes às
estruturas de mercado, especialmente mercados de competição
imperfeita e ser capaz de analisar mercados onde atuam as firmas
com diferentes estratégias no processo de concorrência.

Específicos:
„„ Apresentar formulações teóricas referentes aos modelos
de concorrência imperfeita;

„„ Descrever o conceito de equilíbrio geral e a análise de


bem-estar;

„„ Entender de forma teórico-empírica os conceitos de


assimetria de informação, bens públicos e externalidades.

Carga Horária
A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula.

Conteúdo programático/objetivos
Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta
disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos
resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de
estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de
conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à sua formação.

Unidades de estudo: 4

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Microeconomia I

Unidade 1 - Poder de mercado e monopólio


Nesta unidade você vai estudar os mercados monopolistas,
aprendendo sobre o importante conceito de poder de mercado.
Neste caso, tratamos primeiramente de mercados monopolistas,
onde apenas uma firma atua. Mostramos que neste tipo de
mercado, a presença de uma única firma gera ineficiência para
a sociedade, que acaba pagando preço mais elevado por isso. A
seguir, estudamos o conceito de poder de mercado, que refere-
se à capacidade de interferência de uma empresa no sistema de
preços.

Unidade 2 - Oligopólio e concorrência monopolística


Por meio desta unidade você vai aprender sobre o modelo de
concorrência monopolística e compreenderá o processo de
concorrência em oligopólios. Nesta unidade, tratamos das
estruturas de mercado mais realistas, ou seja, aquelas mais
facilmente encontradas no nosso cotidiano. Nestes mercados,
nos deparamos, ao analisar o processo de concorrência, com
empresas que detém expressivo poder de mercado, mas não são
monopolistas. Logo, devem criar estratégias visando a atrair mais
consumidores.

Unidade 3 - Análise do equilíbrio geral


Você analisará, nesta unidade, o equilíbrio geral e conhecerá
a teoria da eficiência econômica. Você irá também entender
a importância das trocas para a economia. Nesta unidade,
trataremos, em uma perspectiva teórica, da análise do
equilibro geral. Ao contrário da análise de equilíbrio parcial,
corriqueiramente tratada nos textos, esta análise visa a tentar
identificar a interdependência entre mercados. Tal análise visa
especialmente tentar entender as relações de equilíbrio entre os
agentes e fornecer subsídios às intervenções governamentais.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Unidade 4 - Falhas de mercado: assimetria de informações, bens


públicos e externalidades
E por fim, entenderá, nesta unidade, que os mercados falham,
devido à assimetria de informações e externalidades, e
compreenderá que os governos devem intervir nos mercados
em determinadas situações. Neste caso, trataremos de análises
realistas sobre falhas de mercados, que levam à percepções
erradas por parte dos agentes econômicos, o que implica
alocações ineficientes dos recursos. Além do mais, a unidade trata
também da questão dos efeitos externos das ações dos agentes
econômicos, a que chamamos externalidades e do provimento
dos bens públicos.

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Microeconomia I

Agenda de atividades/Cronograma

„„ Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar


periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus
estudos depende da priorização do tempo para a leitura,
da realização de análises e sínteses do conteúdo e da
interação com os seus colegas e professor.

„„ Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço


a seguir as datas com base no cronograma da disciplina
disponibilizado no EVA.

„„ Use o quadro para agendar e programar as atividades


relativas ao desenvolvimento da disciplina.

Atividades obrigatórias

Demais atividades (registro pessoal)

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1
UNIDADE 1

Poder de mercado e monopólio

Objetivos de aprendizagem
„„ Analisar estruturas de mercado monopolistas.

„„ Analisar a relação entre monopólio e eficiência


produtiva.

„„ Apresentar ao estudante o conceito de monopsônio.

„„ Apresentar o conceito de poder de mercado e as


estratégias das empresas com poder de mercado.

Seções de estudo
Seção 1 Monopólio

Seção 2 Monopólio e ineficiência produtiva

Seção 3 Poder de mercado

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


A teoria microeconômica tradicional há muito discute as
vantagens de um mercado competitivo em relação ao monopólio.
Mostra a teoria, que a presença de uma estrutura de mercado
monopolista impõe custos sociais, dado que nessa estrutura a
empresa cobra um preço significativamente acima do Custo
Marginal, haja vista que tem poder de mercado. Ao passo
que, em mercados perfeitamente competitivos, as firmas se
comportam como tomadoras de preço, de modo que o preço é
igual ao Custo Marginal. Portanto, esta unidade visa também
a mostrar os elementos que levam as firmas a se tornarem
monopolistas e as estratégias de empresas com poder de mercado.

Você já reparou que alguns serviços na sua cidade são fornecidos


por apenas uma empresa. Ao contrário do ambiente de
concorrência perfeita, há certas situações onde os monopólios
prevalecem. Por exemplo, a empresa de abastecimento de água
normalmente é um monopólio. De modo que, na maior parte dos
municípios do Brasil, as pessoas ao adquirirem água para suas
casas, fazem-no comprando de uma única empresa.

Neste caso, como se verá ao longo desta unidade, o monopólio,


situação na qual há apenas um único ofertante, é o conceito
oposto ao de concorrência perfeita.

A concorrência perfeita e o monopólio são duas dimensões


particulares que os economistas adotam para classificar mercados
e indústrias e tentar entender o comportamento das firmas nestes
ambientes.

Estruturas de Mercado
Quando os economistas mencionam o termo estruturas de
mercado, referem-se à forma como os mercados são organizados.
Para tanto, duas dimensões são analisadas, em um primeiro
momento:

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Microeconomia I

„„ Número de empresas produtoras;

„„ Produtos homogêneos ou diferenciados.

Outras características também são levadas em conta,


especialmente aquelas referentes às particularidades de cada setor
da economia. Leite (2008) coloca que a estrutura de mercado
é o local onde ocorre o processo de concorrência. Porém, em
essência, as estruturas são caracterizadas pelo número de
empresas presentes no setor. E isso é determinado por uma série
de razões, tais como:

„„ Existência de barreiras à entrada, ou seja, impedimentos/


dificuldades à entrada de novas empresas no mercado;

„„ Regulamentação governamental;

„„ Economias de escala;

„„ Superioridades tecnológicas.

Quando essas características estão presentes, é mais comum


observarmos poucas empresas participando de um setor
da economia, como é o caso, por exemplo, do setor de
medicamentos. Nesse setor, poucas empresas dominam a
tecnologia e tem recursos suficientes para investimentos em
Pesquisa & Desenvolvimento.

Seção 1 - Monopólio
Monopólio, em seu sentido estrito, significa uma situação na
qual há apenas uma empresa responsável pela produção total de
uma indústria, de um determinado bem ou serviço. É o caso,
por exemplo, de uma distribuidora de energia elétrica. No que
diz respeito ao atendimento dos consumidores residenciais de
eletricidade, há, em cada local, apenas uma empresa responsável
pela oferta.

Unidade 1 19

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Costumamos definir indústria como sendo o conjunto


de empresas produtoras de bens substitutos, próximos
ou não. Assim, por exemplo, as empresas que ofertam
serviços de transporte aéreo constituem a indústria de
transporte aéreo.

Na condição de único produtor, o monopolista está em uma


situação privilegiada, pois não enfrenta concorrentes diretos. Ou
seja, a empresa monopolista é o próprio mercado (PINDYCK;
RUBINFELD, 2005). Porém, como ficará claro com a leitura
desta unidade, o monopolista não pode cobrar o preço que quiser,
caso seu objetivo seja a maximização de lucros. Isso porque seu
poder está limitado pela demanda e pelo comportamento dos
demandantes.

Tradicionalmente, considera-se que o objetivo da empresa


monopolista é maximizar os lucros. Para poder atingir esse
objetivo, a empresa, primeiramente, determina seus custos
e analisa as características da demanda. Dispondo dessas
informações, a empresa pode determinar a quantidade a ser
produzida e o preço a ser vendido.

Decisão de produção do monopolista


O monopolista, com base nos pressupostos da economia
neoclássica, visa a maximizar seu lucro. A Receita Média
(RMe) do monopolista refere-se ao preço que esse recebe
por unidade vendida, e é exatamente a curva de demanda de
mercado (PINDYCK; RUBINFELD, 2005). Além da RMe,
o monopolista também deve conhecer sua Receita Marginal
(RMg), que é a variação da receita resultante da variação da
produção de uma unidade a mais. Assim, podemos expressar
essas duas variáveis a partir das seguintes equações:
RT
RMe = =p
q
e
∆RT
RMg = = RT
∆q

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Microeconomia I

A Receita Média é a própria curva de demanda da empresa


monopolista. E, a receita marginal é a derivada da função receita
total. Assim, suponha, por exemplo, uma firma monopolista que
tenha a seguinte equação de demanda:

P = 100 – Q

Assim, sendo a RT = R.Q , tem-se que

RT = 100Q – Q2, assim, a RMg, que é a derivada de RT, é:

RMg = 100 – 2Q.

A Figura 1.1 mostra a relação entre a receita média e a receita


marginal. Note que a RMg pode ser negativa, pois isso implica
que a receita total está diminuindo, com o aumento das vendas.
Ao contrário da concorrência perfeita, onde RMg = P, em
monopólio, o Preço é maior que a receita marginal.

Figura 1.1 – Receita Média e Receita Marginal


Fonte: Pindyck e Rubinfeld, 2005.

E como o monopolista decide quanto produzirá?

A quantidade a ser produzida para se maximizar lucros é


determinada a partir do encontro da receita marginal com o custo
marginal. Ou seja, o lucro é maximizado quando: RMg = CMg.

Unidade 1 21

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Algebricamente, determina-se a quantidade ótima, ou seja,


aquela que maximiza o lucro da empresa (diferença entre receita e
custos), dado por π , da seguinte forma:
π (q ) = RT (q ) − CT (q )

Assim, para maximizar o lucro, devemos derivar a função lucro,


o que implica:
∆π ∆RT ∆CT
= − =0
∆q ∆q ∆q

Ou seja, RMg = CMg.

Este caso encontra-se ilustrado no gráfico a seguir

Figura 1.2 – Decisão do monopolista


Fonte: Pindyck e Rubinfeld, 2005.

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Microeconomia I

Suponha que uma empresa tenha os seguintes custos:

CT = 50 + Q2

E, a seguinte demanda:

P(q) = 100 – Q.

Sendo RT = P.Q , tem-se que RT = 100 Q-Q2.

Logo, dada a regra de maximização de lucro a qual afirma que


esse é maximizado quando RMg=CMg, tem-se que:

CMg = 2Q e RMg= 100-2Q

Assim, CMg= RMg

2Q = 100 – 2Q

4Q = 100, portanto,

Q = 25.

E o preço?

Para se determinar o preço recorremos à curva de demanda, que:

P(Q ) = 100 – Q = 100 – 25 = 75.

Neste exemplo, o lucro, π (q), é igual a:

π (q) = RT – CT= P.Q – 50 - Q2 = 75.25 – 50-(25)2 = 1875-50 625= 1200.

Causas do monopólio
Muitas vezes, especialmente sob a perspectiva da sociedade e dos
órgãos do governo que devem fomentar a concorrência, devemos
entender como se formam os monopólios.

Unidade 1 23

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Um dos primeiros monopólios que se tem notícia, na economia


moderna, é o monopólio de diamantes da África do Sul, De
Beers. Esse monopólio foi criado na década de 1880, por
Cecil Rhodes. Naquela época, na África do Sul, havia muitas
empresas produtoras de diamantes que dominavam o mercado
mundial, conforme nos contam Krugman e Wells (2009). Assim,
Rhodes comprou a maior parte das minas produtoras e se tornou
monopolista na produção de diamantes.

Em essência, são quatro as principais causas do monopólio.

a) Acesso exclusivo à matéria-prima


Quando apenas uma firma tem acesso à matéria-prima principal
de um determinado produto, logo, apenas essa firma poderá
produzi-lo, tornando-se monopolista.

Esse era o caso, por exemplo, da ALCOA (Aluminum Company


of America), que na década de 1950 detinha praticamente todas
as reservas de bauxita do planeta, matéria-prima principal do
alumínio, o que implicava que a empresa era monopolista na
fabricação do produto.

b) Patentes
Outro caso é a situação na qual a empresa inventa um novo
produto, e, por lei, tem a patente daquele produto, sendo ela a
única, ou a quem ela conceda este direito, a produzir tal produto.

Um exemplo de patente que gera monopólio é o caso do CD ou


DVD. A tecnologia empregada foi desenvolvida pela holandesa
Philips. Assim, a Philips recebe royalties pelos aparelhos, CDs e
DVDs fabricados por outras empresas.

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Microeconomia I

c) Tradição
A tradição de um país ou empresa na fabricação de um
determinado produto também leva ao monopólio ou eleva o
poder de monopólio (conceito que será discutido nesta unidade)
da empresa/país com mais tradição. É o caso dos relógios suíços.
Embora a Suíça não seja o único país a fabricar relógios, os
relojoeiros suíços desfrutam de significativo poder de monopólio
e têm a capacidade de manipular os preços de mercado.

d) Monopólio Natural ou Puro


O monopólio natural ou puro é uma situação na qual, devido à
economia de escala, apenas uma empresa tem 100% da produção
do mercado, ao mínimo custo. Ou seja, neste caso, é mais
eficiente e melhor para a sociedade que apenas uma empresa
seja responsável pela produção de um determinado bem. Alguns
exemplos dizem respeito ao serviço de distribuição de energia
elétrica para os consumidores residenciais nos estados.

Metrô também é um caso de monopólio natural. Nas cidades


onde existe este meio de transporte, só há uma empresa ofertante,
pelo fato de que seria inviável economicamente duas empresas
competidoras ofertando transporte nas mesmas estações. Ou seja,
neste caso, o monopólio é mais eficiente para a sociedade que a
concorrência.

Como exemplo, imagine que a demanda por energia elétrica


em uma cidade seja de 100 MW/dia. Para que a energia chegue
às casas dos consumidores é necessário o serviço de uma
distribuidora de energia. Assim, dada a economia de escala,
uma distribuidora monopolista tem um custo unitário de $15/
MW/dia. Caso houvesse duas distribuidoras concorrentes entre
si, ofertando cada uma 50 MW/dia, então, o custo unitário de
cada empresa seria de $25/MW/dia. Logo, conclui-se que, em
casos especiais, é melhor para a sociedade que haja apenas uma
empresa, pois esta utiliza menos recursos da sociedade e seu
preço tende a ser menor também.

A Figura 1.3 mostra um exemplo de monopólio natural. Note


que no ponto de maximização de lucro, RMg=CMg, a curva de

Unidade 1 25

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Universidade do Sul de Santa Catarina

demanda cruza a curva de custo médio (CMe) antes do ponto


de mínimo desta última. Nesse caso, se houvesse duas empresas
ofertantes, ambas produzindo a mesma quantidade, o custo
médio de produção seria maior, sendo, portanto, mais ineficiente
para a sociedade.

Figura 1.3 – Economia de escala e monopólio Natural


Fonte: Pindyck e Rubinfeld, 2005.

Seção 2 - Monopólio e ineficiência econômica


Ofertantes e demandantes têm interesses conflitantes. Enquanto
os primeiros desejam maximizar seus ganhos, os demandantes
desejam pagar o menor preço possível por um determinado
bem. Porém, no monopólio este conflito de interesses é resolvido
em favor do monopolista. As perdas dos consumidores são
maiores que os ganhos para o monopolista, por isso dizemos que
monopólios são, de forma geral, fontes de ineficiência.

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Microeconomia I

Assim, como o monopólio implica perdas líquidas para a


sociedade, os governos tentam por meio de órgãos de defesa da
concorrência impedir ou limitar o surgimento do monopólios.

Em um mercado de concorrência perfeita, o preço é igual ao


custo marginal. O poder de monopólio implica que o preço tende
a ser superior ao custo marginal. Em verdade, quanto maior o
poder de monopólio, maior a diferença entre o preço e o custo
marginal. Assim, a presença de estruturas de mercado como o
monopólio implica preços mais elevados e menor quantidade
disponível para a sociedade. A ineficiência alocativa do
monopólio torna-se evidente na medida em que comparamos essa
situação com a de concorrência perfeita.

Na Figura 1.4, suponhamos que se passe da situação de


equilíbrio em concorrência perfeita, com preço competitivo (pc)
e quantidade competitiva (qc) para a de monopólio, aumentando
o preço para pm e reduzindo a quantidade produzida para qm.
A perda de excedente do consumidor corresponde à soma das
áreas A e B, enquanto o excedente do produtor será aumentado
em A e diminuído em C. Logo, o montante A refere-se à
transferência de renda e não gera efeito líquido sobre o excedente
total, enquanto haverá perda líquida de excedente total no montante
equivalente à área B + C. Essa é conhecida como “perda de
bem-estar de peso morto” (deadweight welfare loss) devida ao
monopólio.

Figura 1.4 – Monopólio e sua ineficiência social


Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2005).

Unidade 1 27

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Em suma, o retângulo e os triângulos hachurados mostram as


alterações ocorridas nos excedentes do consumidor e do produtor,
quando se move de uma situação competitiva (PC e QC) para
uma situação de monopólio (PM e QM). Dado o preço mais alto,
os consumidores perdem A + B e o monopolista ganha A – C,
assim, o peso morto é B + C.

Pode-se dizer que, do ponto de vista social, o monopólio é


uma estrutura de mercado ineficiente. Pode-se mostrar essa
ineficiência de outro modo. Em mercados competitivos, as
empresas enfrentam concorrência e, como consequência, têm
seu poder sobre o seu preço individual reduzido. Assim, visando
à maximização de lucros, resta às empresas reduzirem seus
custos para poderem atingir seus objetivos. Por outro lado, o
monopolista tem poder sobre seu preço e pode, limitado pela
demanda, aumentar seu preço devido a eventuais aumentos nos
custos.

A constatação da ineficiência do monopólio, implicou,


especialmente na década de 1990, uma série de políticas em
diversos países, inclusive no Brasil, de introdução da competição
em setores antes caracterizados por monopólio, especialmente os
setores de infraestrutura, como gás, eletricidade, comunicações,
dentre outros.

A ideia central era que a competição estimularia as inovações e


novos investimentos na expansão do sistema (LEITE, 2003).
Além do mais, a competição implicaria menor preço e maior
quantidade à disposição das pessoas. Neste sentido, claramente,
é possível observar que em certos casos essa política foi bem
sucedida, como no caso da telefonia celular. Porém, no setor
elétrico, culminou com o racionamento de energia no Brasil em
2001 (LEITE, 2008).

Exercício resolvido 1
O quadro a seguir mostra a curva de demanda de um
monopolista, que produz com um custo marginal de $ 12,00.
Suponha CF =0.

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Microeconomia I

Receita
Preço ($) Qte Receita Custo Total Lucro
Marginal
27 0 0 - 0 0
24 2 48 10,5 24 24
21 4 84 19,5 48 36
18 6 108 12 72 36
15 8 120 6 96 24
12 10 120 0 120 0
9 12 108 -6 144 -36
6 14 84 -12 168 -84
3 16 48 -18 192 -144
0 18 0 -24 216 -216

a) Calcule a curva de receita marginal da empresa.


∆RT
Lembre-se que: RMg =
∆q

b) Qual o nível de produção que maximiza o lucro da empresa?


Q = 6.

c) Qual o preço que maximiza o lucro?


P = 18 (note que há dois momentos em que o lucro é máximo,
por convenção, escolhe-se aquele em que a quantidade produzida
é maior).

d) Qual o lucro da empresa?


π = 36.

e) Quais seriam o preço e a quantidade caso este monopolista


fosse obrigado a cobrar um preço de mercado competitivo?

Unidade 1 29

Book 1.indb 29 27/02/2012 10:09:21


Universidade do Sul de Santa Catarina

Caso a empresa fosse obrigada pela entidade reguladora, por


exemplo, a praticar preço igual a uma empresa em concorrência
perfeita, o preço seria igual ao custo marginal, ou seja, p = $12.

Exercício resolvido 2
Suponha uma firma monopolista com as seguintes características:

CT (Q ) = 50 + Q2

P = 40 – Q (Curva de demanda)

Assim, pergunta-se qual a quantidade e o preço que maximizam


o lucro do monopolista? E, o lucro?

Como sabemos, a condição de maximização de lucro é


RMg = CMg, logo,

RT = P.Q = (40 - Q ) Q = 40Q - Q2

Assim, RMg, que é a derivada da RT, é:


RMg =40 – 2Q

E, CMg = 2Q

Portanto,
RMg = CMg ∴ 40 - 2Q = 2Q ∴ 40 = 4Q ∴ Q = 40/4=10.

Assim, como mostra a curva de demanda, P = 40 - 10 = 30.

Logo, o lucro, π , é:

π = RT – CT = (40Q – Q2) – 50 – Q2 = (400-100)- 50 – 100 = 150

Ou seja, nesse caso, o máximo lucro que a firma pode ter, nessas
condições é: $150.

Agora, suponha que esta firma, por ser um monopólio, fosse


obrigada, pelo regulador, a ter conduta de firma em concorrência
perfeita. Qual seria seu preço, sua quantidade produzida e seu
lucro?

30

Book 1.indb 30 27/02/2012 10:09:21


Microeconomia I

R: Bom, neste caso, a firma seria obrigada a cobrar seu preço


igual ao custo marginal. Assim:

P = CMg ∴ 40 – Q = 2Q ∴ Q = 40/3 = 13,33.

P = 40 – Q = 26,67

E, o lucro, π , é:

π = RT – CT = P.Q – CT = (13,33.26,67) – 50 – (13,33)2 =


355,55 - 50 – 177,76 = 127,77.

O quadro a seguir resume a diferença entre monopólio e


concorrência perfeita.
Monopólio Concorrência Perfeita
P 30 26,67
Q 10 13,33
π 150 127,77

Em suma, nota-se, claramente, que em condições de monopólio,


o preço a ser cobrado é maior, a quantidade ofertada menor e
o lucro da empresa maior do que em situações de concorrência
perfeita.

Monopsônio
Até esse momento, nossa análise tem centrado esforços em
entender o mercado monopolista. Porém, há outra situação na
qual as empresas possuem expressivo poder de mercado. É o caso
no qual há apenas um comprador ou poucos compradores. Assim,
nos referimos ao monopsônio, como sendo o mercado no qual há
apenas um comprador. E, oligopsônio é o mercado no qual há
poucos compradores.

Nesse caso, é o comprador (ou os compradores) que detém o


poder de mercado, ou seja, o poder de influenciar o preço de
mercado. Exemplos são mais comuns do que se pensa.

Unidade 1 31

Book 1.indb 31 27/02/2012 10:09:21


Universidade do Sul de Santa Catarina

No caso de monopsônio, um exemplo interessante pode ser visto


a partir da relação da empresa Sadia S.A. com seus cooperados.
Esses produzem, de acordo com as regras e matrizes fornecidas
pela Sadia, que, por contrato, compra toda a produção desses
pequenos produtores.

Um caso de oligopsônio encontra-se no setor de automóveis, onde


as montadoras se comportam como oligopsônio, em relação às
fábricas de autopeças.

Seção 3 - Poder de mercado


Desde a década de 1930, os principais estudiosos da
Microeconomia tem concentrado seus esforços de pesquisa
na definição e avaliação de poder de mercado e nos seus
determinantes principais (LEITE, 2008). Os custos sociais do
monopólio receberam bastante atenção dos pesquisadores, ao
passo que as eficiências que podem advir do monopólio, como
economias de escala, foram negligenciadas por essa corrente
teórica. Assim, estruturas de mercado altamente concentradas são
indesejáveis devido à sua ineficiência.

Eficiência econômica é um critério de estimativa do


desempenho das firmas, dos mercados e da economia
como um todo, segundo Santacruz (1998). O mais
conhecido critério de eficiência econômica está
ligado à concorrência perfeita. A eficência alocativa
é maximizada na situação conhecida como Ótimo de
Pareto, na qual não existe a possibilidade de um agente
econômico obter ganhos de bem-estar sem uma
consequente redução de bem-estar de outro agente
econômico (SANTACRUZ, op. cit.).

Cabral (2000) define poder de mercado como a capacidade de a


firma ajustar seus preços a um nível acima dos custos marginais
de produção. É semelhante à definição de Mas-Collel et all
(1995, p.383), os quais afirmam que poder de mercado é “(...)

32

Book 1.indb 32 27/02/2012 10:09:21


Microeconomia I

a habilidade de alterar os preços de forma lucrativa acima dos


níveis competitivos”. Em outras palavras, poder de mercado
pode ser definido como o poder de uma empresa de fixar preços
significativa e persistentemente acima do nível competitivo, com
efeito lucrativo.

Além das definições usuais dos manuais de Organização


Industrial, é interessante atentar às definições dos órgãos
responsáveis pela legislação antitruste. Segundo o Departamento
de Justiça dos Estados Unidos (DOJ),

poder de mercado é a capacidade de, de modo lucrativo,


manter os preços acima dos níveis competitivos por
um significante período de tempo. Em alguns casos,
um único produtor de um produto para o qual não há
bens substitutos pode manter o preço a um nível acima
daquele, caso o mercado fosse competitivo. Similarmente,
em algumas circunstâncias, onde um número pequeno
de firmas são responsáveis pelas vendas de um
determinado produto, essas firmas podem exercer poder
de mercado, inclusive se aproximando do desempenho
de um monopolista, coordenando suas ações, tanto
explicitamente quanto implicitamente (DOJ, FTC,
1997).

Em alguns casos, uma única firma pode, unilateralmente, exercer


poder de mercado, o que caracteriza a conduta não coordenada.
Em todos os casos, o resultado do exercício de poder de mercado
implica uma transferência de riqueza dos consumidores para
os ofertantes ou uma má alocação dos recursos (DOJ, FTC,
1997). No caso de condutas não coordenadas, Stoft (2002)
mostra que “poder de mercado implica aumento de preço e,
consequentemente, transfere riqueza dos consumidores para
todos os ofertantes, não apenas para aquele que exerceu poder de
mercado” (STOFT, 2002).

Um outro conceito, também de origem mais jurídica que


econômica, destaca Possas (1996), e de significado muito
semelhante, é o que aparece na lei brasileira, Lei 8884 de 11 de
Junho de 2011, é o de posição dominante e seu respectivo abuso.

Unidade 1 33

Book 1.indb 33 27/02/2012 10:09:21


Universidade do Sul de Santa Catarina

Ocorre posição dominante quando uma empresa ou


grupo de empresas controla parcela substancial de
mercado relevante, como fornecedor, intermediário,
adquirente ou financiador de um produto, serviço ou
tecnologia a ele relativa” (Lei 8.884 de 11 de Junho de
1994, art. 20, 2º). O parágrafo 3º da mesma lei afirma
que a parcela relevante é de 30% do mercado.

Apesar da ênfase distinta que alguns intérpretes colocam na


independência de ação que esse conceito envolveria, para os
efeitos antitruste concretos, tal distinção não é muito relevante.
Uma empresa oligopolista, por exemplo, tendo poder de
mercado, pode exercê-lo de forma abusiva (contra consumidores,
empresas menores etc.), mas não é independente, ao contrário, é
interdependente dos demais oligopolistas.

Importa ressaltar que o poder de mercado não se expressa


somente nos preços. Grande parte das condutas consideradas
anticompetitivas (por exemplo, as condutas previstas na lei nº
8884/94, art. 21) não ocorrem via preços. Essa definição, embora
restritiva, é utilizada por ser simples e de fácil aplicação, inclusive
jurídica. Ela implica a suposição de que quem pode elevar os
preços significativa e persistentemente acima dos custos possui
poder de mercado; e pode, em princípio, exercê-lo por qualquer
outro meio disponível. É interessante ainda lembrar que a lei
8.884/94, em seu art. 20 parágrafo 1º, afirma que “a conquista
do mercado resultante de processo natural, fundado na maior
eficiência de agente econômico em relação a seus competidores,
não caracteriza o ilícito previsto no inciso II”. As condutas
anticompetitivas, em muitos casos, podem implicar aumentos de
preço.

É lugar-comum que a lei não coíbe o poder de mercado em


si, e sim seu abuso (POSSAS, 1996). Mas a lei não se limita a
reprimir condutas anticompetitivas, procurando também preveni-
las, ao atuar sobre a concentração das estruturas de mercado.
Logo, em qualquer caso, é indispensável ter meios de identificar
e avaliar se há poder de mercado e seu possível aumento, em
decorrência de algum ato de concentração, independentemente de
já haver indícios de seu exercício abusivo.

34

Book 1.indb 34 27/02/2012 10:09:22


Microeconomia I

Mensurando o poder de mercado


Por hipótese, no monopólio, o equilíbrio da firma e o do mercado
coincidem. Supondo o objetivo de maximização de lucros, e que
o lucro, π , é dado por:

π (q ) = RT (q ) − CT (q ) = p iq − CT (q ) ;

A maximização do lucro implica:

RMg = CMg , ou seja, que receita e custo marginais se igualem.


Assim, sabendo-se que elasticidade-preço da demanda, ε , é dada
por:
∆%q p  ∆q 
ε= =−  
∆% p q  ∆p 

Assim, ao lembrarmos que a empresa que opera em mercados


perfeitamente competitivos cobra preços iguais ao custo
marginal, podemos, então, concluir que empresas monopolistas
cobram preços acima do custo marginal. Portanto, uma forma
natural de medir o poder de monopólio é examinar a medida
pela qual o preço que maximiza o lucro da empresa excede o
custo marginal. Utilizaremos, então, a relação de markup, que
é a diferença entre preço e custo marginal, dividido pelo preço.
Essa relação foi primeiramente apresentada pelo economista
Abba Lerner, assim, temos o Índice de Lerner de Poder de
Monopólio (L), que é expresso por:
p − CMg
L=
p
onde,

0 ≤ L ≤1

Ou seja, em mercados de concorrência perfeita L = 0, e em


situações de monopólio L=1. Assim, quanto maior L, maior o
poder de monopólio ou de mercado da empresa. O índice de
Lerner também pode ser expresso em termos da elasticidade-
preço da demanda. De tal modo que,
p − CMg 1
L= =−
p ε

Unidade 1 35

Book 1.indb 35 27/02/2012 10:09:25


Universidade do Sul de Santa Catarina

Atente para o fato de que o poder de monopólio ou de mercado é


inversamente proporcional à elasticidade-preço da demanda. Ou
seja, se um produto tem demanda inelástica, como por exemplos
remédios e gasolina, as empresas que o produzem têm expressivo
poder de mercado. Afinal, quanto vezes vimos promoções de
remédios ou de gasolina?

Foi exatamente por causa disso que o governo brasileiro criou a


política dos remédios genéricos. Essa política teve a intenção de
criar uma competição para os remédios de marca. E, por meio da
competição, reduzir o poder de mercado dos laboratórios.

Portanto, as fontes de poder de mercado ou monopólio são:

„„ Elasticidade-preço da demanda;

„„ Número de concorrentes;

„„ A interação entre as empresas.

Vamos examinar cada um desses determinantes.

Cabe lembrar dos determinantes Elasticidade-preço da demanda: A elasticidade-preço da


da elasticidade-preço da demanda ( ε ) refere-se à sensibilidade do consumidor em relação
demanda: essencialidade do bem,
substituibilidade do bem e peso
a variações no preço de um determinado bem ou serviço. Em
relativo do bem no orçamento do caso de monopólio, o poder de monopólio da empresa dependerá
consumidor. completamente da elasticidade-preço da demanda do mercado. Já
no caso de empresas que enfrentam concorrentes, o seu poder de
mercado depende também da forma como as outras empresas se
comportam.

Número de empresas: Caso aumente o número de empresas em


um determinado setor, o poder de monopólio de uma empresa
se reduz. E, vice-versa. Conforme Pindyck e Rubinfeld (2005),
quanto mais empresas competirem entre si, maiores serão
as dificuldades encontradas por elas para aumentar preços e
estabelecer estratégias unilaterais. Logo, é comum observar as
empresas elaborando estratégias para erguer barreiras à entrada,
que são impedimentos ou dificuldades à entrada de novas
empresas no mercado.

A interação entre empresas: Nesse caso, há que se diferenciar


entre firmas que competem de forma equânime de firmas

36

Book 1.indb 36 27/02/2012 10:09:25


Microeconomia I

que cooperam entre si. Ou seja, quando há a possibilidade de


cooperação, ou em outras palavras, cartelização, aumenta o poder
de mercado das empresas. Nesse caso, as empresas estariam
violando a Lei de Defesa da Concorrência (Lei 8.884/94),
visando à maximização de lucro conjunto.

Para limitar o poder de mercado, no Brasil, foi criado com a Lei


nº 8884/94, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(CADE), órgão ligado ao Ministério da Justiça. Sua principal
função é reprimir as infrações à ordem econômica. As infrações
mais importantes são descritas a seguir, como sendo, então,
estratégias das empresas com poder de mercado.

Estratégias de empresas com poder de mercado


Como você já pode notar, as firmas com poder de mercado
podem influenciar o preço de mercado e ajustá-lo acima do
custo marginal. Logo, empresas nessas condições estabelecem
estratégias de preço. Uma dessas é o cartel, que segundo Kon
(1994, p.54),

o cartel baseia-se em um acordo entre empresas rivais


para ação comum em negócios, a fim de dominar o
mercado e estabelecer comportamentos de controle mais
rígido sobre o preço. Os membros do cartel mantêm
independência financeira, não se submetendo a um
controle central e apenas se comprometem com políticas
comuns de preços e de oferta de negócios.

Os produtores acordam em cooperar, por meio de um acordo que


irá determinar preços e níveis de produção.

Segundo Pyndick e Rubinfeld (2002), nem todos os produtores


precisam fazer parte do cartel, mas apenas um conjunto deles.
Porém, se muitos produtores se juntarem é possível que eles
consigam elevar os preços acima dos níveis competitivos. Os
cartéis também podem ser chamados de conluio. Para que um
cartel obtenha sucesso, é preciso ter uma organização estável,
cujos membros façam acordos de preços e níveis de produção e
que adiram a esses acordos. Outro fator importante é o potencial

Unidade 1 37

Book 1.indb 37 27/02/2012 10:09:25


Universidade do Sul de Santa Catarina

para possuir poder de monopólio, que poderia ser considerado


como a condição mais importante para a obtenção de sucesso.

A venda casada é uma outra prática ilegal que é definida pela


Cartilha do CADE (1999, p.12), como “a prática de subordinar
a venda de um bem ou serviço à aquisição de outro”. Ainda
nesta cartilha, na mesma página, são citados os efeitos negativos
ligados a essa prática, “O praticante da venda casada produz
barreiras à entrada de concorrentes potenciais no mercado ou
empecilhos à expansão dos concorrentes presentes”.

“A subordinação proporcionada pela venda casada gera


uma restrição de liberdade de comprar e vender por
pressão, por coação, sem que haja qualquer benefício para
o consumidor na aquisição vinculada” (CADE, 1999, p.
12).

Também se pode citar como práticas ilegais os sistemas seletivos


de distribuição, que são definidos pela Cartilha do CADE
(1999, p.12) como sendo, “restrições impostas, injustificadas,
pelo fabricante ao distribuidor, utilizadas de forma a discriminar
distribuidores, vendedores e consumidores, que acabam por
ser prejudiciais à livre concorrência.” Também é mencionado
que no caso de estarem mantendo um padrão de qualidade não
se configura uma prática ilegal, já que estarão beneficiando o
consumidor.

Uma quarta prática ilegal citada pela Cartilha do CADE (1999,


p.12) é a de preços predatórios, “as empresas se utilizam da
estratégia de baixar propositadamente os preços de seus produtos
a valores inferiores ao seu preço de custo, esperando, com
isso, que os concorrentes desistam de mercado daquele setor”.
Inicialmente, o consumidor ficará satisfeito com o preço menor,
mas depois será prejudicado pela falta de concorrência.

Outra prática importante, que conduz as empresas a lucros


extraordinários, diz respeito às tarifas compartilhadas. Esse é
o caso no qual uma empresa produz um bem que necessita de
outro bem complementar para ter um desempenho bem sucedido,
ou seja, demandas inter-relacionadas. É o caso, por exemplo,
da Gillette. Quando lançou seu aparelho de barbear Mach 3, a
empresa o fez a um preço relativamente baixo, mas vende o refil

38

Book 1.indb 38 27/02/2012 10:09:26


Microeconomia I

do aparelho a um preço proporcionalmente alto, em comparação


com o preço do aparelho. É o caso também das impressoras e
cartuchos de tinta.

Por fim, uma estratégia importante das firmas com poder de


mercado refere-se à discriminação de preço, que, conforme
Varian (2010), é a estratégia de cobrar preços diferentes por
produtos similares. Ela aparece em 3 formas distintas.

Discriminação de preços de 1o grau


Se fosse viável, cada empresa cobraria de seus clientes o preço
máximo que cada um está disposto a pagar. Este preço é
conhecido na literatura como preço de reserva. Se uma empresa
cobra de cada cliente seu respectivo preço de reserva, então,
ela pratica a discriminação de preços de 1o grau. Nesse caso,
a discriminação de preços de 1o grau equivale a casos onde há
negociação pessoal.

Na prática, embora as empresas dificilmente conheçam o preço


de reserva de cada consumidor, elas podem identificá-los de
forma aproximada. Como na Figura 1.5, extraída de Pindyck
e Rubinfeld (2005), que mostra níveis de preço diferentes
sendo praticados. A Figura ilustra um caso que chamamos de
discriminação imperfeita de preços, em que a empresa não cobra
o preço de reserva individual de cada consumidor, mas de um
grupo de consumidores.

Unidade 1 39

Book 1.indb 39 27/02/2012 10:09:26


Universidade do Sul de Santa Catarina

$/Q $/Q

CMg CMg

CMe CMe

PCP
PLP

DCP

DLP
RMgCP

RMgLP

QCP Quantidade QLP Quantidade


(a) (b)

Figura 1.5 – Discriminação de preços de 1o grau


Fonte: Pindyck e Rubinfeld, 2005.

Na Figura 1.5, há diferentes níveis de preço. A empresa ganha


ao praticar tais preços, pois consegue aumentar sua fatia de
mercado. Um exemplo de discriminação de preços de 1o grau é
o caso de um médico em uma cidade pequena, que cobra o valor
da consulta de acordo com a renda estimada de cada paciente.
O médico, na medida em que conhece seus pacientes, passa a
ter noção da capacidade de pagamento de cada um, logo, pode
cobrar mais daquele que tem maior capacidade de pagamento, e
menos daquele paciente mais pobre.

Discriminação de preços de 2o grau


Em alguns casos, podemos notar que alguns consumidores
adquirem várias unidades de um mesmo bem em um
determinado período. Isso leva seu preço de reserva a declinar.
Assim, em casos como esses, muitas empresas optam por cobrar
preços diferentes por unidade para quantidades diferentes do
mesmo bem ou serviço.

A discriminação de preços de 2o grau refere-se à situação em


que preços diferentes são cobrados para quantidades diferentes,
nesse caso, exemplificado em três faixas diferentes de preços.

40

Book 1.indb 40 27/02/2012 10:09:26


Microeconomia I

A discriminação de preços pode aumentar o bem-estar dos


consumidores, na medida em que expande a produção, reduz o
custo e permite o acesso ao bem a outros consumidores.

Um caso comum de discriminação de preços de 2o grau ocorre


quando vamos ao supermercado e nos deparamos com a seguinte
situação: o preço de uma unidade de creme dental custa R$2.
Porém, ao lado, está disposto um pacote com 3 unidades ao preço
de R$5. Ou seja, neste caso cada unidade de creme dental passa
a custar R$1,66.

Discriminação de preços de 3o grau


A discriminação de preços de 3o grau ocorre quando as firmas
dividem os consumidores em grupos com curvas de demandas
separadas. Por exemplo, ingresso de cinema para o público em
geral e para idosos e estudantes. Ou, passagens aéreas classe
executiva e classe econômica. O preço a ser cobrado dependerá
das características do produto a ser transacionado. Assim, em
serviços como cinema, por exemplo, idosos e estudantes se
sentem estimulados a freqüentarem mais, pois pagam preços
menores do que os pagos pela população em geral. Já no caso
de transporte aéreo, as companhias distinguem entre turistas
e executivos. No primeiro caso, estão dispostos a pagar menos,
por isso fazem reservas antecipadas. No caso de executivos, estão
dispostos a pagar mais, devido a horários de reuniões e outras
agendas de trabalho.

Mas, como a firma determina qual o preço a ser cobrado de cada


consumidor?

Supondo que haja dois grupos distintos de consumidores, sendo


P1, o preço cobrado de um grupo de consumidores, e P2, o preço
cobrado de outro grupo, e CT, o custo total de produção, e, por
fim, Qt = Q1 + Q2.

Assim, o lucro π (Q ), é dado por:


π = (Qt ) = PQ
1 1 + P2 Q2 − CT (Qt )

Unidade 1 41

Book 1.indb 41 27/02/2012 10:09:27


Universidade do Sul de Santa Catarina

A firma deve produzir Q1 e Q2 até que a derivada da função


lucro seja zero. Assim:
∆π ∆( PQ
1 1) ∆CT
= − −0
Q1 ∆Q1 ∆Q1

Assim, temos que:


∆( PQ
1 1)
= RMg1
∆Q1
e
∆CT
= CMg
∆Q1

Assim, temos que RMg1 = CMg

Igualmente, RMg2 = CMg.

Assim, para maximização do lucro da empresa, a condição a ser


satisfeita é:

RMg1 = RMg2 = CMg

Atos de concentração
Os atos de concentração em geral também são prejudiciais
à concorrência e merecem ter sua citação feita, descrevendo a
Cartilha do CADE (1999, p.12), ”Tais atos buscam aumentar a
eficiência de uma empresa por meio, por exemplo, da diminuição
de custos. Porém, estas operações podem, ao mesmo tempo,
resultar em restrições à concorrência”.

São típicos atos de concentração: fusões, aquisições,


incorporações e joint-ventures”.

42

Book 1.indb 42 27/02/2012 10:09:28


Microeconomia I

Para melhor esclarecer estes atos de concentração, é necessário


obter os conceitos de fusão, incorporação, aquisição e joint-
ventures. Segundo Kon (1994, p.55),

Na fusão, a independência das firmas é totalmente


abolida e as antigas firmas desaparecem para dar
surgimento a uma nova entidade comercial, com uma
unidade orgânica sob direção única, pela compra de uma
firma por outra, com unificação de capital.

Já segundo o Guia Prático do CADE (2000, p.20), “Fusão é


um ato societário pelo qual uma ou mais empresas se unificam,
formando uma nova empresa”.

Já uma incorporação, segundo o Guia Prático do CADE (2000,


p.20), seria, “um ato societário pelo qual uma ou mais empresas
se unificam, formando uma nova empresa”. De acordo com a
mesma fonte e na mesma página, uma aquisição seria, “ compra
de uma ou mais empresas por outra(s)”. E finalmente, joint-
ventures, ainda utilizando a mesma fonte e mesma página, “é
uma forma de acordo entre empresas independentes, que envolve
a produção conjunta de algum tipo de conhecimento ou o
desenvolvimento conjunto de produtos ou processos de produção”.

O CADE e a SORRISO

Em 1995, a Colgate-Palmolive Company adquiriu parte


dos negócios mundiais de saúde bucal da American
Home Products, incluindo a Kolynos do Brasil. Tal
operação acarretou considerável concentração no
mercado nacional de creme dental. Colgate e Kolynos
passaram a deter juntas 78% do mercado de pastas
de dentes. Em 1996, o Cade avaliou que as barreiras
à entrada neste mercado eram suficientemente
elevadas, desautorizando a aprovação sem restrições
da operação. Um novo ingressante teria de arcar com
altos custos de propaganda para fixação da marca e
montagem da extensa rede de distribuição. A marca
pareceu o fator mais importante, dada a popularidade
da Kolynos. Em decisão original, o Cade determinou
a suspensão do direito de uso da marca Kolynos
por quatro anos e a oferta pública de parcela da
capacidade produtiva da Colgate a novos fabricantes

Unidade 1 43

Book 1.indb 43 27/02/2012 10:09:28


Universidade do Sul de Santa Catarina

que quisessem entrar no mercado. O estímulo à


entrada, propiciado pela suspensão temporária da
Kolynos, parece ter surtido efeito: Após quase 4
anos, seis novas marcas independentes entraram no
mercado, oferecendo mais alternativas ao consumidor.
Além, é claro, do ingresso da nova marca da Colgate, a
Sorriso.
Fonte: Cade (2009).

Síntese
Esta unidade teve como objetivo principal permitir ao (à)
estudante entrar em contato com a teoria do monopólio e do
poder de mercado. Monopólios são comuns nas economias
modernas, porém, são ineficientes do ponto de vista social. Como
se viu na unidade, a sociedade paga um preço maior por produtos
produzidos por monopolistas.

O mesmo caso acontece com o conceito de poder de mercado.


Neste caso, o bem-estar social é também diminuído devido às
estratégias que as empresas utilizam.

Os dois casos, podemos dizer, são anomalias do sistema de


preços. Ou seja, fogem do ideal competitivo descrito no conceito
de concorrência perfeita.

44

Book 1.indb 44 27/02/2012 10:09:28


Microeconomia I

Atividades de autoavaliação
Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O
gabarito está disponível no final do livro didático. Mas, esforce-se para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.

1. A empresa XAP é distribuidora de energia elétrica, portanto,


monopolista neste segmento. Ela contrata você para prestar consultoria
sobre sua política de preços. Uma das coisas que a empresa quer saber
é qual a consequência de um aumento de 5% no seu preço. Que dados
você precisaria conhecer para colaborar com a empresa?

2. Uma empresa monopolista se defronta com uma elasticidade-preço da


demanda igual a -2,0. A empresa tem Custo Marginal constante igual a
R$20. Pergunta-se: Se o Custo Marginal aumentar 25%, o preço também
aumenta 25%?

Unidade 1 45

Book 1.indb 45 27/02/2012 10:09:28


Universidade do Sul de Santa Catarina

3. Uma empresa se depara com a seguinte curva de demanda (ou receita)


P = 100 - 0,01Q
Onde Q é a produção semanal em unidade e P é o preço, expresso em
Reais por unidade.
A função custo da empresa é expressa por CT = 50Q + 30.000, em que
CT é o custo total da empresa. Assim, responda:
a. Quais serão, respectivamente, por semana, seu nível de produção,
seu preço e seu lucro total?

46

Book 1.indb 46 27/02/2012 10:09:28


Microeconomia I

Saiba mais
Para melhor entender o conteúdo ministrado nesta unidade, leia
os textos a seguir.

Cade rejeita oferta da Nestlé e mantém veto

JULIANNA SOFIA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Oito meses após determinar que a Nestlé venda a Chocolates Garoto,
o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) voltou a vetar
a fusão da multinacional suíça com a empresa brasileira. Em uma
votação apertada - três votos a dois -, o conselho não aceitou a proposta
de desinvestimento parcial oferecida pelas empresas para manter a
operação. A Nestlé afirmou que vai recorrer da decisão. Segundo o diretor
corporativo da multinacional, Carlos Faccina, haverá uma análise jurídica
para decidir se a empresa entrará com recurso no próprio conselho ou na
Justiça.
Em fevereiro deste ano, ao analisar a fusão Nestlé-Garoto, o Cade
entendeu que a fusão gera alta concentração de mercado. No segmento
cobertura de chocolate líquida, por exemplo, a participação chega a 100%.
Na ocasião, o conselho deu 150 dias para a venda da Garoto.
Mas a Nestlé entrou com recurso no conselho, pedindo a reapreciação
do caso. No pedido, a empresa propunha o desinvestimento de 20% do
mercado das duas empresas no caso de cobertura de chocolate. Para o
segmento de chocolate sob todas as formas, a venda parcial seria de 10%
do mercado conjunto.
No julgamento, o Cade avaliou que o plano de desinvestimento da Nestlé
não garantirá competição no setor.

Unidade 1 47

Book 1.indb 47 27/02/2012 10:09:28


Universidade do Sul de Santa Catarina

A concentração do mercado nem sempre é má

GESNER OLIVEIRA

A importância atribuída à concentração dos mercados é exagerada. O fato


de que nas economias modernas -e no Brasil em particular- os mercados
apresentam alto grau de concentração não significa, necessariamente, que
o consumidor esteja fadado a pagar mais caro. Não há, por exemplo, um
número mágico a partir do qual a autoridade de defesa da concorrência
não deva permitir uma fusão. A estrutura do mercado é apenas uma das
dimensões a serem consideradas. A exemplo de vários outros países,
o Brasil adota o controle de fusões e aquisições no qual se verifica a
concentração gerada por uma determinada operação. Trata-se, no entanto,
de uma entre várias outras dimensões do negócio que permitem à
autoridade julgar se a transação pode ou não causar danos à concorrência.
A existência de barreiras à entrada no mercado sob análise, a maior ou
menor probabilidade de acordo entre as empresas participantes, bem
como o potencial de redução de custo com uma determinada fusão,
constituem alguns aspectos a serem levados em consideração, além do
grau de concentração provocado por uma transação. Não há uma relação
automática entre concentração de mercado e desempenho das empresas.
Segundo estudo citado no Relatório do Banco Mundial de 2002, baseado
em amostra com vários países, abaixo de um determinado nível de
concentração, diminui a eficiência técnica das empresas. Alguns países,
entre os quais o Brasil, adotam determinados patamares de concentração
como mera referência para delimitar o conjunto de operações que deve
ser analisado. De acordo com a lei 8.884, devem ser notificadas operações
que acarretem concentração igual ou superior a 20% do mercado ou cujas
partes faturem mais de R$ 400 milhões.
Há diversos índices de concentração de mercado. É comum utilizar a
participação no faturamento das quatro maiores empresas. Mas o leitor
pode eventualmente se defrontar com siglas menos óbvias, como o HHI
ou o Índice de Herfindahl-Hirschman -em homenagem aos economistas
que conceberam essa medida. Esse indicador é definido como a soma dos
quadrados das participações de todas as empresas em um determinado
mercado. Por exemplo, se há cinco empresas em um determinado
mercado, do qual cada uma delas detém 20%, o HHI resultaria em
2.000.o caso de um monopólio, o HHI é 10 mil, pois é o quadrado de
100% do mercado controlado pelo monopolista. No extremo oposto, em
um mundo perfeitamente competitivo, as empresas detêm percentual
desprezível do mercado, fazendo com que a soma dos quadrados de
frações já muito reduzidas seja praticamente zero.
As autoridades dos EUA costumam classificar os mercados de acordo com
as faixas de valores do HHI. Assim, considera-se baixa a concentração
quando o HHI é inferior a mil, moderada quando se encontra entre 1.000 e
1.800 e alta quando é superior a 1.800.

48

Book 1.indb 48 27/02/2012 10:09:28


Microeconomia I

Os mercados brasileiros costumam ser significativamente mais


concentrados que os dos EUA por várias razões históricas e pelo fato
de a economia brasileira ser pequena relativamente à dos EUA. Em
dólar de dezembro de 2001, o PIB brasileiro representava apenas 5%
do PIB dos EUA!Segundo dados do Cade, mercados como os de pasta
de dente, cerveja e chocolate apresentam concentração alta. Conforme
argumentado acima, tal informação por si só não acrescenta muito,
exigindo um roteiro relativamente sofisticado de análise.

Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade


ao consultar as seguintes referências.

CABRAL, L. Introduction to industrial organization. New


York, 2002.

CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA


ECONÔMICA. Guia Prático: A defesa da concorrência no
Brasil. Brasília: MJ/CADE, 2000.

KON, Anita. Economia Industrial. São Paulo: Nobel, 1994.

KRUGMAN, P.; WELLS, R. Introdução à economia. Rio de


Janeiro: Campus, 2006.

PINDYCK, R.; RUBINFELD, D. Microeconomia. 6 ed. São


Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

Unidade 1 49

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Book 1.indb 50 27/02/2012 10:09:29
2
UNIDADE 2

Concorrência monopolística
e oligopólio

Objetivos de aprendizagem
„„ Compreender o processo de formação dos preços em
mercados de concorrência monopolística.

„„ Aprender o significado da diferenciação de produtos


nos mercados de concorrência monopolística.

„„ Compreender e analisar o processo de concorrência


em oligopólios, caracterizada pela interdependência
estratégica.

„„ Entender as estratégias das empresas com poder de


mercado.

Seções de estudo
Seção 1 Concorrência monopolística

Seção 2 Oligopólio

Seção 3 Dilema dos prisioneiros e suas implicações

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Um ponto de partida importante para se analisar a competição
em qualquer setor da economia é caracterizar a estrutura de
mercado, dado que essa é importante determinante das condutas
das firmas que compõem o mercado e também da performance
das firmas. Os modelos mais comuns de estruturas de mercados
são a concorrência perfeita e o monopólio. A grande vantagem
desses modelos reside na sua simplicidade em demonstrar o modo
como operam as firmas e suas consequências para o bem-estar
social. No entanto, poucas indústrias podem ser caracterizadas
como concorrência perfeita ou monopólio.

Assim, esta unidade visa a apresentar ao aluno essas duas


estruturas de mercado, caracterizadas por apresentarem um
lado mais realista dos mercados. Nosso objetivo aqui é levar o(a)
estudante a compreender o processo de formação de preços em
mercados de concorrência imperfeita.

Muitos mercados são caracterizados pela existência de muitas


empresas vendendo produtos substitutos entre si, porém, que
apresentam alguma diferença. Por exemplo, em qualquer
cidade do país, há pizzarias. Porém, embora vendam produtos
substitutos entre si, há expressiva diferença entre elas. Algumas
são caracterizadas por praticarem preços mais baixos, outras
por terem produtos mais sofisticados, algumas possuem apenas
serviço de tele-entrega, outras têm ótima localização. Logo, há
várias opções para os consumidores, todas elas diferentes entre si.
Em suma, esse é um caso típico de concorrência monopolística,
que será estudada na primeira parte desta unidade.

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Microeconomia I

Seção 1 - Concorrência monopolística


Concorrência monopolística recebe esta denominação pois é o
tipo de mercado que, em muitos setores da economia, os produtos
à disposição dos consumidores são diferenciados entre si. Logo,
quando há diferenciação, a marca torna-se relevante. Tome-se
como exemplo a maionese Hellmann’s. Para a grande maioria dos
consumidores, ela é a melhor maionese do mercado, certamente
com sabor diferente das demais marcas, por isso é a mais vendida
e a mais cara.

A Hellmann’s não é monopolista na fabricação de maionese,


mas é certamente aquela que tem maior poder de mercado neste
segmento. Seu poder de mercado, entretanto, é limitado, e a
empresa cobra um preço acima de seu custo marginal, mas não
o preço de monopólio. Vamos retomar esse caso ainda nesta
unidade.

Características
Conforme Pindyck e Rubinfeld (2005), um mercado de
concorrência monopolística tem duas características-chave:

1. As empresas competem vendendo produtos


diferenciados, altamente substituíveis, mas que não
são, entretanto, substitutos perfeitos. Ou seja, as
elasticidades-cruzadas de suas demandas são altas, mas
não infinitas;

2. Há livre entrada e livre saída, assim como no mercado de


concorrência perfeita, é relativamente fácil entrar e sair
deste mercado.

Conforme pode ser visto, este mercado apresenta características


de concorrência perfeita, pois há livre entrada e livre saída de
empresas; e apresenta também características de monopólio, pois
a diferenciação de produtos dá poder de mercado às firmas.

Unidade 2 53

Book 1.indb 53 27/02/2012 10:09:29


Universidade do Sul de Santa Catarina

O que é a diferenciação de produtos?


Na maioria dos mercados, os produtos não são substitutos
perfeitos entre si. Por exemplo, o caso dos automóveis populares
(GM Corsa, GM Celta, Ford Fiesta, Ford Ka, Fiat Palio, VW
Gol). Esses produtos não são substitutos perfeitos, mas competem
entre si.

Desse modo, diferenciação de produtos refere-se a algo que


uma determinada firma oferece aos seus clientes que a faça
parecer única, exclusiva, aos olhos destes clientes, o que traz
vantagens em termos de rentabilidade e/ou participação no
mercado. Tradicionalmente, cor, tamanho, desempenho, marca,
propaganda, acesso ao canal de distribuição, facilidade de
estacionamento, simpatia e cortesia, dentre diversos outros, são
considerados fatores motivadores da diferenciação.

De modo geral, observa-se nos mercados que não apenas os


produtos são diferentes entre si, mas que os consumidores
os avaliam de maneiras deferentes também. Na realidade,
as preferências dos consumidores podem ser negativamente
correlacionadas; isto é, o consumidor A prefere o produto da
firma 1, em comparação com o da firma 2, ao passo que o
consumidor B prefere o produto da firma 2, em comparação
com o da firma 1. Essa situação diz respeito à diferenciação
horizontal.

Contrastando com a definição anterior, há casos onde todos


os consumidores preferem um produto em relação a outro. Por
exemplo, a maioria, senão todos, dos consumidores concorda
que, mantendo-se as demais características constantes, um carro
é melhor quando ele é mais eficiente no uso do combustível. A
essa situação dá-se o nome de diferenciação vertical. Note-se
que alguns consumidores podem achar a eficiência do motor em
relação ao combustível uma característica importante, enquanto
que outros consumidores são indiferentes a esse fato. No entanto,
o que importa é que para todos os consumidores a eficiência do
motor é boa, isto é, todos concordam que quanto mais eficiente,
melhor.

A maioria dos casos do mundo real combinam a diferenciação


horizontal e a vertical. Por exemplo, o computador A tem
um microprocessador extremamente veloz, mas tem baixa

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Book 1.indb 54 27/02/2012 10:09:29


Microeconomia I

capacidade de memória. O computador B, por sua vez, tem um


microprocessador lento, mas elevada capacidade de memória.
Todos os consumidores concordam que um microprocessador
veloz e uma elevada capacidade de memória são características
que tornam um computador melhor (diferenciação vertical). No
entanto, dado que diferentes consumidores têm preferências
diferentes em relação à memória e à velocidade do processador,
suas escolhas vão diferir (diferenciação horizontal).

O caso discutido anteriormente aponta uma abordagem


mais geral à demanda do consumidor: a abordagem das
características. Essa teoria mostra que a demanda do
consumidor não é dirigida diretamente a um dado produto,
mas às características do produto. Por exemplo, quando um
consumidor deseja adquirir um computador, ele demandará
velocidade do processador, capacidade RAM, capacidade do
disco rígido, periféricos etc.; em suma, o consumidor está
interessado não no bem em si, mas nas características agregadas a
este bem.

Para exemplificar esta abordagem, considere o seguinte exemplo:


a demanda por automóveis. Primeiramente, pode-se afirmar que
as características mais relevantes de um carro são: a) a relação
HP/peso; b) tamanho; c) acessórios; d) consumo. Claramente,
deixam-se de fora outras variáveis que são difíceis de serem
mensuradas, tal como design, por exemplo.

Equilíbrio no curto e longo prazos


As empresas que operam em concorrência monopolística, assim
como o monopolista, se defrontam com curvas de demanda
descendentes. Por isso, têm poder de mercado. Porém, como
há livre entrada e saída, este poder é limitado, já que novas
empresas e marcas podem entrar no mercado, reduzindo lucros
econômicos.

A figura a seguir mostra dois gráficos, o primeiro (a)


representando o equilíbrio de curto prazo da firma e o segundo
(b) o equilíbrio de longo prazo. Analisando a Figura (a),
vemos que como o produto da empresa difere do das demais,

Unidade 2 55

Book 1.indb 55 27/02/2012 10:09:29


Universidade do Sul de Santa Catarina

sua curva de demanda Dcp é descendente. A quantidade Qcp


que maximiza o lucro da empresa encontra-se no ponto onde
RMgcp encontra CMgcp. Note que, no curto prazo, o preço
que maximiza o lucro é maior que o custo médio, implicando,
portanto, lucro econômico, representado pelo triângulo
hachurado.

Já no longo prazo, Figura (b), o lucro econômico obtido pela


firma atrai novas empresas a entrarem no mercado, também com
produtos diferenciados. À medida em que elas entram, a firma
incubente perde mercado e sua curva de demanda se desloca para
baixo. Assim, no longo prazo, o preço torna-se igual ao custo
médio, isso implica que a firma passa ter lucro econômico igual a
zero, embora continue a ter poder de mercado.

$/Q $/Q

CM g CM g

CM e CM e

PCP
PLP

DCP

D LP
RMg CP

RMg LP

Q CP Quantidade Q LP Quantidade
(a) (b)

Figura 2.1 – Equilíbrios de curto e longo prazos em concorrência monopolística


Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2005).

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Book 1.indb 56 27/02/2012 10:09:30


Microeconomia I

Seção 2 - Oligopólio
A maior parte dos mercados, porém, pode ser caracterizada como
oligopólio. Ao contrário das firmas em concorrência perfeita,
onde a firma é tomadora de preços, os oligopolistas têm poder de
determinar seu preço. Mas, diferentemente de um monopolista,
as firmas em oligopólio sabem que suas ações podem gerar
reações por parte das firmas concorrentes.

Seria muito simplista considerar um oligopólio como um


mercado situado no meio do caminho entre a concorrência
perfeita e o monopólio.

“Não é o caso de se mover da concorrência perfeita para


o monopólio e a competição se deteriorar de modo linear
simples. Pode ser que, em alguns casos, os mercados se
movam do ideal competitivo antes que a competição
sofra de alguma forma perceptível, mas pode acontecer
muito rápido uma vez passado um determinado limite”
(NERA, 1999, p. 31).

Assim, oligopólio refere-se a uma situação na qual um pequeno


número de firmas é responsável pela maior parte da produção.
Sua principal característica é a interdependência estratégica dos
produtores; isto é, a ação de uma empresa pode influenciar o
desempenho das demais. Deriva daí o destaque dado na literatura
econômica moderna à utilização de teoria dos jogos. Outra
característica importante de um oligopólio é a forte presença de
barreiras à entrada.

Segundo Pyndick e Rubinfeld (1999, p. 599), oligopólio é a


situação na qual

“apenas algumas empresas são responsáveis pela maior


parte ou totalidade da produção. As barreiras à entrada
neste mercado permitem que algumas companhias
aufiram lucros substanciais, mesmo a longo prazo. As
decisões econômicas envolvem considerações estratégicas
– isto é, cada empresa deverá considerar de que forma
suas atuações influenciarão suas rivais e quais seriam suas
prováveis reações”.

Unidade 2 57

Book 1.indb 57 27/02/2012 10:09:30


Universidade do Sul de Santa Catarina

Conforme Pyndick e Rubinfeld (2005), a administração de


empresas oligopolistas é bastante complicada, uma vez que as
decisões sobre propaganda, custos, preços, nível de produção e
investimentos irão envolver todas as considerações estratégicas.
Como há poucas empresas competindo, deve-se analisar muito
bem o efeito que uma mudança terá sobre os concorrentes e quais
serão suas reações. A empresa deve pensar sempre na reação
dos concorrentes, que irão fazer o mesmo. As decisões tomadas
dependerão das decisões do concorrente.

Segundo Possas (1990), o oligopólio pode ser dividido em vários


tipos:

- Oligopólio concentrado – não há uma diferenciação


dos produtos, havendo uma alta concentração técnica.
Neste caso, o mercado é disputado pelas empresas
através da tentativa de redução de custos e a busca de
uma maior qualidade;

- Oligopólio diferenciado – há uma grande


diferenciação dos produtos, sendo que não há
concorrência por preços. Se houvesse concorrência
por preços as empresas poderiam quebrar. É muito
difícil entrar neste tipo de indústria, visto que muitos
consumidores já possuem hábitos ligados a determinada
marca. Essas indústrias estão sempre em busca de
inovação para a diferenciação de seu produto;

- Oligopólio diferenciado concentrado ou misto – é


uma mistura dos dois citados acima. Assim, este tipo de
indústria busca a diferenciação para ganhar mercado.
É muito difícil entrar na indústria, já que geralmente
são de grande porte, necessitando economia de escala
para poder competir e também a diferenciação. Nem
sempre há uma inovação constante do produto, que vai
depender dos hábitos dos consumidores;

- Oligopólio competitivo – são as empresas de uma


indústria que visam a ganhar mercado por meio da
competição por preços. Neste mercado, há pequenas
empresas denominadas marginais, que conseguem

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Book 1.indb 58 27/02/2012 10:09:30


Microeconomia I

sobreviver. Esse tipo de oligopólio está geralmente


presente em indústrias cujos produtos não são muito
diferenciáveis, como os bens não duráveis. Não há
muitas barreiras para se entrar neste mercado, visto que
não é necessário economia de escala e não há muita
diferenciação.

Já segundo Kon (1994), o oligopólio é definido como um


conjunto de empresas que possuem um produto homogêneo ou
substituto, sendo que a substituição do produto depende muito
dos hábitos dos consumidores. Como esta indústria é formada
por pequenos grandes rivais, a determinação de preços é dada
pela capacidade das empresas de dirigirem o comportamento da
demanda ou preverem as ações do concorrente. Ainda segundo a
autora, podem existir dois tipos de acordos entre essas empresas:
os organizados e os não organizados.

Os organizados ocorrem quando as empresas são parceiras e


realmente combinam preços e distribuição do mercado, havendo
uma organização. Nesse tipo, as decisões são tomadas por um
organismo único, e há a expectativa de aumento de lucro para
todos. Esse é o caso dos cartéis. Já os não organizados podem
se dividir em convenientes e não convenientes. No primeiro,
existem acordos tácitos para se estabelecer preços e cotas de
produção e fugir das leis antitruste. O segundo ocorre quando há
ações independentes das firmas, havendo guerra de preços e de
marketing.

Interdependência estratégica
Ao se estudar um mercado, geralmente desejamos saber o
preço e a quantidade que prevalecem no equilíbrio. Porém, em
oligopólio, ao contrário de concorrência perfeita e monopólio,
uma empresa determina seu preço e sua quantidade, levando
em consideração, pelo menos em parte, a estratégia de seus
concorrentes. O modo clássico de estudar equilíbrio em
oligopólio é por meio do Equilíbrio de Nash.

Unidade 2 59

Book 1.indb 59 27/02/2012 10:09:30


Universidade do Sul de Santa Catarina

Equilíbrio em oligopólio
Os modelos clássicos de oligopólio, que exemplificam a
aplicação moderna de teoria dos jogos para a análise de interação
estratégica, são os modelos de duopólio (extensivos para
oligopólio) de Cournot, Bertrand e Stackelberg. Esses modelos
tradicionais não levam em conta a possibilidade de colusão, isto é,
arranjos ou combinações entre os agentes. Logo, chamamos tais
modelos de modelos não cooperativos de oligopólio.

Em oligopólio, uma empresa determina sua quantidade a


ser produzida e seu preço com base, ao menos parcialmente,
em considerações sobre as estratégias de seus concorrentes.
Simultaneamente, as decisões dos rivais também levarão em
conta as estratégias da empresa.

O pressuposto essencial para compreender os modelos de


oligopólio é o modelo de equilíbrio de Nash, desenvolvido em
1951 pelo matemático norte-americano John Nash. Ele, entre
vários trabalhos, tornou-se importante por estudar os jogos não
cooperativos. Por essa contribuição, Nash, em 1994, ganhou o
Prêmio Nobel de Economia. Sua vida foi retratada no filme ‘Uma
Mente Brilhante’, vencedor do Oscar de melhor filme.

Nesse caso, dada a interdependência, uma empresa fará o melhor


que pode em função do que seus concorrentes estejam fazendo,
assim, é natural se supor que os concorrentes também farão o
melhor que podem em função do que a empresa estiver fazendo.
Assim, a lógica do equilíbrio de Nash é que a empresa deve fazer
o melhor possível em função do que seus concorrentes estejam
fazendo. Ou seja, há clara interdependência estratégica entre as
empresas.

O equilíbrio de Nash pode ser definido como: cada


empresa está fazendo o melhor possível em função
daquilo que seus concorrentes estejam fazendo.

Para analisar melhor tal modelo, vamos nos valer de uma


situação específica de oligopólio chamada duopólio, onde duas
empresas competem entre si.

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Book 1.indb 60 27/02/2012 10:09:31


Microeconomia I

Na tentativa de esclarecer esse conceito, utilizamos o modelo


proposto por Augustin Cournot em 1838, um economista
francês, que desenvolveu o primeiro modelo de duopólio. O
princípio básico do modelo é supor que há duas empresas de
tamanhos iguais e produtoras de bens homogêneos. Outra
hipótese importante é que as empresas tomam decisões
simultâneas. Posto isso, cada empresa tomará sua decisão levando
em conta a decisão de seu concorrente.

O cerne do modelo, conforme Pindyck e Rubinfeld (2005), é


que cada empresa tomará decisões considerando fixo o nível
de produção de seu concorrente. Assim, podemos definir o
equilíbrio de Cournot como sendo a situação na qual cada
empresa estima corretamente a quantidade que seu concorrente
produzirá e determina seu próprio nível de produção de acordo
com esta estimativa. Esse equilíbrio também pode ser chamado
de Equilíbrio Cournot-Nash.

Nesse caso, o que se produz não são curvas de demandas


individuais, mas, sim, curvas de reação. Ou seja, curvas que
mostram como cada empresa reage às estratégias dos rivais.
Para isso, vamos examinar um exemplo matemático, extraído de
Pyndick e Rubinfeld (2005).

Suponha que duas firmas (em um duopólio) se defrontem com a


seguinte curva de demanda de mercado:
P = 30 − Q

Onde, Q é a produção das duas empresas. Assim, Q = Q1 + Q2.


E, para fins de simplificação, vamos supor que o custo marginal
seja igual a zero para as duas empresas, assim:

CMg1 = CMg 2 = 0

Assim, a receita total da empresa 1 (RT1) é dada por:


RT1 = PQ1 = (30 − Q)Q1
= 30Q1 − (Q1 + Q2 )Q1 =
= 30Q1 − Q12 − Q1Q2

Unidade 2 61

Book 1.indb 61 27/02/2012 10:09:32


Universidade do Sul de Santa Catarina

E, sua receita marginal, que é a derivada da função RT1, é dada


por:
∆RT1
RMg = = 30 − 2Q1 − Q2
∆Q1

Como RMg = 0, temos que a curva de reação da empresa 1 é:


Q2
Q1 = 15 −
2
Como as empresas 1 e 2 são semelhantes, o mesmo se aplica à
empresa 2. Assim, a curva de reação da empresa 2 é:
Q2
Q2 = 15 −
2

Assim, ao se substituir a equação Q2 em Q1, tem-se que


Q1 = Q2 = 10. Assim, Q = Q1 + Q2 = 20.

Portanto, ao se substituir na equação de demanda, temos que


P = 10.

Modelo de Stackelberg – vantagem de ser o primeiro


Até agora pensamos em um modelo no qual as empresas tomam
decisões simultâneas. Mas, nos mercados reais, nem sempre é
assim. É muito comum que haja uma diferença de tempo entre
as estratégias e decisões de uma empresa e de seus rivais. Assim,
utilizando os mesmos dados do exemplo anterior, vamos supor
que a empresa 1 seja a primeira a tomar decisão. Este modelo de
oligopólio, no qual há diferença temporal entre as decisões das
empresas, é conhecido na literatura como modelo de Stackelberg.

Assim, a empresa 1 toma sua decisão de quanto produzir antes


da empresa 2. O que a empresa 1 faz? Bom, dadas as hipóteses
clássicas da teoria econômica, ela determina a quantidade que vai
maximizar seu lucro. Ou seja, ela determina Q1 de forma que sua
receita marginal se iguale a seu custo marginal.

Assim, RT1 = PQ1 = 30Q1 − Q12 − Q1Q2

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Book 1.indb 62 27/02/2012 10:09:33


Microeconomia I

Colocando a equação em termos de Q1, temos:


Q12
RT1 = 15Q1 −
2
Assim, sua receita marginal é:
RMg1 = RT1´= 15 − Q1

Assim, tornando RMg= CMg, e, portanto, RMg = 0, temos que:

Q1=15 e Q2 = 7,5.

Assim, comparando os modelos de Cournot e Stackelberg,


nota-se que a empresa que escolhe primeiro tem vantagem,
pois, o concorrente, dada a demanda de mercado, só vai poder
produzir uma quantidade menor. Especialmente, em mercados
de bens de consumo diferenciados, há clara vantagem em ser o
primeiro, como por exemplo, ocorre com a Apple na produção de
smartphones e tablets.

Seção 3 - Dilema dos prisioneiros e suas implicações


O equilíbrio Cournot-Nash é, como mencionado anteriormente,
um equilíbrio não cooperativo, ou seja, cada empresa toma
decisões visando a maximizar seus resultados, dadas as estratégias
das empresas concorrentes. O lucro é mais elevado do que em
condições de concorrência perfeita e menor do que em situações
de monopólio. Essa última poderia ser induzida a partir da
cooperação entre as firmas.

Porém, a cooperação entre as firmas, no sentido de preço,


principalmente, é ilegal. Mas, como a cooperação pode levar a
lucros maiores, pode ser tentador arriscar, afinal, as empresas
podem sair ganhando.

Uma forma teórica de analisar essa situação é por meio do dilema


dos prisioneiros, que é um exemplo clássico da Teoria dos Jogos,
que ilustra o problema da interdependência oligopolista. A ideia

Unidade 2 63

Book 1.indb 63 27/02/2012 10:09:34


Universidade do Sul de Santa Catarina

central é: duas pessoas (Os prisioneiros A e B) foram acusadas


por um crime. Eles foram colocados em celas separadas e não
podem se comunicar um com o outro. Cada um pode confessar
ou negar o crime. Se ambos confessarem, cada um pega 5 anos
de cadeia. E, se ambos negarem o crime, cada um pega 2 anos.
Porém, caso um prisioneiro confesse e o outro não confesse,
aquele que confessou será solto, e o que não confessou será
condenado a uma pena de 10 anos. E você, caso fosse um dos
prisioneiros, confessaria ou não confessaria o crime?

Bom, a melhor maneira de responder a esta pergunta é


analisando os dados a partir da matriz de payoff do caso. Para
esclarecer melhor, Payoff é o termo que os economistas utilizam
para resultados.

Respostas possíveis para A

Respostas possíveis para B Confessa Não confessa

Confessa -5,-5 0,-10

Não confessa -10,0 -2,-2

Quadro 2.1 - Matriz de payoff


Fonte: Pindyck e Rubinfeld, 2005.

A matriz de payoff apresenta todos os possíveis resultados. Note


que os resultados são negativos, logo, quanto maior o numero,
pior o resultado. Os prisioneiros, claramente, se defrontam com
um dilema. Caso pudessem ter a oportunidade de conversar,
ambos escolheriam a estratégia ‘não confessa’. Assim, como não
se sabe o que o outro responderá, não confessar é uma estratégia
de alto risco. Portanto, o resultado é que ambos confessam.
Ou seja, não importa o que o prisioneiro “B” responderá, o
prisioneiro “A” responderá tendo em mente que está fazendo o
melhor para si.

Com frequência, as empresas oligopolistas se defrontam com


este tipo de dilema. Elas precisam, por exemplo, decidir se
concorrerão de forma agressiva ou se optam por cooperar.
Embora a cooperação possa ser tentadora, pois gera lucros
mais elevados, as empresas podem se sentir tentadas a burlar

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Book 1.indb 64 27/02/2012 10:09:34


Microeconomia I

a cooperação e reduzir preços de forma unilateral. Em suma,


o resultado de cooperação é um resultado frágil, pois há forte
estímulo a burlar o acordo de cooperação.

Implicações do dilema dos prisioneiros


Em essência, para aplicações no processo concorrencial, há três
implicações do dilema dos prisioneiros: a) rigidez de preços; b)
sinalização de preços e liderança de preços; e c) o modelo da
empresa dominante. Vamos a elas:

a) Rigidez de preços
Como visto na análise do dilema dos prisioneiros, o resultado
do modelo implica a tendência a mesma estratégia por parte
dos jogadores. É por este motivo que, muitas vezes, a rigidez de
preços se torna uma característica de mercados oligopolistas. Ou
seja, esta é uma situação na qual as empresas preferem modificar
pouco, ou quase nada o preço, e evitar guerras de preços. Porém,
quando os custos ou a demanda aumentam, as empresas tendem a
aumentar o preço em conjunto.

Esta situação é ilustrada pela curva de demanda quebrada,


a qual mostra que cada empresa está diante de um preço P*.
Para valores abaixo de P*, a elasticidade-preço da demanda é
inelástica; e para valores acima de P*, a elasticidade-preço da
demanda é elástica. Isso ocorre porque se uma determinada
empresa reduzir unilateralmente seu preço para um patamar
abaixo de P*, as outras a seguirão, caso contrário, perderão
mercado. E, caso uma empresa resolva aumentar seu preço, todas
as outras a seguirão. Ou seja, o aumento de preços não é uma
estratégia unilateral.

Como a curva é quebrada, sua curva de receita marginal também


é quebrada, conforme mostra a Figura 2.2.

Por fim, o modelo de curva de demanda quebrada nos permite


analisar como é a concorrência em certos mercados. Ou seja, as
empresas não competem por preços, mas por outros atributos,

Unidade 2 65

Book 1.indb 65 27/02/2012 10:09:35


Universidade do Sul de Santa Catarina

como diferenciação de produtos. Porém, o modelo não permite


entender como o preço é determinado, mas sim descrever tal
comportamento.
$/Q

P* CMg´

CMg

Q* Quantidade

RMg

Figura 2. 2 - A curva de demanda quebrada


Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2005).

Um exemplo de rigidez de preços é o mercado de refrigerantes


para o consumidor final. De modo geral, refrigerantes de
empresas diferentes possuem preços iguais. Não há sentido em,
no mesmo estabelecimento, operar com preços diferentes, pois o
consumidor é que possui demanda elástica em relação ao preço
deste produto, especialmente quando tem escolha.

Acompanhe o texto abaixo para compreendermos melhor este


tópico de discussão.

Overdose de aumentos pode virar “tiro no pé”


Empresas que perderam clientes ao reajustar preços em busca da
rentabilidade devem ter dificuldade para reconquistá-los.

66

Book 1.indb 66 27/02/2012 10:09:36


Microeconomia I

A recente overdose de aumentos de preços dos produtos de marcas líderes


no mercado terá os seus efeitos colaterais. Lojas, especialistas e empresas
afirmam que mesmo uma eventual retomada na demanda não fará o
consumidor voltar a comprar mercadorias de primeira linha em 2003. Pior:
as previsões para o retorno dos clientes às marcas líderes jogam a data
para 2005. Há até uma bolsa de apostas dos produtos e suas empresas
líderes- que já perderam mercado e dificilmente irão se recuperar do
tombo. São eles: iogurte, bolacha, enlatados, maionese e leite em caixa.
Era esse o risco da estratégia das companhias em implementar reajustes
que privilegiavam, antes de tudo, a rentabilidade. Ainda que as amargas
remarcações afastassem a clientela. “Essa não foi uma decisão certa ou
errada, mas puramente estratégica”, afirma Nelson Barrizelli, economista e
analista da área. Para Alberto Serrentino, sócio da consultoria GS&MD, não
há perspectiva de retorno dos consumidores para as marcas principais a
médio prazo. Barrizelli diz que isso não acontecerá até 2008.
O reencontro dos consumidores com as marcas líderes poderia ocorrer por
conta do atual cenário de inflação sob controle. Isso cria, como ocorreu por
vezes no passado, terreno para a recuperação nas vendas dessas marcas.
Mas esse movimento será lento por duas razões: 1) em parte porque o
cliente trocou de marca, gostou do “substituto”, passou a gastar menos e
está satisfeito; 2) não há expectativa de uma recuperação na renda - esse é
o fator principal. Em julho, o rendimento médio real no país estava 16,4%
menor que em julho de 2002.
“As grandes companhias sabem que perderam consumidores. Tanto que
iniciaram uma reação. Há ações agressivas de mídia na tentativa de expor
a marca e dizer: “Olha, estamos aqui’”, diz Rogério Rafael, gerente de
marketing dos supermercados Nordestão.
Segundo Alberto Serrentino, existe um fator foi determinante nesse
processo: houve uma melhora na qualidade de produtos classificados
como secundários. Eles são fabricados por empresas de médio porte ou
levam o nome de supermercados na embalagem. De janeiro a junho, por
exemplo, o Carrefour apurou um aumento de 20%, em média, na venda
(em volume) de mercadorias de sua marca no segmento de óleo de soja,
arroz, leite longa vida, amaciante de roupas e biscoitos.
No período, companhias de grande porte perderam participação de
mercado. Isso ocorreu com a Unilever, no setor de maioneses e margarinas,
e com a Danone, em iogurtes, segundo o Instituto de Pesquisas Nielsen.
A escalada de aumentos de preços de alguns produtos existiu porque
as empresas precisavam repassar a valorização do dólar - verificada no
primeiro trimestre. As matérias-primas são cotadas na moeda dos EUA. Por
isso, por exemplo, o açúcar acumula alta nos preços de 70,5% de junho de
2002 a junho de 2003. O óleo de soja, 53,8% no período.

Fonte: Jornal valor econômico, edição de 08/06/2009.

Unidade 2 67

Book 1.indb 67 27/02/2012 10:09:36


Universidade do Sul de Santa Catarina

b) Sinalização de preços
Outro modelo que deriva do dilema dos prisioneiros é conhecido
na literatura como sinalização de preços. Esse é um modelo que
nos mostra uma forma de acordo implícito das empresas sobre
os preços. Por exemplo, uma empresa pode anunciar – por meio
da imprensa – um aumento de preço, e esperar que seus rivais
entendam a mensagem e também aumentem seus preços.

Como colocam Pindyck e Rubinfeld (2005), às vezes é


estabelecido um certo padrão por meio do qual uma empresa
anuncia regularmente mudanças em seus preços e as outras
empresas a seguem. Como colocam os autores, a General Motors,
nos EUA, tem atuado como líder de preços. Talvez isso ocorra
pelo fato de as estratégias daquela empresa terem credibilidade
perante as rivais.

c) Modelo da empresa dominante


Em alguns mercados, há empresas que detêm uma fatia
significativa das vendas do mercado, por exemplo 50%, e as
outras são responsáveis por uma menor parte do mercado. A
empresa maior atua como empresa dominante.

Um claro exemplo de empresa dominante no Brasil é a


Hellmann’s, no mercado brasileiro de maionese. Segundo a Folha
de São Paulo, em 2005, a empresa detinha 50% das vendas do
mercado.

Neste caso, como as empresas se comportam?

Como a empresa dominante possui poder de mercado, ela


estabelece o preço que maximiza seus lucros. E as outras se
comportam como empresas em concorrência perfeita. Ou seja,
trabalham como tomadoras de preços, tomam como máximo o
preço da empresa dominante, e tendem a cobrar preços menores.

Acompanhe o relato a seguir:

68

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Microeconomia I

Oligopólio não é cartel


Gesner Oliveira
Como as notícias foram boas em relação à inflação nesta semana, é
possível respirar um pouco e discutir temas microeconômicos como os
tão falados, mas pouco conhecidos, oligopólios. Muita gente pensa que
oligopólio é sinônimo de cartel, mas trata-se de dois conceitos distintos.
O oligopólio constitui um regime específico de mercado, caracterizado
pela presença de poucas empresas. É uma situação intermediária entre o
monopólio - no qual há apenas uma empresa - e o mercado competitivo -
com um número muito grande de participantes.
Não é crime ser oligopolista. A exemplo daquilo que ocorre em vários
outros países, os oligopólios respondem pela maior parcela da produção
brasileira.
Em contraste, o cartel constitui uma combinação entre agentes do
mercado para aumentar preços, boicotar um concorrente efetivo ou
potencial, dividir mercados ou fazer tudo isso ao mesmo tempo.
Como já foi lembrado nesta coluna, o próprio Adam Smith, pai do
liberalismo econômico, alertou para a frequência e o risco do fenômeno
em “Riqueza das Nações”, ao afirmar que, “quando pessoas do mesmo
ramo de negócios se encontram, mesmo para fins de lazer e diversão, a
conversa termina em conspiração contra o interesse público mediante
alguma forma de aumento de preços”.
Cartel é crime contra a ordem econômica. Trata-se de interferência
no mecanismo de mercado que reduz o bem-estar da sociedade. Sua
ocorrência é mais provável quando há poucas empresas no mercado,
comparativamente a uma situação em que há muitos competidores.
No entanto, a jurisprudência antitruste contém exemplos de cartéis
organizados por dezenas de empresas! Mesmo profissionais liberais
podem, com ou sem a coordenação de suas respectivas associações de
classe, cometer prática de cartel.
Não é fácil formar e muito menos manter um cartel. Alguns fatores ajudam.
Mercados com poucas empresas, condições de demanda e tecnologia
relativamente estáveis, relativa uniformidade dos custos dos participantes
e possibilidade de monitoramento do acordo para evitar traições,
constituem elementos facilitadores do cartel.
Não é fácil flagrar e punir um cartel. As condições mencionadas estão
presentes em inúmeros mercados. Seria absurdo presumir, com base
apenas nesse fato, que esteja ocorrendo um cartel. Tampouco basta
verificar que os preços das empresas concorrentes são similares ou se
movem de forma semelhante para concluir que esteja ocorrendo uma
ação cartelizada. No passado, o governo iniciou uma série de processos
com acusações genéricas de cartelização, sem nenhum efeito prático, mas
com elevado custo para a máquina administrativa e, sobretudo, para a
segurança jurídica.

Unidade 2 69

Book 1.indb 69 27/02/2012 10:09:37


Universidade do Sul de Santa Catarina

A interação estratégica entre empresas oligopolistas admite diversos


resultados, requerendo análise econômica minuciosa antes de concluir
apressadamente pela ocorrência de indícios de infração. Da mesma
forma, o respeito ao devido processo legal e a obtenção de provas
exigem sofisticação jurídica. A atual administração está correta ao atribuir
importância ao combate dos cartéis e procurar meios de aperfeiçoamento
da legislação atual, em particular, com relação aos chamados acordos
de leniência. Mas, para isso, será imprescindível equipar os órgãos
competentes dos ministérios da Justiça e da Fazenda com os recursos
materiais e humanos necessários para cumprir tal missão.

Gesner Oliveira, 46, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley),


professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.

Por fim, como são determinados os preços em oligopólio?


Preços em oligopólio

Em uma indústria oligopolizada, o preço (P) pode ser


representado pela seguinte fórmula:

CF + m arg em
P = CVMe +
q

Onde, P é o preço de venda do produto; CVMe é o custo


variável médio; CF é custo fixo; Margem diz respeito a uma
margem sobre o custo fixo, também chamada de mark-up; e q é a
quantidade produzida.

Os custos variáveis médios constituem os custos diretos unitários


de produção, tais como matéria-prima e mão de obra direta. Os
custos fixos referem-se àqueles que independem da quantidade
produzida, tais como aluguéis, depreciação de máquinas e
equipamentos, os dividendos a serem pagos aos acionistas, a
remuneração da gerência, serviços terceirizados, entre outros.
Importa notar que não são considerados custos os gastos com
propaganda e pesquisa e desenvolvimento, dados que estão
relacionados com ganhos futuros e não com resultados presentes,
podendo ser considerados como investimento.

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Book 1.indb 70 27/02/2012 10:09:37


Microeconomia I

A quantidade diz respeito à multiplicação entre a capacidade


técnica instalada e o percentual da capacidade utilizada. E, por
fim, a margem (ou mark-up) corresponde à fonte interna de
recursos para financiar as despesas de investimentos necessárias
para que a firma realize seu objetivo de maximização de
crescimento no longo prazo. Contabilmente, a margem é
formada por: lucros retidos, depreciação, gastos com propaganda
e gastos com pesquisa e desenvolvimento (P&D).

O importante é que a margem não é residual. Isto é, não é uma


variável determinada após o fim do período. Ela é predefinida
pela empresa (quando a empresa tem poder para isso, o que
parece ser o caso das grandes firmas em oligopólio) de acordo
com suas necessidades de investimento em capital fixo, P&D e
propaganda. Em outras palavras, o preço é definido pela firma, a
partir de seus custos e da margem desejada.

No entanto, o poder de mercado das firmas, mesmo as grandes


corporações, não é ilimitado. Ao determinar aumentos nos
preços, as firmas devem considerar a possibilidade de entrada
de novas firmas no mercado, que se sentirão estimuladas dado
o novo preço em vigor no mercado, o aparecimento de produtos
substitutos e, ainda, a possibilidade de intervenção do governo.

Na maioria dos mercados, as firmas estão protegidas por


significativas barreiras à entrada, o que lhes confere elevado
poder de definição de seus preços

Gol ultrapassa a TAM em junho com a Webjet


Os dados de fluxo de passageiros no país, no mês de junho, divulgados
ontem pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), mostram que a Gol
ultrapassou a TAM no mercado doméstico, considerando o anúncio da
Gol da aquisição de 100% da Webjet. O negócio foi anunciado no dia 8
de julho, por R$ 310,7 milhões, sendo R$ 96 milhões de desembolso e o
restante de dívidas. O negócio, porém, ainda precisa receber o aval de
autoridades brasileiras como a própria Anac e o Conselho Administrativo
de Defesa Econômicas (Cade).
Segundo a Anac, a TAM teve 41,68% da demanda doméstica, seguida por
Gol, com 37,13%, Azul (8,61%) e Webjet (5,51%). A soma das fatias de Gol e
Webjet, de 42,64%, ficaria, portanto, à frente da TAM. Em março, a Gol já

Unidade 2 71

Book 1.indb 71 27/02/2012 10:09:37


Universidade do Sul de Santa Catarina

havia ultrapassado a TAM pela primeira vez, com participação de 39,77%,


ante 39,59% da TAM.
A Anac também divulgou que o fluxo de passageiros transportados em
junho registrou crescimento de 19,54%, em relação ao mesmo mês do
ano passado. São dois anos e um mês consecutivos de crescimento nesse
índice. No acumulado do ano, o transporte aéreo de passageiros no país
acumula expansão de 21,39%.
A oferta de assentos no mês passado teve alta de 12,48%, na mesma base
de comparação. A taxa média de ocupação dos aviões ficou em 68,10%,
ante 64,09% de junho de 2010.
Os voos internacionais operados por empresas brasileiras tiveram
expansão de 7,72% na comparação com junho de 2010. É o décimo terceiro
mês consecutivo de crescimento, com aumento de 4,92% na oferta de
assentos. A taxa de ocupação média das aeronaves ficou em 77,66% (AK).

Fonte: Valor Econômico, 2011.

Por fim, à guisa de conclusão da disciplina, leia o texto


Oligopólio na prática.

Oligopólio na prática – o caso Boeing VS Airbus


A americana Boeing e a europeia Airbus são as duas empresas
produtoras de aviões de grande porte e longo alcance que atuam
no planeta atualmente. Na prática, no caso de aviões com
capacidade para mais de 150 passageiros, formam um duopólio.

A Boeing começou ainda nos primórdios da aviação, na década


de 1910, e ganhou força com os aviões produzidos durante a
II Guerra Mundial. Embora houvesse outras concorrentes à
época, essas eram também americanas ou soviéticas. De sorte
que, podemos concluir, este é um setor com elevadas barreiras à
entrada.

Assim, a Airbus foi criada a partir de um consórcio


governamental de diversos países europeus, pois foi a forma
encontrada para se reduzir a dependência de aeronaves
americanas e soviéticas. Ou seja, somente a partir da constituição
de uma empresa estatal foi possível ultrapassar as barreiras

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Microeconomia I

à entrada de uma indústria com elevado grau de sofisticação


tecnológica.

Com o fim da U.R.S.S., e a decadência de sua indústria, os


soviéticos saíram do cenário, dando margem ao duopólio hoje
observado.

A competição entre as duas se dá por diversos meios, como por


exemplo, alcance da aeronave, número de passageiros, tecnologia,
consumo de combustível, gastos de manutenção, modelos de
turbinas, dentre outros atributos. O que estas empresas fazem
é dar aos seus clientes, as companhias de transporte aéreo, um
produto quase customizado. Ou seja, adaptado aos gostos e
necessidades de cada cliente em particular.

A figura a seguir apresenta a relação entre o número de


passageiros de cada avião e seu alcance, expresso em milhas
náuticas.

Figura 2.3 – Relação passageiro e autonomia


Fonte: Competition between Airbus and Boeing, Wikipédia, 2011.

Podemos notar vários elementos da figura e correlacioná-los com


a teoria vista nesta unidade. Primeiramente, atente para o fato
que os dados da Boeing estão expressos por meio de quadrados e
os da Airbus por meio de losangos.

Unidade 2 73

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Assim, note que:

1. As duas companhias produzem diversos modelos


de aeronaves, e a maior parte destes modelos são
concorrentes diretos entre si;

2. É possível notar que há um processo de liderança


alternada em oligopólio, no qual cada empresa é, em
dado tempo, responsável por criar um novo modelo de
avião (inovação);

3. Também é possível notar que ambas as empresas


exercem certo poder de monopólio, por exemplo, a
Airbus é a única a ter uma aeronave com capacidade para
mais de 600 passageiros.

4. Caso imaginemos que cada empresa produz um produto


customizado, temos, no limite, um exemplo de curva de
demanda quebrada, onde as diferenças no preços serão
determinadas pelas diferenças que os clientes requisitam,
tais como, o fornecedor de turbina, a configuração dos
assentos, dentre outros requisitos.

O desenvolvimento de aeronaves envolve um longo período


de tempo em pesquisa e desenvolvimento (barreira à entrada),
de modo que as empresas visam a desenvolver e produzir
aeronaves que se adaptam às necessidades e demandas dos
clientes. Decorre, então, do processo de concorrência que
ambas as empresas passem a competir em um processo de ação
e reação, que envolve pesquisa, engenharia, e, até intervenções
governamentais. Neste caso, temos bem claro o exemplo de
duopólio descrito por Cournot.

A próxima figura mostra as encomendas de cada empresa no


período entre 1989 - 2007.

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Microeconomia I

Figura 2.4 – Vendas por ano por empresa


Fonte: Competition between Airbus and Boeing, Wikipédia, 2011.

É possível notar que embora a Boeing tenha perdido mercado


para a Airbus, atualmente as duas caminham juntas em
uma tendência de crescimento. A figura mostra a questão da
interdependência, já discutida nesta unidade, quando notamos
que o aumento das vendas da Airbus implicou a redução das
vendas da concorrente, e que há um mercado dividido pelas duas
companhias. Isto é um duopólio puro.

Síntese
Nesta unidade, você teve contato com dois modelos de
mercados: a concorrência monopolística e o oligopólio. Ambos
se caracterizam por serem modelos de concorrência imperfeita,
já que fogem do ideal competitivo. Em ambos os mercados, as
empresas podem elaborar estratégias que lhes garantam, por
alguma forma, algum poder de mercado, que se traduz em preços
maiores que em concorrência perfeita e maior nível de lucro para
as empresas.

Unidade 2 75

Book 1.indb 75 27/02/2012 10:09:38


Universidade do Sul de Santa Catarina

Nesta abordagem mais realista de como funciona um mercado,


demos destaque à interdependência entre os agentes. De forma,
que todas as suas estratégias devem levar em conta as possíveis
ações dos rivais. Por fim, convém sempre lembrar que o processo
de concorrência é dinâmico e de natureza complexa. Ou seja,
suas características devem ser analisadas levando-se em conta as
questões temporais.

Atividades de autoavaliação
Procure resolver os exercícios a seguir. Isso contribuirá para fixar
melhor o conteúdo desta unidade.

1. Suponha que, após uma fusão, todas as empresas de um setor de


concorrência monopolista se tornassem parte de uma mesma grande
empresa. A nova empresa produziria a mesma quantidade de marcas
diferentes? Ou ela produziria apenas uma marca? Explique.

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Microeconomia I

2. Cite duas indústrias no Brasil que sejam oligopólio. Explique. Procure


dados na internet que corroboram sua resposta.

Saiba mais
Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, você
poderá pesquisar as seguintes referências:

LEITE, A.L.S. Teoria do oligopólio revistada. Episteme, v.


8/9, n.24/25, p. 265-284, 2002.

PINDYCK, R.; RUBINFELD, D. Microeconomia. 5 ed. São


Paulo: Makron, 2005.

BAIN, Joe. Barriers to New Competition. Cambridge, Mass.:


Harvard University Press, 1956.

KON, Anita. Economia Industrial. São Paulo: Nobel, 1994.

Unidade 2 77

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3
UNIDADE 3

Equilíbrio geral

Objetivos de aprendizagem
„„ Entender o conceito de equilíbrio geral.

„„ Compreender o conceito de eficiência econômica.

„„ Entender a importância das trocas para a economia.

Seções de estudo
Seção 1 Equilíbrio geral e eficiência econômica

Seção 2 Trocas

Seção 3 Equidade e concorrência perfeita

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Até este momento, nossa análise sobre o comportamento dos
mercados se baseou na ideia de análise do equilíbrio parcial. Ou
seja, estudamos os mercados de forma isolada. Nossa análise
desconsiderou a influência do preço de outros bens, como se
oferta e demanda de um determinado bem fossem função apenas
de seu preço. Quando determinamos os preços e as quantidades
de equilíbrio em um mercado, usando a análise de equilíbrio
parcial, estamos supondo que a atividade em um mercado
causa pouco ou nenhum efeito sobre outros. Por exemplo, ao
estudarmos as mudanças do preço do café, usualmente não
fazemos indagações sobre as consequências em outros mercados.
A esta forma de análise chamamos de análise de equilíbrio
parcial.

De modo geral, a análise de equilíbrio parcial é suficiente


para a compreensão do comportamento e da dinâmica dos
mercados. Entretanto, as inter-relações entre os mercados podem
ser importantes. Os mercados, então, são inter-relacionados,
de sorte que podemos afirmar que algo que acontece em um
dado mercado, repercute em outro. Por exemplo, um aumento
na demanda de um produto de uma empresa pode ocasionar
elevações nos preços de mercado do insumo e do produto.

Assim, esta unidade trata da tentativa de entender o todo. Ou


seja, as interações entre os diversos mercados. Assim, a análise
do equilíbrio geral refere-se à possibilidade analítica de uma
interação entre mercados, que tenha consequências positivas
sobre a sociedade.

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Microeconomia I

Seção 1 – Equilíbrio geral e eficiência econômica


Diferentemente do que ocorre com a análise de equilíbrio
parcial, a análise de equilíbrio geral determina os preços e as
quantidades em todos os mercados simultaneamente. Além do
mais, leva em conta os efeitos de feedback. Um efeito de feedback
é um ajuste de preços ou quantidades em mercado correlatos.

Por exemplo, vamos supor que o governo brasileiro passasse a


cobrar um imposto sobre as importações de carro do país, como
de fato o fez em setembro de 2011. Tal política imediatamente
ocasionaria um deslocamento da curva da oferta do carro
importado para a esquerda (tornando mais caro o carro
importado) e elevaria seu preço. Mas, há outros efeitos deste
aumento de impostos.

O preço mais elevado do carro provocaria um aumento


na demanda pelos modelos produzidos no Brasil e,
consequentemente, em seus preços. Por sua vez, o preço mais alto
de outros carros nacionais implicaria aumento na demanda de
carro importado, levando seu preço ainda mais para cima. Assim,
esses mercados continuariam a interagir até que fosse alcançado
um equilíbrio no qual a quantidade demandada e a quantidade
ofertada se tornassem, respectivamente, iguais em cada um dos
dois mercados.

Na prática, não é viável desenvolver uma análise completa de


equilíbrio geral que leve em consideração os efeitos de uma
mudança ocorrida em determinado mercado sobre todos os
demais mercados. Em vez disso, vamos nos restringir a alguns
mercados bastante relacionados entre si. Por exemplo, quando
estivermos examinando o efeito de um eventual imposto sobre o
trigo, vamos também examinar os mercados de arroz e milho.

A teoria do equilíbrio geral


No início do século XX, a ciência econômica estava dominada
pela teoria do equilíbrio, a qual vinha se formando desde,
aproximadamente, o fim do século XIX. Porém, é a partir dos
estudos de Léon Walras, economista e matemático francês,

Unidade 3 81

Book 1.indb 81 27/02/2012 10:09:39


Universidade do Sul de Santa Catarina

que a teoria do equilíbrio adquiriu consistência e rigor analítico


avançados.

Walras foi um dos três líderes da chamada “Revolução


marginalista”, ao lado do austríaco Carl Menger (1840-1921) e do
britânico William Stanley Jevons (1835-1882), apesar de seu mais
notável trabalho, Elements d’économie politique pure (Elementos
da Economia Política Pura), de 1874, ter sido publicado três anos
após a disseminação das ideias marginalistas dos dois anteriores.

Conforme Feijó (1998), o que se verificou com a publicação das


obras de Jevons, Menger e Walras, entre os anos de 1871 e 1874,
foi a articulação de uma tradição que já vinha se desenvolvendo
em trabalhos dispersos desde a década de trinta. Tal tradição
caracteriza-se pelo emprego do cálculo marginalista e da noção
de utilidade. Além disso, dois outros argumentos são usados na
interpretação desses eventos, a tese da “desomogenização” das
contribuições desses autores e a ideia de impossibilidade de uma
síntese entre essas teorias e a velha escola clássica.

Para Walras, o problema econômico fundamental era o seguinte:

Dadas as disponibilidades dos fatores de produção, a técnica de


produção e as preferências dos agentes, é necessário determinar as
quantidades dos bens produzidos e trocados bem como os preços
desses produtos.

A teoria do equilíbrio em Walras é estruturada na forma de


aproximações sucessivas em três etapas:

„„ Teoria da troca: determinação das quantidades trocadas e


dos preços dos bens de consumo.

„„ Teoria da produção: determinação das quantidades


trocadas, dos preços dos bens de consumo, dos preços
dos serviços produtivos e dos bens intermediários.

„„ Teoria da capitalização: determinação das quantidades


produzidas de capitais e os seus preços.

Segundo a teoria do equilíbrio geral, a determinação dos preços


e das quantidades de equilíbrio é feita supondo-se que em
todos os mercados sejam mercados de concorrência perfeita.

82

Book 1.indb 82 27/02/2012 10:09:39


Microeconomia I

Nesses mercados, dentre outras características, os agentes são


tomadores de preços, isto é, não têm poder de mercado. Ou seja,
a ideia de equilíbrio geral é baseada na crença de que todos os
mercados são perfeitamente competitivos. Porém, como é possível
se depreender, especialmente das unidades onde tratamos de
monopólio, concorrência monopolística e oligopólio, dificilmente
encontramos mercados de concorrência perfeita, o que torna a
teoria do equilíbrio geral uma ideia abstrata.

Dois mercados interdependentes – rumo ao equilíbrio geral


Para podermos estudar a questão da interdependência dos
mercados, vamos examinar primeiro um exemplo de interação
entre dois mercados perfeitamente competitivos: os mercados de
ingressos de cinema e locação de DVD’s. Esse exemplo é baseado
em Pindyck e Rubinfeld (2005).

Esses dois mercados são bastante relacionados, uma vez que um


grande número de pessoas tem aparelhos de DVD, o que confere
à maioria dos consumidores a opção de assistir a filmes tanto em
casa como no cinema. Ou seja, DVDs e cinema são produtos
substitutos. Portanto, variações nas políticas de determinação de
preços que afetam um desses mercados certamente influenciarão
também o outro, o que por sua vez acarretará efeitos no primeiro.

A Figura 3.1 mostra as curvas da oferta e da demanda de DVD’s


de ingressos de cinema. Na parte (a), o preço dos ingressos de
cinema é inicialmente de R$6, e esse mercado se encontra em
equilíbrio no ponto de intersecção entre as curvas Dc e Sc. Na
parte (b), o mercado de DVDs também se encontra em equilíbrio
ao preço de R$3.

Agora, vamos supor que o governo crie um imposto de R$1


sobre cada ingresso de cinema adquirido. O efeito desse imposto
é determinado com base em análise de equilíbrio parcial,
deslocando-se para cima, em R$1, a curva da oferta de ingressos,
que passa de Sc para Sc* na Figura 3.1 (a). Inicialmente, esse
deslocamento faz com que o preço dos ingressos aumente para
R$6,35, de tal modo que a quantidade vendida cai de Qc para
Qc. Esse é o limite que poderíamos alcançar usando uma análise
de equilíbrio parcial. Mas poderemos ir mais adiante por meio

Unidade 3 83

Book 1.indb 83 27/02/2012 10:09:39


Universidade do Sul de Santa Catarina

de uma análise de equilíbrio geral fazendo duas coisas: (1)


examinando os efeitos do imposto sobre os ingressos no mercado
de DVDs e (2) verificando a ocorrência de eventuais efeitos de
feedback do mercado de DVDs sobre o mercado de ingressos.

Preço Preço
($) Sc* ($)
Sv

6,82
6,75 Sc
3,58
3,50
6,35
Dc*
Dć 3
6 Dv*
Dv́
Dc
Dv

* Qv Qv́ Q*v Número de


DVDs
(a) (b)

Figura 3.1 – Dois mercados interdependentes


Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2005).

O imposto sobre os ingressos de cinema afeta o mercado de


DVDs porque o cinema e o DVD são bens substitutos. Um preço
mais elevado para os ingressos desloca a demanda de DVDs de
Dv para Dv’, na Figura 3.1 (b). Esse deslocamento, por sua vez,
ocasiona um aumento no preço da locação dos DVDs, que passa
de R$3 para R$3,50. Observe que um imposto sobre um produto
pode afetar os preços e as vendas de outros produtos – isso é
algo que deveria ser lembrado pelos responsáveis por políticas
econômicas, ao preparar programas fiscais.

Claramente, tal imposto tem também implicações no mercado de


cinema. A curva original da demanda dos ingressos indicava que
o preço dos DVDs havia permanecido inalterado em R$3. No
entanto, como o preço é agora de R$3,50, a curva da demanda
dos ingressos se descola para cima, passando de Dc para Dc’ na
Figura 1 (a). O novo preço de equilíbrio dos ingressos (no ponto
de intersecção entre as curvas Sc* e Dc’) passa para R$6,75, em
vez de R$6,35, e a quantidade adquirida de ingressos aumenta
de Qc’ para Qc”. Portanto, uma análise de equilíbrio parcial teria
subestimado o efeito do imposto sobre os ingressos. O mercado
de DVDs está tão proximamente relacionado com o mercado

84

Book 1.indb 84 27/02/2012 10:09:40


Microeconomia I

de ingressos que, para a determinação do pleno efeito de um


imposto, é necessário que se execute uma análise de equilíbrio
geral.

A obtenção do equilíbrio geral


A mudança no preço de mercado dos ingressos vai gerar um
efeito também sobre o preço dos DVDs. Por sua vez, vai afetar os
preços dos ingressos, e assim por diante. No final, será necessário
que façamos simultaneamente a determinação dos preços e das
quantidades de equilíbrio tanto para o mercado de ingressos
como para o mercado de DVDs. O preço de equilíbrio de
R$6,82 para os ingressos de cinema é mostrado na Figura 3.1 (a),
no ponto de intersecção entre as curvas da oferta e da demanda
de equilíbrio de ingressos (Sc* e Dc*). O preço de equilíbrio dos
DVDs de R$3,58 é mostrado na Figura 3.1 (b), no ponto de
intersecção entre as curvas da oferta e da demanda de equilíbrio
dos DVDs (Sv e Dv*). Esses são os preços corretos de equilíbrio
geral, pois as curvas da oferta e da demanda do mercado de
DVDs foram desenhadas pressupondo-se que o preço dos
ingressos de cinema seja de R$6,82. Da mesma forma, as curvas
da oferta e da demanda do mercado de ingressos de cinema
foram desenhadas pressupondo-se que o preço dos DVDs seja de
R$3,58. Em outras palavras, ambos os conjuntos de curvas são
coerentes com os preços dos mercados correlatos, e não temos
razões para esperar que as curvas da oferta e da demanda possam
ainda sofrer outros deslocamentos.

Para, na prática, determinarmos os preços (e as quantidades)


de equilíbrio geral, devemos determinar simultaneamente dois
preços que sejam capazes de igualar as quantidades demandadas
e as quantidades ofertadas, em todos os mercados relacionados.
Para nossos dois mercados, isso significaria encontrar a solução
para quatro equações (oferta de ingressos de cinema, demanda de
ingressos de cinema, oferta de DVDs e demanda de DVDs).

Observe que, mesmo que estivéssemos interessados apenas no


mercado de ingressos de cinema, ao avaliarmos o impacto de um
imposto, seria importante levar em conta o mercado de DVDs.
Nesse exemplo, uma análise de equilíbrio parcial subestimaria

Unidade 3 85

Book 1.indb 85 27/02/2012 10:09:40


Universidade do Sul de Santa Catarina

o efeito de tal imposto, levando-nos a concluir que o preço dos


ingressos de cinema passaria de R$6 para R$6,35. Entretanto,
uma análise de equilíbrio geral nos mostraria que o impacto do
imposto sobre o preço do ingresso seria maior - isto é, seu preço
passaria, na verdade, para R$6,82.

Cinema e DVDs são bens substitutos. Construindo diagramas


análogos aos da Figura 3.1, você deve se convencer de que, se
os bens em questão forem complementares, uma análise de
equilíbrio parcial irá superestimar o impacto do imposto. Pense,
por exemplo, no caso dos automóveis e da gasolina. Um imposto
sobre a gasolina fará com que seu preço suba, mas tal aumento
reduzirá a demanda de automóveis, o que por sua vez reduzirá a
demanda da gasolina, provocando uma queda no preço desta.

Eficiência nas trocas


Para se obter o equilíbrio geral, os requisitos são:

„„ Equilíbrio geral: vetor de preços (P1*, P2*,..., Pn*) tal que as quantidades
demandadas e ofertadas de todos os bens e serviços produzidos nessa
economia são iguais, de forma que os mercados se esvaziam (market
clearing).
„„ Supõe-se a existência de um “leiloeiro” que anuncia a todos os agentes
da economia um vetor inicial de preços para todos os bens e serviços.
„„ Dados esses preços, cada agente irá escolher as quantidades
demandadas e ofertadas de cada bem e serviço, de forma a maximizar
a sua utilidade ou satisfação.
„„ As funções individuais de oferta e demanda são somadas de forma a se
obter as funções de oferta e demanda de mercado.
„„ Ao vetor inicial de preços, só por uma “feliz coincidência” as
quantidades demandadas de cada um dos diferentes bens será igual à
quantidade ofertada.
„„ O leiloeiro irá então anunciar um novo vetor de preços, aumentando
os preços quando houver excesso de demanda e reduzindo-os quando
houver excesso de oferta.
„„ Não existem trocas a “falsos preços”: as transações só irão ocorrer
com os preços em equilíbrio. Isso significa que durante o processo de
ajustamento não ocorre nenhum tipo de transação no sistema.

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Book 1.indb 86 27/02/2012 10:09:40


Microeconomia I

Um mercado de concorrência perfeita é eficiente porque


maximiza o excedente do consumidor e o excedente do produtor.
Para podermos examinar o conceito de eficiência econômica
mais detalhadamente, analisaremos, com base em uma economia
de trocas, o comportamento de dois consumidores que podem
negociar livremente duas mercadorias entre si.

Suponhamos que duas mercadorias estejam inicialmente


alocadas de tal forma que ambos os consumidores possam ter um
aumento de bem-estar se fizerem trocas entre si. Isso significa
que a distribuição inicial das mercadorias é economicamente
ineficiente. Em uma distribuição eficiente de mercadorias,
ninguém consegue aumentar seu próprio bem-estar sem reduzir o
bem-estar de alguma outra pessoa. Usa-se, às vezes, como sinônimo
a expressão eficiência de Pareto, em homenagem ao economista
italiano Vilfredo Pareto, que desenvolveu o conceito da eficiência
nas trocas.

Seção 2 - Trocas
Como regra, trocas voluntárias entre duas pessoas ou dois países
são mutuamente benéficas. Para compreender de que forma a
troca aumenta o bem-estar, examinaremos em detalhes possíveis
trocas entre duas pessoas, partindo do pressuposto de que a troca
em si não tem custo.

Há uma ferramenta gráfica importante, que nos auxilia na


compreensão deste problema, conhecida como Caixa de
Edgeworth. Ela é utilizada para compreender a troca de dois
bens entre duas pessoas. Tem essa denominação em homenagem
ao economista inglês Francis Edgeworth (1845-1926), que foi um
dos pioneiros na utilização dessa ferramenta analítica.

A caixa de Edgeworth permite representar as dotações e as


preferências de dois agentes econômicos (duas pessoas ou dois
países, por exemplo) num único gráfico, o que pode ser utilizado
para entender os vários resultados do processo de troca. Para

Unidade 3 87

Book 1.indb 87 27/02/2012 10:09:40


Universidade do Sul de Santa Catarina

entendermos a caixa de Edgeworth é necessário entender as


curvas de indiferença e as dotações orçamentárias dos agentes
envolvidos.

No nosso exemplo, os dois agentes, ou pessoas, A e B, devem


trocar dois bens, bem 1 e bem 2. Representamos a cesta de
consumo de A por X A = ( χ 1A , χ A2 ) , onde χ 1A refere-se ao consumo
do bem 1 pelo agente A e χ A2 representa o consumo do bem 2
pelo mesmo agente. De forma análoga, a cesta de consumo de B
é representada por X B = ( χ B1 , χ B2 ).

Um par de cestas de consumo de A e de B chamamos de


alocação. Uma alocação, nos mostra Varian (2006) será uma
alocação factível se a quantidade total de cada bem consumido for
igual ao total disponível:
χ 1A + χ B1 = WA1 + WB1

χ A2 + χ B2 = WA2 + WB2

Por exemplo, caso nesta economia simples existam 10 unidades


do bem 1 e 20 unidades do bem 2, então, se A tiver (7,12) e B,
necessariamente, deverá ter (3,8).

Assim, Varian (2006) nos mostra que um tipo interessante


1 2
de alocação factível é a alocação da dotação inicial, (WA ,WB )
e (WB1 ,WB2 ) . Essa é a alocação com a qual os consumidores
começam. Ela diz respeito à quantidade de cada bem que os
consumidores trazem ao mercado. Eles trocarão entre si alguns
desses bens para chegar a uma alocação final.

A Figura 3.2 mostra a caixa de Edgeworth. A largura mede a


quantidade total do bem 1 e a altura mede a quantidade total do
bem 2. As escolhas de consumo de A são medidas a partir do
canto inferior esquerdo, e de B, a partir do canto superior direito.
Nosso interesse reside nas alocações factíveis, logo, podemos
desenhar uma caixa de tal modo que contenha o conjunto de
cestas possíveis dos dois bens que A pode ter. As cestas também
indicam a quantidade dos dois bens que B pode ter.

Representamos a quantidade do bem 1 que A tem, pela distância


ao longo de seu eixo horizontal, a partir do canto inferior

88

Book 1.indb 88 27/02/2012 10:09:43


Microeconomia I

esquerdo, e a quantidade que B tem do bem 1 a partir do canto


superior direito. Similarmente, as distâncias ao longo dos eixos
verticais fornecem as quantidades do bem 2 que A e B possuem.
Ou seja, os pontos da caixa nos informam as cestas que A e B
podem ter, medidas a partir de origens distintas.

Note também que as curvas de indiferença de A são


representadas da forma usual, porém, as curvas de indiferença de
B são representadas de forma invertida

Figura 3.2 – Modelo de Equilíbrio Geral – Caixa de Edgeworth


Fonte: Varian (2006).

Assim, pergunta-se: como se dão as trocas?

Iniciemos nossa análise pela dotação original de bens, dada pelo


ponto W na Figura 3.2. Dadas as curvas de indiferença de A e
B, a região em que A está melhor do que em sua dotação inicial
consiste em todas as cestas acima de sua curva de indiferença
que passam por W. A região onde B está melhor do que em sua
dotação inicial consiste em todas as alocações abaixo de sua curva
de indiferença que passa por W.

Assim, a região onde A e B estão melhores é a interseção entre


essas duas regiões. Pode-se presumir que com o passar do tempo

Unidade 3 89

Book 1.indb 89 27/02/2012 10:09:44


Universidade do Sul de Santa Catarina

os dois agentes chegarão a uma troca vantajosa para ambos, que é


representada pelo ponto M, na Figura 3.2.

Para que ambos cheguem ao ponto M, é preciso que abram mão


de algumas unidades de determinados bens. Assim, A deve
abrir mão de ( χ A − WA ) unidades do bem 1 e, em contrapartida,
1 1

adquira ( χ A2 − WA2 ) unidades do bem 2. De forma análoga, isso


implica que B deve adquirir ( χ B2 − WB1 ) unidades de 1 e se desfazer
de ( χ B2 − WB2 ) unidades de 2.

Também podemos supor que o intercâmbio continuará até que os


dois agentes não tenham mais possibilidades de trocas.

Vilfredo Pareto foi um economista Essa situação pode ser visualizada na Figura 3.2. Nessa figura,
franco-italiano que desenvolveu no ponto M, o conjunto de pontos acima da curva de indiferença
análises de eficiência alocativa.
de A não intercepta o conjunto de pontos acima da curva de
indiferença de B. A região onde A se encontra melhor é separada
da região onde B se encontra melhor. Isso implica que qualquer
movimento que melhore um dos agentes necessariamente piora
o do outro. Ou seja, não há trocas que melhorem ambos nessa
alocação. Essa alocação é denominada alocação eficiente de
Pareto.

Conforme Varian (2006), uma alocação eficiente de Pareto é uma


alocação em que:

1. Não há como fazer com que todas as pessoas envolvidas


melhorem;

2. Não há como fazer com que uma pessoa melhore sem


piorar outra;

3. Todos os ganhos com trocas se exauririam;

4. Não há trocas mutuamente vantajosas para serem


efetuadas.

No caso da alocação eficiente de Pareto, as curvas de indiferença


dos agentes devem ser tangentes em qualquer alocação eficiente
de Pareto no interior da caixa. Afinal, se as duas curvas de
indiferença não são tangentes, logo, têm que se cruzar. Mas, se
isso acontecer, deve haver alguma troca mutuamente vantajosa
para os agentes.

90

Book 1.indb 90 27/02/2012 10:09:45


Microeconomia I

Sabendo que há a condição de tangência, pode-se ver que


há várias alocações eficientes de Pareto em uma caixa de
Edgeworth. O conjunto de todos os pontos eficiente de Pareto é
conhecido como conjunto de Pareto ou curva de contrato.

Caso analisemos desde o início da Figura 3.3 a seguir, da origem


de A até a origem de B, notamos que, na origem de A, A não
possui nenhum bem e B terá todos. Tal arranjo é eficiente de
Pareto, pois o único modo de melhorar a condição de A é tirar
algo de B. E, vice-versa.

Figura 3.3 - Caixa de Edgeworth: Eficiente de Pareto


Fonte: Varian (2006).

A curva de contrato, ou conjunto de Pareto, descreve todos os


resultados possíveis de trocas mutuamente vantajosas com início
em qualquer ponto da caixa. Essas alocações são eficientes
porque os bens não podem ser realocados para tornar maior o
bem-estar de uma pessoa, sem que haja diminuição no bem-
estar de outra.

Propriedades da curva de contrato


1. Uma vez que tenha sido escolhido um ponto desta curva,
não há nenhuma forma de passar para outro ponto da
curva de contrato, sem diminuir o bem-estar de um dos
agentes.

Unidade 3 91

Book 1.indb 91 27/02/2012 10:09:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

2. Todos os pontos são eficientes.

3. A curva de contrato informa as trocas mutuamente


vantajosas, porém, não informa quais as melhores.

Como mostram Pindyck e Rubinfeld (2005), é possível aumentar


a eficiência, mesmo quando há mudanças que diminuem o
bem-estar de alguém. Caso, por exemplo, o governo brasileiro
reduza ou retire o imposto de importação sobre automóveis, os
consumidores brasileiros poderiam se beneficiar com preços mais
baixos e mais opções de automóveis. Porém, alguns trabalhadores
brasileiros poderiam perder empregos. Para evitar essa última
situação, o governo federal poderia conceder subsídios para
realocação dos trabalhadores no mercado de trabalho. Ou seja, a
situação dos consumidores poderia melhorar, sem que piorasse a
dos trabalhadores. O resultado seria, portanto, um aumento de
eficiência.

Em verdade, qualquer alocação na área central da Figura 3.3


seria possível e implica que os dois agentes encontram-se em
situação melhor a que estavam inicialmente.

Trocas de mercado
O equilíbrio do processo de troca é muito importante, mas
não deixa claro onde os agentes terminam. Afinal, o processo
é descrito de forma genérica, pois se presume apenas que os
agentes se moverão em direção a alguma alocação, onde estarão
melhores.

Vamos visualizar um breve exemplo:

Suponhamos que duas pessoas, Antônio e Bernardo,


defrontem-se com o preço de dois bens: aparelho
de telefone celular (Bem 1) e um notebook (bem 2).
Também supomos que o preço destes bens é dado
pelo mercado. Assim, Antônio e Bernardo calculam
quanto valeu suas respectivas dotações aos preços (p1,
p2) e decidem quanto de cada bem desejam comprar a
estes preços.

92

Book 1.indb 92 27/02/2012 10:09:46


Microeconomia I

Varian (2006) nos alerta que é pouco plausível que dois


consumidores se comportarão de forma competitiva.
Pelo contrário, elas tentarão entrar em algum tipo de
cooperação. Porém, para fins didáticos, vamos supor
que este é um problema que pode ser analisado no
caso de dois consumidores.

Em uma troca entre duas pessoas, o resultado


dependerá da capacidade de negociação das partes.
Porém, nos mercados competitivos há muitos
compradores e vendedores. Assim, cada comprador
e cada vendedor considera os preços dos bens
como fixos e decide o quanto adquirirá ou venderá a
determinados preços.

Suponhamos que haja muitos Antônios e muitos


Bernardos, o que nos permite auferir que cada um
deles se comporta como um tomador de preços. Assim,
como mostra a Figura 3.3, se um ponto qualquer é
a dotação inicial dos agentes e a reta orçamentária
mostra a razão dos preços, o mercado levará a um
equilíbrio no ponto central (Alocação de equilíbrio),
que é o ponto de tangência entre as curvas de
indiferença. Como resultado, o equilíbrio competitivo é
eficiente.

Eficiência econômica em mercados competitivos


Na Figura 3.4, o ponto central, a alocação de equilíbrio, mostra
que a alocação de mercadorias em um equilíbrio competitivo é
eficiente. Isso, pois, o ponto está na tangência de duas curvas de
indiferença. Caso contrário, os agentes não obterão satisfação e
tenderão a continuar a trocar para alcançar pontos mais elevados
de utilidade.

Unidade 3 93

Book 1.indb 93 27/02/2012 10:09:46


Universidade do Sul de Santa Catarina

Figura 3.4 – O Equilíbrio


Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2005).

Esse resultado é válido tanto em uma estrutura de trocas


como em um contexto de equilíbrio geral no qual todos os
mercados são competitivos. Como mostram Pindyck e Rubinfeld
(2005), trata-se da forma mais direta de ilustrar o conceito
de mão invisível de Adam Smith, pois, assim, a economia
automaticamente alocará recursos de forma eficiente sem a
necessidade de um ente regulador. É a ação independente dos
consumidores e dos produtores, que aceitam preços, que leva os
mercados a operarem de forma eficiente.

Assim, Pindyck e Rubinfeld (2005) mostram o primeiro teorema


da economia do bem-estar:

Se todos fizerem transações em um mercado competitivo,


todas as transações mutuamente vantajosas serão realizadas
e o equilíbrio na alocação dos recursos será economicamente
eficiente.

Isso porque:

1. Como as curvas de indiferença são tangentes, todas as


taxas marginais de substituição entre os consumidores
são iguais;

2. Como cada curva de indiferença é tangente à linha


de preço, a taxa marginal de substituição (TMS) de

94

Book 1.indb 94 27/02/2012 10:09:46


Microeconomia I

computador ou celular para cada pessoa é igual à razão


entre os preços das duas mercadorias.

Assim, temos:
TMS1A,2 = P1 / P2 = TMS1B,2

O equilíbrio em forma algébrica


Se fizermos com que χ 1A ( p1 , p2 ) seja a função demanda de A
pelo bem 1 e χ 1B ( p1 , p2 ) a função demanda do agente B pelo bem
1( De forma similar, podemos fazer o mesmo para o bem 2),
podemos escrever o equilíbrio de modo que:
χ 1A ( p1∗ , p2∗ ) + χ 1B ( p1∗ , p2∗ ) = WA1 + WB1

χ A2 ( p1∗ , p2∗ ) + χ B2 ( p1∗ , p2∗ ) = WA2 + WB2

O que essas equações nos informam é que no equilíbrio, a


demanda total de cada bem deve ser igual à oferta total destes
bens.

E, o segundo teorema do bem-estar é:

Se todos os agentes tiverem preferências convexas, haverá


sempre um conjunto de preços tal que, cada alocação eficiente
no sentido de Pareto seja um equilíbrio de mercado para uma
distribuição apropriada de dotações.

Seção 3 - Equidade e concorrência perfeita


O principal problema na análise do equilíbrio geral é definir o
que é uma alocação equitativa. A resposta depende do que se
acredita ser uma alocação equitativa. Para descrever tal situação,
os economistas utilizam a função do bem-estar social.

Unidade 3 95

Book 1.indb 95 27/02/2012 10:09:48


Universidade do Sul de Santa Catarina

Esta função visa a descrever os pesos específicos atribuídos à


utilidade de cada pessoa na determinação do que é socialmente
desejável. Há várias funções de bem-estar com visões de equidade
diferentes. Essas diferentes funções estão ligadas à diferentes
pontos de vistas sobre equidade. Essas diferentes funções estão
sintetizadas no Quadro 3.1.
Todos os membros da sociedade recebem iguais quantidades de
Igualitária mercadorias.

Rawsiana Maximiza a utilidade da pessoa de menor posse.

Utilitária Maximiza a utilidade total de todos os membros da sociedade.

O resultado alcançado pelo mercado é considerado o mais


Orientada para o mercado equitativo.

Quadro 3.1 - Quatro visões de equidade


Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2005).

Em suma, a ideia geral é que a eficiência é um objetivo factível,


ao menos do ponto de vista teórico. Uma aplicação da teoria do
equilíbrio geral é o comércio internacional.

Adam Smith já mencionava que havia evidentes ganhos com


as trocas no comércio internacional. Dois países podem ser
beneficiados ao alcançar um nível de trocas que corresponda a
um ponto da curva de contrato. Entretanto, há ganhos adicionais
quando um dos países possui uma vantagem comparativa sobre o
outro.

Um país possui vantagem comparativa sobre o outro se na


produção de uma determinada mercadoria seu custo for menor do
que o outro país. Imaginemos que dois países, França e Portugal,
produzam ao mesmo tempo tecidos e vinhos, como mostra a
Tabela 3.1.

96

Book 1.indb 96 27/02/2012 10:09:48


Microeconomia I

Tecido (1 m2) Vinho (1 garrafa)

França 1 2

Portugal 6 3

Tabela 3.1 - Vantagem Comparativa na produção de tecido e vinho


(Custo de produção em horas de trabalho). (Exemplo hipotético)
Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2005).

Você pode notar na Tabela 3.1 que tanto na produção de tecido


quanto na de vinho, a França tem menores custos. Ou seja, tem
vantagem comparativa. A França possui vantagem comparativa
na produção de tecido, já que o custo de produção do tecido na
França é metade de seu custo de produção de vinho. Enquanto
em Portugal, o custo de produção do tecido é o dobro do custo de
produção do vinho.

A vantagem comparativa que cada país possui determina o que


acontece quando fazem comércio entre si. O resultado depende
do custo de produção de cada mercadoria. No nosso exemplo,
estamos supondo que os preços de mercado de ambos os produtos
são iguais nos dois países e que existe pleno emprego, e que, por
fim, os produtos são exatamente iguais nos dois países.

Caso não houvesse comércio entre eles, a França poderia produzir


em um dia 24 unidades de tecido ou 12 garrafas de vinho. Ou
alguma combinação qualquer.

Porém, havendo comércio, a França pode produzir, por exemplo,


apenas tecidos, e trocar uma parte dessa produção por vinho. Por
exemplo, produzindo 24 m2 de tecido, poderia trocar 6 deles por
6 garrafas de vinho. Uma situação melhor que caso produzisse os
dois produtos sozinha, pois produziria 18 m2 de tecido e apenas 3
garrafas de vinho.

Logo, o comércio é uma forma de se atingir um grau maior de


eficiência econômica. Ou seja, o comércio propicia que ambos
os países ganhem e fiquem em melhor situação. Afinal, o livre
comércio expande a fronteira de possibilidades de produção

Unidade 3 97

Book 1.indb 97 27/02/2012 10:09:48


Universidade do Sul de Santa Catarina

de cada país, o que implica que todos os consumidores são


beneficiados.

Síntese
Esta unidade teve caráter eminentemente teórico. Seu objetivo foi
o de descrever a análise do equilíbrio geral, que, ao contrário da
análise de equilíbrio parcial, tenta examinar todos os mercados
simultaneamente, levando em conta os efeitos que outros
mercados exercem sobre um determinado mercado.

Partindo-se da premissa que os mercados são eficientes, coloca-se


que uma alocação eficiente é aquela em que nenhum consumidor
pode aumentar sua satisfação por meio de trocas sem prejudicar
algum outro consumidor. Quando todos os consumidores fazem
todas as trocas possíveis que sejam mutuamente vantajosas,
chamamos esta situação de Pareto-Eficiente.

Assim, foi visto também que um equilíbrio competitivo


consiste em um conjunto de preços e quantidades, e quando
cada consumidor escolhe sua alocação preferida, a quantidade
demandada e a ofertada são iguais. Todas as alocações de
equilíbrio competitivo estão situadas na curva de contrato e são
Pareto-eficientes.

Por fim, mostramos que com comércio internacional pode ser


eficiente e trazer vantagens mútuas para os países que praticam
este tipo de política, porém, sob determinadas situações.

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Book 1.indb 98 27/02/2012 10:09:48


Microeconomia I

Atividades de autoavaliação
Chegamos ao final desta unidade e você mais uma vez realizará
atividades de autoavaliação. Procure resolver as atividades sem
ajuda do gabarito.

1. Explique a diferença entre a análise de equilíbrio parcial e geral. Dê um


exemplo de efeito de interdependência entre dois setores.

2. Desenhe uma caixa de Edgeworth. Quais condições devem ser


satisfeitas para que determinada alocação esteja situada na curva de
contrato de produção?

Unidade 3 99

Book 1.indb 99 27/02/2012 10:09:49


Universidade do Sul de Santa Catarina

3. Dado que todos os pontos de uma curva de contrato são eficientes, tais
pontos são igualmente desejáveis do ponto de vista do social. Comente
essa afirmação.

4. Explique com suas palavras, com base na caixa de Edgeworth, porque


a Taxa Marginal de Substituição dos dois consumidores é igual em cada
um dos pontos da curva de contrato.

100

Book 1.indb 100 27/02/2012 10:09:49


Microeconomia I

Saiba mais
Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade,
consultando as seguintes referências:

FEIJÓ, R. Repensando a revolução marginalista. Análise


econômica. 16,30, set. 1998, p. 23-46.

PINDYCK R. S. e RUBINFELD, D. L. Microeconomia. São


Paulo: Ed. Makron Books, 2002.

VARIAN, H. Microeconomia: princípios básicos. 7 ed. Rio de


Janeiro: Campus, 2006.

Unidade 3 101

Book 1.indb 101 27/02/2012 10:09:49


Book 1.indb 102 27/02/2012 10:09:49
4
UNIDADE 4

Falhas de mercado: informação


assimétrica, externalidades e
bens públicos

Objetivos de aprendizagem
„„ Entender o problema da assimetria de informações.

„„ Entender a questão do risco moral e da seleção


adversa.

„„ Compreender o conceito de externalidades e o de bens


públicos.

Seções de estudo
Seção 1 Informações assimétricas

Seção 2 As consequências da assimetria de


informações: risco moral e seleção adversa

Seção 3 Problema agente-principal

Seção 4 Externalidades e bens públicos

Book 1.indb 103 27/02/2012 10:09:49


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Os mercados falham. Ou seja, dificilmente atingimos o ideal
da concorrência perfeita. Ou seja, nem sempre os mercados
conseguem, de modo eficiente e eficaz, prover os bens e serviços
que uma determinada sociedade necessita. Por exemplo, em
2001, no Brasil, vivenciou-se um racionamento de energia
elétrica, devido, principalmente, à incapacidade do mercado
em alavancar novos investimentos em capacidade instalada
(ARAÚJO, 2001).

Um dos pilares da teoria econômica neoclássica é a suposição


de que todos os agentes econômicos dispõem de informações
completas a respeito das variáveis econômicas relevantes para suas
decisões. Porém, em verdade, as informações são assimétricas,
isto é, alguns agentes têm informações diferentes dos demais.

O proprietário de um posto de combustível sabe mais


a respeito da qualidade da gasolina que o comprador.
Um candidato a um emprego sabe mais sobre si e suas
habilidades do que o seu entrevistador.

Além das informações assimétricas, outro motivo que leva


os mercados a falharem são as externalidades. Nesse caso,
referimo-nos a implicações externas das atuações das pessoas e
das empresas. Por exemplo, uma pessoa que fuma em ambiente
fechado provoca malefícios às outras pessoas que estão no mesmo
ambiente.

Assim, como ensinam Pindyck e Rubinfeld (2005), a


assimetria de informações explica a razão dos diversos arranjos
institucionais que ocorrem nas economias. Por exemplo, as
montadoras de automóveis dão garantia de seus carros e peças por
determinado tempo. Médicos devem ser credenciados juntos aos
seus respectivos Conselhos Regionais para poderem atuar.

A assimetria de informações e suas consequências são falhas de


mercado e, portanto, desvio de eficiência de mercado. Assim,
esta unidade visa a mostrar que em muitos casos os objetivos

104

Book 1.indb 104 27/02/2012 10:09:49


Microeconomia I

de eficiência dos mercados não são atingidos, o que leva a


necessidade de intervenções nos mercados.

Seção 1 – Informações assimétricas


Este modelo analítico teve início com o trabalho de Akerlof
(1970). Nele, o autor mostra as implicações das informações
assimétricas a respeito da qualidade de um produto sobre o
sistema de preços. A ideia do autor surgiu a partir da constatação
do que acontecia nos mercados de automóveis usados. Assim,
imagine que você tenha comprado um carro zero Km por
R$40.000. Mas, por qualquer razão, no dia seguinte à compra,
você resolveu se desfazer do automóvel. Em média, os automóveis
desvalorizam 20% no Brasil, o que implicaria que você venderia o
carro por não mais do que R$32.000.

Mas, o que explica esta desvalorização?

Segundo Akerlof (1970), isso acontece porque há informações


assimétricas a respeito da qualidade dos automóveis usados
(mesmo que com pouco tempo de uso). Quem vende um
automóvel detém muito mais informação sobre ele do que
os potenciais compradores. Isso leva o preço de mercado de
automóveis usados a ser bem menor do que o dos carros zero km.
Esse tipo de problema acontece em diversos mercados, além do
de automóveis, tais como energia elétrica, comunicações, seguros,
bancos, dentre outros. Por este estudo, George Akerlof foi
Prêmio dividido com
laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 2001.
Michael Spence e Joseph
Stiglitz, todos estudiosos
da assimetria de
informações.
O mercado com informações assimétricas
A análise a seguir reproduz a descrição feita por Akerlof (1970)
para o mercado de automóveis. Porém, é válida para qualquer
mercado onde o problema da informação assimétrica se
manifesta.

Unidade 4 105

Book 1.indb 105 27/02/2012 10:09:49


Universidade do Sul de Santa Catarina

Suponha que há dois tipos de automóveis disponíveis para


compra – automóveis de alta qualidade e de baixa qualidade.
E também suponha que todos os agentes saibam reconhecer
tais diferenças. Assim, haverá dois mercados diferentes, porém
interdependentes, como mostra a Figura 4.1. Na parte (a), SA
representa a curva de oferta dos automóveis de alta qualidade,
e DA representa sua demanda. Da mesma forma, SB e DB
representam a oferta e demanda por automóveis de baixa
qualidade.

Primeiramente, atenta para o fato de que para qualquer nível


de preço, SA é mais elevada que SB, pois os proprietários de
automóveis de alta qualidade relutam em vendê-los, e para que
isso ocorra, os preços devem ser mais elevados. Da mesma forma,
DA é mais elevada que DB, pois os demandantes estarão dispostos
a pagar mais por carros com melhor qualidade.

Em verdade, os vendedores de um carro sabem muito mais sobre


ele do que seus potenciais compradores. Assim, em uma situação
como essa, de assimetria de informações, os compradores podem
imaginar que há chance de 50% dos automóveis serem de alta
qualidade, fazendo os compradores estimarem que todos os
automóveis tenham qualidade média. A demanda por automóveis
de qualidade média está representada na Figura 4.1 por DM.
PA PB
SA

$10.000 $10.000 SB
DA

$7.500 $7.500
DM
DM
DBM
$5.000 $5.000
DBM
DB
DB

25.000 50.000 50.000 75.000


(a) Automóveis de alta qualidade (b) Automóveis de baixa qualidade

Figura 4.1 – Assimetria de informações no mercado de automóveis


Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2002).

106

Book 1.indb 106 27/02/2012 10:09:50


Microeconomia I

Como mostra a Figura 4.1, os carros de qualidade média


serão vendidos por R$7.500, preço médio entre os outros dois
tipos de carros existentes. À medida que os consumidores
percebem que a maior parte dos carros vendidos é de baixa
qualidade, a demanda é deslocada para DBM, o que significa que,
normalmente, os automóveis têm qualidade entre baixa e média.
Assim, a combinação de automóveis vendidos passa a conter
uma proporção ainda maior de automóveis de baixa qualidade,
levando a curva de demanda ainda para a esquerda, até que
apenas automóveis de baixa qualidade sejam vendidos, levando a
curva de demanda de mercado a ser DB.

Essa é uma situação limite. Claramente, o mercado pode


conter automóveis de alta qualidade também. Porém, a fração
de automóveis de alta qualidade será menor do que se os
consumidores fossem capazes de identificar sua qualidade antes
de efetuar a compra. Essa é a razão fundamental pela qual você
deve esperar vender seu automóvel novo por um valor bem
inferior ao que você pagou na concessionária.

Em suma, na presença de assimetria de informações,


as mercadorias de baixa qualidade expulsam as de alta
qualidade do mercado.

Seção 2 - As consequências da assimetria de


informações: risco moral e seleção adversa
Como visto, a assimetria de informações surge quando uma das
partes envolvidas em uma transação dispõe de conhecimento
insuficiente sobre outra parte envolvida na transação, de modo
que sua tomada de decisão é dificultada, por exemplo, tem mais
custos. A presença de informações assimétricas tem duas grandes
consequências:

Unidade 4 107

Book 1.indb 107 27/02/2012 10:09:50


Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ seleção adversa;

„„ risco moral.

Seleção adversa
Uma importante implicação da assimetria de informações é o que
os economistas chamam de Seleção Adversa. Esse é um problema
de informação assimétrica que se manifesta antes que a transação
ocorra efetivamente.

No exemplo dos automóveis mostrou-se que na presença de


assimetria de informações os resultados levam a uma redução
da eficiência de mercado. Ou seja, há falha de mercado. Em um
mercado ideal, consumidores teriam a possibilidade de escolher
entre automóveis de alta e baixa qualidade, de acordo com
seus orçamentos e preferências. Porém, nos mercados reais, os
consumidores não podem determinar facilmente a qualidade de
um automóvel antes de adquiri-lo.

A seleção adversa surge quando produtos de qualidades distintas


são vendidos ao mesmo preço, devido ao fato de compradores
e vendedores não disporem de informações suficientes para
determinar a qualidade real do produto no momento da compra.
Como resultado, muitos produtos de baixa qualidade são
vendidos no mercado, enquanto poucos de alta qualidade estão
disponíveis.

Um importante exemplo de seleção adversa reside no mercado de


seguros. Imagine uma pessoa de 70 anos desejando adquirir um
plano de saúde. Essa pessoa certamente irá encontrar resistência
por parte das seguradoras e terá que pagar, caso consiga se
inscrever, uma mensalidade bem mais alta do que a maioria das
pessoas. A razão disso é a assimetria de informações. Afinal,
as pessoas sabem bem mais sobre seu estado de saúde do que
as companhias seguradoras têm condições de saber. Isso leva o
preço a subir significativamente nesta faixa etária.

A solução para o problema da seleção adversa é agrupar riscos.


Ou seja, no caso do seguro saúde, o governo poderia, por

108

Book 1.indb 108 27/02/2012 10:09:50


Microeconomia I

exemplo, estender o seguro a pessoas de mais idade, dividindo,


portanto, os riscos com o setor privado. De todo modo, fica claro
que em situações nas quais os mercados falham, a intervenção do
Estado, seja direta ou indiretamente, é necessária.

Uma tentativa de resolver o problema de seleção adversa:


a sinalização de mercado
Já foi visto que as informações assimétricas implicam que, em
certos casos, pelo fato de os vendedores saberem mais sobre a
qualidade do produto que vendem do que os compradores, eles
podem duvidar da palavra dos vendedores e presumirem que essa
seja baixa. Uma forma de minimizar o problema da assimetria de
informações é por meio da sinalização de mercado.

Esse conceito foi originalmente desenvolvido por Michael


Spence, o qual mostrou que, em determinados mercados,
os vendedores enviam sinais aos compradores, transmitindo
informações sobre a qualidade de determinados produtos
(SPENCE, 1974).

Assim, suponha uma empresa que deseja contratar funcionários.


Os potenciais trabalhadores (vendedores de mão de obra)
conhecem muito bem a si mesmos. Porém, a empresa, mesmo
com testes, só os conhecerá, e suas habilidades de trabalho, após
a contratação. As empresas poderiam, portanto, contratar os
trabalhadores e depois demitir aqueles menos eficientes. Porém,
esse processo é demasiado caro, já que há severas leis trabalhistas.

Assim, os potenciais trabalhadores tentam sinalizar para


a empresa que são competentes, qualificados, pontuais e
produtivos. Conforme mostram Pindyck e Rubinfeld (2005),
a educação é um sinal forte no mercado de trabalho. O nível
educacional de uma pessoa pode elevar sua produtividade
no trabalho, já que proporciona informações, habilidades e
conhecimentos gerais úteis ao trabalho. Isso leva as empresas a
considerar a educação como sinal de produtividade.

Unidade 4 109

Book 1.indb 109 27/02/2012 10:09:50


Universidade do Sul de Santa Catarina

Risco moral (Moral hazard)


Outra consequência da assimetria de informações é o problema
do risco moral (moral hazard, em inglês). Risco moral ocorre
quando uma pessoa apresenta atitudes que não podem ser
observadas e que podem afetar a probabilidade de um pagamento
associado a sua ação. Como coloca Varian (2006), o risco moral
se refere a situações em que um agente não pode observar as
ações do outro. Por isso, muitas vezes é chamado de ação oculta.

Uma pessoa tem um carro e faz um seguro deste


automóvel. Pode, por exemplo, não instalar um sistema
antifurto no veículo e aumentar a probabilidade de
ocorrer um dano. Ou seja, o risco moral está ligado à
ideia de que o comportamento individual possa ser
alterado após a contratação de um seguro, ou seja, de
a outra parte se engajar em atividades indesejáveis
ou arriscadas, colocando em risco a probabilidade de
pagamento ou retorno do investimento.

Em suma, o risco moral representa um problema que se


manifesta após a transação ter ocorrido, ou seja, quando uma das
partes corre risco.

Em geral, o problema do risco moral ocorre quando as ações


de uma parte, que não podem ser observadas pela outra, têm
influência na probabilidade ou magnitude de um pagamento. Por
exemplo, se uma pessoa possui seguro-saúde com cobertura total
pode fazer mais consultas aos médicos do que se tivesse cobertura
parcial.

Como é consequência da assimetria de informações, o risco


moral tem implicações na eficiência dos mercados. Ou seja,
possui implicações que modificam os preços determinados pela
relação entre demanda e oferta livremente. Por exemplo, no
mercado de carnes, as informações sobre a saúde dos animais
é extremamente importante para os produtores. Devido a isso,
internamente e externamente ao país, há rigorosa legislação
exigindo certificados que garantam a saúde dos animais.

110

Book 1.indb 110 27/02/2012 10:09:50


Microeconomia I

O texto a seguir, extraído de Paiva e Cunha (2008), mostra a


questão da assimetria de informações no sistema financeiro,
celeiro da crise mundial que atingiu o mundo a partir de 2008.

“A eficiência alocativa do sistema financeiro passa a ser comprometida


quando há assimetria de informações, ou seja, “.... uma situação na qual
uma das partes do contrato financeiro tem informações muito menos
precisas do que a outra parte.” (Mishkin, 1998: 2). Isto geraria dois tipos
fundamentais de problemas: (i) a seleção adversa, que ocorre antes da
transação, e significa que, normalmente, os agentes mais dispostos a
procurar empréstimos são os que tendem a ter um maior risco de crédito;
(ii) e o risco moral, que emerge toda a vez que o tomador de crédito
sente-se incentivado a investir em projetos de risco elevado, nos quais o
sucesso implica um forte retorno para si, e o fracasso uma perda elevada –
e desproporcional ao ganho em caso de sucesso – para o emprestador.
A seleção adversa seria uma assimetria ex-ante (à concessão do crédito)
enquanto o risco moral uma assimetria ex-post. A existência de assimetrias
de informação determinaria a necessidade de se estabelecer um
conjunto de instituições e regras do jogo que permitam aos tomadores e
emprestadores de crédito obter, igualmente, informações de qualidade
sobre os riscos e retornos esperados dos seus investimentos.Uma vez
identificadas as principais assimetrias informacionais, Mishkin (1998:8)
procura mostrar que: “(a) instabilidade financeira ocorre quando os
choques no sistema financeiro interferem com os fluxos de informação,
de modo que este sistema não consegue mais executar sua função de
canalizar fundos para oportunidades de investimento produtivo. Sem
acesso a esses fundos, indivíduos e firmas cortam seus gastos, resultando
em contração das atividades econômicas, que às vezes pode ser bem
severa”.
Ele sugere que quatro fatores fundamentais levariam à instabilidade
financeira: (i) o aumento da taxa de juros, que estimularia a seleção
adversa, na medida em que os investidores com projetos de maior risco
seriam exatamente aqueles dispostos a pagar mais pelo crédito – assim,
quanto mais elevada a taxa de juros, maior a seleção adversa do crédito, e
maior o risco de crescimento na inadimplência; (ii) o aumento da incerteza,
que tornaria as informações imprecisas, dificultando a avaliação do risco
de crédito e estimulado a seleção adversa; (iii) o efeito da mudança no
preço dos ativos sobre os balanços patrimoniais dos agentes econômicos,
que ao comprometer o valor da garantias (colaterais) dadas pelos
tomadores de crédito e o valor presente da sua renda líquida, ampliaria o
risco de crédito e,assim, a seleção adversa e o risco moral; e (iv) as crises
bancárias, na medida em que uma das funções centrais dos bancos é
produzir informações que facilitam a canalização dos recursos para os
investimentos – quando há uma deterioração nos balanços dos bancos,
especialmente se motivado pela ampliação dos créditos não pagos,

Unidade 4 111

Book 1.indb 111 27/02/2012 10:09:51


Universidade do Sul de Santa Catarina

tende-se à uma deterioração na qualidade das informações e do crédito,


bem como uma contração deste.

Fonte: Paiva e Cunha (2008).

Seção 3 - Problema agente-principal


Caso o acesso às informações fosse amplamente disponível e o
monitoramento dos funcionários de uma empresa não implicasse
custos, os proprietários de uma empresa poderiam ficar seguros
de que seus administradores e funcionários estariam trabalhando
da forma mais produtiva possível.

O problema de agência (ou problema agente-principal) aparece


quando o bem-estar de uma parte (denominada principal)
depende das decisões tomadas por outra (denominada agente).
Embora o agente deva tomar decisões em benefício do principal,
muitas vezes ocorrem situações em que os interesses dos
dois são conflitantes, dando margem a um comportamento
oportunista por parte do agente (referido como moral hazard
ou oportunismo). No caso, por exemplo, de grandes empresas,
nas quais os responsáveis pela sua gestão são executivos e não
os proprietários, Jensen e Meckling (1976) comentam que a
possibilidade de contratação de gestores, que não necessariamente
participam do capital da empresa, conduz ao problema da
separação entre propriedade e controle.

Ou seja, há um problema de agência quando há um conflito de


interesses entre o agente e o principal. Ao contratar um agente,
o principal delega-lhe poderes e autoridades para tomar decisões,
as decisões tomadas pelo agente na administração da empresa
em função do comportamento oportunista dos seres humanos
1

e da racionalidade limitada nem sempre estão de acordo com a


2

maximização da utilidade do proprietário. Ao principal só resta


optar pela única solução possível, ao invés da solução ótima,
isto é, a não maximização dos seus interesses em função da
necessidade da contratação de agentes. Essa relação conflitante
fez com que surgisse a necessidade da criação de mecanismos que

112

Book 1.indb 112 27/02/2012 10:09:51


Microeconomia I

alinhassem os interesses dos gestores aos dos acionistas, a fim de


fazer com que os primeiros procurassem sempre agir no melhor
interesse de todos os acionistas, maximizando assim a riqueza a
partir do que foi investido.

Neste tipo de problema se enquadram os seguintes casos:

„„ Proprietário de uma empresa e Gerente;

„„ Acionistas Controladores e Acionistas Minoritários;

„„ Empresas e consumidores;

„„ Agência Reguladora e Concessionárias de serviço


público.

Tal problema se manifesta especialmente quando o principal não


consegue controlar totalmente o comportamento dos agentes.
A fiscalização das ações do agente pode eliminar o problema,
porém, é custosa. Jensen e Meckling (1976) comentam que se
ambas as partes (o principal e o agente) agem tendo em vista a
maximização de suas utilidades pessoais. Existe uma razão para
se acreditar que o agente não agirá sempre no melhor interesse do
principal.

Suponha, por exemplo, que João seja um farmacêutico e


proprietário de sua própria farmácia. Depois de alguns anos
e juntando suas economias, João resolve abrir uma segunda
farmácia. E, contrata uma pessoa para ser gerente nesta segunda
unidade. Assim, uma dúvida surge para João. Caso pague um
salário baixo para seu gerente, esse pode se sentir estimulado a
desviar produtos da farmácia para aumentar sua renda. Porém,
caso João pague uma salário alto, visando a desestimular
comportamentos oportunistas, corre o risco de pagar um salário
acima do de mercado e não maximizar seu lucro.

Para evitar comportamentos oportunistas e não perder lucro, João


terá que monitorar seu novo funcionário, porém, isso acarretará
mais custos (sistemas informatizados, câmeras de segurança, por
exemplo).

Em seu trabalho considerado clássico e essencial na área, Jensen e


Meckling (1976) comentam que se ambas as partes (o principal e

Unidade 4 113

Book 1.indb 113 27/02/2012 10:09:51


Universidade do Sul de Santa Catarina

o agente) agem tendo em vista a maximização de suas utilidades


pessoais. Existe uma razão para se acreditar que o agente não
agirá sempre no melhor interesse do principal. Uma das formas
de evitar esse comportamento se dá por meio do monitoramento
(monitoring devices) das atividades dos executivos (agente),
estabelecendo-se incentivos contratuais apropriados. Para isso,
os acionistas incorrem em custos para alinhar os interesses dos
gestores aos seus. Entre eles estão:

„„ Custo de criação e estruturação de contratos entre o


principal e o gestor;

„„ Gastos de monitoramento das atividades dos gestores


pelo principal;

„„ Gastos promovidos pelo próprio agente para mostrar ao


principal que seus atos não serão prejudiciais;

„„ Custos de incentivo e premiação;

„„ Perdas residuais, decorrentes da diminuição da riqueza


do principal por eventuais divergências entre as decisões
do agente e as decisões que iriam maximizar a riqueza do
principal.

Como resolver esse problema ao mínimo custo?

Uma forma de resolver esse problema é a governança corporativa,


sistema pelo qual as companhias são dirigidas e monitoradas
por meio de um conjunto de princípios e práticas que procuram
minimizar os potenciais conflitos de interesse, seu objetivo é
maximizar o valor da empresa e, consequentemente, aumentar
o retorno para seus acionistas. Algumas organizações criam
estruturas de Compliance para verificar se os agentes estão agindo
em conformidade com as leis, regulamentos internos e externos,
normas e princípios da cultura organizacional que garantam as
melhores práticas, seu objetivo principal é controlar o risco e

114

Book 1.indb 114 27/02/2012 10:09:51


Microeconomia I

garantir a integridade da organização e dos principais. O controle


e monitoramento de atividades do agente compreendem custos
internos de coordenação das firmas.

No âmbito institucional e corporativo, Compliance é o


conjunto de disciplinas para fazer cumprir as normas
legais e regulamentares, as políticas e as diretrizes
estabelecidas para o negócio e para as atividades da
instituição ou empresa, bem como evitar, detectar e
tratar qualquer desvio ou inconformidade que possa
ocorrer.

A literatura da relação principal-agente aplicada a Teoria da


Agência é caracterizada pelo abandono dos axiomas neoclássicos
de mercados de concorrência perfeita, em que todos os agentes
possuem informação perfeita em relação a todos os mercados
e seus respectivos produtos, teve início na década de 70. As
relações entre administradores (agente) e acionistas (principal) são
caracterizadas por presença de informação assimétrica. Problemas
de risco moral (ação oculta) e de seleção adversa (informação
oculta) sugerem modelar situações reais, com objetivos de
encontrar soluções que consistem em um desenho de um contrato
que formule estímulos corretos de forma a incentivar o agente
a não se desviar demasiadamente dos interesses do principal
(STADLER E CARTRILLO, 2001).

Isto é, pode ser dado um prêmio por produtividade, ou seja, um


incentivo para a produtividade.

A questão dos incentivos


Os objetivos de agentes e principal são diferentes, logo, é
necessário elaborar um sistema de recompensa que crie incentivos
para a conduta adequada de ambos.

Imagine, por exemplo, uma pequena empresa que produz sapatos.


Seus proprietários desejam maximizar lucros. Eles também
precisam confiar no técnico de manutenção das máquinas,
que visa a minimizar a probabilidade de quebra, e, portanto,
garantir a produção da empresa. Dado que há elevados custos

Unidade 4 115

Book 1.indb 115 27/02/2012 10:09:51


Universidade do Sul de Santa Catarina

de monitoramento, os proprietários não podem constantemente


medir o desempenho do técnico.

Os proprietários devem levar em conta, para estimação de


suas receitas futuras, a existência de incerteza e de que o
comportamento do técnico não pode ser monitorado. Assim, os
proprietários podem fazer um contrato para remunerar o trabalho
do técnico, porém, tal contrato deve estar lastreado no lucro da
empresa, e não no empenho do técnico. Assim, esse esquema de
pagamento é caracterizado por w*.

O rendimento do técnico (assim como o do gerente da farmácia


de João) pode ser dado por

w* = w + γ ( R )

em que,

w* = rendimento total do gerente

w = salário base

γ = prêmio extradependente do desempenho que está ligado à


receita da empresa.

Assim, um arranjo em que a remuneração do agente está ligada


à receita da empresa é, muitas vezes, eficaz para solucionar o
problema do agente-principal. Uma estrutura de incentivos que
remunere elevado desempenho pode ser capaz de induzir os
agentes a alcançar os objetivos dos proprietários.

Seção 4 - Externalidades e bens públicos


Durante o verão, no Brasil, milhares de pessoas viajam para
o litoral. As pessoas se direcionam para as muitas praias de
todo o litoral brasileiro, com o intuito de aproveitarem banhos
de mar e se refrescar do calor. Porém, atualmente, há muitos
locais onde o mar encontra-se impróprio para banho devido à

116

Book 1.indb 116 27/02/2012 10:09:52


Microeconomia I

poluição dos mares e oceanos. Ou seja, para os banhistas há


um custo maior para ir à praia, já que devem mudar de local ou
restringir os banhos. A essa situação os economistas denominam
externalidades.

Vamos examinar essas questões nesta seção.

Toda e qualquer atividade econômica gera o que os economistas


chamam de externalidades. Ou seja, provoca um efeito externo
à sua produção, consumo, ou venda. Assim, como coloca Fiani
(2011), externalidades são ações que possuem impacto econômico
(custos ou benefícios), porém, não envolvem transações no
mercado. Dado que não envolvem transações no mercado,
não é possível para todos os agentes envolvidos expressar suas
preferências de forma adequada, já que os preços dos bens ou
serviços não incorporam todos os custos reais envolvidos no
processo.

Por exemplo, se uma pessoa decide ouvir música em alto volume


às 3 da manhã ou fumar no cinema, certamente provocará
uma reação por parte dos vizinhos, já que tais atitudes geram
externalidades. Nesse caso, dizemos que as externalidades são
negativas. Por outro lado, caso uma pessoa decida plantar árvores
no seu jardim, ou contratar um vigilante para sua rua, criará
externalidades positivas.

Uma externalidade que impõe um benefício é uma


externalidade positiva.

Uma externalidade que impõe um malefício é uma


externalidade negativa.

Veja no quadro abaixo alguns exemplos de externalidades


positivas e negativas.

Unidade 4 117

Book 1.indb 117 27/02/2012 10:09:52


Universidade do Sul de Santa Catarina

Externalidades Positivas Externalidades Negativas

Cuidados com casas, jardins e ruas Poluição do ar

Pesquisas científicas Poluição da água


Cuidados médicos Congestionamento de ruas

Cuidados higiênicos Ambientes com fumantes

Quadro 4.1 – Exemplos de externalidades


Fonte: Elaboração Própria.

Como afirma Varian (1999), a principal característica da


externalidade é que há bens com os quais as pessoas se importam
e que não são vendidos no mercado. Afinal de contas, não há
mercado para música alta às 3 da manhã. Aliás, é justamente a
falta de mercados (e de incentivos) para esses bens/serviços que
causa problemas. Na ausência de externalidades, os mercados são
capazes de alcançar alocações eficientes de Pareto. Porém, como
em muitas atividades há externalidades, é necessário algum tipo
de intervenção no sistema de mercado.

Um exemplo de atividade que gera forte externalidade é a geração


de energia elétrica. Toda forma de produção de eletricidade
gera algum tipo de dano ao ambiente. Uma usina hidroelétrica
necessita de um reservatório (mesmo que pequeno), o que pode
causar danos às populações ribeirinhas. Uma usina termelétrica
a carvão polui a atmosfera. A extração de petróleo e gás natural
enseja riscos, como, por exemplo, o vazamento de petróleo no
mar. Assim, nesses casos, os governos obrigam as empresas a
compensarem, de alguma forma, tais danos. No caso do petróleo,
há o pagamento pelos royalties, por exemplo.

Para melhor retratar essa questão, analisemos um exemplo.

Uma empresa siderúrgica despeja dejetos no rio (que é público).


Nesse rio vive uma comunidade de pescadores que necessita de
suas águas para obterem seu sustento. Os dejetos despejados no
rio afetam a fauna e a flora, e, consequentemente, os pescadores.
Este é um exemplo de externalidade negativa, pois gera um custo
para os pescadores. Esses gastam mais tempo para obter uma
dada quantidade de peixes ou pescar em trechos mais distantes
da siderúrgica, a fim de obter peixes de boa qualidade. Porém,

118

Book 1.indb 118 27/02/2012 10:09:52


Microeconomia I

as águas do rio não estão à venda no mercado, logo, os custos da


empresa não incorporam os custos de utilização da água.

Assim, os custos da fábrica são menores do que de fato deveriam,


já que não incluem a poluição da água, e o custo extra dos
pescadores. Assim, a fábrica tem um custo menor do que o real,
e um lucro maior do que deveria. A quantidade de poluentes
emitidos pela usina pode ser diminuída diminuindo-se a
produção, porém, isso levaria a não maximização do lucro da
empresa. O que faz com que sua produção seja superior àquela
que seria mais eficiente para a sociedade, ilustrado na Figura
4.2. O Custo Marginal Externo (CMgE) é o custo imposto aos
trabalhadores que dependem do rio, para cada nível de produção
de aço. Krugman e Wells (2009) afirmam que o custo social
marginal de uma unidade de poluição é igual à disposição mais
alta de pagar entre todos os membros da sociedade para evitar
aquela unidade de poluição. Porém, é necessário esclarecer que é
muito difícil calcular o real custo marginal social de uma unidade
de poluição.

Assim, o Custo Marginal Social (CMgS) é:

CMgS = CMg = CMgE.

Figura 4.2 – Custo Marginal Externo


Fonte: Elaboração própria a partir de Varian (1999) e Pindyck e Rubinfeld (2005).

Unidade 4 119

Book 1.indb 119 27/02/2012 10:09:53


Universidade do Sul de Santa Catarina

A externalidade negativa pode levar as firmas a produzirem em


um nível maior do que o socialmente ótimo? Por quê?

Não havendo intervenção do governo, as firmas podem poluir


mais. Porém, caso o governo imponha um imposto sobre a
poluição, normalmente chamado de imposto Pigouviano, a
quantidade diminui para aquela considerada socialmente ótima.

Já quando há uma externalidade positiva, pode haver uma


produção menor do que aquela que seria socialmente ótima,
como mostra a Figura 4.3, já que o Benefício Marginal Social
(BMgS) é maior que o Benefício Marginal individual.

Assim, imagine uma pesquisa científica que aumente a


produtividade da pesca e que esteja gratuitamente posta à
disposição da sociedade. Dessa forma, um pescador passa a usar
tal tecnologia, que rapidamente é disseminada pelos demais.
Porém, como o primeiro pescador não é remunerado por usar tal
tecnologia, pode se sentir desestimulado e o grau de utilização
da nova tecnologia pode ser inferior àquele que seria mais
socialmente eficiente.

Figura 4.3 – Benefícios Externos


Fonte: Elaboração própria a partir de Varian (1999) e Pindyck e Rubinfeld (2005).

120

Book 1.indb 120 27/02/2012 10:09:53


Microeconomia I

Um tópico especial: o Teorema de Coase


Pode o setor privado resolver o problema das externalidades?
Bom, lembre-se de que se uma determinada transação é
ineficiente, isso significa que há uma outra transação que
poderia melhorar a situação das pessoas. O Teorema de Coase
foi formulado em 1960, pelo economista laureado com o
Prêmio Nobel Ronald Coase, e mostra que as externalidades
ou ineficiências econômicas podem ser, em determinadas
circunstâncias, corrigidas e internalizadas pela negociação entre
as partes afetadas, sem necessidade de intervenção de uma
entidade reguladora. Ou seja, o setor privado poderia de fato
lidar com todas as externalidades, sem intervenção do governo.

De acordo com o teorema de Coase, mesmo na presença de


externalidades, uma economia sempre pode alcançar resultados
eficientes desde que os custos para isso sejam significativamente
baixos. As referidas circunstâncias necessárias para que tal seja
possível são, segundo Coase, a possibilidade de negociação sem
custos de transação e a existência de direitos de propriedade
garantidos e bem definidos. A principal conclusão de Coase
foi de que a maioria dos problemas de externalidades deve-se
a uma inadequada especificação dos direitos de propriedade e,
consequentemente, a uma ausência de mercados nos quais se
possa negociar ou internalizar os custos ou benefícios externos.

O argumento de Coase fica melhor explicado a partir do


exemplo do Churrasco.

Dois vizinhos, João e Pedro, gostam de fazer churrasco aos fins


de semana. Porém, João o faz ao som de música alta, o que Pedro
não tolera. Suponhamos que não houvesse a Lei do Silêncio (a
intervenção do governo). João e Pedro poderiam chegar a um
resultado satisfatório para ambos por meio de negociações. Por
exemplo, João poderia pagar a Pedro uma determinada quantia
em dinheiro para ter direito de ouvir música alta. De outra
forma, Pedro poderia pagar a João para que este não ouvisse
música em alto volume. Tais fluxos de pagamento permitem que
se chegue a uma solução eficiente independente de quem detenha
o direito legal.

Unidade 4 121

Book 1.indb 121 27/02/2012 10:09:53


Universidade do Sul de Santa Catarina

Neste caso, diria Coase, os indivíduos internalizam as


externalidades.

As externalidades violam a hipótese dos mercados eficientes,


já que não há mercados para que as preferências dos agentes
afetados sejam reveladas por meio do sistema de preços. As
externalidades estão presentes em diversas situações da sociedade,
assim, pode-se concluir, o mercado não é capaz de lidar com
estas situações de forma adequada. Nesse caso, é necessária a
intervenção do Estado.

Políticas para minimizar externalidades


Sem dúvida, os custos externos mais sérios ocorrem na área
ambiental. Ou seja, são aqueles associados às atividades que
prejudicam o meio ambiente. Assim, a defesa do meio ambiente
tornou-se bandeira de muitos governos no mundo. Um das
formas de os países o protegerem, é a criação de padrões
ambientais, isto é, de regras e leis, especificando ações para
produtores e consumidores. Um exemplo é a lei que obriga carros
a terem catalisador. Porém, há outras formas, especialmente na
produção, mais eficientes do ponto de vista da teoria econômica.

Outro modo de lidar com tal problema é por meio de imposto


sobre emissões. O imposto sobre emissões é uma forma eficiente
de reduzir impactos ambientais porque garante que o benefício
marginal da poluição seja igual para todas as fontes de poluição.
Por exemplo, há várias fontes de geração de energia elétrica. Ou
seja, há tecnologias diferentes e, portanto, com impactos também
diferentes. Logo, devem sofrer tributação diferenciada. Toda
forma de geração de energia elétrica tem impactos, portanto, a
tributação deve ocorrer de acordo com os diferentes impactos.
Por exemplo, imagine uma empresa que tenha duas usinas a
carvão, A e B. Porém, a usina A utiliza um tipo de carvão menos
poluente. Logo, a tributação sobre A deve ser menor do que B.
Logo, a empresa deve produzir menos em B do que em A.

122

Book 1.indb 122 27/02/2012 10:09:53


Microeconomia I

Bens Públicos

O que são bens públicos?

Uma pessoa que queira adquirir um carro, compra-o com seu


dinheiro. E passa a ser registrado em seu nome. Logo, um carro é
um bem privado. Os bens privados têm duas características:

a) Eles são excluíveis: as empresas podem impedir o


consumo daqueles que não pagam;

b) Eles são rivais no consumo: a mesma unidade de um


bem não pode ser consumida por mais de uma pessoa ao
mesmo tempo.

Porém, nem todos os bens possuem tais características, o que é o


caso dos bens públicos.

Bens públicos apresentam duas características. Primeiramente,


são bens cujo consumo por um agente não reduz a quantidade
disponível para os demais agentes da sociedade. Ou seja, são
bens não rivais. A segunda característica é que é impossível deter
alguém que não pagou pelo bem de usufruí-lo. Ou seja, são bens
não excluíveis. Um exemplo simples deste tipo de bem é a defesa
do território nacional. Outro caso de bem público é a iluminação
pública, afinal, mesmo que uma pessoa se abstenha de pagar a
sua conta de luz, ela continuará usufruindo da iluminação das
ruas. Outro exemplo, são os programas de TV aberta. A decisão
de alguém de não assistir, não impede as demais pessoas de
assistirem.

Os mercados conseguem, em muitos casos, prover a oferta


eficiente apenas de bens privados. Como coloca Fiani (2011), o
mercado não é capaz de prover a oferta de um bem público de
forma eficiente. Por quê?

Dada a definição de bem público, uma vez que o bem público seja
oferecido, o custo para atender consumidores adicionais é zero.
Como esse custo é zero, os consumidores não terão incentivos a
pagar por isso. Logo, os consumidores estão dispostos a pegar
carona” (free ride) no benefício gerado pela oferta do bem.

Unidade 4 123

Book 1.indb 123 27/02/2012 10:09:53


Universidade do Sul de Santa Catarina

Esse é conhecido na literatura como problema do caroneiro.


Logo, caso seja deixado ao sabor do mercado, as empresas
privadas não terão incentivos para fornecer tais bens, gerando
resultados ineficientes.

A oferta de bens públicos é feita de distintas maneiras. Às


vezes, é necessária a intervenção governamental, outras vezes
não. Alguns bens públicos são ofertados de modo privado. Por
exemplo, financiamento de pesquisas por empresas privadas.
Mas, de modo geral, cabe ao governo ofertar esses bens ou
conceder licenças para que outras instituições o façam.

Síntese
Os mercados falham. Desde a crise de 1929, ficou claro que: i)
os mercados são excelentes ferramentas para a oferta e demanda
dos mais diversos tipos de bens; ii) os mercados falham.
Normalmente, as causas para tais falhas estão identificadas
ao longo deste livro didático: poder de mercado; informação
assimétrica, externalidades (Pindyck e Rubinfeld, 2002). Para
resolver tais problemas, é necessária a intervenção do Governo.
Ele pode intervir por meio de leis (exemplo, lei de defesa
da concorrência); por meio de produção própria, no caso do
provimento de bens públicos; por concessão. Mas é importante
a sua atuação para garantir um resultado que, se não é o mais
eficiente, é capaz de minimizar as alocações ineficientes.

124

Book 1.indb 124 27/02/2012 10:09:53


Microeconomia I

Atividades de autoavaliação
Chegamos ao final desta unidade. Procure resolver os exercícios
sem consultar as respostas no gabarito.

1. Relacione pelo menos três exemplos de externalidades positivas e


negativas.

2. Muitos consumidores veem a marca de um produto como um sinal de


qualidade e por isso aceitam pagar um preço maior pela mercadoria.
Por exemplo, tênis Nike é mais caro que tênis de marcas menos
conhecidas, e mesmo assim, é mais vendido. Uma marca conhecida
pode ser uma forma de sinalização útil? Por quê?

3. As informações assimétricas podem reduzir a quantidade média de


produtos vendidos em um dado mercado, pois as mercadorias de

Unidade 4 125

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Universidade do Sul de Santa Catarina

baixa qualidade expulsam as de maior qualidade. Assim, explique


cada uma das afirmações abaixo, supondo a presença de informações
assimétricas.
a. O governo implanta padrões mínimos de qualidade para os produtos
disponibilizados ao consumidor.

b. O governo obriga que empresas do ramo alimentício informem dados


nutricionais sobre seus produtos.

126

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Microeconomia I

c. O governo exige que todas as empresas passem a oferecer garantia de


dois anos para seus produtos.

Saiba mais
Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade
consultando as seguintes referências:

AKERLOF, G. The market for lemons: quality uncertainty and


the market mechanism. Quartely journal of economics, 84, v.3,
1970, p. 488-500.

PAIVA, C.; CUNHA, A. Noções de economia. Brasília:


Fundação Alexandre de Gusmão, 2008.

PINDYCK R. S. e RUBINFELD, D. L. Microeconomia. São


Paulo: Ed. Makron Books, 2002.

SPENCE, M. Market signaling. Cambridge: MA, Harvard


University Press, 1974.

VARIAN, H. R. Microeconomia: princípios básicos. Rio de


Janeiro: Ed. Campus, 1994.

Unidade 4 127

Book 1.indb 127 27/02/2012 10:09:54


Book 1.indb 128 27/02/2012 10:09:54
Para concluir o estudo
Esta disciplina teve o objetivo de proporcionar ao estudante
o primeiro contato com elementos centrais da análise
microeconômica. O foco amplo da disciplina foi mostrar que
os mercados falham. Ou seja, fogem do ideal competitivo. E,
que tais falhas têm repercussão na economia e na sociedade.

Assim, primeiramente, vimos o caso do monopólio e das


empresas que têm poder de mercado. Quando há mercados
monopolistas, onde apenas uma firma é responsável pela
oferta de um certo produto, a sociedade paga um preço
maior e tem à sua disposição uma menor quantidade de
produtos ou serviços.

O mesmo, em menor grau, ocorre em outros mercados como


a concorrência monopolista ou oligopólio. As empresas,
ao deterem poder de mercado, são capazes de influenciar o
preço de mercado, que é uma das dimensões nas quais se
manifesta a concorrência.

Também vimos o modelo de equilíbrio geral, que mostra


que os mercados são interdependentes. Tal ideia é correta e
comprovada empiricamente, porém, como os mercados são
imperfeitos, os modelos analíticos não a compreendem na
sua totalidade.

Por fim, vimos as falhas de mercado propriamente ditas.


A atuação das empresas gera externalidades, causadas
essencialmente por assimetria de informações. Também
vimos que os mercados falham ao prover os bens públicos,
por isso o Estado deve garantir sua oferta. Neste ponto, há
um debate moderno sobre mercados e Estado. Embora ainda
não existam respostas sobre a atuação ótima dos Estados
na economia, é possível afirmarmos que mercados e Estado
devem coexistir em um mesmo ambiente. O primeiro para
garantir o provimento, de forma eficiente, do maior número
de bens e serviços possíveis para a sociedade. O segundo
para garantir os direitos da sociedade e evitar o abuso de
poder de mercado por parte das firmas.

Book 1.indb 129 27/02/2012 10:09:54


Book 1.indb 130 27/02/2012 10:09:54
Referências

AKERLOF, G. The market for lemons: quality uncertainty and the


market mechanism. Quartely journal of economics, 84, v.3,
1970, p. 488-500.
BAIN, Joe. Barriers to New Competition. Cambridge, Mass.:
Harvard University Press, 1956.
CABRAL, L. Introduction to industrial organization. New York,
2000.
CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA. Guia
Prático: A defesa da concorrência no Brasil. Brasília: MJ/CADE,
2000.
______. Cartilha do CADE. Brasília: MJ/CADE, 1999.
FEIJÓ, R. Repensando a revolução marginalista. Análise
econômica. 16, 30, set. 1998, p. 23-46.
JENSEN, M. C.; MECKLING, W. H. Theory of the Firm: managerial
behavior, Agency Costs and Ownership Structure. Journal of
Financial Economics, v. 3, n. 4, p. 305-360,1976.
KON, Anita. Economia Industrial. São Paulo: Nobel, 1994.
KRUGMAN, P.; WELLS, R. Introdução à economia. Rio de Janeiro:
Campus, 2009.
LEITE, A.L.S. Modelo de mercado de capacidade com hedge
para o setor elétrico brasileiro. Florianópolis: UFSC (Tese de
doutorado). Departamento de Engenharia de Produção), 2008.
______. Perspectivas do investimento no setor de energia
elétrica. Relatório de Pesquisa Projeto PIB. Disponível em:
<http://www.projetopib.org/arquivos/01_ds_energia_energia_
eletrica.pdf>, 2008.
______. Teoria do oligopólio revistada. Episteme, v. 8/9, n.24/25,
p. 265-284, 2003.
MARQUES, Fernando O. Cartilha do CADE. Brasília: CADE, 1999.
MAS-COLELL, Andreu; GREEN, Jerry & WHINSTON, Michael.
Microeconomic Theory. Oxford: Oxford University Press, 1995.
NATIONAL ECONOMISTS RESEARCH ASSOCIATION (NERA).
Merger appraisal in oligopolists markets. Office of Fair Trade,
research paper 19, nov. 1999.

Book 1.indb 131 27/02/2012 10:09:55


Universidade do Sul de Santa Catarina

PAIVA, C.; CUNHA, A. Noções de economia. Brasília: Fundação Alexandre


de Gusmão, 2008.
PINDYCK, R.; RUBINFELD, D. Microeconomia. 6 ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2005.
______. Microeconomia. 5 ed. São Paulo: Makron Books, 2005.
______.Microeconomia. São Paulo: Ed. Prentice Hall, 2002. 711 p.
______.Microeconomia. São Paulo: Ed. Makron Books, 1999.
POSSAS, Mário L. Os conceitos de mercado relevante e de poder de
mercado no âmbito da defesa da concorrência. Revista do IBRAC, 3 (5),
1996.
______. Estruturas de mercado em oligopólio. 2 ed. São Paulo: Hucitec,
1990.
SANTACRUZ, Ruy. Prevenção Antitruste no Brasil – 1991/1996. Rio de
Janeiro: IE/UFRJ (Tese de Doutorado), Março, 1998.
SILVA, Tarciso Gouveia da; ANDRADE, George Albin R. de. Utilização
de modelos microeconômicos para previsão dos efeitos da teoria da
agência nas organizações. Internext – Revista Eletrônica de Negócios
Internacionais, São Paulo, v. 3, n. 1, p. 1-15, jan./jun. 2008.
SPENCE, M. Market signaling. Cambridge: MA, Harvard University Press,
1974.
STADLER, I.M.; CASTRILLO, J.D.P. An Introduction to the Economics of
Information: Incentives and Contracts. Oxford University Press, Second
Edition, 2001.
STOFT, Steven. Power System Economics: Designing markets for
electricity. IEEE/ Wiley Inter-Science: Pistacaway, 2002.
U. S. DEPARTMENT OF JUSTICE. Horizontal Mergers Guidelines.
Disponível em: <http://www.usdoj.gov>. Acesso em: 20 abr. 2001.
VARIAN, H. Microeconomia: Princípios Básicos. Rio de Janeiro: Campus,
2010.
______. Microeconomia: Princípios Básicos. 7 Ed. Campus, Rio de Janeiro,
2006.
______. Microeconomia: princípios básicos. Rio de Janeiro: Ed. Campus,
1999.
WIKIPEDIA (2011). Competition between Airbus and Boeing. Disponível
em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Competition_between_Airbus_and_
Boeing>. Acesso em: 23 fev. 2012.

132

Book 1.indb 132 27/02/2012 10:09:55


Sobre o professor conteudista

Possui graduação em Ciências Econômicas pela


Universidade Federal de Santa Catarina (1996),
mestrado em Engenharia de Produção - Departamento
de Engenharia de Produção (1998) e doutorado em
Engenharia de Produção pela Universidade Federal de
Santa Catarina (2003). De 1997 a 2011, foi professor da
Universidade do Sul de Santa Catarina. Tem experiência
na área de Economia Industrial, atuando principalmente
nos seguintes temas: setor elétrico, competitividade,
estratégias de empresas de infra-estrutura, regulação
e competição. Concluiu em 2008 Pós-Doutorado em
Economia pelo Instituto de Economia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ). Atualmente é
Professor Adjunto na Universidade Federal da Fronteira
Sul (UFFS).

Book 1.indb 133 27/02/2012 10:09:55


Book 1.indb 134 27/02/2012 10:09:55
Respostas e comentários das
atividades de autoavaliação

Unidade 1
1) A empresa XAP é distribuidora de energia elétrica, portanto,
monopolista neste segmento. Ela contrata você para prestar
consultoria sobre sua política de preços. Uma das coisas que
a empresa quer saber é qual a conseqüência de um aumento
de 5% no seu preço. Que dados você precisaria conhecer
para colaborar com a empresa?
Resposta:
Na qualidade de consultor, você precisará das seguintes
informações:
Qual a elasticidade-preço da demanda do produto ofertado
pela XAP?
Quais seus substitutos próximos? (Se é que existem).

2) Uma empresa monopolista se defronta com uma


elasticidade-preço da demanda igual a -2,0. A empresa tem
Custo Marginal constante igual a $20. Pergunta-se: Se o Custo
Marginal aumentar 25%, o preço também aumenta 25%?
Resposta:
Sim, pois a firma monopolista tem como objetivo a
maximização de lucros. Logo, a regra de precificação do
monopolista é expressa como função da Elasticidade-preço
da demanda. Com base nisto, temos que:
A regra de precificação do monopolista é expressa pelo
índice de Lerner.

Book 1.indb 135 27/02/2012 10:09:55


Universidade do Sul de Santa Catarina

p − CMg 1
L= =−
p ε

p − CMg 1
=−
p ε

p − 20 1
=−
p −2
p − 20 = 0, 5 p
p = 40

Logo, caso o custo marginal aumente 25%, para se manter a igualdade


da equação, o preço também terá que aumentar 25%. Você pode
verificar isso, supondo que o custo marginal aumente para $25 e verá
que o preço aumenta para $50.

3) Uma empresa se depara com a seguinte curva de demanda (ou receita)


P = 100 - 0,01Q
Onde Q é a produção semanal em unidade e P é o preço, expresso em
Reais por unidade.
A função custo da empresa é expressa por CT = 50Q + 30.000, onde CT
é o custo total da empresa. Assim, responda:
Quais serão, respectivamente, por semana, seu nível de produção, seu
preço e seu lucro total?

Resposta:
O nível de produção que maximiza o lucro é obtido ao se igualar a
receita marginal ao custo marginal.
Assim, a curva de receita marginal é expressa por RMg = 100 – 0,02Q.
Fazendo RMg = CMg , pode-se determinar a quantidade que maximiza
lucros:
100 - 0,02Q = 50, ou
Q = 2.500.
Inserindo a quantidade maximizadora de lucros na função de demanda,
determina-se o preço:

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Book 1.indb 136 27/02/2012 10:09:58


Microeconomia I

P = 100 - (0,01)(2.500) = 0,75.


O lucro (π) é igual a receita total menos o custo total:
π = (75)(2.500) - (30.000 + (50)(2.500)), ou
π = $325 por semana.

Unidade 2
1) Suponha que, após uma fusão, todas as empresas de um setor de
concorrência monopolista se tornassem parte de uma mesma grande
empresa. A nova empresa produziria a mesma quantidade de marcas
diferentes? Ou ela produziria apenas uma marca? Explique.
Resposta:
A concorrência monopolística é definida pela diferenciação dos
produtos. Cada empresa aufere lucro econômico ao distinguir uma
marca das demais. Essa distinção pode derivar de diferenças reais no
produto ou simplesmente de diferenças na estratégia de propaganda.
Caso essas concorrentes fossem fundidas em uma só empresa, o
monopolista resultante não produziria tantas marcas diferentes como
no Mercado anterior, dado que um grau excessivo de competição
entre as marcas é mutuamente destrutivo. Entretanto, não é provável
que apenas uma marca seja produzida após a fusão. A produção com
diversas marcas e com preços e características diferentes é uma forma
de dividir o mercado em grupos de consumidores caracterizados por
diferentes elasticidades de preço, o que pode, também, estimular a
demanda como um todo.

2) Cite duas indústrias no Brasil que sejam oligopólio. Explique. Procure


dados na internet que corroboram sua resposta.
Resposta:
Aqui cito duas:
a) Indústria de transporte aéreo – Nesta indústria, TAM e GOL detém
a maior parte das vendas deste setor. Como conseqüência, a
concorrência é pouco acirrada e os preços tendem, na maior parte do
tempo, a convergir.
b) Indústria Automobilística – Este setor é extremamente concentrado.
É marcado por elevadas barreiras à entrada (Imagine o custo de
produção de um automóvel).

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Book 1.indb 137 27/02/2012 10:09:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Unidade 3
1) Explique a diferença entre a análise de equilíbrio parcial e geral. Dê um
exemplo de efeito de interdependência entre dois setores.
Resposta:
Aqui o estudante deve buscar no texto a diferença entre as duas
análises. Um exemplo seria o mercado de álcool combustível e gasolina.
O preço e a safra do álcool interferem significativamente no mercado
de gasolina.

2) Desenhe uma caixa de Edgeworth. Quais condições devem ser


satisfeitas para que determinada alocação esteja situada na curva de
contrato de produção?
Resposta:
Aqui o aluno deve desenhar a caixa, conforme está na unidade, e
indicar que as condições dizem respeito aos pontos de tangências entre
as TMgS entre os agentes.

3) )Dado que todos os pontos de uma curva de contrato são eficientes,


tais pontos são igualmente desejáveis do ponto de vista social”.
Comente esta afirmação.
Resposta:
A curva de contrato é o conjunto de pontos, numa Caixa de Edgeworth,
em que as curvas de indiferença dos dois indivíduos são tangentes.
Sabemos que a taxa marginal de substituição é igual à inclinação
(multiplicada por –1) da curva de indiferença. Além disso, sabemos que,
no ponto de tangência entre duas curvas, suas inclinações são iguais.
Logo, supondo que as curvas de indiferença sejam convexas, podemos
concluir que, ao longo da curva de contrato, as taxas marginais
de substituição entre os dois bens devem ser iguais para os dois
indivíduos.

138

Book 1.indb 138 27/02/2012 10:09:58


Microeconomia I

4) Explique com suas palavras, com base na caixa de Edgeworth, porque


a Taxa Marginal de Substituição dos dois consumidores é igual em cada
um dos pontos da curva de contrato.
Resposta:
Se a taxa marginal de transformação, TMgT, não for igual à taxa
marginal de substituição, TMgS, será possível realocar os insumos
entre os processos produtivos de modo a aumentar o bem-estar dos
consumidores. Quando TMgT for maior que TMgS, a razão dos custos
marginais é diferentes da razão dos preços, sendo possível aumentar
a produção de um bem, vender essa produção adicional no mercado
e usar a receita resultante para aumentar a produção e o consumo
dos outros bens – aumentando, assim, o bem-estar dos consumidores
relativamente à situação inicial. Logo, a alocação inicial não é eficiente
no sentido de Pareto. Apenas no caso em que TMgT = TMgS o bem-
estar dos consumidores diminuirá em decorrência de uma realocação
dos insumos entre os processos produtivos.

Unidade 4
1) Relacione pelo menos três exemplos de externalidades positivas e
negativas.
Resposta:
Externalidades positivas:
Conhecimento científico;
Investimentos públicos;
Educação.
Externalidades negativas:
Poluição;
Impactos ambientais negativos;
Fumo e suas conseqüências.

139

Book 1.indb 139 27/02/2012 10:09:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

2) Muitos consumidores vêem a marca de um produto como um sinal de


qualidade e por isso aceitam pagar um preço maior pela mercadoria.
Por exemplo, tênis Nike é mais caro que tênis de marcas menos
conhecidas, e mesmo assim, é mais vendido. Uma marca conhecida
pode ser uma forma de sinalização útil? Por que?
Resposta:
Sim. As grandes empresas fazem elevados investimentos publicitários
em marcas, pois aliam seu nome à qualidade, durabilidade,
confiabilidade, entre outros atributos.

3) As informações assimétricas podem reduzir a quantidade média de


produtos vendidos em um dado mercado, pois as mercadorias de
baixa qualidade expulsam as de maior qualidade. Assim, explique
cada uma das afirmações abaixo, supondo a presença de informações
assimétricas.
a. O governo implanta padrões mínimos de qualidade para os produtos
disponibilizados ao consumidor.
b. O governo obriga que empresas do ramo alimentício informe dados
nutricionais sobre seus produtos.
c. O governo exige que todas as empresas passem a oferecer garantia de
dois anos para seus produtos.
Resposta:
a. O governo o faz para evitar que as empresas aumentem o numero de
itens de baixa qualidade para o consumidor. Um exemplo é a gasolina,
que regulada pela Agencia Nacional do Petróleo (ANP), deve ter uma
qualidade no mínimo aceitável pela agência.
b. O Governo o faz para que os consumidores possam, à medida em que
detenham informações, decidirem ou não pela compra e consumo de
um dado produto.
c. Novamente, a intervenção do governo diz respeito à tentativa de dispor
no mercado produtos com maior qualidade para o consumidor.

140

Book 1.indb 140 27/02/2012 10:09:58


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Veja a seguir os serviços oferecidos pela Biblioteca Virtual aos


alunos a distância:

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<www.unisul.br/textocompleto>
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„„ Empréstimo de livros
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sumário da obra para que você possa escolher quais capítulos deseja solicitar
a reprodução. Lembrando que para não ferir a Lei dos direitos autorais (Lei
9610/98) pode-se reproduzir até 10% do total de páginas do livro.

Book 1.indb 141 27/02/2012 10:09:58


Book 1.indb 142 27/02/2012 10:09:58
microeconomia1_curvas.pdf 1 12/11/12 16:37

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