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ESZS 025 – Máquinas de Fluxo

Aula 15 – Análise de um estágio de uma turbina a gás axial

Prof. Dr. Marcelo Tanaka Hayashi


Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas
Universidade Federal do ABC
ESZS 025 – Máquinas de Fluxo
Introdução
‚ Considere um estágio de uma turbina axial, como ilustra a figura abaixo:

#„ #„ #„
C2 U U
#„
W2
α2
β2
#„ #„
C m1 C m2
#„
α1 C m3
#„ α3
C1 β3 #„
C3
#„ #„
W3 U
(Estator) (Rotor)
‚ Observando os triângulos de velocidade nas seções 2 e 3, verifica–se que:
Cu2 “ U ` Wu2 (1)
Cu3 “ U ` Wu3 (2)
‚ Assim, o trabalho entregue por um estágio de uma turbina axial é dado por:
w “ U pCu2 ´ Cu3 q “ U rpU ` Wu2 q ´ pU ` Wu3 qs “ U pWu2 ´ Wu3 q (3)
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Deflexão do escoamento
‚ A deflexão, ε “ β2 ´ β3 , indica uma medida da curvatura das linhas de
corrente do escoamento no rotor, que também pode ser avaliada pela diferença
entre as componentes tangenciais de velocidade (Cu2 ´Cu3 “ Wu2 ´Wu3 ).
‚ Claramente, para um determinado valor de U , quanto maior a curvatura das
linhas de corrente no rotor, mais trabalho o estágio irá entregar.
‚ Uma grande deflexão também significa que a diferença de pressão média
entre as faces de pressão e de sucção das pás deve ser grande. Tais pás são
ditas fortemente carregadas.
‚ Note que a medida que o estator deflete o escoamento na direção da
rotação, a velocidade absoluta é acelerada. Como h01 “ h02 , segue que:
1 1 1` 2 ˘
h1 ` C12 “ h2 ` C22 ñ h1 ´ h2 “ C2 ´ C12 (4)
2 2 2
‚ A eq. (4) mostra que o aumento da energia cinética leva a uma queda na
entalpia estática. Da definição de entalpia, a eq. (4) toma a forma:
1` 2 ˘
pu1 ` p1 v1 q ´ pu2 ` p2 v2 q “ C2 ´ C12 (5)
2
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Relação entre energia interna, trabalho de escoamento e energia cinética
‚ Rearranjando a eq. (5), tem–se:

1` 2 ˘
pu1 ´ u2 q ` pp1 v1 ´ p2 v2 q “ C ´ C12 (6)
2 2
‚ A eq. (6) mostra que o aumento de energia cinética através do estator
vem da conversão da energia interna e do trabalho de escoamento.
‚ A eq. (6) também pode ser escrita na forma diferencial. Considerando que
a seção 2 seja uma seção arbitrária e diferenciando, tem–se:
` ˘
du d ppvq 1 d C2 dC
´ ´ “ “C (7)
dl dl 2 dl dl
onde dl é um elemento infinitesimal de comprimento ao longo da trajetória
de uma partícula fluida.
‚ A eq. (7) mostra que uma queda na energia interna do fluido, assim como
uma diminuição líquida de pv, leva a um aumento da energia cinética.

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Relação entre energia interna, trabalho de escoamento e energia cinética
‚ Se o fluido de trabalho puder ser tratado como gás ideal:
du “ cv dT (8)
d ppvq “ R dT (9)
‚ Assim, se a energia interna diminuir na direção do escoamento, tanto a
temperatura como o trabalho de escoamento, também devem diminuir.
‚ Das eqs. (8) e (9), a razão entre du e d ppvq é dada por:
du cv dT cv
“ “ (10)
d ppvq R dT R
‚ Da eq. (52) da aula 2, tem–se:
cp “ cv ` R ñ R “ cp ´ cv (11)
‚ Dividindo a eq. (11) por cv , obtém–se:
R cp cv
“ ´ (12)
cv cv cv
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Relação entre energia interna, trabalho de escoamento e energia cinética
‚ Além disso, da definição da razão de calores específicos:
cp
γ“ (13)
cv
‚ Substituindo (13) em (12), tem–se:
R cv 1
“γ´1ñ “ (14)
cv R γ´1
‚ E, substituindo (14) em (10), tem–se:
du 1
“ (15)
d ppvq γ´1
‚ Para o ar pγ “ 1.4q, tem–se:
du 1
“ “ 2.5 (16)
d ppvq 1.4 ´ 1
‚ Em um estágio normal, a magnitude e a direção da velocidade absoluta na
saída do rotor são as mesmas da entrada do estator. Assim, α1 “ α3 e
C1 “ C3 .
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Exemplo
Gases de combustão (γ “ 4{3 e R “ 287 J/kg¨K) atravessam um estágio normal
de uma turbina, tal que α1 “ α3 “ ´14.4˝ . A temperatura de estagnação na
entrada é T01 “ 1200 K. A velocidade meridional é constante, Cm “ 280 m/s. O
escoamento deixa o estator com um ângulo α2 “ 57.7˝ . O rotor gira a 20ˆ103 rpm
e tem raio médio de Rm “ 17 cm. Determine:
(a) Os ângulos da velocidade relativa na entrada e na saída do rotor.
(b) O trabalho realizado e a queda da temperatura de estagnação através do
estágio.
(c) As contribuições da energia interna e do trabalho de escoamento para o au-
mento da energia cinética através do estator.
(d) As contribuições de energia interna, trabalho de escoamento e energia cinética
para o trabalho entregue pelo estágio.
Solução:
‚ Os calores específicos do gás são:
γR p4{3q ˆ 287
cp “ “ “ 1148 J{kg ¨ K
γ´1 p4{3q ´ 1
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Exemplo
cv “ cp ´ R “ 1148 ´ 287 “ 861 J{kg ¨ K
‚ A velocidade tangencial no raio médio é:
2πN 2π ˆ 20 ˆ 103
U “ ωRm “ Rm “ ˆ 0.17 “ 356 m/s
60 60
‚ Analisando a entrada do rotor:
Cu2
tg α2 “ ñ Cu2 “ Cm tg α2
Cm
Cu2 “ 280ˆtg p57.7˝ q “ 442.9 m/s
U
C2 Wu2 “ Cu2 ´ U “ 442.9 ´ 356
Cu2
Wu2 “ 86.9 m/s
W2 Wu2 86.9
α2 Wu2 tg β2 “ “ “ 0.31
β2 Cm 280
Cm “ Wm β2 “ 17.2˝
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Exemplo
‚ Analisando a saída do rotor:
Cm “ Wm
Cu3
tg α3 “ ñ Cu3 “ Cm tg α3
α3 Cm
β3 Cu3
C3 Cu3 “ 280ˆtg p´14.4˝ q “ ´71.9 m/s

Wu3 “ Cu3 ´ U “ ´71.9 ´ 356


Wu3
W3 U Wu3 “ ´427.9 m/s

Wu3 ´427.9
tg β3 “ “ “ ´1.53
Cm 280
β3 “ ´56.8˝
‚ Portanto, as velocidades absolutas C1 , C2 e C3 são dadas por:
b b
2 2 2 2
C1 “ C3 “ Cm ` Cu3 “ p280q ` p´71.9q “ 289.1 m/s
b b
2 ` C2 “ 2 2
C2 “ Cm u2 p280q ` p442.9q “ 524 m/s

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Exemplo
‚ O trabalho realizado pela turbina é:
w “ U pCu2 ´ Cu3 q “ 356 r442.9 ´ p´71.9qs ñ w “ 183.27 kJ/kg
‚ Para determinar a queda da temperatura de estagnação, note que:
183.27 ˆ 103
w “ h02 ´h03 “ cp looooomooooon
pT02 ´T03 q ñ ∆T0 “ ñ ∆T0 “ 159.64 K
1148
∆T0
‚ Observe que a entalpia de estagnação pode ser escrita nas formas:
,
h0 “ cp T0 . C2 C2
C2 C 2 cp T0 “ cp T ` ñ T0 “ T `
h0 “ h ` “ cp T ` - 2 2cp
2 2
‚ Portanto, na entrada do estator (estágio normal ñ C1 “ C3 ):
2
C32 p289.1q
T1 “ T01 ´ “ 1200 ´ ñ T1 “ 1163.6 K
2cp 2 ˆ 1148
‚ Como o estator não realiza trabalho, h01 “ h02 ñ T01 “ T02 . Assim:
2
C2 p524q
T2 “ T02 ´ 2 “ 1200 ´ ñ T2 “ 1080.4 K
2cp 2 ˆ 1148
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Exemplo
‚ Portanto, a variação da energia interna através do estator é:

u1 ´ u2 – cv pT1 ´ T2 q “ 861 ˆ p1163.6 ´ 1080.4q


6 u1 ´ u2 “ 71.64 kJ/kg (17)

‚ Da equação de estado de gás ideal:

pv “ RT ñ p1 v1 ´ p2 v2 “ R pT1 ´ T2 q “ 287 p1163.6 ´ 1080.4q


p1 v1 ´ p2 v2 “ 23.88 kJ/kg (18)

‚ Assim, a variação da energia cinética através do estator é dada por:


1` ˘ 1” 2 2
ı
∆ece “ C22 ´ C12 “ p524q ´ p289.1q ñ ∆ece “ 95.5 kJ/kg (19)
2 2
‚ Note que a variação da energia cinética dada pela eq. (19) é, essencialmente,
a soma das eqs. (17) e (18)1 .
1
Lembre–se que a expressão da variação da energia interna é aproximada.
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Exemplo
‚ A temperatura de estagnação T03 pode ser determinada da seguinte maneira:
∆T0 “ T02 ´ T03 ñ 159.64 “ 1200 ´ T03 ñ T03 “ 1040.36 K
‚ A temperatura estática na saída do rotor é dada por:
2
C2 p289.1q
T3 “ T03 ´ 3 “ 1040.36 ´ ñ T3 “ 1003.96 K
2cp 2 ˆ 1148
‚ A variação da energia interna no rotor é:
u2 ´ u3 “ cv pT2 ´ T3 q “ 861 p1080.4 ´ 1003.96q
6 u2 ´ u3 “ 65.81 kJ/kg
‚ A variação do trabalho de escoamento, por sua vez, é dada por:
p2 v2 ´ p3 v3 “ R pT2 ´ T3 q “ 287 p1080.4 ´ 1003.96q
p2 v2 ´ p3 v3 “ 21.94 kJ/kg
‚ Finalmente, a diminuição da energia cinética através do rotor é:
1` ˘ 1” 2 2
ı
∆ecr “ C22 ´ C32 “ p524q ´ p289.1q ñ ∆ecr “ 95.5 kJ/kg
2 2
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