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112 • 1,70€ • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • Director: Manuel Carvalho Adjuntos: Amílcar Correia, Ana Sá Lopes, David Pontes, Tiago Luz Pedro Directora de Arte: Sónia Matos
DIOGO VENTURA
“Nós os pobres, preferimos
a saúde ao dinheiro”
Reportagem nos bairros
confinados de Madrid
Dos enviados João Ruela Ribeiro (Texto)
e Diogo Ventura (Fotos)
Destaque, 2 a 4
DESTAQUE
MADRID CONFINADA
“Nós, os pobres,
preferimos a saúde
ao dinheiro”
A capital espanhola tenta combater a propagação acelerada da
covid-19 através da aplicação de conÄnamentos selectivos que
não agradam a ninguém e, provavelmente, nem são eÄcazes O bairro de Vallecas é um dos que vai sofrer fortes restrições de circulação
que alargou as medidas de conÆnamento selectivo em Madrid vontade. Salta à vista a coincidência adequado numa situação de
Reportagem conÆnamento em vigor desde o “é ridícula”. Aponta para uns de que as zonas conÆnadas são descontrolo como a que existe
João Ruela Ribeiro (texto) início da semana a oito zonas, prédios não muito longe: “Fecham também as mais pobres, mais neste momento na cidade.
e Diogo Ventura (foto), fazendo com que cerca de um
milhão de pessoas passem a ter os
este bairro, mas permitem que as
crianças dali venham à escola aqui.”
densamente povoadas e onde há
mais imigrantes da Comunidade de
“Quando se faz um conÆnamento,
delimita-se uma fronteira a partir
em Madrid movimentos fortemente restringi- O bar, que é gerido pela família há Madrid. da qual a zona que Æca de fora tem
dos a partir de segunda-feira. Uma sete anos, esteve encerrado durante Na última semana, têm sido a situação controlada”, explica o
V
ão chegando os clientes à das novas zonas abrangidas é a de os meses do estado de alarme, frequentes os protestos, sobretudo porta-voz da Sociedade Espanhola
esplanada da cervejaria El Rafael Alberti, no sul de Madrid, assim como a generalidade dos de jovens da periferia, contra a de Saúde Pública e Administração
Emigrante, em Vallecas, onde Æca o El Emigrante. estabelecimentos deste género em decisão do governo autonómico. Sanitária, José Jonay Ojeda. “O que
nos arredores de Madrid. Pepe é um dos donos e antevê toda a Espanha, entre Março e Ontem a polícia reprimiu se passa em Madrid é que,
A máscara só é retirada uma queda de 70% do número de Junho, numa altura em que se violentamente uma manifestação provavelmente, nas zonas não
quando a cerveja, os clientes a partir desse dia. “No combatia a primeira vaga do em Vallecas. Também não faltam conÆnadas a situação não está
camarões, o polvo e o pão são mínimo”, reforça. Um dos efeitos do coronavírus. Mas Vanessa aÆrma promessas de rebeldia. Antonio controlada e, portanto, não
pousados na mesa, mas a conversa conÆnamento é a restrição da que preferiam ter fechado durante Sánchez Garcia, de 64 anos, fala tardaremos muito a ver outros
já se estendia. Numa das mesas já entrada e saída de pessoas destas mais tempo, se isso garantisse que com um amigo numa rua de Rafael conÆnamentos”, acrescenta o
são seis os convivas, aquele que é zonas — apenas o podem fazer para hoje não estariam a viver um novo Alberti e, apesar de o conÆnamento especialista, entrevistado ainda
hoje o limite máximo para ir trabalhar, estudar, dar assistência surto. “Nós, os pobres, preferimos a ainda não ter entrado em vigor, diz antes do anúncio de ontem.
ajuntamentos. Mas, a partir de a idosos ou outras razões de força saúde ao dinheiro, que já estamos sentir-se um “animal enjaulado”. O modelo actual é semelhante a
segunda-feira, os habitantes deste maior. Para Pepe, infelizmente, habituados a não ter”, diz. Trava uma luta inglória com a “pôr portas num campo”, diz
bairro terão ainda mais medidas a uma cerveja no El Emigrante não máscara, que teima em deixar-lhe o Ojeda. “Aqui é muito frequente que
ter em conta, uma vez que esta zona entra nestas excepções. Mas mesmo “Que me prendam” nariz descoberto, mas nem por isso vivas num distrito, trabalhes noutro
passa a estar sob um forte regime de as pessoas do bairro “Æcam em casa O conÆnamento selectivo na capital desiste. Não vê a mãe, que tem 94 distrito e o colégio dos teus Ælhos
restrições com o objectivo de conter com medo”, lamenta. tem sido objecto de uma intensa anos, desde Março, mas garante que seja noutro sítio diferente, e
a propagação da covid-19 na capital A Ælha, Vanessa, de 42 anos, está oposição e é também factor de na próxima semana irá fazê-lo. “Que deslocas-te de transporte público”,
espanhola, o epicentro europeu da a servir às mesas na esplanada, mas enfrentamento político. As críticas me prendam!” e assim o vírus também vai
pandemia, neste momento. faz uma pausa para dar a sua vêm de todos os quadrantes. Para os As objecções também aparecem percorrendo a cidade, observa o
Passam poucas horas desde o opinião. “Não se está a controlar a moradores dos bairros atingidos, entre os especialistas em saúde especialista em Medicina
anúncio do governo da doença, apenas as pessoas”, aÆrma, trata-se de uma forma de pública, que consideram o Preventiva.
Comunidade Autónoma de Madrid de rompante. Diz que a opção pelo discriminação imposta contra a sua conÆnamento selectivo pouco Uma das medidas que causam
Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • 3
Militares em Madrid
portanto, não mandar parar”, aÆrma.
No seu círculo de contactos, Sara
Em Villa Vallecas já se vive em tardaremos muito é a única que vive num local
conÆnamento desde o início da
semana. O movimento matinal na em ver outros conÆnado e, por isso, uma das
coisas que deixou de poder fazer foi
estação de metro e comboio
suburbano é reduzido, ao contrário confinamentos ir jantar a casa de amigos. “Se calhar
no sábado [hoje] eles estão todos
do que acontece noutros locais de José Jonay Ojeda juntos a jantar e eu em casa, sem
Madrid, onde os transportes Especialista em Medicina poder sair.”
públicos continuam sobrecarrega- Preventiva
dos. À entrada, um par de polícias joao.ruela@publico.pt
4 • Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020
DESTAQUE
MADRID CONFINADA
C
om menos de ano e meio à Fuentes) demitir-se por considerar
frente da Comunidade de a sua política sanitária “errática”,
Madrid, Isabel Díaz Ayuso distribuiu máscaras que não cum-
continua onde sempre este- priam as normas com sorrisos, apa-
ve desde que passou de receu na capa do jornal El Mundo
discreto quadro do Partido numa fotograÆa de mãos cruzadas
Popular, quase desconhecida do sobre o peito e aspecto sofredor —
grande público, a baronesa de proa alguns compararam a imagem a
dos conservadores com ambições Nossa Senhora da Conceição, mem-
nacionais — no centro da polémica. bros do seu próprio partido passa-
A gestão da pandemia de covid-19 ram a tratá-la como “a pasionaria da
na comunidade com mais casos de direita de 2020”…
Espanha bastaria para a pôr no olho
do furacão. O problema é que, com No sítio certo
ou sem coronavírus, Ayuso é omni- A semana passada, centenas de pes-
presente e desconcertante. soas e dezenas de organizações (de
As tensões entre o executivo auto- sindicatos a associações de morado-
nómico e o Governo central, presidi- res) pediram a sua demissão depois
do pelo socialista Pedro Sánchez, por de ter relacionado o aumento de
causa da resposta à emergência não contágios no Sul da região com “o
são de agora. Mas ontem voltaram a modo de vida da nossa imigração”,
provocar ondas de choque. Ao mes- que muitos políticos e dirigentes
mo tempo que o vice-conselheiro da associativos rotularam de “racista”.
Saúde de Ayuso, Antonio Zapatero, Jornalista durante alguns anos, já
anunciava a ampliação a oito zonas na universidade Ayuso se envolvera
das restrições já impostas a 37, o numa associação de estudantes pró-
ministro da Saúde, Salvador Illa, tor- A líder da Comunidade de Madrid é vista, dentro do seu partido, como “a pasionaria da direita de 2020” xima do PP. “O mais importante
nava públicas as divergências entre para ela era a política e o partido, a
as recomendações do seu ministério dir independentemente do que nal e a lealdade entre comunidades da extrema-direita do Vox. Circuns- sua carreira”, conta uma amiga de
e as decisões da comunidade. deseja o Governo, respondeu que autónomas”. tâncias que, como escreveu o jornal juventude citada no perÆl do El País,
Illa explicou que foi proposto recusa “imposições”. El País num perÆl já de Maio, “a admitindo que não considera a ami-
ampliar as restrições a toda a capital No Æm de uma intervenção que Exercer o poder ao ataque levam a exercer o poder ao ata- ga preparada, mas sublinhando que
e às zonas da região onde há mais não estava prevista e que muito terá Há semanas que os socialistas da que”. assim que descobriu que era candi-
de 500 casos de covid-19 por surpreendido Ayuso (que, segundo capital discutem a apresentação de É difícil listar as polémicas em data “soube que ia ganhar”. “É
100.000 habitantes (e não 1000 a imprensa espanhola, contava que uma moção de censura à presidente que Ayuso já se envolveu desde que como Forrest Gump, esteve sempre
casos, como foi feito). O Governo as recomendações não fossem divul- da comunidade, uma intenção que chegou ao poder — ou mesmo desde no sítio certo”, observa.
queria ainda que fosse proibido o gadas), os jornalistas ainda pergun- não avança por não ter garantia de que acabou a liderar a resposta sani- O problema é que os espanhóis
consumo ao balcão em toda a comu- taram ao ministro Illa porque é que, reunir os votos suÆcientes. Precisa- tária a uma pandemia numa região — e principalmente, os madrilenos
nidade, que se limitasse a lotação face à gravidade da situação, o riam do apoio dos liberais do Cida- como Madrid sem nunca ter assu- — estão a assistir na primeira Æla “à
de esplanadas de bares e restauran- Governo não pondera aplicar o Arti- dãos, que integram o governo auto- mido responsabilidades políticas experiência em andamento” que é
tes a 50% e que se pedisse à popula- go 155 da Constituição (que permite nómico com o PP. Ayuso foi a primei- importantes. o seu mandato, escrevia o jornal no
ção para “evitar todas as desloca- ao executivo suspender os dirigen- ra candidata dos populares a perder Inaugurou um hospital de campa- mesmo perÆl, intitulado justamente
ções desnecessárias”. tes eleitos de uma comunidade para umas eleições em Madrid em mais nha construído a contra-relógio “De desconhecida a desconcertan-
“Isto tem de ser feito, os atalhos “protecção do interesse geral”) ou de 30 anos e lidera o primeiro gover- para cobrir a falta de camas com um te”.
não valem”, aÆrmou o ministro. o estado de emergência. Illa respon- no de coligação da história da região: evento em que não se cumpriram
Madrid, com autonomia para deci- deu evocando “o respeito institucio- ao Cidadãos juntou o apoio externo distâncias sociais, interrompeu reu- slorena@publico.pt
Centro de 26/09 — Curadoria Ciclo Museu
← Cortesia da artista
Artes Visuais 29/11/2020 Ana Anacleto das Obsessões
DIANA POLICARPO
Pátio da Inquisição 10 · 3000–221 Coimbra Terça a Domingo: 14h – 19h Apoio Institucional Parceiros de Comunicação
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6 • Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020
ESPAÇO PÚBLICO
A Primeira Liga de futebol ainda agora O padrão repete-se: o ano escolar começa e
começou e já há quem se possa qualificar logo surge a falta de professores e de
como uma surpresa: é o caso do Santa Clara, assistentes operacionais nos
que é o líder à condição da prova, com duas vitórias estabelecimentos. E, ano após ano, o Ministério da
em dois jogos. A de ontem foi conseguida no difícil Educação age da mesma maneira: não actua antes e
estádio do Sporting de Braga, onde a equipa de já com o problema a causar constrangimentos ao
Carlos Carvalhal também surpreende, mas pela funcionamento das escolas é que procura uma
negativa: soma zero pontos. Este não era de todo o solução de recurso, como é agora o caso do anúncio
início de campeonato que se esperava dos da contratação de 1500 assistentes operacionais.
Daniel Ramos minhotos. (Pág. 53) J.J.M. Tiago Brandão Rodrigues (Pág. 21) J.J.M.
A
sobre as opções que levaram a está uma boa notícia, a TAP companhia nacional tenha uma
s verbas astronómicas que o transportadora a perder de novo a aumentou em 124% o número de quota de mercado no Porto abaixo da
Estado português já injectou ou sua liderança no mercado nacional passageiros transportados — ou seja, dos alemães?
vai injectar na TAP ora para a Ryanair. Não, não chega com o pico do Verão parece ter É ainda cedo, como se disse, para
assustam os contribuintes, ora justiÆcá-lo com a agressividade dos havido uma espécie de sobressalto se fazer um julgamento deÆnitivo
lhes motivam atitudes preços da companhia low cost. Nem que terá tirado a administração do sobre o que está a fazer a TAP para
resignadas face ao que teriam de com a sua Çexibilidade para se marasmo. Porque, se travar a sua ruína. Mas já não é cedo
perder se a transportadora nacional ajustar à conjuntura ou a sua compreendemos a decisão de não para se começar a questionar as
pura e simplesmente deixasse de versatilidade que dispensa a investir em ligações com elevados escolhas de quem a dirige. Olhando
operar. Mas, seja qual a for a posição existência de nós de ligação (os riscos de gerar prejuízos, como os para o número de passageiros
de cada um de nós sobre o debate em famosos hubs) para levar passageiros seus líderes Æzeram questão de transportados, as respostas não são
torno do resgate da companhia, a de uma cidade para outra. A verdade anunciar, já não compreendemos tranquilizadoras. Esperemos para ver
sorte da TAP mexe de forma tão é que entre as principais companhias como é que esses riscos são o que vem a seguir.
particular e intensa nos nossos listadas pela autoridade de regulação exclusivos da TAP e poupam os seus
interesses que é indispensável avaliar do transporte aéreo, a ANAC, a TAP é concorrentes. Ninguém consegue manuel.carvalho@publico.pt
CARTAS AO DIRECTOR
Mais uma do Governo PS populacionais, ostracizando ainda Acontece que para lá da primeiros a cumpri-las e a fazê-las
mais os que vivem no interior das implementação de regras, numa cumprir.
A ministra Alexandra Leitão nossas aldeias e que continua a situação perigosa para o país, é Américo Lourenço, Sines
revelou que o cartão de cidadão vai despedir ao mesmo tempo que usa necessária determinação, e saber
ser entregue pelos CTT e os CTT e abusa dos apoios do Estado em dizer “não” a determinados
agradecem mais esta avença ao seu
negócio privado que era atribuição
tempo de covid-19, dá-se-lhe um
presente, em vez de se lhe pedir
acontecimentos que potenciam
contágio entre seres humanos, em
ESCLARECIMENTO
duma empresa pública que foi contas pelo que incumpre? que está por esclarecer se A propósito do texto publicado
privatizada e já despediu cerca de Maria Morais Mendes, Vila Nova de determinada festa não terá sido pelo PÚBLICO, com o título Venda
500 trabalhadores desde então. Um Gaia uma contrapartida para a em França origina nova queixa
serviço de distribuição postal cheio viabilização do Orçamento do sobre conflito de interesses no Novo
de falhas que não vem cumprindo o Consciência política Estado, ou o voto favorável numa Banco, o Fundo de Resolução
mínimo que se lhe exigia e que qualquer eleição, em que Æca claro (veículo gerido no quadro do
As cartas destinadas a esta secção ainda recebe como prémio da sua A pandemia trouxe à consciência que para determinadas situações Banco de Portugal) veio solicitar
devem indicar o nome e a morada má gestão este investimento como de muitos cidadãos a necessidade existem dois pesos e duas medidas. que se reafirme a
do autor, bem como um número se de um fundo de resolução se de se adoptarem e adaptarem Talvez possamos chegar à informação prestada ao PÚBLICO
telefónico de contacto. O PÚBLICO tratasse, usando os 350.000 comportamentos condizentes com conclusão de que os maus exemplos no contexto daquele trabalho, tal
reserva-se o direito de seleccionar e cartões de cidadão com entrega a urgência de nos protegermos, dados por dirigentes políticos são a como foi, aliás, reproduzida no
eventualmente reduzir os textos não pendente como mais uma tarefa mas também de prevenirmos o razão do retrocesso na contenção texto publicado quarta-feira, 23 de
solicitados e não prestará que se sabe não vai satisfazer a mais contágio quando nos relacionamos da crise sanitária que atravessamos Setembro: “Quanto às conclusões
informação postal sobre eles. ninguém para além dos accionistas com outros, existindo a em que o desrespeito de muitos da auditoria da Deloitte
dos CTT. Então, a uma empresa necessidade de acautelarmos uma poderá ter reÇexos na nossa vida relativamente a essa operação, o
que passou a distribuir correio uma situação de descontrolo, em que quotidiana, onde mais do que fazer Fundo de Resolução constata que
vez por semana nas zonas urbanas todos nós saímos prejudicados, leis, ou criar normas de ‘a operação foi aprovada pelo BCE,
Email: cartasdirector@publico.pt e que fechou postos nas zonas mais quando é ainda inexistente uma comportamentos, importa que ao qual compete, aliás, a avaliação
Telefone: 210 111 000 distantes dos grandes aglomerados resposta eÆcaz ao problema. aqueles que as fazem sejam os da idoneidade do adquirente’.”
Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • 7
ESCRITO NA PEDRA
EM PUBLICO.PT
As vozes (e cartazes) que se Como está a pandemia Caminhadas e escapadelas: André Ventura e outras
ergueram pelo clima para onde vou? programas para aproveitar incógnitas
o fim-de-semana prolongado
“Não há planeta B.” Por todo o mundo, Google Maps vai mostrar zonas mais
os activistas exigem justiça climática afectadas. O serviço vai estar disponível Seleccionámos propostas para todos Análise da secção de Política do PÚBLICO
e Portugal não foi excepção nos próximos dias em 220 países e regiões os gostos com boas ideias para 2 a 5 de aos congressos do Chega e do PCP
publico.pt/p3 publico.pt/tecnologia Outubro publico.pt/fugas publico.pt/podcasts-publico
8 • Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020
ESPAÇO PÚBLICO
T
educar, como se vê num decreto de um grupo
ainda, a vontade da praxe chamado em latim macarrónico Magnum
Consillium Veteranorum: “A Tradição
enho algumas matérias recorrentes Académica, nas suas variadas vertentes,
nestes artigos, que são uma espécie configura-se como uma componente
de campanha. Todas têm um integrante e indissociável da frequência do
aspecto em comum: o combate a Ensino Superior em Portugal, com uma forte
formas atávicas do nosso atraso carga histórica e simbólica, sendo responsável
como sociedade, à nossa pelo acolhimento e integração de sucessivas
complacência com práticas gerações de
inaceitáveis numa forma estudantes
“civilizada” de viver, ou decisões universitários numa
que nos fazem andar para trás por nova fase da sua vida.
inércia, preguiça ou cobardia. E deixem-se de Não obstante a
hipocrisias, toda a gente sabe o que signiÆca assumida vontade
“civilizada”, por oposição a bárbara, ou
“andar para trás”, em contraste com andar
Se aceitarem em perpetuar esta
Tradição…”, lá veio a
para a frente. Não precisamos de grandes andar a pintar a covid estragar a festa
polémicas sobre a “civilização”, nem sobre o
sentido da história, para aceitarmos que há
cara, a da colher de pau.
Estou, aliás, a
atitudes culturais que fazem o mundo em que arrastar-se imaginar os lamentos
vivemos, no pequeno tempo em que cá pelo chão e a dos meninos e das
estamos, melhor. Direitos, garantias, meninas: “Olha que
comportamentos, que distinguem o mundo engolir as pena, logo este ano
com tortura ou sem tortura, o mundo da obscenidades em que eu entrei
igualdade entre homens e mulheres, o mundo
que pune a violência, o mundo que preza,
duns tipos para a faculdade não
vou poder ser
respeita e defende o adquirido na cultura e na vestidos de seviciado(a), para
ciência, o mundo que assenta na liberdade, o
mundo em que se é “mais humano”, mais
padre, é porque depois daqui a um
ano poder andar a
próximo do “milk of human kindness” em vez não cresceram apascentar pelas ruas
do sangue. o suficiente da cidade uns
Verdade seja que Lady Macbeth detestava ‘caloiros’ a fazer
essa “human kindness”, que associava à para ter voto imbecilidades em
fraqueza, mas numa altura em que as em qualquer público”.
sociedades democráticas estão em crise, com
o reservatório do ódio das redes sociais,
matéria Poucas coisas são
mais deprimentes
precisamos de dar força a essa humana sobre o estado da
fraqueza e não ser complacentes com a mas que é, a degradação da língua indiferença dos poderosos pela riqueza chamada “juventude” do que a aceitação ou,
sobrevivência diária e reiterada de portuguesa pela ortograÆa oÆcial do expressiva do português. pior ainda, a vontade da praxe, de a praticar e
manifestações de barbárie de todo o tipo, no “acordês”. Em todas estas perversões ou não Hoje voltamos à praxe, esse mundo de ser “praxado”. Quanto a mim, podem ir a
meio do nosso silêncio. Daí, voltando ao andamos para a frente, ou andamos para trás personiÆcado por uma colher de pau, que todas as manifestações verdes e pela
princípio, que escreva várias vezes sobre mil e todas comunicam entre si num desprezo não é para cozinhar, por uma moca que é para Amazónia, ou chorar pelo Tibete, mas, se
coisas pequenas e grandes que são da família pela dor gratuita noutros seres, na vontade partir cabeças e por uma tesoura que não é aceitarem andar a pintar a cara, a arrastar-se
alargada de Lady Macbeth, mesmo que não de sujeição e humilhação, de dar e de para esculpir os cabelos. A trilogia original era pelo chão e a engolir as obscenidades duns
pareçam. receber, por uns Ænórios de colher de pau na uma palmatória, uma moca e uma tesoura. tipos vestidos de padre, numa exibição de
Três são recorrentes nestes artigos: a mão, e por Æm na inércia na ignorância da Estes tempos de pandemia voltaram a colocar sadismo e de masoquismo, é porque não
violência contra os animais traduzida no riqueza expressiva da língua. As duas de novo a questão das praxes, que só a cresceram o suÆciente para ter voto em
espectáculo do gáudio público com a tortura primeiras já cá não deviam estar há muito cobardia das instituições universitárias tem qualquer matéria.
dos touros; outra, o aviltamento das praxes, tempo, a terceira é o resultado de uma permitido sobreviver, com um pé ou mesmo
e uma, que não parece ser da mesma família engenharia desastrosa que só sobrevive pela com os dois dentro das instalações Historiador. Escreve ao sábado
Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • 9
ESPAÇO PÚBLICO
Recuperação económica
e Serviço Nacional de Saúde
MIGUEL MANSO
internamentos para doentes suspeitos. espírito liberalizante extinguiu a
Isabel do Carmo Resposta nula. Não daria lucro. No entanto, Direcção-Geral de Construções Hospitalares,
não podemos ser cegos ao facto de os substituída pela Direcção-Geral das
laboratórios privados terem dado uma Instalações e Equipamentos de Saúde,
Necessitamos é de resposta rápida e organizada. O Estado, progressivamente desactivada até o ser
planeamento e de capacidade institutos e laboratórios do Estado
funcionaram e bem na resposta, mas foi
formalmente, em 2006. Deixou de haver
planeamento, perderam-se camas
N
de decisão aos vários níveis, necessário recorrer aos laboratórios privados. hospitalares sem compensação por cuidados
para que seja executado Trata-se aqui da necessidade excepcional de integrados. Não há avaliação da
suplementar os serviços do SNS, como vem disponibilidade nem custos controlados. De
o momento em que se discute a escrito na lei de bases. E, neste caso, a lei do cerca de 130 engenheiros e arquitectos
recuperação económica face à mercado também foi favorável aos hospitalares existentes em 2006, restam 40.
crise, cada sector deve reÇectir laboratórios privados. O Estado emagreceu...
publicamente sobre a sua área. Na Tem sido apontado como um déÆce de Com o emagrecimento lá se foram equipas,
perspectiva não só de remendar os atendimento no SNS o facto de ter havido planeamento a médio e longo prazo, cálculo
efeitos nefastos, mas com mais mortes durante o período de início da de custos. Foi-se comprando serviços ad hoc.
propostas concretas de melhoria e epidemia e o Ænal do período de contingência A Direcção-Geral de Estudos e Planeamento
restruturação, pensando no em relação ao período homólogo do ano foi extinta. Em relação ao choque informático,
dinheiro que virá da Europa. No anterior. Esta análise tem de ser feita com centros de saúde e hospitais equiparam-se
plano Costa Silva, este dá ênfase às cuidado. Nos últimos dados a que temos bem, mas reduzidos em especialistas de
habilitações e administração no sector acesso, 2018, o total de mortes durante esse informática, como todos nós que lidamos
público. O que se passa e pode vir a passar no ano foi de 113.573 em valores absolutos. E a com o sistema sabemos. E ainda não há
Serviço Nacional de Saúde (SNS)? idade média da ocorrência foi 78,5 anos. processo único a nível nacional para cada
Porque é que houve eÆcácia demonstrada Lembramos estes números para situar os doente, o que pouparia muitos esforços,
do SNS perante a epidemia? Não foi apenas a óbitos por covid-19 e a média das idades em tinham medo, e têm, de ir ao hospital, porque muita comunicação difícil, muita repetição de
abnegação e cultura de cuidados do pessoal que ocorrem. Por muito que nos custe não ser receavam ser contaminados. Provavelmente exames e histórias clínicas. E, no entanto, isto
da Saúde. Foi a estrutura dos serviços e a base eternos, nem os nossos familiares o serem, a esta foi a causa principal. Resta saber o que é possível, se houver a tal decisão, para além
de funcionamento. Ficou demonstrado verdade é que todos os dias morrem cerca de aconteceu com os doentes com tumores dos pareceres…
internacionalmente: os países onde há 311 pessoas por várias causas. Provavelmente malignos. Nos IPO não estavam a receber Se houvesse planeamento dos recursos
serviço de saúde universal tiveram uma convivemos pior com cada uma destas mortes “doentes covid-19”, pelo que o movimento só humanos, não teríamos tido de 1996 a 2018
resposta muito mais eÆcaz do que aqueles do que se convivia na Idade Média, porque os diminuiu em 6%. E as quimioterapias uma redução de 25% do número de médicos
países onde o não há, exemplo maior os EUA. humanos estavam acompanhados nessa prosseguiram nos outros hospitais. Há pois dos 31 aos 55 anos por 100.000 habitantes na
Não só isso. Portugal é um país com um altura por “Poderes invisíveis”, utilizando a que avaliar cuidadosamente, e diagnóstico a região de Lisboa e Vale do Tejo, único caso no
Produto Interno Bruto baixo, em comparação expressão do historiador José Mattoso. Mas diagnóstico, as causas de morte do excedente país. Exactamente quando a área
com a França, a Alemanha ou a Itália No esta é a nossa realidade. de 2020 comparado com 2019. metropolitana estava a crescer em população!
nosso caso, o SNS baseia-se no Orçamento As causas de morte são maioritariamente as Foquemo-nos então nas habilitações e na Os resultados estão exactamente à vista,
Geral do Estado (OGE). É um mínimo de doenças do aparelho circulatório (29%) e os administração. No SNS temos duas vertentes durante a epidemia e com o enorme esforço
justiça social e de luta contra as tumores malignos (24,6%), como na distintas e com prestação também diferente. que os médicos de medicina geral e familiar
desigualdades. Esta estrutura do SNS generalidade dos países desenvolvidos. Os médicos, enfermeiros e técnicos desta faixa etária estão a fazer. A conexão
chama-se beveridgiana (lei do ministro Infelizmente, temos superiores do SNS estão ao mais alto nível dos entre cuidados primários, hospitais e
Beveridge no Reino Unido). Não se baseia um índice de morte países desenvolvidos. Por razões históricas eventuais centros intermédios em relação a
nem em seguros (como na Alemanha e como por pneumonias das últimas décadas, a formação é muito boa consultas e equipamentos não foi ou foi
seria na lei Obama) nem na Segurança Social superior à ou de excelência. Por isso emigram facilmente pouco planeada.
(França). Quem paga impostos contribui para generalidade destes para países de topo. Os protocolos de Em resumo, não há ou há pouco
o OGE, quem não paga é porque pode não países (11,7%). E diagnóstico e terapêutica são os mesmos dos planeamento em relação a equipamentos
contribuir. Todos beneÆciam. Porque é que temos mortes por dos países desenvolvidos. Perdeu-se o hábito móveis e imóveis e a recursos humanos. A
Comparando custos com a saúde nos vários o SNS diabetes superiores à de “ir lá fora” em casos considerados graves, responsabilidade não é do actual Ministério
países, esta estrutura é a mais barata, com os
mesmos resultados. O SNS deveria, deverá,
respondeu média da União
Europeia.
porque cá dentro faz-se o mesmo. Os
institutos de investigação públicos ligados às
da Saúde, além do mais com funções de
bombeiro. Vem do percurso percorrido. Claro
responder a todas as necessidades de bem à Examinemos estas faculdades de Medicina e os de duas que a administração pública é muito apta
cuidados de saúde, sem ter de pagar serviços
a privados. O que norteia os privados é o
epidemia? causas. A ocorrência
de morte por
fundações têm resultados publicados que os
colocam a alto nível. A organização e o
para pareceres. Está equipada para isso em
pessoal com formação superior. Para as
mercado e, portanto, o lucro, o que norteia o A resposta doenças do aparelho conhecimento dos hospitais e dos cuidados decisões falta-lhe capacidade de planeamento
SNS é o serviço público. Porque é que o SNS
respondeu bem à epidemia? A resposta
baseou-se no circulatório
apresenta-se sob
primários permitiram que em poucos dias se e execução, e tem outra causa mais profunda
— “respeitinho” e medo do poder hierárquico.
organizassem espaços, percursos e pessoas
baseou-se no serviço e não no mercado. A serviço e não formas agudas ou para dar resposta à covid-19, que a plataforma Não ousa. Esta é mais subjectiva, uma
estrutura do SNS, desde os hospitais aos no mercado subagudas que levam de controlo clínico e epidemiológico herança familiar e social que atravessou três
centros de saúde, abriu-se e acolheu os o doente ao serviço funcionasse rapidamente, apesar de rodeada gerações. É quase epigenética.
suspeitos de covid-19, os infectados, os que de urgência (infartos de críticas diárias malevolentes e causadoras Portanto, na recuperação económica e para
tinham necessidade de ser monitorizados e acidentes de pânico. Pode perguntar-se qual o milagre o SNS, o que necessitamos é de planeamento
pelo telefone, os que deviam ser internados, vasculares cerebrais). humano que permite tudo isto com e de capacidade de decisão aos vários níveis,
os que precisavam de cuidados intensivos. A Pode pressupor-se, e vencimentos tão baixos. E sem carreiras. para que seja executado. E salvo.
demonstração de que esta necessidade não empiricamente Não se pode dizer o mesmo da
podia ter resposta no mercado é que nenhum sabemos, que muitos administração, no sentido lato, porque os Médica, professora da FMUL e membro
serviço privado abriu consultas ou destes doentes problemas pré-covid estão lá. O progressivo do grupo Estamos do Lado da Solução
10 • Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020
POLÍTICA
Ana Gomes é “populista”
ou “popular e combativa”?
O estilo de Ana Gomes é o suÄciente para a considerar uma candidata populista? Os investigadores e
politólogos ouvidos pelo PÚBLICO dizem que isso não chega e alertam para o perigo de se banalizar o termo
RUI GAUDÊNCIO
Presidenciais
Liliana Borges
Conhecida pelo seu “forte estilo com-
bativo” e tendo a luta contra a corrup-
ção como uma das suas principais
bandeiras, Ana Gomes tem sido refe-
rida por parte da opinião pública
como uma candidata populista. A
militante e ex-eurodeputada do PS
afasta as críticas, diz que quer ser “a
voz do socialismo democrático” e
recorda o seu passado enquanto
diplomata. “As pessoas confundem
popular com populismo”, disse ain-
da, numa entrevista à RTP.
No último domingo, o debate polí-
tico reacendeu-se, depois de ter usa-
do a expressão “múmia paralítica”
para se referir ao antigo Presidente
da República, Cavaco Silva. Ainda que
concordem que as escolhas estilísti-
cas dos candidatos “pouco contri-
buem para a qualidade do debate
político”, os investigadores ouvidos
pelo PÚBLICO dizem que é prematu-
ro considerar nesta altura que a can-
didata é populista, argumentando
que Ana Gomes não se apresenta
como anti-sistema, nem antidemo-
crática, nem tão-pouco diz ser “a
única salvação” ao dispor dos portu-
gueses. E, para a professora de Socio-
logia Política Paula do Espírito Santo,
até a referência à “múmia paralítica”
pode ser relativizada.
A expressão “múmia paralítica”,
recorda a docente do Instituto Supe-
rior de Ciências Sociais e Políticas, foi Ana Gomes justificou a candidatura com a necessidade de “uma Presidência diferente, sem medo de ir contra os interesses instalados”
popularizada num sketch humorísti-
co do programa brasileiro O Planeta ta cigana” usada por André Ventura “reforça a ideia de que os candidatos são “escolhas estilísticas que pouco
dos Homens numa sátira à censura
Para Paula do para se referir à sua adversária na populistas não pertencem à elite polí- contribuem para a qualidade do deba-
política que existia à data no Brasil. Espírito Santo, não corrida a Belém. “Ela podia ter cha- tica, dá uma imagem de coragem e te político”, o investigador considera
A personagem, interpretada pelo mado qualquer coisa, mas escolheu frontalidade e constitui o recurso a que “a frequência com que este tipo
humorista brasileiro Agildo Ribeiro,
se pode equiparar uma expressão com história, uma uma simplicidade de linguagem de linguagem é usado, isso sim, é que
era o professor Aquiles Arquelau, que a alcunha “múmia expressão de resistência e ataque ao enquanto pessoa comum”, o que pode constituir indicador de populis-
sempre que era interrompido pela período de censura. Nesse contexto, facilita a comunicação com os eleito- mo no estilo comunicacional”.
campainha do seu mordomo, que o
paralítica”, usada não a vejo como ofensiva. Em com- res que pretende representar, além
avisava de que estava a ser inconve- por Ana Gomes paração com outras expressões usa- de funcionar como um soundbite que “Está a ser fiel
niente, protestava, chamando-lhe das que são mais brejeiras , esta é garante visibilidade nos media e nas
“múmia paralítica”.
sobre Cavaco, à de uma expressão que tem o seu próprio redes sociais, sublinha José Santana
ao que sempre foi”
O sketch “era uma crítica ao poder “candidata enquadramento”, defende a investi- Pereira, investigador no Instituto de A mesma lógica pode ser aplicada à
instituído, à ditadura militar e à cen- gadora, lembrando que foi dita jus- Ciências Sociais (ICS) da Universida- luta contra a corrupção. “Só o tema
sura” daquela altura, contextualiza a
cigana”, usada por tamente num programa de humor. de de Lisboa e professor no ISCTE. da corrupção não deÆne um discur-
investigadora. Também por isso, Ventura sobre Ana Não obstante, é possível identiÆcar Ainda assim, o investigador subli- so populista. Há formas de as pes-
Paula do Espírito Santo não concorda um padrão de recurso a alcunhas por nha que não basta analisar uma soas apresentarem os temas. E é aí
que se possa equiparar a expressão
Gomes parte de populistas, para designar expressão para concluir se alguém é que depois se diz se determinado
usada por Ana Gomes à de “candida- adversários, uma vez que a estratégia ou não populista. Ainda que note que político é populista ou não”, concor-
Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • 11
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12 • Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020
POLÍTICA
POLÍTICA
RUI GAUDÊNCIO
As teses mantêm a
defesa da Partido vê a covid-19 a agravar
“libertação do país a crise do capitalismo
da submissão ao
euro e das
imposições e que as “grandes potências capitalistas
constrangimentos Luciano Alvarez europeias, com destaque para a Ale-
manha, procuram aÆrmar a UE como
da UE”, mas Face aos graves problemas que a covid- um bloco imperialista sob o seu domí-
-19 causou à sociedade e economia nio”.
desapareceu a mundiais, a doença não podia Æcar Segundo as teses a levar ao XXI con-
referência à fora das teses comunistas. Criou novos gresso do partido, no Ænal de Novem-
problemas e acentuou outros, mas bro, a pandemia expôs também uma
necessidade de terá tido, do ponto de vista do PCP, um evolução da UE “marcada por crescen-
“estudar e lado positivo: contribuiu para a crise tes desigualdades e assimetrias de
do capitalismo. desenvolvimento económico, por uma
preparar” a saída Logo no primeiro capítulo, dedica- acelerada concentração e centraliza-
do euro do à avaliação da situação internacio- ção de capital e pela imposição do
nal, os comunistas dizem ter-se veriÆ# aumento da exploração e retrocesso
cado nos últimos quatro anos um social”. “A ‘resposta’ às consequências
A renegociação da “aprofundamento da crise estrutural da pandemia da covid-19 conÆrma que
dívida ou o do capitalismo”.
E é aqui que a pandemia é referida
nem a UE é um espaço de cooperação
e solidariedade, nem o euro se revela
controlo público pela primeira vez: “O impacto da pan- como ‘escudo protector’”, acrescen-
de sectores demia da covid-19 veio acentuar as
tendências que têm caracterizado a
tam.
Já a nível nacional, a covid-19, do
estratégicos evolução da situação internacional e ponto de vista do PCP, também causou
continuam expor com uma ainda maior acutilân-
cia as profundas contradições do
estragos. Desde logo, com a pandemia
a deixar “ainda mais visível” a “degra-
presentes no texto capitalismo e a crise estrutural com dação e subversão do regime demo-
que este se debate”. Dizem ainda que crático plasmado na Constituição”,
a doença “veio acelerar” a “persistên- bem como os “elevados graus de cor-
O PCP aponta uma cia e acentuação dos factores que rupção e de assalto aos bens públicos,
colagem do PS ao estiveram na base da crise desenca- em que avulta a promiscuidade entre
deada em 2007/2008”. E isso, acres- os sectores público e privado”.
PSD e CDS e o centam, Æcará ainda mais claro com Esta maior visibilidade foi ainda
carácter a “inevitabilidade de um novo e ainda mais acentuada “pela operação ideo-
mais grave pico de crise”. lógica que o grande capital desenca-
“social- Para o PCP, a pandemia também deou visando arrasar salários e direi-
democratizante” teve efeitos na União Europeia (UE), já tos, transformando as relações labo-
rais numa autêntica lei da selva”.
ao BE (e ao Livre), Por outro lado, acrescentam as teses
que acusa de comunistas, a doença “só veio revelar
e tornar mais nítidos os problemas e
“preconceito” estrangulamentos, déÆces e depen-
contra o PCP dências estruturais da economia por-
cem mil votos e dez câmaras de peso, “social-democratizante” ao BE (e ao tuguesa”.
como Almada, Beja e Barreiro — o Livre) e ao “preconceito” que nutre Por Æm, o PCP lembra que, “apesar
que, vincam, “constitui sobretudo contra o PCP. Da Iniciativa Liberal e Da IL e do Chega, o de todas as insuÆciências identiÆca-
uma perda para as populações”. Que do Chega, os comunistas dizem ser das”, foi o Serviço Nacional de Saúde
é praticamente a mesma avaliação “associados aos centros mais reaccio-
PCP diz que estão (SNS) “que assegurou a resposta à epi-
feita, sumariamente, na referência à nários do capital e intervêm para “associados aos demia da covid-19”. Por isso, acentua
redução da votação e de deputados projectar valores e concepções anti- que o combate ao vírus SARS-CoV-2
nas legislativas do ano passado. E democráticas e intensiÆcar a ofensiva centros mais “conÆrmou que só a existência de um
também passam ao lado do que real- ideológica dirigida contra os trabalha- reaccionários do serviço público, com as características
mente representaram as europeias de dores e o povo” — para além de criti- e natureza do SNS, pode garantir o
2019 — em que perderam um eurode- car o “discurso demagógico de exa- capital e alerta acesso de todos aos cuidados de saú-
putado. cerbação de temas” do Chega e a sua para a“dinâmica de, independentemente das suas con-
Na apreciação habitual aos outros “dinâmica fascizante”. dições sociais e económicas”.
partidos, mantém-se a colagem do PS fascizante” do
ao PSD e CDS, as críticas ao carácter maria.lopes@publico.pt Chega PCP destaca papel do SNS lalvarez@publico.pt
14 • Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020
POLÍTICA
POLÍTICA
Os óculos amarelos
O peso político e a
de Inês de Medeiros
capacidade de liderança
não se inventam
“Almada tem este privilégio de Pires de Lima
ter bairros sociais com espaços Ex-ministro do PSD/CDS
absolutamente maravilhosos,
com uma vista invejável.
Qualquer bairro social da
As actividades de
margem Norte tem inveja. Eu espionagem no nosso
própria, amanhã, ia viver para o
Bairro Amarelo.” A declaração
país incrementaram
Almirante Silva Ribeiro
de Inês de Medeiros, presidente Chefe de Estado maior-general
da Câmara de Almada, das Forças Armadas
valeu-lhe uma semana de
críticas. A autarca que em
tempos prometeu ir trabalhar Portugal tem um dos
de cacilheiro ainda veio dizer
que a ideia tinha sido
regimes democráticos
descontextualizada, mas o mal mais avançados da
estava feito, ou dito. A vista é
invejável, mas chegará para A piada é fraquinha, mas é da covid-19. Quem acusar 38º ou Núncio. Ferro Rodrigues, e 70%
Europa
João Ferreira
suportar a visão romantizada de impossível deixar de dizer que mais não pode entrar. Os do hemiciclo, vai pensar em
Candidato presidencial do PCP
Medeiros sobre a vida nos agora é que o debate político não frequentadores da casa já prados e arco-íris quando Ventura
bairros sociais da margem Sul? volta a aquecer. O PÚBLICO magicam estratégias para falar. Costa vai pensar que já não
avançou ontem que, a partir de estarem sempre cool. Quando for há Cristas na bancada do CDS. E o Quem garantiu que o
Memória do PCP Outubro, a Assembleia da
República (AR) vai medir a
à AR, Eduardo Cabrita vai
obrigar-se a pensar que não terá
deputado Ascenso Simões vai
ligar o ar condicionado no Novo Banco estava limpo
ao nível da do PSD temperatura a quem quiser de partilhar microfones, máximo quando for estacionar o deve prestar contas ao
Parece que os deputados do
entrar nas instalações, por causa inflamáveis ou não, com Paulo carro.
país
PSD e do PCP sofrem do Mariana Mortágua
mesmo mal: não sabem bem a O CONSELHO SIGA O MISTER ATARA E A MANIA? Deputada do Bloco
quantas andam. Depois de em
Novembro nenhum
social-democrata se ter
Depois de influencers a ensinar
os portugueses a lavar as mãos e
distanciamento físico
adequado; e usar a app Stay
O PAN quer que o Orçamento do
Estado para 2021 inclua a criação
Viver com 635 euros é
lembrado que a conferência de de António Costa ter partilhado Away Covid. Esta semana, o de uma tara para as máscaras pouco, mas viver com
líderes marcara a votação final
do OE 2020 para a data do
“as cinco regras” para travar o
crescimento da pandemia, o
executivo insistiu na “nova
contratação” e recorreu à ajuda
descartáveis para combater o
“novo flagelo ambiental” causado
400, 500 ou estar no
arranque do congresso, agora Governo volta ao ataque para da página da Selecção Nacional pelo uso destas protecções desemprego é pior
os deputados do PCP não fintar o vírus. para apelar aos portugueses a individuais. A proposta é que as Rui Rio
repararam que a data proposta Na semana passada, com o instalar a aplicação. Na imagem máscaras tenham um custo Líder do PSD
para votar o OE 2021 coincide país quase a chegar aos mil surgem quatro treinadores. As acrescido de 0,10 a 0,20 euros,
com o seu congresso. O mundo novos casos por dia, o modalidad são diferentes,
modalidades que possa ser devolvido ao
está mesmo do avesso quando primeiro-ministro mas todo
todos eles aconselham utilizador mediante a entrega das
já nem no sentido de orientação ueses,
tranquilizou os portugueses, à mesma táctica. máscaras usadas em destinos
e organização do PCP podemos dizendo que bastava seguir A nova ““estrela” de para o efeito. Seria prudente que
confiar. Está na hora de os os:
os seus cinco conselhos: Portuga joga “à defesa”
Portugal a proposta incluísse também a
comunistas se renderem ao usar a máscara sempre e e, ne
neste jogo sem devolução de luvas para evitar o
vício capitalista dos que possível; lavar as v
vacinas, o melhor contágio de quem andar à caça
comprimidos. De Memofante. mãos; tossir para o ataque é a destes “tesouros” espalhados
cotovelo; manter o protecção. pela rua…
16 • Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020
SOCIEDADE
Brigadas dos lares: ninguém diz
quantas contratações existem
A responsável da Cruz Vermelha diz não
ter informações sobre a contratação das
400 pessoas que vão integrar as equipas
que deveriam estar no terreno no dia 1.
“Não haverá atrasos”, assegura
“as brigadas estão a ser constituídas
Lares e em processo de recrutamento pela
Ana Dias Cordeiro Cruz Vermelha, de forma a estarem
operacionais no Æm de Setembro”.
Quando discursou na cerimónia de Estas equipas são designadas por
assinatura do protocolo entre o Ins- brigadas distritais de resposta rápi-
tituto da Segurança Social (ISS) e a da (para contenção e estabilização
Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) de surtos em lares). Serão 18, uma
com vista à criação das brigadas de para cada distrito do continente e
apoio rápido aos lares, a 4 de Setem- terão no total cerca de 400 proÆs-
bro, a ministra Ana Mendes Godi- sionais: 250 ajudantes de acção
nho anunciou que estas equipas directa, 25 auxiliares de serviços
prontas a intervir nos lares numa gerais, 85 enfermeiros, 20 médicos
situação de emergência estariam e 20 psicólogos, a título meramente
em funcionamento até ao Æm deste indicativo. “Poderão ser mais”, diz
mês. “Garantir que não chegamos Joana Picão. “Vamos responder à
tarde onde temos de chegar cedo”, medida das necessidades que forem
disse nesse dia o presidente do Ins- surgindo. Nunca vivemos um Outo-
tituto da Segurança Social (ISS), Rui no em situação de pandemia. Essas
Fiolhais. necessidades são todas muito incer-
É no cumprimento dessa meta do tas.”
Æm do mês que a CVP diz estar
empenhada. A entidade Æcou res- Médicos tarefeiros
ponsável pela formação das equipas As brigadas são constituídas para
e dos proÆssionais a recrutar. A reforçar as equipas em lares mais
coordenadora deste projecto, Joana necessitados ou para garantir uma
Picão, assegura que as equipas esta- assistência imediata em lares com
rão a funcionar nos 18 distritos até pessoas infectadas, através de uma
ao Ænal de Setembro. Mas não pode rápida mobilização de proÆssionais Responsáveis dos lares aguardam que as equipas multidisciplinares cheguem ao terreno
adiantar quantas pessoas foram prontos a substituir quem esteja
contratadas até ao momento. “Não doente ou a cumprir isolamento pro- O gabinete da George desmentiu ainda diÆculda- esse prazo pode ser revisto em fun-
tenho essa informação.” Æláctico. Os lares mais necessitados, des em contratar enfermeiros, ção da evolução da pandemia e das
O gabinete da ministra também onde as equipas estarão de prevenção ministra da garantindo que “foram apresenta- necessidades.
não esclarece quantas equipas já e eventualmente a dar formação aos Segurança Social das candidaturas de muitas dezenas A constituição destas brigadas foi
foram formadas e quantos proÆssio- proÆssionais no local, já foram sinali- de enfermeiros que estão em fase anunciada depois da entrevista da
nais contratados. Não dá essa res- zados pela Segurança Social. São não respondeu, de selecção”. ministra da Segurança Social ao
posta, justiÆca, porque “a operacio- algumas estruturas em cada um dos remetendo tudo Os centros de empregos locais Expresso de 15 de Agosto, que lhe
nalização das brigadas é feita pela distritos. Mas também aqui a CVP não estão em contacto com as delega- valeu críticas de insensibilidade por
Cruz Vermelha e pelo ISS”. É a estas adianta quais, por ser um levanta- para a Cruz ções da CVP para recrutar os aju- avaliar o impacto da covid-19 nos
entidades que as perguntas “devem mento feito pela Segurança Social. Vermelha dantes de acção directa e os auxilia- lares em relação aos números de
ser remetidas”, clariÆca. Mas sendo Não havendo médicos para con- res de serviços gerais. Enfermeiros infectados em todo o país. “Tivemos
a ministra da tutela e quem anun- tratar, a CVP irá recorrer “a médicos e para o ISS e psicólogos estão igualmente a ser 365 surtos [em Abril] e temos 69 ago-
ciou o projecto, o seu gabinete des- que trabalham para empresas espe- referenciados pela Ordem dos ra [em lares]. Claramente, temos
conhece quantos proÆssionais e de cializadas na prestação de cuidados careçam de cuidados médicos”. Enfermeiros e pela Ordem dos Psi- menos incidência. Temos 3% do total
que áreas foram contratados para médicos”, disse ontem numa entre- O modelo não corresponde àqui- cólogos Portugueses. A CVP tam- dos lares e temos 0,5% das pessoas
uma situação de emergência? “Não vista à Rádio Renascença (RR) o pre- lo que preconiza a Ordem dos Médi- bém dispõe de uma rede interna de internadas em lares que estão afec-
há mais nada a acrescentar”, res- sidente da CVP, Francisco George, cos para uma efectiva resposta a psicólogos à qual poderá recorrer, tadas pela doença. A dimensão dos
pondeu o gabinete. acrescentando não estar “nada preo- situações delicadas nos lares: a esclareceu Joana Picão. surtos não é demasiado grande em
Do orçamento da Segurança cupado com a entrada em funciona- constituição de equipas multidisci- Sobre a contratação de enfermei- termos de proporção. Mas, claro, isto
Social, estão previstos três milhões mento destas brigadas”. Mais expli- plinares, que garantam a presença ros, a responsável disse que “em não signiÆca que não devamos estar
de euros para a constituição destas cou: “No caso de serem chamados, de médicos diferenciados de três algumas regiões do país é mais difí- preocupados”, disse na altura.
equipas até ao Ænal do primeiro tri- comparecem para apoiarem as ini- áreas distintas — saúde pública, cil contratar do que noutras”. “O Depois da morte de dezenas de
mestre de 2021, informou o gabine- ciativas que possam eventualmente covid-19 e emergência. contrato termina a 31 de Dezembro idosos em surtos nestas residências e
te de imprensa do ISS. Referiu que decorrer neste ou naquele lar e que Na mesma entrevista, Francisco de 2020” para todos os casos, mas da rápida proliferação do vírus, com
Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • 17
A capacidade dee
gestão de
do
internamento [do
SNS] é Åexível
Marta Temido
Ministra da Saúde
DANIEL ROCHA
SOCIEDADE
SOCIEDADE
ACESSO AO ENSINO SUPERIOR
SOCIEDADE
Corrupção
Ana Henriques
É uma punição vista como inédita:
um general e várias outras altas paten-
tes foram ontem condenados a cadeia
efectiva por envolvimento num
esquema de corrupção existente há
décadas nas messes da Força Aérea
Portuguesa.
Em conluio com os fornecedores
de géneros das cantinas, envolve-
ram-se num esquema de sobrefactu-
ração de bens alimentares e maté-
rias-primas, que chegavam às bases
aéreas em quantidades muito infe-
riores às que eram pagas pela Força
Aérea. O lucro resultante desta prá-
tica criminosa era depois dividido
com os empresários que forneciam
as bases. Os militares eram pagos em
dinheiro colocado em envelopes,
recebendo consoante a patente. Ao
general, por exemplo, seriam pagos
1500 euros mensais.
Os juízes concluíram que o Estado
foi lesado em 1,755 milhões de euros
entre 2011 e 2016, período a que se
cingiu a investigação. No processo,
que Æcou conhecido como Operação
Zeus, foram sentenciados pelo Tribu-
nal de Sintra 14 empresários e um
total de 23 homens de praticamente
todas as bases aéreas do país. Além
das altas patentes, também participa- General Milhais de Carvalho foi condenado a seis anos de prisão efectiva. Força Aérea não esclarece se poderá vir a ser expulso
vam no esquema vários sargentos.
Ao contrário do general, que já se lecimentos de ensino. Na Força Aérea, Era tudo feito um pouco leviana- de Carvalho como o tenente-coro- sublinha ser particularmente grave
encontra na reserva, vários dos mili- disse o Tribunal de Sintra, tinham mente”, concluíram os juízes. nel Alcides Fernandes e o coronel terem violado os seus deveres de leal-
tares continuam ao serviço. Contac- quase o monopólio de abastecimento Fundamental para descobrir o que Jorge Lima mostraram hostilidade dade, honestidade e zelo. Embora o
tado pelo PÚBLICO, o porta-voz deste das messes. se estava a passar foi a actuação de um e até soberba para com os colegas tenham feito na maioria das vezes a
ramo das Forças Armadas não soube Por estranho que pareça, tanto tenente que funcionou como agente arrependidos, numa tentativa de os troco de dinheiro, num ou noutro
dizer se assim continuarão. Apesar de este ramo das Forças Armadas como inÆltrado na base de Monte Real. Ao amesquinhar. Nunca terem admiti- caso acabaram por ser pagos em
muitos deles terem Æcado, por deci- outras entidades militares continua- longo de mais de um ano, recebeu do os crimes cometidos valeu-lhes géneros alimentares. “Mercadejaram
são dos juízes, inibidos de prestar ram, já depois de o esquema de cor- envelopes com dinheiro dos fornece- penas efectivas entre cinco anos e os cargos que ocupavam em função
funções públicas durante alguns rupção ter sido exposto publica- dores — mais de 40 mil euros —, que meio e seis anos de prisão. dos seus interesses económicos, com
anos, um eventual recurso judicial da mente, a assinar contratos com as fotografou, e gravou conversas com- Mas não foram os únicos a não manifesto prejuízo para o erário
sua parte pode vir a adiar ou mesmo Ærmas em causa. Não só através de prometedoras. “Se não fosse a sua demonstrar arrependimento: o público”, refere a sentença, recordan-
a revogar essa punição acessória. concursos públicos — dos quais não actuação, se calhar este processo não mesmo sucedeu com um dos forne- do que muitos deles tinham recebido
Numa decisão igualmente pouco as podiam afastar antes de serem tinha sido julgado”, observou a magis- cedores, Paulo Lobato da Silva, louvores e condecorações pelo seu
habitual, os magistrados resolveram deÆnitivamente condenadas em trada que presidiu aos trabalhos. dono da Pac e Bom e da Chavibom, desempenho.
proibir três das empresas que conde- tribunal —, mas também de outros que justiÆcou estas práticas por já A Força Aérea também não explica
naram de fornecer o Estado durante procedimentos, como ajustes direc- Hostilidade e soberba virem do tempo do seu pai. Foram- o que poderá acontecer agora a nível
quatro anos. Em causa estão a Doce tos e consultas prévias. Ainda em Houve militares que acabaram por -lhe aplicados quatro anos de pri- disciplinar a Milhais de Carvalho e
Cabaz, a Pac e Bom e a Chavibom. As Maio passado, a Força Aérea com- confessar tudo e que viram estas são, também sem direito a pena restantes colegas condenados, e se a
duas últimas, às quais foram ainda prou 6500 euros de géneros alimen- denúncias agora recompensadas suspensa. Além de corrupção activa expulsão deste ramo das Forças
aplicadas pesadas multas, têm entre tares à Pac e Bom sem concurso com penas suspensas. Mas não foi o agravada, foi condenado por falsiÆ# Armadas é um cenário possível.
os seus clientes forças de segurança, público. “Não havia qualquer con- caso das altas patentes: nas palavras cação de documentos.
como a PSP e a GNR, e vários estabe- trolo dos fornecedores das bases. dos juízes, tanto o general Milhais Quanto aos militares, a sentença ana.henriques@publico.pt
Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • 21
SOCIEDADE
LOCAL
DGPC acusada de mandar
destruir vestígios islâmicos na sé
Sindicato, arqueólogos e proÄssionais do meio denunciam intenção do organismo do património. Este
responde que apenas “no estritamente necessário” foram “desmontadas algumas estruturas arqueológicas”
MIGUEL MANSO
ra desta mesquita e Ænalmente apa-
Lisboa recem elementos fundamentais.
João Pedro Pincha Obviamente que o projecto tem de
ser modiÆcado. Este é um aconteci-
Novos e relevantes vestígios da antiga mento destacado para a nossa Histó-
mesquita principal de Lisboa foram ria e para a nossa arqueologia.”
encontrados nos claustros da sé, e a Na sua resposta ao PÚBLICO, a
Direcção-Geral do Património Cultu- DGPC garante que, ao longo de uma
ral (DGPC) deu ordem para que estes empreitada que já leva dois anos e
fossem desmontados por interferirem meio, apenas “no estritamente neces-
com o projecto arquitectónico em sário” foram já “desmontadas algu-
curso, que visa a musealização e valo- mas estruturas arqueológicas”,
rização das ruínas arqueológicas. optando-se nesses casos pela “con-
A situação foi denunciada pelo Sin- servação pelo registo cientíÆco”. Ou
dicato dos Trabalhadores em Arqueo- seja, através de um “rigoroso registo
logia (STARQ) e deu origem a uma descritivo, gráÆco e fotográÆco”.
petição pública online que em poucas
horas recolheu mais de 750 assinatu- “Comprar uma guerra”
ras, levando a Associação dos Arqueó- A denúncia do STARQ está a originar
logos Portugueses (AAP) a pedir expli- várias reacções. José Arnaud, presi-
cações e a uma mobilização rara entre dente da Associação dos Arqueólogos
arqueólogos e historiadores. Portugueses (AAP), informa que
A DGPC responde que apenas será enviou na quinta-feira “um apelo ao
desmontado “um pequeno troço” e sr. director-geral do Património Cul-
que é necessário fazê-lo por motivos tural para que se faça uma revisão do
de segurança. projecto que preveja a conservação
Nos últimos meses, foram identiÆ# integral de todas as estruturas rela-
cados nove compartimentos que se cionadas com a antiga mesquita”.
julga terem feito parte da principal Durante as obras na sé, têm sido feitas várias descobertas arqueológicas “Tudo o que ali se conseguir recu-
mesquita de Lisboa durante o perío- perar é precioso. Isto não é um capri-
do medieval, bem como o piso infe- “VeriÆcou-se que a sua preservação por baixo dos claustros, mas só em cho de arqueólogos, é algo que ultra-
rior e escadas do minarete dessa
“Não passa pela in situ não é compatível com a execu- 2018, com o projecto de musealização passa largamente o âmbito arqueoló-
mesquita. Trata-se, segundo informa- cabeça de ninguém ção da obra em curso, colocando em já em curso, é que começaram a apa- gico. Se a DGPC não tomar as atitudes
ções recolhidas pelo PÚBLICO, de risco a estabilidade estrutural de par- recer sinais mais robustos. adequadas, vai comprar aqui uma
estruturas bem conservadas, ainda
não o conservar. te substancial da ala sul do claustro Desde então, o projecto arquitec- guerra”, avisa Arnaud. “A AAP não
com paredes altas, arcos, janelas e Uma mesquita sob da sé patriarcal (Monumento Nacio- tónico foi alterado para se adaptar às deixará de fazer tudo o que for possí-
portas, que permitem identiÆcar dife- nal), e pondo em causa a própria estruturas descobertas, mas os vestí- vel para evitar que desta situação
rentes espaços do complexo da antiga
a sé patriarcal da implementação do projecto reformu- gios não pararam de surgir. De acordo resulte destruição de património.”
mesquita. É uma descoberta inédita capital de um país lado e o investimento associado”, com Jacinta Bugalhão, arqueóloga da Filomena Barros, especialista em
em Portugal, sublinham ao PÚBLICO esclarece aquela direcção-geral. DGPC com vasto trabalho sobre o História Medieval da Universidade de
vários especialistas.
é algo “Os trabalhos arqueológicos no Portugal islâmico, os compartimentos Évora, tece também duras críticas à
De acordo com a denúncia do extraordinário”, local têm decorrido na conjugação de agora encontrados “são espectacula- tutela e diz que estes achados consti-
STARQ, vertida na petição pública, a esforços, permitindo a minimização res, são bonitos, são antigos e têm um tuem “património único no contexto
DGPC autorizou a destruição de sete
sublinha Jacinta dos impactes sobre o património grande potencial de leitura, quer para português”, uma vez que “vestígios
dos nove compartimentos para não Bugalhão arqueológico subjacente e os elemen- a comunidade cientíÆca, quer para de mesquitas do século XII não temos
ter de pedir uma nova alteração ao tos estruturais do imóvel classiÆcado, um público mais leigo”. absolutamente nenhum”. Tratando-
projecto do núcleo museológico. evitando o seu colapso, não obstante “É indigno, é imoral, é inadmissível -se de uma “zona perfeitamente mar-
Desenhado pelo arquitecto Adalberto a implementação de fortes e aperta- que a DGPC, que tem como única mis- ginal” no vasto território dominado
Dias, o projecto já foi revisto uma vez certas decisões não podem ser toma- das medidas de estabilização e sus- são a defesa do património cultural, pelos árabes, sobre Lisboa há “pouca
para acomodar vestígios arqueológi- das e, sobretudo, devia haver mais tentação dos mesmos”, acrescenta. esteja a autorizar a destruição deste documentação” desta época, explica
cos encontrados há dois anos. transparência no processo de decisão património”, critica Jacinta Bugalhão. a docente, “daí a importância de ves-
“Este património não pode ser des- da DGPC”, diz o dirigente sindical. Inédito em Portugal “Não passa pela cabeça de ninguém tígios arqueológicos”.
montado de maneira alguma, o pro- Em resposta ao PÚBLICO, a DGPC Há muitos anos que se desconÆa que não o conservar. Uma mesquita sob a “É extremamente desolador saber-
jecto tem de ser alterado para o conÆrma que vão ser desmontadas a principal mesquita da Lisboa muçul- sé patriarcal da capital de um país é mos que um conjunto único como
incluir”, aÆrma Regis Barbosa, presi- estruturas arqueológicas, mas diz que mana tivesse existido no local onde algo extraordinário”, sublinha. este vai ser destruído quando viu a luz
dente do STARQ, que na terça-feira “correspondem a um pequeno troço se erigiu a sé, depois da chegada das “Nós não temos nada parecido em por tão pouco tempo”, opina Filome-
pediu esclarecimentos à DGPC. de parede à qual se encontra adossa- tropas de D. Afonso Henriques, em Portugal”, resume Cláudio Torres, na Barros.
“Temos plena consciência de que é do um banco construído em alvenaria 1147. Duas décadas de escavações especialista na presença islâmica no
um projecto muito complexo, mas de tijolo com dois pequenos arcos”. foram revelando vestígios islâmicos país. “Andámos muitos anos à procu- joao.pincha@publico.pt
Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • 23
LOCAL
ECONOMIA
“Eu tive muita sorte. É o momento
de começar a partilhar”
José Neves O fundador da Farfetch diz estar preocupado
com o país neste momento de crise e aÄrma que é preciso
transformá-lo numa “sociedade do conhecimento”. E defende
que gestores em Portugal devem fazer “formação contínua”
lançar uma fundação é lançar período de tempo, transformarmos
Entrevista programas que ajudem pessoas. A o modelo de desenvolvimento
Victor Ferreira fundação já existe há algum tempo, económico que temos no modelo
estamos a trabalhar nestes dois de desenvolvimento económico de
Dois anos depois de ver a empresa programas há um ano e os que que necessitamos. O mais urgente é,
estrear-se na Bolsa de Nova vamos lançar são muito ligados à por isso, focar na educação e focar
Iorque, José Neves está onde não educação, à empregabilidade, às nas competências necessárias para
tem passado muito tempo: em competências. a economia digital e é nisso que eu
Portugal. José Neves diz que não é Fez uma análise ao país e posso dar o meu contributo, porque
o mesmo gestor que era há dez concluiu que ainda precisamos é dessa área que venho.
anos. O discurso foge da política de trabalhar nesta área? Então o risco é o de mais pessoas
(ou do debate sobre governos), o Eu penso que sim, sem dúvida. ficarem para trás nessa
que não acontece quando fala de Portugal não está isolado. Todos os transformação e são essas
educação, de aprendizagem. países têm de trabalhar nessa área. pessoas que quer ajudar?
Nesse campo, toma as rédeas. A Estamos a viver uma revolução Exactamente. Temos em Portugal
Fundação José Neves (criada com digital, que é muito mais um potencial enorme, o nosso
Carlos Oliveira e António Murta) transformadora, e de uma forma maior potencial é o potencial
começará por apoiar estudos de mais rápida, do que a Revolução humano, o potencial dos
1500 portugueses, jovens ou não, Industrial. Olhemos para o S&P portugueses. Eles são
ricos ou pobres, porque isso 500, o índice das 500 maiores empreendedores, são talentosos,
contribui para melhorar o empresas americanas: 25% do S&P são Çexíveis, aprendem rápido. Não
desenvolvimento humano — algo 500 são empresas tecnológicas. As é só o caso da Farfetch, mas de
de que o país necessita, aÆrma. únicas empresas prestes a tantas outras, como a Outsystems, a
Neves prometeu doar dois terços atingirem, ou que já atingiram, os Feedzai, a Talkdesk e outras
da fortuna para ajudar nessa dois biliões (trillions, em inglês) de empresas digitais, criadas em
tarefa. dólares de valorização são Portugal para o mundo, portanto
Porque decidiu dedicar-se a tecnológicas. Portanto, vivemos com validação internacional, o que
apoiar a educação? numa sociedade em que esta prova que têm realmente
A missão da fundação é mais economia digital vai transformar capacidades. Os portugueses têm
abrangente, é a de ajudar a tornar completamente o mundo em que potencial humano, precisam é de
Portugal uma sociedade do vivemos. Na Revolução Industrial, mais ajuda. E nós temos uma
conhecimento. E o Æm último é o isso foi doloroso. Mas houve um contribuição humilde, pequena,
desenvolvimento humano, ajudar a tempo de ajuste das sociedades e inicial, estamos a dar os primeiros
elevar o desenvolvimento humano era mais fácil transformar o passos. Isto é uma fundação revolução incrível no e-learning. Há piloto, vamos pensar também em
em Portugal. Quando olhamos para trabalhador do sector primário num geracional, é para criar impacto empresas como a Coursera, onde os instituições internacionais. Vai ser,
países como a Suécia, por exemplo, trabalhador do sector secundário. É daqui a cinco anos, daqui a 20, para cursos são dados pelas com certeza, o próximo passo, mas
com uma população semelhante, muito mais complexo, num curto gerações vindouras. superestrelas de Stanford, de Yale vamos começar por nós próprios.
sem recursos naturais e periféricos, Todos temos de ajudar, a começar ou de Cambridge. Podemos Vamos começar por apontar o
vemos que conseguiram grandes por nós individualmente. Temos de imaginar que em 1974, quando indicador para nós, temos de ter
níveis de desenvolvimento humano, pensar nas nossas competências, na nasci, era completamente uma mentalidade de formação
através de uma sociedade que se nossa formação contínua. Não basta impensável um português ir contínua. Depois vamos pensar
voltou para o conhecimento. É uma tirar um curso superior ou uma aprender para Stanford. Mas essas nisso também dentro das empresas,
ideia muito poderosa. pós-graduação e parar aí. Temos de ferramentas estão agora ao nosso que podem fazer imensas coisas na
Evidentemente que estamos a dar pensar em como podemos avançar dispor. Não são baratas e daí a nossa formação contínua. E depois as
passos iniciais e que estes são sem Um engenheiro nas nossas competências. As acção na fundação para permitir, fundações e as instituições não
dúvida muito focados na educação,
que é uma componente muito
informático empresas têm de pensar nisso e as
instituições não governamentais
independentemente da situação
económica e até laboral, que mais
governamentais. Eu não vou tocar
no governo, porque eu não me
importante no conhecimento. desempregado também. portugueses façam essas meto em política e, portanto, acho
Também muito importante para
nós — e, quando digo nós, reÆro-me
durante três anos, Colectivamente, temos feito o
suficiente para evitar que tanta
pós-graduações e adquiram essas
competências. Para ser claro,
que o governo faz aquilo que sabe e
que pode…
ainda ao Carlos Oliveira e ao e que não faça gente fique para trás? começamos apenas com Mas não acha que os
António Murta, os três
co-fundadores da fundação — é que
nada, Äca Todos nós temos de fazer mais.
Temos de começar por nós
instituições portuguesas, temos 22
universidades e politécnicos e mais
empresários como o José
também têm de ser políticos?
somos empresários e somos ultrapassado próprios. Felizmente há muitos de 100 cursos que estão aprovados. Acho que sim. Acho que até é uma
pessoas de acção. Nesse sentido, recursos online. Passamos por uma No futuro, e logo a seguir a este boa política empresarial. As
Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • 25
NELSON GARRIDO
as licenciaturas e por que disponíveis serão muitos mais, mesmo que sejam os proprietários
deixaram de fora as letras? daqui a dois anos, e muito das empresas. Ser proprietário e
Os 100 cursos não são só virados diferentes, porque isto não é gestor é ter uma função muito
para o digital. Temos os MBA, estático. Vai ser constantemente concreta, ser líder. É preciso
portanto estamos a falar de adaptado. competências de liderança, de
administração e negócios, e temos Porque é que as licenciaturas inteligência emocional, de gestão da
outros cursos não ligados ao digital. ficaram de fora? mudança, de gestão da crise. Tudo
Mas depois entra aqui o nosso foco, É uma opção. Isto é um piloto, o isso são áreas em que os gestores
que está relacionado com a Brighter nosso investimento é de cinco têm de evoluir, como qualquer
Future, a base de dados que milhões de euros. São pelo menos outra proÆssão.
lançámos agora, em colaboração 1500 estudantes, Os dados mostram que muitas
com a Universidade do Minho, o independentemente de já terem empresas criaram nome e
Instituto Nacional de Estatística, o emprego ou não, ou da idade, ou da ganharam espaço no saber-fazer,
IEFP, o LinkedIn e muitos outros condição Ænanceira. Vamos apoiar mas que ainda há um
parceiros: o que nós queremos é 1500 portugueses e vamos medir o desfasamento muito grande
que as pessoas invistam na impacto desta medida. Isso vai entre esse saber-fazer e o
formação delas, em que nós vamos dar-nos informações muito claras saber-gerir.
pagar a propina, mas que seja um sobre quanto mais investir e em que Sem dúvida, concordo totalmente.
investimento dessas pessoas, em áreas. Por exemplo, a expansão O que é preciso fazer?
tempo, energia e talento, em áreas para pós-graduações internacionais Essencialmente, precisamos dessa
com alta probabilidade de é algo que queremos fazer. No formação contínua. E também de
empregabilidade e de subida do futuro, porque não também intercâmbio.
patamar salarial, porque é isso que licenciaturas? Evidentemente, estas A filantropia e a criação de
todos queremos. Portanto, não se têm mais apoios, temos felizmente fundações não é só uma questão
trata de opiniões ou preferências, um sistema de ensino com muitas de liquidez. Muitas vezes surge
mas daquilo que os dados mostram, universidades públicas em que há o na carreira de gestores quando
em concreto, sobre o que é que o apoio do Estado. Existem outros sentem que profissionalmente
mercado de trabalho precisa, no mecanismos de bolsas para atingiram os objectivos que
curto, médio e longo prazo. licenciaturas. Entendemos que a tinham. Sente que completou o
Mas isso não vai criar uma nossa fundação deve complementar seu ciclo?
bolha? Se o mercado disser que o que existe. Para já, sinto que não completei
não precisamos de pessoas que O facto de ter incluído os MBA e nada e está tudo em aberto. Ainda
falem línguas, não vamos as pós-graduações significa que falta fazer muito, mas eu penso que
formá-las… está ciente da qualidade da é um ímpeto. Só consigo explicar
Não. Vou dar o exemplo da Farfetch, gestão em Portugal? assim. É um ímpeto de alma,
que tem 5000 colaboradores. Cerca Sim, penso que isto não é só em quando sentimos que queremos
de 1500 são tecnológicos. Estamos a Portugal. Quando se fala em fazer algo, alguma coisa nos diz que
falar de 30%. Os restantes 70% formação contínua, e adquirir aquilo é algo que temos de fazer.
fazem, por exemplo, editorial, competências, somos todos nós. Que temos o dever — às vezes vem
criação de vídeos, fazem marketing Começo por mim próprio. Eu não com uma carga moral associada,
ou vendas. Um psicólogo pode dar sou hoje o mesmo gestor que era há mas isto não é uma carga moral —,
um excelente contributo no dez anos, até porque a empresa que temos o dever de fazer, porque
empresas existem para dar lucro. As pandemia, vem acelerar algo que domínio da usabilidade de software mudou completamente. E posso ser é o que tem de ser feito (risos).
fundações não. E vale a pena iria acontecer inevitavelmente. O — como é que as pessoas utilizam um gestor competente hoje e não o Portanto, é um ímpeto de alma e
investir nas pessoas. A modelo de desenvolvimento software, como reagem. Temos ser daqui a dez anos. É nesse um gesto de gratidão. Eu tive muita
obsolescência nas competências económico teria de ser alterado. colaboradores na Farfetch que sentido que os nossos gestores têm sorte. E aprendi muito. Ainda
digitais é de 30% ao ano. SigniÆca Infelizmente, com esta pandemia, tiraram História da Literatura e de pensar em formação contínua, continuo a aprender, mas é o
que um engenheiro informático que tudo se está a acelerar e isso é neste momento são marketeers. Não momento de começar a partilhar,
esteja desempregado durante três preocupante, porque estamos a há problema em tirarem uma porque a vida é muito melhor
anos, e que não faça nada, Æca falar de questões muito sérias, de panóplia de licenciaturas, porque quando o enriquecimento também
ultrapassado. Dentro de uma desemprego, de diÆculdades isso continuará a ser necessário. O é humano. Essa é a verdadeira fonte
empresa isso também acontece. económicas e mesmo de questões que é essencial é que, da felicidade; o enriquecimento
Portanto, sim, as empresas também de saúde mental e mais principalmente nas material, a partir de um
têm um papel muito importante, psicológicas, porque esta crise pós-graduações, comecemos a Os nossos gestores determinado nível, não faz
mas, obviamente, depois temos as também nos afectou aí. Tudo isso é direccionar a atenção para aquilo diferença. E, quando o
instituições sem Æns lucrativos que, motivo de preocupação, mas a de que a sociedade e a economia têm de pensar enriquecimento também é dos
penso, vão dar, cada vez mais, o seu humanidade ultrapassou muitas precisam, por motivos pragmáticos em formação outros à nossa volta, as coisas Æcam
contributo. pandemias, ultrapassou guerras e por motivos óbvios. Todos mais divertidas.
É um empresário preocupado mundiais e vai também ultrapassar querem, no fundo, ter um emprego contínua, mesmo E foi esse “ímpeto de alma” que
com a situação do país nesta esta. O que temos de fazer é e contribuir para esta nova que sejam os o levou a prometer doar dois
altura? também aprender, mas acho que sociedade que estamos todos a terços da sua fortuna?
Sim, sem dúvida. Preocupado com ainda é muito cedo para tirar lições. construir. A orientação é nesse proprietários das Sim.
o mundo inteiro e com o país, em No programa de bolsas da sentido, e baseia-se em dados. empresas
particular, porque esta crise, a fundação porque deixam de fora Estes 100 cursos que estão voferreira@publico.pt
26 • Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020
ECONOMIA
O
dores recusada a inscrição na ADSE. assinou um despacho a determinar José Abraão, membro do CGS, recu-
A situação começou por ser sinali- Programa de Regularização adiantou ao PÚBLICO o gabinete que os trabalhadores que constituí- sa o alargamento nestes termos. “Tra-
zada pelo Conselho Geral e de Super- Extraordinária de Vínculos de Alexandra Leitão, ministra da ram novo vínculo com o Estado ao ta-se de um não alargamento. Se, por
visão (CGS) da ADSE que, num pare- Precários da Administração Modernização do Estado e da abrigo do PREVPAP e que não renun- exemplo, um hospital não Æzer um
cer de Julho de 2019, recomendava a Pública (PREVPAP) já Administração Pública. Sem ciaram expressamente à sua inscrição acordo com a ADSE, os trabalhadores
abertura de um período excepcional, permitiu regularizar mais de 22 especificar quantos como beneÆciários da ADSE “podem a contrato não podem inscrever-se,
para que os trabalhadores abrangidos mil postos de trabalho, mas na trabalhadores aguardam excepcionalmente requerer a sua ins- mesmo querendo fazê-lo”, lamenta.
pelo PREVPAP pudessem aderir ao área da Ciência e Ensino parecer e em que áreas, o crição até 31 Dezembro de 2020”. “Serei sempre contra uma proposta
sistema. Na altura, o conselho, que Superior ainda há processos à Governo assegura que os Os 1114 trabalhadores que se inscre- que não garanta uma situação de jus-
junta representantes dos beneÆciá- espera de parecer. “Apenas as trabalhos estão na fase final. O veram ao abrigo deste despacho tiça para os trabalhadores em contra-
rios e dos sindicatos, alertava que a comissões de avaliação PREVPAP arrancou em Maio de somam-se aos precários que já tinham to individual”, frisa o líder da federa-
ADSE aceitava a inscrição de antigos bipartida (CAB) do Ministério da 2017 e o Governo prometeu aderido à ADSE no momento em que ção sindical Fesap.
precários passado o prazo de seis Ciência, Tecnologia e Ensino concluí-lo até final de 2018. viram o vínculo regularizado e cujo Eugénio Rosa lembra que o que
meses, quando os serviços comuni- Superior se encontram com Foram entregues cerca de 32 número o Governo não forneceu em está em cima da mesa “é um cami-
cassem que o trabalhador não foi processos pendentes de requerimentos às CAB dos tempo útil. De acordo com Eugénio nho” e que a proposta não está fecha-
devidamente informado dos seus pareceres, mas já na recta final ministérios e, diz o Governo, Rosa, vogal do conselho directiva da da. O vogal da ADSE reconhece que a
direitos. O problema é que, nesses do processo. Todas as restantes “foram abertos procedimentos ADSE indicado pelos beneÆciários, a proposta, por um lado, permitiria a
casos, a inscrição tinha efeitos CAB, sem prejuízo de algum para regularizar mais de 22 mil situação ainda não está resolvida, entrada de beneÆciários mais jovens,
retroactivos ao início de funções, pedido de esclarecimento que postos de trabalho no sector alertando que a Administração Regio- mas, por outro, pode não ter a adesão
obrigando ao pagamento de todas as possa vir a surgir durante o público administrativo”. Neste nal de Saúde do Norte tem diÆcultado das entidades empregadoras. “Não é
contribuições, e noutras situações os processo de homologação, se número estão incluídas as a inscrição dos trabalhadores admiti- o ideal, mas devemos aproveitar esta
serviços recusavam-se a comunicar a encontram sem processos autarquias que não exigiam a dos através do PREVPAP. oportunidade”, frisa.
falta de informação ao trabalhador, pendentes de deliberação”, entrega de requerimentos. O CGS lembrava, no parecer do ano
impedindo a sua inscrição. passado, que o problema dos precá- raquel.martins@publico.pt
Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • 27
ECONOMIA
Ryanair voltou
a roubar liderança
à TAP em Agosto
ção civil, a ANAC, a companhia de número de movimentos foi menor, o várias reuniões com os sindicatos. Dias depois, numa outra mensa-
Aviação baixo custo irlandesa, transportou que indicia que há uma maior recu- Várias centenas de funcionários com gem, Ramiro Sequeira destacou que
Luís Villalobos 414.638 passageiros em Agosto (-59,7% peração do número de rotas e de voos contratos a prazo já foram dispensa- a transportadora aérea está “a operar
em termos homólogos), contra do que de passageiros, com os aviões dos e o grupo está a recorrer ao apoio apenas 30% do que era suposto”. Esta
Entre Março e Agosto deste 410.107 passageiros da TAP (-76,5%, a viajar com menor ocupação. extraordinário à retoma progressiva é, sublinhou, “uma medida conscien-
depois da queda de 89,5% de Julho). Nos seis meses que decorreram (mecanismo que substituiu o layoff te, porque não podemos operar voos
ano, a companhia aérea
Em Agosto do ano passado, o domí- desde Março, mês em que foi decla- simpliÆcado), com redução do horá- que não sejam rentáveis ou que
portuguesa já perdeu oito nio era claramente da TAP, com 1,7 rada a pandemia provocada pela rio dos trabalhadores. tenham pouca ocupação, o que colo-
milhões de passageiros milhões de passageiros, contra um covid-19, a TAP transportou menos O novo presidente executivo, Rami- caria a TAP numa posição ainda mais
milhão da Ryanair (que detinha então oito milhões de passageiros, o que ro Sequeira, já assumiu o cargo — de difícil”.
A distância Æcou mais curta mas, em a segunda posição). Em terceiro lugar equivale a uma queda de 85%. forma interina —, substituindo Anto- O gestor alertou ainda que a recu-
Agosto, a Ryanair voltou a ser, pelo Æcou a Easyjet. Neste momento, a administração noaldo Neves. Numa mensagem peração do sector do transporte
segundo mês consecutivo, a maior Olhando para os três principais da TAP está a preparar o plano de enviada juntamente com o presiden- aéreo será lenta, e que, mais do que
companhia aérea em Portugal, des- aeroportos nacionais, o de Lisboa foi reestruturação que tem de entregar te do conselho de administração, entregar o plano em Bruxelas, o mais
tronando a TAP num contexto de o que teve a maior quebra em termos em Bruxelas até ao Ænal do ano, liga- Miguel Frasquilho, os responsáveis importante será a sua implementa-
pandemia, com restrições à circula- de passageiros: 949,8 mil, o que equi- do ao empréstimo estatal, que pode pelo grupo aÆrmaram que as priori- ção, e essa estratégia “dar resposta,
ção e impactos Ænanceiros no sec- vale a -69,6%. Já pela infra-estrutura ir até aos 1200 milhões de euros. dades passam por retomar a activi- nos próximos três ou quatro anos”, à
tor. aeroportuária do Porto passaram Falta saber, por exemplo, o que vai dade “com segurança e sustentabili- retoma desejada.
De acordo como os dados de tráfe- 582,4 mil pessoas (-56,9%) e pela de acontecer em termos do número de dade” e “reestruturar” para recupe-
go divulgados pelo regulador da avia- Faro 410,6 mil (-65,6%). A descida do trabalhadores, tendo já ocorrido rar a TAP. luis.villalobos@publico.pt
PUBLICIDADE
A IMAGEM QUE É
RESPONSABILIDADE
DE TODOS OS
PORTUGUESES
+ 6 € T.
QUARTA, 30 SE
A questão da imagem de um país representa um tema muito sério porque, COM O PÚBLICO
em numerosas circunstâncias, o coloca numa hierarquia de produtores de bens
e de serviços que define o valor que os consumidores estão preparados para pagar,
distinguindo a qualidade que associam ao que dele é originário. Chega a haver
diferenciais expressivos que compensam exclusivamente uma dada origem, tendo
pouco que ver com a qualidade intrínseca do produto ou do serviço em causa.
Assim, temos de devotar muita atenção à imagem que os nossos clientes têm dos
fornecedores portugueses porque os seus efeitos se repercutem no valor pelo qual
eles os compram, o que acabará por se repercutir no que eles nos rendem e,
afinal, no nosso próprio nível de vida. Esta é quinta Tertúlia dos Carrancas,
sobre uma discussão que é responsabilidade de todos os Portugueses.
Jorge Lucki
Crítico brasileiro, escreve no jornal Valor Económico
e nas revistas Valor Investe e Prazeres da Mesa
PARTICIP
PART
PAR
PARTICIPAÇÃO
T ICIP
ICIPAÇÃO
AÇÃO A POI O
APOIO RÁDI O
RÁDIO
RÁD PROJECT
PROJ
PROJECTO
ECTO
ECT
INS
INSTITUCIONAL
NSTITUC
NST ITUCIONA
IONAL
O L OFICIAL
OFIC
OF IAL
AL
portugueses
Jorge Lucki
23 DE OUTUBRO / 17H00 - 18H00 / João Portugal Ramos, o grande nome do Alentejo
24 DE OUTUBRO / 21H50 - 22H50 / Wine & Soul
25 DE OUTUBRO / 20H00 - 21H00 / Tapada do Chaves, a magia das vinhas velhas
e o talento do seu mentor
Manuel Carvalho
23 DE OUTUBRO / 21H00 - 22H00 / Vinhos contemporâneos do Douro
os
24 DE OUTUBRO / 19H10 - 20H10 / Quatro faces dos vinhos do Porto 20 acess ra
s ivo s pa
exclu s
assinan te
por p ro va
Rui Falcão
23 DE OUTUBRO / 22H30 - 23H30 / Vinhos do Alentejo
— Terra fria e terra quente
24 DE OUTUBRO / 20H30 - 21H30 / A arte do corte em Portugal
24 DE OUTUBRO / 23H10 - 00H10 / Vinhos de Verão
25 DE OUTUBRO / 21H20 - 22H20 / Um mundo de diferenças
Luís Lopes
24 DE OUTUBRO / 16H30 - 17H30 / Portugal: excelência na diversidade
25 DE OUTUBRO / 17H20 - 18H20 / Grandes tintos do Douro
25 DE OUTUBRO / 22H40 - 23H40 / Alentejo, clássicos e modernos
PRODUTORES
30 • Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020
MUNDO
Cosmopolita ou xenófoba:
para que lado vai pender a Suíça?
A comunidade portuguesa é a terceira
maior população estrangeira do país e
beneÄciou muito com o acordo de livre
circulação. Agora teme que o referendo
traga mais condicionantes à sua vida
vético Flávio Borda d’ Água julga
Europa importante perceber que a iniciativa
Ana Cristina Pereira não vem de cima. “Foi recusada na
câmara alta e na câmara baixa.” Mas,
Se os eleitores disserem que sim, que se os cidadãos conseguirem reunir
querem acabar com o acordo de livre pelo menos cem mil assinaturas em
circulação com a União Europeia, 18 meses, podem propor uma emen-
Marília Mendes Æcará “sob choque”. da constitucional. O SVP e seus alia-
A mera existência da iniciativa popu- dos começaram a recolher assinatu-
lar que a Confederação Helvética ras no princípio de 2018 e entrega-
vota amanhã já lhe parece uma ram-nas volvidos apenas oito
agressão. “É a enésima. Estas inicia- meses.
tivas preparam um caminho, criam A votação estava agendada para 17
uma predisposição para um endure- de Maio. Foi adiada por causa da
cimento das condições de vida dos pandemia de covid-19. Agora, os suí-
estrangeiros na Suíça.” ços vão tomar decisões sobre o alar-
Aliaram-se vários sindicatos e gamento da licença de paternidade,
associações de estrangeiros contra a a compra de aviões de combate, alte-
iniciativa popular lançada pelo Par- rações à lei da caça, deduções Æscais
tido do Povo Suíço, SVP na sigla ale- de serviços de creche. No meio des-
mã, de direita radical, nacionalista, tas votações nacionais e de um
populista. Chamaram-lhe Kollektiv número variável de questões de
für die Personenfreizügigkeit Zürich, abrangência cantonal ou municipal,
traduzível por Colectivo de Zurique vão dizer sim ou não a isto: no prazo
pela Livre Circulação de Pessoas. E de um ano, a Suíça tem de negociar
Marília faz parte dele. Não pode com a União Europeia a saída do
votar, mas pode explicar o que está acordo de livre circulação. Se não o
em causa. Æzer nesse prazo, o Conselho Federal
Parece-lhe que o que está em cima tem um mês para denunciar o acor-
da mesa, uma vez mais, é “se os suí- do. E não pode celebrar novos acor-
ços querem um país aberto, que dos que concedam livre circulação a
inclua pessoas de várias nacionalida- estrangeiros.
des, se estão gratos pelo que os “O debate é recorrente”, sublinha
estrangeiros dão ao país, ou se, pelo Flávio Borda d’Água. Há 50 anos, a
contrário, consideram que só servem população votou a primeira propos- se lançavam, a pé, de carro ou de trabalhadores tinham de fazer um
para trabalhar, não podem ser aceites ta destinada a restringir os direitos
Votar “sim” seria comboio pela Europa fora. A partir percurso.”
como pessoas com plenos direitos”. dos estrangeiros. Desde então foi como cortar a daí, a Suíça irrompeu como um dos Antes, os cidadãos comunitários,
“A Suíça tem pessoas de 180 naciona- chamada a pronunciar-se várias grandes destinos. Hoje, soma 263 mil como os outros, começavam com o
lidades. Vive-se este lado cosmopoli- vezes sobre a sorte dos imigrantes.
árvore do ramo portugueses, o que representa 12,3% “permit a”, o visto de curta duração.
ta, por um lado, mas, por outro lado, E é por isso que Marília e outros acu- no qual se está de toda a população estrangeira. José Sebastião, presidente da Asso-
há este discurso xenófobo.” sam algum desgaste. “Esta recupe- Apesar do Çuxo contínuo, são hoje ciação Lusófona Cidadania Activa,
Vive ali há 25 anos, quase metade ração, esta actualização constante
sentado”, diz mais aqueles que partem do que nem quer pensar no que seria “o
da sua vida. Mora em Berna. Traba- deste discurso cria um ambiente Liliana Azevedo, aqueles que chegam. regresso dos ‘saisonniers’”. Os traba-
lha em Zurique. É responsável pelos mais radical contra os imigrantes e O acordo de livre circulação, que lhadores “sazonais” cumpriam con-
associados portugueses no sindicato acaba por inÇuenciar leis”, teme.
doutoranda entrou em vigor em 2002, “beneÆ# tratos de seis a nove meses, Ændos os
Unia, uma fusão entre construção, do ISCTE ciou muito os portugueses”, diz Lilia- quais tinham de sair do país, voltan-
indústria e serviços, o maior mem- Portugueses na Azevedo, luso-helvética, douto- do no ano seguinte, sem direito a
bro da confederação de sindicatos. A diáspora portuguesa é a terceira randa do ISCTE — Instituto Universi- trazer a família.
Mesmo que o país decida rasgar o maior da Confederação Helvética. tário de Lisboa a estudar a “Para passar do ‘a’ para o ‘b’, o
acordo de livre circulação, terá auto- Na segunda metade do século XX, comunidade portuguesa na Suíça. visto de residência inicial, era preci-
rização de residência permanente, poucos portugueses procuravam ali “O regime que havia limitava imenso so trabalhar quatro anos consecuti-
mas isso não a salvará do ambiente refúgio. Até à crise petrolífera de a contratação. Os patrões queriam vos com o mesmo patrão. Se Æzesse
que adivinha tóxico. 1973-74, a França e a Alemanha e contratar e não podiam, porque três e saísse, começava tudo do prin-
O historiador e arquivista luso-hel- Luxemburgo iam absorvendo os que havia contingentes por sector. Os cípio”, explica Liliana Azevedo. E
Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • 31
JEAN-CHRISTOPHE BOTT/EPA
este estatuto ainda não permitia
fazer o reagrupamento familiar.
Algumas mulheres e crianças iam e Suíços decidem amanhã se querem
Æcavam na clandestinidade. Essa
regalia só era permitida a quem tinha travar imigração da União Europeia
o “permit c”, o visto de autorização
de residência permanente. “Quem
não tem esta memória, se calhar,
também não percebe o que o Æm da aquém de decidir o Æm da liberdade neste caso no cantão de Ticino, na
livre circulação pode representar”, Alexandre Martins de circulação entre a União Euro- fronteira com o Norte de Itália, e
diz aquela investigadora. peia e a Suíça. menos nas grandes cidades mais
Na avaliação de Marília, a diáspora Os eleitores suíços vão indicar ama- Amanhã, o Partido Popular Suíço para o interior.
portuguesa está pouco mobilizada. nhã, em referendo, se querem manter faz uma nova tentativa, desta vez E, também à imagem do que
Talvez porque poucos votam. Talvez ou se preferem rasgar o acordo de com uma consequência concreta acontece noutros países em que a
por falta de consciência política. Tal- livre circulação com a União Euro- em caso de aprovação: se o referen- imigração é um assunto na ordem
vez por falta de memória do tal pas- peia. As sondagens apontam para do for aprovado, a Suíça e a União do dia, os apoiantes do “sim” no
sado. Talvez por desconhecimento uma vitória dos que defendem a con- Europeia terão um ano para nego- referendo suíço dizem que o seu
das consequências reais. Talvez por tinuação do tratado, mas a discussão ciar o Æm do acordo de livre circu- objectivo não é fechar a porta aos
entenderem que uma medida destas à volta das limitações à entrada de lação. estrangeiros, mas sim “favorecer a
só terá consequências para quem no cidadãos europeus no país vem agra- O acordo entre a Suíça e a União imigração de qualidade”.
futuro quiser instalar-se na Suíça. var a dor de cabeça em Bruxelas por Europeia só entrou em vigor em “Temos de recuperar o pedaço de
Como diz José Sebastião, “muitos tra- causa do referendo do “Brexit” no todo o seu alcance em Ænais de soberania que envolve o controlo da
balham na Suíça e vivem em França Reino Unido. 2008, com uma decisão do Conse- imigração”, disse à AFP Vincent
ou Itália, onde a habitação é mais Foi há seis anos que o Partido Popu- lho Europeu que se seguiu à apro- Schaller, um vereador do Partido
barata. Se houver reposição de fron- lar Suíço, nacionalista e anti-imigra- vação pelos eleitores suíços, em Popular Suíço em Genebra.
teiras, o que vai acontecer aos trans- ção, promoveu o primeiro referendo referendo, em 2005.
fronteiriços?”, questiona. “Muitos sobre a liberdade de movimentos dos Mas o facto de a proposta que está Exemplo do “Brexit”
portugueses vivem em França.” cidadãos da União Europeia no seu em cima da mesa ser mais concreta Do outro lado, os partidos da esquer-
Liliana recebeu o material de vota- território, obtendo uma vitória tan- e rígida do que a de 2014 parece ter da ao centro-direita ou são contra o
ção pelo correio, como milhares de gencial — 50,33% contra 49,67%, equi- afastado o voto de protesto, que foi Æm da liberdade de circulação, ou
outros suíços residentes fora do seu valente a uma diferença de 19.302 essencial para a vitória política do dizem que esta não é a melhor altu-
país de origem. E está conÆante de votos em quase três milhões. Partido Popular Suíço há seis anos. ra para comprar uma guerra com a
que a proposta não passará. Parece- Mas a proposta que foi votada em Segundo uma sondagem do institu- União Europeia. E avisam que o Æm
lhe que “votar sim seria como cortar 2014 era mais vaga do que a que vai to gfs.bern, publicada no dia 7 de do acordo de circulação com Bruxe-
a árvore do ramo no qual se está sen- estar em causa amanhã, e o Parla- Setembro, o “sim” no referendo de las será mais prejudicial para a Suíça
tado”. AÆnal, um quarto da popula- mento do país (a Assembleia Fede- amanhã tem 35% das intenções de do que para o resto da Europa — não
ção é estrangeira. Se se juntar a esses ral) acabou por esvaziar o objectivo voto, contra 60% do “não” e 5% de só o país tem beneÆciado de mão-
os que se naturalizaram suíços, a per- do Partido Popular Suíço — aprovou, indecisos. de-obra especializada em sectores
centagem sobe para quase metade. E em Dezembro de 2016, uma lei que Tal como acontece em outros como a saúde, o que tem sido essen-
não é só isso. As relações com o resto dá prioridade à contratação de cida- casos relacionados com as questões cial em tempos de pandemia, como
da Europa são essenciais. Perto de dãos suíços em determinadas áreas da imigração, o Æm do acordo entre os vários acordos entre a Suíça e a
metade das exportações suíças desti- e regiões do país mais afectadas a Suíça e a União Europeia recolhe União Europeia têm uma “cláusula
nam-se ao espaço comunitário e dois pelo desemprego, mas Æcou muito mais apoio nas regiões de fronteira, guilhotina”: se um deles cair, caem
terços das importações provêm de lá. DENIS BALIBOUSE/REUTERS
todos os outros.
Os portugueses representam Rasgar o acordo de livre circulação é Para contornar essa situação, a
12,3% da população estrangeira rasgar outros acordos bilaterais que União Europeia teria de estar dispos-
actualmente na Suíça fazem parte de um conjunto que lhe ta a entrar em duras e complexas
permite estar no Espaço Económico negociações com a Suíça, numa altu-
Europeu. E Liliana não acredita que ra em que enfrenta vários problemas
os suíços queiram abdicar disso. como a resposta coordenada à pan-
Talvez essa conÆança tenha con- demia de covid-19 e as difíceis nego-
tribuído para sossegar alguns. Marí- ciações para a saída do Reino Unido.
lia nem tanto. As sondagens são “As condições mudaram muito em
favoráveis ao “não”, mas em 2014, comparação com 2014”, disse à AFP
contrariando as sondagens, o país Pascal Sciarni, cientista político na
aprovou quotas para imigrantes. O Universidade de Genebra. Segundo o
263
Parlamento recusou-se a pôr em cau- especialista, a população suíça está
sa os acordos internacionais; porém, hoje mais certa de que o país sairia
introduziu uma cláusula que manda prejudicado das negociações com a
esgotar as possibilidades dentro do União Europeia, um sentimento para
mil é o número de portugueses mercado de trabalho da Suíça antes o qual terão contribuído os desenvol-
que vivem na Suíça, um dos de ir buscar mão-de-obra fora. vimentos do “Brexit”.
grandes destinos da imigração
desde os anos 1970 acpereira@publico.pt Segundo uma sondagem, o “sim” à saída tem apenas 35% de apoio alexandre.martins@publico.pt
32 • Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020
MUNDO
MUNDO
“plenos poderes”. O M5S, 77%. Era apoiado por duas listas, a Campânia, desceu de 19,2% para já visível em Março, quando o
inspirado pelo primeiro-ministro, da Liga e outra sem vínculo 5,6%; e, na Apúlia, passou de primeiro-ministro, Conte, passou a
Giuseppe Conte, fez uma inversão partidário (“Zaia presidente”). Só 25,3% para 9,6%. É um duro golpe ter a aprovação de 71% dos
de alianças: deixou a direita e por si, esta segunda lista obteve na estratégia de Salvini. Os seus italianos. Anotou na altura o
coligou-se com o PD. uma maioria absoluta, aliados Meloni e Berlusconi politólogo Ilvo Diamanti: “A
ridicularizando a lista oÆcial. passaram a contestar o seu emergência do vírus, além das
Ponto de Vista Salvini sem estratégia O problema de Salvini é muito estatuto de líder natural da direita. vítimas, gerou medo.” Antes, o
Jorge Almeida Fernandes O chefe da Liga prometeu vencer maior. Toca a identidade política Por Æm, a pandemia da covid-19 medo era “o outro” que vinha de
em todas as regiões, o “6-0”. do seu partido. Zaia é um “homem passou a dominar as preocupações África; “agora, ‘o outro’ é um
O mais notável efeito das eleições Depois de, em Janeiro, ter falhado do Norte”, que discorda da dos italianos. Salvini investiu tudo inimigo invisível”. Além do vazio
regionais italianas de 20/21 de a conquista da Emilia-Romagna, “nacionalização” da Liga e da troca na questão dos imigrantes, de estratégia, Salvini está a Æcar
Setembro é o desgaste dos reincidiu e propôs-se “libertar a do antigo “federalismo” pelo explorando e atiçando os medos sem discurso.
populismos. Eram as primeiras Toscana vermelha”. E a táctica de “soberanismo”. Quer a autonomia italianos.
eleições em tempo de pandemia e assalto à “fortaleza inimiga”, para das regiões. Não é eurocéptico. É Entretanto, o mundo mudou e M5S bloqueia as reformas?
poderão ter marcado o Æm de um provocar a ruptura no Governo, improvável que dispute a liderança Salvini teve uma conduta Contados os votos, Luciano
ciclo: a antipolítica está a sair da voltou a falhar. A retórica de da Liga, mas é muito provável que inconsequente perante a covid. Os Fontana, director do Corriere della
cena. Mas as condições de Salvini levou o PD a baixar as ponha em causa toda a estratégia italianos passaram a dar Sera, fazia a seguinte análise: “As
governabilidade da Itália não estão expectativas: vencer em duas de Salvini. prioridade à boa governação. Não eleições da pancada no Governo, e
asseguradas; elaborar uma regiões já seria bom. Venceu em Também o “número dois” da é uma novidade de Setembro. Era da sua desagregação,
estratégia para sair da crise — e três: Toscana (Florença), Liga, Giancarlo Georgetti, avisa transformaram-se nas eleições da
investir a gigantesca soma que o Campânia (Nápoles) e Apúlia Salvini de que não pode repetir estabilidade que pode levar este
Plano de Recuperação da UE lhe (Bari). Dadas as expectativas, o com Lukashenko os erros que Governo até ao Æm da legislatura
concede — não é apenas urgente: é “empate” signiÆcou uma vitória. cometeu com Putin. O lugar da [2023]. O M5S deve decidir que
uma questão de sobrevivência. Mais interessante é analisar as Itália, diz, é na Europa Ocidental e coisa quer fazer de grande.”
As eleições decorreram em seis vitórias da direita. O candidato do não no “grupo de Visegrado”, uma Depois da vitória do “sim” no
regiões, de norte a sul: Veneto, partido Irmãos de Itália (de Giorgia alusão às relações com Viktor referendo sobre o “corte” do
Ligúria, Toscana, Marcas, Campânia Meloni, direita nacionalista) Orbán. O lançamento do Fundo de número de parlamentares, estão
e Apúlia. O balanço numérico é conquistou à esquerda a região das Recuperação Económica da UE
A covid não ajudou em cima da mesa dois temas
relativamente simples: o Partido Marcas (Ancona). Na Ligúria beneÆcia em especial a Itália. É um os populistas. O cruciais: a lei eleitoral e a reforma
Democrático (PD, centro-esquerda) (Génova), a coligação de direita era péssimo momento para ser “bicameralismo perfeito”.
resiste, a Liga, de Matteo Salvini, dirigida pelo berlusconiano eurocéptico.
M5S perdeu 2/3 dos Deputados e senadores têm as
recua e o Movimento 5 Estrelas Giovanni Toti. A única vitória da Por Æm, a nova “Liga eleitores. E a Liga mesmas competências, o que
(M5S) está seriamente ameaçado, Liga é no Veneto (Veneza). Mas é soberanista” está em declínio no atrasa o processo legislativo e
perdendo dois terços do seu um presente envenenado para Sul. Teve péssimos resultados
de Salvini Äcou fomenta compromissos bastardos,
eleitorado de 2018. Sublinha La Salvini. O vencedor, Luca Zaia, nestas regionais, se comparados sem estratégia pois é frequente haver maiorias
Repubblica: “Nos últimos 15 meses, obteve um resultado histórico: com os das europeias: na políticas diferentes. Governo e
nos territórios em que se votou, os MATTEO CORNER/EPA
Parlamento têm ainda de deÆnir
dois partidos (M5S e Liga) perderam uma nova estratégia económica
3,2 milhões de votos.” para receber os quase 300 mil
Estes números marcam uma milhões de euros da UE, em
inversão de tendência. Depois do subsídios e empréstimos. É, como
sucesso nas legislativas de Março acima digo, uma questão de
de 2018, o M5S aliou-se a Salvini. A sobrevivência.
Itália tornava-se uma vez mais um O problema está agora no
laboratório político, associando no campo do M5S. Celebrou a vitória
poder as duas grandes correntes no referendo, mas a dimensão da
populistas, os “anti-sistema” do derrota nas regionais ameaça
M5S, ideologicamente ambíguos, e bloquear “a coisa grande” de que
os “soberanistas” da Liga, em fala Fontana. A maioria do partido
deslocação para a extrema-direita. percebeu que a antipolítica já não
VeriÆcou-se um curioso funciona. Mas uma derrota
fenómeno: enquanto o M5S excessiva pode convidar à rigidez
depressa começou a deÆnhar nas e ao regresso da retórica
sondagens, subia a Liga, que anti-sistema. E, neste caso, não
venceu as eleições europeias de haverá boas notícias para a Itália.
2019. Salvini rapidamente se Os “grillini” estão partidos em
apropriou da agenda política do facções. Aguarda-se a convocação
Governo, concentrando-se no dos seus “estados gerais” e a
tema da imigração e dos medos deÆnição de uma liderança. Só
por ela criados. A ruptura dá-se em então se vislumbrará a rota
Agosto de 2019, quando a Liga está italiana.
no auge das sondagens (37%) e
Salvini decide abrir a crise política Jornalista. Escreve ao sábado
para provocar eleições, pedindo jafernandes@publico.pt
34 • Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020
CULTURA
E eis que o som ganha
corpo na Exposição Invisível
As paredes estão vazias, mas através do som nos auscultadores, ou do som que ocupa as salas,
viajamos no tempo e pelo espaço na mostra que se inaugura hoje na Culturgest, em Lisboa
VERA MARMELO
ram-se distâncias temporais e espa- uma exposição que nunca existiu,
Artes ciais. O nosso presente, já recheado, deixando que seja a nossa imaginação
Mário Lopes através da pintura, de imagens do a dar vida às paredes de verde-claro e
passado e de todas as latitudes, às fotograÆas a preto e branco — efeito
“Estou aterrado. Não sei o que as pes- ganhou uma nova dimensão. Abriu-se semelhante tem Sound for Mapping
soas vão achar, porque não há nada a possibilidade de ouvir sons muito the Studio Model (The Video) (2001),
que ver.” DelÆm Sardo ouviu-o em longe no tempo e no espaço. “Nós em que Bruce Nauman contrapõe às
2006 da boca do director do Museu sabemos como cantava Caruso há 100 imagens de um estúdio vazio, para
de Arte Contemporânea de Vigo (Mar- anos, mas Caruso não sabia como além da ocasional aparição de um
co), Iñaki Martinez Antelo. No dia cantavam os cantores 100 anos antes gato e de ratos,os sons da natureza
seguinte, o Marco inauguraria A Expo- dele”, observou DelÆm Sardo. fora daquelas quatro paredes. À nossa
sição Invisível. DelÆm Sardo recorda A Exposição Invisível centra-se no frente, falamos agora de Working Title
a história quando, 14 anos depois, nos som como marca de tempo e possibi- (Digging) (1995), da britânica Ceal
preparamos para entrar na galeria da lidade de memória. Centra-se tam- Floyer, estão duas colunas: de uma sai
Culturgest, em Lisboa, onde se inau- bém no som como entidade que mol- o som de uma pá a enterrar-se, na
gurará hoje a versão retrabalhada e da e altera o espaço à nossa volta, outra ouvimos a terra que a pá depo-
aumentada de A Exposição Invisível – como evocação de corpo e presença sita — a distância entre uma coluna e
Uma Viagem Sonora pelo Século XX outra é a de uma sepultura. O regres-
(até 10 de Janeiro de 2021). so à exposição, neste contexto pandé-
As paredes brancas predominam.
Com a pandemia, o mico, ganha novas ressonâncias,
Há poltronas e cadeiras em algumas som e a voz considera DelÆm Sardo. Com a pan-
salas. Descobrimos noutras altifalan- demia, diz, o som e a voz ganham
tes, colunas de som, pequenos grava-
ganham outra outra circunstância e outra relevância
dores. Há vozes vindas do início do circunstância e e “as artes visuais perderam a função
tempo, de quando o homem se fazia táctil.” Além disso, como referirá no
Homem pela linguagem, há gestos
outra relevância e Ænal da visita, haverá algo de conÆna-
corriqueiros do quotidiano, há músi- “as artes visuais mento na experiência de vaguear
ca para o Æm dos tempos. Pouco há demoradamente pela salas e pelos
para os olhos verem, mas não é pouco
perderam a função corredores, isolados do mundo pelos
aquilo que o som nos mostra. táctil”, diz Sardo auscultadores nos ouvidos ou absor-
É pela memória histórica que entra- vendo o som que se espalha entre as
mos naquela que é a penúltima expo- paredes.
sição com curadoria de DelÆm Sardo física — alguns dos artistas presentes, Este será, porém, um conÆnamen-
na Culturgest (em Março assumiu o como Ricardo Jacinto, Jonathan Sal- to diferente: deparamo-nos com a
pelouro da programação na adminis- danha, Rodney Graham ou Michael passagem do tempo feita mantra na
tração do CCB, sendo substituído por Snow são também músicos, mas, One Million Years [Past and Future]
Bruno Marchand enquanto progra- mesmo nas peças em que a música é (2002) de Om Kawara; entramos na
mador das artes visuais da Cultur- presença determinante, pretendia-se peça labiríntica de Ricardo Jacinto
gest). Sentados num sofá, com os que o som fosse pensado da perspec- (Diplopias, 2013); atravessamos o cor-
auscultadores que cada um dos visi- tiva das artes visuais. redor onde está montada a Escutura
tantes receberá à entrada, iremos ao A Exposição Invisível terá também (2001-2005) de Laura Belém incertos
encontro da vanguarda de início do vida exterior à galeria. Dia 29 de Outu- de qual a realidade que nos será pro-
século XX: Luigi Russolo e a sua his- bro, o Grande Auditório da Culturgest posta — calhou-nos ser envolvidos por
tórica Sinfonia do Ruído, criada em acolhe Gavin Bryars, que apresentará um ambiente luxuriante, tropical; e
1914 para reproduzir a turbulenta vida em concerto A Man in a Room, Gam- aterramos num tempo para além do
urbana, mecânica, industrial, eléctri- bling, obra de Juan Muñoz presente tempo quando ouvimos a
ca, e Kurt Schwitters, em Ursonate, a na exposição. Cerca de um mês Verwandlungsmusik (Transformation
encadear sílabas e expressões, sem depois, a 26 de Novembro, Jonathan Music) (1991) de Rodney Graham, um
língua e sem gramática além das emo- Saldanha inaugura nas Carpintarias excerto perdido do Parsifal de Wag-
ções que o som transmite (“A procura de São Lázaro a instalação Swarming ner transportados para um futuro de
de uma fala primeira da humanida- Decay. Na próxima semana, a 1 de 39 milhões de anos.
de”, descreve DelÆm Sardo no início Outubro, o historiador Luís Trindade À saída, uma última voz. James Lee
da visita guiada à imprensa). e o antropólogo Pedro Félix conver- Bryars repete a frase “Pronounce per-
O século XX é habitualmente refe- sam no Pequeno Auditório sobre as fect until it appears.” O som criado e a
rido como o século da imagem; con- relações entre o som, as artes visuais palavra proferida a tornarem-se per-
tudo, deveríamos pensá-lo também e a História. Regressemos à galeria. feição imaginada, realidade palpável.
como o século do som, defende Del- Nada está nas paredes, mas ouvi- Não, não é invisível a exposição.
Æm Sardo. Com a possibilidade de mos a voz de Julião Sarmento, em
gravação e reprodução sonora anula- Seguimos a exposição de fones postos ou a sorver o som na sala Tribu (1978), descrever o espaço de mario.lopes@publico.pt
Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • 35
CULTURA
Artes Livros
Maria José Santana Francisco Duarte
Aveiro está a homenagear Mangas vence Grande
o cineasta amador, pintor, Prémio de Conto
ceramista e escritor, autor Francisco Duarte Mangas
do premiado Os Generosos venceu o Grande Prémio de
Delírios da Burguesia Conto Camilo Castelo Branco,
no valor de 7500 euros, com a
A sala de cinema da sua casa continua obra Pavese no Café Ceuta,
decorada com os inúmeros prémios, editada pela Teodolito.
nacionais e internacionais, que foi Segundo o comunicado da
recebendo nas áreas da literatura e Associação Portugueses de
do cinema — e entre os quais está uma Escritores (APE), o júri,
menção especial no Festival Interna- composto pelas professoras e
cional du Film Amateur de Cannes. investigadoras Isabel Cristina
Foi naquela divisão que se instalou Mateus e Maria de Lurdes
uma espécie de “sede cultural da Sampaio e pelo escritor
resistência ao regime, onde se reu- Liberto Cruz, atribuiu o prémio
niam as Æguras de proa da cultura a Francisco Duarte Mangas
oponente”. Vasco Branco (1919-2014) pelo “modo engenhoso como
era um espírito irrequieto, um convoca para narrativas
homem apaixonado pelas artes e por breves um conjunto de
Aveiro, a sua terra natal. Morreu em autores, de vozes, de textos da
2014, mas deixou uma vasta obra, no literatura universal,
domínio da literatura, do cinema, da tornando-as presenças reais e
cerâmica e da pintura. Este Æm-de- vivas num cenário do
-semana, cumpre-se a parte Ænal da Exposição de homenagem a Vasco Branco no Museu da Cidade, em Aveiro quotidiano urbano”.
celebração do centenário do seu nas-
cimento, acontecido faz 101 anos canos de Aveiro que Vasco Branco programa que está a dar a conhecer
amanhã. Para assinalar a efeméride,
Vasco Branco sofreu um pequeno castigo da PIDE: o homem através da obra. Hoje, por Livros
foi delineado um programa quase tão
multifacetado quanto o artista, e que
(1919-2014) era um foi-lhe apreendido um documento de
que necessitava para tirar o brevet de
exemplo, será promovido um itine-
rário pela sua obra pública na cidade
Grande Prémio
foi iniciado no dia 27 de Setembro do
espírito irrequieto, piloto. (painéis de mosaico cerâmico e de Ensaio da APE
ano passado.
A vida e a obra do cineasta amador,
um homem A Ælha, Rosa Alice Branco, escrito-
ra, também realça esse “espírito
vitrais), uma mesa-redonda e, à noite,
há cinema ao ar livre, com alguns dos
para Helena Buescu
pintor, ceramista e escritor estão a ser
apaixonado pelas humanista” que o acompanhou ao seus Ælmes sonorizados ao vivo. Helena Buescu venceu por
recordadas em vários espaços da artes e por Aveiro longo de toda a sua vida, bem como Amanhã, acontece o lançamento unanimidade o Grande Prémio
cidade onde nasceu e lhe serviu de a “irreverência e a vontade de inovar” do livro Legendas da Cidade Salgada, de Ensaio da Associação
inspiração. “O que ele escreveu em A que o caracterizavam na vertente que dá voz e imagem à intimidade do Portuguesa de Escritores
Cidade Salgada, comparando a emo- roArte, do Clube dos Galitos ou da artística. “Mesmo nos momentos artista com Aveiro — apresentação de (APE) com a obra O Poeta na
ção que tem com a beleza da laguna Fundação João Jacinto de Magalhães, mais pessoais, era uma pessoa irreve- Valter Hugo Mãe —, bem como uma Cidade — A literatura
à possibilidade de uma primeira expe- da colaboração em revistas e jornais rente. De repente, ao almoço, na leitura dos seus textos dramáticos. Portuguesa na História. O júri
riência sexual, diz tudo sobre a sua como O Mundo Literário, Bandarra, mesa de um restaurante, já estava a Destaque, também, para a exposi- do prémio sublinhou a
ligação com este território”, realça o Litoral, Libertação, ou no ensino do pegar num guardanapo e a rabiscar ção de pintura e cerâmica que está no “notável coerência temática” e
Ælho homónimo, professor na Univer- cinema e da cerâmica. um script. Quando chegávamos a Museu da Cidade. São dezenas de “uma invulgar amplitude
sidade de Aveiro. Outro seu grande Muitas foram as vezes em que Vas- casa, começávamos a fazer cinema”, obras criadas e assinadas por “VIC”. temporal das obras e autores
amor era a arte. “O meu pai estudou co Branco transformou a sua casa recorda, a propósito do autor de Foi este o nome que adoptou na área estudados” por Helena Buescu
Farmácia e nessa altura conheceu o num espaço de tertúlias. Mário Sacra- obras cinematográÆcas como O Bebé das artes plásticas e que acabou por nesta investigação, publicada
Abel Salazar. Contava que o via a mento, João Sarabando, Ferreira de e Eu, O Colégio de Gaia, Circo e Etc. e O ser escolhido para baptizar o projec- em livro em 2019 pela
amarfanhar desenhos e a mandá-los Castro, Rebordão Navarro e Júlio Espelho da Cidade. to cultural que agora “habita” a sua Imprensa Nacional Casa da
para o lixo e que só lhe apetecia ir lá Resende, entre outros, visitavam-no Vasco Branco também publicou residência, no n.º 14 da Rua do Prín- Moeda. “A posição que este
buscá-los e Æcar com eles”, relata. com frequência na habitação onde, vários livros. Telhados de Vidro foi o cipe Perfeito, em Aveiro: a VIC — Avei- livro defende repousa sobre a
Vasco Branco foi sempre um expe- antes do 25 de Abril, eram exibidos primeiro a ser dado à estampa, em ro Arts House. É uma homenagem compreensão de que os
rimentalista, “nunca se Æliou em Ælmes proibidos pela censura. Não 1952, seguindo-se Flor Seca. Com Os mais do que justa e permite que “as vínculos entre História e
escolas ou linguagens muito hermé- que Vasco Branco fosse activista, mas Generosos Delírios da Burguesia, edi- novas gerações tenham conhecimen- Literatura, sendo de
ticas”, repara o Ælho, e a sua ligação à a sua forma de estar na vida levava-o tado pela Moraes Editora, venceu o to e se inspirem, no presente e no compreensão essencial para
cultura não se esgotou na sua faceta a apoiar “quem lutava pelos princí- Prémio de Ficção 1979 da Associação futuro, neste grande aveirense multi- ambas, devem reflectir a sua
de artista. Também teve um papel pios humanistas”, recorda o Ælho. Portuguesa de Escritores. facetado”, destaca Miguel Capão Fili- variação histórica”, lê-se na
importante na divulgação da cultura, E foi por força desse apoio a algu- Para assinalar o centenário do seu pe, vereador da Cultura. nota de imprensa sobre a obra
nomeadamente através da co-funda- mas das personalidades que estive- nascimento, a família organizou, em agora premiada.
ção do Cineclube de Aveiro, da Avei- ram ligadas aos Congressos Republi- parceria com a Câmara de Aveiro, um mjsantana@publico.pt
36 • Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020
CULTURA
FILIPE FERREIRA
Open House
Lisboa 2020: viajar
pela cidade com
os ouvidos
Quem participar na Open House
Arquitectura 2020 poderá escolher entre oito per-
Rui Miguel Godinho cursos disponíveis que foram grava-
dos e transformados nestes passeios
É na praça de Santo António, junto à sonoros, com tempos que variam
estação de metro de Alvalade, em entre 21 e 71 minutos: “Pretendemos
Lisboa, que começa o percurso. Guia- que fosse um grupo plural, em termos
dos pela voz de Inês Meneses, ruma- de género e de espectro proÆssional,
mos em direcção ao jardim Mário não apenas arquitectos, e que todos
Soares, no Campo Grande, a cerca de Æzessem a sua vida em Lisboa”, refe-
um quilómetro da estação. re o arquitecto. Por isso, o leque de
O trajecto que percorre 2,7 quiló- convidados reúne várias áreas, desde
metros não é muito preciso, mas o cinema até à história, passando pela
uma das intenções destes “percur- literatura ou pelo jornalismo.
sos sonoros” criados pela Open No caso de Inês Meneses, locutora
House Lisboa é também que as pes- de rádio, o percurso chama-se “Os
soas explorem a cidade e vejam os amantes do caleidoscópio”. Por
traços arquitectónicos enquanto entre histórias sobre a Torre do Tom-
passeiam por Lisboa. Marcada pela bo, Rui Tavares centra o seu passeio
pandemia de covid-19, esta foi uma de quase três quilómetros na prisão
das soluções encontradas para se de Damião de Góis pela Inquisição É desenvolta a interpretação de Dennis Correia (Lexa Black) e Pedro Simões (Filha da Mãe)
poder realizar o evento, que decor- em 1571. Podemos escutar igualmen-
º ANIVERSÁRIO
1970 - 2020
*.»7&*4/"."3(&.46-
www.cparaiso.pt
Insolvência de Rodrigues & Filipe S.A.
Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa - Juízo de Comercio do Barreiro – Juiz 4
Processo n.º 851/17.7T8BRR
&)-Ò$/Ò,%),/ÒÒ/545"2/ÒÒ&%)2!Ò3Ò(
(DIREITO AO USUFRUTO)
.BSJOIB$BQFMBt&ODIBSSPRVFJSB 1*/)"-/070 V1 $"4"5²33&"t11.250€
"-)047&%304 20.455,00€
SÍTIO DA ENCHARROQUEIRA
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FIM DO LEILÃO: 8 DE OUTUBRO, 5ª FEIRA ÀS 10H45 FIM DO LEILÃO: 8 DE OUTUBRO, 5ª FEIRA ÀS 9H45 FIM DO LEILÃO: 8 OUTUBRO, 5ª FEIRA ÀS 11H30
Insolvência de Luis José Franco Atalaia Insolvência de Carlos Alberto da Silva Tavares Martins Insolvência de Carlos Manuel de Almeida e Costa
Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa - Juízo de Comércio do Barreiro – Juiz 2 Tribunal Judicial da Comarca de Aveiro - Juízo de Comércio de Oliveira de Azeméis – Juiz 1 Tribunal Judicial da Comarca de Setúbal - Juizo de Comércio de Setúbal – Juiz 1
Processo nº 436/14.0T8BRR Processo nº 139/17.3T8OAZ Processo n.º 6703/19.9T8STB
FIM DO LEILÃO: 20 OUTUBRO, 3ª FEIRA ÀS 10H00 FIM DO LEILÃO: 8 DE OUTUBRO, 5ª FEIRA ÀS 12H15 FIM DO LEILÃO: 7 OUTUBRO, 4ª FEIRA ÀS 11H00
Insolvência de David Samuel Pires Soares da Cunha Insolvência de Manuel da Graça Lopes Calretas Insolvência de Lúcia Marina Sousa Castro
Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Norte - Juízo de Comércio de Vila Franca de Xira – Juiz 3 Trib. Judicial da Comarca de Lisboa - Juízo de Comércio do Barreiro – Juiz 1 - Proc. nº 611/14.7TBALM Tribunal Judicial da Comarca de Coimbra - Juízo de Comércio de Coimbra – Juiz 3
Processo nº 43/16.2T8VFX & Processo executivo de Helena Maria Oliveira da Silva Calretas Processo nº 4517/19.5T8CBR
& Insolvência de Patrícia Vicente Ferreira Santos Barão Cunha Tribunal Judicial de Almada - Instância Central – 2ª Secção de Execução – Juiz 2
Tribunal Judicial da Comarca de Santarém - Juízo de Comércio de Santarém – Juiz 1
T3 (117,60m2)t,63€
Processo nº 34/16.3T8STR
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Processo nº 37/08.1TBALM
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Público ClassiÄcados • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • 39
TERRENOS
Insolvência de Rosana Maria Coelho Ribeiro
Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste - Juízo de Comércio de Sintra – Juiz 1
Processo nº 12766/19.0T8SNT
OPORTUNIDADES
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Insolvência de Laudelinda Lopes Albuquerque Insolvência de Sociedade Construções Gomes & Marques, Lda. Insolvências Maria Leonor P. S. Esteves e Manuel Gomes Esteves Insolvências Maria Leonor P. S. Esteves e Manuel Gomes Esteves Insolvências Maria Leonor P. S. Esteves e Manuel Gomes Esteves
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Valor de venda: 806.760,50€ Valor de venda: 77.708,47€ Valor de venda: 35.743,98€ Valor de venda: 67.693,71€ Valor de venda: 32.799,16€
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escolar 2020/2021. A família participa o falecimento do seu ente querido e que o Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3 Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa
25 de setembro de 2020
funeral se realiza Domingo, dia 27 pelas 11 horas, da Igreja Telefones: 213 610 460 - Fax : 21 361 04 69 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Centro de Dia Prof. Doutor Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa
A Diretora, Maria de Lurdes Ribeiro Sousa Ruivo
de Nossa Senhora de Fátima para o Cemitério de Elvas. Telefone: 213 609 300 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim», Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia
O corpo encontra se em câmara-ardente na Igreja de 2765-029 Estoril - Telefone: 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org
Horário de Atendimento: Quartas e sextas, entre as 9h e as 13h
Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa, hoje a partir das Núcleo do Ribatejo da Alzheimer Portugal: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31 «A, 2080-114 Almeirim
- Telefone: 243 000 087 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
16:30 horas, com Missa de Corpo Presente pelas 17 horas.
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Delegação Centro da Alzheimer Portugal: Centro de Dia do Marquês, Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal
- Telefone: 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org
25 ANOS
IN MEMORIAM
ALMADA
Partiram há vinte e cinco anos.
Sempre PRESENTES.
No Coração e no Pensamento.
Com Amor.
Obrigado.
A Família comunica que, no Domingo, 27.09.2020, será celebrada Missa, às 09,30 horas, na Igreja Nova de Almada.
Público ClassiÄcados • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • 43
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30.09.2020 14h30 O LEILÃO VAI DECORRER
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44 • Público ClassiÄcados • Sábado, 26 de Setembro de 2020
Público ClassiÄcados • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • 45
46 • Público ClassiÄcados • Sábado, 26 de Setembro de 2020
Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • 47
FICAR
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em Apuros M6. 13h30, 15h50, 18h30 (V. 19h35 (V.Orig./2D); A Galeria dos Corações
SAIR
JOGOS
18º Beja
Sines
BRIDGE SUDOKU 14º 23º
11º 24º
DESPORTO
Adversário perigoso para BenƊca
e derby no Bessa para FC Porto
Na segunda jornada da I Liga, as “águias” recebem o Moreirense, que não perde na Luz há duas
temporadas. Já os “dragões” têm pela frente um Boavista remodelado e com nomes sonantes
MANUEL FERNANDO ARAÚJO/LUSA
Futebol
Marco Vaza
Depois de uma pré-época que foi tudo
menos normal, FC Porto e BenÆca
tiveram uma entrada tranquila na I
Liga. Os campeões nacionais inicia-
ram a defesa do título com um triun-
fo por 3-1 sobre o Sp. Braga, os “encar-
nados” conseguiram uma vitória
robusta por 1-5 em Vila Nova de Fama-
licão. Mas os desaÆos renovam-se a
cada jornada e, hoje, dois dos maiores
candidatos ao título vão querer dar
continuidade a esses inícios tranqui-
los. O BenÆca faz a sua estreia da épo-
ca na Luz frente ao Moreirense
(18h30, BTV), enquanto o FC Porto
vai ao Bessa para o derby (21h, SPTV1)
com um Boavista de ambição e nomes
sonantes.
Ainda com muita coisa no ar no
que diz respeito a entradas e saídas
(talvez uma troca de Rúbens na defe-
sa, saindo Dias e entrando Semedo),
o BenÆca vai fazer a sua estreia casei-
ra com alguns adeptos na tribuna
presidencial e frente a um Moreiren-
se que também venceu na primeira
ronda (2-0 ao Farense) e que tem
feito a vida negra aos “encarnados”
nas suas últimas duas visitas à Luz
(uma vitória e um empate). Depois
da derrapagem europeia na Grécia,
a equipa de Jorge Jesus redimiu-se na Alex Telles foi decisivo no triunfo do FC Porto sobre o Sp. Braga na anterior jornada da I Liga
I Liga e o regressado técnico quer
continuidade frente a mais este E estará o técnico “encarnado” pre- um dos adversários mais difíceis da como referência este primeiro jogo
adversário minhoto que terá pela parado para perder Rúben Dias, cujas temporada, o Sp. Braga, os “axadre- do campeonato e um ou outro ami-
frente — e que chegou a treinar no notícias do negócio iminente com o zados” abriram com um empate (3-3) gável. Acho que tem um plantel com
Ænal da época 2004-05, durante ape- Manchester City, envolvendo 50 na Madeira frente ao Nacional. Tam- qualidade e com certeza que vai ser
nas sete jogos. milhões e Otamendi, surgiram após bém com muita coisa no ar no que diz uma equipa muito interessante”, fri-
“O Moreirense é uma equipa com- O mercado Äca ali a conferência de imprensa? “Não há respeito a mercado (Alex Telles), mas sou Conceição.
petitiva, que tem os seus argumentos, jogadores intocáveis. Só o Messi e o já com as saídas acertadas de muitos O medo do desconhecido tem
mas nós temos os nossos e queremos à porta, além do Ronaldo”, começou por responder excedentários do ataque (Aboubakar razão de ser. Este Boavista pouco tem
dar continuidade à vitória brilhante cão que também Jesus. “Mas o Rúben é um jogador e Tiquinho, com Zé Luís quase resol- a ver com o da época passada. Apenas
que tivemos em Famalicão. Temos importante, é um dos titulares. vido), Sérgio Conceição diz que tudo cinco jogadores transitaram da época
estado a crescer de semana a semana. está à porta Naquele sector, só temos três cen- isso Æca fora do jogo e que está mais passada, e o treinador (Vasco Seabra)
De certeza que vamos estar melhor”, Sérgio Conceição trais, o Jardel está lesionado e o outro preocupado com o desconhecimento também é novo, numa equipa com
garantiu Jorge Jesus, que não irá con- Treinador do FC Porto que queremos contratar ainda não que tem do adversário desta noite. muitos nomes sonantes, como o ex-
tar com o lesionado Adel Taraabt. E temos. Portanto, é imprescindível na “O mercado fica ali à porta, além -benÆquista Javi Garcia, o jovem inglês
já não terá à disposição Florentino, equipa”, acrescentou. do cão que também está à porta”, foi emprestado pelo Lille Angel Gomes
emprestado por uma época ao Móna- tudo o que o técnico do FC Porto dis- (autor de três assistências frente ao
co. Para Jesus, este é um “vai” com “Mercado Äca à porta” se sobre as entradas e saídas do plan- Nacional) ou o experiente central
promessa de voltar. “Tenho a certeza Depois do embate na Luz, a acção da tel, preferindo falar sobre o “jogo francês (e campeão do mundo em
que ele vai voltar muito mais jogador I Liga concentra-se no Norte do país difícil” que terá no Bessa. “Não conhe- 2018) Adil Rami, que já estará dispo-
e um dos pedidos que Æz ao presiden- e no derby da Invicta, no Bessa, entre cemos profundamente esta equipa do nível para defrontar o FC Porto.
te é que o Mónaco não o possa con- o Boavista e o FC Porto. Os “dragões” Boavista. Conhecemos os jogadores,
tratar”, reforçou Jesus. arrancaram com uma vitória sobre mas a sua dinâmica nem tanto. Temos mvaza@publico.pt
52 • Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020
DESPORTO
destruiu o Real
Marítimo-Tondela 15h30, SPTV1
Benfica-Moreirense 18h30, BTV
Boavista-FC Porto 21h, SPTV1
Farense-Nacional amanhã, 15h30, SPTV1
Gil Vicente-Portimonense amanhã, 16h, SPTV3
P. Ferreira-Sporting amanhã, 18h30, SPTV1
Rio Ave-V. Guimarães amanhã, 21h, SPTV1
SERGIO PEREZ/REUTERS Belen. SAD- Famalicão 2.ª feira, 19h45, SPTV1
DESPORTO
YOAN VALAT/EPA
INICIATIVAS
Além de ser, o português
tem de parecer?
E, no entender dos presentes nes- próprios. E no caso muito bons nos sec-
Literatura ta tertúlia — composta por Luís Valen- português, esta dife- tores apontados,
te de Oliveira, Álvaro Sequeira Pinto, renciação pela quali- têm-lhes associada
Tertúlia dos Carrancas, n.º 5 António Magalhães da Cunha, Antó- dade já acontece em uma imagem de qua-
A Imagem de Portugal nio Filipe Pimentel, António Jorge certos sectores. “Os lidade generalizada
Quarta-feira, 30 de Setembro Pacheco, Bernardo Pinto de Almei- importadores dos que beneÆcia toda a
+6 € da, Brian Juan O’Neill, Carlos Coelho, nossos produtos têx- sua economia.”
Carlos de Jesus, Carlos Nascimento, teis sabem que eles E, apesar do seu
Em publicação desde 2017, a Tertúlia Francisco Seixas da Costa, Guilher- têm pouco que ver efeito benéÆco do
dos Carrancas é uma série de livros me Costa, Henrique Leitão, João Fer- com os congéneres ponto de vista eco-
editados pelo PÚBLICO que resulta reira Álvares Ribeiro, Jorge Flores, produzidos no Orien- nómico, a constru-
da reconstituição de diversas conver- José Manuel Dias da Fonseca, Luís te, próximo ou lon- ção da imagem vai
sas do Círculo Dr. José de Figueiredo Filipe Castro Henriques, Luís Maga- gínquo. E reservam- muito além desse
AGENDA que tiveram lugar no Palácio dos Car- lhães, Luís Miguel Duarte, Manuel se na sua produção aspecto, sendo essa,
rancas, no Porto. Nelas, personali- Novaes Cabral e Tomás Moreira —, para camadas de inclusive, a maior
Quarta, 30 dades da nossa praça tentam discutir “as acções que contribuem para consumidores que diÆculdade. Para
Tertúlia dos Carrancas – A de forma abrangente alguns dos alcançar esse objectivo não se conÆ# podem pagar mais essa construção, é
Imagem de Portugal temas importantes da nossa socieda- nam à esfera das empresas”, tratan- pelo que compram”, necessário integrar
Em publicação desde 2017, a de e promover o pensamento e dis- do-se de uma iniciativa que deverá refere o relator. “muitas imagens que vão desde o
Tertúlia dos Carrancas é uma série cussão dos problemas do país. envolver um alargado número de Assim sendo, qual é a ambição? A desporto às artes, da eÆcácia da
de livros editados pelo PÚBLICO Agora no seu quinto número, agentes de vasto leque de sectores, tertúlia defende que é possível administração pública ao conheci-
que resulta da reconstituição de abordamos A Imagem de Portugal “sem se conÆnar aos aspectos eco- empurrar Portugal para uma situa- mento da História do país e das suas
diversas conversas do Círculo Dr. através de um relato feito por Luís nómicos e aos preços dos bens a ção em que a qualidade é percebida Æguras cimeiras, desde a investiga-
José de Figueiredo que tiveram Valente de Oliveira, um dos presi- exportar”. de forma transversal, mais generali- ção cientíÆca que produz à qualida-
lugar no Palácio dos Carrancas. dentes da tertúlia. Não será uma Os membros do Círculo aÆrmam zada, tal como acontece com a Ale- de do design do que fabrica ou cons-
auto-reÇexão sobre a forma como os que esta ambição não é irrealista nem manha, em particular na construção trói”. E, por isso, a imagem de Por-
Quinta, 1 portugueses se vêem a si próprios, inalcançável, já que em muitos países de máquinas, com a Escandinávia no tugal não se pode conÆnar ou
Colecção Ciência & mas antes abordar a imagem que os a que se associa uma imagem de qua- mobiliário, com a Itália no calçado, deixar-se à responsabilidade de um
Conhecimento outros têm de nós — sobretudo, lidade indiscutida, a aquisição dos com a França na moda e nos produ- único departamento: é, isso sim,
Vol. 3 – Vida, Espírito e Matéria aqueles com quem temos relações seus produtos e eventuais diferen- tos alimentares, e com a Suíça no responsabilidade de todos os portu-
Oito obras fac-similadas, que comerciais. ciais de preços é promovida pelos caso do turismo. “Estes países, sendo gueses. Pedro Mosca
marcaram a evolução do homem
e da ciência nos últimos séculos,
para assinalar os 25 anos do
Ministério da Ciência, Tecnologia
e do Ensino Superior em Portugal,
com prefácios do professor
Os mistérios da vida
Fernando Carvalho Rodrigues e
comissariada pelo antropólogo e
livreiro Luís Gomes. do com o jornal, resulta da junção de samento que, acrescenta ainda o físi-
Ciência duas obras da autoria do físico aus- não estando co e professor univer-
Sábado, 3 tríaco Erwin Schrödinger, nomeada- fechada, se reve- sitário Carlos Fiolhais,
Colecção Novela Gráfica VI Colecção mente O Que É a Vida?, ensaio publi- laria da maior que assina o texto de
Vol. 7 – Andanças e Confissões Ciência & Conhecimento cado, em 1944, e Espírito e Matéria, importância na apresentação deste
de Um Homem em Pijama Vol. 3 – Vida, Espírito e Matéria, editado, em 1958. Em Portugal, os evolução da ciên- volume. “Há muitas
São 14 volumes com diversidade de Erwin Schrödinger dois textos foram publicados sob a cia. “O que questões que trans-
de temas e autores, dando a Quinta-feira, 1 de Outubro chancela da editora Europa-América Schrödinger faz cendem a ciência.
descobrir aos leitores obras na Por +6,90€ num só volume, datado de 1963, com com o livro de 1944 O Que É a Vida? ter-
sua maioria inéditas no nosso o título Vida, Espírito e Matéria. é mostrar que pode, mina com uma
país. Para assinalar os 25 anos da criação “Um cientista deve ter um conhe- deve e trará grandes discussão do
do actualmente designado Ministé- cimento profundo de alguns assuntos progressos no enten- determinismo e livre arbítrio e
rio da Ciência, Tecnologia e Ensino e, portanto, é de esperar que não dimento do que é a vida, se Espírito e Matéria aborda quase no
Contrariamente ao anunciado Superior, o PÚBLICO, em parceria escreva sobre nenhuma matéria em se começar a soletrar a linguagem Ænal as relações entre ciência e reli-
antes, por motivos técnicos, com a instituição e A Bela e o Mons- que não seja uma autoridade”, escre- física da vida”, resume em poucas gião (conclui aÆrmando a ‘indestru-
alheios ao PÚBLICO e à Levoir, tro, lançaram a colecção Ciência & ve o investigador, conhecido pelas palavras o docente e investigador Fer- tibilidade do espírito pelo tempo’).
não será possível fazer hoje a Conhecimento. Comissariada pelo suas contribuições para a mecânica nando Carvalho Rodrigues, que pre- Schrödinger interessou-se pela Ælo-
distribuição da nova edição do livreiro e antropólogo Luís Gomes e quântica, especialmente pela equa- facia a colecção Ciência & Tecnologia, soÆa e pela espiritualidade, em par-
volume 3 da colecção Novela prefaciada pelo docente e investiga- ção de Schrödinger, que lhe valeu o sobre a obra O Que É a Vida?. ticular por religiões orientais. Esse
Gráfica: O Neto do Homem dor Fernando Carvalho Rodrigues, Nobel de Física em 1933, no prefácio “O livro inclui ainda o texto de livro ainda hoje se lê com gosto e pro-
mais Sábio – uma biografia de a colecção reúne oito obras, em ver- do ensaio O Que É a Vida?. “Mas, no outra conferência Espírito e Matéria veito. A ciência avançou e está a
José Saramago. são fac-símile, que marcaram decisi- caso presente, peço licença para (talvez em vez de ‘espírito’ devesse avançar mais, mas algumas dos mis-
A troca dos exemplares deste vamente o modo como entendemos renunciar à noblesse, se ela existe, e estar ‘mente’), proferida em Cam- térios fundamentais permanecem.
volume poderá ser feita a partir o mundo à nossa volta. também para não seguir a obriga- bridge em 1956. Vida, Espírito e Maté- Schrödinger, um grande humanista,
de 17 de Outubro. O terceiro volume da colecção ção”, insiste em jeito de desculpa ria tornou-se, traduzido em várias percebeu quais eles eram”, remata.
que, na próxima semana é distribuí- para avançar com uma linha de pen- línguas, um bestseller mundial”, Liliana Duarte
Público • Sábado, 26 de Setembro de 2020 • 55
O regresso
do Homem em Pijama
pandemia do covid-19 veio trazer Além dessas crónicas do dia-a-dia delirante sobre a diÆculdade (ou até ser cada vez mais intensa, com o
Banda desenhada uma inesperada actualidade, em e de algumas divertidas reÇexões impossibilidade) que um criador autor a acompanhar a produção da
que o autor continua a relatar de sobre o trabalho criativo, este volu- tem em perceber se o que escreveu série de TV La Fortuna, dirigida por
Vol. 7 – Andanças e Confissões forma divertida o dia-a-dia de um me inclui também As Leis (Temporá- vai ter ou não sucesso. Alejandro Amenabár, a partir do
de Um Homem em Pijama quarentão que conseguiu cumprir rias) do Mercado, uma história de 12 Se Andanças… fechava com uma livro O Tesouro do Cisne Negro e de
Argumento e Desenhos – Paco o seu sonho de Æcar em casa todo o páginas feita propositadamente história inédita, ConÆssões… abre estar também envolvido na produ-
Roca dia de pijama vestido. para a edição em livro, em que o com outra, A Dívida Pegajosa, uma ção de uma adaptação de A Casa,
Sábado, 3 de Outubro Andanças de Um Homem em Pija- autor se confronta com diversas ver- certeira, irónica e acutilante reÇexão dirigida por Alex Montoya, Paco
Por + 10,90€ ma, a primeira parte do livro, reco- sões de si próprio em diversas ida- sobre o sistema capitalista, que é uma Roca ainda arranjou tempo para
lhe histórias de duas páginas publi- des. Uma história verdadeira aula de economia, mos- actualizar alguns pormenores das
Depois de Memórias de Um Homem cadas na revista semanal do jornal trando a capacidade que Roca tem de histórias deste livro.
em Pijama, lançado pelo PÚBLICO El País entre Julho de 2013 e explicar coisas complexas de forma Como refere Manuel Jesus no pre-
e pela Levoir no passado mês de Setembro de 2014, centrando- simples e divertida. Uma história à fácio à edição portuguesa: “Sendo
Junho, o valenciano Paco Roca -se, tal como o título indica, nas qual não falta uma piscadela de olho este um livro baseado também numa
regressa às bancas — e à Colecção viagens do autor, aqueles cinéÆla ao Ælme Planeta dos Macacos observação do mundo e retratando
Novela GráÆca, em que tem marca- momentos em que é obrigado a (o original, de 1968, com Charlton acontecimentos reais, seria quase
do presença de forma ininterrupta deixar o pijama e sair de casa, Heston) cujo icónico Ænal Paco Roca inevitável que algumas das histórias
desde 2016 — com Andanças e Con- seja para ir de férias, às compras, recria. E, por falar em cinema, as ultrapassassem o seu prazo de vali-
Æssões de Um Homem em Pijama. ou cortar o cabelo, ou para conhe- duas últimas histórias curtas debru- dade e se tornassem de alguma forma
Um livro duplo, que contém cer os seus leitores nas viagens de çam-se sobre a adaptação cinemato- obsoletas ou fora de tempo. Paco
Andanças de Um homem em Pijama, promoção dos seus livros, o que gráÆca de Um Homem em Pijama, um Roca, para a edição portuguesa, deci-
de 2014 e ConÆssões de Um homem aproxima Andanças... de um dos Ælme de animação que deveria ser diu privilegiar-nos com novas versões
em Pijama, de 2017, duas novelas raros títulos de Roca que permane- o próprio Paco Roca a dirigir, mas dessas histórias, somando o que se
gráÆcas publicadas separadamente cem inéditos em Portugal, Emotio- que não lhe deixou grandes sauda- pode chamar ‘proÆssionalismo’ ao
na sua edição original, e que encer- nal World Tour, livro feito a meias des, ao contrário do que sucedeu respeito que assume publicamente
ram a “trilogia do pijama”. Uma com Miguel Gallardo, que relata as com a muito mais bem sucedida ter pelos seus leitores em Portugal.”
trilogia de temática semiautobiográ- experiências dos dois autores adaptação de Rugas, dirigida por Um respeito que os leitores portugue-
Æca que nos dá a conhecer uma eta- durante as viagens de promoção dos Ignacio Ferreras. ses têm feito por merecer. João
pa da carreira de Paco Roca a que a seus livros. Apesar de a sua ligação ao cinema Miguel Lameiras
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O IHC é financiado por fundos nacionais através da FCT — Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito dos projectos UIDB/04209/2020 e UIDP/04209/2020.
Sábado, 26 de Setembro de 2020
S
simplesmente testou-se mais, logo, nas diÆculdades para aceder aos
encontrou-se mais. números de casos de covid nas
e vem aí uma segunda vaga Também não vale a pena escolas.
de covid, ainda é cedo para sobrevalorizar o número de Essa falta de transparência é
saber. Que se está a preparar infectados desvalorizando o inaceitável, e por isso convém não
uma segunda vaga de número de internados e de mortos, a tornar compreensível face ao
histerismo em torno da que são muitíssimo mais receio do Governo de que as
covid, isso já me parece importantes. Se o número de aberturas dos telejornais causem
bastante evidente, e tenho mais infectados está a bater recordes, pânico na população e as notícias
medo dela do que do vírus. O facto mas o número de internamentos e sobre escolas fechadas ponham
de devermos ser o mais prudentes de mortos se mantém milhares de pais à beira de um
possível no nosso dia-a-dia — usar relativamente estável, então isso é ataque de nervos. No início da
máscara, descarregar a app, evitar uma óptima notícia e não há pandemia tivemos de levar com
multidões — não signiÆca que grande razão para alarme. SigniÆca uma enxurrada de pivots televisivos
devamos conÆnar a nossa uma de duas coisas: ou a própria comunicação social tem de a oferecerem-nos conselhos
capacidade de raciocínio, nem experiência acumulada no fazer um esforço para ser mais paternais sobre a melhor forma de
afogar em álcool-gel os últimos tratamento da covid está a diminuir reÇexiva e não ir atrás de fórmulas enfrentar a pandemia. É hora de
vestígios de inteligência e espírito a sua mortalidade, o que é noticiosas fáceis que não adiantam fazer o caminho inverso, e
crítico. excelente; ou o vírus está a sofrer nada e atrasam muito. aconselhar paternalmente os pivots
A histeria começa logo pelo
número-fetiche que abre todos os
mutações que o tornam menos
agressivo, o que é magníÆco.
É hora de aconselhar Reduzir uma situação pandémica
extremamente complexa a um
televisivos para a necessidade de
um pacto anti-histeria no combate
telejornais: o número diário de Para quê, então, abrir telejornais paternalmente os único número diário tem péssimas à covid e para a obrigatoriedade de
infectados. Esse número é tratado
quase sempre de forma isolada, e
de forma estrondosa com os
recordes nos números de
pivots televisivos para consequências, que vão muito
além da má informação. Em
analisar de forma Æna os números
disponíveis. Se assim não for,
na cabeça das pessoas ele signiÆca infectados, se a grande pergunta a a obrigatoriedade primeiro lugar, andamos com os corremos o enorme risco de andar
isto: se desce, está tudo bem; se ser feita é outra — porque é que, de analisar de forma olhos semicerrados ao que é cada aos gritos sobre o que é acessório e
sobe, estamos lixados. Não é perante esses números, a situação vez mais importante — o aumento Æcar mudos perante o essencial.
necessariamente assim. Esse sanitária não se descontrolou, fina os números signiÆcativo dos números da
número signiÆca pouco se não como aconteceu em vários países disponíveis mortalidade não-covid, que tudo Jornalista
estiver associado ao número diário europeus em Março e em Abril? A indica estar a ser causado pela jmtavares@outlook.com
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