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O novo
rural
Buscar uma vida no campo,
com mais tranquilidade, é o sonho
de muita gente — que foi
intensiƊcado com a pandemia.
Há quem já o tenha feito e mostre
que é possível ser feliz longe da
cidade. A Fugas conta a história de
cinco projectos que estão a mudar
o panorama rural de Portugal ao
investir em vinhos, ervas
aromáticas, morangos
biodinâmicos ou peixes
sustentáveis. Rafael Tonon
Sábado, 26 de Setembro de 2020 | FUGAS | 3
ADRIANO MIRANDA
4 | FUGAS | Sábado, 26 de Setembro de 2020
Mainova
Quem está por trás:
Bárbara Monteiro e família
O que produz: Vinhos e azeites
Onde: Vimieiro, Arraiolos
demia. “Foi uma correria mas tam- cozinheiros e a ganhar terreno. “Foi
bém uma óptima oportunidade de tudo muito gradativo, até que decidi
poder fugir para o campo. Percebi a vender a minha empresa e investir
importância que tem esse contacto mesmo nisso. Estava desmotivado,
com a natureza na nossa vida”, apon- era unir o útil ao agradável”, diz ele,
ta ela, que se divide entre Lisboa e a então sócio numa companhia de ani-
herdade, mas que já prevê que o mação. Patrícia trabalhava com aná-
avanço da marca a levará a passar lises clínicas e decidiram que era a
mais tempo entre os 90 hectares de hora de crescer.
oliveiras e 20 de vinhas. “Vai ser ine- “A minha mãe tinha um terreno
vitável, mas eu gosto muito dessa que nos deu, com quatro mil metros
ideia. Se você me perguntasse quan- quadrados, e fomos acrescentando
do eu tinha 18 anos se eu queria sair aos poucos o que precisávamos ali”,
de Lisboa, era impensável. A pessoa conta ela. O foco são os micro e mini-
vai valorizando outras coisas na vegetais, além de algumas Çores
vida”, diz. comestíveis. Já são mais de 100 tipos
A convivência com as pessoas do de espécies cultivadas, ainda que
campo também fez aumentar o seu metade delas é que represente o Çu-
apreço pelo legado rural. “Mas isso xo mais constante de produção. “O
não signiÆca que não podemos ino- cliente dá-nos feedback, explica o
var, com o know-how que temos hoje que quer, e nós tentamos desenvol-
em dia. Não faria sentido”, defende. ver. É assim que gostamos de traba-
A Mainova aposta também em vinhos lhar, de forma bem próxima a eles”,
mais leves, “e mais fáceis, o que mui- conta Patrícia.
tos chamam de novo Alentejo”, como Os principais são mesmo os chefs
ela explica. “Queremos mostrar um de cozinha — em Lisboa, mas também
Alentejo mais jovem. Olhamos para noutras cidades do país, como Bra-
o passado para perceber como eles gança ou Amarante. “Como sabemos
faziam, mas aliado à experiência de que eles gostam de novidades, tenta-
hoje em dia com tecnologia e inova- mos produzir coisas novas, colher
ção, para melhorar o que era feito impressões e produzir para o ano.
antigamente. Temos muito respeito Neste Verão, por exemplo, produzi-
pela tradição”, garante Bárbara. “Mas mos o tomate ervilha, uma variedade
acho que isso não nos impede de muito especial”, conta Patrícia.
olhar para o futuro.” Muita gente pensa que a vida Æcou
mais fácil para o casal de actuais agri-
Quintal Urbano cultores. “Basicamente trabalhamos
tanto como trabalhávamos na cida-
Quem está por trás: Nuno Alves de. Não há Æm-de-semana, a nature-
Ocean Tour
Quem está por trás:
Tiago Fonseca
Onde: Peniche
ADRIANO MIRANDA
Elvas
teatro de muralhas”, uma, duas, três,
quatro, em anéis que seguravam
uma população multiplicada em
poucos séculos. Na raia, Badajoz em
espelho do outro lado de um Æo de
Caia prestes a derramar-se no Gua-
diana, quem domasse Elvas poderia
vir a tomar o trono, que daqui a Lis-
boa a geograÆa não põe mais obstá-
Aqui esgotou-se
culos ao caminho. Era “um passeio”,
terá dito o rei espanhol.
Elvas era a “chave do reino”. E,
por isso, até hoje veste couraça
robusta, imponente. Até 1912, ainda
se trancava noite dentro. Da cidade
muralhada, que para lá da última
a arte de fortiƊcar
cerca só planície, proibidas que esta-
vam as construções até 1942, nin-
guém entrava ou saía de Elvas entre
a meia-noite e as seis da manhã.
Impunha-se como um recolher obri-
gatório, que esta já fora a chave de
todas as chaves e ainda era, então,
O último regimento militar saiu de Elvas há mais de dez anos, eminentemente militar.
À cidade em estrela foram-se
mas esta memória bélica de uma cidade que, durante séculos, somando outros astros numa cons-
telação defensiva, de século em sécu-
foi considerada a chave do reino ainda se sente a cada passo. lo, à medida que o armamento bélico
foi também evoluindo e novo conÇi-
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Casa da História Judaica
Rui Jesuíno aponta o nome da rua:
Arco dos Pregos. Já não há vestígios
nos edifícios, mas a toponímia mar-
ca a memória do lugar onde Æcava a
entrada na judiaria velha, “ainda da
época islâmica”. Cidade de fronteira
de muito comércio, Elvas teve “uma
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comunidade judaica sempre muito de cristãos-novos”, nomeadamente igreja das Domínicas, parte de um estas características, se uma opção
importante”, assinala o responsável as 16 marcas cruciformes encontradas antigo complexo conventual, demo- renascentista tomada pelo arquitecto,
pelo Património e Turismo da autar- pelo casario. “Eram colocadas nas lido no início do século XX. Era pre- Diogo de Torralva.” Os azulejos, as
quia. “Apesar da expulsão dos ombreiras das portas das casas que cisamente neste quarteirão que esta- pinturas nas colunas e a talha doura-
judeus e da perseguição dos cris- tinham sido de judeus ou de cristãos- Igreja das Domínicas va localizada a judiaria nova, durante da que decoram todo o interior já são
tãos-novos, no século XVII ainda um novos que tinham sido descobertos e a Idade Média. “Com a expulsão dos do início do século XVII.
quarto da população da cidade era condenados pela Inquisição, como se Nos séculos XVI e XVII, Elvas “era a judeus, o casario foi demolido, Æcou Atente-se ao chão para encontrar
cristã-nova, o que diz muito desta fosse para cristianizar a casa.” quinta cidade em termos populacio- aqui um espaço livre e é construído outra particularidade: uma sepultu-
comunidade judaica.” nais do país”, nota Jesuíno, para mos- um convento de freiras dominica- ra com dois dragões e um vaso chi-
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No número 6 da Rua dos Açougues, trar que não será de estranhar que na nas.” É neste convento que nasce um nês ao centro, pertencente a António
no prolongamento do Arco dos Pre- cidade existam “20 igrejas e sete con- dos doces conventuais mais icónicos de Oliveira de Abreu, mercador
gos, encontra-se a Casa da História ventos”. Muitas delas já não estão ao da cidade, a ameixa de Elvas. elvense que terá vivido vários anos
judaica, inaugurada no ano passado culto, mas mantêm-se abertas a visi- Antes da construção do convento, na China. “É a única conhecida na
no edifício onde poderá ter sido a anti- Igreja de Nossa tas. “Quase se conta a história da arte erguia-se aqui a igreja de Santa Maria Europa que tem estas características
ga grande sinagoga da cidade. Uma religiosa desde o gótico até à contem- Madalena, construída pelos templá- e data do século XVI.”
Senhora da Assunção
vez que não resistiu qualquer “docu- poraneidade só vendo estas igrejas.” rios. “Não se sabe se esta planta octo-
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mento escrito que nos indique ou fale É a principal igreja da cidade, cons- Mesmo atrás da antiga Sé, Æca uma gonal e centralizada é uma reminis-
da sinagoga”, “não podemos dizer truída no século XVI, num estilo das mais curiosas, “muito bonita”: a cência da igreja templária, que tinha
concretamente que era” aqui que se “tipicamente manuelino”. As obras
situava, mas existem vários pormeno- arrancaram cinco anos depois de
res que apontam nesse sentido. Elvas ser elevada a cidade por D. Fábrica Museu
Para além da “monumentalidade Manuel I, em 1517, e foi sede de bis-
da Ameixa de Elvas
do edifício” e da localização, Jesuíno pado entre 1570 e 1881.
aponta a distribuição da sala em três No interior da antiga Sé de Elvas, “A melhor ameixa de Elvas come-se
naves, as 12 colunas (as mais antigas encontramos todos “os símbolos típi- na Fábrica da Ameixa”, garante Rui
com a folhagem típica da decoração cos do manuelino”, como a cruz de Jesuíno. A produção de fruta conÆta-
medieval) e o facto de ter sido adap- Cristo, a esfera armilar, os arcos ner- da começou nos conventos da cidade,
tado a açougue público a partir do vurados e as portas laterais ornamen- alastrando-se depois a várias fábricas
século XVI, dessacralizando o espaço. tadas. Sofreu, depois, obras de adap- artesanais, especializadas na conser-
“Era o conspurcar daquilo que era tação ao barroco, no século XVII, com vação em açúcar de ameixas rainha-
um edifício religioso com algo que os a construção de duas capelas laterais. Cláudia. A Frutas Doces, inaugurada
judeus odiavam, que era o sangue e, E, já no século XVIII, surgem as cape- em 1919, “era uma das mais antigas”
especialmente, a carne de porco.” las em mármore e o grande órgão de e, para celebrar o centenário, foi
A partir da Casa da História Judaica, tubos, “uma das maiores peças em requaliÆcada e aberta ao público
traça-se o caminho para encontrar talha dourada a sul do Tejo”. Integra como fábrica-museu. Comprada em
“todos os restantes vestígios que exis- ainda um pequeno museu de arte 2017 por empresários locais, a socie-
tem na cidade, tanto de judeus como sacra na antiga Casa do Cabido. dade Sereno & Fonseca continua a
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muralhas
São lugares incontornáveis num passeio pela cidade
raiana, das igrejas à herança judaica, dos museus à
ameixa d’Elvas. Com uma novidade a caminho
FOTOS: RUI GAUDÊNCIO
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produzir a famosa ameixa de Elvas de toda a envolvente e que hoje aco-
nos velhos tachos de cobre, seguindo lhe o Museu Municipal de FotograÆa
o processo e a receita originais. João Carpinteiro. Estamos nas trasei-
É possível visitar o espaço (Rua ras da biblioteca municipal, “uma das
Martim Mendes, 16) e descobrir toda Castelo de Elvas mais antigas do país”, criada em 1880
a complexa arte de cozedura e calda no antigo colégio dos jesuítas e, mais
da iguaria, provar e, claro, levar para O castelo, localizado no topo da colina tarde, seminário episcopal do bispa-
casa. E já que falamos da ameixa de amuralhada, é outro testemunho do do de Elvas. O acervo conta com cer-
Elvas, sabia que ela nada tinha a ver período islâmico da cidade. Foi depois ca de 80 mil livros, edições modernas
com a sericaia? A cada doce o seu reconstruído nos séculos XIII e XIV, mas, sobretudo, do século XV ao XIX,
convento. A receita da ameixa nasceu adquirindo o traçado actual no século incluindo 29 incunábulos, “a maioria
no Convento das Domínicas e a seri- XVI. Votado ao abandono, foi o pri- vinda dos conventos”.
caia no Convento de Santa Clara. Foi meiro edifício a ser considerado Numa das salas, uma vitrina vai
a Pousada de Santa Luzia, a primeira Monumento Nacional, em 1906. expondo ciclicamente algumas das
a abrir em Portugal, em 1942, hoje Sofreu obras de restauro nas décadas obras mais notáveis da colecção,
Hotel Santa Luzia, que juntou as duas de 1930 e 1990, sendo actualmente como os manuscritos do Livro que
receitas numa única sobremesa. gerido pela Direcção Regional de Cul- Trata das Coisas da Índia e do Japão,
tura do Alentejo. “Ainda que não seja um deles assinado por São Francisco
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muito grande nem tenha nada a ver Xavier, ou o manuscrito “também
com a imponência das muralhas aba- único” do Cancioneiro de Elvas. “Uma
luartadas”, continua a ser um dos vez, encontrei aqui, dentro de um
espaços mais visitados pelos turistas. livro, parte de outro livro, todo dobra-
Igreja de Santa Maria da do. Era sobre o método de fortiÆcar
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holandês e estava assinado pelo arqui-
Alcáçova
tecto do forte de Santa Luzia. Com
“Mais um largo, mais uma igreja.” Já certeza, andava no bolso enquanto
nos encontramos na zona mais antiga fazia o forte, porque está cheio de
da cidade, no centro da medina de Museu de Arte traços e de apontamentos”, conta o
Ialbax, burgo árabe que aqui se erguia historiador. “É mais um tesouro que
Contemporânea de Elvas
temos aqui em Elvas.”
Desça-se agora até à Rua da Cadeia
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para visitar o Museu de Arte Contem-
i porânea de Elvas (MACE), inaugurado
em 2007 no edifício do antigo Hospi-
tal da Misericórdia. Gerido pela câma-
Museu de Arqueologia ra, apresenta a colecção privada de Museu Militar
e Etnografia António Cachola, um portefólio de
obras criadas por artistas portugueses Com 15 hectares, é um dos maiores
O antigo Quartel do Assento, con- desde os anos 1980, em diferentes museus em área total do país, inte-
vertido no século XIX em Manuten- disciplinas e versando diversas temá- grando o antigo convento de São
ção Militar, está a ser recuperado ticas. Do espólio, destaca-se A Noiva, Domingos, as casernas do Quartel do
para acolher o novo Museu de polémico candelabro de Joana Vas- Casarão, parte da cerca fernandina e
Arqueologia e EtnograÆa – António concelos. Actualmente, o museu da muralha seiscentista e a fonte de
Tomás Pires. Era aqui que outrora encontra-se encerrado “para substi- São José. Com a extinção do Regimen-
se armazenava a palha para os ani- tuição de algumas das infra-estrutu- to de Infantaria N.º 8, em 2007, as
mais e a farinha para fazer o pão ras técnicas”, lê-se no site. A reaber- antigas instalações do exército foram
nos enormes fornos do edifício: “A tura está prevista “para a segunda transformadas em museu, inaugura-
chamada ‘munição de boca’, ou quinzena de Outubro”. do dois anos depois. É aqui que se
seja, a comida para os soldados”. encontram hoje os únicos militares
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Agora, vai mostrar ao público o “há mil anos”. A igreja de Santa Maria que permanecem em Elvas.
património arqueológico do conce- de Alcáçova nasce, precisamente, da Ao longo das salas, vamos encon-
lho, desde o passado romano ao adaptação da antiga mesquita princi- trando diversas colecções militares do
espólio medieval e moderno “que pal da cidade a templo cristão. exército. Nas 18 alas que compõem as
vai sendo descoberto em diversas Com a conquista de Elvas, é logo Biblioteca Municipal antigas casernas descobrimos arreios,
escavações arqueológicas aqui na “transformada em igreja na década objectos ligados ao serviço de saúde,
cidade”, revela Rui Jesuíno, assim de 1230” e, até ao século XVI, mantém “Nasceram nesta ruazinha” os Bota- incluindo farmácia e uma mesa de
como “muito material etnográÆco “muito do que era o traçado da antiga fogo, família judaica que haveria de operações, serviços de transmissões,
que pertencia ao antigo museu mesquita.” Mas “a população não emigrar de Elvas para vários cantos uma cozinha móvel, equipamentos de
municipal”, incluindo diverso espó- No sentido dos ponteiros do gostava de vir aqui à missa porque era do globo e erguer o icónico bairro no veterinária, peças de artilharia e a
lio doado pelo antigo Grémio da relógio: Casa da História diferente das outras”, tendo sido pro- Rio de Janeiro. “Há turistas brasilei- recriação de uma trincheira, entre
Lavoura de Elvas e vários muníci- Judaica; Museu Militar; Museu gressivamente adaptada. Da velha ros que já vêm de propósito a Elvas outros. Há ainda quatro salões com
pes. De acordo com o presidente da de Arte Contemporânea; mesquita, encontram-se apenas ves- para fotografar a rua e procurar a viaturas (o museu integra uma parte
autarquia, Nuno Mocinha, aquando colecção de carros militares; tígios de um mirhab no exterior e a casa”, conta Rui Jesuíno. O palácio dedicada ao restauro de automóveis),
da visita da ministra da Cultura, no e antiga sé de Elvas grande cisterna subterrânea. “Tem da família foi, no entanto, transfor- dois salões de hipomóveis e uma sala
início de Junho, o museu deverá ser 1200 anos mas está perfeita”, aponta mado em quartel e demolido já no de doações inaugurada este ano, além
inaugurado “até Ænal do ano”. Rui Jesuíno, revelando que é intenção século XIX para dar lugar ao Cinema do Centro Interpretativo do Patrimó-
da autarquia torná-la visitável. Central, paralelepípedo que destoa nio de Elvas. Mara Gonçalves
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Dormir
O charme
do Tivoli Palácio
de Seteais perdura
há 65 anos
a Entregam-nos uma chave pesada rei, que o adquiriu à viúva de Gilde- um solar português. São estas as indi- Pitt ou Johnny Depp; ou da música,
e bojuda que entra com jeito na fecha-
dura antiga. Roda duas vezes e a por-
meester, três anos depois da morte
do holandês.
cações de Raul Lino.
A maioria destas peças perdura
como David Bowie ou os U2. i
ta abre-se para uma suíte onde as Foi o marquês que decidiu cons- até hoje e há algumas que conti- Casar e para
paredes forradas a papel, as altas por- truir um edifício semelhante ao pri- nuam a merecer destaque, como Tivoli Palácio de Seteais
sempre em Seteais
tas e janelas e todo o mobiliário com meiro, ligado pelo arco triunfal com um móvel que terá pertencido a Rua Barbosa du Bocage, 8
um toque clássico nos lembra que a efígie de D. João e D. Carlota Joa- Carlota Joaquina não para guardar Junto ao relvado, a directora Graziela 2710-517 Sintra
estamos num palácio. É o Tivoli Palá- quina, marcando assim a passagem jóias, mas ervas aromáticas; e um Vieira aproxima-se com uma caixa de Tel.: 219 233 200
cio de Seteais que celebra, no próxi- do príncipe regente e da mulher pela piano Steingraeber & Söhne, do plástico cheia de peças de prata. “Há E-mail: palacioseteais@tivoli-
mo dia 29, às 18h, a sua abertura há sua casa, em 1803. O nobre viria a século XIX – no mundo são conhe- tanta coisa!”, exclama, fazendo refe- hotels.com
precisamente 65 anos. morrer sem descendência, perden- cidos apenas três exemplares. rência a um depósito onde estão os www.tivolihotels.com
Se na festa de então, em 1955, este- do-se o palácio entre heranças e Em Seteais respira-se a história tesouros esquecidos de Seteais. Por Preços: a partir de 230€, com
ve presente o ministro da presidência sucessões até que, em 1946, foi antiga e a contemporânea quando aqueles dias, em meados de Agosto, pequeno-almoço incluído.
Marcello Caetano, desta vez, entre as adquirido pelo Estado. Cabe a Raul sabemos que por ali passaram e con- a responsável andava atarefada nos
entidades oÆciais estarão o presiden- Lino, director-geral dos Edifícios e tinuam a pernoitar Æguras das artes, preparativos da festa desta semana,
te da autarquia, Basílio Horta, e a Monumentos Nacionais, a decisão da literatura ao cinema. Marguerite onde gostaria de servir o mesmo
secretária de Estado do Turismo, Rita de transformá-lo num hotel, assu- Yourcenar, que se tornou uma hóspe- menu de há 65 anos.
Marques. A festa será no relvado que mindo o projecto de adaptação, de frequente, escreveu que estar ali é Este é um ano atípico porque se
outrora foi passeio público, aberto a refere Rodrigo Sobral Cunha, no como “regressar ao século XVIII fosse como os outros, no Verão,
todos os sintrenses, e onde no Ænal da livro Seteais em Sintra, uma edição como quem entra em casa”. Depois Seteais estaria fechado para casa-
década de 1990 ainda se faziam as de luxo que se encontra em cima da há nomes dos tempos áureos do cine- mentos. Pelo menos foi assim em
noites de bailado, numa parceria do secretária da suíte onde a Fugas é ma, como Burt Lancaster, aos mais anos anteriores. O palácio é muito A Fugas esteve alojada a convite
município com a Companhia Nacio- convidada a Æcar. recentes, como William Hunt, Brad procurado, sobretudo por famílias do Tivoli Palácio de Seteais
nal de Bailado. Também nesta terça- O espaço é respeitado durante as
feira, a dança voltará a Seteais. obras, os frescos originais de Jean-
Mas a história do palácio de Sintra Baptiste Pillement no Salão Nobre,
remonta ao século XVIII, quando foi que remetem para a Grécia Antiga,
construído pelo cônsul holandês para histórias de amor entre sereias
Daniel de Gildemeester, que detinha e tritões, numa paisagem onde a fau-
o negócio de exportação de diaman- na e a Çora tropicais se misturam com
tes, na conhecida Quinta da Alegria. a local, são recuperados; bem como
O edifício classicista foi inaugurado os da sala de apoio ao check-in, onde
com toda a pompa e circunstância a outrora era a sala das crianças – daí os
25 de Julho de 1787. Porém, o palácio motivos infantis, lembrando brinca-
como o conhecemos é da responsa- deiras antigas; ou os da sala de refei-
bilidade do quinto Marquês de Marial- ções. O palácio é ainda recheado de
va, Diogo José Vito de Menezes Noro- tapetes, sobretudo Arraiolos, mobi-
nha Coutinho, o estribeiro-mor do liário e decoração que lembram as de
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FOTOS: DR
Da Cervejaria ao Seen
a A chegada ao Tivoli Avenida da nha que agrade a toda a gente, onde estranhar que seja difícil fazer uma
Liberdade, em Lisboa, faz-se com haja diversidade. E o Seen tem uma reserva no Seen. À Fugas, Olivier da
toda a pompa. O concierge abre a cozinha cujos pratos têm sabor. Ele Costa revela que os seus restaurantes
porta do carro, carrega as malas. [Olivier da Costa] é uma pessoa mui- “já estão em velocidade cruzeiro” e
Por trás do acrílico e de máscara to completa porque tem origem na com alguns a duplicar a facturação.
posta, o check in é feito com toda a restauração e os seus restaurantes A sugestão é a de começar com um
simpatia pela recepcionista e a estão sempre cheios.” cocktail na esplanada, ver a cidade a
caneta com que assinamos é-nos E, em tempos em que os bares e as escurecer e as primeiras luzes a acen-
entregue num invólucro de plástico. discotecas estão fechados, não é de derem-se, ao som de música descon-
A caneta Æca para nós. No dia traída, para depois nos sentarmos e
seguinte, no spa Anantara, mais experimentarmos alguns pratos de
uma caneta depois de completa a
Æcha de cliente.
i cozinha japonesa e outros mais inter-
nacionais, como wagyu laminado
A preocupação com a limpeza e com molho chimichurry (45€), lin-
higienização já era uma constante, Tivoli Avenida da guini com molho trufado, parmesão
mas com a pandemia os cuidados Liberdade e cebolinho (22€) e concluir com um
redobraram-se. Os elevadores que Av. da Liberdade, 185 delicioso soufflé de doce de leite com
dão acesso a mais de 300 quartos 1269-050 Lisboa sorbet de goiaba (12 €). De regresso
são usados por um número mínimo Tel.: 213 198 900 ao quarto, há um champanhe de
de pessoas. As escolhas, ao peque- E-mail: avenidaliberdade@tivoli- boas-vindas que não deve ser desper-
no-almoço, são feitas ao lado de um hotels.com diçado. Bárbara Wong
empregado de máscara, tal como www.tivolihotels.com
nós, que é responsável por colocar Preços: a partir de 180€, com A Fugas esteve alojada a convite
todos os produtos na mesa. Ao pequeno-almoço incluído. do Tivoli Avenida da Liberdade
almoço, na Cervejaria Liberdade, FOTOS: DR
com porta aberta para a Avenida,
depois de nos sentarmos, é-nos
dado um saco onde depositamos a
estrangeiras, que alugam o hotel obras, conÆdencia. máscara. À mesa chega um pão tor-
completo, os 30 quartos, e, às vezes, Todo o serviço é feito de maneira rado de Mafra com manteiga clariÆ#
ainda ocupam quartos no Tivoli Sin- muito cuidada e atenta às necessida- cada (3€), arroz malandrinho de
tra, no centro da vila, alugando des dos clientes. Do pequeno-almoço mariscos da nossa costa (37,50€)
transporte para os convidados se ao spa, passando pela recepção e ser- para duas pessoas e pica-pau de
deslocarem até Seteais. viço de limpeza. Por causa da covid-19 novilho, alho, louro e batata frita
Patrícia Gonçalves, da recepção, é-nos pedido para escolhermos uma caseira (24€). O almoço termina
descreve como são esses dias: a ceri- hora de pequeno-almoço, de manei- com tarte de maçã caseira com gela-
mónia pode ser feita no Jardim dos ra a que essa atenção não seja descu- do de canela (9€).
Limoeiros ou no Salão Nobre. Os rada. A refeição é feita com calma e “É importante que as pessoas sai-
festejos acontecem no piso térreo, num ambiente que pede conversas bam que temos um protocolo de
onde Æca o bar e o restaurante, em volume baixo para não incomo- higiene nosso, outro com o selo
espaço esse que pode ser transfor- dar os outros hóspedes. A maioria Clean & Safe e que há auditorias
mado para dançar. Há eventos que casais, mas há também famílias com internas com delegados de higiene
podem durar vários dias, por exem- Ælhos pequenos que respeitam o e segurança para garantir o previsto
plo quando os noivos são do Orien- espaço onde se encontram. pela Direcção-Geral de Saúde”,
te ou do Médio Oriente, mas há Depois, há a piscina, os courts de resume Miguel Garcia, director-ge-
também muitos norte-americanos ténis, mas também a ida à vila, que ral do grupo. “Queremos divulgar
e brasileiros que escolhem Sintra. convém ser feita a pé. São dez minu- Portugal como um destino seguro”,
Há ainda espaços para casamentos tos, sempre a descer, serão pouco acrescenta, lembrando que o Tivoli
mais pequenos como o da Meia Laran- mais de dois de automóvel, mas a Avenida da Liberdade foi o primeiro
ja, um pequeno terreiro entre o jardim câmara interditou a passagem dos cinco estrelas da capital a reabrir
e a piscina, com vista para o mar – lá veículos, o que os obriga a ir dar uma portas depois do conÆnamento, a
ao longe –, onde em ano de pandemia enorme volta até Colares, voltar à 31 de Julho. “Tínhamos uma respon-
um casal decidiu unir-se na presença direita, em direcção novamente a sabilidade histórica para com a cida-
dos pais e padrinhos, respeitando as Sintra, e percorrer uma dezena de de. Temos 87 anos de história”,
regras da Direcção-Geral de Saúde, quilómetros, serra acima, serra abai- justiÆca.
assinala a responsável. xo, curva e contracurva. Também o Seen, no último piso do
E quem casa, volta, conta à noite Esta é a maior queixa de Graziela hotel, com vista larga sobre a cidade,
o empregado que serve o jantar. Vieira, assim como de todos os fun- reabriu e tem estado cheio noite
Como aquele casal que vem todos os cionários de Seteais com quem a após noite, testemunha o chefe de
anos e quer sentar-se sempre na Fugas falou. Uma volta que no Inver- sala. A escolha de fazer uma parceria
mesma mesa ou outros que regres- no se torna perigosa sobretudo à noi- com Olivier da Costa surgiu porque
sam só para celebrar datas redondas, te, pela serra, diz um deles. Por isso, Miguel Garcia queria um espaço que
como as bodas de prata, e trazem a calce uns sapatos confortáveis, desça, se tornasse icónico entre os lisboe- Dormir em pleno centro da cidade
família. Houve mesmo um casal que espreite a Quinta da Regaleira e as tas, mas também entre os clientes do e experimentar os restaurantes
deu conta da sua tristeza num ano suas misteriosas construções e entre hotel: “Queríamos algo para um do Tivoli num ambiente de luxo
em que Seteais esteve fechado para na Sintra romântica! público descontraído, com uma cozi- mas descontraído.
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Gastronomia
Terroir: um balcão,
uma cozinha criativa
e uma janela aberta
para o vinho
Pratos descontraídos, harmonizações
com vinho. O Terroir já nasceu adaptado à pandemia:
há uma simpática janela e um mapa para quem optar
pela versão piquenique. Alexandra Prado Coelho
a Quem entrar na casa-de-banho do encontro com o chef Miguel Vaz (que
Terroir, o novo restaurante que abriu passou por cozinhas como as do 100
na Rua dos Fanqueiros, em plena Bai- Maneiras, Fortaleza do Guincho,
xa lisboeta, e vir uns bichinhos, de um Herdade do Esporão, e foi chef exe-
tamanho considerável, a subir por cutivo no Bairro do Avillez) veio dar
uma parede, não tem que se assustar. nova ambição e o que o Terroir pro-
Não se trata de uma praga – ou melhor, põe hoje é uma cozinha descontraí-
foi uma praga, sim, mas nunca atacou da, mas “com um toque de autor”,
restaurantes. O bichinho da Æloxera, para comer de preferência ao balcão,
que destruiu as vinhas por toda a o lugar ideal para ver Miguel Ænali-
Europa e outras zonas do mundo nos zar os pratos, que vão desÆlando à
Ænais do século XIX, tem aqui uma nossa frente, harmonizados com
discreta homenagem. diferentes vinhos.
Criados pela artista Daniela Rodri- Há, para já, dois menus de degusta-
gues, os “bichos” escapam-se da ção, um com “nove momentos” e mais
casa-de-banho e revelam-se nas “inÇuências do mundo”, outro um
várias fases da sua evolução num pouco mais curto, com seis momen-
caminho até ao lavatório, situado tos. E, para marcar o estilo, começa-
numa zona exterior, recordando-nos
uma história antiga, que podia ter i mos com um guacamole servido gela-
do (e num pau de gelado) com corn-
sido o Æm da produção de vinho na flakes picantes. Percebemos, com esta
Europa e em Portugal. Felizmente Terroir brincadeira, que estamos aqui para
não foi, e graças a isso hoje Portugal Rua dos Fanqueiros, 186, Lisboa uma refeição que se pretende diverti-
é um país de vinho – e o Terroir quer Tel.: 218 873 823 da e surpreendente sem se impor
ser uma montra do que de mais inte- Email: demasiado - um pouco como “uma
ressante existe nesse campo. info@terroirrestaurante.pt barra espanhola, descontraída sem
Erik Ibrahim, que é, juntamente Instagram ser relaxada”, resume o chef.
com a mulher, Inês Santos, proprietá- https://www.instagram.com/ Miguel Vaz foi desenvolvendo
rio deste novo espaço – ao qual gostam terroir.restaurante/ algumas ideias e, em certos casos,
de chamar “atelier gastronómico” – Facebook confessa-se até admirado pelo suces-
explica que o que se pretende com o https://www.facebook.com/ so que alguns pratos tiveram. É o
Terroir é precisamente cruzar os uni- terroirlisboa/ caso do de batata doce roxa com
versos do vinho e da comida. Não é Horário: quarta e quinta, das leguminosas cozidas a baixa tempe-
por acaso que o balcão, em mármore, 18h às 19h30 na janela para o ratura, avelãs e azeite de trufas. O
tem a forma de meia garrafa. A carta exterior e das 19h30 às 23h para efeito visual é muito bem consegui-
de vinhos inclui cerca de trinta refe- refeições. De sexta a domingo, do, pela cor da batata, mas é o sabor
rências, criteriosamente escolhidas das 12h30 às 15h e das 18h às que nos deixa rendidos, com os con-
pelo sommelier Rudolfo Tristão, que 19h30 na janela para o exterior, trastes a dar um equilíbrio que torna
foi professor de Erik e Inês quando e das 19h30 às 23h para este prato de aconchego o mais ines-
estes passaram pela Escola de Hotela- refeições quecível da refeição.
ria e deixou-lhes este outro “bichi- Preço médio: A Bola de Berlim com recheio de
nho”: o fascínio pelo vinho. 27€ (seis momentos), bacalhau e chouriço de porco preto
Inicialmente, a ideia era ter umas 35€ (nove momentos); assado tornou-se já um dos mais
“tapas criativas”, diz Erik, mas o pairing de vinhos: 20€ emblemáticos da ainda curta vida do
Sábado, 26 de Setembro de 2020 | FUGAS | 19
FOTOS: DR
Lat.A: há fiesta
restaurante (não valia a pena concor-
rer com a memória que as pessoas
têm dos pastéis de bacalhau, por isso
é outra coisa, explica Miguel, um fã
latino-americana
confesso de Bolas de Berlim); as ostras
com dashi e coco são óptimas e cum-
prem a função refrescante que se
espera delas; os fígados de galinha
com aipo de coentrada, carameliza-
dos, são muito bons, constituindo um
desaÆo pela sua intensidade, que o
aipo ajuda a cortar (é servido com um
nas Docas
Vinho de Carcavelos, Villa Oeiras, 7
anos); a barriga de porco com Ægos
secos cozidos em calda de chá fuma-
do é também muito saborosa no seu A preocupação foi também a de ter
jogo entre o doce e o salgado (acom- Alexandra Prado Coelho uma oferta de qualidade com um pre-
panhada pelo Laranja Mecânica, um ço acessível. É verdade que todos os
vinho de curtimenta de António a Uma das palavras mais ouvidas restaurantes se estão a debater neste
Maçanita); e, nos doces, os frutos ver- desde que a pandemia de covid-19 momento com a grande diminuição
melhos, lima e manjericão vêm mais virou as nossas vidas do avesso foi do número de estrangeiros em Lis-
uma vez dar leveza e frescura antes
da intensidade da segunda sobreme-
i “reinventar”. O Grupo Capricciosa
olhou para o seu restaurante Doca
boa, mas Ana garante que “o Grupo
Capricciosa sempre trabalhou sobre-
sa, de chocolate, miso, funcho e men- de Santo, nas Docas, junto a Alcân- tudo para um público nacional”.
ta (isto para quem optar por comer o Lat.A tara, em Lisboa, e decidiu fazer isso
menu, claro, dado que a opção à car- Armazém CP Doca de Santo mesmo. Uma parte da Doca de San- Carta passeia
ta também existe). Amaro, Lisboa tos continua a ser como sempre a
pela América Latina
Não foi fácil encontrar um espaço Tel.: 210 935 386 conhecemos, mas a área de cima,
na Baixa – estávamos ainda no perío- E-mail: que@lata.com.pt com uma esplanada e um confortá- Depois do período do conÆnamen-
do pré-pandemia e as ruas da Lisboa www.lata.com.pt vel espaço interior, é agora o Lat.A, to, reabriram, ainda a tentar medir
histórica tinham mais estrangeiros do Horário: todos os dias, das 12h um restaurante de comida da Amé- o pulso à situação, mas rapidamen-
que os que parecia possível gerir. Mas, às 15h30 e das 19h à meia-noite rica Latina. te perceberam que, com os devidos
depois de uma experiência de hote- Preço médio: 20/25€ A ideia é, explica Ana Arié, direc- cuidados, as pessoas queriam voltar
laria na China e de vários anos afasta- tora-geral do grupo, apresentar um a sair e a frequentar restaurantes. A
dos deste universo, Inês e Erik sabiam conceito festivo, que leve as pessoas resposta? Uma esplanada exterior,
bem o que procuravam. a querer sair de casa e a descontrair um bar de margaritas, piscos, caipi-
Quando encontraram este espaço longe de preocupações com as rinhas e mojitos, e vários outros
na Rua dos Fanqueiros, (o projecto regras a que todos somos obrigados cocktails, empregados com t-shirts
arquitectónico é da Involve, executa- neste momento. Garantindo, ao a perguntarem “Qué pasa?” e uma
do pelo DarkStudio) planearam-no mesmo tempo, que se sentem em carta que oferece alguns dos pratos
muito em função da experiência ao segurança – os dispensadores de mais conhecidos de diferentes paí-
balcão, sobre o qual paira um can- álcool-gel não apenas à entrada, ses latino-americanos – do pão de
deeiro-nuvem desenhado por Miguel mas em cima de cada mesa servem queijo e biscoitos de polvilho do
Arruda, Æzeram uma parede de espe- precisamente esse propósito. Brasil aos tacos de camarão com
lho para lhe dar profundidade, e con- O projecto foi montado com algu- abacate, passando pelos pastéis de
vidaram o artista plástico Martinho ma rapidez, e, conta Ana Arié, com frango e catupiry com pico de galo
Pita a criar uma peça que, à seme- a colaboração de toda a equipa, que ou os de bobó de camarão, do arroz
lhança do bichinho da Æloxera, tam- participou nomeadamente na deco- de rabada à moqueca de corvina,
bém remete para a vinha, com ramos ração. “Foi um trabalho muito com passagem pela picanha grelha-
de videira a sair do espelho como se engraçado, de criatividade conjun- da com arroz, feijão e farofa. Para os
este fosse água. ta e acho que o restaurante tem um vegetarianos, há um hambúrguer
“Já nascemos com a pandemia. Não óptimo astral por causa disso”, diz, vegan com guacamole feito com o
tivemos que nos reinventar”, diz Erik, orgulhando-se por esta abertura famoso Beyond Meat.
sorrindo. A operação foi pensada já “um bocadinho em contraciclo”. A carta, em eufórico fundo ama-
tendo em conta as necessidades do FOTOS: DR
relo com araras, cactos, sombreros,
distanciamento social – e a generosa o Cristo Rei e uma bola de futebol,
janela é parte importante disso. Ao mostrando bem a mistura assumi-
Ænal da tarde há um período em que damente divertida e sem grandes
todo o serviço é feito apenas à janela. pretensões a um rigor de restauran-
É possível, aí, pedir alguns dos peque- te étnico, anuncia ainda a feijoada à
nos pratos e acompanhá-los com um brasileira todos os Æns-de-semana
cocktail (a maior parte são vínicos) ou (35€ para duas pessoas).
com um copo de vinho. Nas sobremesas, há um Romeu e
Ou ainda, optar por uma ideia ori- Julieta não tão tradicional como isso
ginal: encomendarmos o que se qui- (com a goiaba em gelado e uma
sermos, e levar um cesto de piqueni- espuma de queijo), mas no qual vale
que para comer onde nos apetecer. a pena meter a colher, um ceviche
Se formos estrangeiros ou simples- doce de manga e papaia com sorve-
mente conhecermos mal Lisboa, o te de limão, e um Te Quiero – não
Terroir oferece um bonito mapa (com vamos revelar em que consiste para
ilustração de Ana Gil) para nos orien- não estragar a surpresa, mas pode-
tarmos e podermos encontrar um mos dizer que, se o objectivo for
espaço verde ou um banco confortá- passar despercebido, é melhor Æcar-
vel para Æcarmos a comer – ao ar livre se pelo brigadeiro gigante – é, garan-
e com distanciamento social. tidamente, mais discreto.
20 | FUGAS | Sábado, 26 de Setembro de 2020
i
Eira do Pato Ougado
Parque do Carreiro Velho
3770-062 Oiã
Tel.: 916 611 008
E-mail:
palatusdivinus@gmail.com
Horário: Almoços das 12h às
15h15 e jantares das 18h50 às
23h (encerra à segunda e
terça-feira).
Preços: parafuso a 13,50€,
aletria de línguas de bacalhau a
16€, costeletão maturado
Rubia Galega a 44€
(duas pessoas), paelha com
arroz selvagem a 30€ e risotto
de alfazema, beterraba
e hortelã a 13€.
à beira da Pateira
como os noodles com legumes ou o
risotto de alfazema, beterraba e hor-
telã. Tudo receitas que, a médio pra-
zo, bem podem vir a ser reunidas
num livro, anuncia.
A carta de vinhos também tem pro-
a Foi amor à primeira. E à distância.
A ligação estabeleceu-se através de Plantado num para preparar a mesa para outra
reserva”, assegura. Outra das regras
ÆlosoÆa”, sustenta o empresário.
A carta da casa não é Æxa – há um
postas para todos os gostos, com
especial destaque para os rótulos do
uma foto enviada pela Internet. David
Rocha estava na Tailândia quando
pequeno paraíso de ouro da casa passa por não servir
refrigerantes – são substituídos por
menu para cada dia da semana –, mui-
to por conta dessa aposta “nos produ-
Douro e da Bairrada. “Dou preferên-
cia aos artistas do vinho, a enólogos
recebeu uma imagem do local que é
hoje ocupado pelo restaurante Eira
natural, o sumos de fruta natural – , nem pro-
dutos com açúcar reÆnado. “Somos
tos da época”. “A ementa vai sendo
deÆnida a partir do que há de fresco a
como a Filipa Pato, a Maria João Pato,
o Tiago Sampaio ou o António Dinis”,
do Pato Ougado. Directamente da
Ásia, apregoou: “Esse espaço é para
Restaurante Eira uma casa anticoca-colas”, alerta
David Rocha, explicando que tenta
cada semana”, justiÆca, ao mesmo
tempo que garante dar primazia aos
realça o empresário nascido no Cana-
dá, mas com família e origens no
mim.” Assim nascia, há cerca de ano
e meio, uma história que junta gastro-
do Pato Ougado imprimir no seu negócio a sua Æloso-
Æa de vida. “Uma vida sã, com quali-
produtos locais. “Gosto de ir buscar
peixe à Vagueira e de ir comprar pão
município de Vagos.
David Rocha tem 49 anos e confes-
nomia, bem-estar e artes. A Eira do aposta nos dade”, argumenta. a Vale de Ílhavo”, exempliÆca. A esta sa-se um apaixonado pela área da
Pato Ougado é muito mais do que um É também por conta desses princí- preocupação com a origem e qualida- restauração, enaltecendo esse que é
restaurante e a culpa é, em grande produtos pios que a Eira do Pato Ougado dá de dos ingredientes, junta-se, depois, “um dos maiores prazeres da vida,
parte, do paraíso onde está plantada,
a Pateira (a grande lagoa natural que sazonais. Os palco privilegiado às artes, nas suas
mais variadas formas. Pintura, escul-
um certo toque artístico. “A carta tem
sempre umas pitadas criativas”, des-
comer bem”. Chegou a ter um wine
bar em Aveiro,
Aveir igualmente com “uma
se estende pelos concelhos de Águe-
da, Aveiro e Oliveira do Bairro). refrigerantes e o tura, música, entre outras, têm lugar
cativo naquele pequeno recanto do
cozinha criativa”,
criat
chegou a sug
e no dia em que lhe
sugestão para vir a explorar
Rodeada de vegetação e de água, a
estrutura de madeira onde o restau-
açúcar reƊnado município de Oliveira do Bairro. Nes-
te momento, por exemplo, está a
um restaura
restaurante junto à pateira estava
a negociar a abertura de um negócio
rante se encontra instalado tem todas
as condições para proporcionar ver-
foram excluídos decorrer, aos sábados, um ciclo de
concertos ao pôr do Sol. O circui-
Tailândia. Acabou por regressar a
na Tailândia
Po
Portugal, assentando
dadeiros momentos de relaxamento
a quem ali acorre. “O objectivo é que
da carta. Maria to “São 7 na Eira” junta gastro-
nomia, música e artes visuais,
arraiais na região onde tem
ar
as suas origens e abrindo
as pessoas consigam aproveitar todas José Santana durante todos os sábados de um restaurante
r onde até o
estas experiências”, realça David Setembro. “Adoro arte e acho que nome é original.
orig “Eira e pato vêm de
Rocha, notando o facto de a Eira do (texto) e Adriano eventos com pintura ao vivo, poesia pateira; ouga
ougado é o nome de um gru-
Pato Ougado não rodar mesas. “Recu-
so-me a estar a despachar as pessoas Miranda (fotos) ou música, combinam na perfei-
ção com este espaço e a nossa
po de chefes e cozinheiros ao qual eu
pertenço”, d descodiÆca.
Sábado, 26 de Setembro de 2020 | FUGAS | 21
Vinhos
Vinhos
Os vinhos aqui apresentados são, na sua maioria, novidades que chegaram recentemente
ao mercado. A Fugas recebeu amostras dos produtores e provou-as de acordo
com os seus critérios editoriais. As amostras podem ser enviadas para a seguinte morada:
Fugas — Vinhos em Prova, Rua Júlio Dinis, n.º 270, bloco A, 3.º 4050-318 Porto
55 a 70 71 a 85 86 a 94 95 a 100
91 88 84
Casal de Sta.Maria
Mar de Rosas 2019
Um rosado Esporão Colheita
Branco 2019
Quinta do Paral
Rosé 2019
Casal de Sta. Maria
Colares
muito Herdade do Esporão, Estremoz
Região: Alentejo
Quinta do Paral, Vidigueira
Região: Alentejo
Região: Colares
Castas: Syrah, Touriga Nacional sugestivo Castas: Antão Vaz, Viosinho,
Alvarinho e outras
Castas: Syrah
Graduação:13,5% vol
e Pinot Noir Graduação:14% vol Preço: 8,80€ (recomendado
Graduação: 12,5% vol
Preço: 20 €
e sério Preço: 9,70€ (onwine.pt) pelo produtor)
asofia.cs
O Parque Nacional da Peneda-Gerês,
através da lente de Sofia Santana
FUGAS N.º 1053 FICHA TÉCNICA Fotografia da Capa: Diogo Ventura Direcção Manuel Carvalho Edição Sandra Silva Costa Edição fotográfica Nelson Garrido Directora de Arte Sónia Matos Designers Joana Lima e José Soares
Infografia Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, José Alves e Francisco Lopes Secretariado Lucinda Vasconcelos Fugas Rua Júlio Dinis, nº270, Bloco A, 3º, 2, 4050-318 Porto. Tel.: 226151000. E-mail: fugas@publico.pt. www.publico.pt/fugas
7.ª EDIÇÃO
23 A 25 DE
OUTUBRO
Vi j p
Viaje pelo
l Este ano, o maior evento do mundo de vinhos
portugueses é online, mas mantém a tradição:
divulgar a premiada vinicultura portuguesa através
dos seus protagonistas, os produtores portugueses.
Este evento de três dias realizado com a Globo inclui
62 sessões e 15 provas de vinho, comentadas por
mund
mundo
d d dos
do um painel de críticos luso-brasileiros
Luís Lopes
vi h
vin
vinho
vinhos Crítico português,
fundou a Revista de Vinhos.
É o actual director da revista
Grandes Escolhas
portugueses
p t g 24 DE OUTUBRO / 16H30 - 17H30
Portugal: A Excelência na Diversidade
25 DE OUTUBRO / 17H20 ÀS 18H20
Grandes Tintos do Douro
25 DE OUTUBRO / 22H40 - 23H40
Alentejo Clássicos e Modernos
os
20 acess ra
o s pa
exclusiv s
as s in a n te
por p ro va
INSCREVA-SE:
Aponte a câmara do seu telemóvel para este código para se inscrever
nas provas ou nas palestras. Ou vá a publico.pt/vinhosdeportugal2020
Cada prova de vinhos está limitada a 20 acessos exclusivos para assinantes. Entregas em 48 horas úteis para Portugal Continental, com portes de envio de gratuitos, Tem questões? Nós ajudamos. Contacte assinaturas@publico.pt
ou levantamento no Edifício Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte, Lisboa. É proibida a venda de álcool a menores de 16 anos. Seja responsável, beba com moderação. ou ligue 808 200 095 (dias úteis das 9H às 18H).
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