Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
camponesa
no rasil
ariovaldo de oliveira
a agricultura
camponesa
mo brasil
a agricultora
camponesa
no [offasi!
a o v a l d o umbeSino de oliveira
S i s t e m a Al ex a nd r i a
A.L.: 1110912 <f| < 0561
Tombo : 3 92 1
fi s é í s ^ m iI
E D I T O R A
a agricultura camponesa no Brasil. Como limite da exploração para o camponês parcelário não
O primeiro capítulo deriva do trabalho “A Questão Agrária” aparece, por um lado, o lucro médio do capital, enquanto ele é
apresentado no 4- Encontro Nacional de Geógrafos - AGB realiza pequeno capitalista; nem tampouco, por outro lado, a necessi
do no Rio de Janeiro em 1980 e publicado nos anais daquele evento. dade de uma renda, enquanto ele é proprietário da terra. Em
O segundo e terceiros capítulos têm origem no texto publicado em sua condição de pequeno capitalista, não aparece para ele, co
mo limite absoluto, outra coisa senão o salário que paga a si
1988, no Boletim Paulista de Geografia n- 66 sob o título “O Campo mesmo, após a dedução dos custos propriamente ditos. En
Brasileiro no Final dos Anos 80”. O quarto e quinto capítulos são quanto o preço do produto cobrir seu salário, ele cultivará suas
oriundos de dois trabalhos apresentados no 5- Encontro Nacional de terras, e isso com freqüência até chegar a um mínimo físico do
Geógrafos - AGB, realizado em Porto Alegre em 1982 e que estão salário...
publicados no livro 2 - volume II dos anais daquele encontro. Já o Uma parte do trabalho dos camponeses que trabalham sob as
piores condições é dada gratuitamente à sociedade e nem se
sexto Capítulo, foi originalmente publicado em 1989 na revista Tra quer entra na regulação dos preços de produção ou formação
vessia n2 3 do Centro de Estudos Migratórios - CEM - São Paulo do valor em geral. Esse preço mais baixo é, portanto, um re
com o título “Paraíso e Inferno na Amazônia Legal”. sultado da pobreza dos produtores e, de modo nenhum, da pro
Não pretendemos cair na apologia, ou no caminho único. Mas dutividade de seu trabalho (Marx, 1984: 1024/5).
de uma coisa temos certeza: a contradição que move a lógica do ca
pital, certamente, é o móvel revelador do desenvolvimento desigual Assim, o rumo só pode ser um. A necessidade da discussão da
e combinado do campo brasileiro - este campo que ao mesmo tempo lógica que preside o desenvolvimento do modo capitalista de produ
que abre espaço para o avanço do trabalho assalariado, igual e con ção. Penetrar em seus segredos, vasculhar suas especificidades, tal
traditoriamente, abre espaço ao avanço do trabalho familiar. vez seja um recado antigo mas válido ainda para se chegar a um ca
Entender essa contradição não é tarefa fácil, sobretudo quando minho fértil.
estamos submetidos à “cegueira” de posições políticas apriorísticas,
“urbanas”, que mais servem para falar do e no “campus”, como tem
lembrado José de Souza Martins, do que explicar o campo.
Nesse sentido, dois entre muitos outros recados deixados por
Marx no último volume de O Capital, seguramente ainda continuam
atuais.
16 17
capital, numa próxima etapa do processo de produção, poderá ser
CONTRADIÇÕES DO DESENVOLVIMENTO destinado à contratação de bóias-frias, por exemplo, e então se esta
rá implantando o trabalho assalariado na agricultura.
CAPITALISTA NA AGRICULTURA
Vejamos um caso. Um fazendeiro que desenvolve pecuária de
corte —invemada —no oeste do Estado de São Paulo precisa ter
sempre em boas condições as pastagens de sua propriedade e manter
um conjunto de trabalhadores assalariados para cuidar do rebanho.
Quando as pastagens estiverem desgastadas pelo pastoreio do gado,
elás terão que ser refeitas ou, como se diz na região: “o pasto tem
que ser tombado”. Para refazer a pastagem o fazendeiro pode deslo
car ou contratar trabalhadores assalariados para arar a terra, adubá-la
e semear capim, esperá-lo crescer, para depois soltar novamente o
gado na área.
Nem sempre isso ocorre. Muitas vezes, esse fazendeiro, ao in
O desenvolvimento capitalista se faz movido pelas suas con vés de destinar uma parte do seu capital para realizar a tarefa de re
tradições. Ele é portanto, em si, contraditório e desigual. Isto signi fazer o pasto, arrenda a terra a camponeses sem-terra ou com pouca
fica que para seu desenvolvimento ser possível, ele tem que desen terra na região, para que eles façam o trabalho por ele. Esse arren
volver aqueles aspectos aparentemente contraditórios a si mesmo. damento pode ser de várias formas, entre elas a de dividir parte da
Vamos encontrar no campo brasileiro, junto com o processo produção obtida no solo durante uma colheita de algodão, amen
geral de desenvolvimento capitalista que se caracteriza pela implan doim, milho, etc. O fazendeiro entra com a terra e por isso recebe
tação das relações de trabalho assalariado (os bóias-frias, por exem metade, ou um terço ou um quarto ou uma porcentagem previamente
plo), a presença das relações de trabalho não-capitalistas como, por estipulada da produção obtida. Também, pode cobrar uma quantia
exemplo, a parceria, o trabalho familiar camponês, etc. em dinheiro pela cessão da terra. No primeiro caso, temos a parceria
c, no segundo, a renda em dinheiro. Em seguida o camponês planta,
por um ano ou menos ainda, um produto na terra que era ocupada
pela pastagem. Após a colheita, ou ele entrega parte da produção ao
A PRODUÇÃO DO CAPITAL fazendeiro ou vende a safra e paga em dinheiro a quantia estipulada
previamente no contrato de arrendamento. Em seguida, semeia o ca
pim na tenra e entrega/devolve a área ao fazendeiro, que aguardará
A utilização dessas relações de trabalho não-capitalistas poupa apenas o crescimento do capim e terá o pasto reformado, sem que
ao capitalista investimentos em mão-de-obra. Ao mesmo tempo, ele para tal, tenha gasto parte de seu capital.
recebe parte do fruto do trabalho desses parceiros e camponeses, que Ora, o que esta relação revelou? Revelou que o próprio capital
converte em dinheiro. Assim, realizam a metamorfose da renda da pode lançar mão de relações de trabalho e de produção não-capita
terra em capital. listas (parceria, familiar) para produzir o capital.
Este processo nada mais é do que o de produção do capital, E, como isso foi possível? Foi possível através da transferência
feito através de relações não-capitalistas. Uma vez acumulado, este da renda da terra em produto, quando da parceria, ou em dinheiro,
18 19
quando o pagamento foi feito em dinheiro, e/ou em trabalho, pelos
camponeses, parceiros ou rendeiros que deixaram o pasto refeito A TRANSFORMAÇÃO DOS CAMPONESES
sem terem recebido salário algum por esse trabalho. Isso quer dizer UM CAPITALISTAS
que o fazendeiro não só cobrou renda pela cessão da terra, como fi
cou com parte da produção (em mercadoria ou dinheiro) e ainda fi
cou com o pasto renovado, ou seja, não pagou os dias de trabalho do É importante tocarmos neste ponto: o nascimento da classe ca
camponês, se apropriando desse trabalho gratuitamente. pitalista no campo, que segundo a história, teve origem naquela fase
Como se vê pelo exemplo, o fazendeiro, um capitalista, para inicial do capitalismo, quando o comércio dominou (mercantilismo).
aumentar o seu capital (para produzi-lo), abriu possibilidade para a O processo de nascimento de novos integrantes da classe capitalista
criação e a recriação do trabalho camponês, igualmente necessário continua. Vários fatores podem gerar a criação de novos capitalistas.
ao desenvolvimento geral do capitalismo. Por exemplo, o setor tecnológico (máquinas, fertilizantes, sementes
Outros exemplos desse processo de desenvolvimento contra selecionadas, agrotóxicos, etc.). Para aumentar a produção de ali
ditório do capital ocorreram em áreas ditas de “fronteira”, aquelas mentos nas fazendas capitalistas, esse arsenal tecnológico entrou no
que ainda não tinham sido abertas pelos fazendeiros. No Mato Gros inercado e está à disposição dos camponeses. Através do trabalho
so, por exemplo, é comum um fazendeiro entregar uma parte da mata lamiliar eles podem aumentar sua produção, mesmo sem ampliar
ao camponês sem-terra para que a derrube e plante arroz, feijão, suas terras. Dessa forma, uma família camponesa pode estar produ
mandioca, etc., durante um, dois ou três anos e depois semeie capim, zindo muito além do necessário a sua sobrevivência e com isso acu
transformando a área em pastagem. Dessa forma, o trabalhador, ao mulando. Esse dinheiro poderá ser destinado a aumentar suas terras
entregar a área com capim semeado, “evitou” que o fazendeiro gas e/ou contratar trabalhadores assalariados para trabalhar para ela.
tasse parte do seu capital para desmatar a área e prepará-la para se Quando isso ocorre, seus membros (filhos, pai e mãe) deixam de
mear o capim. Irabalhar na produção, passando a cuidar apenas das tarefas da ad
ministração e comercialização da produção, tomando-se, pois, pe
Outros exemplos podem ser citados, como o caso dos projetos quenos capitalistas.
de colonização particulares, onde o grande latifundiário loteia parte Capitalistas são, portanto, todos aqueles que, possuidores de
de suas terras revendendo-as a pequenos camponeses. O dinheiro capital, destinam-no à produção. Na agricultura, adquirem terras e
obtido pela venda da terra loteada - a renda da terra - vai ser trans outros meios de produção e contratam trabalhadores para trabalha
formado em capita] para o fazendeiro/latifundiário loteador. rem para eles em troca de um salário.
Portanto, o que podemos concluir desse processo de desenvol Dessa forma, estamos diante de uma relação de trabalho e de
vimento desigual e contraditório do capitalismo, particularmente no produção baseada na exploração do trabalho alheio, diferente daquela
campo, é que estamos diante da sujeição da renda da terra ao capital. baseada na família, numa unidade camponesa, onde a família trabalha,
O que significa dizer que o capital não expande de forma absoluta o em tese, para si própria. Ou, então, naquela baseada na parceria, onde
trabalho assalariado, sua relação de trabalho típica, por todo canto e a produção é dividida entre o proprietário da terra e o trabalhador.
lugar, destruindo de forma total e absoluta o trabalho familiar cam Isso não quer dizer que não haja exploração também nessas
ponês. Ao contrário, ele, o capital, o cria e recria para que sua pro relações de trabalho; e a exploração é diferente. No capitalismo, o
dução seja possível, e com ela possa haver também a criação, de no trabalhador não é dono nem pode dispor do produto de seu trabalho.
vos capitalistas. Em troca da cessão de sua força de trabalho, recebe uma quantia em
20 21
dinheiro: o salário. Enquanto na parceria, ele é proprietário de parte mentar a produção toma mais dinheiro emprestado, conseqüente
da produção, podendo dispor dela da forma que desejar e, evidente mente aumenta a dívida, o que faz com que ele tenha que exportar
mente, não recebendo dinheiro algum pelo trabalho despendido para ainda mais; logo, os preços internacionais tendem também a cair
produzir a parte da produção que fica com o proprietário da terra. muito mais.
Observar e entender essas diferenças é fundamental para en E por isso que temos assistido no Brasil, nas últimas décadas,
tendermos o processo contraditório e desigual de desenvolvimento a uma expansão violenta das culturas de produtos de exportação, qua
do capitalismo em geral. Essas desigualdades e contradições são ou se sempre em detrimento daqueles produtos destinados ao mercado
podem ser diferentes quer social quer territorialmente. interno, para alimentar a população brasileira.
Isso significa que, para entendermos a distribuição social e/ou Outras vezes, o que assistimos é a alteração rápida dos hábitos
territorial das desigualdades e contradições do desenvolvimento ca alimentares da população em decorrência da expansão desses pro
pitalista, devemos compreender que elas estão ligadas aos processos dutos. O exemplo da soja é típico. Boa parte da população brasileira
históricos específicos de cada país ou nação. Ou seja, cada formação fazia seus alimentos cozidos ou conservados em gordura animal ou
econômico-social concreta revela no seu interior esse processo desi óleos derivados de outros produtos vegetais (algodão, amendoim,
gual e contraditório espacial e temporalmente. coco, etc.). Entretanto, de uns tempos para cá, o óleo de soja tomou-
se o produto básico na preparação da alimentação. Até campanhas
publicitárias e “médicas” foram feitas ressaltando seu valòr em rela
ção aos demais do gênero. Na essência, tudo foi feito movido pela
A MUNDIALIZAÇÃO ânsia de se aumentar as exportações de farelo de soja, ingrediente
DA ECONOMIA BRASILEIRA básico utilizado na fabricação de ração animal, aqui e principal
mente no exterior.
O mesmo exemplo é válido para a citricultura. A sua espeta
Para entendermos o campo no Brasil, seus conflitos e a lu cular expansão nas décadas de 70 e 80 deveu-se, fundamentalmente,
ta pela terra, temos, também, que compreender que a economia à introdução no mercado norte-americano do suco de laranja. Como
brasileira hoje está internacionalizada, e que isso é uma característi conseqüência, o preço da laranja em fruta no mercado intemo subiu
ca ímpar do capitalismo: ter nascido contendo virtualmente a sua e os fabricantes de suco já começam também a “inundar” o mercado
mundialização. nacional de suco industrializado, de certo modo forçando a substi
Temos que entender, ainda, que esse processo de internaciona tuição do consumo da fruta in natura pu do “suco puro feito na ho
lização da economia brasileira no âmago do capitalismo mundializa- ra” pelo suco industrializado.
do é fundamental para compreendermos o mecanismo da dívida ex Poderíamos citar muitos outros exemplos, mas, certamente, os
terna. Esse mecanismo não é de todo complicado na sua essência: o leitores estariam se lembrando de produtos que no passado eram
país fez ou faz a dívida para criar condições ou para ampliar a sua consumidos na sua forma natural e que agora estão sendo consumi
produção. Para pagar a dívida tem que exportar, quer dizer, tem que dos industrializados.
se sujeitar aos preços internacionais. Como esses preços no que se Isso revela que o processo de desenvolvimento do capitalismo
refere às matérias-primas (gêneros agrícolas e recursos minerais, ex na agricultura de nossos dias está marcado pela sua industrialização.
ceto o petróleo) têm baixado nas últimas décadas, o país tem que am Uma industrialização que deve ser entendida internacionalmente,
pliar a produção para poder continuar pagando a dívida. Para poder au pois não há mais, ou nunca houve, «ma rígida separação entre as
22 23
indústrias nacionais e estrangeiras; ao contrário, a história dos últi contraditório revela que o capital monopoliza o território sem entre
mos tempos tem sido uma história de alianças e fusões com a parti tanto temtorializar-se. Estamos, pois, diante do processo de mono
cipação ou com o beneplácito do Estado, durante governos militares polização do território pelo capital monopolista.
ou civis.
O TRABALHO ASSALARIADO
A TERRITORIALIZAÇÃO DO CAPITAL E O TRABALHO FAMÍLIA®. CAMPONÊS
A industrialização da agricultura, também desigual no campo Esse conjunto de contradições que marcam o processo de de
brasileiro, revela que o capitalismo está contraditoriamente unifican senvolvimento capitalista revela, também, que o processo pelo qual
do o que ele separou no início de seu desenvolvimento: indústria e o capitalismo se expande no país passa necessariamente pelo domí
agricultura. Esta unificação está sendo possível porque o capitalista nio do trabalho assalariado nas grandes e médias propriedades e pelo
se tomou também proprietário das terras, latifundiário portanto. Isso predomínio do trabalho familiar, camponês portanto, nas pequenas
se deu porque o capital desenvolveu liames de sujeição que funcio propriedades ou pequenas unidades de produção.
nam como peias, como amarras ao campesinato, fazendo com que Vale dizer que esse processo é uma moeda de dupla face pois,
ele produza, às vezes, exclusivamente para a indústria. Dois exce ao mesmo tempo em que desenvolve uma face, igual e necessaria
lentes exemplos desse processo são as usinas ou destilarias de açú mente desenvolve a outra. Em outras palavras: a expansão do traba
car e álcool e os produtores de fumo. Nas usinas ou destilarias, in lho assalariado tem trazido consigo a expansão do trabalho familiar.
dústria e agricultura são partes ou etapas de um mesmo processo. Isto não ocorre porque o trabalho familiar é funcional ou comple
Capitalista da indústria, proprietário de terra e capitalista da agri mentar ao assalariado, mas porque são contradições internas do ca
cultura têm um só nome, são uma só pessoa. Para produzir utilizam pital que os geram.
o trabalho do assalariado, dos bóias-frias. Este processo também, como todos os anteriormente citados, é
No segundo caso, os produtores de fumo do sul do Brasil en desigual territorial e temporalmente, e a análise dos dados sobre essa
tregam sua produção às multinacionais do cigarro. Capitalista in questão tem revelado a expansão/retração de um e de outro em uma
dustrial é uma pessoa, proprietário da terra e trabalhador são outra região do país e o oposto em outras. O mesmo ocorre quando anali
pessoa. Nos casos em que os camponeses arrendam terra para plan samos as séries temporais, históricas portanto. Num período uma
tar o fumo com suas famílias, podemos ter três personagens sociais relação pode retrair-se e, em período posterior, voltar a aumentar e
na relação: o capitalista industrial, o proprietário da terra-rentista assim por diante. Um exemplo disso é a diminuição dos posseiros no
(que vive da renda em dinheiro pago pelo aluguel da terra) e o tra Sudeste e o seu aumento no Nordeste entre 70 e 80. Já entre 80 e 85
balhador camponês rendeiro que trabalha a terra com a família. eles voltam a aumentar na região Sudeste. Isto significa que não po
O que esse processo contraditório de desenvolvimento capita demos tomar como produto de uma relação mecânica de causa e
lista no campo revela, é que, no primeiro caso, o capital territoriali- efeito a expropriação da terra no capitalismo. Ela também é desigual
za-se. Estamos, portanto, diante do processo de territorialização do e contraditória.
capital monopolista na agricultura. No segundo caso, esse processo Os dados censitários revelam que, ao mesmo tempo em que há
24 25
um aumento dos latifúndios capitalistas, há um aumento das unida a indústria; e a cidade e o campo. Só que essa soldagem está sendo
des camponesas de produção. Ao mesmo tempo em que aumenta a feita num patamar social muito mais avançado, pois a separação foi
concentração das terras nas mãos dos latifundiários, aumenta o nú- decorrente e envolveu trabalhadores individuais, camponeses, arte
mero de camponeses em luta pela recuperação das terras expropria sãos, aqueles que com o trabalho da família quase tudo produziam.
das. Nem que para isso eles tenham que continuar seu devir históri Agora, entretanto, a soldagem está sendo feita num processo avan
co: ter a estrada como caminho. O que vale dizer: a migração como çado de cooperação no trabalho. Portanto, a solução para a produ
necessidade da sua reprodução, a luta pela fração do território dis ção, quer do produto agrícola, quer do industrial, passa a requerer
tante como alternativa para continuar camponês. Espaço e tempo necessariamente o trabalho coletivo, e a questão central transfere-se
unem-se dialeticamente na explicação desse processo. Quando essa para a distribuição dos frutos da produção (salário e lucro). Essa
possibilidade de recuperar a fração do território perdido não pode solução passa também pela luta, igualmente na cidade, do camponês
ser realizada, ele encontra novas formas de luta para abrir acesso por um preço melhor para seus produtos ou por condições e vanta
à terra camponesa onde ela se tomou capitalista. O Movimento dos gens creditícias e/ou técnicas de modo a poder ter condições para
Trabalhadores Rurais Sem-Terra é um bom exemplo dessa nova rea continuar camponês. A cidade, hoje revela essas contradições. Ela é,
lidade. pois, palco dessas lutas rurais/urbanas e/ou urbanas/rurais. Isso sig
nifica que a compreensão dos processos que atuam na constru
ção/expansão das cidades passa pela compreensão dos processos que
iituam no campo.
A UNIDADE CONTRADITÓRIA Cabe lembrar que essa unidade contraditória não elimina suas
ENTRE A CIDADE E O CAMPO diferenças, ao contrário, aprofunda-as tomando cada um mais espe
cífico, porém, cada vez mais portador da característica geral de ambos.
Esse processo, no caso brasileiro, ao mesmo tempo em que
Por fim, com relação aos processos Contraditórios e desiguais aprofunda a luta pela reforma agrária no campo, desencadeando a
do capitalismo, devemos entender que eles têm se desenvolvido no violência, tem transferido paulatina, mas decididamente, essa luta
sentido de ir eliminando a separação entre a cidade e o campo, entre para as cidades. Até aqueles que são incentivadores da violência,
o rural e o urbano, unificando-os numa unidade dialética. Campo e para fazer valer seu poder ilegítimo, por exemplo, os latifundiá
cidade, cidade e campo, formam uma unidade contraditória. Uma rios/grileiros da UDR - União Democrática Ruralista -, ao mesmo
unidade onde a diferença entre os setores da atividade econômica (a tempo em que atuam no campo fazendo aumentar a violência, atuam
agricultura, a pecuária e outros, por um lado, e a indústria, o comér decididamente também nas cidades, fazendo seu marketing político e
cio, etc., por outro), vai ser soldada pela presença na cidade do tra suas manifestações. Aliás, mandam e/ou ameaçam matar no campo e
balhador bóia-fria do campo. As greves dos trabalhadores do campo na cidade, trabalhadores do campo ou suas lideranças nas cidades.
são feitas nas cidades. Isso certamente aponta para a necessidade de compreendermos
Ao mesmo tempo, podemos verificar que a industrialização dos que a reforma agrária se faz no campo, mas se ganha é na cidade.
produtos agrícolas pode ser feita no campo com os trabalhadores das Assim, cidade e campo estão unidos dialeticamente, quer no
cidades. Aí reside um ponto importante nas contradições do desen processo produtivo, quer no processo de luta. Expostas essas carac
volvimento do capitalismo, tudo indicando que ele mesmo está sol terísticas contraditórias do desenvolvimento do capitalismo, vamos
dando a união contraditória daquilo que ele separou: a agricultura e analisá-las no campo brasileiro.
26 27
governo do Mato Grosso a vender, no então município de Arapuanã,
CONCENTRAÇÃO FUNDIÁRIA cinco áreas de 200 mil ha; ou seja, 1 milhão de ha de terras deve
riam ser entregues a cinco proprietários apenas.
E RELAÇÕES DE TRABALHO NO CAMPO
Isto para não falar na burla “legal” que os latifundiários fazem
para obter extensões de terra maiores do que as leis permitem. Um
bom exemplo é a “técnica da procuração”, ou seja, o latifundiário
consegue um procurador, ou ele mesmo toma-se procurador de um
certo número de pessoas, às vezes de sua própria família. Para isso,
ele, às vezes, paga pelas assinaturas. Com as procurações ele dá en
trada nos Institutos de Terras para adquiri-las para aquelas pessoas
de quem é procurador. Os órgãos públicos emitem os títulos e ele
loma-se proprietário dos títulos emitidos em nome de outras pessoas,
devido às procurações. Assim, toma-se proprietário não de uma área
de, no máximo, 2.500 ha (pela Constituição de 1988), mas de tanta
Quando estudamos historicamente a estrutura fundiária no Bra terra quantos foram os títulos que obteve através de procurações. Se
sil, ou seja, a forma de distribuição e acesso à terra, verificamos que conseguir cem procurações toma-se proprietário de 250.000 ha de
terra.
desde os primórdios da colonização essa distribuição foi desigual. E assim que as terras da Amazônia estão sendo griladas. É as
Primeiro foram as capitanias hereditárias e seus donatários, depois sim que as terras das nações indígenas da Amazônia estão sendo sa
foram as sesmarias. Estas, estão na origem da grande maioria dos queadas, e os “filhos do sol” aprisionados em reservas e parques. A
latifúndios do país, fruto da herança colonial. história da ocupação das terras no Brasil está marcada pelo saque
Com a independência e com o fim da escravidão, trataram os das terras das nações indígenas desde os seus primórdios. Está mar
governantes do país de abrir a possibilidade de, através da “posse”, cada também pelo genocídio a que foram submetidas essas nações.
legalizar grandes extensões de terras. Com a Lei de Terras de 1850, Podemos afirmar com segurança que a estrutura fundiária bra
entretanto, o acesso à terra só passou a ser possível através da com sileira herdada do regime das capitanias/sesmarias, muito pouco foi
pra/venda com pagamento em dinheiro, o que limitava, ou mesmo alterada ao longo dos 400 anos de história do Brasil; e particular
praticamente impedia, o acesso à terra para os escravos que foram mente na segunda metade deste século o processo de incorporação
sendo libertos. de novos espaços - assaltados/tomados das nações indígenas - tem
Dessa forma, podemos verificar que esses princípios que mar concentrado ainda mais as terras em mãos de poucos proprietários.
caram a concentração fundiária no Brasil nunca deixaram de existir.
Por exemplo, a Constituição de 1946, que vigorou até 1967, e as
que a antecederam definiam em 10 mil ha a área de terra devoluta
máxima a ser vendida a brasileiros natos ou estrangeiros naturaliza OS LATIFÚNDIOS TÊM AUMENTADO
dos. Mas, sempre previram que, com a autorização do Senado Fede
ral, essa área poderia ser maior e foi o que aconteceu na década de
70, quando a Constituição de 67 baixou a áiea máxima para 3 mil O traço essencial da estrutura fundiária brasileira é portan
hectares. Naquela época o Senado Federal autorizou, por exemplo, o to o caráter concentrado da terra. Senão, vejamos a tabela 1 que
28 29
apresenta a distribuição das terras desde 1940 até 1985. BRASIL ESTRUTURA FUNDIÁRIA
O que nos revelam esses dados é que, em 1940, o Brasil que 1948 A 1983
ainda não havia se expandido sobre os territórios indígenas do Cen- C Iu iii is NUMERO BS ESTABELECIMENTOS
tro-Oeste e da Amazônia, já apresentava seu traço concentrador: ir» CM) 1948 1958 1968 1978 1975 191 191
poucos com muita terra e muitos com pouca terra. Vamos aos dados: TOTAL 1.964.589 2.864.642 3.337.769 4.924.819 4.993.252 . 5.159.851 5.834.779
1,5% dos proprietários dos estabelecimentos agrícolas com mais de Kinn de 11 654.557 71B.934 1.495.828 2.519.6K 2.681.868 2.598.819 3.885.841
1.000 ha, ou seja 27.812 unidades ocupavam uma área de 95,5 mi U i -IN 975.438 L852.Î57 1.491.415 1.934.392 1.898.949 2.816.774 2.166,424
lhões de hectares, ou 48% do total de terras, quase a metade por IM i -1.60 243.818 268.159 314.746 414.746 446.178 41.521 518.618
tanto; enquanto isso, 86% dos proprietários dos estabelecimentos 1 MMa - 18.868 26.539 31.817 38.883 35.425 39.648 45.496 47.931
agrícolas com menos de 100 ha, ou seja 1.630.000 unidades, ocupa i» HM a Mis 1.Z73 1.611 1597 1.449 1.828 2.345 2.174
vam uma área de apenas 35,9 milhões de hectares, menos, portanto, ÁREA OCUPADA (HA >
de 19% das terras. 1948 1958 1968 1978 1975 191 1985
Se analisarmos os dados de 1985 essa realidade não mudou, ao TOTAL
contrário, a concentração das terras nas mãos de poucas pessoas au 197.728.247 232.211.186 249.862.142 294.145.466 323.896.882 363.854.421 376.®,577
mentou ainda mais. Vamos aos dados: menos de 0,9% dos proprietá mmn Is 18 2.893.439 3.85.372 5.952.381 9.883.4% 8.982.646 9.14.259 18.829,71
rios dos estabelecimentos agrícolas com área superior a 1.000 ha, ou IM -U » 33.112.li8 35.562.747 47.566.298 68.869.784 68.171.637 64.494.343 69.678,91
IM 1 -1.888 66.184.999 75.528.717 86.829.455 11.742.676 115.923.843 126.799.11 131.893.557
seja, 50.105 unidades, ocupavam uma área de 164,7 milhões de 1 MM1-18.888 62.824.817 73.893.482 71.41.984 1.859.162 89.866.944 184.548.849 11.397.132
hectares ou 44% do total das terras; enquanto mais de 90% dos pro 11,WMo mis 33.501832 « 1 .7 1 38.893.112 36.190.429 48.951.812 1.887.71 56.287.11
prietários dos estabelecimentos agrícolas com menos de 100 ha, ou
seja, 5.252.265 unidades, ocupavam uma área de apenas 79,7 mi I abela 1 —Fonte IBGE
lhões de hectares, ou 21% do total das terras.
Portanto, o que o Brasil conheceu nos últimos 45 anos foi
um aumento violento da concentração fundiária, e isso pode ser mais
bem observado se tomarmos apenas as duas classes extremas da dis
tribuição das terras, por exemplo, em 1985. Voltemos à tabela 1:
menos de 2.174 estabelecimentos agrícolas com mais de 10 mil ha l undiários registrados (pois há os que têm terras em nome de outras
(menos de 0,04% do total, uma minoria Mima) ocupavam 56,3 mi pessoas) naquele órgão no Brasil. A tabela 2 mostra quem é quem
lhões de hectares (15%); enquanto uma maioria de 3.085.779 esta no latifúndio no país.
belecimentos agrícolas com menos de 10 ha ocupavam pouco mais Uma análise da tabela 2 permite tirar duas conclusões. A pri
de 10 milhões de hectares, apenas, portanto, 2,6% do total das meira, é que a maioria absoluta desses superlatifúndios está na
terras. Amazônia. A segunda é que eles ocupam uma área quase igual
O INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma àquela ocupada pelo Estado de São Paulo, e maior que o território
Agrária - que pertencia ao Ministério da Reforma e do Desenvolvi do Amapá, ou que os Estados do Acre, Ceará, Rio Grande do Norte,
mento Agrário - MIRAD - divulgou uma relação dos maiores lati- Paraíba, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Ja-
30 31
neiro, Paraná e Santa Catarina. Ocupam, portanto, uma área maior
que doze unidades da federação brasileira. Mais que isso ainda: es OS HâüQRES LATIFUNDIÁRIOS DO BHfiSIL
ses proprietários têm nas mãos, nada mais nada menos, do que 3%
do território brasileiro. NO® MUNICÍPIOS AREA(ha)
HWKM- MADEIREIRANACIONALS/A Ubwa-ANe Guarapua»a-PS 4.140.767
JARI FLORESTALï «GMPSOMIfl UM. Alaeíin-M 8.318.885
Mil) - ta m m m anaeohií Jutai ( Caruari-AN 2.194.874
CIA. FLORESTAIMONTEDOBRADO Alwrin-AP e Karagao-Pa 1.682.227
A DESIGUAL CONCENTRAÇÃO CIA. K DESBWOLVIMBITOMPIAÜI Castelo
Enidio, io Piauí,do Sao
Piauí,Miguel do Tajmio,doPimnteiras, Manoel
REGIONAL DAS TERRAS Canto dotfazare
Buriti, Floriano, SaoRibeiro
Francisco
GonçalvesPiaui, Oeiras,
e Orucui-Pl 1.076.752
COTBIGUACUCOLON. 19 G1IPWNAS/A. Aripuana-MT 1.888.888
.10*0FRANCISCOMARTINSBARATA Calcoene-AP 1 ■W o ■DIM
AS VERTENTES TEÓRICAS
50 51
Assim, o desembolso para adquirir a terra, quando isso é pos qual sai da circulação e entra na órbita do consumo. Portanto,
sível para os camponeses, ou quando eles as obtém por ocasião de o consumo, a satisfação de necessidades ou, em uma palavra, o
valor-de-uso, é seu objetivo final. D-M-D, ao contrário, parte
heranças, não entra no cálculo econômico para definir os custos de do extremo constituído pelo dinheiro e retoma finalmente a es
produção. Por essa e outras razões é que a análise econômica da se mesmo extremo. Seu objetivo impulsionador e seu objetivo
agricultura camponesa não pode ser feita através da lógica e dos determinante é, portanto, o valor-de-troca mesmo. Na circula
conceitos componentes da agricultura capitalista. ção simples de mercadorias, ambos os extremos possuem a
Não é o lucro médio do capital que limita a exploração da pe mesma forma econômica. Ambos são mercadorias. E, além
quena propriedade, mesmo quando o camponês é pequeno capitalis disso, são mercadorias com igual magnitude de valor. Mas são
valores-de-uso qualitativamente diferentes, por exemplo, trigo
ta. Nem mesmo a necessidade de se obter uma renda a limita, quan e roupas de vestir. O intercâmbio de produtos, a mudança dos
do o camponês é proprietário da terra. Isso porque: diferentes materiais nos quais o trabalho social se representa,
configura aqui o conteúdo do movimento (Marx, tomo I, vol.
... para que o camponês parcelário cultive seu campo, ou com 1, 1984: 183).
pre terra destinada ao cultivo, não é necessário, pois, como
ocorre no modo normal de produção capitalista, que o preço de Portanto, no ciclo M-D-M, a quantia de dinheiro que se obtém
mercado do produto agrícola eleve-se o suficiente para propor ntravés da venda de uma mercadoria, vai ser consumida pela compra
cionar-lhe o lucro médio, e mesmo um excedente acima desse
lucro fixado sob a forma de renda. Portanto, não é necessário ele outra mercadoria, em geral não produzida. Isto vale dizer que,
que aumente o preço de mercado atingindo o valor ou mesmo o nessa circulação, o dispêndio de dinheiro não guarda relação alguma
preço de produção de seu produto... uma parte do sobretraba- com seu refluxo. O contrário ocorre com a fórmula D-M-D em que o
lho dos camponeses que trabalham sob piores condições é dada refluxo do dinheiro está condicionado pela forma como foi gasto. Se
gratuitamente à sociedade... (Marx, tomo D3, vol. 8,
1984: 1025). isso não acontecer, o processo não se completa e interrompe-se o ci-
( lo da circulação capitalista.
Outra questão fundamental nos estudos sobre a produção cam Marx também, referindo-se à circulação simples das mercado
ponesa é a distinção do movimento na circulação entre esta e a pro rias, afirma que
dução capitalista. Na produção capitalista temos para definir seu
movimento a fórmula D-M-D na sua versão simples e D-M-D’ na É possível também, por certo, que no ciclo M-D-M, os extre
sua versão normal, ampliada portanto. Enquanto na produção cam mos M, M, por exemplo trigo e roupas de vestir, sejam mag-
ponesa estamos diante do movimento expresso na fórmula M-D-M. nitudes de valor quantitativamente diferentes. Cabe aí, a pos
Por conseguinte, a lógica da produção camponesa está assentada sibilidade de que o camponês venda seu trigo por um preço
acima de seu valor, ou compre a roupa por um preço abaixo
na forma simples de circulação das mercadorias, onde se tem a con do valor da mesma. (Marx, 1984: 184).
versão da mercadoria em dinheiro e a conversão do dinheiro em
mercadoria, ou seja, vender para comprar. Marx assim se referiu a Essa realidade do processo M-D-M no capitalismo abre pois a
essa questão em O Capital: possibilidade de que o camponês possa, em determinadas circuns-
... , ----- C O - ,
\ .
... r
62 63
balho a cada ciclo agrícola, está abrindo o caminho para uma Essa lógica reflete na essência a circulação simples da merca
das formas de expropriação do sobretrabalho camponês pelo doria - vender para comprar - e serve de meio a um fim. situado fora
capital industrial (Tavares dos Santos, 1978: 60). da circulação, a apropriação de valores-de-uso, a satisfação de ne-
i cssidades.
A jornada de trabalho é outro elemento componente da produ
ção camponesa. Nesse aspecto, a realidade é toda particular. Não há
uma rigidez de horário diário como na produção capitalista; a jorna
da de trabalho do camponês varia conforme a época do ano e segun \ PRODUÇÃO CAMPONESA E A PRÁTICA
do os produtos cultivados. Assim, combinam-se períodos chamados l>E ARRENDAMENTO DE TERRAS
de ociosos, quando o camponês está livre para assalariar-se através
de trabalho acessório, com períodos de intenso trabalho quando, Já no início da discussão desta questão devemos assinalar que
nem o nascer e o pôr-do-sol, às vezes, são os limites naturais da jor ii característica básica entre a renda da terra camponesa e a renda
nada de trabalho. Os trabalhos que envolvem ó preparo da terra para capitalista da terra, reside no fato de que a primeira, a camponesa,
o plantio são feitos até durante a noite. Essa aparente irregularidade nasce na produção. É, pois, o próprio produtor que entrega direta
da jornada de trabalho dos camponeses é que abre espaço para o de mente para os proprietários da terra uma parte da produção, ou dias
senvolvimento de uma série de tarefas artesanais domésticas, que de trabalho, ou ainda uma parte da produção convertida em dinheiro
eles realizam nos períodos de pouco trabalho agrícola. (lunda em produto, renda em trabalho e renda em dinheiro). É pois o
Dessa forma, esse conjunto de componentes da produção cam inibalhader que paga renda. Entretanto, com relação à renda capita
ponesa caracterizam essa produção simples de mercadorias, confor lista da terra, o mesmo não acontece, pois esta não nasce na produ
me já foi dito. E, portanto, por essa ótica que entendemos a produ ção e sim na distribuição da mais-valia.
ção camponesa, pois Dessa maneira, a lógica que preside o processo de surgimento
dossas duas formas de renda é distinta e a renda capitalista da terra
o camponês é personificação da forma de produção simples de iinsce da expansão da agricultura, baseada nas relações capitalistas
mercadorias, na qual o produtor direto detém a propriedade dos de produção:
meios de produção — terra, objeto de trabalho e outros meios
de trabalho —e trabalha com esses meios de produção. No processo de produção, o trabalhador produz o seu salário e
Essa combinação de elementos faz com que o camponês se
apresente no mercado como vendedor dos produtos do seu tra o capitalista extrai o seu lucro. A conversa com o proprietário
balho, como produtor direto de mercadorias. Como produtor, da ten-a vem depois, em separado, não obstante a sua renda
venderá seus produtos para adquirir outros, qualitativamente também ter que sair da produção. Só que nesta a parte da ri
diferentes, que possam satisfazer suas necessidades de consu queza que excede o necessário ao pagamento do salário do tra
mo individual ou produtivo... Assim, a produção camponesa balhador é apropriada pelo capitalista, porque ele é o proprie
realiza o ciclo mercadoria-dinheiro-mercadoria, ou seja, o pro tário do capital, e mais ninguém. Portanto, a renda que toca ao
cesso de vender para comprar, culminando o ciclo na obtenção proprietário da terra terá que chegar num segundo momento.
de valores-de-uso; a mercadoria é retirada da esfera da circula Isso ocorrerá quando o capital lhe pagar pelo direito de utiliza
ção e introduzida na esfera do consumo do camponês. O pro ção da sua terra. Ora, o trabalhador produziu mais-valia, in
cesso de trabalho camponês vai obedecer a essa lógica econô crementou a riqueza, para o capitalista. Quando este paga a
mica (Tavares dos Santos, 1978: 69/70). renda ao proprietário, não está produzindo nada; está distri-
64 65
buindo uma parte da mais-valia que extraíra dos seus trabalha missão de plantar culturas de subsistência de ciclo vegetativo
dores. Por isso, a renda capitalista da terra não nasce na pro curto. Uma vez colhidas estas, ele não poderá plantar outra vez
dução, mas sim na distribuição da mais-valia (Martins, 1981: no mesmo lugar, pois a forrageira já terá atingido um tamanho
163/3). tal, que terá de crescer sozinha daí para diante. Se o dono da
terra estiver interessado num novo plantio de capim ou palma
Assim, essas são as premissas básicas que devem nortear a dis em outra área de sua propriedade, a operação pode ser reini
cussão da questão da prática do arrendamento pelos camponeses ciada, com o mesmo rendeiro. Caso contrário, ele vai com a
sem-terra ou com pouca terra no país. Essa questão, como sabemos, família para a estrada, à procura de outra fazenda para proce
der da mesma maneira.
passa pela prática quase geral no Brasil do arrendamento como for Aliás, é característico do regime de arrendamento a desvincu
ma de exploração, que precisa ser explicado e desmistifícado, pois lação do homem à terra. Com isso, não há estímulo para o cui
foi através do arrendamento (da existência do arrendatário, portanto) dado do solo, e nem para a adubação. Durante a viagem da
que o capitalismo implantou-se pelos campos da Inglaterra. Entre equipe observou-se que nem mesmo nas propriedades onde
tanto, no caso brasileiro, se levarmos em conta a estrutura produtiva, predomina a pecuária, os rendeiros aproveitam o esterco como
veremos que a prática do arrendamento não corresponde necessaria adubo.
mente ao acesso à terra por parte do capitalista para explorar o tra A expansão dos arrendatários, numa taxa superior à dos pro
prietários, decorre do processo de apropriação das terras em
balho assalariado na agricultura, como são os exemplos da cultura antecipação à abertura de estradas que as tornam acessíveis.
do arroz e em parte da soja no Rio Grande do Sul. Mas o que ocorre Não podendo tomar-se proprietário, o camponês arrenda a ter
é que são os camponeses sem-terra ou com pouca terra que arrendam ra já apropriada por outrem (Sá Jr., 1976: 125).
terras para a prática da produção camponesa, Na realidade, são ren
deiros e não arrendatários. Pagam portanto por esse uso, renda, em Quanto à presença do arrendatário nas estatísticas do INCRA e
produto, trabalho ou dinheiro. do IBGE, é importante salientar que para ambas instituições é consi
A existência dessa relação configura o processo de reprodução derado como tal, todo aquele que explora a terra pertencente a ou
mediada pelo capital, da reprodução de formas de renda camponesa trem, a quem paga aluguel pelo seu uso ou gozo (aluguel esse em
da terra. Sá Jr. nos dá exemplos significativos desse processo quan quantia fixa em dinheiro ou equivalente em produtos).* Nesse parti
do analisa o arrendamento em seu trabalho “O desenvolvimento da cular, estas instituições chamam atenção para a presença na agricul
agricultura nordestina e a função das atividades de subsistência”: tura também do subarrendatário. As publicações do INCRA chamam
atenção, também, para as designações locais ou regionais que o ar
Durante a viagem de campo realizada pela equipe da SUDENE, a rendatário recebe: “locatários”, “foreiro”, etc. Faz também a distin
forma de arrendamento que se mostrou, possivelmente em
maior expansão, é aquela cuja obrigação para com o proprietá ção entre o arrendatário e o comodatário que é aquele que explora a
rio não consistia no pagamento nem em dinheiro, nem em es terra pertencente a outrem por empréstimo gratuito.
pécie, mas sim em trabalho. Tal forma foi encontrada princi Os dados do IBGE referentes aos arrendatários contêm majo-
palmente na parte sul do Agreste pernambucano, nas proprie ritariamente os rendeiros. Esse fato pode ser comprovado através da
dades dedicadas simultaneamente à pecuária e à lavoura. O
rendeiro tem a obrigação de desmatar ou destocar um pedaço apresentação dos dados do Censo Agropecuário de 1970, uma vez
de terra, na qual ele planta uma forrageira, geralmente o capim que os censos de 1975 e 1980 não divulgaram os dados relativos ao
ou a palma. Consorciadas à forrageira, tem ele a per pessoal ocupado em relação à condição do produtor. Esses dados
66 67
BRAS I L BHASI L
ARRENDATÁRIOS - 1376 ARRENDATÁRIOS -1970
PESSOAL OCUPADO NOS ESTABELECIMENTOS NÚHERO DE ESTABELECIMENTOS SECUNDO 0 PESSOAL OCUPADO
núnero 7,
Número
TOTAL 1.925.266 119,00 V,
ra, ainda que possa ser expressiva em algumas atividades como avi ......... ;a entre a sona das classes de área e dos estratos de valor da produpão e
« total, refere-se aos ÍMÓveis seM declarapão.
cultura e suinocultura.
A mesma realidade, como era de se esperar, aparece expressa I ui n l.i 9 — Fonte: IBGE
nas tabelas 10 e 11, referentes à percentagem em relação à classe de
área e estrato de valor da produção respectivamente. Para a percen
tagem em relação à classe de área temos mais de 77% dos estratos
de valor da produção nas classes de área pequenas (menos de 100
hectares). Também aqui, no pólo oposto, temos 2% dos estratos de
grande valor entre esses pequenos estabelecimentos.
74 75
BRASIL - INCRA BRASIL - INCRA
RELAÇÃOENTRE CLASSE SE ÁREA E VALORDAPRODUÇÃO RELAÇÃOENTRE CLASSE DE ÁREA E VALOR DAPRODUÇÃO
PERCENTAGEMEMRELAÇÃOACLAS$E DE ÁREA PERCENTAGEMEMRELAÇÃOAOESTRATO DE VALORDE PRODUÇÃO
Cr$ eu 1.080 TOTAL Menos 3 a 6 a 12 a 24 a 50 a 100 e Cr$ eN 1.000 TOTAL Menos 3 a 6 a 12 a 24 a 50 a 100 e
Hectares de 3 - 6 - 12 - 24 - 50 - 100 Mais Hectares de 3 - 6 - 12 - 24 - 50 - 100 Mais
TOTAL 100,00 58,06 15,43 9,80 4,97 2,53 1,17 0,96 TOTAL 100,00 100,00 180,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Menos de 1 100,00 88,44 1,18 0,42 0,20 0,10 0,11 0,05 Menos de 1 1,53 2,45 0,12 0,07 0,06 0,06 0,15 0,09
1a-2 100,00 88,05 1,96 0,53 0,24 0,16 0,10 0,07 1a- 2 3,70 5,88 0,49 0,21 0,19 0,24 0,32 0,28
2a-5 100,00 83,19 5,77 1,69 0,57 0,23 0,12 0,09 2a- 5 11,46 17,04 4,45 2,05 1,36 1,06 1,24 1,16
5 a - 10 100,00 73,03 13,05 4,76 1,38 0,43 0,12 0,10 5 a - 10 13,68 17,61 11,87 6,81 3,90 2,37 1,47 1,47
10 a - 25 100,00 56,03 20,19 11,70 4,30 1,44 0,35 0,10 18 a - 25 27,55 26,89 36,48 33,32 24,12 15,84 8,28 2,96
25 a - 50 100,00 48,86 19,91 14,16 6,84 2,82 0,87 0,24 25 a - 50 16,16 13,81 21,19 23,76 22,58 18,23 12,16 4,08
58 a - 100 100,00 44,99 18,39 14,08 8,39 4,44 1,88 0,68 58 a - 100 10,09 8,01 12,34 14,88 17,45 18,09 16,53 7,26
100 a - 200 100,00 39,19 17,30 14,77 10,72 6,65 3,40 2,01 180 a - 203 6,22 4,25 7,06 9,51 13,57 16,52 18,15 13,09
288 a - 500 100,00 32,20 13,95 13,45 11,63 9,04 5,72 5,77 280 a - 500 4,36 2,52 4,10 6,24 10,61 16,18 22,02 26,09
588 a - 1.080 108,00 27,44 11,33 11,51 11,08 10,19 7,84 11,44 560 a - 1.000 1,49 0,74 1,15 1,84 3,48 6,28 10,39 18,45
1.888 a - 2.080 100,00 27,44 9,38 10,16 9,93 9,60 8,02 16,07 1.000 a - 2.888 0,73 0,36 0,47 0,80 1,54 2,92 5,24 12,78
2.888 a - 5.000 100,00 35,05 6,86 8,25 8,96 8,19 6,74 16,24 2.880 a - 5.088 0,46 0,29 0,22 0,41 0,87 1,56 2,77 8,12
5.888 a - 10.000 100,00 39,12 5,70 4,55 5,82 8,56 7,48 17,19 5.888 a - 18.888 0,12 0,09 0,04 0,08 0,20 0,44 0,82 2,30
10.080 a - 20.000 100,00 28,84 4,31 4,62 6,51 8,33 8,86 25,51 18.880 a - 20.080 0,84 0,02 0,01 0,02 0,05 0,13 0,31 1,08
20.080 a - 50.000 108,00 37,39 1,82 2,43 4,71 7,29 6,38 26,90 28.888 a - 50.008 0,82 0,01 0,00 0,01 0,02 0,06 0,11 0,57
50.000 a - 100.088 100,08 41,51 5,03 5,03 5,03 6,29 4,40 27,58 58.000 a - 100.888 0,01 0,08 0,00 0,00 0,00 0,01 0,02 0,14
188.000 e dais 100,00 45,45 1,30 1,30 1,30 7,79 1,30 25,97 188.000 e Mais 0,00 0,88 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,06
Do diferença entre a aossonainoveis
total, refere-se das classes de área e dos estratos de valor
sen declaração. da produção o d diferença entre a sona das classes d? área e dos estratos de valor da produção e
o total, refere-se aos ifióveis seM declaração.
Tabela 10 - Fonte: IBGE Tabela 11 —Fonte: IBGE
Já com relação à tabela 11 sobre a percentagem em relação aos
estratos de valor de produção, os dados expressam a seguinte reali BHASIL - INCRA
dade: mais de 82% dos estratos de valor da produção estão concen DELAÇÃO ENTRE CLASSES SE ÁREA E ESTRATOS DE VALOR SA PRODUÇÃO
trados nas classes de área inferior a 100 hectares. E por outro lado,
entre os estratos de grande valor da produção apenas 17% estão en CR$ Renos de 3.009 a 12.000 a 50.000 a Mais de
tre as classes de área inferior a 100 hectares. HA 3.000 12.000 50.090 100.000 100.000
A partir dos dados expressos nessas tabelas podemos afirmar Nenos
que a realidade agrária brasileira revela de forma majoritária uma de 10 26,87 3,79 0,40 0,04 0,02
relação direta entre as pequenas classes de área (inferior a 100 ha) e IO e 4,85 0,47 0,15
os pequenos estratos de valor (inferior a Cr$ 12.000,00). Esse qua - 100 30,45 19,21
dro nos permite tirar algumas conclusões. Sub-total 53,45
Em primeiro lugar, o número de unidades de classes de área 190 e
- 1.000 4,(9 3,90 2,55 0,63 0,60
pequena (por exemplo, inferior a 100 ha) que apresentam grandes va
lores da produção, é pequeno e, portanto, praticamente sem expres Sub total 16,39
são (menos de 1%) e mesmo somado aos valores de produção mé 1.000 e 0,24
dios, não superaria 6%. O mesmo pode ser observado para os estra - 10.000 0,45 0,26 0,27 0,11
tos de grandes áreas (por exemplo, superiores a 1.000 ha, ou mesmo Sub-to tal 2,23
superiores a 100 ha) que apresentam baixos valores de produção 10.000
(não vão além de 10%). Essa situação nos coloca diante de uma e «ais 0,02 9,09 0,09 0,00 0,02
questão fundamental: o que explica a teoria é a regra ou a exceção? Sub-total 1,05
E óbvio que julgamos ser a regra, e ela, a regra, está expressa de
forma sintética na tabela 12. Tabela 12
Podemos detectar nos dados da tabela 12, um conjunto de es
tratos de área e classes de valor da produção (por ordem de grande
za): muito pequeno, pequeno, médio, grande e muito grande. Estes
poderiam compor uma variada combinação entre si, mas a questão é
da efetiva expressão qualitativa e quantitativa dessas combinações. brada nas três variáveis, conforme os dados presentes nas tabelas 13,
Na realidade, o que temos é o predomínio dos estratos combinados 14 e 15.
muito pequeno e pequeno (80,32%). Se considerarmos os estratos de Os percentuais expressos nas tabelas, a nosso ver, são muito
classe de área com menos de 100 ha, pequenos e muito pequenos, significativos e não fogem à regra. É assim que temos nos extremos
teremos com classes de valor da produção grande e muito grande
apenas 0,68% do total dos estabelecimentos. Essas constatações - pequenos estratos de área e valor da produção -, um total de
comprovam nossas afirmações iniciais de que no Brasil as pequenas 80,32% (tabela número de imóveis) e apenas 0,68% de pequenos
propriedades por dimensão são também pequenas em valor de pro estratos de áreas com grande valor de produção. Já com relação à
dução, enquanto as pequenas por dimensão com grandes valores da área ocupada e valor de produção, a situação é inteiramente oposta,
produção são poucas. ou seja, os maiores percentuais ficam com os grandes estratos, ou
Para melhor entendermos essa realidade, apresentamo-la desdo- combinam-se com os médios.
79
Esse quadro geral, à luz da crítica, mostra que o agrupamento
B R A S I L - INCRA dos dados do censo em três grandes grupos não compromete absoluta
NUMERO DE IMÓVEIS mente, na essência, o resultado das análises. E percebe-se que os da
50.000
dos por estratos de áreas apresentados pelos censos agropecuários, não
CR$ Menos de 12.000 a trazem grandes diferenças em relação às classes de valor da produção.
HA 12.000 - 50.000 e Mais Entretanto, devemos deixar registrado que não estamos igno
Henos de 100 80,32 0,68 rando, em hipótese alguma, os problemas já apontados por vários
autores sobre os dados dos censos. Nem tampouco estamos afirman
cn
cn
ro
____ ____
do que esses dados sejam os “melhores do mundo” e, portanto, a
100 a - 1.000 8,59 2,55 1,23 única fonte estatística para assentar as pesquisas sobre o campo. A
Sub-total 16,39 questão, no entanto é simples: ou se usam os dados do censo criti
0,27 0,37
camente, ou certamente demoraremos muito para produzir trabalhos
Pais de 1.000 0,73 que apresentem a situação geral do país, e muito menos teremos cla
Sub-total 3 ,2 8 reza quanto à evolução dessa questão no passado. É preciso, pois,
Tabela 13 —Fonte: IBGE correr o risco do uso desses dados: afinal, é a única série histórica de
que dispomos no Brasil.
BRAS I L - INCRA
B RAS I L - INCRA
VALOR DA PRODUÇÃO (Crí)
ÁREA OCUPADA (HA)
CR$ Henos de 12.000 a 50.000
CR$ Henos de 12.000 a 50.000 HA 12.000 - 50.080 e Mais
HA 12.000 - 50.000 e Mais
Henos de 100 2 1 ,9 8 13,81 9,70
Henos de 100 1 6 ,1 6 1,90 0,31
............
100 a - 1.000 3,54 7,64 23,86
100 a - 1.000 20,27 6,98 4,46
Sub-total 24,99
Sub-total 29 ,1 5
Hais de 1.000 0,24 0,90 18,33
Mais de 1.000 27,03 7,90 14,99
Sub-total 53 ,0 4
Sub-total 54,69
Tabela 15 - Fonte: IBGE
Tabela 14 - Fonte: IBGE
80 81
A seguir, passaremos a apresentar os dados dos censos agrope
cuários de 70, 75, 80 e 85 que refletem a situação geral da produção BRAS IL
camponesa na agricultura brasileira. ESTRUTURA FUNDIÁRIA - 1985
Tabela 17
em 26%; entre 1970/80 em 7%; e entre 1980/85 em 8%.
Dessa forma, fica evidente que o chamado período “populista”
da política brasileira, que coincide com um curto período democráti
co da história do país, foi favorável ao crescimento dos estabeleci
mentos agrícolas controlados pelos camponeses. Fato que não ocor
reu, apesar da propaganda ideológica contrária, no período das dita
duras militares, quando os camponeses viram reduzidas as oportuni
dades de ampliarem sua participação na conquista de áreas novas no
país. Daí o decréscimo da área ocupada ocorrido na década de 70 e
o baixo índice de crescimento (4%) entre 40 e 50.
Para ampliar a análise do quadro fundiário apresentado pelos
estabelecimentos com área inferior a 100 hectares, apresentamos as
tabelas 17 e 18 que demonstram a evolução estrutural dessa classe
de estabelecimentos agropecuários do país entre 1940 e 1985, quer
no que se refere ao número, quer no que se refere à área ocupada.
Os dados presentes nessas tabelas mostram claramente que to
das as classes de área intermediária até 100 ha de uma forma geral
cresceram em número e área ocupada, embora algumas delas apre
sentassem em 1975 e 1980 alguns resultados ligeiramente negativos.
Um dos aspectos importantes presentes nestes dados é aquele
relativo ao crescimento do número de estabelecimentos com área in
ferior a 10 ha, que cresceram entre 1940 e 1985, um total de 471%,
enquanto aqueles entre 10 e 100 ha cresceram 222%, contra um
crescimento total dos estabelecimentos com menos de 100 ha de
322%. Para mais bem situar esses dados devemos assinalar que em
termos globais, o total dos estabelecimentos do país apresentaram no
período um crescimento de 306%.
Outro aspecto a ser ressaltado nesses dados é o fato de que as
classes de área entre 2 e 10 hectares concentravam 31% dos estabe
lecimentos, sendo que destes, os de área entre 2 e 5 ha representa
vam 18% do total. Assim, estes estabelecimentos com área muito
pequena, inferior a 10 ha, que representavam 53% do total, ficaram
com apenas 3% da área ocupada, enquanto aqueles com área entre
10 e 100 ha ficaram com 18% do total.
A conseqüência direta desse processo concentrador de terras
no país, que mesmo assim, não tem sido obstáculo intransponível pa-
85
ra a ampliação, recriação e criação do campesinato, foi uma dimi
A ESTRUTURA AGRÁRIA
MENOS m 100 4.454.022 2.718.668 604.356 374.284 756.714 16 a nenos 20 818.157 642.186 38.973 48.850 83.656
TOTAL GERAL C*) 4.924.019 3.094.861 637.600 380.191 811.367 W a Menos 50 910.075 771.694 33.771 22.911 76.467
50 a nenos 100 438.192 376.000
Área o g u p a i >a c h a s
17.402 5.528 36.440
Ci r lae as s e <HA>
de TOTAL PROPRIETÁRIO RENDEIRO PARCEIRO POSSEIRO
m s DE 100 5.252.265 3.194.678 564.993 448.959 1.012.518
Menos de 10
10 a menos 100
9.083.495
60.069.704
4.968.396
50.386.598
1.316.055
2.796.900
1.162.193
1.797.507
1.636.850
5.088.699
TOTAL S M (») 5.834.779 3.1)87.384 589.945 455.813 1.054.542
10 a Menos 20 1 0 .7 4 2 .8 3 2 8 .3 6 3 .7 3 0 6 1 7 .9 4 8 7 7 3 .2 5 9 98 7 .8 9 3
20 a Menos 50 2 5 .4 2 4 .8 4 9 2 1 .5 3 4 .5 3 1 1 .0 3 3 .4 4 8 6 8 7 .4 7 2 2 .1 6 9 .3 9 0 Áre a ocupad a ch a ?
50 a Menos 100 2 3 .9 0 2 .0 2 3 2 0 .4 8 8 .3 3 7 1 .1 4 5 .5 0 5 3 3 6 .7 7 5 1 .9 3 1 .4 0 6
MENOS DE 100 69.153.199 55.354.994 4.112.955 2.959.700 6.725.549
Classe de
area (HA) TOTAL PROPRIETÁRIO RENDEIRO PARCEIRO POSSEIRO
TOTAL GERAL (*) 294.145.460 254.425.898 13.740.860 4.781.440 21.197.268
Nenos de 10 10.623.788 5.668.566 1.862.507 1.212.309 2.023.945
(* ) A d iferen ça en tre o to tal e a so m a r e fe r e -se aos esta b elecim en to s se m d eclaraçã o. 16 a nenos 108 69.678.938 58.928.674 2.820.419 1.61.788 5.825.828
19 a Menos 20
Tabela 19 - Fonte: IBGE. 20 a Menos 50
11.345.762
28.179.753
8.991.751
24.008.369
534.437
1.055.872
653.779
660.606
1.102.703
2.291.806
50 a nenos 100 38.153.422 25.920.552 1.230.109 376.402 2.431.317
Classes de
Nenos 1,1
| ASSALARIADO de 10 85 100,0 93.3 5,0 1,2 4.6 0,3
ANO TOTAL FAMILIAR 70 1 0 0 .0 8 8 .9 8 .4 2 .3 6 .1 1 .9
TOTAL FEKHAHLNTE IEHPORgRIO PARCEIRO
10 *
área (HA) 5S"°* es 1 0 0 ,0 8 3 .7 1 1 .9 3 .2 8 .7 1 .3
20 « 70 1 0 0 .0 8 2 .4 1 2 .4 4 .1 8 .3 3 .8
Nenas de 18 70 7.129.803 6.717.413 336.003 74.895 261.108 43.M 55"°*
30 *
83
70
1 0 0 .0
1 0 0 .0
7 8 .0
6 9 .9
1 8 .1
2 0 .7
3 .7
8 .1
1 2 .4
1 2 .6
2 .6
7 .0
85 9.361.608 8.739.595 546.966 116.518 430.448 31.'Ml í83°* 83 1 0 0 .0 6 6 .3 2 7 .7 1 0 .6 1 7 .1 4 .0
85 3.163.877 2.712.899 377.926 102.804 275.122 47.111« TOTAL 70 100,0 80,2 15,0 6,6 8,4 3,4
85 105.111
16,0
3.961.514 3.888.821
23,0 7,0 “1,2
227.843
77,0
717.292
100,0
489.449 7S ^ 5
100,0 60,0 40,0 17,5 22,5 -2,2
64 , 62
7 5 ,6 9
6 9 .7 1
classes de estabelecimentos acima de 1.000 ha apresentaram uma ( X co
N aN so
H > tf a
oi oi tf H H 03 IO 10 tf
10 IO IO C
0 a a a
de trabalho assalariado. fc “ 0
3 12
\0 CO IO
X HS vS V0 0CO0 tfSD H00
IO
03 P-H OVÛ
03
OS 0tf1 tfff* tf
tf0S a •£01 0IO1 CHO ff»
HH C0 C^ htf tfa tfh co 03 os
IO tf tf 00 IO
on H CO Htf H HOS 0P-1
Esses dados refletem a combinação desigual do desenvolvi U 5
0 .
mento do capitalismo que reproduz no grande estabelecimento o tra sr*
i (T* oU CtfO *CO Htf HC0 IO
® ff* CO H ff* Os H«vO SH IO
2 HS ®aIOmIO tf
co otf
Hh CcoO Oa
01 01 H
*o
tfP- ar» h01
H IO
balho assalariado e simultaneamente cria e recria o trabalho familiar iff "i
0 w
! Jc é i ú aco 0io0 Ha
oi oi oi H H 01
00
P- IO CHO tf co IO
00 IO OS 00 co 0 ff> aIO
p-H1 Hr» CM
tfH tfvo œ00
tf tf tf
nos pequenos estabelecimentos. Para que a evidência da realidade
apareça de forma mais contundente, sugerimos a observação dos da !» | m n io P-tf HIO IO 01 atf co P- oi<4 oio> aa co a IOP- S001 C03O IO
tf 0011 tftf
H S X <ívo Cp-O IOco ^ í <0 vû v£ Os 01 01 01 P- H HH a a g
IO C O
dos da tabela 25 que apresenta o quadro de força de trabalho no Ç\ aw
00 co co
iw 1 li
A presença de pessoal assalariado temporário nos estabeleci z •tí a
Irt* X 5 I I t l
I 1 1 M SW
0 K A
mentos não tem sido muito expressiva (embora em 1980 as classes IA
S
UH
nÛ<c ffl
ao °
an u
I 0
an u sS s 13 0i a-*
com mais de 1.000 ha concentrassem 40% desses trabalhadores) de G « «
8
n
«
H
S
c 5
H H K
á
H
da. Se compararmos a situação entre as classes de área abaixo de Preparo do solo 5,76 5,03 11,77 14,97
100 ha e aquelas acima de 1.000 ha, observamos pouca utilização do Plantio 4,44 3,58 11,46 16,47
serviço de empreitada nos estabelecimentos com menos de 100 ha 3,35 10,42 13,49
(13,88%); utilização maior (41,99%) nos estabelecimentos com área
Tratos culturais 4,11
entre 100 e 1.000 ha; e uma presença ainda mais forte (58,10%) nos Colheita 5,50 4,94 10,24 11,89
estabelecimentos com área acima de 1.000 ha. Essa análise está pre LiMpeza de pastos 5,54 3,30 23,79 35,47
sente na tabela 26, a qual expressa, de forma detalhada, a distribui Outros serviços 3,59 2,57 11,11 24,21
que a produção agrícola deste país depende fundamentalmente dos Alho - 100,0 92,9 Arroz eH casca 54,8 49,5 37,1
estabelecimentos de pequenas dimensões, em que prevalece o traba Cebola - 99,8 99,1 Cana-de-acúcar 22,6 17,5 15,3
lho familiar. Melão - 99,4 85,1 PRODUÇÃO ANIMAL
Como podemos verificar pela tabela 29 os estabelecimentos 89,1 87,5 Bovino - Total 25,2 27,2 25,6
controlados pelos camponeses no Brasil são responsáveis por mais Mandioca 88,1
de 50% do volume da produção agrícola e animal do país, embora Feijão eN grão 83,3 82,7 78,6 Bovino - Abatido 30,5 48,7 34,8
disponham de apenas pouco mais de 20% das terras dos estabeleci Batata-inglesa 80,8 78,1 75,2 Leite 49,7 48,1 47,2
mentos. Escapam desse controle apenas aqueles produtos agrícolas Tonate - 79,1 74,5 Suíno - Total 82,8 81,7 81,2
nos quais o capital tem investido em maior escala como é o caso do Coco-da-baia - 65,5 71,7 Suíno - Abatido 85,2 83,0 82,5
trigo, da soja, da laranja, do arroz e sobretudo da cana-de-açúcar; 87,3 85,0 32,2
e também da pecuária bovina cuja produção se concentra nos esta Banana 72,8 73,5 71,6 Aves - Total
belecimentos acima de 100 ha. AHendoiM eH casca 88,3 77,3 68,7 Aves - Abatidas 87,5 86,5 81,5
Cabe esclarecer aqui o fenômeno que está ocorrendo com a Milho eN grão 75,4 71,9 68,2 Ovos 87,2 82,6 76,3
B R A S IL — POSSEIROS
NUMERO DE ESTABELECI MENTOS - 19 60 /198 5
Cl a s s o d* a r t « i e ô G9 Ú. 9 •7 e s A. 9 *7 3 dL •9 S 0 9 B 3
(HA) No. Y. No. 1 K No. ! * N o. I y. No. “T"
M tnos d* 1 2 9 .5 5 8 ! 8 ,2 9 1 2 0 .6 4 8 ! 1 4 ,8 7 1 5 9 .6 6 7 ! 1 7 ,2 7 131 .3 6 1 ! 1 6 ,8 7 227 .©86 ,1 21 ,3 3
1 a -2 3 9 .9 1 4 > 1 6 ,8 1 1 5 0 .1 9 4 i 1 8 ,5 0 1 8 2 .8 8 5 • 1 9 ,7 8 138 .7 8 4 • 1 7 ,6 7 201 .55 8 i; 19 ,1 1
2 a -5 9 9 .9 2 7 i 2 8 ,0 4 2 1 2 .3 3 3 i 2 6 ,1 8 2 4 9 .3 8 6 • 2 6 ,9 8 230 .9 1 8 - 2 5 ,7 1 268 .56 9 ; 25 ,47
3 a -1 0 4 5 .6 1 1 i 1 2 ,7 9 1 0 1 .0 1 1 ■1 2 ,4 5 1 1 3 .8 3 1 i 1 2 ,3 1 112 .8 4 1 i 1 2 ,5 6 118 .74 2 i: 11 ,2 6
M®nois d® 1© 2 3 3 .0 1 0 > 6 3 ,9 3 5 8 4 .2 2 4 ■7 2 ,0 0 7 0 3 .7 6 9 ' 7 6 ,3 4 654 -+■
1© a -2© 4 1 .3 5 3 * 11,6® 7 3 .0 5 6 i 9,0© 7 6 .0 1 7 ! 8 ,2 2 80 ! 8 ,9 6 83 .65 6 :1 7 ,9 3
20 a -5® 5 3 .9 2 9 i 1 5 ,1 2 72.©2® i 8 ,8 8 7 0 .0 1 1 i 7 ,5 7 76 .©23 i 8 ,4 6 76 467 i 7 ,2 5
5® a -1 0 0 1 3 .e 2 0 i 3 ,6 5 2 7 .4 1 4 i 3 ,3 8 2 8 .1 2 0 • 3 ,9 4 16
> 3 0 ,3 7 1 7 2 .4 9 0 * 2 1 ,3 6 1 7 4 .1 4 8 ' í i . 8 4 192
13® a -20® 5 .5 2 6 • 1 ,5 5 1 8 .8 9 6 ! 2 ,3 3 2 0 .0 4 5 ! 2 ,1 7 28 .7 5 3 ! 3 ,2 0 21 .071 1:: 2 ,5 8
20® a -30® 5.8© 5 • 1 ,3 5 1 5 .2 9 4 • 1 ,8 8 1 4 .6 7 6 > 1 ,5 9 11 872 • 1 ,3 2 IO 439 .: 0 ,9 9
50® a -1 .8 0 ® 1 .3 9 4 • © ,39 3 .3 1 7 ■ 0 ,4 1 3 .4 1 2 ' © ,37 3
• 3 ,2 9 3 7 .5 0 7 ■ 4 ,6 2 1 8 .1 5 3 • 4 ,1 3 44
1.60® a - 2 .0 0 0 551 • © ,15 1 .1 5 4 ! 0 ,1 4 1 .4 0 6 ! © ,13 1 .52 7 ! 0 ,1 7 955 l m ,09
2.00® a - 3 .0 0 0 257 > 0 ,0 7 659 > ©,©© 786 • 0 ,0 9 1 .23 3 > © ,14 453 !: 0 ,0 4
a - 1 0 .0 0 0 37 i 0 ,0 1 103 • ©,©1 117 • 0 ,0 2 144 i 0 ,0 2 91 i1 0
s.m m
,01
1 .®@© a - 1 0 .0 0 0 @43 i 0 ,2 3 1 .9 1 6 • 0 ,2 4 2 .3 0 9 [ 0 ,2 3 2 .9 0 4
1®„@©@ a -1 0 0 .0 0 0 20 i 0 ,0 1 5© ! ©,0© 53 ! ©,©i 169 ! © ,o i 52 I!I 0 „ m m
1 0 0 . M • Mais - ' - i 1 • ©,©© 4 • 0,0®
5® i ©,©© 54 • ©,©£ 113
S« m D « o lara « ã o 598 I © ,17 1 5 .1 8 0 1 1 ,8 8 3 .9 7 1 ! 0 ,4 3 3 .7 6 1 ! 0 ,4 4 693 ! © 09
B R A S IL - POSSEIROS
ÁREA OCUPADA 1980/1985
Tabela 32
(to—*
e 1985. Êg
Esses dados comprovam também que os estabelecimentos dos g sQ.»GO
W
posseiros são em sua maioria de pequenas dimensões, ou seja, ocu « »2 O **
M Ú ti E K O DE E S T A B E L E C IM E N T O S Á r e a o c u p s D n c H « >
126 127
BRAS II, — POSSEIROS
PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL EM RELAÇÃO AO TOTAL DOS ESTABELECIMENTOS
DO BRASIL E DAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO
9 ê 0 s *7 0 d. 9 *7 3 i. 3 o 0 i 3 e s
_L_.,9
ú. ±.
A A » A B A B A B
BRASIL 1 8 8 ,0 0 1 0 ,6 8 1 0 0 ,0 0 1 6 ,9 3 1 0 0 ,0 0 1 0 ,5 1 1 0 0 ,0 0 1 7 ,1 8 1 0 9 ,0 0 1 8 ,0 7
NORTE 1 2 .7 3 3 2 .8 2 1 4 ,9 9 4 7 ,0 7 1 9 ,3 0 5 2 ,9 9
8 ,7 9 2 8 ,7 8 2 ,9 3 5 3 ,2 3 2 ,2 8 2 8 ,3 8
AC 0 .2 6 23.6© 1 ,3 9 4 5 ,9 4 1 ,2 2 4 5 ,1 8 1 ,3 6 4 1 ,7 3 1 ,5 7 4 6 ,8 6
AM 3 .8 6 2 8 .3 4 4 ,9 7 4 8 ,2 4 6 ,7 3 6 7 ,9 7 5 ,3 2 4 7 ,3 6 4 ,3 4 39,1©
RR 9 .1 3 5 4 ,8 7 9 ,9 3 2 2 ,6 2 9 ,3 1 9 4 ,7 7 9 ,3 9 9 1 ,2 1 © ,26 4 2 ,8 9
PA 8 .8 8 3 4 ,6 2 8 ,1 3 4 7 ,1 9 9 ,5 5 4 9 ,1 8 19,4© 4 1 ,6 9 8 ,3 1 3 4 ,4 3
AP 0 .1 2 3 4 ,6 2 0 ,1 2 4 4 ,1 5 0 ,3 0 6 8 ,5 7 ©,26 5 5 ,2 1 0 ,3 4 7 5 ,2 7
NORDESTE 4 9 .3 0 1 4 ,4 6 3 7 ,3 9 2 1 ,4 9 5 8 ,2 9 2 2 ,9 2
4 8 ,2 9 2 4 ,7 5 4 6 ,9 7 2 9 ,4 9 37 ,©4 1 9 ,1 6 3 7 ,8 4
PI 1 .3 3 3 ,4 4 6 ,1 3 2 3 ,1 6 4 ,5 7 2 1 ,1 9 7 ,4 2 2 6 ,7 6 7 ,6 3 2 9 ,5 7
CE 0 .8 1 2 ,3 3 4 ,6 5
RN
PB
9 .2 6
0 .3 2
1,8®
9 ,3 7
2 ,6 3
2 ,7 6
1 5 ,9 5
2 1 ,9 9
4 ,6 4 1 7 ,0 5
2 ,7 3 2 4 ,9 8
3 ,38 12 ,3 4
2 ,3 6 2 1 ,5 8
5 ,3 9
2 ,6 5
1 4 ,4 2
2 4 ,9 0
1 3 ,5 1 4 ,4 8 2 0 ,7 9 3 ,6 7 1 9 ,6 6 4,2© 2 1 ,6 6
PE 1 ,3 9 1 .9 1 7 ,3 0 1 8 ,1 7 6 ,4 3 18 ,8 4 7 ,2 3 1 9 ,6 6 8 ,2 3 2 4 ,1 8
AL 0 .2 8 1 ,6 1 1 ,3 6 1 0 ,5 6 2 ,0 9 1 6 ,7 1 2 ,6 4 2 8 ,8 4 3 ,13 2 2 ,9 9
SE 0 .3 4 1 ,8 8 1 ,4 6 1 2 ,5 5 1 ,7 2 1 5 ,6 8 1 ,3 6 1 2 ,8 6 1 ,5 2 1 3 ,7 5
BA S . 64 3 ,2 7 7 ,8 1 1 1 .8 0 6 ,4 6 1 9 ,8 9 8 ,1 1 1 1 ,4 8 9 ,5 4 1 3 ,5 1
SUDESTE 7 .4 8 3 ,2 4 7 ,8 3 7.1® 5 ,7 4 6 ,9 4
2 ,4 6 4 ,9 9 3 ,2 7 4 ,9 2 3 ,9 3 7 ,4 7
ES 9 .4 7 2 ,8 2 0 ,4 1 4 .8 3 0 ,2 3 3 ,5 8 0 ,3 7 5 ,6 5 8 ,5 3 8 ,8 6
RJ 1 .3 3 8 .2 9 1 ,2 8 1 3 .6 1 1 ,1 7 1 4 ,1 6 1 »03 1 1 ,8 2 1 ,1 8 1 3 ,6 2
SP 2 .4 3 2 .7 3 2 ,3 2 3,9© 1 ,8 8 6 ,2 4 1 ,9 8 6 ,4 8 1 ,7 6 6 ,5 5
SUL 2 2 .4 3 9 ,9 1 13,5® 9,9® 1 9 ,5 8 8 ,4 5
9 ,2 7 4 ,8 9 9 ,2 8 4 ,9 8 9 ,8 3 4 ,4 3 9 ,9 7
SC 1 .7 1 3 ,8 4 1 ,7 6 7 ,2 5 1 ,8 2 8 ,1 4 2 ,2 1 9 ,1 6 1 ,9 9 8 ,9 2
RS 1 1 .2 6 1 9 ,3 6 5 .5 7 9 ,4 2 3 ,9 6 7 ,7 6 3 ,9 7 7 ,5 1 3 ,7 8 7 ,9 9
C. OESTE © .94 1 7 .9 9 6 .9 8 1 9 ,9 4 6 ,1 9 2 9 ,9 2 4 ,6 3 1 5 ,5 5 3 ,9 3 1 3 ,1 8
MS — — — — 1 ,1 6 1 8 ,5 4 9 ,6 8 1 2 ,8 8 8 ,6 4 12^23
MT 2 ,2 8 2 2 .9 8 2 ,7 4 2 1 ,3 8 1 ,8 3 3 9 ,1 4 1 ,5 5 2 2 , ©1 1 ,3 3 1 7 ,9 6
m 3 .9 6 1 6 ,2 4 3 ,2 9 1 8 ,8 1 3 ,9 3 1 8 ,3 4 2 ,3 4 1 3 ,6 3 1 ,8 8 1 1 ,8 1
....
m?
1 9 ,9___1 1 1 ,7
~2 ®-,9---3 2 3 ,5 1
---*---- ©,®6 3 9 ,9 2 w©,,96
gyp 2 2 ,1 3 [1 U, ©,@8 2 4 ,9 9
A = X ES3 RELAÇÃO AO TOTAL BO PAIS / B = X EH RELAÇÃO t t UNI DftDE DA FEDERAÇÃO
B R ft 3 I L. — P O S S E IR O S
A. 3 6 0 ±. 9 •7 0 •7 3 Q 0 dL <3 a s
c T D c | D c D C i D c D
B r a s i1 1 8 8 ,8 9 3 ,6 4 1 9 8 ,9 9 7 ,5 2 1 9 9 ,9 9 6 ,8 9 i r o , 89 7 ,1 9 1 0 8 ,8 8 5 ,3 5
3 8 ,9 9 2 6 ,6 3 4 5 ,8 6 2 8 ,6 4 4 1 ,6 3 1 8 ,6 6
RO 1 ,6 4 4 9 ,1 7 2 ,2 1 2 8 ,7 4 2 ,6 7 20,8©
AC 9 ,5 6 © ,54 1 9 ,1 9 5 2 ,4 5 8 ,9 3 4 1 ,7 4 5 ,7 7 2 6 ,2 1 9 ,81 3 3 ,3 0
AM 2 ,9 6 2 ,9 2 5 ,2 5 2 7 ,1 8 3 ,9 6 33,6© 9 ,7 6 3 5 ,9 2 9 ,1 6 3 0 ,8 9
RR 2 ,9 8 3 1 ,1 2 9 ,3 5 4 ,7 3 6 ,6 6 8 0 ,8 3 6 ,2 6 6 7 ,1 4 1 ,7 2 1 6 ,0 5
PA 1 9 ,1 2 1 7 ,5 1 9 ,5 2 1 9 ,1 8 1 6 ,8 4 2 3 ,2 3 1 2 ,6 5 1 6 ,3 4 1 4 ,5 8 1 2 ,3 9
AP 9 ,2 6 1 ,9 1 9 ,2 9 7 ,1 7 9 ,5 8 1 7 ,4 1 8 ,2 6 9 ,3 7 1 ,4 9 2 4 ,7 6
6 ,9 6 1 7 ,3 6 4 ,9 3 1 6 ,9 8 5 ,0 4 2 1 ,4 3 4 ,6 9
MA 7 ,6 3 8 ,4 3 3 ,4 2 1 9 ,8 7 5 ,9 1
PI 1 ,2 7 1 ,2 7 1 ,9 9 4 ,4 4 1 ,3 1 2 ,7 6 2 ,6 3 5 ,8 7 2 ,5 9 1 ,4 7
CE 1 ,4 4 1,2© 4 ,4 1 8 ,9 3 3 ,6 6 7 ,4 3 2 ,3 4 5 ,2 2 3 ,6 2 6 ,5 3
RN 9 ,4 9 1 ,2 1 1 ,5 5 7 ,4 9 1 ,2 1 6 ,1 8 1 ,2 8 7 .5 3 1 ,6 4 7 ,4 7
P© 9 ,2 9 © ,65 1 ,1 4 5 ,4 1 © ,94 4 ,4 5 1 ,1 5 6 ,1 8 1 ,3 2 5 ,4 1
PE © ,46 0 ,7 1 1 ,5 5 5 ,2 1 1 ,3 8 4 ,8 9 1 ,5 5 6 ,1 9 2,2© 6 ,6 0
AL 9 ,2 2 1 .0 3 9,3© 2 ,8 4 0 ,2 8 2 ,7 8 © ,34 3 ,7 9 © ,52 4 ,3 4
83 9 ,9 6 © ,37 9 ,2 1 2 ,5 7 0 ,1 3 1 ,6 6 9 ,1 3 1 .8 8 0 ,2 2 2 ,2 8
BA 3 ,6 6 1 ,8 3 4 ,2 5 4,©9 3 ,4 5 3 ,9 4 3,7© 3 ,2 6 5 ,4 4 3 ,2 6
8UDESTE 1 2 ,9 5 1 ,8 3 1 2 ,8 5 4 ,1 1 7 ,2 7 2 ,2 4 7 ,9 1 2 ,5 2 1© , 34 2 ,8 3
HO
»
9 ,1 2 2 ,1 7 9 ,5 6 5 ,1 1 4 ,4 4 2 ,2 2 4 ,4 5 2 ,5 4 6 ,83 2 ,9 9
ES © ,62 1 ,9 5 9 ,4 3 2 ,5 4 0 ,2 6 1 ,5 3 9 ,3 3 2 ,3 0 © ,54 2 ,8 3
RJ © ,69 3 ,9 7 9 ,7 9 4 ,6 3 0 ,7 4 4 ,7 9 9 ,3 3 4 ,2 4 © ,68 4 ,1 3
SP 2 ,9 9 9 ,9 6 2 ,1 6 2 ,3 2 1 ,8 3 1 ,9 8 1 ,7 9 2 ,2 1 2 ,2 9 2 ,2 6
9 ,8 4 4 ,6 7 6 ,3 2 3 ,1 5 6 ,9 8 3 ,3 6 7 ,8 2 3 ,2 3
PR 1 1 ,6 9 9 ,3 3 3 ,5 4 5 ,2 9 2 ,5 4
SC 1 ,1 6 1 ,7 8 1 ,2 9 4,©7 1 ,1 3 3 ,6 6 1 ,3 8 4 ,2 7 1 ,4 1 3 ,8 3
RS 7 ,3 3 3 ,8 7 4 ,2 1 4 ,4 3 2 ,8 3 2 ,6 9 2 ,6 7 2 ,9 4 3 ,4 4 2 ,9 0
7,9© 2 9 ,8 8 7 ,9 9 2 4 ,9 7 5 ,5 5 1 8 ,7 8 3 ,2 3
___ ___ — — 2 ,4 7 1 ,9 2
MT 7 ,4 2 2 ,1 8 1 9 ,9 9 4 ,7 7 3 ,3 7 3 ,4 2 6 ,6 9 4 ,9 2 4 ,7 8 2 ,3 3
OO 2 6 ,2 9 0 ,2 7 1 9 ,5 2 1 1 ,9 9 2 3 ,9 8 1 2 ,4 9 1 3 ,4 8 8 ,4 4 1 1 ,1 8 4 ,7 3
DF ©,©2 1,4© 9 ,9 6 8,9® 0 ,8 7 8*93 9 ,9 8 8 ,3 2 9 ,1 4 9 ,3 7
TOTAL DA UNIDADE DA FEDERAÇÃO
£ = c2„*5
LxDO r * d o s A?mo X EM RELAÇAO AO
« 8 t rPAÍS
Tabela 36 —Fonte: IBGE
participação relativa no conjunto de cada unidade da Federação. Na censo de 1975 mostra-nos que 52,90% dos estabelecimentos da re
tabela 35, referente ao número de estabelecimentos e área ocupada gião Norte são controlados por posseiros ocupando um total de
para os anos de 1960, 1970, 1975, 1980 e 1985, temos a situação 26,63% da área da região, que representa 38,99% da área ocupada
desta distribuição no Brasil. pelos estabelecimentos com posseiros no total do país.
Podemos, assim, observar que o maior número de estabeleci Se juntarmos à região Norte, os estados do Maranhão, Goiás e
mentos pertencentes a posseiros está localizado no Maranhão e esse Mato Grosso, esses percentuais passarão para: 48,94% dos estabele
fato não é ocasional, pois se trata da área mais próxima da Amazô cimentos e 71,35% da área ocupada pelos posseiros no país.
nia Legal em relação ao Nordeste brasileiro. Depois do Maranhão Ignorar a evidência desses dados é ignorar a própria realidade
vêm os estados do Paraná, Amazonas, Bahia e Pernambuco, com deste país. Aqui fica evidenciada, mais uma vez, a necessidade de
compreensão não linear da expressão do capitalismo no Brasil. Ou
contingentes mais expressivos. Através dos censos apresentados nas tros caminhos de análise levarão certamente a desvios teóricos e
tabelas anteriores podemos verificar que toda a região Norte, região equívocos nas propostas práticas de superação dessa realidade.
Nordeste e região Centio-Oeste conheceram aumento no número de
estabelecimentos, e as regiões Sudeste e Sul, com exceção de Santa
Catarina, conheceram um aumento do número de posseiros entre
1960 e 1970 e uma diminuição entre 1970 e 1975. O mesmo vale pa OS POSSEIROS
ra a área ocupada, com a diferença de que nos estados de maiores E A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA
contingentes como Maranhão, Bahia e Pernambuco houve uma di
minuição da área ocupada também; o Pará apresentou-se em 1975
com expressivo crescimento de 86,19% da área ocupada. Iniciaremos este item apresentando a participação do pessoal
Estamos novamente diante do desenvolvimento desigual do ca ocupado no total dos estabelecimentos e particularmente nos esta
pitalismo no país, que expropria numa região, mas os posseiros ins belecimentos dos posseiros e o faremos apenas para os anos de 1960
talam-se em outras, indicando o movimento contraditório de destrui e 1970 pois os censos de 1975 e 1980 suprimiram esta informação.
ção e recriação. Sobre o total do pessoal ocupado, conforme tabela 37, pode
Ainda com relação à distribuição territorial dos posseiros, mos observar que o período 60/80 apresenta uma realidade deveras
chamamos a atenção para a tabela 36 referente à participação per heterogênea. É assim que o total do pessoal ocupado nos estabele
centual do contingente de posseiros no total de estabelecimentos cimentos rurais aumentou em 12,43% no período 60/70, 15,72% no
existentes em cada unidade da Federação. período 70/75 e apenas 3,76% no período 75/80. Entretanto, ainda
Esses dados permitem-nos inferir que o período de 1960 a assim, se tomarmos o período 70/80 o total cresceu 20,06%. Já o
1970 marca um avanço geral da participação dos posseiros em rela pessoal ocupado em estabelecimentos de posseiros nesse contexto,
ção ao total dos estabelecimentos de cada unidade da Federação. No cresceu em 97,06% entre 60/70, recuando para 27,17% entre 70/75
entanto, o período de 1970 a 1975 marcou um decréscimo dessa e reduzindo ainda mais em -3,64% entre 75/80. No entanto, tivemos
participação nas regiões Sudeste e Sul, e o aumento considerável para o período de 1970/80 um aumento total de 22,54% ligeiramente
ocorrido na maioria das unidades da Federação das regiões Centro- superior ao aumento total do pessoal ocupado. Outro fato significa
Oeste, Norte e Nordeste. Gostaríamos de chamar a atenção também tivo é a participação percentual do pessoal ocupado nos estabeleci
para os incrementos na participação percentual das unidades da Fe mentos de posseiros no total do país que passou de 7,82% em 1960
deração dessas regiões (Centro-Oeste, Norte e Nordeste), pois o para 13,71% em 1970 e para 15,07% em 1975, baixando para
130 131
13,99% em 1980. Entretanto, quanto à participação do pessoal ocu
pado nos estabelecimentos de posseiros em relação ao total do in
cremento no período, tivemos 61,06% entre 60/70, 23,69% entre
70/75 e um saldo negativo de -14,60% entre 75/80. Já com relação
ao período de 70/80, o saldo permanece ainda positivo em 15,40%.
Para melhor esclarecer a estrutura do pessoal ocupado nos es
tabelecimentos de posseiros, apresentamos na tabela 38 os dados re
ferentes ao pessoal ocupado nos estabelecimentos dos posseiros.
Tabela 38 - PESSOAL OCUPADO
EM ESTABELECIMENTOS DE POSSEIROS
INCRE
1960 % 1970 % MENTO NO
PERÍODO
RESPONSÁVEL E
MEMBROS NÃO RE 980.322 80,15 2.220.983 92,14 126,56
MUNERADOS DA
FAMÍLIA
Empregados (per
manentes e tempo 179.719 14,69 144.759 6,01 -19,45
rários)
Parceiros 17.144 1,40 27.243 1,13 58,91
Outras Condições 45.989 3,76 17.356 0,72 -62,26
TOTAL 1.223.174 100,00 2.410.341 100,00 97,06
OS MIGRANTES CAMINHAM...
Rodovias
----- Pavimentadas
200 mil ha à Juruena Empreendimentos S/C Ltda., dirigida pelo fa
zendeiro paulista João Carlos Meirelles, que implantou na área o
----- Sem Pavimentação
156 157
TABELA DE MUNICÍPIOS (Cont.)
1970 A 1980
57 - SINOP 68 - Marcelândia
58 - Tangará da Serra 69 - Nova Canaã do Norte
1980 a 1987 70 - Nova Olímpia
71 - Novo Horizonte do Norte
59 - Alto Taquari 72 - Novo São Joaquim
60 - Araguaiana 73 - Paranaíta
61 - Campinápolis 74 - Peixoto Azevedo
62 - Cocalinho 75 - Porto Alegre do Norte
63 - Comodoro 76 - Porto Espiridião
64 - Figueirópolis 77 - Primavera do Leste
65 - Guarantã do Norte 79 - Sorriso
66 - Indiavaí 80 - Terra Nova do Norte
67 - Itaúba 81 - Vera
82 - Vila Rica
I
3211826
:3E