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Departamento de Filosofia
Rio de Janeiro
2020
1. Antes de expor sua teoria sobre a origem e a natureza de nossas ideias, Locke
faz uma longa crítica à tese de que há ideias inatas. Exponha os principais
aspectos da crítica de Locke à tese inatista.
No primeiro parágrafo dos Ensaios, Locke expõe uma opinião corrente acerca das ideias
inatas. Essa tese diz: há certos princípios especulativos e práticos que são inatos, ou seja,
que foram impressos na alma dos homens no momento da sua criação, e que os humanos
já nasceram com tais princípios1. O argumento que esta posição tradicional usa para
defender a existência de princípios inatos é o argumento do consenso universal, que diz:
existem princípios que são assentidos (que são aceitos) por toda a humanidade (“há certas
verdades que toda a humanidade reconhece”), e isso prova que estes princípios são inatos.
A tese do consenso universal é a primeira tese que Locke irá contrapor. Para fazê-lo,
Locke mostrará que o consenso universal não é garantia da existência de princípios inatos,
pelo contrário, essa tese prova o contrário do que se propõe, além de ser falsa, pois a
humanidade não aceita universalmente nenhum princípio.
O exemplo que Locke utiliza são dos princípios da não-contradição e de identidade. Não
é o caso de que toda humanidade concorda com esses princípios, pois nem crianças nem
idiotas tem o conhecimento deles. Se houvesse um consenso universal entre toda a
humanidade, então estes dois casos deveriam conhecer tais princípios. Se esses dois casos
não conhecem, isso mostra que, além de não haver assentimento universal quanto a esses
princípios, cai por terra a ideia de que há princípios especulativos inatos.
Selecionarei apenas mais um aspecto devido ao limite de linhas: dizer que as crianças, ao
chegarem ao uso da razão, passam a conhecer estes princípios não provam que eles são
inatos. Do contrário, se é preciso elas chegarem ao uso da razão para tal, isso só mostra
que apenas sob posse do uso da razão é que as crianças podem aprender tais princípios.
Toda essa contra argumentação de Locke, no final das contas, é para mostrar que não há
nenhuma ideia em nosso espírito que não tenha sido adquirido pela experiência, ou seja,
não há ideias nem princípios inatos.
1
É opinião corrente entre alguns homens de que há no entendimento, como que impressos, certos princípios
inatos, noções primitivas ou comuns, que a alma teria recebido ao ser criada e trazido com ela para este
mundo. Cf. LOCKE, J. Ensaio sobre o Entendimento Humano. Lisboa: Fundação Calouster Gulbenkian,
2014. Vol I, p.
2. De acordo com Locke, todas as ideias de nosso entendimento são simples ou são
compostas de ideias simples. Desenvolva um texto expondo como Locke
caracteriza as ideias simples.
Além da constituição das ideias simples, é importante notar a origem dessas ideias,
como foi aludido no final do parágrafo anterior. De acordo com Locke, nos Ensaios, todas
as ideias provem ou da sensação ou da reflexão. As ideias simples da sensação são aquelas
que dizem respeito a percepção externa; as ideias da reflexão são aquelas ideias que
adquirimos ao nos voltarmos para nosso próprio espírito. Não é possível, segundo Locke,
inventar ou destruir uma ideia simples, só é possível compor ideias simples em ideias
complexas.
Uma outra característica que nos põe em contato com a noção de ideia simples é o
fato das ideias simples serem necessariamente verdadeiras. O que isso significa? Significa
que há uma conformidade entre as qualidades nos objetos são e as ideias que são formadas
na nossa mente, por via dessas qualidades. Locke diferencia dois tipos de qualidades, as
qualidades primárias, que dizem respeito àquelas qualidades inseparáveis de um corpo,
como por exemplo: extensão, solidez e figura; e as qualidades secundárias que não estão
presentes nos objetos, mas diz respeito aquilo que é produzido em nós, como por exemplo,
a ideia de som e cor.
De acordo com Tadié (2005), é no sentido acima indicado que as ideias não podem
ser falsas, e estão em conformidade com a realidade exterior.
BIBLIOGRAFIA