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Universidade Federa Fluminense

Exercício da tutoria

Aluno: Carlos Henrique Cardoso Figueiredo Filho

O que significa educação? Por essa palavra, normalmente se entende um sistema


que forma e capacita os membros de uma dada sociedade para as atividades que a
sustentam. E se esse for o caso, seria correto também afirmar que, por definição, a
educação é um processo interessado, haja vista que está comprometido desde o início
com as exigências que recaem sobre os membros da sociedade. Nesse sentido, o corte de
verbas para as disciplinas de Filosofia e Sociologia no Ensino Básico apontam com
clareza que a ausência desses conhecimentos no repertório da juventude é interessante a
alguém. E por isso, faz-se mister perguntar: a quem? E qual é a origem desse interesse?

O governo procura justificar o corte com a endividamento da máquina pública.


Devido às dívidas da União, seria necessária uma mudança no racionamento de recursos,
de maneira a reduzir ainda mais o já escasso investimento em educação. Nesse cenário,
as ciências priorizadas seriam as exatas, por serem consideradas mais economicamente
úteis, caracterizando a filosofia e as demais ciências humanas como fardos econômicos.
Ora, tais dívidas não são incomuns na história do funcionamento público no Brasil, de
modo que o corte para as disciplinas de Filosofia, Sociologia e Antropologia mais parece
uma forma de responsabilizar essas cadeiras por uma crise a qual elas não carregam
responsabilidade.

Além disso, o discurso governista insiste em confundir o que é economicamente


lucrativo com socialmente necessário. De fato, o estudo da Sociologia, da Antropologia
e da Filosofia não se prestam a darem um retorno econômico imediato. Um sociólogo não
construirá pontes; um antropólogo dificilmente fará concessões público-privadas
milionárias; um filósofo não inventará uma fonte de energia mais barata e produtiva.
Contudo, seres humanos não dependem só da desenfreada reprodução material da vida.
Sendo o ser humano um ente social, é preciso aprofundar-se no estudo dos componentes
elementais da vida em sociedade. Estudar esse lado da vida humana em âmbito
universitário, bem como utilizar esse conhecimento para a formação da sociedade, é o
mínimo de justiça que pode ser feito com o povo brasileiro. Povo este cuja história,
marcada pela exploração e genocídio, se calcifica na aparentemente irreversível
desigualdade social de nosso país. Levando isso em consideração, torna-se forçoso
considerar que, se o corte aqui discutido se propõe a resolver algum problema, parece se
tratar de um problema do capital, e não das ânsias humanas da sociedade.

Eis que, dessa forma, o corte concretamente expõe que o estado atende
primeiramente ao interesse privado, não o público. No entanto, seu comprometimento
constitucional é justamente de defender o interesse público em favor do privado.
Evidentemente que essa contradição é conhecida por sociólogos e filósofos, sendo parte
do ofício de seus respectivos campos de conhecimento a exposição das contradições
políticas, sociais e históricas que permeiam a vida do brasileiro. Isso vai diretamente
contra os interesses da elite dominante, o que explica em parte as motivações por trás da
remoção dessas disciplinas do currículo do Ensino Básico. A elite quer cidadãos que
produzam, não que critiquem sua realidade produtiva. E o estado, por razões alheias ao
interesse público, usa os meios cabíveis para ferir os inimigos de classe de seus patronos.
Essa dinâmica não é nova, e nem será extinta por mero discurso, ou pela reivindicação
formal. É preciso, além da conscientização das ações, pressão popular e sindical
constante. O interesse de poucos não deve se manter acima do que é socialmente digno
ao povo brasileiro.

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