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Capítulo 1: Introdução ao Antigo Testamento

Descobertas recentes feitas onde era o antigo Oriente Próximo fizeram ressurgir o
interesse nos estudos do Antigo Testamento. Tanto eruditos profissionais quanto
leigos interessados têm ficado intrigados com descobrimentos como os Manuscritos
do Mar Morto em cavernas emboloradas, perto da comunidade Qumran. Esta é
apenas uma, dentre as muitas novas descobertas, que têm ajudado a desvendar o
registro bíblico. Você irá notar, nos atuais trabalhos escritos sobre o Antigo
Testamento, que eles podem ser radicalmente diferentes, dependendo do método
que o autor adota.

Há uma razão para esta diferença. A forma como nos aproximamos do Antigo
Testamento será determinada pelas pressuposições teológicas que trazemos para a
Palavra de Deus. Se eu aceitar a tese de que o Antigo Testamento é uma mera e
falível testemunha da revelação, isso irá alterar meu modo de considerar o conteúdo
dos livros individuais. Mas se eu abordar o Antigo Testamento como registro infalível
em que Deus revela-Se a Si mesmo ao homem, meu desenvolvimento será
diferente.
Obviamente, a abordagem que buscaremos aplicar neste curso será a última. Não
precisamos nos justificar, porque esta foi a atitude que Cristo e os apóstolos tiveram
em relação ao Antigo Testamento. Eles criam que o Antigo Testamento era um
registro inerrante da verdade divina, como mostram claramente as passagens de
Mateus 1:22.23; 5:17-18; Marcos 12:36 e Atos 1:16.

Neste prefácio, exploraremos algumas verdades fundamentais que estão ligadas ao


Antigo Testamento como um todo. Estes fatos fornecerão um valioso material de
base que ajudará você a estudar os conteúdos de cada livro individualmente. Seria
útil, antes de mais nada, destacar a natureza do método de estudo que buscaremos
aplicar.

O valor do método de estudo

Todo nós já vimos um cristão novo ansioso para estudar a Palavra sozinho. Mesmo
não conhecendo os livros da Bíblia, lança-se com entusiasmo ao estudo e espera
que grandes verdades espirituais sejam automaticamente reveladas a ele. Se por
acaso escolher o Antigo Testamento como ponto de partida, é provável que ele logo
desista. Sua infrutífera tentativa se agrava quando tenta pôr em ordem os
numerosos detalhes que o confrontam. Ele lê sobre eventos que não consegue
entender, sobre reis que não pode conceber e sobre poderes estranhos que
aumentam ainda mais a sua confusão. O problema é bastante comum. Ele mergulha
em um mar de pormenores e não consegue ver o plano geral, nem do Antigo
Testamento como um todo, nem dos livros, individualmente.

O estudo genérico, ou método sintético, como às vezes é chamado, procura traçar


um plano geral dos livros da Bíblia, individualmente, sem se perder nas minúcias. É
o oposto do método analítico, que busca fazer um estudo dos detalhes dos capítulos
e versículos. A diferença pode ser comparada a um mapa mundi e um mapa de ruas
da cidade de São Paulo. O primeiro mapa fornece um amplo contorno dos
continentes e países para que se possa ver o mundo como um todo. O segundo
busca prover os detalhes mais minuciosos de uma cidade em particular.
Trabalhando do todo para as partes no estudo da Bíblia, evitamos nos perder nas
ruas secundárias das Escrituras e nossos olhos podem ser abertos para as artérias
principais. Com isso em mente, podemos começar a desvendar o mapa.
Entendendo a mensagem do Antigo Testamento

Talvez pareça estranho falar sobre a mensagem da Bíblia, isto é, sobre uma ideia
singular abrangente ou conjunto de ideias que conectem os variados livros contidos
em suas páginas. Como juntar o vasto número de verdades contidas nesta coleção
de 66 livros escritos num período de aproximadamente 1500 anos, por mais de 40
autores, em três idiomas diferentes?

Hoje, um número crescente de professores e autores cristãos tem examinado as


Escrituras com essa pergunta em mente, buscando articular uma descrição concisa,
porém significativa, desta grande narrativa, ou aquilo a que muitos têm chamado
“História de Deus”. Têm perguntado: “Como as Escrituras retratam esta história e
como podemos contá-la a outras pessoas?”

Abordamos essa pergunta investigativa em outro curso intitulado “Deus conosco”, no


qual abordamos exclusivamente como a Bíblia pode ser entendida como
comunicadora de uma história coesa das intenções de Deus para nosso mundo
- passado, presente e futuro. No momento, porém, podemos simplesmente
identificar os quatro temas principais que compreendem a história de Deus e
começar a reunir em uma mensagem como a obra de Deus na história humana se
revelou no passado e se revelará no futuro.

A criação

Vemos, iniciando em Gênesis 1:1, que Deus criou os céus e a terra, e que tal ato
criativo foi bom. Adão e Eva foram criados à imagem de Deus, sem pecado, e
tinham um relacionamento perfeito com o Criador e a criação, buscando apenas
agradar a Deus. Em toda a Bíblia, somos lembrados sobre as boas intenções de
Deus para a Sua criação e sobre como os Seus propósitos deveriam influenciar a
forma como nos vemos, pensamos e vivemos. Infelizmente, conhecemos um mundo
muito diferente hoje, repleto de dor, angústia, sofrimento e pecado. Às vezes, então,
fica difícil entendermos que as coisas nem sempre foram assim e nem sempre
permanecerão assim. Ao estudarmos o Antigo Testamento, devemos lembrar que a
obra de Deus na criação não está limitada simplesmente às primeiras páginas de
Gênesis, mas é citada em toda a Bíblia. No Antigo Testamento todo, somos
lembrados sobre o propósito criativo de Deus, sobre o que a criação revela a
respeito do caráter e do plano de Deus e sobre o que significa ser criado à Sua
imagem. Este início prepara o cenário para todas as outras coisas que Ele revelou a
nós em Sua Palavra.

A queda

Em Gênesis capítulo 3, lemos a história da queda de Adão e Eva em pecado e das


consequências do pecado. Embora seja difícil entendermos as implicações totais
desses eventos, certamente sentimos os seus efeitos no mundo em que vivemos
hoje. Em cada página da Bíblia, descobrimos ainda outra visão sobre como o
pecado original, juntamente com as ações pecaminosas de cada nova pessoa
encontrada em nossa leitura, impactam negativamente o nosso mundo. Em nossa
jornada pelo Antigo Testamento, descobrimos os efeitos da queda sobre indivíduos
e nações. Reconhecemos a natureza cumulativa do pecado e a sua influência sobre
o povo de Deus. Em essência, esperamos que a sua atenção seja capturada pela
natureza difusa do pecado e pelo nível da disposição de Deus em fornecer os meios
para perdoar e restaurar a nossa comunhão com Ele.

Redenção

Começando com Gênesis 3:15, descobrimos a obra redentora de Deus por meio da
qual Ele provê o modo de restaurar um relacionamento adequado consigo mesmo.
Ao prosseguirmos por todos os livros do Antigo Testamento, encontramos um único
Deus verdadeiro que nos ama e que está ativo na história, atraindo-nos de volta a Si
mesmo. Como veremos, somente Deus é capaz de redimir a humanidade de seu
pecado. Todo o Antigo Testamento aponta para um tempo futuro na história
humana, em que Deus mesmo faz expiação por nossos pecados e desfaz os efeitos
difusos do pecado sobre o nosso mundo.

A palavra  A consumação da redenção consumação significa “cumprimento


definitivo” de algo. Em certo sentido, esta palavra comunica que algo está
chegando a um ponto de conclusão, embora não signifique necessariamente
que esteja terminando. Assim, vemos, a começar de Gênesis e indo até ao livro
de Apocalipse, que a obra da redenção divina está rumando a um cumprimento
definitivo. Há uma sensação de antevisão quando ansiamos pela época em que
Deus tornará certo tudo o que é errado, uma época em
que Ele irá completar a obra redentora que iniciou. Ao lermos todo o Antigo
Testamento, vemos Deus fazer referência a esta esperança, a uma época de juízo
em que Ele porá fim ao pecado e trará restauração, proclamando perfeita justiça e
paz.

Lendo o Antigo Testamento com o quadro maior em mente

Nestes quatro temas grandes da obra redentora de Deus (criação, queda, redenção,
consumação), reconhecemos a história da humanidade, bem como as nossas
próprias histórias. Ao estudar o livro de Gênesis e cada uma das quatro partes deste
curso, encorajamos você a pensar sobre como esses importantes temas são
retratados no que você lê. Considere perguntas como:

 Como as boas intenções de Deus para a Sua criação, reveladas


no Antigo Testamento, influenciam a maneira como devemos
viver como povo de Deus?

 Como a queda da humanidade em pecado nos afetou e mudou


o mundo de Deus?

 O que Deus fez para resgatar o Seu povo do pecado e das


consequências do pecado?

 O que Deus revelou sobre seus propósitos definitivos, sobre


aquilo por que devemos ansiar como Seu povo?

Estes quatro temas fornecem um conjunto de lentes através das quais podemos
entender melhor a mensagem de Deus contida na Bíblia.

Os livros do Antigo Testamento

Divisão do Antigo Testamento


É chocante para o leitor comum da Bíblia descobrir que os livros do Antigo
Testamento não estão colocados em ordem cronológica. A ordem que encontramos
na Bíblia em português, contudo, é lógica, porque os livros são agrupados por
assunto. Os primeiros dezessete livros podem ser grosseiramente classificados
como históricos, enquanto os dezessete últimos constituem a parte profética do
Antigo Testamento. Entre eles, ficam os cinco livros que normalmente são
classificados como poéticos.

Livros históricos

Os livros históricos podem ser ainda mais decompostos. Os cinco primeiros livros do
Antigo Testamento são chamados Pentateuco ou Lei. O mesmo autor humano,
Moisés, escreveu todos eles. Os doze livros restantes não têm título específico, mas
podem ser divididos entre aqueles que descrevem eventos antes do cativeiro
babilônico (pré-exílio) e aqueles que traçam a história após o cativeiro (pós-exílio).

Livros poéticos

Os cinco livros poéticos são assim chamados porque refletem a principal


característica da poesia hebraica: paralelismo de pensamento. Estes livros são por
vezes referidos como "literatura de sabedoria". Cada um dos cinco livros explora um
tema básico da vida.
 Jó: Por que pessoas boas sofrem?

 Salmos: O que é adoração?

 Provérbios: O que é sabedoria?

 Eclesiastes: Qual é o bem maior?

 Cantares de Salomão: O que é amor?

Livros proféticos

Em geral, os livros proféticos são divididos em profetas maiores e profetas menores.


Há cinco profetas maiores e doze menores. Lamentações e Jeremias normalmente
são colocados juntos porque foram escritos pelo mesmo autor. O livro de Daniel
também é incluído no grupo dos profetas maiores nas Bíblias portuguesas.

Tipologia e o Antigo Testamento

Tipo já foi corretamente definido como: "Relacionamento representativo pré-


ordenado que certas pessoas, eventos e instituições do Antigo Testamento têm com
pessoas, eventos e instituições correspondentes no Novo Testamento". O Novo
Testamento dá ampla justificação para o uso da tipologia. A discussão de
Melquisedeque em Hebreus 7 é um exemplo de pessoa usada como tipo.
Melquisedeque é um personagem do Antigo Testamento que tem notável
semelhança e correspondência com Cristo. Assim como Cristo, ele é rei e sacerdote.
Outra semelhança é que seu sacerdócio não está baseado em uma genealogia.
Adão e Davi também são tipos de Cristo. O Êxodo do Egito é um caso de evento
que serve como tipo. Assim como Israel foi liberto da servidão pelo poder de Deus,
da mesma forma somos redimidos do pecado. O evento tem correspondência e
analogia óbvias com nossa salvação. Os sacrifícios de Levítico 1:5 são um exemplo
de instituição que constitui um tipo. O paralelo entre o derramamento de sangue do
animal e o derramamento do sangue de Cristo é claramente visto em Hebreus 9. É
óbvio que estas semelhanças são mais do que acidentais. Elas são ilustrações
divinamente planejadas de verdades espirituais. Conforme seguirmos pelo Antigo
Testamento, estudaremos a tipologia onde houver relacionamento óbvio com
alguma verdade do Novo Testamento.

Dispensações e o Antigo Testamento

Adquirir um entendimento básico da estrutura dispensacional do Antigo Testamento


será útil para colocarmos os livros em sua perspectiva adequada. Tem-se definido
dispensação por "administração distinguível no cumprimento do propósito de Deus". 

Demarcar certas dispensações é meramente reconhecer que a economia, ou o


método de operação, de Deus não é sempre a mesma. Por exemplo, atualmente
não temos que trazer sacrifícios de animais a um tabernáculo. Não vivemos sob o
decreto a respeito da árvore do meio do Jardim. Deus opera sob uma economia
diferente hoje. Nem todos concordam em relação ao número de dispensações
encontradas na Bíblia, mas os dispensacionalistas mais clássicos aceitam sete,
cinco delas no Antigo Testamento. É suficiente observar aqui que em uma
dispensação Deus testa o homem a respeito de alguma faceta de Sua vontade
revelada.

O resultado inevitável é o insucesso da parte do homem. Dispensação não é uma


forma de salvação. Como veremos em nosso estudo do Antigo Testamento, o
método de salvação é o mesmo em qualquer dispensação. A base é sempre a Cruz,
embora a extensão da revelação que é dada ao homem possa variar de
dispensação para dispensação.

O panorama histórico do Antigo Testamento

Diferentemente do Novo Testamento, que abrange o curto espaço de tempo de um


século, o Antigo Testamento cobre eventos com alcance de bem mais de 4.000
anos. Os escritos do Antigo Testamento englobam aproximadamente mil anos.
Durante este período, quatro potências mundiais gentílicas apareceram no horizonte
e deixaram a sua marca na história de Israel.

Por volta de 2000 a.C., Deus falou a Abraão, e ele deixou o seu lar em Ur e entrou
em Canaã. O livro de Gênesis registra a vida dos patriarcas nessa terra. No final de
Gênesis, a potência mundial do Egito emerge ao mesmo tempo em que a mão
providencial de Deus conduz a família de Jacó para lá, onde são preservados e
protegidos por quatrocentos anos. Deus usou esse período para consolidar e
aumentar essa pequena família até se tornar uma nação e para prepará-la para o
Êxodo.

O tratamento bondoso dispensado pelos egípcios a Jacó e sua família quando


entraram na terra logo mudou quando uma nova dinastia teve início. O capítulo de
abertura de Êxodo descreve a escravidão e as condições opressivas que resultaram
disso. Neste cenário, Deus prepara Moisés para conduzir os filhos para fora da
servidão do Egito, através do Mar Vermelho. A partir daí, eles são guiados ao Monte
Sinai, onde Deus confia a Lei e o tabernáculo aos cuidados desta jovem nação. Os
quarenta anos de divagação pelo deserto da Península do Sinai têm seu clímax com
o retorno da nação a Canaã. A tomada da terra das mãos de seus habitantes, sob
comando militar de Josué, é rapidamente seguida por um período de degeneração
espiritual sob o governo dos Juízes.

A incompetência de muitos que julgaram Israel após o retorno a Canaã levou ao


período da monarquia, com cada um dos primeiros três reis de Israel reinando por
um período de quarenta anos. Quando Davi sucedeu a Saul, conseguiu transformar
a nação israelita em potência mundial. Ao suceder ao trono, entretanto, Salomão
enfraquece o reino por meio da cobrança de altos impostos, e o reino é dividido em
931 a.C., pouco tempo após a sua morte. As tribos de Judá e de Benjamim seguem
o seu filho Roboão, e as outras dez tribos seguem Jeroboão. Isto cria um reino
duplo, com dois tronos e duas capitais: Israel, ao norte, tendo Samaria como capital;
e Judá, ao sul, com capital em Jerusalém. Tal condição perdurou até 722 a.C.,
quando o reino do norte foi anexado pela Assíria, a segunda grande potência
mundial gentílica do período do Antigo Testamento. O reino do sul de Judá
permaneceu intacto até 586 a.C., quando a próxima potência mundial, os babilônios,
destruíram Jerusalém e levaram milhares de judeus ao Cativeiro.

O Cativeiro terminou em 536 a.C., quando Ciro, rei da Pérsia, permitiu que os judeus
voltassem à sua própria terra. Neste período, frequentemente chamado de
Restauração, os judeus (sob liderança de homens como Esdras) reconstruíram o
templo e os muros da cidade. Esta fase encerrou o Antigo Testamento, em
aproximadamente 400 a.C.

Ênfase prática do Antigo Testamento

No capítulo final de seu evangelho, Lucas descreve dois discípulos desanimados


saindo de Jerusalém. Conforme se arrastam pela estrada de Emaús, o Cristo
ressurreto se junta a eles, envolvendo-os em uma conversa. Enquanto contam os
eventos relacionados à Crucificação, o Senhor os direciona às Escrituras do Antigo
Testamento. Lucas 24:27 declara: "E começando por Moisés e todos os profetas,
explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras". O Senhor deu
a esses dois discípulos um curso sobre o Antigo Testamento. Enquanto Jesus
expunha essas verdades a eles, seus corações queimavam dentro deles (24:32).

Este significativo incidente revela algumas diretrizes que podemos usar em


nosso estudo do Antigo Testamento. Primeiro, ele nos conta que Cristo é o fator
de integração no Antigo Testamento inteiro. Em todas as Escrituras Ele revelou-
Se a Si mesmo aos discípulos. O método racionalista do Antigo Testamento
desacreditaria completamente tal ênfase. Contudo, devemos levá-la em
consideração ao prosseguirmos no estudo de cada livro. A pessoa e a obra de
Cristo estão impressas nas páginas do Antigo Testamento.

Segundo, podemos aprender que um estudo do Antigo Testamento supriu as


necessidades pessoais dos discípulos. Eles estavam preocupados e
desapontados. As Escrituras aqueceram os seus corações e transformaram a
prostração deles em alegria. Eles se levantaram naquela mesma hora (24:33) e
compartilharam a verdade que haviam aprendido.

Nosso desejo é que, após estudarmos as lições deste curso, tenhamos total
conhecimento do conteúdo de cada livro, individualmente. Deveremos também
ser capazes de localizá-los corretamente na estrutura histórica. Contudo, temos
de ter mais do que isso como foco. Nossa oração deve ser que, por meio do
estudo das verdades da Bíblia, sejamos transformados. Primeira aos Coríntios
10:11 e Romanos 15:4 nos fazem recordar que o Antigo Testamento foi escrito
para nossa advertência e aprendizado. Sua finalidade é nos conceder paciência,
consolo e esperança. Precisamos lembrar que este é mais do que um livro de
história antiga. Trata-se de verdade que transforma vidas.

Capítulo 2: Gênesis

Unidade 1 introdução: A história de Deus no Pentateuco

  

A criação

O Pentateuco, ou os livros da Lei (Torah em hebraico), fornece uma introdução para


a história da obra redentora de Deus e para o restante das Escrituras. De forma
dramática, somos privilegiados por testemunhar a criação dos céus e da terra e
adquirimos visão de Seus propósitos para a criação. É por meio desta demonstração
de poder divino que obtemos um vislumbre da grandeza do único Deus verdadeiro
que está presente entre o Seu povo e de como Deus os criou para se relacionarem
com Ele e com o Seu mundo.

A queda

Contudo, Adão e Eva pecaram, transmitindo um legado de rebelião, vida


autocentrada e morte para cada um de seus descendentes. Os livros de Moisés
retratam o dilema da história humana, de como homens e mulheres criados à
imagem de Deus continuaram a se afundar cada vez mais nas trevas do pecado.
Além disso, o Pentateuco registra as santas reações do Deus Todo-poderoso,
derramando Seu juízo sobre indivíduos, famílias, clãs, nações e até sobre o mundo
todo.

A redenção

Felizmente, o Pentateuco não encerra a história, mas revela o plano divino e


gracioso de redenção, expresso em forma de promessa primeiro a Adão e Eva, e
reiterado muitas vezes ao povo de Deus. Reconhecemos que Deus prometeu
fornecer o meio de restauração de um relacionamento correto com Ele por meio de
Suas alianças. Entretanto, também vemos que tais alianças requereriam
derramamento de sangue, antevendo Aquele que faria expiação pelo pecado do
mundo.

A consumação da redenção

Então, Deus promete redimir o Seu povo do pecado e redimi-los para um


relacionamento correto consigo mesmo. Embora o tema da consumação seja
aludido somente no Pentateuco, vemos vários lugares em que tal cumprimento é
mencionado. Lemos sobre o Prometido que esmagaria a cabeça da serpente, traria
bênçãos de Deus a todas as nações da terra e reinaria como Rei, proclamando
perfeita paz.
Descobrindo a aliança de Deus no Pentateuco

O Pentateuco representa o conjunto básico de livros com base nos quais o restante
das Escrituras é escrito. Como podemos esperar, estes livros de Moisés nos
ensinam muitas coisas sobre Deus, sobre o plano de Deus e sobre o mundo em que
vivemos. Somos confrontados pelo maravilhoso poder e grandeza de nosso Criador,
juntamente com Seu íntimo envolvimento na história humana. Embora pudéssemos
ter escolhido estudar vários desses importantes temas ao lermos o Pentateuco,
escolhemos limitar nosso foco a um tema abrangente, a saber, o tema
das alianças feitas por Deus com o Seu povo.

Mencionamos na parte “A história de Deus – Entendendo a mensagem do Antigo


Testamento” (Lição 1) que pensaríamos em seus quatro temas principais durante
toda a leitura do Antigo Testamento. Assim, pedimos que você fique ciente de
como criação, queda, redenção e consumação da redenção se desdobram em cada
seção de sua leitura do Antigo Testamento. Mesmo assim, cremos que haja valor
em se descobrir um tema adicional em cada uma das quatro unidades descritas
neste curso. Ao ler o Pentateuco nesta unidade e concluir as tarefas de cada lição,
pedimos que você também mantenha o tema aliança em mente.

Abordaremos melhor a ideia de aliança conforme avançarmos no Pentateuco,


especialmente em Deuteronômio. Entretanto, seria bom fornecer uma breve
descrição aqui quanto ao que era uma aliança no mundo do Antigo Testamento. As
alianças eram basicamente acordos legais entre duas partes, fossem indivíduos,
famílias ou mesmo nações. A aliança descreveria a natureza do relacionamento,
mencionando as expectativas de uma parte ou de ambas, bem como as
consequências da quebra do acordo. Embora testemunhemos acordos feitos entre
pessoas do Pentateuco (ver Gênesis 21:22-32), nosso enfoque será a decisão de
Deus de fazer alianças com o Seu povo.

David Clines tem um argumento convincente sobre a importância da aliança de


Deus retratada em todo o Pentateuco. No livro de Gênesis, observamos que Deus
faz aliança com Noé, Abraão, Isaque e Jacó. Em Êxodo, vemos o SENHOR esculpir
os Dez Mandamentos em pedra com o Seu dedo, estabelecendo uma aliança com a
nação de Israel por meio do profeta Moisés. Assim, ao descobrirmos o uso que Deus
fez de alianças formais ao estabelecer um relacionamento com o Seu povo,
reconhecemos três aspectos primários dentro deste relacionamento divino entre
Deus e Seu povo. São eles:

1. Deus prometeu a Seu povo que lhes daria uma terra.

2. Deus prometeu a Seu povo que lhes daria descendentes.

3. Deus prometeu a Seu povo que iniciaria um relacionamento de


bênção com eles e, por meio deles, com toda a terra.

Além disso, descobrimos na aliança mosaica, isto é, a aliança feita no Monte Sinai
entre Deus e a nação de Israel, que as promessas de bênçãos e maldições de Deus
dependiam da decisão da nação de obedecer ou de desobedecer aos mandamentos
de Deus. Mantenha estes pensamentos em mente ao ler cada livro do Pentateuco.

Antes de estudar Gênesis

Use as seguintes perguntas como guia enquanto faz as leituras da lição sobre
Gênesis. Não precisa entregar como tarefa.

1. Como os temas bíblicos da criação, da queda, da redenção e da


consumação são retratadas no livro de Gênesis?

2. Em Gênesis 1-11, o que aprendemos sobre a natureza


cumulativa do pecado em nosso mundo?

3. Como você descreveria a aliança de Deus com Noé em Gênesis


9:8-17?

4. Deus repete a Sua promessa de aliança com Abraão em 12:1-3,


13:14-17, 15:18-21, 17:1-21 e 22:15-18. Como você resumiria as
promessas de Deus nesta aliança?

5. O que Deus esperava de Abraão e de seus descendentes neste


acordo legal?
6. De que formas a promessa de Deus de dar descendentes a
Abraão e Sara é aparentemente colocada em risco nas histórias de
Isaque, Jacó, Judá e José?

Em geral, o livro de Gênesis é dividido em duas partes: os capítulos de 1 a 11, e de


12 a 50. Antes do capítulo 12, Deus lida com todos os homens indistintamente. No
capítulo 12, Deus escolhe um homem, Abraão, e lida com ele de forma especial,
baseado em algumas promessas incondicionais que faz a ele. É de Abraão que a
nação de Israel emerge. Os primeiros onze capítulos enfocam quatro grandes
eventos. Os capítulos de 12 a 50 lidam principalmente com quatro valorosos
homens.

 A chave para o entendimento de Gênesis é a aliança abraâmica encontrada


no capítulo 12. Nela, Deus faz promessas incondicionais a Abraão
(promessas ratificadas oficialmente no capítulo 15). A aliança inclui
promessas que Deus faz a Israel, bem como a previsão da vinda do Messias.
 Os capítulos de 1 a 11 têm o objetivo de revelar que a aliança era necessária.
Na primeira parte de Gênesis, Deus coloca o homem por duas vezes em
ambientes ideais: primeiro, no Jardim, e depois em uma terra purificada após
o Dilúvio. Nas duas vezes o homem fracassa perante Deus. A primeira
situação resulta na Queda do capítulo 3, que leva a um assassinato no
capítulo 4, e culmina em extrema maldade no capítulo 6.
 A segunda situação revela Noé embriagado (capítulo 9); a construção da
Torre de Babel é mais uma demonstração da rebeldia do homem (capítulo
11). O ponto é claro. O homem, por si mesmo, irá inevitavelmente se
proclamar independente e se rebelará contra Deus. Para que a raça humana
sobreviva, Deus tem que intervir, e Ele o faz por meio da aliança abraâmica,
no capítulo 12.
 Na última metade de Gênesis, Deus toma a iniciativa e estipula a aliança
abraâmica, que é uma aliança de graça, na qual Deus é quem realiza tudo. O
cumprimento das promessas não depende do homem, mas do próprio Deus.
Os capítulos de 12 a 50 mostram como essas promessas são protegidas e
cumpridas (ao menos em parte) por Deus. Mas antes de entrar na aliança
abraâmica, é importante examinarmos Gênesis de 1 a 11. 

Quatro grandes acontecimentos (1-11)

A criação do mundo (Gênesis 1 e 2)

O relato da criação é apresentado duas vezes nos capítulos 1 e 2; as passagens


têm o intuito de complementar e não de contradizer uma à outra. O capítulo 1
apresenta um esboço cronológico, dia após dia, da semana da criação. O capítulo 2
desenvolve certos aspectos do relato do capítulo 1; a saber, a criação do homem.

O relato cronológico (1:1-2:4)


Este relato começa com uma descrição do universo inteiro: "os céus e a terra".
Nesta simples declaração, Deus designa não somente o sistema solar, mas todas as
galáxias, constelações e super constelações que se acham além dele. Hebreus 11:3
diz que este ato de criação foi realizado a partir do nada e não envolveu nenhum
material preexistente.

Começando no versículo 2, a descrição focaliza a terra. Gênesis capítulo um usa


três frases descritivas para retratar a terra como ela era quando Deus começou o
processo criativo. (1) Ela "era sem forma", (2) ela era "vazia", e (3) "Havia trevas
sobre a face do abismo". As palavras usadas aqui não necessariamente implicam
qualquer coisa de natureza catastrófica. Foi nestas condições que o Espírito de
Deus se moveu para criar ordem.

Os versículos seguintes mostram como Deus tomou a terra, assim como estava, em
seu estado informe, e a transformou em um planeta habitável. Os primeiros três dias
são, sob muitos aspectos, paralelos aos três dias seguintes. Os primeiros três são
dias de formação e separação. Os três dias seguintes mostram como a terra foi
habitada.

O relato complementar (2:5-25)

O relato da criação no capítulo 2 fornece detalhes que complementam o capítulo 1 e


fazem a preparação para o capítulo 3. O homem é o foco. Além de obtermos uma
descrição de como ele foi criado, temos informações sobre (1) seu novo lar (2:4-17),
e sobre (2) sua nova auxiliadora (2:18-25).

O homem é posto no Jardim com uma proibição: ele não deveria comer da árvore do
conhecimento do bem e do mal. Deus cria, então, uma auxiliadora idônea para ele
(2:18). A palavra idônea embute a ideia de comparável, complemento,
preenchimento daquilo que está faltando no outro cônjuge. Os versículos finais do
capítulo 2 revelam vários conceitos a respeito do relacionamento de casamento.

1. O homem é incompleto sem a mulher; ela supre o que falta nele. Ela
é o seu complemento, assim como o encaixe de duas peças de um
quebra cabeça.

2. Os versículos mostram a natureza exclusiva do relacionamento de


casamento. Os dois devem ser "uma só carne".

3. O papel do homem é diferente do da mulher.

4. O sexo não é pecaminoso, e deve ser o relacionamento normal entre


um homem e uma mulher unidos pelo casamento.

Algumas teorias sobre a semana da criação 

A teoria do intervalo

A teoria do intervalo diz respeito ao relacionamento entre Gênesis 1:1 e 2. Os


adeptos desta posição defendem que um longo período de tempo, ou "intervalo"
transcorreu entre os versículos 1 e 2. Eles acreditam que a terra perfeita de Deus
descrita no versículo 1 foi cenário de uma catástrofe. A razão normalmente dada
para tal catástrofe é a queda de Satanás (Isaías 14:12-20). Consulte Baxter 1:34-36.
Os defensores da teoria do intervalo afirmam que as palavras hebraicas usadas em
Gênesis 1:1-2 admitem um lapso indefinido de tempo entre uma criação original e
uma condição subsequente em que a terra se tornou "sem forma e vazia". Algumas
pessoas que aceitam esta teoria sugerem que o verbo traduzido por "era" (1:2) pode
ser traduzido como "tornou-se", acatando esta interpretação. Isaías 45:18 e
Jeremias 4:23-25 são citados em apoio a tal visão.

Embora as informações bíblicas possam admitir um intervalo no processo de


criação, esta teoria apresenta alguns problemas.

1. Nenhum intervalo é mencionado nas Escrituras, portanto,


ele se baseia inteiramente em interpretação humana.

2. A construção hebraica dos versículos 1 e 2 faz a conexão


entre os dois com uma oração circunstancial (oração subordinada que
descreve as circunstâncias em que a oração principal ocorre).

3. Alguns argumentam que a palavra era (1:2) deveria ter


sido traduzida por "tornou-se", mas não há bom respaldo linguístico para isso.

4. A terminologia do versículo 2 não sugere uma catástrofe.


O trabalho da criação está incompleto neste ponto, mas a linguagem não
implica necessariamente uma terra arruinada. As palavras "sem forma e vazia"
simplesmente descrevem uma terra informe e inabitada.

5. Não se pode presumir automaticamente que houve


formação de fósseis durante um intervalo ou período de tempo indefinido.
Gênesis 1 indica que animais e plantas não foram criados até o terceiro, quinto
e sexto dias, que vêm a seguir na história da criação. Alguns teóricos do
intervalo tentam atribuir todo o registro dos fósseis ao intervalo.

A duração dos dias da criação

Alguns estudantes da Bíblia têm sugerido que a palavra dia em Gênesis 1 se refira a


um vasto período de era geológica durante o qual Deus realizou a obra da criação. A
teoria do "dia-era" sustenta que os seis dias da criação representam seis vastos
períodos ou "eras" de tempo. Aqueles que aceitam esta teoria acreditam que a idade
da terra seja de até quatro ou cinco bilhões de anos. Eles sustentam que
prolongados períodos de formação de fósseis ocorreram durante esses extensos
"dias-eras" e acreditam que Adão e Eva foram formados há um milhão ou mais de
anos.

Embora a palavra dia (do hebraico yom) às vezes seja usada no hebraico para


indicar um tempo mais longo do que o dia solar, em geral ela indica um período de
vinte-e-quatro horas quando associada a um numeral ("primeiro" dia, "segundo" dia).
Esta visão pode ser chamada de "teoria do dia solar".

O uso dos termos tarde e manhã dá crédito à interpretação de vinte-e-quatro horas


e aparentemente indica que esses eram dias genuínos da rotação da terra em
relação a uma fonte de luz, e não eras indefinidas de tempo. Parece evidente que,
quando o ato da criação é descrito em outros lugares das Escrituras, a
palavra dia significa um período de vinte-e-quatro horas "porque em seis dias fez o
SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia
descansou: por isso o SENHOR abençoou o dia de sábado, e o santificou" (Êxodo
20:11). Embora Deus certamente pudesse ter criado a terra em eras individuais se
assim o quisesse, é mais razoável explicar os "dias" da criação como períodos de
vinte-e-quatro horas.

O significado da palavra espécie

A expressão "segundo a sua espécie" ocorre repetidamente no capítulo 1 (1:11-12,


21, 24-25) e mostra que Deus estabeleceu certos limites a Sua obra criativa, o que
impossibilitaria, então, um esquema evolucionário que fundamente que o homem
evoluiu de alguma forma inferior de vida. A palavra espécie permitiria uma variação
e desenvolvimento dentro dos grupos, mas impediria um esquema em que a vida
evoluísse de animais marinhos para animais terrestres e, por fim, para o homem. O
uso bíblico do termo (conforme Levítico 11:16, por exemplo) mostra que ele não
deve ser igualado ao termo espécies normalmente usado por biólogos. O
termo espécie é mais amplo e pode abarcar muitas espécies.

Quatro grandes acontecimentos (1-11)

A queda
Os capítulos 3 e 4 de Gênesis exercem uma relação de causa e efeito um para
com o outro. O capítulo 3 mostra o processo pelo qual o pecado surgiu na raça
humana. O capítulo 4 mostra as terríveis implicações do ato.

A origem do pecado (Gênesis 3)

A maneira como Satanás tentou a Eva é instrutiva, já que ele utiliza a


mesma tática conosco, atualmente. Ele insinua para Eva que a restrição
divina a respeito da árvore se deve a um motivo egoísta da parte de Deus.

Satanás sugere (3:5) que a razão


porque Deus não queria que Adão e Eva comessem da árvore é que eles se
tornariam iguais a Ele, e assim, Deus estava retendo algo bom. Ao plantar
tal dúvida sobre o caráter divino, ele também contesta a Palavra de Deus.
Em contradição ao que Deus já havia dito claramente, Satanás afirma: "É
certo que não morrereis" (3:4). Tentada, a mulher se rende e traz juízo
quádruplo a si mesma, a Adão, à serpente e até ao ambiente físico em que
o pecado ocorreu.

A palavra de juízo também traz uma promessa. Gênesis 3:15 é um exemplo


daquilo que normalmente é chamado de "protevangelium" (primeiro anúncio
do evangelho). Esta é a primeira promessa de um futuro Redentor. A
"semente da mulher", Jesus Cristo, por fim triunfará sobre as forças
satânicas que são tão evidentes no capítulo. Com o advento do pecado,
uma cura é prometida por Deus.

O resultado do pecado (Gênesis 4)

O capítulo 3 descreve como o pecado surgiu na raça humana e destruiu as


condições ideais do capítulo 2. O capítulo 4 busca agora as implicações
desse fato e revela os efeitos que o pecado produz. Em 4:1-15 temos o
efeito do pecado sobre o indivíduo. A primeira parte do capítulo descreve o
pecado que Caim cometeu ao matar seu irmão. O pecado afetou tanto ao
homem, que sua natureza depravada, decaída, não conhece limites. Um
coração invejoso é capaz até de matar. Isto foi o que o pecado
produziu individualmente.

Começando em 4:16, temos uma descrição do que o pecado


produziu coletivamente na sociedade. Uma sociedade orgulhosa, auto-
suficiente é retratada. A civilização cananéia era refinada, laboriosa e
progressiva, de muitas maneiras. Mas era uma sociedade que excluía a
espiritualidade e não tinha tempo para Deus.
O dilúvio

Eventos anteriores ao dilúvio (5-6)

A raça humana agora consiste em duas linhas: uma linhagem ímpia


descendente de Caim (4:16-24) e uma linhagem piedosa, provinda de Sete
(4:25-26). O capítulo 5 descreve a história da linhagem piedosa.
Imediatamente, fica-se impressionado com a longevidade de muitos dos
homens mencionados. Alguns viveram mais de 800 anos! A explicação mais
plausível para vidas tão longas é que as condições atmosféricas anteriores
ao dilúvio impediam as radiações ambientais, permitindo que as pessoas
vivessem por mais tempo. É importante observar que, após o dilúvio, a
expectativa de vida caiu vertiginosamente.

A união ímpia entre os "filhos de Deus" e as "filhas dos homens" precipita o


dilúvio (6:1-8). É a crescente maldade que leva Deus a escolher um homem,
Noé, para construir uma arca. O material a ser usado é madeira de cipreste
(6:14), aparentemente uma substância rígida e durável, que resistiria à
água. As medidas da arca são fornecidas em 6:15: aproximadamente 150
metros de comprimento, 25 metros de largura e 15 metros de altura.

Eventos ocorridos durante o dilúvio (7-8)

Noé e sua família são convidados a entrar na arca e a porta se fecha. Daí
vem a chuva, brotando tanto da atmosfera acima, quanto das "fontes do
grande abismo" (7:11). As "fontes" se referem aos bolsões subterrâneos de
água que subiram à superfície.

No capítulo 8, as águas começam a baixar. Deus usa um vento para secar
uma boa parte da água e fazê-la retornar à atmosfera (8:2). Sem dúvida,
também ocorreram grandes mudanças topográficas na superfície da terra.
Uma enorme quantidade daquela água foi represada, formando o que hoje
seriam os oceanos do planeta. Mais de um ano ainda passaria até que Noé
pudesse se arriscar a sair da arca e construir um altar (8:20-22).

Eventos posteriores ao dilúvio (9)

Noé recebe novas instruções quando sai da arca. A ele é confiada a


responsabilidade pela vida humana, a mais alta prerrogativa do governo
humano. Deus então começa uma nova economia, ou dispensação. Ele
ordena a Noé que tire a vida do homicida sempre que um assassinato for
cometido. Este princípio nunca foi revogado e, assim, deve ser aplicado
hoje. O final do capítulo 9 narra a vida de Noé terminando em embriaguez e
desgraça. Como resultado da indecência de seus filhos, Canaã é
amaldiçoado.

Debate sobre o dilúvio

O relato do dilúvio tornou-se assunto de intenso escrutínio tanto por


estudiosos da Bíblia quanto por cientistas. Vários temas têm sido debatidos,
dois dos quais serão discutidos aqui.

A identidade dos "filhos de Deus"

Gênesis 6:2-5 diz que um dos principais fatores que levaram à maldade
antes do dilúvio foi o casamento entre os "filhos de Deus" e as "filhas dos
homens". A identidade dos "filhos de Deus" tem sido motivo de controvérsia.
Muitos acham que eles eram criaturas angelicais que coabitaram com
humanos para produzir uma raça híbrida de "gigantes" (6:4). Há apoio para
tal hipótese na frase "filhos de Deus", que é usada com referência a anjos
em passagens como Jó 2:1 e 38:7. As passagens do Novo Testamento
como 1 Pedro:18-22 e Judas 6-7 também parecem indicar que anjos
decaídos tiveram sua participação na maldade dos dias de Noé. [5] A
palavra gigantes (ERA), ou, literalmente, "decaídos" em 6:4 também é
usada em apoio à visão de uma raça super-humana.

Um fator que contraria tal visão é o contexto. O capítulo 4 descreve a


linhagem ímpia e o capítulo 5, a linhagem piedosa. O capítulo 6 menciona a
união das linhagens, e a expressão "filhos de Deus" muito naturalmente se
referiria à linhagem piedosa de Sete recém-mencionada no capítulo anterior.
O termo gigantes de forma alguma conota uma raça super-humana. A
palavra, conforme citada acima, significa literalmente "decaídos" e poderia
facilmente ser traduzida por "assaltantes", "ladrões" ou
"bandidos." [6] Assim, a melhor interpretação para "filhos de Deus" parece
ser a linhagem piedosa de Sete. As referências do Novo Testamento
realmente indicam a atividade demoníaca como sendo parte da causa
desse pecado, mas isso não é o mesmo que sugerir a existência de um tipo
de raça híbrida.

A extensão do dilúvio

Vários fatores indicariam que o dilúvio foi universal e cobriu a terra toda.

1.

1.

1.

1. A narrativa enfatiza que todas as montanhas altas


debaixo do céu foram cobertas (conforme 7:19-20).

2. A duração do dilúvio implica a obrigatoriedade de seu


caráter universal. Noé e sua família ficaram na arca por
mais de um ano. Se o dilúvio tivesse acontecido apenas
localmente, não teria sido necessário permanecer na arca
por um período tão longo.
3. Pedro, em 2 Pedro 3:3-7, compara o dilúvio com o futuro
juízo divino da terra pelo fogo. Tal juízo certamente não
será apenas local. [7]

2. Gráfico do dilúvio

3.
4. A torre de Babel

5.
6. A história da Torre de Babel tem seu prefácio no capítulo 10, com a origem
das nações, que é um registro dos descendentes dos três filhos de Noé: Sem,
Cam e Jafé. Estas três ramificações formam as três divisões básicas das
quais o restante da humanidade descenderia.

7. A Torre de Babel é uma tentativa feita pelo homem de encontrar religião à


parte de Deus. O fato de a torre ter sido construída para prover proteção
demonstra a insegurança básica do homem (11:4) e também revela atitude de
rebelião e desejo de independência. Deus aplica juízo e confunde a
linguagem deles, o que força a raça humana a se dispersar, algo que não
desejavam fazer por si mesmos.

8. Conclusão (1-11)

9. Ao final da primeira parte de Gênesis, o homem já demonstrara, em todas as


ocasiões, que declararia sua independência se tivesse oportunidade. O
homem, sozinho, não cumprirá os requisitos de Deus. Deus deve tomar a
iniciativa agora e agir em graça com Abrão.

10. Quatro grandes indivíduos (12-50)

11. A criação de Deus é vista no relato dos capítulos 1 e 2. Os efeitos


degenerativos do pecado são vistos primeiramente no indivíduo (3), depois na
família (4) e finalmente nas nações (6 e 11).
12. A obra divina de regeneração começa no capítulo 12. Deus começa
escolhendo um homem. Deste escolhido emerge a família escolhida e, por
fim, Israel, a nação escolhida. Este é o curso de eventos dos capítulos de 12
a 50.

13. Os relatos dos quatro indivíduos nos capítulos de 12 a 50 demonstram como


Deus opera na história para realizar o que o homem não pode fazer. Quatro
diferentes personalidades são encontradas, mas todas se tornam úteis
instrumentos para o propósito divino.
14. Geneologia dos Patriarcas

15.

A aliança de Abraão (15-21)

Deus agora ratifica oficialmente as promessas que fizera a Abrão no


capítulo 12. O costume cerimonial era dividir os pedaços de um
sacrifício em dois. Depois as duas partes interessadas deveriam andar
por entre eles. Este ato selava formalmente a transação. Neste caso,
Deus faz Abrão adormecer profundamente e Se move entre as partes
sozinho. Isto demonstra que o cumprimento da aliança dependia
inteiramente de Deus, e não de Abrão.

A aliança abraâmica é normalmente chamada de "aliança incondicional"


porque o seu cumprimento não está condicionado à fidelidade humana,
mas à divina. Vários fatores apóiam a natureza incondicional da aliança:

1.

1.

1.

1. Gênesis 15 não relaciona nenhuma condição pela qual


a aliança é formalmente instituída.

2. Em tempos de grande desobediência, a aliança é


reafirmada (conforme Jeremias 31:35-37). Se a aliança
estivesse condicionada à obediência do homem, ela
sem dúvida teria sido anulada até a época de Jeremias.

3. A aliança é chamada de "aliança perpétua" (Gênesis


17:7, 19). Como afirma Charles Ryrie: "Pode haver
atraso, adiamento e punição, mas uma aliança eterna
não pode, já que Deus não pode negar a Si mesmo, ser
revogada". [9] Tudo isso indica, então, que Deus vai
cumprir os termos dessa aliança. Nada que o homem
faça poderá anulá-la.

Os dois aspectos da aliança salientados nesta passagem são a


semente e a terra. Uma vez mais, Deus enfatiza para Abrão que de sua
semente surgirá uma grande nação (12:4-5). À terra também é dada
especial distinção. Deus reafirma a promessa da terra e especifica os
seus limites no versículo 18. O território abrangeria a área do Egito até
o Eufrates. Israel nunca ocupou toda esta terra; portanto, o
cumprimento futuro desta promessa está reservado para o reino milenar
de Jesus Cristo.
Estes capítulos agora focalizam a promessa da semente, que seria
cumprida em breve. Abrão, num lapso de fé (capítulo 16), tem um filho
com sua serva Hagar. Ismael é o resultado dessa união. A
desobediência de Abrão marca o início de uma série de problemas.

Deus faz uma nova revelação de Si mesmo nos capítulos 17 e 18 como


antídoto para a impaciência de Abrão, cujo nome é mudado no capítulo
17 de "Abrão" (pai exaltado) para "Abraão" (pai de uma multidão). A
mudança de nome é outra garantia de que Deus irá cumprir a Sua
promessa e multiplicar a semente de Abraão. Deus também concede a
ele o rito da circuncisão como sinal da aliança. A promessa de Deus é
finalmente provada pelo nascimento de Isaque no capítulo 21.

A crise de Abraão (22-25)

A maior crise da vida de Abraão acontece quando Deus manda que ele
ofereça seu único filho em sacrifício. É importante notar que Deus o
prepara para este enorme desafio à fé por meio de provações menores
que o precedem. A fé de Abraão amadurece enquanto Deus lida com
ele progressivamente.

O desafio de oferecer seu filho impressiona ainda mais quando se


percebe que todas as promessas de Deus estavam atreladas a Isaque.
Deus já havia deixado claro que a semente viria por intermédio de
Isaque.

Abraão creu que Deus levantaria seu filho dos mortos se fosse
necessário, a fim de não comprometer as promessas (Hebreus 11:17-
19). Isso constitui o desafio culminante para a fé de Abraão. O fato de
ele estar disposto a abrir mão do que mais prezava demonstra que sua
fé havia atingido a maturidade. Entretanto, Deus intervém e provê um
animal para o sacrifício.

Os capítulos de 23 a 25 encerram a vida de Abraão e sobrepõem em


parte a vida de Isaque. A morte de Sara torna necessária a aquisição de
uma sepultura. O fato de Abraão ter de negociar a propriedade com um
hitita é um lembrete de que a terra que Deus havia prometido a ele
ainda não estava sob seu domínio.

O capítulo 24 mostra Abraão comissionando seu servo a ir para Naor a


fim de encontrar uma esposa para Isaque. A narrativa é duplamente
instrutiva. Vemos o interesse de Abraão na preservação da
descendência prometida. Ele não quer que Isaque se case com uma
mulher pagã da terra e com isso ponha em risco a exclusividade da
linhagem da promessa. A conduta do servo também merece ser
estudada, pois revela características de em servo exemplar. Ele é
caracterizado por sua pronta resposta, sua total obediência, e por sua
absoluta lealdade ao senhor que o enviou.

A história de Abraão é encerrada com o relato de seu segundo


casamento, com Quetura, sua morte e sepultamento, e a linhagem de
Ismael em 25:12-18.

Isaque

Isaque (25-26)

Há pouquíssimas informações sobre a vida de Isaque, especificamente. Ele


é retratado como a ponte histórica entre Abraão e Jacó. Isaque viveu uma
vida comum, mas obediente, e cumpriu o seu papel no plano de Deus.
Entretanto, mesmo no capítulo 25, o foco tende a se fixar mais nas
diferenças e no conflito entre os dois filhos do que no próprio Isaque.
Isaque e seus filhos (25)

Rebeca recebe a promessa sobre o nascimento dos filhos gêmeos, que


o mais velho serviria ao mais novo (25:23). Esta não era a prática
costumeira; então, a promessa não foi levada em conta por Isaque com
o passar do tempo. Ele aparentemente desconsidera a palavra de Deus
em seu desejo de abençoar a Esaú, seu filho protegido.

Ao crescerem, a diferença entre os temperamentos dos meninos vai


aparecendo rapidamente. Jacó é quieto e se torna o favorito de sua
mãe. Esaú exibe varonilidade e características de homem do campo,
tornando-se o preferido de seu pai. Esta amostra de favoritismo
converte-se em fator de divisão, sendo um aviso a todos os pais sobre
os perigos óbvios de um lar onde o marido e a esposa não se unem na
maneira de lidarem com os filhos. Resultados devastadores fatalmente
acontecem, como prova a passagem.

A falta de interesse de Esaú pelas coisas espirituais é demonstrada em


seu descaso pelo direito de primogenitura (25:27-34). Ele o troca por
um mero prato de comida. Esaú tipifica a pessoa totalmente materialista
em seu senso de valores. Ele se preocupa mais com o estômago do
que com as bênçãos espirituais que acompanham o seu direito de
primogenitura.

Devemos notar aqui


que, para cada um dos patriarcas até agora, as Escrituras revelam uma
contraparte espiritual. Os homens de fé escolhidos por Deus são
contrastados com homens guiados por vista, dominados pela carne.
Deus compõe a narrativa de forma que o foco seja o homem de fé. Por
outro lado, vemos o contraste espiritual, aqui revelado por Esaú, que
despreza seu direito de primogenitura (25:34). Ele é um homem
completamente motivado pelos apetites físicos. Em Hebreus 12:16-17
vemos uma interessante informação sobre o caráter de Esaú. Ele é
chamado de "profano" (ERA). Mais tarde, ele se arrepende da escolha
que fez, mas sua decisão era irreversível.

Isaque e Abimeleque (26)

Vemos, neste capítulo, como os problemas do pai são reproduzidos no


filho. Isaque conta a mesma mentira que seu pai havia contado no
capítulo 12. Temendo por sua própria segurança, ele diz aos homens
que Rebeca é sua irmã. Também ele é repreendido por um descrente
por causa do pecado.

Na última metade do capítulo, Isaque enfrenta um problema em relação


aos poços com os habitantes da terra. Ambos os problemas se referem
às duas ênfases da aliança abraâmica. No primeiro incidente, a
semente corre perigo. No segundo, a terra está envolvida.

Isaque e Cristo

Embora Isaque não seja designado diretamente como tipo de Cristo no


Novo Testamento, as semelhanças são óbvias demais para deixarem
de ser observadas. As informações a seguir são dignas de menção.

Seu nascimento milagroso

Um milagre de Deus foi envolvido tanto no nascimento de Isaque


quanto no de Jesus. Em Hebreus 11:17, as palavras "o seu
unigênito", comumente usadas com referência a Cristo, são
aplicadas a Isaque.

Sua obediência até a morte


No capítulo 22, Isaque é completamente subserviente à vontade de
seu pai. Da mesma forma, Cristo foi "obediente até à morte"
(Filipenses 2:8).

Sua vitória sobre a morte

Isaque foi arrebatado das garras da morte. Ele foi recobrado dos
mortos "figuradamente" (Hebreus 11:19). O paralelo com a
Ressurreição é óbvio.

Jacó

Jacó (27-36)
A vida de Jacó se passa em torno de sua fuga de Esaú, de suas
experiências subsequentes no lar de Labão e de seu retorno final à Terra da

Promessa.  

Em casa (27)

Jacó agiu com falácia ao tirar o direito de primogenitura de Esaú, e


agora precisava enganar também a seu pai, porque a transação só
poderia ser concluída pelo juramento legal do genitor. Jacó encontra em
Rebeca uma pronta aliada e, juntos, eles conseguem obter a bênção de
Isaque, bênção que ele pensa estar conferindo a Esaú.

Eis aqui um clássico exemplo de realização do que é correto, da forma


errada. No fim, eles obtêm a bênção para Jacó; mas Deus já havia
prometido que o abençoaria de qualquer forma. Jacó receberia sua
bênção de maneira legítima, se ao menos tivesse esperado em Deus. O
crente deve atentar para a advertência sobre atingir um objetivo legítimo
por meios ilegítimos. A atitude fraudulenta de Jacó o amaldiçoou por
quase toda a sua vida, forçando-o a deixar seu lar por medo da ira de
Esaú.

Fora de casa (28-32)

A fuga de Jacó de seu lar começa e termina com um dramático


confronto com Deus. O primeiro acontece em Betel (28), que pode bem
ter sido a sua experiência de conversão. O segundo ocorre em Peniel,
que foi, sem dúvida, a sua experiência de consagração (32). Entre eles,
vêm os longos anos de servidão na casa de Labão.

Em Betel, Jacó tem a visão da escada com os anjos de Deus subindo e


descendo. Isso enfatiza:

1.

1.

1.

1.

1. Seu acesso a Deus. A escada mostra que existia


contato entre o céu e a terra.

2. A proteção de Deus. Jacó teme que Esaú o


alcance e que isso lhe custe a vida. A visão é uma
reafirmação de que um exército invisível de anjos o
protegerá durante a sua jornada.

Os capítulos de 29 a 31 descrevem as experiências de Jacó em Harã.


Jacó encontra seu igual no enganador Labão, que o ludibria por várias
vezes. Porém, novamente, a graça de Deus resgata Jacó e o leva em
direção a sua casa.

Em Peniel, Jacó fica preocupado com a aproximação de Esaú. A


questão do direito de primogenitura roubado nunca havia sido tratada e
Jacó, mais uma vez, teme por sua vida. Ele faz planos de apaziguar
Esaú e depois leva o assunto em oração (32:9-12).

É neste cenário que o anjo de Deus luta com Jacó. Tal confronto físico
é uma figura das batalhas espirituais pelas quais Jacó estava passando.
O anjo o abençoa somente depois que Jacó admite ser quem é. Ele
reconhece que é Jacó, o enganador, e daí seu nome é mudado para
"Israel". O anjo também desloca a coxa de Jacó antes de abençoá-lo. O
incidente revela dois pré-requisitos espirituais para recebermos o poder
e a bênção de Deus em nossas vidas. Primeiro, devemos reconhecer
qual é o nosso verdadeiro caráter. Segundo, temos que estar dispostos
a ser quebrantados espiritualmente como Jacó foi fisicamente.

De volta à casa (33-36)

Jacó agora está de volta à terra e progride em maturidade. Ele


descobre que algumas das sementes que havia espalhado em sua vida
anteriormente produziram resultados inevitáveis, e ele mesmo se torna
objeto de ardil. Seus próprios filhos o enganam (34), assim como ele
havia feito com seu pai, muitos anos atrás. Esta parte termina
no capítulo 36 com a linhagem dos edomitas. Esta linhagem é então
deixada de lado, e a narrativa volta novamente à semente prometida.

José

José (37-50)
A narrativa da vida de José é inserida neste ponto, embora a linhagem do
Messias não o inclua. A vida de José é especialmente enfatizada porque
explica como Deus usou a maldade dos homens para preservar toda a
nação de Israel. Se José não tivesse descido ao Egito, a nação inteira teria
corrido sério perigo. A influência canaanita sobre os israelitas estava se
tornando mais forte com o tempo e Deus precisava colocá-los numa
situação onde eles pudessem preservar sua identidade nacional. O Egito
era o local adequado. A vida de José pode, assim como a de Jacó, ser
resumida em três períodos.

Vendido como escravo (37-38)

O favoritismo de Jacó por seu filho José fica óbvio quando lemos o
capítulo 37. A "túnica talar de mangas compridas" (37:3) era a
vestimenta que o distinguia como líder entre seus irmãos. [10] Isto,
juntamente com os sonhos proféticos de José, o fez ser desprezado aos
olhos de seus irmãos. Sua venda como escravo é um incidente bem
conhecido.

O capítulo 38 é um parêntese na narrativa da vida de José, que registra


o pecado de Judá com Tamar. O relato fornece o contexto genealógico
da linhagem davídica. [11] O capítulo também demonstra por que a
retirada para o Egito era necessária. Os padrões morais dos cananeus
haviam se tornado parte do estilo de vida de Israel.

O sofrimento na prisão (39-41)

Esta parte engrandece o caráter pessoal extraordinário de José.


Primeiro, observe que os defeitos de caráter presentes em Abraão,
Isaque e Jacó estão notavelmente ausentes em José. Sua fé é testada
por meio do sofrimento e ele se torna um crente maduro. Várias coisas
podem ser observadas.

1.

1.
1.

1. Ele assume uma posição de responsabilidade, sem ser


sujeito a supervisão, e demonstra ser confiável (39:1-6).

2. Ele é persistentemente tentado em uma situação em


que seria fácil ceder, mas se recusa a sucumbir. Ele
não teve medo de dizer não (39:7-18).

3. Ele é acusado injustamente e aprisionado. Ele é


difamado e não resmunga nem reclama (39:19-40:23).

4. Ele é fiel a Deus na adversidade; então Deus o


promove a um local de prosperidade (41).

Salvando sua família (42-50)

Esta parte poderia ser intitulada: "Todas as coisas cooperam


juntamente para o bem". A narrativa descreve as duas visitas dos
irmãos de José ao Egito. As visitas resultam na ida de toda a família de
Jacó para o Egito, a qual se estabelece em uma região conhecida como
Gósen. Duas coisas se destacam em relação ao caráter de José aqui.

1.

1.

1.

1. José é um exemplo de espírito benévolo e perdoador.


Ele poderia se vingar pelo mal feito a ele, mas, de forma
alguma, guarda rancor contra seus irmãos.

2. Ele viu a mão de Deus em seu sofrimento (conforme


45:5, 7; 50:20). Por várias vezes, ele reitera o fato de
Deus ter usado a situação para o bem, embora eles
tenham agido com má intenção. Ele viu a mão de Deus
nas provações e no sofrimento.
Conclusão

O livro termina com a morte de Jacó e de José. Gênesis percorre todo o


caminho do Édem ao Egito. O livro que começa com vida termina com morte.
Nos capítulos de 12 a 50, vemos que as promessas incondicionais de Deus não
podem ser frustradas. Nem a oposição satânica nem o erro humano podem
mudar o plano de Deus. Em Sua fidelidade e soberania, Deus preserva e
cumpre as promessas que faz.

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