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AULA 02 - PENTATEUCO | Joelson Gomes


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O PENTATEUCO: CONHECENDO O GÊNESIS

OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM

• Analisar o livro de Gênesis;


• Analisar temas específicos dentro do livro de Gênesis:
Os dias da criação; a historicidade Adão; “os filhos de Deus e as
filhas dos homens”; o relato bíblico do dilúvio e os relatos
mesopotâmicos; a abrangência do dilúvio; o “arrependimento” de
Deus.

COMEÇANDO A CONVERSA

Após as questões introdutórias da aula passada, agora vamos analisar com detalhes
cada escrito que compõe o pentateuco. O objetivo em uma introdução não é comentar o livro,
mas estudá-lo de forma geral. Porém, em nossas aulas vamos além disso olhar alguns pontos
chamativos desses livros observando as interpretações e dando uma posição que se coadune
com a inspiração e inerrância das Escrituras.
Gênesis é o livro dos começos daí a propriedade de seu título. Nesse texto temos os
relatos do início da terra, da vida na terra e dos problemas que hoje assolam o nosso mundo.
É possível também encontrar em Gênesis as bases da teologia judaico-cristã, todo o resto da
história da salvação que encontramos na Bíblia depende de suas páginas.

I- O LIVRO DO GÊNESIS

a) Título: Gênesis (‫אשית‬


ִׁ ‫)ב ֵר‬.
ְּ Significa: “no princípio”. O título que usamos em nossas Bíblias
em português vem da versão grega, a Septuaginta.

b) Autor: A autoria de Gênesis não está declarada no livro. Poderíamos colocar Moisés como
o autor de pelo menos a maior parte, se o considerarmos como o escritor do Pentateuco
como vimos na aula 01. Digo da maior parte porque é possível que o autor de Gênesis
tenha usado fontes para compor seu trabalho, pois em Gn 5.1 é possível ler sobre um certo
‫( ֵ֔ספֶר ּתֹולְ ֹ֖דת אָ ָ ָ֑דם‬livro da genealogia de Adão). Mais um argumento em favor dessa posição é que
a primeira letra do livro do Êxodo é o waw conectivo que seria traduzido por “e” ( ְּ‫ ו‬Êx 1.1,
heb.), isso pode sinalizar uma narrativa continuada. “O waw (e) com que se inicia o texto
hebraico de Êxodo deixa claro que este não é um novo livro, mas simplesmente uma
continuação da história de Gênesis e o cumprimento das promessas feitas aos patriarcas”.1

1
COLE, R. Alan. Êxodo: introdução e comentário (São Paulo: Vida Nova; Mundo Cristão, 1981), p. 51;
HAMILTON, Victor P. Êxodo (São Paulo: Cultura Cristã, 2018), p. 37.
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Ora, se moisés foi o autor o Êxodo, e em muitas partes se diz que ele escreveu aquele texto
(ver aula 01, autoria do Pentateuco), seria também o autor do Gênesis.

Graças a recursos literários vigorosos, o Êxodo mostra uma sólida continuidade com seu
predecessor, o Gênesis. O Gênesis é enfática e claramente completado com a morte e
sepultamento de Jacó, o qual, como o epônimo “Israel”, é o patriarca. O Êxodo
encandeia-se com seu predecessor de um modo muito simples: a seção de abertura (1:
1-5) recapitula os nomes dos filhos de Jacó e conta o número de almas de suas famílias,
retomando com isso o fio onde ele havia sido deixado. 2

Outros argumentos para a consideração de Moisés como o autor de Gênesis são os


seguintes:

(1) A aceitação do critério de uma autoridade profética para a validade canônica de um


documento religioso. A revelação de Deus tem sido sempre através de um profeta
escolhido por Deus e encarregado de comunicar a mensagem. Daí teríamos a
autoridade básica de Gênesis e sua autenticidade normativa. (2) As muitas citações do
Pentateuco onde se menciona que Deus fala diretamente a Moisés e lhe ordena escrever
ou transmitir essas revelações como normativas para o povo (Êx 17.14; 24.4-8; Nm 33.1;
Dt 31.9 etc.). Se Gênesis é parte da unidade do Pentateuco, Moisés também é o autor.
(3) A afirmação judaica tradicional que tem atribuído a Moisés a paternidade literária e
autoridade normativa da Lei. (4) A declaração de Jesus que menciona Moisés como a
autoridade da Lei (Lc 24.44). (5) A posição da comunidade cristã que em sua formação
e decisão canônica aceitou sem questionamento a autoria de Moises. 3

O fato é que Gênesis sempre esteve ligado ao Pentateuco, logo se Moisés escreveu esse
bloco também teria escrito Gênesis.4 Todavia, na falta de um nome explicito alguns têm
deixado o autor como indeterminado.5

c) Data: Quanto a data temos a mesma dificuldade da autoria. Sabemos que se Gênesis faz
parte do Pentateuco então foi escrito até a época de Moisés (c. sécs. XIV-XV a. C). Mas,
muito provavelmente não foi escrito de uma só vez, provavelmente partes foram escritas
e partes foram coleadas de tradições da antiguidade. Um autor/editor de posse de tudo
deu a forma final ao projeto.

Numerosas passagens indicam o ponto de vista de um escritor posterior a Moisés (cf.


12:6: “Nesse tempo estavam os cananeus na terra” ; 13:8, a menção de Hebrom, que não
parece assumir esse nome senão na época de Josué, como em Jos. 14:15; 15:13; Gên.
22:14: “donde se diz até o dia de hoje” ; 36:31: “antes que reinasse rei algum sobre os
filhos de Israel” ; 40:15: “ da terra dos hebreus”). A relação de Moisés com Gênesis deve

2
ALTER, Robert e KERMODE, Frank. Guia literário da Bíblia (São Paulo: Fundação Editora da Unesp, 1997),
p. 72.
3
CARRO, Daniel; POE, José Tomás; ZORZOLI, Rubén O. (Eds. Gerais). Comentario biblico Mundo Hispano:
Tomo 1, Genesis (El Paso, TX: Editorial Mundo Hispano, 1994), p. 34.
4
WALTKE, Bruce. Comentário do Antigo Testamento: Gênesis, p. 21-23.
5
Ibid., p. 29.
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ter sido mais de compilador do que de autor, e o processo de redação deve ter
continuado depois de sua época, com material posto em ordem e adicionado. A opinião
sólida dos escritores bíblicos é que Moisés é a principal figura da Tora. Desta forma,
qualquer ponto de vista que procure ser coerente com a deles procurará a mão de
Moisés em Gênesis, bem como em todo o Pentateuco. 6

d) Lugar de origem: O lugar de


origem está atrelado a autoria.
Se entendermos que Moisés foi
seu autor/editor (completo ou

Fonte: https://www.jw.org/pt/biblioteca/biblia/biblia-de-estudo/apendice-b/map-exodus-from-egypt/
em parte), então o lugar de
origem seria as peregrinações
do povo hebreu pelo deserto
em direção a terra prometida,
a península sinaítica.
Lembrando que durante a
transmissão do texto
atualizações podem ser vistas
em várias partes do Gênesis
como descrito acima (Ver
também aula 01, p. 24-25).

e) Contexto: Se o Pentateuco é
obra de Moisés então seu
contexto é a formação do povo
judeus nas caminhadas pelo
deserto em direção a Canaã.

f) Texto: O texto de Gênesis que


nos achegou é muito bem
preservado.

g) Unidade do livro: Gênesis se mostra como uma unidade habilmente construída. Quem
escreveu o texto sabia de onde queria partir e onde queria chegar. Para isso compôs com
muito esmero. “Um conjunto de textos (incluindo caps. 1; 5; 10; 11.10-26) distingue-se pelo
caráter esquemático e arranjo lógico cuidadoso”.7 Isso desmancha o esquema de J.
WELLHAUSEN que via no texto uma colcha de retalhos (ver aula 01 e as considerações
sobre a teoria documental).

6
ALLEN, Clifton J. (ed. ger.). Comentário bíblico Broadman. Vol. 1 (Rio de Janeiro: JUERP, 1987), p. 150.
7
LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederick W. Introdução ao Antigo Testamento (São Paulo:
Vida Nova, 2002).p. 19.
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• Por exemplo: é possível ver a engenhosidade do livro nos quiasmos8 que aparecem por todo
texto. Observe

Gn 9.12-17

A (9.12-13) - O sinal da aliança


B (9.14-15a) - Deus recordará a aliança com todos os seres vivos
C ponto focal: (9.15b) - As águas nunca mais se tornarão um dilúvio
para destruir todos os seres mortais (9.15)
B (9. 16) - Deus recordará a aliança com todos os seres vivos
1

A (9.17) - O sinal da aliança


1

O círculo de Abraão (Gn 12‒22)

A Genealogia de Terá (11.27‒32)


B Começo da odisseia espiritual de Abraão (12.1‒9)
C Sara em palácio estrangeiro; provação termina em paz; parte de Abraão e Ló (12.1‒
13.18)
D Abraão vai em socorro de Ló em Sodoma (14.1‒24)
E Pacto com Abraão; anúncio de Ismael (15.1‒16.16)
Ponto focal - 17.1‒5: Abrão Abraão | Elohim apresentado | pacto
1
E Pacto com Abraão; anúncio de Isaque (17.1 18.15)
1
D Abraão vai em socorro de Ló em Sodoma (18.16‒19.38)
C1 Sarah em palácio estrangeiro; provação termina em paz; parte de Abraão em Ismael
(20.1‒21.34)
1
B Climax da odisseia espiritual de Abraão (22.1‒19)
A1 Genealogia de Naor (22.20‒24).9

h) Conteúdo e esboço: O livro de Gênesis tem um conteúdo vasto e importante para o


entendimento e sustentação de toda trama do restante da Bíblia e para as principais ênfases
da teologia.

Ele apresenta uma resposta basicamente adequada à questão da origem do mundo, da


origem do homem, como o pecado entrou no mundo, como o homem caiu da graça,
como Deus deu a esperança de redenção ao homem caído, como o pecado se espalhou,
como um grande julgamento incidiu sobre um mundo pecaminoso no Dilúvio, como
um remanescente da raça humana foi providencialmente salvo, como como a raça
humana se espalhou novamente impondo-se de forma arrogante... O restante do livro

8
Quiasmo: é uma figura de linguagem em que elementos são dispostos de forma cruzada.
9
Para mais veja: Gary A. Rendsbur. Chiasmus in the book of Genesis. Disponível em: <
https://jewishstudies.rutgers.edu/docman/rendsburg/665-chiasmus-rendsburg-handout-2/file> Acesso:
23/02/2022. E Longmann, p. 51
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trata das preparações especificas que foram feitas para que a redenção seguisse de uma
descendência da família humana, sob a orientação do Pai de toda humanidade. 10

Gênesis é composto de um prólogo (1.1-2.3) seguido de onze episódios. A fórmula hebraica


tôledôt funciona como um marcador dessa estrutura11. Observe:

1. Prólogo – A criação (1.1–2.3);


2. Ṯôleḏôṯ dos céus e da terra (2.4–4.26);
3. Ṯôleḏôṯ de Adão (5.1–6.8);
4. Ṯôleḏôṯ de Noé (6.9–9.29);
5. Ṯôleḏôṯ de Sem, Cão e Jafé (10.1–11.9);
6. Ṯôleḏôṯ de Sem (11.10–26);
7. Ṯôleḏôṯ de Terá (11.27–25.11);
8. Ṯôleḏôṯ de Ismael (25.12–18);
9. Ṯôleḏôṯ de Isaque (25.19–35.29);
10. Ṯôleḏôṯ de Esaú (36.1–8);
11. Ṯôleḏôṯ de Esaú, padre dos edomitas (36.9–37.1);
12. Ṯôleḏôṯ de Jacó (37.2–50.26).

• Nesse livro encontra-se genealogias (5), relato de batalha (14), testamento poético (49) e
muitos outros gêneros. Todavia, é possível notar uma clara unidade de enredo que vai
desde a criação até a estada do povo judeu no Egito.

Ademais, não existem quaisquer mudanças radicais de gênero entre Gênesis e o restante
do Pentateuco, e nenhuma entre o Pentateuco e os assim chamados livros históricos,
que nos levaria a lê-lo de qualquer outro modo que não o histórico ... o autor teve a
pretensão de ser lido como um trabalho de história.... 12

Talvez pudéssemos chamá-lo de história teológica.


A crítica bíblica ataca a historicidade do livro13 e trata-o como uma composição a partir de
uma saga propondo outros gêneros como: lenda, conto, fábula, etiologia, mito. Mas, todos são
prejudiciais a leitura histórica do livro. São apenas fruto de pensamento puramente racional.

• É possível dividir Gênesis em duas grandes seções: 1-11, a história primeva (da criação de
tudo até a torre de Babel); e 12-50, as quatro gerações da família de Abraão antecedentes
do povo judeu. Estas são as narrativas patriarcais. Importante notar que as duas seções

10
TENNEY, Merril C. (org. geral). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã, vol. 2 (São Paulo: Cultura Cristã,
2008), p. 982.
11
ARCHER JR, Gleason L. Panorama do Antigo Testamento, 4 ed. (São Paulo: Vida Nova, 2012), p. 209;
WALTKE, Bruce. Comentário do Antigo Testamento: Gênesis (São Paulo: Cultura Cristã, 2010), p. 15-16.
12
LONGMAN III, Tremper; DILLARD, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento (São Paulo: Vida Nova,
2006), p. 49.
13
RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN, Christophe (orgs.). Antigo Testamento: história, escritura
e teologia (São Paulo: Loyola, 2010), p. 146
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começam com criação. “Em Gênesis 1.1, Deus origina o universo pelo poder da sua
palavra; Gênesis 12.1, Deus cria um povo...”.14

Esta estrutura bipartida entende que a obra está orientada para dois objetivos básicos:
descrever as origens do mundo, a história da humanidade e a desobediência, e
apresentar, além do mais, os antepassados mais antigos identificáveis e fundamentais
do povo de Israel, em particular a Abraão, Isaque e Jacó, que de acordo com as narrações
bíblicas, formavam a família de pai, filho e neto. 15

• Gn 11.27-32 marca uma transição e nos dá uma ligação entre a história primeva e a história
dos patriarcas e matriarcas do povo hebreu.

Deus prometeu a Abraão que ele teria inúmeros descendentes que formariam uma
nação poderosa, sugerindo, dessa forma, que ele receberia do Senhor a dádiva da terra.
Também Deus afirmou que ele seria abençoado e serviria ainda como um veículo da
bênção de Deus para os outros ... As narrativas seguintes apresentam o tema recorrente
do cumprimento dessas promessas e a reação dos patriarcas a elas.16

Gênesis é escrito com um objetivo em foco: apresentar o Senhor como aquele que quer
salvar.
Todo o livro de Gênesis, como se depreende da análise estrutural da obra, manifesta o
desejo salvador de Deus. Este propósito fundamental de Deus não se detém, ainda que
as pessoas atuem com rebeldia e desobediência, ou que as nações recusem a vontade
divina. De geração em geração avançam, segundo as narrações de Gênesis, as
promessas de Deus que vão ter seu cumprimento pleno no resto do Pentateuco.17

• As matriarcas em Gênesis. As mulheres exercem um papel de destaque nesse livro, mas


muitas vezes são esquecidas. Mesmo sendo mulheres de uma época muito primitiva elas
transcenderam seu papel de esposa mães. No processo da revelação encontramos uma
contribuição particular dessas mulheres.

1- Sara foi instrumento necessário para que se cumprisse a promessa a Abraão (18.1-
15);
2- Agar fala livremente com Deus e inclusive lhe dá o nome de “O Deus que me vê”
(16.13);
3- Rebeca tem a capacidade de decidir se vai com o servo de Abraão para ser esposa
de Isaque (24.58-61), e ela é a parte ativa no engano de Jacó a seu pai Isaque (25.27-
34), e toma a iniciativa de buscar uma serva a seu esposo para que desse a luz em
seus joelhos (30.1-6);
4- A morte de Raquel é lembrada com um monumento (35.16-22);
5- A esposa de Potifar tem iniciativas e é muito decidida (39.1-16).

14
LONGMAN III, Tremper; DILLARD, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento, p. 48.
15
PAGÁN, Samuel. Introducción a la Biblia hebrea (Barcelona: CLIE, 2012), p. 140.
16
LONGMAN III, Tremper; DILLARD, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento, p. 54
17
PAGÁN, Samuel. Introducción a la Biblia hebrea, p. 142
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Logo, a narrativa de que as mulheres eram meras peças decorativas na antiguidade é


invenção moderna, não condiz com os fatos nem em sociedades extremamente patriarcais
como as do Antigo Oriente Próximo.

i) Teologia: É possível em uma leitura atenta detectar alguns dos mais importantes temas da
teologia bíblica em Gênesis.

1- Deus, pessoal, Criador e soberano (15.14, 16; 25.23) – Os antigos personificavam as forças
da natureza como entidades divinas, em Gênesis não encontramos isso. O relato da criação
apresenta Deus como o criador de tudo o que existe e independente da sua criação, isso
lhe faz soberano e onipotente. Só ele é divino e é também pessoal. Na descrição desse fato
não temos a extensão, nem o processo criativo descrito de forma exaustiva. Na realidade,
deve-se ler Gn 1-2 não procurando como Deus criou, mas para saber que Deus criou. Nas
narrativas da vida de José vemos a consciência de que acima de todos os eventos humanos
está a mão invisível do divino (45.1-8).

O tempo e o espaço, o pecado e mesmo a morte (5.24) não podem competir com Ele,
quer opere por meio de milagres potentes, quer mediante providência oculta. E está é a
fé, não só dos narradores, mas também dos personagens principais, que O proclamam
Criador e Juiz de todos (14:19, 22; 18:25) e Regente capaz de pôr em ordem as situações
mais intratáveis (45:5-8).18

O Deus de Gênesis é justo e amoroso, seu amor inclui exigência moral. Parte de Deus o fato
de ele se dá a conhecer.

Finalmente, podemos notar pelas indicações ocasionais, nas expressões “o anjo do


Senhor” ou “de Deus” e “o Espírito de Deus”, que a unidade de Deus não é monolítica.
Um estudo dos personagens “Anjo do Senhor” ... não dá lugar a dúvida de que a
expressão indica Deus mesmo, visto de forma humana.19

2- O ser humano aparece em Gênesis como o ápice da criação. Homem e mulher são os únicos
seres criados “à imagem de Deus”.

A ideia dessa expressão é muito mais funcional que conceitual. Diz respeito mais às
implicações da semelhança que à sua natureza exata. A semelhança é dinâmica no fato
de os seres humanos (᾽ādām) tornarem-se representantes de Deus na terra ... Sendo à
imagem de Deus, o homem e a mulher devem governar o mundo em nome de Deus. O
quadro é de um imperador nomeando administradores para seus domínios e erigindo
sua própria estátua, de modo que os habitantes possam saber de quem é a vontade que
os governa.20

18
KIDNER, Derek. Gênesis: introdução e comentário (São Paulo: Vida Nova, reimp. 2001), p. 31.
19
Ibid., p. 32.
20
LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederick W. Introdução ao Antigo Testamento, p. 25.
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Não existe ênfase no individualismo, mas o modelo apresentado é social (2.18). O ser
humano vive um padrão de responsabilidades, deve cumprir obrigações com respeito a coisas
(1.26-27; 2.15) e pessoas, pois o companheirismo é apresentado como uma necessidade
primária.

3- O pecado - Após armar a criação, a partir do cap. 3, Gênesis vai apresentando narrativas
que realçam o pecado humano. O relato é uma resposta ao porquê as que eram boas (1.31)
se tornaram más. A cada história notamos a degeneração da humanidade.

4- A graça – É possível ver também em tudo isso a paciência de Deus a cada episódio de
rebelião. A cada novo fato errado da humanidade Deus sempre aparece em graça (3.21;
4.15; 6.8,18ss; 16.1-32). Até a marca sobre Caim tem um propósito gracioso: que ele não seja
morto (4.15). O arco virado para cima,21 colocado nas nuvens após o diluvio é interpretado
como um testemunho da graça de Deus (aliança de paz22) para toda posteridade (9.12-17).
Ele não está mais em guerra com o gênero humano (o dilúvio), mas os preserva. A imagem
do arco virado para cima na antiguidade tinha esse sentido, os arqueiros quando viravam
o arco para si significava que não iam mais atirar. A iconografia dos deuses e real da
Mesopotâmia parece confirmar a ideia. Observe as imagens:

Fonte: https://therealsamizdat.com/2015/04/16/shamash-sun-god-god-of-justice/

21
Veja esse vídeo a partir do minuto 1.23. <https://www.youtube.com/live/COM91SIpTAg?feature=share
>. Para literatura sobre o fato veja:
22
VON RAD vê aqui que a posição do arco mostra paz entre Deus e a humanidade. Veja: VON RAD, Gerhard.
El libro del Genesis (Salamanca: Ediciones Sígueme, 1982), p. 161-162
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A partir da esquerda, em primeiro plano, o deus da Tempestade Ninurta com seu arco
virado para si.

Fonte: https://www.seder-olam.info/seder-olam-g26-judah.html

Senaqueribe em Laquis, item encontrado em Nínive Museu Britânico). (Veja o arco virado
segurado pela mão esquerda).

https://www.express.co.uk/news/science/1367648/archaeology-news-black-obelisk-shalmaneser-3-bible-accurate-evg

O obelisco negro de Shalmeneser III, rei da Assíria ( Veja o arco virado que o terceiro personagem
da esquerda para a direita segura recebendo um rei subalterno).
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Fonte: https://www.worldhistory.org/image/356/victory-stele-of-naram-sin/

Estela da Vitória de Naram-Sin, rei de Akkad. c. 2250 aC. Veja o arco invertido em clemência ao
guerreiro derrotado diante dele.

Assim, o arco de Deus é sinal de graça, clemência e paz aos habitantes da terra.

Essa interpretação não é nova, o sábio judeu Moses ben Nachman (1194-1270) já
escrevia sobre isso. Ele diz: “É, de fato, o costume dos guerreiros inverter os instrumentos de

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guerra que eles seguram quando pedem a paz de seus oponentes. Além disso, o arco não tem
corda para dobrar as flechas”.23
Como “Shadai” (isto é, preservador) “de todos os homens”, Ele é apresentado em
Gênesis restringindo a corrupção e a anarquia produzidos pelo pecado, por meio da
disciplina do trabalho duro e da mortalidade (3:17, 22), do emprego construtivo dos
recursos naturais (3:21), das sanções da lei (9:4-6) e da capacidade de reconhecer
obrigações morais (...), como também por meio da influência direta dos Seus servos.... 24

• A eleição é outro testemunho da graça em Gênesis. Abraão, Isaque, Jacó aparecem no livro
como escolhidos soberanamente por Deus para o cumprimento do seu plano salvador. “A
eleição, em Gênesis, refere-se ao fato de o homem estar ou não na linha de sucessão que
levava a Cristo, a “semente” que seria para a bênção das nações (Rm 9:5; Gl 3:16)”.25

5- O juízo divino – A cada episódio de pecado Deus o contrapõe com julgamento. Em Gn 3,


4, 6-9,11 o Senhor cobra o erro das criaturas. Algo importante a se notar é que nos
julgamentos sobre o homem e a mulher eles são punidos, mas não amaldiçoados (Gn 3).

j) Gênesis e o NT: Em Gênesis é possível ver muitos temas que têm seu fechamento no NT,
mostrando uma relação direta entre essas duas parte da Bíblia. Observe:

GÊNESIS APOCALIPSE
O primeiro céu e a primeira terra O novo céu e a nova terra
O primeiro paraíso , a Árvore da Vida O paraíso final, a Árvore da Vida
Satanás tentador Satanás lançado no Lago de Fogo
A morte começa A morte termina
A construção da Babilônia (11) A destruição da Babilônia
A promessa de um Redentor O reino do Redentor
©Joelson Gomes. Quadro com base em WIERSBIE, Warren W. Comentário bíblico expositivo: Antigo Testamento, vol. 1:
Pentateuco (Santo André, SP: Geográfica, 2006), p. 13.

• Quando se trata de Adão, o NT o coloca diretamente em paralelo com Jesus Cristo. Adão é
o cabeça de uma raça caída e Cristo de uma raça redimida (Rm 5.12-19; 1Co 15.21-22, 45-
49).

• Abraão é um dos pilares de toda teologia do NT. As promessas feitas a esse personagem
espiritualmente se cumprem em Cristo. “... todas as promessas de Deus, incluindo aquela
a Abraão “tem nele [Cristo] o sim” (2Co 1.20), e os cristãos são agora considerados a

23
Citado em: Ronald Hendel. The Rainbow in Ancient Context. Disponível em: <
https://www.thetorah.com/article/the-rainbow-in-ancient-context> Hendel é professor de Bíblia hebraica
e estudos judaicos na Universidade da California.
24
KIDNER, Derek. Gênesis: introdução e comentário, p. 36.
25
Ibid., p. 37.
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descendência de Abraão (Rm 9.8)”.26 Abraão é um dos personagens centrais no NT, aparece
como o pai da fé, de todos os que creem. Sua vida serve a Paulo e a outros para explicar a
doutrina do evangelho ((Rm 4; Gl 3. 6-14, 26-29; Hb 11. 8-12).
• A serpente (gn 3.1-6; Ap 12.9). Satanás é apresentado no NT como o que causou a origem
do pecado na serpente;
• Abel (Mt 23. 35; Hb 11. 4). Ele aparece no NT como símbolo de fé e justiça;
• O dilúvio (Mt 24.37-41; 1Pe 3.20-21; 2Pe 3.5-6). Aparece no NT como símbolo da água do
batismo e do juízo de Deus;
• Melquisedeque (Hb 7.1-12). Ele é o nome usado na carta aos Hebreus para explicar o tipo de
sacerdócio do Senhor Jesus Cristo;
• Sara e Agar (Gl 4.21-31). Paulo usa essas mulheres como símbolos das duas principais
alianças de Deus, a primeira (com Abraão/Cristo) e a segunda com Moisés (a da Lei). E
mostra com isso em qual os cristãos estão;
• O “descendente” de Abraão (Gl 3.16 comp. Com Gn 12.1-3, 7). Paulo explica que a promessa
feita por Deus a Abraão, na verdade foi feita visando Cristo. Jesus foi o que fez a promessa
da salvação se realizar, ele era o descendente de Gn 12.

EXCURSO – TEMAS ESPECIAIS EM GÊNESIS

• Gênesis tem alguns temas difíceis que dá lugar a muitas interpretações. Abaixo trataremos
de alguns de forma rápida.

I- Os dias da criação. Em Gênesis nos é dito que Deus concluiu a criação em seis dias, já
ciência tem dito que esse processo levaria vários bilhões de anos. Como conciliar uma coisa
e outra? A Bíblia não estaria ensinando errado ou contando apenas um mito?

• A palavra dia usada em Gn 1.1-2.4 é o heb. yom.

De acordo com os princípios lexicais, yôm é usado no AT para indicar um dia de trabalho
(Êx 20.9,10; Lv 23.3) ou para as horas gastas durante o dia para um viagem (podendo
ser um dia, Nm 11.31; 1Rs 19.4, ou vários dias, Gn 30.36; 2Rs 3.9). A palavra é usada
também para comunicar um período de tempo geral de 24 horas nos grupos de dias
(Gn 7.4; 8.10-12); o v. 11 apresenta um dia e seu anoitecer) assim como para uma única
unidade de 24 horas (Gn 40.20, o terceiro dia, aniversário do Faraó; Êx 31.15, o dia do
sábado). No singular yôm pode significar “tempo”, no sentido de um tempo de punição
(Jr 50.31), um período de colheita (Pv 25.13), o tempo (um período estendido) de sair da
terra do Egito (Dt 16.3; cp. 1Sm 29.8), e o dia do castigo futuro (Dt 31.17; Am 8.3,9),
incluindo o dia do Senhor no julgamento futuro (cp. Is 2.11,12; Ml 4.3). Yôm pode ser
também entendido no sentido de períodos estendidos de tempo, até mesmo mil anos
(Sl 90.4).27

26
LONGMAN III, Tremper; DILLARD, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento, p. 57.
27
TENNEY, Merril C. (org. geral). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã, vol. 1, p. 1193.
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Mas, ela aparece com significados diferentes no contexto de Gênesis mesmo? Sim, veja:

1- Gn 1.5. aqui “dia” se contrapõe a noite. Logo, dia não se trata de 24 horas, mas de 12.
Veja também Jo 11.9.
2- Depois devemos prestar atenção em como a palavra aparece em 2.2-3. Veja que aqui
não temos a expressão “tarde e manhã” como nas outras vezes. O que levou Agostinho
a dizer que esse era um dia diferente; um período que se entende até a eternidade. Esse
dia seria o tempo de descanso no qual Deus entrou após ter criado o universo. Hebreus
parece dizer que Deus entrou nesse descanso e ainda está nele (4.5-10).
3- E temos a palavra “dia” em Gn 2.4, que em nossas traduções está como “quando”, mas
na realidade o texto hebraico diz: “no dia em que o SENHOR criou os céus e a Terra”.
É claro que aqui a palavra dia está sendo usada significando um período de tempo, todo
o período da criação.

• Por causa dessa variação, também temos variadas interpretações, da palavra “dia” aqui:

1- Os dias seriam dias de 24 horas, logo a ciência está errada. Mas, lembre-se que a palavra
pode significar período;
2- Os dias seriam “dias de revelação”. Deus teria revelado a Moisés o drama da criação em
seis dias visionários. O relato representa não a sequência cronológica da criação, já que
os corpos celestes só foram criados no 4º dia, depois da criação da vegetação que
necessita da luz do sol para se desenvolver. O problema com essa forma de entender é
que não temos no texto nenhuma indicação de que seja uma visão, e se for assim,
poderemos interpretar qualquer texto como sendo visão, mesmo sem ele indicar.
3- Os dias seriam eras geológicas. Cada dia seria um estágio. Essa é uma boa saída, pois
vemos em 2.4 a palavra “yom” significando um período indeterminado. Um problema
é que em Êx 20.9-11 o autor faz um paralelo entre uma semana de sete dias normais
com os dias da criação, mas ele pode ser resolvido entendendo que essa comparação
não necessita ser um paralelo estrito, como por exemplo: Nm 14.34 onde o paralelo é
“dia por ano”.

Com isso quero mostrar que, quem se apressa em dizer que Gn 1-2 trata-se de um mito,
não descreve a verdade, deve ter cautela. O texto é complexo e dá margem a vários
entendimentos.

II- Que implicações tem a existência de Adão para a doutrina da salvação? Adão é tido
como apenas um mito de origem por muitos críticos e dizem que não é necessário
acreditar em sua existência para ser bíblico. A questão é: tem implicações em se
acreditar na historicidade de Adão e Eva ou não? Tem.

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• Rm 5.12-21 só pode ser aceito como
teologia se Adão for um ser real. Todo
paralelo feito aqui (como Jesus e com
Moisés) é com seres reais, e é exigido que
um ser real tenha cometido uma falta
real (Adão) para que outro ser real
(Jesus) tenha vindo e consertado. O fato
de a humanidade ter procedido de um
progenitor está implicado nas palavras
de Paulo aqui (cf. At. 17.26). O apóstolo
que escreve estas palavras, em outro lugar, aceita os detalhes da queda como história
verdadeira (1Tm 2.13-14), além de fazer um paralelo direto entre Adão e Cristo (1Co 15.22,
45-49).

... o registro inspirado fala de um Adão e de uma Eva literais e não dá a mínima
impressão de que a narrativa seja mitológica na sua intensão. Em relação a esse assunto,
observe que Lucas 3.38 traça os ancestrais de Jesus até Enos, Sete e, por fim, Adão (este,
portanto, tem de ser histórico e individual quanto Sete e Enos). 28

Portanto, é claro que a Bíblia tem o propósito de apresentar Adão como alguém que
existiu, não um símbolo ou mito.

Mas com Adão e Eva o caso é diferente. O propósito da Escritura é claro, de que
aceitemos a sua historicidade como sendo o casal humano original. Afinal, as
genealogias bíblicas traçam a raça humana a partir de Adão; o próprio Jesus ensinou
que “no princípio, o Criador os fez homem e mulher” e então instituiu o matrimônio; Paulo
disse aos filósofos atenienses que Deus fizera todos os povos “de um só”; e, de maneira
particular, a analogia cuidadosamente elaborada por Paulo, entre Adão e Cristo, só terá
validade com base na historicidade de ambos.29

Assim, aceitar ou não a historicidade de Adão tem implicações diretas sobre a doutrina
do pecado e redenção.

III- O dilúvio em Gênesis; relato inspirado ou cópia de mitos antigos?30 Os críticos têm
colocado em dúvida o relato do diluvio que encontramos em Gênesis. O fato é que temos
outros relatos de dilúvios em culturas antigas, alguns muito semelhantes a Bíblia. Platão
fala no Timeu da lenda egípcia de um dilúvio; existe a tradição do “Noé da Apaméia”
(Ásia Menor), de Nu-u entre os havaianos, de Telpi entre os indígenas do México, de Munu
entre os Hindus, de Fa-ne entre os chineses. Os Gunai (aborígenes da Austrália), os

28
ARCHER JR, Gleason L. Panorama do Antigo Testamento, p. 231.
29
STOTT, John. A mensagem de romanos (São Paulo: ABU, 2000), p. 191-192.
30
Para detalhes sobre o paralelo entre relatos antigos da criação e do diluvio com a Bíblia veja: PRICE,
Randall com HOUSE H. Wayne. Manual de arqueologia bíblica Thomas Nelson (Rio de Janeiro: Thomas
Nelson, 2020), p. 47-64.
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habitantes da Ilhas Fiji, os nativos da Polinésia, da Nova Guiné, da Nova Zelândia, todas
têm suas histórias de um dilúvio que dizimou a humanidade.31
Abaixo vejamos alguns dos mais importantes e com traços de semelhanças ao dilúvio
bíblico.

1- O Gênesis Sumério32 de Eridu.33 A História do dilúvio Sumério (também conhecido como


Gênesis Eridu) é o texto mesopotâmico mais antigo que relata o conto do Grande Dilúvio.
A obra existente em tablete cuneiforme34 está muito danificada, faltando várias linhas
significativas, mas ainda pode ser lida e facilmente compreendida como uma história
inicial do Grande Dilúvio.
• A história do dilúvio sumério começa com a criação do mundo, as “pessoas de
cabeça preta” (os sumérios ) e depois os animais. Após esta seção da narração,
faltam algumas linhas que devem ter explicado por que os deuses An e Enlil – os
líderes do panteão sumério – decidiram destruir a humanidade com um grande
dilúvio.
• A narrativa recomeça com uma representação do dilúvio, que dura sete dias e sete
noites, até que os mares se acalmam e Utu ( Utu-Shamash, o deus do sol) aparece.
Ziudsura faz um buraco na lateral do barco e Utu, na forma de raios de sol, entra.
Ziudsura obedientemente faz um sacrifício ao deus, mas o que acontece depois é
perdido pois faltam linhas. No final, An e Enlil parecem ter se arrependido de sua
decisão, pois estão gratos por Ziudsura ter preservado suas criações. Eles lhe
concedem a vida eterna no paraíso da terra de Dilmun. Com base em fragmentos
do tablete, parece que a história continuou após essa aparente conclusão por mais
39 linhas, mas o conteúdo se perdeu. Pelo estado do épico não se tem detalhes para
fazer uma comparação com o relato bíblico.

2- O épico de Atrahasis. Os deuses inferiores se revoltaram contra o trabalho que deuses


mais poderosos os havia imposto. Foram criados a partir do barro, do sangue de um deus
inferior e da saliva dos deuses. Após a criação a população aumenta e o barulho perturba
os deuses. A partir daí aparece a determinação de exterminar a humanidade com um
dilúvio. Um dos deuses discorda e avisa indiretamente a Atrahasis que constrói uma arca
na qual embarca animais e a família. O dilúvio começa e a partir daí o texto está
corrompido e não se sabe o final.

31
Ver ARCHER JR, Gleason L. Panorama do Antigo Testamento, p. 234-242.
32
A Suméria era uma coleção de cidades-estados ao redor dos rios Tigre e Eufrates na região que hoje
pertence ao sul do Iraque. Foi uma das primeiras grandes civilizações constituídas pelo ser humano, tendo
florescido pouco antes do Egito e um milênio antes da que surgiu no vale do Indo. Os principais centros
sumérios eram Uruk, Eridu, Bad-tibira, Larak, Sippar e Shuruppak.
33
Veja detalhes em: Eridu Gênesis. Disponível em: https://www.worldhistory.org/Eridu_Genesis/
Acesso: 02/03/2022.
34
A escrita cuneiforme é a designação geral dada a certos tipos de escrita feitas com auxílio de objetos
em formato de cunha em tabletes de barro. É, juntamente com os hieróglifos egípcios, o mais antigo tipo
conhecido de escrita, tendo sido criado pelos sumérios cerca de 3200 a.C.
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3- A epopeia de Gilgamesh.35 Esse é


o relato antigo mais parecido com o de
Gênesis. O herói da epopeia é Gilgamesh
rei de Uruk que querendo saber o
segredo do porquê Utnapistim tem a
vida eterna, este lhe explica que é
decorrente de ter sobrevivido a um
dilúvio. Ele conta que os deuses
determinaram a destruição da
humanidade por terem seu sono
perturbado por causa do barulho que
eles faziam. Avisado por um deus que
não concordou com os outros,
Utnaspistim constrói uma arca com de
juncos. “Após sua construção, ele
juntou prata, ouro, familiares e
parentes, artesãos habilidosos que
Tábua da Epopeia de Gilgamesh construíram a arca e ainda “bestas da
estepe e animais selvagens da estepe””.36
O dilúvio veio e destruiu tudo. “Na sequência do poema, Utnapistim nos dá um quadro
nada elogioso da reação dos deuses: “os deuses se esconderam como cachorros que
rastejam para dentro de casa. Ishtar gritava como uma mulher durante o parto””.37
• Com o passar do tempo dentro da arca Utnapistim, como o Noé bíblico, solta três pássaros.
O terceiro não volta, era o sinal de que as águas haviam baixado e havia árvores. Ao sair
da arca Utnapistim faz um sacrifício e em resposta: “Os deuses sentiram o doce cheiro do
sacrifício, e se juntaram como moscas ao redor dele”.38

Qualquer leitura rápida já mostra que mesmo tendo pontos de contato com o relato bíblico
(em cada caso a divindade está em desagrado com a humanidade, um indivíduo é escolhido e
avisado do dilúvio, constrói uma embarcação, entra com a família, em Gilgamesh o herói solta
pássaros, a arca pousa em uma montanha) as diferenças são abissais. Abaixo um quadro com
as mais aparentes.

35
Veja para detalhes sobre Gilgamesh e outros épicos de dilúvio mesopotâmicos: LONGMANN III, Tremper
& WALTON, John. O mundo perdido do dilúvio: teologia, mitologia e o debate sobre os dias que abalaram a
terra (Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019), p. 65-104.
36
Ibid., p. 70.
37
Ibid., Idem.
38
Ibid., p. 71.
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Relato Bíblico Relatos mesopotâmicos


Um só Deus Muitos deuses
Um Deus com vontade soberana Deuses que que se contradizem, discordam
A humanidade é imagem e semelhança de A humanidade funciona para suprir as
Deus necessidades dos deuses
Dilúvio para restaurar a ordem rompida Dilúvio por um capricho dos deuses que
pela depravação e maldade humana tinham seu sono perturbado pelo barulho
da humanidade
Dilúvio total (Gn 6.7; 7.19-23; 8.9, 21 Vagos quanto a isso
Dilúvio dura 40 dias e 40 noites Dilúvio dura 7 dias e 7 noites
Noé é escolhido porque era justo (Gn 6.9) Os heróis nas epopeias não são justos
Só Noé e a família são salvos Atrahasis e Eridu são vagos a respeito, em
Gilgamesh o herói, a família, diversos
artesãos
No dilúvio bíblico animais são salvos (Gn Atrahasis = gado e animais da estepe; Eridu =
6.7, 19-20; 7.14; 8.17-19) animais pequenos; Gilgamesh = “qualquer
semente que eu tivesse de coisas vivas”.
Também prata e ouro
Noé não ordenado a demolir sua casa para Os heróis demolem suas casas para
construir a arca construir a arca
A arca pousa nas montanhas de Ararate. 39 Gilgamesh = o barco pousa no monte
Nimush , a leste do Tigre
Noé solta um corvo e uma pomba Gilgamesh = O herói solta uma pomba, uma
andorinha e um corvo
©Joelson Gomes. Proibida reprodução.

As diferenças são tão acentuadas que William LASOR escreveu:

Em contraste com o monoteísmo exaltado de Gênesis 1-11, os relatos mesopotâmicos


apresentam deuses que são personificações de forças naturais. Eles não possuem
princípios morais: mentem, roubam, praticam fornicação e matam. E mais, os homens
não gozam de dignidade especial nesses relatos. São humildes servos dos deuses, feitos
para lhes prover alimento e oferendas.40

Assim, o que temos aqui não é a Bíblia copiando nada, pois não se sabe qual texto é mais
antigo, o fato de haver tantas histórias envolvendo o dilúvio é justamente um endosso para o

39
“É importante notar que, se a narrativa bíblica estivesse apenas adotando o relato mesopotâmico,
podíamos esperar que Gênesis se referisse à mesma montanha. Se alguém sugerisse que o autor bíblico
estava fazendo um empréstimo, porém mudou a montanha para associar o texto mais especificamente a
Israel, certamente as montanhas de Ararate não fariam nenhum sentido”. (LONGMANN III, Tremper &
WALTON, John. O mundo perdido do dilúvio, p. 96).
40
LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederick W. Introdução ao Antigo Testamento, p. 23.
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relato bíblico. O dilúvio foi tão real que ficou nas reminiscências das mais diversas culturas do
mundo todo.

IV- Dilúvio real ou local? Alguns autores têm postulado que o dilúvio de Gênesis não teve
abrangência universal. A explicação para isso é que mesmo os texto se referindo a um
cataclisma com abrangência geral nessa época e lugar41 era normal exageros na
linguagem. Deve ser notado que uma linguagem universal na Bíblia não exige um
acontecimento universal (Exs.: Gn 41.57; Dt 2.25; 1Rs 18.10; Jó 37.3; Sl 22.17; Mt 3.5; Jo
4.39; At 2.5; Cl 1.6). Além de não existir vestígios de um dilúvio universal a quantidade
de água que seria necessário para cobrir todos os montes mais altos da terra não teria
como ser drenada, pois a terra não suportaria.

• Mesmo sabendo disso faço coro com quem pensa o contrário. Minhas razões são:

1- O propósito do dilúvio era a aniquilação geral (Gn 6.7, 17) e o NT parece concordar com
isso (1Pe 3.20; 2Pe 2.5; 3.6). Gn 7.19 é muito forte a favor de uma abrangência geral;

2- A universalidade da história do dilúvio. Como vimos acima diversas culturas têm uma
história do dilúvio, prefiro acreditar que seja porque realmente o fato foi universal;

3- Jesus parece ter entendido que o dilúvio foi universal (Mt 24.38-39), e se ele era Deus
não posso achar que estava exagerando ou que estava enganado.

4- A superfície rochosa da terra. Diz o Dr. John F. ASHTON:

Grande parte da superfície rochosa de nosso planeta está coberta por estratos de rochas
que se formaram debaixo d’água. Esta observação não pode ser contraditada pelos
geólogos. As rochas sedimentares, cujos materiais são depositados principalmente pela
ação da água, cobrem aproximadamente 75% da superfície terrestre, sendo xistos,
arenitos e calcário as mais abundantes. 42

V- Deus se arrepende? No contexto da história do dilúvio Gn 6.6 não parece mostrar que
Deus muda de ideia, se arrepende? Sim, parece, mas, não é isso que acontece. A palavra
usada pelo autor bíblico aqui é o hebraico: naham,43 e significa primariamente:
“suspirar, estar pesaroso, apiedar-se, consolar”. Frequentemente o verbo significa:

41
Para a fundamentação disso de forma acadêmica veja: LONGMANN III, Tremper & WALTON, John. O
mundo perdido do dilúvio já citado.
42
Evolucíon imposible: doce razones por las que la evolucíon no puede explicar el origen de la vida sobre la
tierra (Florida: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2015), p. 109.
43
Para um estudo completo de “naham” veja: Bíblia de Estudo Palavras-Chave, 4ª ed. (Rio de Janeiro:
CPAD, 2009), p. 1794-1795; VANGEMEREN, Willem A. Novo dicionário internacional de teologia e exegese
do Antigo Testamento, vl. 3 (São Paulo: Cultura Cristã, 2011), p. 83-85.
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“sentir pesar ou lamentar” (Gn 6.6; Êx 13.17; Jz 2.18). E é assim que deve ser traduzida
nesse contexto.

• Esse pesar do Senhor não é como se mudasse de ideia como o ser humano. O uso desta
palavra mostra a atitude de Deus diante da situação que existe naquele momento. Muitas
vezes o autor bíblico que não está sondando o secreto conselho de Deus, os seus decretos
eternos, escreve da ótica de quem está vendo a situação no momento que está acontecendo.
Ele usa uma linguagem que se chama antropopática (linguagem que atribui sentimentos
humanos a Deus) para fazer o ser humano entender como Deus se sentia com a rebeldia
das pessoas naquele momento. Para um observador daqui da terra, vivendo deste lado do
tempo, parece realmente que Deus se arrependeu, mas se o observador pudesse estar do
lado de lá do tempo, do lado de Deus, veria que Ele já sabia de tudo que iria acontecer. Por
isso temos num mesmo capítulo bíblico a informação de que “Deus se arrepende” (1Sm
15.35), e “que Deus não se arrepende” (1Sm 15.29). O autor estava biruta? Não. Textos
assim não podem ser interpretados literalmente, como também as passagens seguintes: Êx
33.20; Dt 8.3; Js 10. 13-14; Is 30.27; Hb 4.13.

VI- Quem eram os “filhos de Deus” em Gênesis 6? Um alternativa. Em Gn 6.1-4 temos


um episódio que intriga os intérpretes bíblicos até hoje. Uns certos “filhos de Deus”
tomaram filhas dos homens como esposas e no seu tempo havia gigantes na terra.

• A partir do séc. II teólogos cristãos adotaram a visão de que os “filhos de Deus” eram
homens da linhagem de Sete, pois a partir de sua linhagem se começou a invocar o nome
do Senhor (Gn 4.26 ). Eles teriam indiscriminadamente tomado como esposas mulheres da
linhagem de Caim. Mas, parece que tal interpretação não resiste a uma análise mais
robusta. A terminologia “filhos de Deus” refere normalmente no AT a membros do
conselho divino (anjos), e é arbitrário no texto limitar “os homens” aos filhos de Sete e as
“filhas” a descendência de Caim.

• A interpretação de que os “filhos de Deus” seriam reis antigos, pois os reis eram
considerados divinos, tem seu charme. Eles “escolheram para si”, para seu harém, como
Faraó (Gn 12.10-20), isso era normal entre os reis. Mas, não faz justiça a 2Pe 2.4-5 e Jd 6.

• Por isso, a melhor interpretação é que realmente esses “filhos de Deus” eram anjos, pois
é assim que a Bíblia se refere a eles Jó 1.6; 2.1; 38.7; Sl 29.1; 89.6; Dn 3.25. E o fato de eles
“não se casarem ou darem-se em casamento” (Mc 12.25) se explica entendo que é assim no
seu estado natural, mas esses anjos do texto não guardaram seu estado/posição natural
(Jd 6). Essa última visão apesar de ter mais coerência ainda tem pontos a responder: porque
o pecado foi dos anjos e Deus castiga os homens com o dilúvio nos versos seguintes? Uma
alternativa é que temos aqui tanto o erro dos seres angélicos quanto o dos homens sendo
condenado. Os homens pagam pelo seu erro no dilúvio, já os anjos que não guardavam

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seu habitat natural ficaram reservados em cadeias eternas para o juízo final (2Pe 2.4-5; Jd
6).

k) Gênesis para hoje: Entre muitas coisas podemos aprender em Gênesis quero destacar alguns
fatos a respeito de Deus:

1- Deus é o único soberano sobre tudo. Em todo livro somente um Deus é presentado e
ele tem a direção de todos os eventos;
2- Deus é onipotente. O primeiro verso já mostra que o universo é obra dele. Logo, ele
é maior que o universo e pode tudo;
3- Deus é onisciente. Ele sabe onde Adão e Eva se escondem; ele sabe que Sara mentiu.
Ele sabe os sonhos de Faraó. Ele sabe todas as coisas do mundo;
4- Deus é onipresente. Ele está em todo lugar, mesmo que as pessoas não notem (28.
160;
5- Deus é sábio. Ele criou o universo com todas as suas leis para um propósito. Essas
leis mostram organização e eficiência;
6- Deus é misericordioso e amoroso. Não só criou, mas também proporcionou tudo para
as criaturas. Quando o ser humano caiu, ele providenciou a salvação;
7- Deus se revela. Isso é visto por todo livro: às vezes em sonhos (31.11); às vezes por
agentes (18).

O QUE APRENDEMOS NESSA AULA

Em nossa aula vimos:


1- Moisés pode ser visto como o autor da maior parte do livro do Gênesis;
2- Gênesis tem muitos sinais de atualização do texto na medida em que foi sendo copiado
e transmitido;
3- A unidade de Gênesis pode ser vista no seu projeto de escrita mostrando que o livro
não é uma colagem;
4- A fórmula “toledoth” funciona como um marcador de texto em Gênesis;
5- Gênesis pode ser dividido em duas partes: a história primeva e a história dos patriarcas
e matriarcas de Israel;
6- Deus em Gênesis é visto como: criador, soberano, juiz, pessoal, justo, amoroso e
gracioso;
7- O ser humano em Gênesis aparece como o ápice da criação, a imagem de Deus, seu
representante;
8- O pecado humano aparece na desobediência do primeiro casal;
9- Os dias da criação podem ser interpretados como eras sem prejuízo ao texto;
10- Adão foi um ser histórico. A crença nesse fato tem implicação direta com a doutrina da
redenção;
11- O dilúvio em Gênesis pode ser interpretado como um cataclisma universal, mesmo
havendo quem defenda um evento local. Entende-se que os relatos de um dilúvio as
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mais diversas culturas e o relato bíblico da forma que foi escrito dá margem a esse
entendimento de um evento geral. As citações do dilúvio em outras partes da Bíblia
também parecem ter essa mesma visão;
12- Uma comparação entre o relato bíblico e os relatos de dilúvio mesopotâmicos mostra
como aqueles são cheios de fantasias;
13- A expressão “filhos de Deus” em Gn 6 pode ser interpretada como uma referência aos
anjos, isso parece fazer mais justiça a textos como 2Pe 2.4-5 e Jd 6-7.

PARA SABER MAIS

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de 19 de fevereiro de 1998

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