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INTRODUÇÃO
Em relação ao sistema de trabalho compulsório no Brasil colonial, a primeira
questão a ser observada, se refere à utilização dos preceitos religiosos como forma
justificação do sistema, tanto perante os portugueses colonizadores, como perante os
próprios trabalhadores para aceitação de sua condição desumana e exploratória. Assim,
facilitando a manutenção e o fortalecimento desta condição. Isto nos leva ao seguinte
questionamento, ponderado por Pereira (2018): “por que uma instituição, ao qual fora
criada para promover a fraternidade, a justiça e paz, tornou-se conivente, promotora e
até usufruidora de um sistema hediondo de exploração humana?”
Devemos considerar outra questão, no qual se refere a inércia da Igreja no
resguardo dos negros africanos, num mesmo ímpeto ao qual foram em defesa da não
escravização dos indígenas, que sempre foi muito dinâmica e fervorosa na América
Portuguesa (FAUSTO,2006) . Diante destas
circunstancias mencionadas, algo no qual também deve ser deliberado, trata-se da união
ocorrida entre a Igreja e a Coroa Portuguesa no projeto colonial brasileiro, denominada
de “padroado real” e, ainda, até que ponto esta junção estimulou o posicionamento da
Igreja em prol da aceitação e até mesmo da justificação de um sistema que não
respeitava o ser humano, no caso, o negro africano escravizado.
Durante o primórdio da colonização do Brasil os escravos negros não eram
maioria, o principal motivo era o seu alto custo. Pereira (2018) afirma que entre 1550 a
1560, a maioria dos escravos presentes nos engenhos açucareiros eram índios,
capturados nas matas ou diretamente nas missões catequizadoras dos jesuítas, só entre
1560 e 1570 é que tráfico negreiro e a entrada de escravos, veio crescer
exponencialmente, tendo a preponderância deles destinados às lavouras canavieiras do
Nordeste. Essa conversão de escravos indígenas por negros africanos, teve a intervenção
jesuítica como um de seus fatores, já que “os jesuítas lutaram contra a escravidão dos
indígenas, mas para defender os índios estimularam o tráfico de africanos” [ CITATION
Tul18 \l 1046 ].
No início do processo colonizatório, a mão de obra mais utilizada era indígena,
ao qual, segundo Monteiro (1994), era obtida de dois modos: na primeira, “os
portugueses ofereciam ferramentas, espelhos e bugigangas as chefes tribais, na
expectativa de que estes orientassem mutirões para as lavouras europeias”, este método
de negociação ficou conhecido como escambo; na segunda forma de recrutamento, os
lusitanos fomentaram as guerras intertribais, “com intuído de ampliar o número de
cativos, no qual, em vez de serem sacrificados, seriam negociados como escravos para
os europeus” [ CITATION Esc10 \l 1046 ] . As razões econômicas eram preponderantes para
justificar a escravização dos povos nativos, tidos como essenciais para o
desenvolvimento da colônia [ CITATION Gil06 \l 1046 ].
Em 1570 a Coroa portuguesa sanciona uma lei no qual proibia a escravização
dos índios, deixando de fora a tribo dos aimorés, visto que os mesmos se destacavam
pela eficiência militar e pela rebeldia (FAUSTO, 2006). Com isso buscava remover as
tribos que possuíam uma maior resistência contra os portugueses.
DESENVOLVIMENTO
CONCLUSÃO
A Igreja possuía muitos escravos, tanto africanos como índios, mais ou menos
em todas as suas casas. Os padres pertenciam à mais alta camada social num país
baseado no trabalho escravo, inclusive no trabalho doméstico, não é de se estranhar que
os padres fossem donos de escravos. Eles não se distinguiam dos demais amos de
escravos, fazendo com que a religião católica no Brasil Colônia fosse uma “força
apagada, uma consciência adormecida” [ CITATION Iva08 \l 1046 ]. Em São Paulo, por
exemplo, os maiores fazendeiros locais tinham de 40 a 50 escravos, enquanto os
Carmelitas controlavam nada menos que 436 escravos [ CITATION Joh94 \l 1046 ]. A
justificativa da escravidão pelas Ordens Religiosas deitava liames profundos nas
concepções da Escolástica Medieval1, esta, por sua vez, era subordinada do pensamento
aristotélico e da tradição judaico-cristã [ CITATION And07 \l 1046 ].
A doutrina das guerras justas, assim como no caso dos indígenas, foi utilizada
como justificativa para a escravidão negra. Os negros poderiam ser escravizados, desde
que capturados num combate envolvendo interesses de promoção da fé no continente
africano. Contudo, na colônia não tinha como se saber como teria ocorrido seu
aprisionamento [ CITATION Esc10 \l 1046 ]. Macedo (2013) afirma que “uma das
justificativas ideológicas ao aprisionamento das populações africanas era a sua posterior
conversão ao cristianismo, antes da travessia do Atlântico muitos cativos eram batizados
e começavam a receber os rudimentos da doutrina cristã”. Isto é, os traficantes, os
comerciantes e os donos de escravos, nas suas próprias perspectivas, assumiam o papel
de agentes da punição divina. Ou ainda, como seus resgatadores, ao tirarem de uma vida
pecaminosa e lhe proporcionarem expiação de suas transgressões. Neste ponto a Igreja
participava ativamente do processo de instituição da escravidão ao se beneficiar pela
iniciação do negro africano na religião ainda na África, com a finalidade de aumentar
seu rebanho e inculcar em suas mentes que seu martírio é uma forma de redenção e
obediência à verdadeira religião.
REFERÊNCIAS
FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. 12ª. ed. São Paulo: Edusp, 2006.
MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São
Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.