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Zé Limeira PDF
Zé Limeira PDF
Mal chegou em casa, chega o seu compadre Chico Pedro já o chamando para o
aniversário de um fazendeiro. O cantador alagoano Bentevi já estava por lá
faltando apenas outro para se completar a parelha. Limeira diz que não vai, a
noite seria de Dona Bela, mas se a festa for transferida pro terreiro dele, não
rejeitaria peleja . “Pra dar nesse nego véio tem que ter foigo de 7 gatos”,
costumava dizer.
Mais tarde chegam as pessoas que estavam no outro sítio , com bancos e
demais apetrechos. A festa ia ser mesmo no pátio dos Limeira. Inicia-se a
peleja entre Bentevi e o dono da casa. Após as saudações iniciais onde são
feitas as dedicatórias e homenagens iniciais, o primeiro intervalo para lubrificar
a goela.
Após solicitar um silêncio total, fere as doze cordas de sua viola e declama as
sinistras e pestilentas estrofes do poema. Com as superstições provocadas pela
corda de tragédias que assolaram a humanidade, descritas no poema, alguns
ouvintes saem do terreiro e Limeira vai desfiando o rosário lúgubre do
romance.
Assim que termina a cantoria, põe sua viola sobre uma cadeira. O instrumento
cai. Sua mulher estranha. Segundo ele, a razão teria sido o fato de não rezar
para o padre Cícero antes de recitar “A Pavoa”. Dona Bela nota a mudança no
semblante do vate. Logo em seguida, ânimos revigorados, os dois poetas se
engalfinharam em inspirada peleja. Lá pelas três horas da manhã, era festa de
Natal, os dois cavalgando no lombo da poesia em galope a beira-mar, Limeira
é fulminado. Vai ao chão com viola e tudo e assim sai da vida para entrar na
história o proto-tropicalista e surreal poeta.*
"Napoleão era um
Bom capitão de navio,
Sofria de tosse braba
No tempo que era sadio,
Foi poeta e demagogo,
Numa coivara de fogo
Morreu tremendo de frio."
"Saíram lá de Belém
Cristo e Maria José,
Passaram por Nazaré,
Foram Betelelém,
Chupô cana num engem,
Pediu arrancho num brejo,
De noite armuçou um tejo
Lá perto de Piancó,
Na sexta-feira malhô
Foi que Judas vendeu Jésus!"
"Carmelita e Carmeluta
É tudo uma coisa só;
Carmeluta é pro chambrego,
Carmelita é pro xodó,
È prato de pirão verde
Com xerém de mocotó,"
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