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Na Amareleja o humor é ou era "in illo tempore", uma instituição bem como os
alcunhas, os "maus nomes", tão vulgares e até aceites pelos visados, a ponto de
integrarem, ao fim de uma ou duas gerações, os seus apelidos e registados como
tal.
Talvez por auto sensura eclesiástica não fez referência àquelas que eram mais
brejeiras, escabrosas ou, como disse um crítico espanhol do frade Tirso de Molina,
que primeiro escreveu uma peça sobre o famoso D. João, o D. Juan, el Burlador de
Sevilla, algo picarescas.
Com a devida vénia repito lgumas das histórias engraçadas e piadas que também
vêm, se bem melembro, nesse livro do Padre Lobato e conto aquelas que,
seguramente, omitiu por serem pouco católicas.
Esta do Padre Lobato em que contava, como tendo assistido, era um monólogo
dito pelo moiral (maioral) das vacas no intervalo de uma caçada do grupo que
acarrou (termo aplicado às manadas, rebanhos ou varas que se reefugiam do
calor à sombra das poucas árvores do alentejo), a merendar debaixo de uma
zinheira, à hora da sesta.
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Um lugar previligiado para o humor dos amarelejenses era no sonoro, como então
designavam o cinema, talvez por já não ser cinema mudo. Especialmente esses "à
partes" ocorriam no período de início da sessão que projectava os documentários,
os "kucha kanema" na gíria chichangana (língua changane) do sul de Moçambique
e que, em português e à letra se traduz por "antes do cinema".
Quando da visita a Portual, muito mediática e que até teve a inauguração das
transmissões directas da RTP, de Isabel II, ao tempo designada Sua Graciosa
Magestade, do Reino Unido e dos Países da Comunidade Commonwealth (passo o
pleonasmo), o locutor acompanhando a imagem do documentário, informava que
foi oferecido à Reinha, por D. Berta, Esposa do Presidente Craveiro Lopes, em
nome dos ourives de Gondomar, "um broche todo trabalhado à mão". No meio do
silêncio da sala uma voz se levantou em tom de pergunta: à mão?!. Lembro-me da
gargalhada geral, mas eu, menino e moço, não a entendi!
Um outro humorista, que aqui chamarei apenas de Zé, era de um humor caustico
e muitas vezes, quase ou sempre, inconveniente. Havia na aldeia uma simpática
senhora de nome Vitória, seguramente que, se houver céu, ela lá está à beira dos
outros santos e mártres pois foi casada e aturou durante toda a sua devotada e
paciente vida de casada, o maior bebado da aldeia. Essa boa senhora era pequena
e gorda e tinha as ancas e rabo maiores, com a devida proporção, da aldeia. O tal
caustico Zé, um dia, ao cruzar-se com ela e depois dos cumprimentos da prache
disse-lhe à laia de comentário: estou cá a pensar que a Srª Vitória, se fosse
pepino, amargava muito. Curiosa a D. Vitória perguntou – então porquê Zé?
Porque os pepinos amargam muito no cu e a Sehora Vitória está feita em cu,
respondeu o Zé com o seu humor venenoso!
Seria possível escrever um livro sobre o humor amarelejense, mas só mais uma
hiistória clássica.
Nequele tempo em que Lisboa ficava longe da aldeia por força das más estradas
de macadame que iam até à entrada de paralelipépedos já perto de Évora e daí
estreitavam até quase Vila Franca, sem camioneta directa e onde o comboio do
ramal de leste a oeste, de Moura a Beja e desta ronceirava até ao Barreiro, havia
na praça da esquerda do Guafdiana, da Mourão a Mértola, um caixeiro viajante
representante e vendedor de uns famosos armazens de Lisboa, que, sabedor da
má fama dos amarelejenses, se gabava de nunca entrar na Amareleja. Que ia de
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roda logo nas placas, fugindo ao anátema das alcunhas famosas, quando vinha da
Granja para Barrancos ou para Safara. A mim não me poem eles nomes que eu cá
vou de roda, confidenciou ele em Moura, entre conhecidos. Parece que um dos
presentes que era da Amareleja ouviu este desabafo e daí logo ficou com o
alcunha do “vai de roda”. Mesmo indo de roda, não se safou!