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CRISTOLOGIA

1. INTRODUÇÃO

A pergunta de Jesus aos seus discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt.
16.15); muito embora seja uma pergunta simples é muito profunda e de grande
importância para fé cristã. Pedro respondeu ao Senhor: “Tu és o Cristo, o Filho
do Deus vivo” (Mt.16.18). De acordo com Jesus, nenhuma outra resposta seria
satisfatória, porque a esta redeu seu elogio: “Bem-aventurado és, Simão
Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que
está nos céus” (Mt. 16.17).
Esta resposta de Pedro a pergunta de Jesus continua ser de estrema
importância a nós hoje; e digo por que: ainda “não existe nenhum outro nome,
dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At. 4.12). Jesus
Cristo ainda é “o caminho, a verdade e a vida, (e) ninguém vem ao Pai, exceto
através (dele) (Jo. 14.6). O próprio Jesus declarou que o destino eterno de todos
os homens depende da crença deles nele: “se não crerdes que EU SOU (o nome
pactual para Deus, Jeová), morrereis nos vossos pecados” (Jo. 8.24).
Em se tratando da importância do estudo da doutrina de Cristo (“Cristologia”)
dificilmente pode ser super-enfatizada. O estudo a pessoa e da obra de Cristo é
fundamental por causa da relação vital que Ele tem com o cristianismo. Uma
relação que nenhum outro fundador de religião tem com suas respectivas
religiões. Pode-se existir budismo sem Buda; islamismo sem Maomé;
mormonismo sem Joseph Smith; Kardecismo sem Kardec, mais não pode haver
cristianismo sem Jesus Cristo! Poder- mos-ia até dizer: Cristo é a nossa Religião!
(Cl. 1.27b).
Sendo assim, a Cristologia é uma das disciplinas fundamentais da Teologia
Sistemática. Os teólogos normalmente subdividem o estudo da Cristologia em
duas partes: a Pessoa de Cristo (ontologia: quem ele é) e a obra de Cristo
(função: o que ele faz). Essas duas; nunca devem ser separadas, mas devem ser
distinguidas. E começaremos estudando a Pessoa de Cristo; e após obra de
Cristo.

2 – A PESSOA DE CRISTO

2.1 – Relação entre antropologia e Cristologia

Há uma relação muito estreita entre a doutrina Antropologia e a de Cristologia.


A primeira trata do homem, criado à imagem de Deus e dotado de verdadeiro
conhecimento, justiça e santidade, mas que, pela voluntária transgressão da lei
de Deus, despojou-se da sua verdadeira humanidade e se transformou em
pecador. Ela mostra o homem como uma criatura de Deus altamente
privilegiada, trazendo ainda alguns traços da sua glória original, mas, todavia,
uma criatura que perdeu os seus direitos de nascimento, sua verdadeira
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liberdade e justiça originais. Significa que a doutrina dirige a atenção não
apenas, nem primeiramente, à condição do homem como criatura, mas, sim, à
sua pecaminosidade. Salienta a distância ética que há entre Deus e o homem,
distância resultante da queda do homem e que, nem o homem nem os anjos
podem cobrir, e, como tal, é virtualmente um grito pelo socorro divino.
A Cristologia é em parte a resposta a esse grito. Ela nos põe a par da obra
objetiva de Deus em Cristo construindo uma “ponte” sobre o abismo e
eliminando a distância. A Cristologia mostra-nos Deus vindo ao homem para
afastar as barreiras entre Deus e o homem pela satisfação das condições da lei
em Cristo, e para restabelecer o homem em Sua bendita comunhão.
Notamos assim o grande diferencial do Cristianismo as demais religiões. Todas
as demais religiões têm no seu escopo o fato de o homem estar empenhado na
tentativa de buscar a Deus; o cristianismo ao contrário é a atitude do amor de
Deus em buscar o homem perdido. (Jo. 3.16)
É, portanto, a doutrina de Cristo como Mediador da aliança. O Cristo, tipificado
e prenunciado no Antigo Testamento como o Redentor do homem, veio na
plenitude do tempo, nascido de mulher, para tabernacular entre os homens e
levar a efeito uma reconciliação eterna. (Gl. 4.4; Jo. 1.14; 2ª Cor. 5.18,19).

2.2 – Resumo histórico da doutrina de Cristo

Com a morte dos apóstolos não demorou, para que a Igreja se sentisse
ameaçada pelas várias doutrinas que surgiam a respeito de Jesus Cristo. A
doutrina que mais foi atacada ou que mais trouxe confusão se refere ao que
chamamos na teologia de união hipostática. União hipostática, também
conhecida como união mística ou dupla natureza de Cristo; é a doutrina clássica
da Cristologia que afirma ter Jesus Cristo duas naturezas, sendo homem e Deus
ao mesmo tempo. (Hypostasis = subsistência).

Até o Concílio de Calcedônia surgiram algumas doutrinas que sacrificavam a


divindade em detrimento da humanidade, como os:

2.2.1 – Ebionitas
Surgiram no início do segundo século. O nome Ebionitas é derivado de uma
palavra hebraica que significa pobres, indigentes. Eram judeus crentes que não
conseguiam deixar as cerimônias do Judaísmo. Eram um tipo de sucessores dos
judaizantes do tempo de Paulo. Na busca de defender o monoteísmo negavam a
divindade de Cristo. Eles o consideravam como um simples homem, filho de
José e Maria, qualificado em seu batismo para ser o Messias, pela descida do
Espírito Santo sobre Ele. Quando recebeu o Espírito Santo conscientizou-se de
que era o messias. Afirmavam que era necessário obedecer todos os
mandamentos da Lei de Moisés, inclusive a circuncisão. Esta é do Unitarianismo,
e de alguns liberais e teólogos da libertação de hoje.

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2.2.2 – Alogianos
Rejeitavam os escritos de João por que entendiam que sua doutrina do Logo
estava em conflito, com o restante do Novo Testamento. Acreditavam que o
Evangelho de João e o Apocalipse tivessem sido escrito por Cerinto, fundador da
escola gnóstica. Também viam em Jesus apenas um homem, nascido
miraculosamente de uma virgem e que no batismo recebera o espírito do Cristo,
recebendo poder sobrenaturais. Surgiram por volta do ano 200 d.C.

2.2.3 – Monarquismo
Enfatizavam a unidade absoluta de Deus, que conflitava com a doutrina da
trindade, que vê Deus em uma unidade composta pelo Pai, Filho e Espírito
Santo. Dividia-se em Monarquismo Dinâmico e Modalista.
Monarquistas dinâmicos acreditavam de maneira muito semelhante aos
Alogianos, Jesus se tornou o Cristo após o batismo, ao se tornar habitação do
Cristo. Paulo de Samosata era seu principal representante. Para eles Jesus
nascera de José e Maria. Deste movimento surge o adocionismo.

2.2.4 – Adocionismo
Jesus teria sido adotado por Deus. Somente se tornou Deus após a ressurreição.
Modalista surgiu no terceiro século, conhecido como “sabelianismo” (Sabélio)
concebia as três pessoas da trindade como os três modos pelos quais Deus se
manifestava aos homens. Por outro lado havia aqueles que sacrificavam a
humanidade em detrimento da divindade, como:

2.2.5 – Gnosticismo
Originou-se provavelmente na Ásia Menor entre os anos de 135-200 d.C. Estes
foram profundamente influenciados pela concepção dualista dos gregos, em
que a matéria, entendida como inerentemente má, é descrita como
completamente oposta ao espírito. Rejeitavam a ideia de uma encarnação, de
uma manifestação de Deus em forma visível, visto que isto envolveria um
contato direto do espírito com a matéria que para eles era má. Havia porem três
tipos de gnósticos.
Primeiro: negavam a realidade do corpo humano de Jesus. Eram chamados de
Docetas (de dokeo, “parecer”).
Segundo: os que afirmavam que Jesus tinha um corpo real, mas este corpo
embora real, não era material.
E em terceiro lugar, os que afirmavam que Jesus e Cristo eram duas pessoas
distintas. Jesus era um homem comum filho de José e Maria e Cristo era um
espírito que desceu sobre o homem Jesus por ocasião de Seu batismo; e na hora
da crucificação, o Cristo deixou o homem Jesus a sofrer sozinho.

2.2.6 – Escola dos Alexandrinos


Defenderam a divindade de Cristo, e na busca de se colocarem em oposição aos
gnósticos, criaram a concepção de Cristo como subordinado ao Pai.
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Interpretavam a Bíblia através do método alegórico. Seus principais
representantes foram Clemente e seu discípulo Orígenes. Foi ele que criou a
ideia da subordinação quanto à essência. Tertuliano também defendeu a ideia
de Cristo estar subordinado ao Pai, neste sentido ser um pouco menor que
Deus.

2.2.7 – Arianismo
Partindo do princípio de Orígenes fez distinção entre Cristo e o Logos como a
razão divina. Cristo é apresentado como uma criatura pré-temporal, super-
humana, a primeira das criaturas, não Deus, e todavia, mais que um homem. Em
outras palavras: Jesus é Deus, mas não igual ao Pai. Ário (256-336), Presbítero
de Alexandria, ensinava que Cristo era apenas uma criatura, não o Deus eterno.
Eles usavam a linguagem ortodoxa, mesmo que não acreditassem na divindade
de Cristo. “Houve um tempo quando Cristo não era”; esta era a afirmação deles.
Atanásio contestou a Ário e defendeu vigorosamente a posição de que o Filho é
consubstancial com o Pai e da mesma essência do Pai, posição que foi
oficialmente adotada pelo Concílio de Nicéia, em 325. As Testemunhas de
Jeová, Mórmons, são os modernos arianos.

2.2.8 – Nestorianismo
Nestor era bispo de Constantinopla. Acentuava a completa humanidade de
Cristo e entendia que a habitação do Logos nele era apenas uma habitação
moral. Ele compreendia Cristo lado a lado com Deus, mas não unido a Ele numa
unidade de vida pessoal única. As duas naturezas estavam separadas uma da
outra. Jesus agia uma ora com a natureza humana e ora com a natureza divina.
Cirilo de Alexandria foi o principal oponente de Nestor, e obteve a condenação
de Nestor no Sínodo de Éfeso, em 431, d.C.

2.2.9 – Eutiquianismo
Era os seguidores de Êutico. Levaram ao extremo oposto a opinião dos
Nestorianos. Acreditava que a natureza humana de Cristo foi absorvida pela
divina, ou que as duas se fundiram resultando numa só natureza (uma terceira
natureza), posição que para muitos era a negação das duas naturezas de Cristo.
O Concílio de Calcedônia, em 451, condenou esses conceitos e manteve a
crença na unidade da pessoa, como também na dualidade das naturezas.
O Concilio de Calcedônia, em 451 foi um marco importante para a doutrina
ortodoxa.

A conclusão do Concílio de Calcedônia foi de que Jesus teve uma natureza


humana completa e uma natureza divina também completa, duas naturezas em
uma só pessoa. Portanto, na pessoa de Jesus as duas naturezas estão unidas,
sem confusão, sem mudanças, sem divisão, sem separação, conservando cada
qual a sua própria especificidade.

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A posição do Concílio de Calcedônia foi preparada pela carta que Leão, bispo de
Roma, enviou a Flaviano, bispo de Constantinopla. Esta é conhecida como
Tomo, ou Epístola Dogmática. Cinco pontos são mencionados nela:
• Existem duas naturezas em Cristo, que são permanentemente distintas.

• Essas duas naturezas são unidas em uma pessoa, cada uma das quais
realizou sua própria função apropriada na vida encarnada.

• Da unidade da pessoa segue-se a comunicação de atributos.

• A obra de redenção requeria um mediador ao mesmo tempo humano e


divino, temporal e não temporário, moral e imortal. A encarnação foi um ato de
condescendência da parte de Deus, porém, no Logos não deixou de ser vero
Deus. A forma servi não depreciava a forma dei.

• A varonilidade de Cristo é permanente, e sua negação implica na negação


docética (gr. Dokein, de parecer) da realidade dos sofrimentos de Cristo.
O bispo Leão queria que o concílio fosse realizado na Itália, mas aceitou
Calcedônia, na Ásia Menor, por estar mais perto da capital do império. Ela
durou de 22 a 25 de outubro de 451.

A Idade Média acrescentou pouca coisa à doutrina da pessoa de Cristo. Até o


século XIX não houve grandes mudanças na doutrina da pessoa de Cristo. A
Reforma não contribuiu muito com relação a essa doutrina.
No século XIX deu-se grande mudança no estudo da pessoa de Cristo. Até
àquele tempo, o ponto de partida fora predominantemente teológico, e a
Cristologia resultante era teocêntrica, mas durante a última parte do século
dezoito houve crescente convicção de que se alcançariam melhores resultados
partindo de algo mais próximo, a saber do estudo do Jesus histórico. Assim foi
introduzido o “segundo período Cristológico”, assim chamado. O novo ponto de
vista era antropológico, e o resultado foi antropocêntrico. Isto evidenciou-se
destrutivo para a fé cristã. O Cristo sobrenatural deu lugar a um Jesus humano;
e a doutrina das duas naturezas deu lugar para a doutrina de um homem divino.
Scheleiermacher, esteve à frente do novo desenvolvimento. Ele considerava
Cristo como uma nova criação, na qual a natureza humana é elevada ao nível da
perfeição ideal. Acreditava que Cristo atingiu essa perfeição por que estava
unido a natureza divina.
O conceito Hegel, a respeito de Cristo é parte integrante do seu sistema
panteísta de pensamento. O verbo se fez carne significa para ele que Deus se
encarnou na humanidade, de modo que a encarnação expressa realmente a
unidade de Deus e o homem.
“A doutrina das duas naturezas de Cristo desapareceu da teologia moderna e
em seu lugar temos uma identificação panteísta de Deus e o homem.
Essencialmente, todos os homens são divinos, desde que todos têm em si um
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elemento divino; e todos são filhos de Deus, diferindo de Cristo somente em
grau. O ensino moderno acerca de Cristo está baseado na doutrina da
continuidade de Deus e o homem. E é exatamente contra essa doutrina que
Barth e os que pensam como ele ergueram sua voz. Nalguns círculos atuais há
sinais de um retorno à doutrina das duas naturezas” (Louis Berkhof – p. 155).

3 – A ENCARNAÇÃO DE CRISTO

Embora a palavra não ocorra de maneira explicita na Bíblia, a igreja tem


empregado o termo encarnação para referir-se ao fato de que Jesus era Deus
em carne humana. A encarnação foi o ato pelo qual Deus filho assumiu a
natureza humana.
Mas o equivalente grego do latim "in carne" (τη σαρκι, en sarki, "na carne") se
encontra em algumas declarações importantes no Novo Testamento a respeito
da pessoa e obra de Jesus Cristo. Em 1ª Tm. 3.16; fala sobre "Aquele que foi
manifesto na carne". João atribui ao espírito do anticristo qualquer negação que
Jesus Cristo "veio em carne" (1ª Jo. 4.2). Paulo diz que Cristo realizou sua obra
de reconciliação "no corpo da sua carne" isso quer dizer que Cristo pela sua
morte nos reconciliou com Deus (Col. 1.22; Ef. 2.15), e, que ao enviar Seu Filho
"em semelhança de carne pecaminosa" Deus "condenou ... na carne, o pecado"
(Rm. 9.3). Todos esses textos mostram de diversas maneiras que Cristo garante
a salvação porque veio em "carne" e morreu "na carne".
No grego “sarx” que significa “carne” faz distinção com ossos, tendões, pele,
etc., em outras palavras, ela não é meramente o corpo, mas o homem todo
como pessoa. No grego “soma -” consiste em ossos, sangue, tendões, carne e
pele, representando o corpo físico ou material.
Nesse sentido teológico, "carne" não é de maneira nenhuma alguma coisa que o
homem possui, mas é antes uma coisa que o homem é, sinalizado pela fraqueza
e fragilidade próprias da criatura e nesse particular aparece em contraste com
"espírito". Estar em carne (Jo. 1.14) – em corpo humano. Estas palavras o
apóstolo João ataca duas posições claras do gnosticismo. É um repudio a ideia
do logos jamais se encarnar. Repudia a ideia de que o grande mal do homem
está no corpo (carne matéria – soma).
A pessoa de Cristo encarnado incluía: Divindade plenamente mantida (100%
Deus). Perfeita humanidade (100% homem).

4 – O NASCIMENTO VIRGINAL DE CRISTO

O nascimento virginal de Cristo é uma das doutrinas bíblicas fundamentais à fé


cristã. Desde as primeiras décadas da história da igreja está doutrina é
sustentada e ensinada pelos Apóstolos e Pais da igreja; cito aqui Inácio de
Antioquia: “Oculto dos príncipes deste mundo havia a virgindade de Maria e o
seu parto... Dou glória a Jesus Cristo, o Deus que conferiu tal sabedoria a ti; pois
tenho percebido no tocante o nosso Senhor, de que Ele pertence
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verdadeiramente à raça de Davi segundo a carne, mas Filho de Deus por
vontade e poder divino, verdadeiramente nascido de uma virgem e batizado por
João.“ No início do II século esta doutrina é reconhecida no Credo dos Apóstolos
que diz: “Nasceu do Espírito Santo e da Virgem Maria’’.
Jesus é uma pessoa absolutamente única, como verdadeiro Deus e vero
homem; a Sua entrada neste mundo foi diferente dos demais homens. Os
Evangelistas Mateus e Lucas esclarecem inequivocamente a forma miraculosa
do nascimento Virginal de Cristo o qual se harmoniza com tudo que
conhecemos e cremos sobre a Sua pessoa e natureza. (Mt. 1.18-25; Lc. 1.26-38)
A polêmica sobre a tradução por “virgem” ou “jovem” do termo hebraico em Is.
7.14, em nada afeta o caso, pois é muito claro os textos de Mateus e Lucas
citados acima.
A seguir; alguns argumentos sobre a importância do nascimento virginal de
Cristo dentro da formação sistemática das doutrinas cristãs:

4.1 – As naturezas de duas vidas (pai e mãe) unidas pela concepção do


embrião determinam a natureza do ser gerado por elas. Somente um ser gerado
pelo divino e pelo humano pode ser divino e humano. Se Jesus não tivesse
nascido de mãe virgem Ele pertenceria à mesma classe dos demais filhos de
José e Maria. Mas é justamente o seu parentesco divino e humano, combinados
que estabelece a categoria de Sua Pessoa. Se Jesus tivesse tido um pai humano
logo Ele seria igual a qualquer um de nós e não teríamos argumentos suficientes
para defender tanto a ausência de pecado em Sua natureza, quanto a Sua
divindade Pessoal. (Lc. 1.35; Hb. 2.14)
4.2 – A forma como Jesus entrou na vida humana difere de nós, no que tange
o Seu nascimento virginal. A concepção sobrenatural é concordante com o
nascimento de uma pessoa sobrenatural, fato que harmoniza com a doutrina da
Trindade. Porque se Jesus não é uma pessoa sobrenatural logo não existe a
segunda Pessoa da Trindade; e consequentemente não haveria Trindade.
Concluímos que caso nos faltasse esse elo doutrinário do nascimento virginal de
Jesus Cristo a doutrina da trindade seria questionável. (Is. 9.6)
4.3 – É de suma importância para doutrina da expiação o respaldo oferecido
pela doutrina do Nascimento Virginal de Cristo. Champion faz a seguinte
afirmação sobre esse assunto: “Quanto menos vemos da Divindade de Cristo
em Seu nascimento sobrenatural, menos vemos dessa Divindade em Sua morte
expiatória. Quando perdemos de vista o Cristo histórico dos Evangelhos e a Sua
Concepção Miraculosa, conforme ali registrada, nem sombra de divindade resta
para efetuar nossa redenção.” Somente um Sumo Sacerdote perfeito, santo e
inculpável, com natureza divina e humana poderia fazer uma expiação perfeita
pelos pecadores imperfeitos. Hb. 8.26-28. Cremos no Nascimento Virginal de
Cristo Jesus porque nenhuma objeção foi levantada que fosse suficiente ou
concludente.

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5 – A HUMANIDADE DE CRISTO

Ontologia é a parte da filosofia que trata do ser enquanto ser, isto é, do ser
concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada
um dos seres. Tendo-se em conta que “onto” do grego, vem a significar
indivíduo ou ser, e “logia”, significa estudo; tem-se que "ontologia" vem a ser o
estudo investigativo e comparativo do indivíduo – aqui tido como exemplar da
espécie humana – frente aos demais seres vivos, passando pela sua concepção,
criação, evolução e extinção. Busca, portanto, o conhecimento profundo acerca
da natureza do ser humano, levando em conta os aspectos fisiológicos e
espirituais, confrontando-os com aqueles que caracterizam e distinguem os
demais seres vivos. Jesus enquanto homem estava subordinado ao Pai. Contudo
essa subordinação é de ofício, operação (Jesus veio para fazer a vontade do Pai),
mas ela não é de essência-poder. Jesus Cristo não é menor que o Pai.

5.1 – Jesus possuía um corpo humano


O fato de que Jesus possuía um corpo humano exatamente como o nosso é
visto em muitas passagens das Escrituras. Ele nasceu assim como nascem todos
os bebês humanos (Lc. 2.7). Ele passou da infância para a maturidade assim
como crescem todas as outras crianças: “Crescia o menino e se fortalecia,
enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (Lc. 2.40).

5.2 – Jesus possuía uma mente humana


O fato de Jesus ter crescido em sabedoria (Lc. 2.52) significa que ele passou por
um processo de aprendizado assim como acontece com todas as outras crianças
— ele aprendeu a comer, a falar, a ler e a escrever, e a ser obediente a seus
pais (veja Hb. 5.8). Esse processo normal de aprendizado fazia parte da genuína
humanidade de Cristo.

5.3 – Jesus possuía alma humana e emoções humanas


Vemos várias indicações de que Jesus possuía alma humana (ou espírito). Logo
antes de sua crucificação, ele disse: “Agora, está angustiada a minha alma” (Jo.
12.27). João escreve um pouco depois: “Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus
em espírito” (Jo. 13.21). Em ambos os versículos a palavra angustiar representa
o termo grego tarassü, palavra muitas vezes empregada em referência a
pessoas ansiosas ou que de repente são surpreendidas por um perigo.

5.4 – As pessoas próximas de Jesus consideravam-no apenas humano


Mateus registra um incidente assombroso no meio do ministério de Jesus. Ainda
que Jesus tivesse ensinado por toda a Galileia, “curando toda sorte de doenças
e enfermidades entre o povo”, de modo que “numerosas multidões o seguiam”
(Mt. 4.23-25), quando chegou à própria cidade de Nazaré, o povo que o
conhecia havia muitos anos não o recebeu (Mt. 13.53-58).

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5.4.1 – Impecabilidade
Ainda que o Novo Testamento seja claro em afirmar que Jesus era plenamente
humano exatamente como nós, também afirma que Jesus era diferente em um
aspecto importante: ele era isento de pecado e jamais cometeu um pecado
durante sua vida. Alguns objetam que se Jesus não pecou, então não era
verdadeiramente humano, pois todos os humanos pecam. Mas os que fazem tal
objeção simplesmente não percebem que os seres humanos estão agora numa
situação anormal. Deus não nos criou pecaminosos, mas santos e justos. Adão e
Eva no jardim do Éden eram verdadeiramente humanos antes de pecar, e nós
agora, apesar de humanos, não nos conformamos ao padrão que Deus deseja
que preenchamos quando nossa humanidade plena, impecável, for restaurada.

5.4.2 – Jesus poderia ter pecado? Às vezes levanta-se esta questão


“Cristo podia ter pecado?” Alguns defendem a impecabilidade de Cristo,
entendendo por impecável “não sujeito a pecar”. Outros objetam que se Jesus
não fosse capaz de pecar, suas tentações não teriam sido reais, pois como uma
tentação seria real, se a pessoa que estivesse sendo tentada não fosse mesmo
capaz de pecar? Para responder a essa pergunta, precisamos distinguir, por um
lado, o que as Escrituras afirmam claramente e, por outro lado, o que é mais
uma inferência de nossa parte.
5.4.2.1 – As Escrituras afirmam claramente que Cristo jamais pecou de
fato (veja acima). Não deve haver nenhuma dúvida a esse respeito em nossa
mente.
5.4.2.1 – Elas também afirmam que Jesus foi tentado e que as tentações
foram reais (Lc. 4.2). Se cremos na Bíblia, precisamos insistir que Cristo foi
“tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb. 4.15).
5.4.2.2 – Também precisamos afirmar com as Escrituras que “Deus não
pode ser tentado pelo mal” (Tg. 1.13). Mas aqui a questão torna-se difícil: se
Jesus era plenamente Deus e também plenamente humano (e vamos
argumentar adiante que as Escrituras ensinam isso várias vezes e de maneira
clara), então não somos obrigados também a afirmar que (em algum sentido)
Jesus também “não pode ser tentado pelo mal”?
Por que era necessário que Jesus fosse plenamente humano? Quando João
escreveu sua primeira epístola, circulava na igreja um ensino herético, segundo
o qual Jesus não era homem. Essa heresia tornou-se conhecida como
Docetismo. Essa negação da verdade acerca de Cristo era tão séria que João
podia dizer que se tratava de uma doutrina do anticristo: “Nisto reconheceis o
Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de
Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo
contrário, este é o espírito do anticristo” (1ª Jo. 4.2-3).
5.4.2.3 – Para possibilitar uma obediência representativa. Conforme
observamos no capítulo acima sobre as alianças entre Deus e o homem, Jesus
era nosso representante e obedeceu em nosso lugar naquilo que Adão falhou e
desobedeceu. Vemos isso nos paralelos entre a tentação de Jesus (Lc. 4.1- 13) e
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a ocasião da prova de Adão e Eva no jardim (Gn. 2.15–3.7). Também reflete-se
claramente na discussão de Paulo sobre os paralelos entre Adão e Cristo, na
desobediência de Adão e na obediência de Cristo (Rm. 5.18-19).
5.4.2.4 – Para ser um sacrifício substitutivo. Se Jesus não tivesse sido
homem, não poderia ter morrido em nosso lugar e pago a penalidade que nos
cabia. O autor de Hebreus nos diz: “Pois ele, evidentemente, não socorre anjos,
mas socorre a descendência de Abraão. Por isso mesmo, convinha que, em
todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e
fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos
pecados do povo” (Hb. 2.16-17; cf. v. 14).
5.4.2.5 – Para ser o único mediador entre Deus e os homens. Porque
estávamos alienados de Deus por causa do pecado, necessitávamos de alguém
que se colocasse entre Deus e nós e nos levasse de volta a ele. Precisávamos de
um mediador que pudesse representar-nos diante de Deus e que pudesse
representar Deus para nós. Só há uma pessoa que preencheu esse requisito:
“Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo
Jesus, homem” (1ª Tm. 2.5). Para cumprir essa função de mediador, Jesus tinha
de ser plenamente homem e plenamente Deus.
5.4.2.6 – Para cumprir o propósito original do homem de dominar a
criação. Como vimos em nossa discussão sobre o propósito para o qual Deus
criou o homem, Deus colocou o ser humano sobre a terra para subjugá-la e
dominá-la como representante divino. Mas o homem não cumpriu esse
propósito, pois caiu em pecado. O autor de Hebreus percebe que Deus
pretendia que tudo fosse sujeitado ao homem, mas reconhece: “Agora, porém,
ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas” (Hb. 2.8). Então, quando Jesus
veio como homem, foi capaz de obedecer a Deus e, assim, teve o direito de
dominar a criação como homem, cumprindo o propósito original de Deus ao
colocar o homem sobre a terra. Hebreus reconhece isso quando diz que agora
“vemos [...] Jesus” em posição de autoridade sobre o universo, “coroado de
glória e de honra” (Hb. 2.9; cf. a mesma frase no v. 7).
5.4.2.7 – Para ser nosso exemplo e padrão na vida. João nos diz: “...
aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele
andou” (1ª Jo. 2.6), e nos lembra que “quando ele se manifestar, seremos
semelhantes a ele” e que essa esperança de futura conformidade com o caráter
de Cristo confere mesmo agora pureza moral cada vez maior à nossa vida (1ª Jo.
3.2-3). Paulo nos diz que estamos continuamente sendo “transformados [...] na
sua própria imagem” (2ª Cor. 3.18), avançando, assim, para o alvo para o qual
Deus nos salvou: sermos “conformes à imagem de seu Filho” (Rm. 8.29). Pedro
nos diz que, especialmente no sofrimento, temos de considerar o exemplo de
Cristo: “pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo
para seguirdes os seus passos” (1ª Pe. 2.21).
5.4.2.8 – Para ser o padrão de nosso corpo redimido. Paulo nos diz que
quando Jesus ressuscitou dos mortos, ressuscitou num novo corpo “na
incorrupção [...] ressuscita em glória [...] ressuscita em poder [...] ressuscita
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corpo espiritual” (1ª Cor. 15.42-44). Esse novo corpo ressurreto que Jesus
possuía quando ressurgiu dos mortos é o padrão do que será nosso corpo
quando formos ressuscitados dos mortos, porque Cristo é “as primícias” (1ª Cor.
15.23) — uma metáfora agrícola que compara Cristo à primeira amostra da
colheita, que demonstra como será o outro fruto daquela colheita.
5.4.2.9 – Para compadecer-se como sumo sacerdote. O autor de Hebreus
lembra-nos de que “naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é
poderoso para socorrer os que são tentados” (Hb. 2.18; cf. 4.15-16). Se Jesus
não tivesse existido na condição de homem, não teria sido capaz de conhecer
por experiência o que sofremos em nossas tentações e lutas nesta vida. Mas
porque viveu como homem, ele é capaz de compadecer-se mais plenamente de
nós em nossas experiências.
Jesus será um homem para sempre: Jesus não abandonou a natureza terrena
após sua morte e ressurreição, pois apareceu aos discípulos como homem após
a ressurreição, até com as cicatrizes dos cravos nas mãos (Jo. 20.25-27). Ele
possuía carne e ossos (Lc. 24.39) e comia (Lc. 24.41-42). Posteriormente,
quando conversava com os discípulos, foi levado ao céu, ainda em seu corpo
humano ressurreto, e dois anjos prometeram que ele voltaria do mesmo modo:
“Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir”
(At. 1.11).

6 – A DIVINDADE DE CRISTO

Para completar o ensino bíblico acerca de Jesus Cristo, precisamos declarar não
só que ele era plenamente humano, mas também plenamente divino. Embora a
palavra não ocorra de maneira explícita na Bíblia, a igreja tem empregado o
termo encarnação para referir-se ao fato de que Jesus era Deus em carne
humana. A encarnação foi o ato pelo qual Deus Filho assumiu a natureza
humana. A comprovação bíblica da divindade de Cristo é bem ampla no Novo
Testamento. Vamos examiná-la sob várias categorias. Provada na sua
preexistência:
6.1 – Jesus afirma sua eternidade quando diz: “... antes que Abraão existisse,
EU SOU” (Jo. 8.58) e também quando diz: “Eu sou o Alfa e o Ômega” (Ap. 22.13).
6.2 – Provada pelo Antigo Testamento. Miquéias 5.2 – “Mas tu, Belém-Efrata,
embora pequena entre os clãs de Judá, de ti virá para mim aquele que será o
governante sobre Israel. Suas origens estão no passado distante, em tempos
antigos”. Is. 9.6 – “Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o
governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso
Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz”.
6.3 – Provada pelo Novo Testamento. Jo. 1.1, em comparação com o
versículo 14 – “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e
era Deus. Ele estava com Deus no princípio. (...) Aquele que é a Palavra
tornou-se carne e viveu entre nós...” Jo. 8.58 “Respondeu Jesus: Eu lhes afirmo

11
que antes de Abrão nascer, Eu Sou! 1ª Pe. 1.20 – “Conhecido antes da criação
do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês”
6.4 – Provada por obra na criação. 1ª Cor. 8.6 – “para nós, porém, há um
único Deus, o Pai, de quem vêm todas as coisas e para quem vivemos; e um só
Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem vieram todas as coisas e por meio de
quem vivemos”. Col. 1.16 – “pois nele (Jesus) foram criadas todas as coisas nos
céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes
ou autoridades, todas as coisas foram criadas por ele e para ele”.
6.5 – Provada por aparições. As aparições do Anjo do Senhor (Gn. 48.16; Êx.
3.2,4; Jz. 13.18). Estas eram teofanias, manifestações do verbo antes da sua
encarnação, e só ocorreram antes dela. Gn. 18 – 10; o Senhor apareceu a
Abraão (...). Abraão ergueu os olhos e viu três homens em pé, a pouca distância.
Quando os viu, saiu da entrada de sua tenda, correu ao encontro deles e
curvou-se até o chão (Abraão o adorou e o mesmo recebeu sua adoração). 10
Então disse o Senhor: voltarei a você (...).”

6.5.1 – Provada pelos seus nomes.


6.5.1.1 – Logos – O termo logos trazia para os gregos uma dupla
referência. Era tanto à Palavra de Deus poderosa e criadora do Antigo
Testamento, pela qual os céus e a terra foram criados (Sl. 33.6), como ao
princípio organizador ou unificador do universo, dando-lhe conjunto e sentido
dentro do pensamento grego. João ao fazer uso desta palavra, com certeza
estava identificando Jesus com essas duas ideias e acrescentando que Ele não só
era a Palavra poderosa, criadora e a força que organiza e unifica o universo
como também se fez homem.
6.5.1.2 – Deus – A palavra Deus (Theos) é atribuída a Cristo. Apesar de a
palavra “theos” (Deus) ser em geral reservada no Novo Testamento para Deus
Pai, há algumas passagens em que é também empregada em referência a Jesus
Cristo. Em todos esses trechos, a palavra “Deus” é empregada com um sentido
denso em referência àquele que é Criador do céu e da terra, o governante de
tudo. Entre essas passagens encontram-se: Jo. 1.1; 1.18 (em manuscritos mais
antigos); 20.28; Rm. 9.5; Tito 2.13; Heb. 1.8 e 2ª Pe. 1.1. Um exemplo
veterotestamentário do nome Deus aplicado a Cristo encontra-se numa
passagem bem conhecida: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu;
o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso,
Conselheiro, Deus forte...” (Is. 9.6).
6.5.1.3 – Filho de Deus – Ainda que o título “Filho de Deus” possa às vezes
ser simplesmente empregado em referência a Israel (Mt. 2.15), ou ao homem
criado por Deus (Lc. 2.38), ou ao homem regenerado em geral (Rm. 8.14, 19,23),
há, entretanto, casos em que a frase “Filho de Deus” refere-se a Jesus como o
Filho celestial eterno igual ao próprio Deus (Mt. 11.25-30; 17.5; 1ª Cor. 15.28;
Hb. 1.1-3, 5, 8). Isso ocorre especialmente no evangelho de João, em que Jesus
é visto como um Filho singular do Pai (Jo. 1.14, 18, 34, 39) que revela
plenamente o Pai (Jo. 8.19; 14.9).
12
Ele é também aquele que possui toda a autoridade proveniente do Pai para dar
vida, pronunciar julgamento eterno e governar sobre tudo (Jo 3.36; 5.20-22, 25;
10.17; 16.15). Como Filho, ele foi enviado pelo Pai e, portanto, existia antes de
vir ao mundo (Jo 3.37; 5.23; 10,36).
Aqui também neste ponto da Cristologia nos cabe fazer uma observação de
suma importância. Há quatro referencias bíblicas onde Jesus Cristo e
mencionado como gerado de Deus Pai, Sl 2.7; At. 13.33; Hb1.5; Hb.5.5; estes
textos neotestamentario devem ser interpretados a luz do contexto histórico-
cultural do salmo dois; como nos ensina a Hermenêutica Reformada. O salmo
dois é o salmo da coroação dos reis de Israel. Casa não haja este entendimento
podemos favorecer a heresia ariana.
6.5.1.4 – Vé (Jeová ou Iavé) e Kyrios – O nome “Senhor” é aplicado a Deus
na Septuaginta, como equivalente de Jeová e como tradução de Adonai
no Antigo Testamento. Ás vezes a palavra Senhor (Gr. Kyrios) é empregada
simplesmente como tratamento respeitoso dispensado a um superior (Mt.
13.27; 21.30; Jo. 4.11). Às vezes pode simplesmente significar “patrão” de um
servo ou escravo (Mt. 6.24; 21.40). Jesus é tratado como o Senhor (Kyrios). A
palavra Kyrios é empregada para traduzir o nome do Senhor 6814 vezes no
Antigo Testamento grego. Assim, qualquer leitor grego da época do Novo
Testamento que conhecesse um pouco o Antigo Testamento grego
reconheceria que, nos contextos apropriados, a palavra “Senhor” era o nome do
Criador e Mantenedor do céu e da terra, o Deus onipotente.

6.5.2 – Sinais de que Jesus possuía atributos de divindade:


6.5.2.1 – Onipotência – Essa é demonstrada quando Jesus acalmou a
tempestade no mar com uma palavra (Mt. 8.26-27), multiplicou os pães e peixes
(Mt. 14.19) e transformou a água em vinho (Jo. 2.1-11). Podemos incluir vários
outros textos que mostram seu poder. Mateus 28.18. Jesus operava sinais e
maravilhas e Seu nome era glorificado e Ele era adorado.
Alguns podem objetar, dizendo que esses milagres só mostraram o poder do
Espírito Santo agindo por intermédio dele, assim como o Espírito Santo poderia
agir por meio de qualquer outro ser humano e, assim, isso não comprova a
divindade de Jesus. Mas podemos refutar esta objeção, a doutrina da divindade
de Cristo afirmando biblicamente que Jesus fez milagres em seu próprio nome e
poder, como podemos ver nos textos das Sagradas Escrituras (Mt 9.6).
6.5.2.2 – Onisciência – Era demonstrada no fato de conhecer os
pensamentos das pessoas (Mc 2.8), de ver, de muito longe, Natanael sob a
figueira (Jo. 1.48), de conhecer “desde o princípio, quais eram os que não criam
e quem o havia de trair” (Jo. 6.64). Outros textos: Jo.1.48.
6.5.2.3 – Onipresença – Durante seu ministério terreno esse atributo não
foi manifestado. Contudo Jesus afirmar sua onipresença ao declarar que quando
a Igreja fosse estabelecida onde ela se reunisse Ele estaria presente (Mt. 18.20).
Além disso, antes de deixar a terra, disse aos discípulos: “E eis que estou
convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt. 28.20). Veja Jo 3.13.
13
6.5.2.4 – Eterno (Jo. 1.4; 5.26) – Jesus possuía o atributo divino da
imortalidade, a incapacidade de morrer. Ele é a própria vida. Vemos isso
indicado no início do evangelho de João, quando Jesus fala aos judeus: “Destruí
esse santuário, e em três dias o reconstruirei” (Jo. 2.19). Precisamos insistir que
Jesus realmente morreu, mas a morte não o podia deter. Também é
significativo observar que o próprio Jesus afirma que atuaria em sua
ressurreição, embora outras passagens digam que o Pai atuou na ressurreição.
Em outra passagem do Evangelho de João, Jesus alega ter poder para entregar a
vida e reassumi-la: “Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a
reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou.
Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi
de meu Pai” (Jo. 10.17,18).
6.5.2.5 – Sua igualdade na Trindade: Com o Pai (Jo. 14.23; 10.30). Com o
Pai e o Espírito Santo (Mt. 28.19; 2ª Cor. 13.13). Consubstancialidade é um
conceito Cristológico introduzido na profissão de fé pelo Concílio de Niceia (325
d.C.) e que diz respeito à divindade de Cristo, por ser da mesma substância do
Pai. O termo consubstancialidade é o correspondente ao termo grego
homoousios, termo original que designa essa realidade. Este termo provém da
junção de homos, que significa “o mesmo”, eousios, proveniente de ousía, que
significa substância ou essência. Assim, o termo tem o sentido de “da mesma
substância, com a mesma essência”.

6.6 – Teoria falsa da Kenosis.


Paulo escreve aos filipenses: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve
também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou
como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a
forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em
figura humana... (Fp. 2.5-7)”.
Partindo desse texto, alguns teólogos da Alemanha (a partir de 1860-1880) e da
Inglaterra (a partir de 1890-1910) passaram a defender uma ideia de
encarnação que jamais fora defendida na história da igreja. Essa nova ideia foi
chamada “teoria da Kenosis”, e a posição geral representada por ela foi
chamada “teologia kenótica” (A palavra grega Kenoo, foi traduzida para
“esvaziou-se” por isso está doutrina é chamada de “Kenosis”).
O grande erro cometido por muitos a respeito desta teoria: Alguns kenoticistas
defendem que Cristo transformou-se literalmente num homem, reduzindo-se
total ou parcialmente às dimensões de um homem, e depois cresceu em
sabedoria e poder, até que afinal se tornou Deus de novo. Cristo perdeu, ao
abrir mão, certos atributos durante Sua vida terrena. Se isso tivesse acontecido,
Ele teria deixado de ser Deus durante este período. Como já vimos Jesus
permanecia com os atributos divinos.

14
6.7 – A verdadeira doutrina da Kenosis.
A doutrina da “kenosis” envolve: O encobrimento de Sua glória pré-encarnada.
Sua condescendência em assumir a semelhança de carne pecaminosa (a forma
humana) durante a encarnação. O não uso voluntário de alguns de Seus
atributos durante Sua vida terrena; mais isto não quer dizer que ele perdeu os
atributos divinos. Cristo continuou em Sua encarnação plenamente divino.
“Aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude” (Cl. 1.19) e “nele, habita,
corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl. 2.9).
A importância da divindade de Cristo para nossa salvação: Na seção anterior
alistamos alguns motivos pelos quais era necessário que Jesus fosse plenamente
humano para obter nossa redenção. Aqui cabe reconhecer que é também
crucialmente importante insistir na plena divindade de Cristo, não só porque ela
é ensinada de maneira clara nas Escrituras, mas também porque:
• Só alguém que fosse Deus infinito poderia arcar com toda a pena de
todos os pecados de todos os que cressem nele — qualquer criatura finita não
seria capaz de arcar com tal pena;
• A salvação vem do Senhor (Jn. 2.9), e toda a mensagem das Escrituras é
moldada para mostrar que nenhum ser humano, nenhuma criatura, jamais
conseguiria salvar o homem — só Deus mesmo poderia;
• Só alguém que fosse verdadeira e plenamente Deus poderia ser o
mediador entre Deus e homem (1ª Tm. 2.5), tanto para nos levar de volta a
Deus como também para revelar Deus de maneira mais completa a nós (Jo.
14.9).
• Assim, se Jesus não é plenamente Deus, não temos salvação e, por fim,
nenhum cristianismo. Não é por acaso que ao longo da história os grupos que
abandonaram a crença na plena divindade de Cristo não têm permanecido
muito tempo na fé cristã, desviando-se logo para um tipo de religião
representada pelo unitarismo nos Estados Unidos e em outros lugares. “Todo
aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus;
o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho” (2ª Jo. 9).
“O fato de o Filho de Deus, infinito, onipresente e eterno tornar-se homem e
unir-se para sempre a uma natureza humana, de modo que o Deus infinito se
tornasse uma só pessoa com o homem finito, permanecerá pela eternidade
como o mais profundo milagre e o mais profundo mistério em todo o universo.”
(Wayne Gruden)

7 – A OBRA DE CRISTO

7.1 – A Expiação

Nesta parte trataremos da obra de Cristo, não propriamente do seu ministério


terreno dando ênfase a seus ensinos e milagres, mas analisaremos a sua obra
expiatória. Podemos definir a expiação como segue: expiação é a obra que
Cristo realizou em sua vida e morte para obter nossa salvação. Essa definição
15
indica que usamos a palavra expiação num sentido mais amplo em que às vezes
é utilizada. Ela é empregada de vez em quando para se referir apenas ao fato de
Jesus morrer e pagar nossos pecados na cruz.
A causa da expiação: Qual foi a causa última que levou Cristo a vir para este
mundo e morrer pelos nossos pecados? Para encontrá-la, devemos pesquisar o
assunto em alguma coisa no caráter do próprio Deus. E aqui as Escrituras
apontam para duas coisas: o amor e a justiça de Deus.

O amor de Deus como uma das causas da expiação é descrito na passagem mais
conhecida da Bíblia: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o
seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna” (Jo. 3.16).
Mas a justiça de Deus também exigia que ele encontrasse um meio pelo qual a
pena pelos nossos pecados fosse paga (pois ele não podia aceitar-nos em
comunhão consigo mesmo a menos que a penalidade fosse paga).

7.1.1 – A necessidade de expiação: Havia alguma outra maneira de Deus salvar


os seres humanos além de enviar seu Filho para morrer em nosso lugar? Antes
de responder a essa pergunta, é importante entender que Deus não tinha
nenhuma necessidade de salvar ninguém.
Quando nos conscientizamos de que “Deus não poupou anjos quando pecaram,
antes, precipitando-os no inferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-
os para juízo” (2ª Pe. 2.4), percebemos que Deus poderia também ter escolhido
com perfeita justiça deixar-nos em nossos pecados, esperando o julgamento;
ele poderia ter escolhido não salvar ninguém, assim como fez com os anjos
pecaminosos. Assim, nesse sentido a expiação não era absolutamente
necessária.

7.1.2 – A natureza da expiação:


Nesta seção; dois aspectos da obra de Cristo:

1) A obediência de Cristo por nós, pela qual obedeceu às exigências da lei


em nosso lugar e foi perfeitamente obediente à vontade de Deus Pai como
nosso representante.
2) Os sofrimentos de Cristo por nós, pelos quais recebeu o castigo pelos
nossos pecados e, em consequência, morreu pelos nossos pecados. A
obediência de Cristo por nós (às vezes chamada “obediência ativa”).
Se Cristo tivesse conseguido só o perdão dos pecados por nós, não
mereceríamos o céu. Nossa culpa teria sido removida, mas estaríamos
simplesmente na posição de Adão e Eva antes de terem feito qualquer coisa boa
ou má e antes de terem passado um tempo de provação com sucesso. Para
serem estabelecidos em justiça para sempre e ter assegurada a sua eterna
comunhão com Deus, Adão e Eva tinham de obedecer a Deus de modo perfeito
por um período de tempo. Então, Deus teria olhado para sua obediência fiel
16
com prazer e deleite, e eles teriam vivido em comunhão com o Senhor para
sempre. Os sofrimentos de Cristo por nós (às vezes chamados “obediência
passiva”). Além de obedecer à lei de modo perfeito por toda a sua vida em
nosso favor, Cristo tomou também sobre si mesmo os sofrimentos necessários
para pagar a penalidade pelos nossos pecados.

7.1.3 – A amplitude da expiação: Uma das diferenças entre teólogos


reformados e outros teólogos católicos e protestantes tem sido a questão da
amplitude da expiação. A questão pode ser colocada da seguinte maneira:
quando Cristo morreu, pagou os pecados de toda a raça humana ou só os
pecados dos que, ele sabia, seriam por fim salvos?
Passagens bíblicas empregadas para sustentar a concepção reformada.

Algumas passagens das Escrituras falam do fato de que Cristo morreu por seu
povo. “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo. 10.11).
“Dou a minha vida pelas ovelhas” (Jo. 10.15). Paulo fala da “igreja de Deus, a
qual ele comprou com o seu próprio sangue” (At. 20.28). Ele também diz:
“Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou,
porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Rm. 8.32).
Passagens bíblicas empregadas para sustentar a concepção não-reformada
(redenção geral ou expiação ilimitada).
Algumas passagens das Escrituras indicam que em algum sentido Cristo morreu
por todo o mundo. João Batista disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado
do mundo” (Jo. 1.29). E Jo. 3.16 nos diz que “Deus amou ao mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna”. Jesus disse: “O pão que eu darei pela vida do
mundo é a minha carne” (Jo. 6.51).
Alguns pontos pacíficos e algumas conclusões sobre textos polêmicos. Seria
bom primeiro alistar os pontos sobre os quais ambos os lados concordam:
1) Nem todos serão salvos.
2) É correto que se ofereça gratuitamente o evangelho a todas as pessoas. É
completamente verdadeiro que “quem desejar” pode chegar a Cristo e obter a
salvação, e ninguém que chegar a ele será lançado fora. Essa oferta gratuita do
evangelho é estendida em boa-fé para todas as pessoas.
3) Todos concordam que a própria morte de Cristo, por ser ele o infinito
Filho de Deus, possui mérito infinito, sendo em si suficiente para pagar a
penalidade dos pecados dos muitos ou dos poucos que o Pai e o Filho
decretaram. A questão não está nos méritos intrínsecos dos sofrimentos e da
morte de Cristo, mas no número de pessoas pelas quais o Pai e o Filho
entenderam, no momento da morte de Cristo, que sua morte seria pagamento
suficiente.

17
8 – TEORIAS ERRONIAS SOBRE A MORTE DE CRISTO

8.1 – A teoria do acidente


Esta teoria não vê nenhum significado na morte de Cristo. Sendo Ele homem
estava sujeito a morte. Admitem que seja de fato lamentável, que um homem
tão bom tenha sido morto. Mas não obstante, não teve significado algum para
qualquer pessoa a sua morte. Mas a sua morte não pede ter sido um mero
acidente, pois foi previsto no Antigo Testamento como vemos em Sl. 22 e Is. 53,
e o próprio Jesus predisse a sua morte várias vezes. Cristo veio com o propósito
eterno de morrer; no plano divino Ele morreu antes da fundação do mundo (Ap.
13.8) Cristo veio a este mundo com o propósito de morrer por nós, a sua morte
não foi nenhum acidente, mas foi pré-determinada e de grande significado.

8.2 – A teoria do mártir


Essa teoria também é chamada de teoria do exemplo. Afirma que Cristo como
um mártir. Morreu, por ser fiel a seus princípios. Os defensores desta teoria
dizem que a única coisa necessária para salvar o homem é reformá-lo. E o
exemplo de Cristo foi dado para ensinar o homem a se arrepender de seus
pecados e reformar-se. Mas de fato Cristo não morreu como mero mártir, mas
sua morte foi vicária, expiatória, propiciatória, redentora e substitutiva. Jesus
não morreu “por” uma causa, mas “para” uma causa.

8.3 – A teoria da influência moral


Esta também é chamada de teoria do amor de Deus. Esta afirma que a morte de
Cristo é simplesmente a consequência natural dEle ter tomado sobre si a
natureza humana, e que Ele simplesmente sofreu nos pecados de suas criaturas
e também com eles. O amor de Deus manifestado na encarnação, no
sofrimento e morte de Cristo, é para amolecer os corações humanos e levá-los
ao arrependimento. Replicamos esta teoria. Apesar da morte de Cristo ser uma
expressão do amor de Deus, o homem sabia que Deus o amava antes de Cristo
vir; e simples emoção não leva ao arrependimento (Dt. 7.7; Jr. 31.3). Esta teoria
contradiz o que a Escrituras afirma que Deus tem que ser propiciado antes de
perdoar (Hb. 9.14; Rm. 3.25,26; 1ª Jo. 2.2). Não podemos reduzir a expiação a
uma peça teatral da paixão na qual o ator parece estar guiado por motivos
sinceros, quando na realidade está simplesmente trabalhando as emoções de
sua plateia.

8.4 – Teoria governamental


Esta teoria concorda com as três anteriores, ao afirmar que não há nenhum
princípio na natureza divina que careça de propiciação. Afirma que ao invés
disso, que Deus para manter o respeito a sua lei, deu um exemplo de seu ódio
ao pecado na morte de Cristo. De acordo com a teoria governamental qualquer
homem pecador poderia ter sido usado como exemplo do desprazer e da ira de
Deus contra o pecado. Não era necessário um homem inocente para fazer isso.
18
Assim fosse a morte de Cristo na cruz seria mera encenação sem realidade e
valor jurídico; mas a Escrituras ensina que o que teve lugar no calvário foi
justamente a execução da justiça (Gl. 3.13; 1ª Pe. 2.24; 3.18)

9 – O VERDADEIRO SIGNIFICADO DA MORTE DE CRISTO

9.1 – Foi pré-determinada


A morte de Cristo não foi um acidente, já estava pré-determinada. Sendo que
não há surpresas para Deus, e nada foge a sua soberania; seria a morte de
Cristo algo acidental, é lógico que isso não é possível. Mas tudo estava
determinado no designo de Deus (At. 2.23). Deus já havia prometido que o
descendente da mulher seria ferido pela serpente (Gn 3.15) O cordeiro foi
morto antes da fundação do mundo (Ap. 13.8; 1ª Pe. 1.18-20).

9.2 – Foi voluntária


É certo que Jesus foi morto pelos sacerdotes e autoridades judaicas e romanas;
mas Ele se entregou para que tal coisa pudesse acontecer (Mt 26.53; Lc 22.53).
Ninguém, ou nem uma instituição por sua própria força o crucificaram, antes Ele
se entregou (JO 10.17,18). Ele veio com este propósito, Ele morreu sob acordo
de Sua própria vontade e determinação.

9.3 – Foi vicária


Já observamos que a morte de Cristo não foi acidental, mas pré-determinada e
voluntária. Cristo morreu em lugar de outros, sua morte foi vicária, isso é, em
substituição – “O justo pelos injustos” (1ª Pe. 3.18, 1ª Cor. 15.3; Rm. 4.45).
Muito embora a morte dos animais nos sacrifícios da Antiga Aliança não tinha
significado real, mas simbólico, ela nos ensina esta verdade. Quando o pecador
colocava as mãos sobre a cabeça do animal que ia ser sacrificado, simbolizava a
morte de Cristo vicária de Cristo em nosso lugar. (Nm. 1.4)

9.4 – Foi sacrificial


A morte de Cristo foi sacrificial eficaz pelo mundo inteiro. Assim comem Adão
todos pecaram, em Cristo, no seu sacrifício todos podem ter, a justificação
mediante a fé nEle. (Rm. 5.15; 5.19-21). A Sua morte foi aceita pelo Pai como
oferta pelo pecado da posteridade de Adão (Hb. 10.5-10). A morte de Cristo é
potencialmente e provisionalmente, um sacrifício em favor dos pecados do
mundo. Nesse sentido, Ele provou a morte a favor de todo homem, e “a assim
mesmo se deu em resgate por todos”, e é Salvador de todos os homens. (1ª Tm.
2.6)

9.5 – Foi expiatória


Expiação (agora em seu sentido mais restrito) é sinônimo de reconciliação,
apaziguar, satisfazer. Este significado da morte de Cristo esta figurado no
trabalho do Sumo sacerdote da Antiga Aliança, que no Dia da Expiação entrava
19
no Santos dos Santos com o sangue do animal sacrificado (Nm. 16). Cristo
entrou no santuário celeste para nos tornar aceito a Deus (Hb. 9.23-26). Ele
mesmo se fez “maldição em nosso lugar” (Gl. 3.13). Jesus removeu a culpa e nos
reconciliou com Deus, sendo Ele também providência de Deus o Pai (2ª Cor.
5.18,19).

9.6 – Foi propiciatória


O termo propiciação significa cobrir, ou tornar favorável. Propiciação não quer
dizer que foi um ato para aplacar a um Deus vingativo. Mas sim que Deus nos
amou, enviou e aceitou o sacrifício de Seu Filho como propiciação pelos nossos
pelos nossos pecados (1ª Jo. 4.10) O propiciatório no Dia da Expiação era
aspergido com o sangue simbolizado que a sentença justa da lei havia sido
imposta; pelo que no lugar que de outro modo seria um lugar de julgamento,
podia com justiça ser propiciatório. (Nm. 16.14,15).

9.7 – Foi redentora


O termo nos sugere resgate por meio de pagamento. É exatamente isso que diz
o texto de 1ª Pe. 1.18,19. O objeto da redenção, os pecadores; estavam
vendidos a “escravidão do pecado” e também sob sentença de morte, e o preço
pago pelo resgate foi o sangue de Cristo (Rm. 7.14; Ez. 18.4; Jo. 3.18,19; Mt.
20.28). Mas a que foi pago o preço? Não pode ser a satanás, como alguns
acham, pois ele nada mais é que usurpador; as almas pertencem a Deus (Ez.
18.4). Só pode ser a reivindicação de Deus, que é por natureza santo legislador.

9.8 – Foi substituta


Como o significado do termo, a morte de Cristo foi substitutiva, ou seja, no lugar
de outros. De fato o ensino da Escrituras é este, que Cristo padeceu e morreu
em nosso lugar (Is. 53.4-8). Cristo não apenas se submeteu a ser tratado como
oferta pelo pecado, mas a ser feito pecado por nós. E isso não foi apenas
encenação, mas realidade; de tal forma que, quando, as nossas iniquidades
caíram sobre Ele, o Pai não pode suportar; e Jesus clamou: Eli, Eli, lamá
sabactani (Mt. 27.46).

10 – RESSURREIÇÃO DE CRISTO

10.1 – Evidências do Novo Testamento


Os evangelhos contêm testemunho abundante da ressurreição de Cristo (Mt.
28.1-20; Mc. 16.1-8; Lc. 24.1-53; Jo. 20.1-21.25). Além dessas narrativas
detalhadas nos quatro evangelhos, o livro de Atos é um relato histórico da
proclamação que os apóstolos fizeram da ressurreição de Cristo, da contínua
oração a ele dirigida e da confiança nele como aquele que está vivo e reinando
no céu.

20
10.2 – A natureza da ressurreição de Cristo
A ressurreição de Cristo não foi simplesmente um retorno da morte, à
semelhança daquela experimentada por outros antes dele, como Lázaro (Jo.
11.1-44), porque senão Jesus teria se submetido à fraqueza e ao
envelhecimento, e por fim teria morrido outra vez, exatamente como todos os
outros seres humanos morrem.

10.3 – O Pai e o Filho participaram na ressurreição


Alguns textos afirmam especificamente que Deus Pai ressuscitou Cristo dentre
os mortos (At. 2.24; Rm. 6.4; 1ª Cor. 6.14; Gl. 1.1; Ef. 1.20), mas outros textos
falam de Jesus participando na sua própria ressurreição. Jesus diz: “Por isso é
que meu Pai me ama, porque eu dou a minha vida para retomá-la. Ninguém a
tira de mim, mas eu a dou por minha espontânea vontade. Tenho autoridade
para dá-la e para retomá-la.”

10.4 – O significado doutrinário da ressurreição.

10.4.1 – A ressurreição de Cristo assegura nossa regeneração


Pedro diz que Deus “nos regenerou para uma viva esperança, mediante a
ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1ª Pe. 1.3). Aqui ele associa
explicitamente a ressurreição de Jesus com a nossa própria regeneração ou
novo nascimento.
10.4.2 – A ressurreição de Cristo assegura nossa justificação
Em apenas uma passagem Paulo associa explicitamente a ressurreição de Cristo
com a nossa justificação (ou o nosso recebimento da declaração de que não
somos culpados, mas retos diante de Deus). Paulo diz que Jesus “foi entregue
por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa
justificação” (Rm. 4.25).
10.4.3 – A ressurreição de Cristo assegura-nos de que iremos receber
igualmente corpos ressurretos perfeitos
O Novo Testamento associa várias vezes a ressurreição de Jesus com nossa
ressurreição corpórea final. “Deus ressuscitou o Senhor e também nos
ressuscitará a nós pelo seu poder” (1ª Cor. 6.14). Semelhantemente, “aquele
que ressuscitou o Senhor Jesus também nos ressuscitará com Jesus e nos
apresentará convosco” (2ª Cor. 4.14). Mas a discussão mais completa da
associação entre a ressurreição de Cristo e a nossa própria acha-se em 1ª Cor.
15.12-58. Ali Paulo afirma que Cristo é “as primícias” dos que dormem (1ª Cor.
15.20).
10.4.4 – O sentido ético da ressurreição
Paulo também observa que a ressurreição tem uma aplicação relacionada à
obediência a Deus nesta vida. Após uma longa discussão a respeito da
ressurreição, Paulo conclui encorajando seus leitores: “Portanto, meus amados
irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor,
sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1ª Cor. 15.58).
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11 – ASCENSÃO DE CRISTO

Cristo subiu para um lugar: Após a ressurreição de Cristo, ele esteve na terra por
quarenta dias (Atos 1.3) e depois conduziu os discípulos para Betânia, fora de
Jerusalém, e “erguendo as mãos, os abençoou. Aconteceu que, enquanto os
abençoava, ia-se retirando deles, sendo elevado para o céu” (Lc. 24.50).
11.1 – Cristo recebeu mais glória e honra como Deus-Homem: Quando Jesus
subiu ao céu recebeu glória, honra e autoridade que não tinha antes, enquanto
era Deus e homem. Antes de sua morte, Jesus orou: “... glorifica-me, ó Pai,
contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse
mundo” (Jo. 17.5). Em seu sermão em Pentecostes Pedro disse que Jesus fora
exaltado à destra de Deus (At. 2.33). Paulo declarou que Deus o exaltou
grandemente (Fp. 2.9), e que fora recebido em glória (1ª Tm. 3.16; Hb. 1.4).
Cristo está agora no céu, e coros angelicais cantam-lhe louvor com as palavras:
“Digno é o cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e
força, e honra, e glória, e louvor” (Ap. 5.12).
11.2 – Cristo assentou-se à destra de Deus: Um aspecto específico de Cristo
ter subido para o céu e recebido honra é o fato de que ele assentou-se à destra
de Deus. Isso é às vezes chamado sua sessão à destra de Deus.
11.3 – O Antigo Testamento predisse que o Messias sentar-se-ia à direita de
Deus: “Disse o Senhor ao meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu
ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés” (Sl. 110.1). Quando Cristo
ascendeu de volta ao céu ele recebeu o cumprimento daquela promessa: “...
depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da
Majestade, nas alturas” (Hb. 1.3).
11.4 – A ascensão de Cristo tem importância doutrinária para nossa vida:
Assim como a ressurreição tem implicações profundas para a nossa vida, do
mesmo modo a ascensão de Cristo tem implicações significativas. Em primeiro
lugar, visto que estamos unidos a Cristo em cada aspecto da obra de redenção,
a ascensão de Cristo ao céu prefigura nossa ascensão futura com ele. “Nós, os
vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre
nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre
com o Senhor” (1ª Ts. 4.17).
11.5 – Os estados de Jesus Cristo: Ao comentar sobre a vida, a morte e a
ressurreição de Cristo, os teólogos muitas vezes aludem aos “estados de Jesus
Cristo”. Com isso eles se referem às diferentes relações que Jesus mantinha com
a lei de Deus para a humanidade, com a posse de autoridade e com a honra que
se lhe deve. De forma geral distinguem-se dois estados (humilhação e
exaltação). Assim, a doutrina do “estado duplo de Cristo” é o ensino de que ele
experimentou primeiramente o estado de humilhação para depois passar ao
estado de exaltação.

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12 – OS OFÍCIOS DE CRISTO

Os três cargos mais importantes que poderiam existir para o povo de Israel no
Antigo Testamento eram: o profeta (como Natã, 2º Sm. 7.2), o sacerdote (como
Abeatar, 1º Sm. 30.7) e o rei (como Davi, 2º Sm. 5.3). Esses três ofícios eram
distintos. O profeta falava as palavras de Deus ao povo; o sacerdote oferecia
sacrifícios, orações e louvores a Deus em favor do povo; e o rei governava o
povo como representante de Deus. Esses três ofícios prefiguravam a própria
obra de Cristo de várias maneiras.
12.1 – Cristo como profeta: Os profetas do Antigo Testamento transmitiam a
palavra de Deus ao povo. Moisés foi o primeiro grande profeta e escreveu os
cinco primeiros livros da Bíblia, o Pentateuco. Depois vieram outros que falaram
e escreveram as palavras de Deus. Mas Moisés predisse que um dia viria outro
profeta como ele. (Dt. 18.15-19)
12.2 – Cristo como sacerdote: No Antigo Testamento, os sacerdotes eram
designados por Deus para oferecer sacrifícios. Eles também ofereciam orações e
louvores a Deus em favor do povo. Ao agir assim “santificavam” as pessoas, ou
tornavam-nas aceitáveis à presença de Deus, se bem que de forma limitada
durante o período do Antigo Testamento. No Novo Testamento, Jesus tornou-se
nosso grande sumo sacerdote. Esse tema é bem desenvolvido na carta aos
Hebreus, na qual vemos que Jesus atua como sacerdote de duas maneiras. (Hb.
4.14-5.5) Jesus ofereceu um sacrifício perfeito pelo pecado. O sacrifício que
Jesus ofereceu pelos pecados não foi o sangue de animais como touros ou
bodes: “... porque é impossível que o sangue de touros e bodes remova
pecados” (Hb. 10.4). Em vez disso, Jesus ofereceu a si mesmo como sacrifício
perfeito: “... ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para
aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado” (Hb. 9.26). Jesus nos aproxima
continuamente de Deus. Os sacerdotes do Antigo Testamento não apenas
apresentavam sacrifícios, mas também compareciam de modo representativo
na presença de Deus, de tempos em tempos, em favor do povo. Mas Jesus faz
muito mais do que isso. Como nosso perfeito sumo sacerdote, ele
continuamente nos conduz à presença de Deus, de forma que não temos mais a
necessidade de um templo em Jerusalém nem de um sacerdócio especial que se
coloque entre nós e Deus.
Como sacerdote, Jesus ora continuamente por nós. Outra função sacerdotal no
Antigo Testamento era orar a favor das pessoas. O autor de Hebreus nos diz que
Jesus também cumpre essa função: “... também pode salvar totalmente os que
por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb. 7.25).
Paulo afirma a mesma coisa quando diz que Cristo Jesus é aquele que intercede
por nós (Rm. 8.34).
12.3 – Cristo como rei: No Antigo Testamento o rei tinha autoridade para
governar a nação de Israel. No Novo Testamento, Jesus nasceu para ser o Rei
dos judeus (Mt. 2.2), mas recusou todas as tentativas feitas pelo povo para fazê-
lo um rei terreno com um poder militar e político terreno (Jo. 6.15). Ele disse a
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Pilatos: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os
meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos
judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (Jo. 18.36).

CONCLUSÃO
É de fundamental importância para o servo do Senhor que foi chamado ao
ministério da Palavra, o conhecimento correto da Pessoa e da obra de Cristo.
Como já fiz menção no início deste trabalho, o cristianismo é Cristo; e uma
deficiência no conhecimento da pessoa e obra de Cristo gera deficiência direta a
nossa fé cristã. É obvio que não podemos explicar os mistérios de Deus; o
sobrenatural nascimento virginal de Cristo, a Trindade, as duas naturezas de
Cristo, os pormenores do “kenosis”; mas a nós que lidamos com a ministração
da Palavra, pesa a responsabilidade de investigar a Escritura para chegar a uma
definição da doutrina bíblica, solida e organizada.
Olhando para a pré-existência de Cristo, Sua eternidade, Sua coexistência com o
Pai na eternidade, e sua imutabilidade; temos a convicção de termos um
Salvador Divino. O fato miraculoso do nascimento virginal de Cristo é um elo
doutrinário, para a compreensão tanto da Cristologia, como da Soteriologia. O
nascimento virginal de Jesus Cristo, e todos os mistérios que o envolve, respalda
nossa fé não apenas num Salvador Divino, mas também em um Salvador
humano capaz de compadecer de nossas fraquezas, e efetuar através da Sua
morte a salvação perfeita; e pela Sua ressurreição e ascensão a garantia
inquestionável dessa salvação.
Passando por estes parâmetros da Cristologia chegamos a uma definição
doutrinaria biblicamente coerente.
Cremos em um Cristo Divino, pré-existente, mas que se manifestou em carne,
nascendo da virgem sem pecado. Que morreu, mas ressuscitou dentre mortos,
e que, glorificado está a destra do Pai. Por esta razão “nós pregamos a Cristo
crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que
foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder e
sabedoria de Deus” (1ª Cor. 1.23,24).

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