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TENHO QUE ABRIR

UM TERREIRO,
E AGORA?
ESCRITO POR ALAN BARBIERI
SOBRE O AUTOR Alan Barbieri é médium e sacerdote de umbanda, atuante
desde 1999, e fundador do Templo Escola Casa de Lei, onde
semanalmente realiza sessões de atendimento espiritual para
centenas de pessoas.

Também é o fundador da Rádio Toques de Aruanda e diretor da


plataforma de ensino online Estudar em Casa, que já conta com
mais de 30 cursos nas áreas de espiritualidade e desenvolvimento
pessoal, tendo formado mais de 40.000 pessoas.

Considerado o maior YouTubber de Umbanda do Brasil, com


cerca de 300 mil inscritos em seu canal e mais de 20 milhões de
visualizações em seus vídeos, Alan é graduando e m Psicologia
pela Universidade Anhembi Morumbi e certificado Master
Practitioner em PNL pela The Society of NLP, além de formado
em hipnose clínica pela AIHCE (Espanha) e constelação familiar
sistêmica pela Centro Constela e Systemic IberoAmerican
University (Mexico).

Conhecido no Brasil e no exterior por seus textos e vídeos


explicando a Umbanda nas redes sociais, em 2018 Alan Barbieri
dá um novo passo em sua carreira e lança seu livro de estréia,
Sabedoria de Umbanda e nos últimos meses o livro Segredos
do Sacerdócio, pela Editora Arole Cultural.
O SACERDÓCIO NA UMBANDA
Mais que uma formação. Um caminho.

Falar sobre sacerdócio nem sempre é uma tarefa tão fácil já que estamos
a lidar com muitas verdades sendo espalhadas ao mesmo tempo. O tempo
todo. Para todo mundo que se interessar. E não há nenhum mal nisso, afinal a
diversidade presente na religião garante tal liberdade de expressão.

Essas verdades juntam-se ponto a ponto para criarem um fundamento


sacerdotal maleável, ainda que siga algumas considerações padronizadas.
E isso significa que a contribuição feita por cada parcela de conhecimento
compartilhada pode ser modificada conforme as necessidades daqueles que
a buscam, substituída por uma nova versão ou agregada à metodologia de
outrem. A flexibilidade proporcionada por essa formação de líderes viabiliza
a visualização constante de novas possibilidades.
Encontrar, explorar e entender quem é o “eu” que estápor trás da escolha de
abrir uma casa é tão importante quanto abrir a dita cuja. Somente dessa forma
torna-se viável enxergar quais falhas existem antes que elas sejam postas à
prova em ocasiões estressantes que não terão um professor para servir como
mediador. A cautela, se vista e empregada com bons olhos, elimina tantos
problemas quanto forem possíveis sem que ninguém seja prejudicado.

Por tratar-se de um tópico sumariamente religioso, mesmo que seja uma


formação concreta, há requisitos e regras que terão de ser respeitadas
independentemente de qualquer motivação do “aspirante a discípulo”,
portanto nada é feito sem que a espiritualidade e o mundo material estejam
em comum acordo.

Todo sacerdote nasce com a determinação para abraçar o mundo dentro de


si, entretanto nem todo sacerdote já a aceitou ou a reconheceu como parte
de sua jornada. E o sacerdócio também se dispõe a organizar as motivações
borbulhantes para o abraço - conscientes ou não - que levam ao erro. Envolver
o mundo sem braços longos apenas culmina em lesões doloridas no final do
dia e poucas mudanças realmente consideráveis. Ser sacerdote é alcançar
um novo nível de consciência e fazer uma preparação sacerdotal é subir a
escada, um degrau de cada vez, até esse nível.
DICA 1

DESCOBRIR SE
TEM, UMA MISSÃO
ESPIRITUAL
Antes de declarar abertas as sessões, antes de começar as preparações para a inauguração
de uma nova casa, antes de sequer pensar em guardar dinheiro para montar o terreiro, é
indispensável que o médium saiba se esse é o seu destino.

A missão espiritual não é um mero enfeite que tenta, de uma forma ou de outra, estimular a
separação dos “prodígios escolhidos” daqueles que são apenas pessoas normais tentando
fazer o melhor que podem. Pelo contrário, esse critério - muito usado por orientadores para
distinguir quem deve ou não participar de um curso de sacerdócio - impede que médiuns
assumam as responsabilidades tremendas que envolvem a direção desnecessariamente. A
umbanda permite que escolhas sejam feitas a todo momento, libertando aquele que não possui
qualquer incumbência do gênero para seguir o rumo que preferir.

Nada impede que colegas, amigos, irmãos de fé ou desconhecidos afirmem de pés juntos
que alguém carrega em si a missão sacerdotal por conta de suas características que exalam
liderança, entretanto em nenhum momento essas opiniões têm alguma validade para o mundo
espiritual e seu propósito.

Enquanto ser dirigente ultrapassar as barreiras do achismo terreno, somente um guia espiritual
muito bem conectado ao seu médium tem voz ativa para entregar uma informação tão preciosa,
tão capaz de mudar a rota da encarnação do recebedor para sempre. A seriedade do trabalho
que será executado no futuro pelo provável pai ou mãe de santo tem início na descoberta; no
princípio da nova fase que estenderá a mão para as tantas almas atordoadas e desesperançadas
que aguardam ansiosamente a abertura do local que lhes trará paz.
DICA 2

FAZER PARTE DE
UM TERREIRO E
APRENDER A SER
UM BOM MÉDIUM
Antes de ser um bom líder, é imprescindível entender o que é ser um bom subordinado. Há
um consenso velado dentro da religião que insiste persistentemente na ideia do aprendizado
passado do mais velho para o mais novo; do mais experiente para o mais novato. E esse “acordo”
viabiliza a formação de opiniões capazes de mudar o sistema sem ferir nenhum dos lados.

Experienciar os momentos de alegria, tristeza, tensão e euforia que acontecem diariamente nos
terreiros dá ferramentas para que desde o primeiro instante o aspirante a dirigente espiritual
interprete as necessidades, urgências, qualidades e defeitos que estabelecem a identidade
única de uma casa umbandista. E, a partir desta identificação, encontre sua própria metodologia
para lidar tanto com as intempéries quanto com as bonanças trazidas pelo convívio com outros
indivíduos particulares.

Ignorando a relevância extrema do contato direto com a espiritualidade e a rotina mediúnica,


pouco aprende-se na prática sobre as filosofias variadas que serão vistas, uma vez mais, em
seu futuro chão. Na verdade, apenas é adiado o conflito que ocorrerá de forma irremediável
quando menos esperar.

Bons médiuns se preservam sem, no entanto, privaremse completamente das relações sociais
cultivadas entre os participantes uma vez que confiam cegamente na disciplina, honestidade
e perseverança fomentadas em seus corações inteligentes. Ajudam a todo tempo, em tudo
que podem e estão dispostos a ir e vir quantas vezes forem precisas para que absorvam ao
máximo os ensinamentos genuínos dos guias espirituais e do mentor carnal que os acolheu.
São conscientes trabalhadores, apenas deslumbrados pela constante procura pela verdade.
DICA 3

BUSCAR O
AUTOCONHECIMENTO
Faz parte dos deveres de um dirigente ensinar as regras de conduta aos seus seguidores que
contribuirão para a padronização de ideias difundidas dentro de seu templo, no entanto também
cabe a ele testar, experimentar e vivenciar cada ponto repassado como lei.

A premissa “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” é plenamente incongruente dada
a natureza do ambiente na qual tentam inseri-la. Nada do que é professado no terreiro pelo seu
representante pode ser leviano, absurdo ou incoerente posto que os ouvintes desses ideais irão
absorver cada sílaba como se fosse o melhor dos elixires. Assim sendo, torna-se uma obrigação
da figura de liderança aplicar em seu cotidiano os valores louvados e atitudes recomendadas
tão delicadamente aos outros, pois, do contrário, sua verdade será apenas uma mentira bem
contada.

Pouco ainda alertar seus filhos de santo sobre a importância do autoconhecimento se prefere
fechar-se em seu próprio mundo assertivo onde ninguém é capaz de refutá-lo, quebrando o
pedestal reluzente no qual se colocou inconscientemente.

Conhecer os detalhes mais ínfimos dos traços que desenham sua personalidade modifica
por inteiro a relação que tem consigo mesmo, com sua vida particular e com sua vida pública.
Somente a partir desta alternativa a verdadeira aceitação realiza-se por completo e a valorização
das qualidades e correção dos defeitos transfigura-se em uma tarefa simples diante da carga
que era arrastada em momento anterior pela consciência cega. Admitir que é um ser humano
comum, capaz de tropeçar, cair e se levantar é um dos maiores bens que o autoconhecimento
assegura.
DICA 4

ESTUDAR SOBRE
A RELIGIÃO E
DESENVOLVER O
SENSO CRÍTICO
Pesquisar o suficiente para escapar da massa movida por notícias desprovidas de
fundamentação teórica teria de ser a obrigação de todo ser humano, independente
de suas crenças pessoais ou justificativas falsamente enfeitadas para maquiar as
aparências.

A chave para a constituição de uma posição crítica e bem embasada está no


conhecimento disposto aos montes nos diversos estudos publicados em livros físicos,
e-books, cursos e palestras. Ainda que alguns deles requeiram pequenos investimentos
para serem adquiridos, de nenhum modo tais valores devem ser considerados como
critério decisivo para obtenção dos materiais. As decisões tomadas pela falta de
instrução são integralmente responsáveis pelas terríveis tragédias espantosas que
assolam a humanidade desde o seu primórdio mais obscuro.

Questionamentos fomentam a chama da revolução intelectual interna: nada que pareça


minimamente suspeito instala-se em uma mente perspicaz, ácida e disposta a recusar
as respostas tentadoras oferecidas pela alienação.

No caminho até a conclusão final, particular a cada indivíduo, serão encontradas tanto
alegações racionais e concisas quanto alegações dignas de livros de ficção com enfoque
em teorias mirabolantes da conspiração. E a habilidade de desconstrução do macro
para localizar o micro e agarra-lo com as duas mãos determinará se será enganado por
uma fantasia ou irá capturar o lobo em pele de cordeiro que anda escondido por entre
as ovelhas. O senso crítico é um óculos de grau poderoso que nem todo míope crê que
precisa.
DICA 5

APRENDER A
OUVIR E CONFIAR
NOS PRÓPRIOS
GUIAS
Sendo os principais percursores da iniciativa, certamente espera-se que os guias
espirituais recebam do médium aspirante a pai de santo a atenção devida para com os
passos a serem seguidos e as instruções a serem cumpridas.

Desconfiando, desafiando ou renegando os pedidos diretos, é previsto que a ordem


dos acontecimentos tome uma nova direção prejudicial o suficiente para desanimar
por completo o novo líder. Mas que fique claro: esta não é uma punição dos espíritos de
luz; é a consequência da negligência. Ainda que um médico avise seu paciente sobre os
riscos que ele corre ao manter hábitos alimentares nocivos, a incumbência da mudança
está nas mãos do enfermo. E, se esta não ocorrer, é inconcebível depositar a culpa no
médico posto que o próprio cumpriu seu dever sem ferir o livrearbítrio do outro.

Indagar os motivos e fundamentos por trás das várias orientação sempre é pertinente,
todavia continuar a duvidar mesmo após ouvir explicações detalhadas indubitavelmente
trará conflitos complexos a um instante delicado por demais.

Os guias espirituais estão presentes desde o início da caminhada de seus tutelados,


aparando as arestas afiadas afim de entregar o melhor deles para o mundo, logo o
compromisso formado por essas entidades em nenhum momento será dotado de
mesquinharia, traição, maldade ou autoritarismo. São como pais maduros e sensatos
que desejam alertar acerca dos perigos da vida terrena, tentando impedir que descuidos
dispensáveis interrompam os passos vacilantes de seus pequenos. Eles viveram
inúmeras encarnações, viram de tudo um pouco, e estão prontos para oferecerem os
melhores conselhos.
DICA 6

BUSCAR UMA
PREPARAÇÃO E
CONHECIMENTO
ESPECÍFICO
Existem dezenas de metodologias que intentam formar pais de santo espalhadas
dentro e fora do Brasil, cada qual com suas peculiaridades e detalhes que merecem
maior destaque; todas igualmente dignas de atenção e respeito. E é parte do trabalho
do jovem - quase - dirigente que as busca escolher qual se adequará ao seu perfil.

As formações são grandes escolas lideradas por mestres que carregam ideologias
muito bem definidas e esclarecidas. Elas buscam por alunos que se sentirão confortáveis
ao absorver os pormenores doutrinários ensinados na prática. Em poucas palavras, é
incoerente aceitar um pupilo que desaprova completamente o sacrifício animal em um
terreiro que o põe em prática como parte de sua rotina ritualística. Se o alinhamento de
concepções entre o tutor e seu tutorado for falho, definitivamente o resto do processo
também será.

Todavia, será uma tarefa árdua, desgastante e que flerta com o impossível procurar um
local que atenda por completo as exigências e expectativas do futuro representante da
espiritualidade. O bom senso tem de dosar com mãos de ferro a quantidade de críticas
feitas aos lugares visitados.

Uma boa formação elucidará as indagações complexas que em algum momento


surgiram, incomodando profundamente o âmago crítico que já não se contenta
mais com respostas pela metade. Seja em um curso que dispõe de sistematizações
consistentes ou no templo do qual sempre fez parte e recebeu a oferta através de uma
mensagem da Entidade Chefe, faz-se substancial a entrega de informações restritas
ao resto do público a partir de um mestre experiente. Os pais e mães de santo que
dão aulas, ainda quando sequer se dão conta deste fato, são inesgotáveis fontes de
sapiência que podem ser aproveitadas.
DICA 7

DAR O PRIMEIRO
PASSO PARA
COMEÇAR
O futuro realmente é uma caixinha de surpresas que, de hora em hora, abre-se e deixa
sair uma novidade curiosa capaz de virar o pequeno mundinho em que se vive de
cabeça para baixo. É incerto; misterioso; silencia as vozes da ansiedade quando chega,
mas pode ser planejado com antecedência.

Nenhum objetivo se concretiza a menos que o detentor dele saia da sua zona de conforto
e comece a traçar um plano mirabolante que irá fazê-lo atingir o que quer. A falta de
precisão das surpresas que acompanham o futuro não é uma desculpa satisfatória
para dar as costas e desistir das preparações que implicarão de forma considerável
no sucesso visado. Sonhar com a abertura do próprio terreiro, com os filhos de santo a
cantar o hino da umbanda, com as imagens reluzentes no congá certamente é inspirador,
entretanto nada mudará caso este patamar não seja superado.

Enquanto souber que a direção é sua maior motivação para esgueirar-se pelos
corredores escuros das dificuldades, pretextos fajutos não irão satisfazer o desejo
caridoso da alma. Aqueles que estão prontos para assumir a linha de frente também
estão prontos para fazer o que for necessário.

O primeiro passo vacilante, ainda completamente receoso, detém tamanha importância


que sequer tem formas de ser descrita em palavras. É o início da caminhada pelo trajeto
escolhido em tempos muito antigos por si mesmo; é a aceitação da transformação
absoluta que os espíritos de luz têm aprontado exclusivamente para você; é o mesmo
que enfim ganhar a devida maturidade para abraçar de modo confortável o mundo
- desta vez com muitas outras mãos e braços alegremente esticados para formar o
círculo.
CONCLUSÃO
A melhor alternativa.

A construção de um excelente sacerdote acontece lentamente, sem que


imposições sejam feitas ou absurdos ocorram por via da ignorância em seu
nível mais inocente.

Ainda que os cenários que culminam na liderança sejam variados, a fórmula


que garante o cumprimento da missão de modo responsável é o mesmo.
Então pular os passos aqui descritos para aquele que melhor lhe convier
dispensa a produtividade e a assertividade pretendida por eles. Em realidade,
estes facilitadores foram ordenados com base nos equívocos cometidos por
outros tantos aspirantes a pai de santo - inclusive eu - para, sem sombra de
dúvidas, simplificar o trajeto, organizá-lo em um passo a passo e iluminá-lo
com algumas dicas preciosas que farão toda a diferença.

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