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Questões
c om en ta d as
PORTUGUÊS SUMÁRIO

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Sumário

CESPE
-05-
PORTUGUÊS PARA CONCURSOS - CESPE

Dicas de Prova

Em uma prova de 120 questões, o candidato não deve deixar mais que 10
em branco. O único jeito de ser aprovado no Cespe é fazendo muitos pontos
e perdendo poucos. Você precisa fazer pontos e, se deixar muitas questões em
branco, não terá pontos suficientes para ser aprovado. No entanto, em função
do perfil de prova, por mais que você tenha estudado, é provável que não con-
siga gabaritar uma prova do Cespe. Normalmente, o primeiro colocado nos
concursos organizados por essa banca faz 80% dos pontos. Desse modo, mesmo
que você esteja sabendo muito bem a matéria, não se desespere ao deparar com
questões aparentemente sem resposta ou sem conexão com o que você estudou.
Isso é normal. Faça provas inteiras do Cespe para dimensionar o tempo e apren-
der a lidar com a organizadora da melhor forma possível. Poucos pontos podem
fazer a diferença para que você consiga a sua vaga, portanto mantenha o foco e
estude até passar!

Beijo, Flávia Rita.

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PORTUGUÊS PARA CONCURSOS - CESPE

PF 2018
• Escrivão

1 Como se pode imaginar, não foi o latim clássico, dos grandes


escritores romanos e latinos e falado pelas classes romanas mais
abastadas, que penetrou na Península Ibérica e nos demais espaços
4 conquistados pelo Império Romano. Foi o latim popular, falado pelas
tropas invasoras, que fez esse papel. Essa variante vulgar sobrepôs-se
às línguas dos povos dominados e com elas caldeou-se, dando origem
7 aos dialetos que viriam a se chamar genericamente de romanços ou
romances (do latim romanice, isto é, à moda dos romanos).
No século V d.C., o Império Romano ruiu e os romanços passaram
10 a diferenciar-se cada vez mais, dando origem às chamadas línguas
neolatinas ou românicas: francês, provençal, espanhol, português,
catalão, romeno, rético, sardo etc.
13 Séculos mais tarde, Portugal fundou-se como nação, ao mesmo
tempo em que o português ganhou seu estatuto de língua, da seguinte
forma: enquanto Portugal estabelecia as suas fronteiras no século XIII,
16 o galego-português patenteava-se em forma literária.
Cerca de três séculos depois, Portugal lançou-se em uma expansão
de conquistas que, à imagem do que Roma fizera, levou a língua
19 portuguesa a remotas regiões: Guiné-Bissau, Angola, Moçambique,
Cingapura, Índia e Brasil, para citar uns poucos exemplos em três
continentes.
22 Muito mais tarde, essas colônias tornaram-se independentes — o
Brasil no século XIX, as demais no século XX —, mas a língua de
comunicação foi mantida e é hoje oficial em oito nações independentes:
25 Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Instituto Antônio Houaiss. José Carlos de Azevedo (Coord.). Escrevendo
pela nova ortografia: como usar as regras do Novo Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008, p. 16-7 (com adaptações).

Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue os


itens seguintes.

1 De acordo com o texto, o português deixou de ser “língua de comunicação”


(L.23 e 24) em Cingapura e na Índia.

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FLÁVIA RITA COUTINHO SARMENTO

2 A forma verbal “caldeou-se” (L.6) relaciona-se, no texto, ao sentido de mis-


tura, fusão ou associação.

3 Do trecho “Séculos mais tarde, (...) o português ganhou seu estatuto de lín-
gua” (L.13 e 14) é correto inferir que, por volta do século XIII, se criou a
primeira gramática da língua portuguesa.

4 A expressão “língua de comunicação” (L.23 e 24) constitui, pelo contexto,


um sinônimo para o termo “galego-português” (L.16).

5 A correção do texto seria mantida se as vírgulas que isolam o trecho “dos


grandes escritores romanos e latinos e falado pelas classes romanas mais abas-
tadas” (L.1 a 3) fossem substituídas por travessões.

6 A expressão “esse papel” (L.5) refere-se à penetração do latim “na Península


Ibérica e nos demais espaços conquistados pelo Império Romano” (L.3 e 4).

7 Dado o trecho “à imagem do que Roma fizera” (L.18), é correto concluir que
Portugal, em sua “expansão de conquistas” (L.17 e 18), atuou de forma idên-
tica à que o Império Romano adotou para conquistar a Península Ibérica.

8 No texto, é apresentada, em ordem cronológica crescente, uma sucessão de


fatos relacionados à história da formação da língua portuguesa.

9 A correção gramatical e a coerência do texto seriam preservadas caso a forma


verbal “levou” (L.18) fosse substituída por levaram.

10 Mantendo-se os sentidos originais do texto, o vocábulo “remotas” (L.19)


poderia ser substituído tanto por longínquas quanto por ignotas.

11 No contexto em que estão inseridas, as palavras “neolatinas” e “românicas”,


ambas na linha 11, podem ser consideradas sinônimos.

12 A correção gramatical e o sentido do texto seriam preservados caso se substi-


tuísse a palavra “genericamente” (L.7) por comumente.

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PORTUGUÊS PARA CONCURSOS - CESPE

Texto 13A1AAA

1 No fim do século XVIII e começo do XIX, a despeito de algumas


grandes fogueiras, a melancólica festa de punição de condenados foi-se
extinguindo. Em algumas dezenas de anos, desapareceu o corpo como
4 alvo principal da repressão penal: o corpo supliciado, esquartejado,
amputado, marcado simbolicamente no rosto ou no ombro, exposto
vivo ou morto, dado como espetáculo. Ficou a suspeita de que tal rito
7 que dava um “fecho” ao crime mantinha com ele afinidades espúrias:
igualando-o, ou mesmo ultrapassando-o em selvageria, acostumando os
espectadores a uma ferocidade de que todos queriam vê-los afastados,
10 mostrando-lhes a frequência dos crimes, fazendo o carrasco se parecer
com criminoso, os juízes com assassinos, invertendo no último momento
os papéis, fazendo do supliciado um objeto de piedade e de admiração.
13 A punição vai-se tornando a parte mais velada do processo penal,
provocando várias consequências: deixa o campo da percepção quase
diária e entra no da consciência abstrata; sua eficácia é atribuída à
16 sua fatalidade, não à sua intensidade visível; a certeza de ser punido é
que deve desviar o homem do crime, e não mais o abominável teatro.
Sob o nome de crimes e delitos, são sempre julgados corretamente
19 os objetos jurídicos definidos pelo Código. Porém julgam-se também as
paixões, os instintos, as anomalias, as enfermidades, as inadaptações, os
efeitos de meio ambiente ou de hereditariedade. Punem-se as agressões,
22 mas, por meio delas, as agressividades, as violações e, ao mesmo tempo,
as perversões, os assassinatos que são, também, impulsos e desejos. Dir-
se-ia que não são eles que são julgados; se são invocados, é para explicar
25 os fatos a serem julgados e determinar até que ponto a vontade do réu
estava envolvida no crime. As sombras que se escondem por trás dos
elementos da causa é que são, na realidade, julgadas e punidas.
28 O juiz de nossos dias — magistrado ou jurado — faz outra coisa,
bem diferente de “julgar”. E ele não julga mais sozinho. Ao longo do
processo penal, e da execução da pena, prolifera toda uma série de
31 instâncias anexas. Pequenas justiças e juízes paralelos se multiplicaram
em torno do julgamento principal: peritos psiquiátricos ou psicológicos,
magistrados da aplicação das penas, educadores, funcionários da
34 administração penitenciária fracionam o poder legal de punir. Dir-
se-á, no entanto, que nenhum deles partilha realmente do direito
de julgar; os peritos não intervêm antes da sentença para fazer um
37 julgamento, mas para esclarecer a decisão dos juízes. Todo o aparelho que

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FLÁVIA RITA COUTINHO SARMENTO

se desenvolveu há anos, em torno da aplicação das penas e de seu


ajustamento aos indivíduos, multiplica as instâncias da decisão
40 judiciária, prolongando-a muito além da sentença.
Michel Foucault. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel
Ramalhete. Petrópolis, Vozes, 1987, p. 8-26 (com adaptações)

Com relação aos aspectos linguísticos e aos sentidos do texto 13A1AAA, julgue
os itens a seguir.

13 O autor do texto reflete sobre a evolução histórica da justiça: a punição de


condenados, que, de início, ocorria mediante dores físicas passou, a partir
dos princípios do século XIX, a ter caráter mais moral, submetendo os réus
a sofrimentos mais sutis, mais velados.

14 No longo período que finaliza o primeiro parágrafo do texto, as formas ver-


bais no gerúndio relacionam-se, por coesão, ao termo “tal rito” (L.6).

15 Embora tanto o primeiro quanto o segundo parágrafo do texto tratem de


acontecimentos passados, o emprego do presente no segundo parágrafo tem
o efeito de aproximar os acontecimentos mencionados ao tempo atual, o
presente.

16 A coerência textual seria prejudicada se, após “teatro” (L.17), fossem inse-
ridos dois-pontos e o trecho a mecânica exemplar da punição muda as
engrenagens, como conclusão das consequências enumeradas, dado o em-
prego, nesse trecho, de linguagem figurada, incompatível com o gênero do
texto.

17 A substituição de “Porém” (L.19) por Entretanto manteria a correção gra-


matical e os sentidos originais do texto.

18 No primeiro período do primeiro parágrafo, o trecho “a despeito de algumas


grandes fogueiras” evidencia a ideia de que as “grandes fogueiras”, embora
ainda existissem, eram pouco numerosas, o que aponta para a extinção da
“melancólica festa de punição de condenados”.

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PORTUGUÊS PARA CONCURSOS - CESPE

A respeito das ideias e dos aspectos linguísticos do texto 13A1AAA, julgue os


próximos itens.

19 Nas razões de crimes e delitos, encontram-se elementos obscuros relaciona-


dos ao réu, e esses elementos é que são, efetivamente, julgados e punidos.

20 A locução “no entanto” (L.35) introduz no período uma ideia de conclusão;


por isso, sua substituição por portanto preservaria a correção gramatical e as
relações de sentido originais do texto.

21 Sem prejuízo para o sentido original e a correção gramatical do texto, a ora-


ção “se são invocados” (L.24) poderia ser deslocada para logo após a palavra
“crime” (L.26), desde que estivesse isolada por vírgulas.

22 A supressão da preposição “de” empregada logo após “ferocidade”, no trecho


“acostumando os espectadores a uma ferocidade de que todos queriam vê-los
afastados” (L.8 e 9), manteria a correção gramatical do texto.

23 A expressão “Dir-se-á” (L.34 e 35) poderia ser corretamente substituída por


Será dito.

24 Subentende-se a forma verbal “intervêm” (L.36) logo após o vocábulo “mas”


em “mas para esclarecer a decisão dos juízes” (L.37).

RESPOSTAS

1-e 2-c 3-e 4-e 5-c


6-c 7-e 8-c 9-c 10 - e
11 - c 12 - e 13 - c 14 - c 15 - c
16 - e 17 - c 18 - c 19 - c 20 - e
21 - e 22 - e 23 - c 24 - c

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SUMÁRIO
FLÁVIA RITA COUTINHO SARMENTO

PROVA COMENTADA PF / Escrivão/2018

1 De acordo com o texto, o português deixou de ser “língua de comunicação”


(L.23 e 24) em Cingapura e na Índia.

R: ERRADO. A assertiva está incorreta, pois não são equivalentes as expressões


“língua de comunicação” e “língua oficial”. Conforme o texto, o português “(...)
é hoje oficial em oito nações independentes: Brasil, Portugal, Angola, Moçam-
bique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste” (L.24
a 26). Contudo, em momento algum o texto deixa claro que não se utiliza o
português como língua de comunicação em Cingapura e na Índia. Ao contrário,
assevera-se, pelo texto, que a língua portuguesa foi levada a “remotas regiões:
Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Cingapura, Índia e Brasil” (L.19 e 20),
sendo mantida como língua oficial em alguns deles (o que não exclui a possibili-
dade de ser língua de comunicação em todos eles). Portanto, conclui-se que o item
está errado, pois extrapola as informações presentes no texto.

2 A forma verbal “caldeou-se” (L.6) relaciona-se, no texto, ao sentido de mis-


tura, fusão ou associação.

R: CERTO. No trecho “Essa variante vulgar sobrepôs-se às línguas dos povos do-
minados e com elas caldeou-se, dando origem aos dialetos que viriam a se cha-
mar genericamente de romanços ou romances”, pelo contexto, depreende-se que
o sentido do termo “caldear” equivale a unir, juntar, misturar. De acordo com o
Aurélio, caldear significa soldar ou colar, ligar peças ou pedaços e brasa quente;
fazer algo incandescer, tornar incandescente, deixar em brasa. Nesse sentido, o
item está correto, pois o verbo “caldear” remete, realmente, à ideia de mistura,
fusão ou associação.

3 Do trecho “Séculos mais tarde, (...) o português ganhou seu estatuto de lín-
gua” (L.13 e 14) é correto inferir que, por volta do século XIII, se criou a
primeira gramática da língua portuguesa.

R: ERRADO. Pelo trecho “Séculos mais tarde, Portugal fundou-se como nação,
ao mesmo tempo em que o português ganhou seu estatuto de língua, da seguinte
forma: enquanto Portugal estabelecia as suas fronteiras no século XIII, o galego-
-português patenteava-se em forma literária”, não é possível inferir que, por volta
do século XIII, criou-se a primeira gramática da língua portuguesa. A assertiva

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PORTUGUÊS PARA CONCURSOS - CESPE

extrapola o conteúdo do texto, pois o trecho não se refere, em momento algum, à


gramática portuguesa, mas sim à língua e ao uso na modalidade literária. Além
disso, o que se infere é que, a partir da independência de Portugal, o português
passou a assumir o estatuto de língua (não se permitindo inferir a criação de uma
gramática).

4 A expressão “língua de comunicação” (L.23 e 24) constitui, pelo contexto,


um sinônimo para o termo “galego-português” (L.16).

R: ERRADO. A expressão “galego-português” refere-se à língua estabelecida na


região de Portugal, ao passo que “língua de comunicação” corresponde àquela
usada em diversos locais, de modo que se sujeitou a diferentes influências. Nesse
sentido, o item está inadequado de acordo com o texto.

5 A correção do texto seria mantida se as vírgulas que isolam o trecho “dos


grandes escritores romanos e latinos e falado pelas classes romanas mais abas-
tadas” (L.1 a 3) fossem substituídas por travessões.

R: CERTO. Os travessões são sinais de pontuação equivalentes às vírgulas ou aos


parênteses em situações de explicação. O duplo travessão tem por função isolar
expressões de natureza explicativa ou informações acessórias, complementares na
composição da mensagem. Para serem corretamente utilizados, devem sempre
vir em pares, de modo que o primeiro travessão seja, em regra, fechado por um
segundo. Em caso de fim de frase, o travessão deve abrir a nota explicativa e o
ponto-final deve concluí-la. Nesse sentido, é possível a substituição proposta pelo
item, uma vez que, de acordo com as regras da norma culta, o trecho isolado por
vírgulas também poderia estar isolado por travessões. Assim, a reescrita ficaria da
seguinte forma: “Como se pode imaginar, não foi o latim clássico – dos grandes
escritores romanos e latinos e falado pelas classes romanas mais abasta-
das – que penetrou a Península Ibérica e nos demais espaços conquistados pelo
Império Romano.”

6 A expressão “esse papel” (L.5) refere-se à penetração do latim “na Península


Ibérica e nos demais espaços conquistados pelo Império Romano” (L.3 e 4).

R: CERTO. A expressão “esse papel”, em “foi o latim popular, falado pelas tropas
invasoras que fez esse papel”, exerce função anafórica, de modo que retoma toda
a ideia referente à penetração da língua na península ibérica – “Como se pode
imaginar, não foi o latim clássico dos grandes escritores romanos e latinos e falado

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FLÁVIA RITA COUTINHO SARMENTO

pelas classes romanas mais abastadas, que penetrou na Península Ibérica e nos
demais espaços conquistados pelo Império Romano”. Nesse sentido, o item está
adequado de acordo com as referências coesivas do texto.

7 Dado o trecho “à imagem do que Roma fizera” (L.18), é correto concluir que
Portugal, em sua “expansão de conquistas” (L.17 e 18), atuou de forma idên-
tica à que o Império Romano adotou para conquistar a Península Ibérica.

R: ERRADO. A expressão “à imagem” não equivale a dizer que duas situações


são idênticas, mas, sim, semelhantes. Portanto, o item está equivocado ao res-
tringir o sentido da expressão “à imagem” a hipóteses idênticas. Assim, no trecho
“Cerca de três séculos depois, Portugal lançou-se em uma expansão de conquistas
que, à imagem do que Roma fizera, levou a língua portuguesa a remotas regi-
ões”, a expressão “à imagem” equivale a “de modo semelhante”.

8 No texto, é apresentada, em ordem cronológica crescente, uma sucessão de


fatos relacionados à história da formação da língua portuguesa.

R: CERTO. O texto é cronologicamente organizado em uma sucessão progressiva


de fatos relacionados à história da formação da língua portuguesa, do mais an-
tigo ao mais recente, como se observa nas indicações de datas: “No século V d.c.”,
“Séculos mais tarde”, “[...] no século XIII”, “Cerca de três séculos depois”, e “O
Brasil no século XIX, as demais no século XX”. Logo, o item se mostrou adequado,
pois os adjuntos adverbiais presentes no texto evidenciam o caráter cronológico da
abordagem adotada.

9 A correção gramatical e a coerência do texto seriam preservadas caso a forma


verbal “levou” (L.18) fosse substituída por levaram.

R: CERTO. Na frase em análise, é necessário observar se há possibilidade de


outra concordância: “Cerca de três séculos depois, Portugal lançou-se em uma
expansão de conquistas que, à imagem do que Roma fizera, levou a língua por-
tuguesa a remotas regiões (...)”. Em regra, quando o vocábulo “que” figura como
sujeito da oração adjetiva de que faz parte, o verbo concordará com o termo an-
tecedente. Quando existir um pronome relativo “que” com dois termos referentes
possíveis, será cabível a concordância com um ou outro, desde que feitos os devidos
ajustes sintáticos necessários e a composição semântica que o enunciado permita.
Nesse sentido, percebe-se correta, em termos de sintaxe e coerência, a flexão plural
do verbo levar, porém com a consequente alteração de sentido, uma vez que o
referente do verbo será alterado de “expansão” para “conquistas”. Assim, a frase

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PORTUGUÊS PARA CONCURSOS - CESPE

continuaria correta, a despeito da mudança de sentido: “Cerca de três séculos


depois, Portugal lançou-se em uma expansão de conquistas que, à imagem do
que Roma fizera, levaram a língua portuguesa a remotas regiões (...)”.

10 Mantendo-se os sentidos originais do texto, o vocábulo “remotas” (L.19)


poderia ser substituído tanto por longínquas quanto por ignotas.

R: ERRADO. De acordo com o Aurélio, o vocábulo “remotas” diz respeito à qua-


lidade daquilo que ocorreu há muito tempo, que é antigo ou longínquo; referente
a distante, distanciado. Segundo o mesmo dicionarista, o vocábulo “longínquas”
faz referência à qualidade daquilo que está longe, distante, afastado no espaço;
qualidade daquilo que vem de longe, de lugar situado a grande distância. Por
fim, o Aurélio determina que “ignotas” se refere à qualidade daquilo que é desco-
nhecido, ignorado ou não sabido. Portanto, é incorreta a assertiva porque o senti-
do de “remotas” não equivale ao de “ignotas”, embora seja possível a substituição
de “remotas” por “longínquas”.

11 No contexto em que estão inseridas, as palavras “neolatinas” e “românicas”,


ambas na linha 11, podem ser consideradas sinônimos.

R: CERTO. Considerando-se o contexto, as palavras “neolatinas” e “românicas”


são semanticamente equivalentes. O conector “ou”, no texto, estabelece a função
coesiva de equiparar os dois termos: “(...) dando origem às chamadas línguas
neolatinas ou românicas”. Portanto, o item está correto, pois a intenção do autor
foi oferecer uma nomenclatura alternativa para o vocábulo “neolatinas” (no caso,
“românicas”).

12 A correção gramatical e o sentido do texto seriam preservados caso se substi-


tuísse a palavra “genericamente” (L.7) por comumente.

R: ERRADO. De acordo com o Aurélio, o vocábulo “genericamente” é um ad-


vérbio que indica abrangência, amplitude; equivalente à locução adverbial “em
termos gerais”. Por outra via, o mesmo dicionarista define o vocábulo “comumen-
te” como advérbio que indica a frequência com que algo ocorre, equivalente a “na
maioria das vezes”, “habitualmente”. Logo, é impossível a substituição proposta,
pois implicaria alteração de sentido, uma vez que tais advérbios apresentam na-
turezas semânticas distintas.

13 O autor do texto reflete sobre a evolução histórica da justiça: a punição de

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FLÁVIA RITA COUTINHO SARMENTO

condenados, que, de início, ocorria mediante dores físicas passou, a partir


dos princípios do século XIX, a ter caráter mais moral, submetendo os réus
a sofrimentos mais sutis, mais velados.

R: CERTO. O primeiro e o segundo parágrafos do texto deixam claro o declínio


das punições corporais como forma de repressão penal e a consequente ascensão de
punições de cunho moral: “No fim do século XVIII e começo do XIX, a despeito
de algumas grandes fogueiras, a melancólica festa de punição de condenados foi-
-se extinguindo. Em algumas dezenas de anos, desapareceu o corpo como alvo
principal da repressão penal: o corpo supliciado, esquartejado, amputado, mar-
cado simbolicamente no rosto ou no ombro, exposto vivo ou morto, dado como
espetáculo. (....) A punição vai-se tornando a parte mais velada do processo pe-
nal, provocando várias consequências: deixa o campo da percepção quase diária
e entra no da consciência abstrata; sua eficácia é atribuída à sua fatalidade, não
à sua intensidade visível; a certeza de ser punido é que deve desviar o homem do
crime, e não mais o abominável teatro”. Nesse sentido, após a leitura atenta do
trecho, é possível concluir que o item está correto, pois o sofrimento físico dos réus
foi, aos poucos, substituído por formas alternativas de punição.

14 No longo período que finaliza o primeiro parágrafo do texto, as formas ver-


bais no gerúndio relacionam-se, por coesão, ao termo “tal rito” (L.6).

R: CERTO. A assertiva está correta, pois as formas verbais no gerúndio referem-


-se à expressão “tal rito”, como se verifica no trecho: “Ficou a suspeita de que
tal rito que dava um ‘fecho’ ao crime mantinha com ele afinidades espúrias:
igualando-o, ou mesmo ultrapassando-o em selvageria, acostumando os es-
pectadores a uma ferocidade de que todos queriam vê-los afastados, mostrando-
-lhes a frequência dos crimes, fazendo o carrasco se parecer com o criminoso, os
juízes com assassinos, invertendo no último momento os papéis, fazendo do su-
pliciado um objeto de piedade e de admiração”. As formas de gerúndio, no trecho,
apresentam como sujeito a expressão nominal “tal rito”, por isso as orações que
compõem o período se articulam semanticamente. Assim, é possível entender, a
partir da leitura do trecho, que “o rito” iguala-se ao crime; que “o rito” ultrapassa
o crime em selvageria; que “o rito” acostuma os espectadores a uma ferocidade;
que “o rito” mostra aos espectadores a frequência dos crimes e, por fim, que “o
rito” faz com que o carrasco se perceba como criminoso.

15 Embora tanto o primeiro quanto o segundo parágrafo do texto tratem de

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PORTUGUÊS PARA CONCURSOS - CESPE

acontecimentos passados, o emprego do presente no segundo parágrafo tem


o efeito de aproximar os acontecimentos mencionados ao tempo atual, o
presente.

R: CERTO. O tempo presente em formas verbais pode indicar ações presentes,


ações passadas ou ações futuras, dependendo do contexto. O uso de “vai”, “deixa”,
“entra” ou de outras formas no presente equivale a formas de passado, pois de-
notam evolução temporal em relação a uma ação já realizada. Logo, o autor, ao
utilizar verbos no presente do indicativo, decidiu aproximar o período histórico
do momento atual. Ao valer-se de tal recurso, o autor não incorreu em erro, pois
a norma culta autoriza a possibilidade de um verbo no presente ser usado com
valor de passado, visando à aproximação temporal. A assertiva, portanto, está
correta, pois interpretou adequadamente o efeito de passado das formas verbais
empregadas no presente, no segundo parágrafo do texto.

16 A coerência textual seria prejudicada se, após “teatro” (L.17), fossem inse-
ridos dois-pontos e o trecho a mecânica exemplar da punição muda as
engrenagens, como conclusão das consequências enumeradas, dado o em-
prego, nesse trecho, de linguagem figurada, incompatível com o gênero do
texto.

R: ERRADO. A afirmação de que seria incompatível com o texto o emprego de


linguagem figurada é incorreta, pois, por se tratar de uma exposição histórica,
não há óbice ao uso desse recurso estilístico. Portanto, o item está inadequado
porque não há restrições quanto à utilização de linguagem figurada no gênero
apresentado. Em contrapartida, a alteração nos sinais de pontuação mostra-se
gramaticalmente incorreta (como afirma a alternativa), pois a enumeração se-
ria finalizada por dois-pontos, havendo dois trechos com dois pontos no mesmo
período. Com a modificação proposta, os parágrafos seriam unificados, de modo
que ficariam assim: “A punição vai-se tornando a parte mais velada do processo
penal, provocando várias consequências: deixa o campo da percepção quase
diária e entra no da consciência abstrata; sua eficácia é atribuída à sua fatali-
dade, não à sua intensidade visível; a certeza de ser punido é que deve desviar o
homem do crime, e não mais o abominável teatro: sob o nome de crimes e deli-
tos, são sempre julgados corretamente os objetos jurídicos definidos pelo Código.
Porém, julgam-se também paixões, os instintos, as anomalias, as enfermidades, as
inadaptações, os efeitos de meio ambiente ou de hereditariedade.” Embora haja
realmente incoerência na pontuação alternativa proposta, o item está errado por-
que não há restrições quanto ao uso de linguagem figurada em função do gênero

156
FLÁVIA RITA COUTINHO SARMENTO

textual.

17 A substituição de “Porém” (L.19) por Entretanto manteria a correção gra-


matical e os sentidos originais do texto.

R: CERTO. As conjunções porém e entretanto classificam-se como adversa-


tivas, por isso, apresentam a mesma carga semântica (oposição). Ainda, ambas
se adaptam à forma verbal presente no trecho e se sujeitam à mesma regra de
pontuação, segundo a qual será facultativo o uso de vírgula após conector conclu-
sivo ou adversativo no início do período. Assim, o trecho poderia ser escrito com
ou sem vírgula após o conector inicial: “Porém/Entretanto julgam-se também
as paixões, os instintos, as anomalias, as enfermidades (...)”. Logo, o item está
adequado.

18 No primeiro período do primeiro parágrafo, o trecho “a despeito de algumas


grandes fogueiras” evidencia a ideia de que as “grandes fogueiras”, embora
ainda existissem, eram pouco numerosas, o que aponta para a extinção da
“melancólica festa de punição de condenados”.

R: CERTO. A locução conjuntiva “a despeito de” exprime ideia de concessão,


de modo que sua utilização no período “a despeito de algumas grandes fogueiras”
equivale a dizer “embora existam algumas grandes fogueiras” ou “apesar de exis-
tirem algumas grandes fogueiras”. Assim, a concessão aponta para uma mudança
de sentido nas punições, que culmina com a extinção da “melancólica festa de
punições de condenados”, substituída por penas mais sutis e de efeito moralizante.
Logo, o item mostrou-se adequado do ponto de vista interpretativo.

19 Nas razões de crimes e delitos, encontram-se elementos obscuros relaciona-


dos ao réu, e esses elementos é que são, efetivamente, julgados e punidos.

R: CERTO. A assertiva está correta, conforme se depreende do texto, no seguinte


trecho: “As sombras que se escondem por trás dos elementos da causa é que são, na
realidade, julgadas e punidas” (L.26 e 27). Logo, entende-se que o julgamento
dos crimes avalia, verdadeiramente, não o fato criminoso em si, mas os antece-
dentes que levaram à sua causa.

20 A locução “no entanto” (L.35) introduz no período uma ideia de conclusão;


por isso, sua substituição por portanto preservaria a correção gramatical e as

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PORTUGUÊS PARA CONCURSOS - CESPE

relações de sentido originais do texto.

R: ERRADO. A conjunção “no entanto” classifica-se como adversativa, uma vez


que estabelece relação lógica de contrariedade entre as ideias das orações por ela
articuladas. Por sua vez, a conjunção “portanto” é conclusiva e, por isso, finaliza
as ideias apresentadas anteriormente. Assim, é impossível a substituição de uma
pela outra em razão de estabelecerem ideias diferentes – “Dir-se-á, no entanto/
portanto, que nenhum deles partilha realmente do direito de julgar (...)”. Nesse
sentido, o item mostrou-se incorreto, pois os conectores têm cargas semânticas
distintas.

21 Sem prejuízo para o sentido original e a correção gramatical do texto, a ora-


ção “se são invocados” (L.24) poderia ser deslocada para logo após a palavra
“crime” (L.26), desde que estivesse isolada por vírgulas.

R: ERRADO. O deslocamento da expressão “se são invocados” para o fim da fra-


se implicaria alteração de sentido, pois o referente passaria a ser “fatos”, ou seja,
alteraria o sentido. Além disso, não se mostra correta a afirmação de que a oração,
se deslocada para o final do período, deveria ser isolada por vírgulas. Na verdade,
de acordo com a norma culta, sempre que a oração adverbial estiver depois da
oração principal, a vírgula será empregada em caráter facultativo. Conforme se
nota, a assertiva está incorreta já que a vírgula antes da oração reduzida deslo-
cada para depois da oração principal é facultativa e o deslocamento da oração
ocasiona mudança de sentido no trecho. Para se compreender melhor o trecho
alterado, registrou-se a seguir a nova versão: “Dir-se-ia que não são eles que são
julgados; é para explicar os fatos a serem julgados e determinar até que ponto a
vontade do réu estava envolvida no crime(,) se (os fatos) são invocados”. Portanto,
o item se mostra incorreto tanto do ponto de vista semântico quanto do ponto de
vista gramatical.

22 A supressão da preposição “de” empregada logo após “ferocidade”, no trecho


“acostumando os espectadores a uma ferocidade de que todos queriam vê-los
afastados” (L.8 e 9), manteria a correção gramatical do texto.

R: ERRADO. A supressão da preposição “de”, em “Acostumando os espectadores


a uma ferocidade de que todos queriam vê-los afastados”, implicará incorreção
gramatical, pois desrespeitará as regras de regência, uma vez que o verbo “afastar”
exige a mencionada preposição. A esse respeito, tem-se a regra referente ao uso de
preposições com pronomes relativos: usa-se preposição antes do pronome relativo

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FLÁVIA RITA COUTINHO SARMENTO

sempre que o termo posposto a ele exigir. Portanto, o item mostrou-se incorreto,
pois a preposição “de” é obrigatória em tal contexto sintático uma vez que o verbo
“afastar” exige a preposição (quem se afasta se afasta de).

23 A expressão “Dir-se-á” (L.34 e 35) poderia ser corretamente substituída por


Será dito.

R: CERTO. A voz passiva sintética (verbo + partícula apassivadora - se) e a voz


passiva analítica (ser/estar ou outro auxiliar de passiva + verbo no particípio)
são formas equivalentes, desde que mantidas as relações de tempo e de modo. A
forma “Dir-se-á”, característica de voz passiva sintética, é equivalente à forma
“Será dito”, característica de voz passiva analítica. Assim, é correta a assertiva,
pois, na reformulação proposta, foram mantidos o tempo e o modo do verbo da
frase original (futuro do presente do indicativo), bem como as relações de concor-
dância com o sujeito paciente (“que nenhum deles partilha realmente do direito
de julgar”).

24 Subentende-se a forma verbal “intervêm” (L.36) logo após o vocábulo “mas”


em “mas para esclarecer a decisão dos juízes” (L.37).

R: CERTO. Há elipse do verbo “intervir”, o qual é subentendido na segunda


oração, como se observa no período: “Dir-se-á, no entanto, que nenhum deles
partilha realmente do direito de julgar: os peritos não intervêm antes da sen-
tença para fazer um julgamento, mas (intervêm) para esclarecer a decisão dos
juízes.” Assim, é possível compreender que os peritos intervêm com o objetivo
de esclarecer a decisão dos juízes. Portanto, o item mostrou-se correto a partir das
inferências textuais.

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SUMÁRIO

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