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ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS Conjunto de preceitos que regem a sua

OBRIGAÇÕES realização, quanto ao sujeito, ao tempo, à


forma e ao lugar.
Pessoas adstritas à obrigação Gerenciam os pagamentos, devem ser
seguidos à risca para que o pagamento
Está vinculado ao cumprimento da cumpra sua função de extinguir a
obrigação, pelo pagamento, o sujeito que obrigação.
tem o dever de prestar, ainda que o
cumprimento, em alguns casos, possa se Quem deve pagar
estender a outras pessoas.
Qualquer interessado (art.304): o devedor
Pagamento (principal interessado), o terceiro
interessado e o terceiro desinteressado.
Execução voluntária da obrigação: ato
jurídico que a extingue, realizando-lhe o Art. 304. Qualquer interessado na extinção
conteúdo. Entrega da prestação, no tempo, da dívida pode pagá-la, usando, se o credor
na forma e no lugar previstos: dar, fazer ou se opuser, dos meios conducentes à
não fazer. exoneração do devedor.
Parágrafo único. Igual direito cabe ao
Terminologia: Adimplemento, terceiro não interessado, se o fizer em nome
cumprimento e solução (“solutio”), embora e à conta do devedor, salvo oposição deste.
o termo consagrado pela lei (Código Civil)
seja pagamento, que não se resume às a) Terceiro interessado: Pessoa que não
obrigações pecuniárias. integra o contrato, mas tem interesse
jurídico no pagamento (art.346,III): o
Espécies de pagamento fiador, o coobrigado, o herdeiro, outro
Além do pagamento propriamente dito – credor do devedor etc.
forma usual de extinção das obrigações –,
enumera a doutrina, com base nos textos Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno
legais, outras espécies de pagamento. direito, em favor: III - do terceiro
interessado, que paga a dívida pela qual era
Pagamentos especiais: Ou indiretos, dá-se ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.
a extinção da obrigação, mas não na forma
prevista no contrato: pagamento em b) Terceiro não interessado – Pessoa sem
consignação (art.334), pagamento com sub- ligação com o contrato, que paga a dívida
rogação (art.346), dação em pagamento por razões de ordem moral ou sentimental:
(art.356) e imputação do pagamento (art. em seu próprio nome (com direito a
352). reembolso, porém sem sub-rogação –
Extinção sem pagamento: Dá-se a art.305) ou em nome e à conta do devedor
extinção da obrigação, com liberação do (sem reembolso – art.304, a contrario
devedor, mas sem o pagamento sensu). Exceções: art. 347, I e 1.368.
(propriamente dito): novação (art.360),
compensação (art.368), confusão (art.381) e Art. 305. O terceiro não interessado, que
remissão de dívidas (art.385). Transação e paga a dívida em seu próprio nome, tem
compromisso: nova opção da lei (arts.840 e direito a reembolsar-se do que pagar; mas
851). não se sub-roga nos direitos do credor.

Regras do pagamento:
Parágrafo único. Se pagar antes de vencida aproveita ao credor (art.308) ou quando se
a dívida, só terá direito ao reembolso no tratar de credor putativo.
vencimento.
A quem se deve pagar d) Pagamento de crédito penhorado – Se
efetuado após a intimação da penhora (1),
Ao credor ou a quem de direito o represente ou depois da impugnação a ele oposta por
(art.308): legal (pai, tutor, curador), terceiro (2), não tem efeito liberatório do
judicial (inventariante, síndico da falência, devedor, que poderá pagar novamente
depositário) ou convencional: expresso ou (art.312).
tácito (art.311).
Art. 312. Se o devedor pagar ao credor,
Art. 308. O pagamento deve ser feito ao apesar de intimado da penhora feita sobre o
credor ou a quem de direito o represente, crédito, ou da impugnação a ele oposta por
sob pena de só valer depois de por ele terceiros, o pagamento não valerá contra
ratificado, ou tanto quanto reverter em seu estes, que poderão constranger o devedor a
proveito. pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o
Art. 311. Considera-se autorizado a receber regresso contra o credor.
o pagamento o portador da quitação, salvo
se as circunstâncias contrariarem a Credito a receber de uma pessoa- o credor
presunção daí resultante. deve a justiça- o devedor é intimado para
não pagar ao credor- o pagamento é
a) Pagamento a credor incapaz: Não vale, ineficaz
exceto se o devedor provar que o
pagamento reverteu em proveito do credor Objeto do pagamento
(arts. 181 e 310).
É representado pelo objeto da obrigação: a
Art. 310. Não vale o pagamento prestação debitória, de dar (a coisa
cientemente feito ao credor incapaz de devida), de fazer ou de não fazer, devendo
quitar, se o devedor não provar que em coincidir necessariamente com a coisa
benefício dele efetivamente reverteu. devida.
Art. 181. Ninguém pode reclamar o que,
por uma obrigação anulada, pagou a um Art. 313. O credor não é obrigado a receber
incapaz, se não provar que reverteu em prestação diversa da que lhe é devida, ainda
proveito dele a importância paga. que mais valiosa.
Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por
b)Pagamento a credor putativo – É objeto prestação divisível, não pode o
válido, se feito de boa-fé (erro escusável), credor ser obrigado a receber, nem o
mesmo se comprovado que não era credor: devedor a pagar, por partes, se assim não se
herdeiro aparente, herdeiro afastado por ajustou.
testamento subseqüente etc. (art.309).
Satisfação exata
Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao
credor putativo é válido, ainda provado A prestação deve reunir os caracteres de
depois que não era credor. identidade objetiva, indivisibilidade e
integralidade.
c) Pagamento a terceiro não qualificado a) Identidade objetiva – Deve haver uma
– Somente vale se ratificado, quando perfeita coincidência com o que foi
contratado, o que deixa de existir nas
hipóteses de perdas e danos (indenização), estrangeira, bem como para compensar a
na dação em pagamento etc. diferença entre o valor desta e o da moeda
Princípio de pontualidade: A idéia básica nacional, excetuados os casos previstos na
de que o cumprimento tem de ajustar-se legislação especial.
inteiramente à prestação devida ((arts. 313 e b) Cláusulas monetárias – Mecanismos
314). que buscam atrelar o pagamento em
b) Indivisibilidade – O pagamento deve dinheiro a um valor paradigma, para evitar
ser feito por inteiro, não estando o credor a quebra do seu poder de compra: metal
obrigado a receber por partes, pois isso nobre (cláusula-ouro), uma mercadoria
implica desconformidade entre a coisa (cláusula-mercadoria), uma moeda
devida e a prestação efetuada (art.314). estrangeira ou um índice abstrato do custo
c) Integralidade – O devedor deve de vida (correção monetária).
entregar todo o devido, sem redução na
prestação a título de despesas, exceto nos c) Escala móvel – Essas cláusulas são
casos legalmente previstos (art.325). As chamadas genericamente de cláusulas de
despesas presumem-se por conta do escala móvel e permitem o pagamento em
devedor. valor diverso do contratado, porém
Art. 325. Presumem-se a cargo do devedor correspondente ao valor de compra do
as despesas com o pagamento e a quitação; dinheiro. Exceções ao princípio nominalista
se ocorrer aumento por fato do credor, (arts. 315, 316 e 487).
suportará este a despesa acrescida.
d) Satisfação exata – O devedor deve Prova do pagamento:
entregar o devido (identidade objetiva),
todo o devido (integralidade) e por inteiro: É o ato pelo qual o credor, ou quem o
indivisibilidade (Caio Mário). represente, certifica e reconhece o
pagamento, chamado de quitação
.Pagamento em dinheiro (recibo). O devedor tem direito à quitação,
Deve ser feito no vencimento e, em regra, podendo até reter o pagamento (art.319).
em moeda corrente e pelo valor nominal
(art.315). Corrosão do poder de compra da Art. 319. O devedor que paga tem direito a
moeda (inflação). quitação regular, e pode reter o pagamento,
enquanto não lhe seja dada.
Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão
ser pagas no vencimento, em moeda a) Requisitos da quitação – A lei estipula
corrente e pelo valor nominal, salvo o os requisitos para a quitação (art.320), mas
disposto nos artigos subseqüentes. a prova do pagamento não se sujeita a
Art. 316. É lícito convencionar o aumento requisito formal solene, valendo qualquer
progressivo de prestações sucessivas. que seja a forma (art.320, parágrafo único)

a) Princípio nominalista – Ou do Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser


nominalismo monetário: o pagamento não dada por instrumento particular, designará o
pode, salvo permissões legais (v.g., valor e a espécie da dívida quitada, o nome
negócios de importação e exportação), ser do devedor, ou quem por este pagou, o
feito em moeda estrangeira, mas em moeda tempo e o lugar do pagamento, com a
nacional, de curso forçado e pelo valor nela assinatura do credor, ou do seu
impresso (art.318). representante.
Art. 318. São nulas as convenções de Parágrafo único. Ainda sem os requisitos
pagamento em ouro ou em moeda estabelecidos neste artigo valerá a quitação,
se de seus termos ou das circunstâncias Art. 330. O pagamento reiteradamente feito
resultar haver sido paga a dívida. em outro local faz presumir renúncia do
credor relativamente ao previsto no
b) Devolução do título – A entrega do contrato.
título ao devedor firma a presunção –
relativa –de pagamento (art.324). Quitação b) Domicílio do credor – Em tal hipótese –
parcial (arts. 322 e 323). se assim for convencionado –, diz-se que se
trata de dívidas portáveis (portable =
Art. 322. Quando o pagamento for em transportável, conduzível).
quotas periódicas, a quitação da última
estabelece, até prova em contrário, a Tempo do pagamento
presunção de estarem solvidas as anteriores.
Art. 323. Sendo a quitação do capital sem Deve ser feito no vencimento da obrigação
reserva dos juros, estes presumem-se pagos. ou, não havendo previsão específica, de
Art. 324. A entrega do título ao devedor imediato: obrigações puras (art.491).
firma a presunção do pagamento. Princípio da satisfação imediata (art.331).
Parágrafo único. Ficará sem efeito a
quitação assim operada se o credor provar, Art. 331. Salvo disposição legal em
em sessenta dias, a falta do pagamento. contrário, não tendo sido ajustada época
para o pagamento, pode o credor exigi-lo
Lugar do pagamento imediatamente.
Art. 491. Não sendo a venda a crédito, o
Deve prevalecer o lugar disposto no vendedor não é obrigado a entregar a coisa
contrato (vontade das partes) para o antes de receber o preço.
cumprimento da obrigação.
a) Domicílio do devedor – No silêncio do a) Obrigações a termo – São cumpridas no
contato – e a isso não se opondo a natureza vencimento, sob pena de mora. Interpelação
da obrigação, a lei ou as circunstâncias –, judicial ou extrajudicial (art.397).
deve ser feito no domicílio do devedor
(art.327). Dívidas quesíveis (quérable = Art. 397. O inadimplemento da obrigação,
requerível). positiva e líquida, no seu termo, constitui de
pleno direito em mora o devedor.
Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no
domicílio do devedor, salvo se as partes b) Obrigações condicionais – São
convencionarem diversamente, ou se o cumpridas na data do implemento da
contrário resultar da lei, da natureza da condição estipulada (art.332).
obrigação ou das circunstâncias.
Parágrafo único. Designados dois ou mais Art. 332. As obrigações condicionais
lugares, cabe ao credor escolher entre eles. cumprem-se na data do implemento da
Art. 328. Se o pagamento consistir na condição, cabendo ao credor a prova de que
tradição de um imóvel, ou em prestações deste teve ciência o devedor.
relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde
situado o bem c) Vencimento antecipado – Embora o
Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que prazo exista em prol do devedor, permite a
se não efetue o pagamento no lugar lei a cobrança antecipada em certas
determinado, poderá o devedor fazê-lo em situações jurídicas que signifiquem redução
outro, sem prejuízo para o credor. da possibilidade de satisfação da obrigação
no seu termo (art.333).
a) Vencimento da obrigação (art.394) –
Art. 333. Ao credor assistirá o direito de Não cabe a mora se a obrigação não está
cobrar a dívida antes de vencido o prazo vencida.
estipulado no contrato ou marcado neste Obrigações positivas: a termo ou sem termo
Código: (art.397)
I - no caso de falência do devedor, ou de
concurso de credores; Art. 397. O inadimplemento da obrigação,
II - se os bens, hipotecados ou empenhados, positiva e líquida, no seu termo, constitui de
forem penhorados em execução por outro pleno direito em mora o devedor.
credor;
III - se cessarem, ou se se tornarem Obrigações negativas (art.390) Art. 390.
insuficientes, as garantias do débito, Nas obrigações negativas o devedor é
fidejussórias, ou reais, e o devedor, havido por inadimplente desde o dia em que
intimado, se negar a reforçá-las. executou o ato de que se devia abster.
Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se
houver, no débito, solidariedade passiva, Obrigações por ato ilícito – mora presumida
não se reputará vencido quanto aos outros ou mora irregular (art.398).
devedores solventes. Art. 398. Nas obrigações provenientes de
ato ilícito, considera-se o devedor em mora,
desde que o praticou.

MORA E PAGAMENTO INDEVIDO. b) Culpa do devedor – Não havendo fato


imputável ao devedor, não incorre ele em
mora (art.396). Simples retardamento
Mora1 (atraso sem culpa).

Retardamento culposo no cumprimento c) Viabilidade de cumprimento tardio –


da obrigação – mora debitoris, debendi ou Deve subsistir o interesse do credor
mora solvendi –, bem como a recusa do (utilidade) na prestação tardia (art.395,
credor em recebê-la: mora creditoris, parágrafo único). Do contrário, a mora se
credendi ou mora accipiendi. equipara ao inadimplemento (absoluto).

Mora do devedor Art. 395. Responde o devedor pelos


Retardamento ou cumprimento defeituoso prejuízos a que sua mora der causa, mais
da obrigação (tempo, lugar e forma juros, atualização dos valores monetários
previstos (art.394). segundo índices oficiais regularmente
estabelecidos, e honorários de advogado.
Art. 394. Considera-se em mora o devedor Parágrafo único. Se a prestação, devido à
que não efetuar o pagamento e o credor que mora, se tornar inútil ao credor, este poderá
não quiser recebê-lo no tempo, lugar e enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e
forma que a lei ou a convenção estabelecer. danos.

Requisitos: Adimplemento substancial: Se aproxima


1 do resultado final
- A mora, tecnicamente, se relaciona com o
inadimplemento das obrigações, mas, ligada Efeitos da mora do devedor:
que está diretamente ao tempo de
cumprimento da obrigação, é estudada de
logo no campo das regras do pagamento.
a) Responsabilidade civil – O devedor d) Falta de cooperação ativa – Nas
responde pelos prejuízos a que deu causa dívidas quesíveis, o credor falta com o ato
pelo seu comportamento, pagando perdas e de cooperação de procurar o devedor.
danos (art.395). Exercício do direito de escolha, de fornecer
material etc.
b) Perpetuação da obrigação – Estando
em mora, o devedor responde pelos Efeitos da mora do credor (art.400):
prejuízos mesmo na impossibilidade a) Isenção de responsabilidade – O
fortuita de cumprimento, o que se denomina devedor fica liberado da responsabilidade
de perpetuação da obrigação ou pela conservação da coisa, salvo se
perpetuatio obligationis (art.399). proceder com dolo.
b) Ressarcimento de despesas – O credor
Art. 399. O devedor em mora responde pela responde pelas despesas de conservação da
impossibilidade da prestação, embora essa coisa. Depósito judicial da coisa (!).
impossibilidade resulte de caso fortuito ou c) Mais alta estimação – A coisa será
de força maior, se estes ocorrerem durante entregue pela estimação mais favorável ao
o atraso; salvo se provar isenção de culpa, devedor, se houver oscilação de preço de
ou que o dano sobreviria ainda quando a mercado.
obrigação fosse oportunamente d) Juros de mora – Não podem ser
desempenhada. cobrados juros de mora no lapso de tempo
da mora do credor.
c) Isenção de culpa – Poderá, todavia,
provar isenção de culpa e exonerar-se da Art. 400. A mora do credor subtrai o
responsabilidade civil. Redundância (!). devedor isento de dolo à responsabilidade
pela conservação da coisa, obriga o credor a
Mora do credor: ressarcir as despesas empregadas em
conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela
Retardamento (injustificado!) no receber a estimação mais favorável ao devedor, se o
prestação, no tempo, lugar e forma seu valor oscilar entre o dia estabelecido
previstos (art.394). para o pagamento e o da sua efetivação.
Dever negativo de liberar o devedor
Não precisa de culpa Termo inicial da mora:

Simples fato que independe de culpa. a) Obrigações a termo – Havendo prazo


de vencimento (obrigação positiva e
Requisitos: líquida), a mora ocorre no seu implemento,
a) Existência (!) – O credor não estaria automaticamente (art.397): dies interpellat
obrigado a receber a prestação: a falta de pro homine. Mora ex re ou mora
cooperação passiva (d.portáveis) e ativa automática.
(d.quesíveis). b) Obrigações sem termo – A mora se
b) Oferta do devedor – A oferta, por parte constitui mediante interpelação, judicial ou
do devedor, nas dívida portáveis, traduz o extrajudicial (art.397, parágrafo único).
propósito de cumprir a obrigação. Para ex persona ou mora pendente.
c) Recusa do credor – O credor, na dívida
portável, recusa (injustificadamente!) o Purgação da mora
recebimento da prestação: falta de
cooperação passiva.
Ato pelo qual a parte retira-lhe os efeitos,
fazendo desaparecer (juridicamente) o Requisitos configuradores:
atraso. Emenda da mora.
a) Por parte do devedor – Oferecimento a) Enriquecimento patrimonial – Há um
da prestação e dos prejuízos decorrentes da enriquecimento (atual) de alguém, pelo
mora (acréscimos), até a contestação: art. incremento patrimonial ou pela redução do
401, I. passivo.
b) Por parte do credor – Prontificação b) Empobrecimento – Há, em
para o recebimento (art.401, II) e sujeição contrapartida, o empobrecimento de
aos seus efeitos onerosos: art.401, II. outrem: redução patrimonial ou aumento do
Art. 401. Purga-se a mora: passivo.
I - por parte do devedor, oferecendo este a c) Causalidade – Deve haver uma relação
prestação mais a importância dos prejuízos de causa e efeito, direta e necessária, entre
decorrentes do dia da oferta; as suas situações jurídicas.
II - por parte do credor, oferecendo-se este d) Ausência de causa – Não há uma causa
a receber o pagamento e sujeitando-se aos (de atribuição patrimonial) que justifique o
efeitos da mora até a mesma data. incremento patrimonial.

Pagamento indevido Espécies de pagamento indevido:

Regra geral sobre o enriquecimento sem a) Indébito objetivo – A falta de causa


causa (!). Tratamento casuístico: regra do decorre, ou da inexistência da relação
repúdio ao enriquecimento ilícito (art.884). jurídica, ou de equívoco na extensão da
obrigação cumprida.
Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se b) Indébito subjetivo – A dívida existe,
enriquecer à custa de outrem, será obrigado mas registra-se erro em relação a quem
a restituir o indevidamente auferido, feita a paga ou a quem recebe.
atualização dos valores monetários.
Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver Repetição de indébito
por objeto coisa determinada, quem a
recebeu é obrigado a restituí-la, e, se a coisa Aquele que recebe o que não lhe é devido
não mais subsistir, a restituição se fará pelo fica obrigado a restituir (art.876). Repetição
valor do bem na época em que foi exigido. de indébito = devolução do recebido
indevidamente.

Conceito a) Pagamento voluntário – Se o


Aquele pagamento que é feito (pelo pagamento, mesmo indevido, é feito
devedor) sem uma causa – de atribuição voluntariamente, não cabe a devolução
patrimonial – que o justifique, constituindo (liberalidade), exceto com a prova do erro
enriquecimento ilícito para quem recebe (art.877).
(arts.876 e 884). Art. 877. Àquele que voluntariamente
Sem causa: sem contraprestação pagou o indevido incumbe a prova de tê-lo
feito por erro.
Art. 876. Todo aquele que recebeu o que b) Ação adequada – Não havendo uma
lhe não era devido fica obrigado a restituir; ação especial [despejo, cobrança de
obrigação que incumbe àquele que recebe aluguéis etc], a parte ajuíza a ação de
dívida condicional antes de cumprida a repetição de indébito. “Actio in rem verso”:
condição.
ação para repor as coisas no estado anterior Art. 883. Não terá direito à repetição aquele
(“statu quo ante”). que deu alguma coisa para obter fim ilícito,
c) Prova do erro – O erro no pagamento, imoral, ou proibido por lei.
objetivo ou subjetivo, é a causa da Parágrafo único. No caso deste artigo, o que
devolução, devendo ser provado (art.877). se deu reverterá em favor de
O erro no indébito fiscal (art.166 – CTN). estabelecimento local de beneficência, a
critério do juiz.
Indébitos irrepetíveis

Mesmo em face das regras dos arts.876 e Pagamentos Especiais


884, há casos em que não cabe a repetição:
a) Inutilização do título – Pagamento de O interesse do credor é satisfeito, porém de
dívida verdadeira por quem não é devedor: forma modificada, sem a identidade
inutilização do título, prescrição da prevista no contrato: pagamento com sub-
pretensão ou dispensa das garantias – art. rogação e dação em pagamento.
880.2 Ação regressiva.
Sub-rogação (sentido amplo)
Art. 880. Fica isento de restituir pagamento
indevido aquele que, recebendo-o como Substituição de uma pessoa ou de uma
parte de dívida verdadeira, inutilizou o coisa, como sujeito ou como objeto de uma
título, deixou prescrever a pretensão ou relação jurídica.
abriu mão das garantias que asseguravam
seu direito; mas aquele que pagou dispõe de a) Sub-rogação real – Substituição de uma
ação regressiva contra o verdadeiro devedor coisa por outra, como objeto da relação
e seu fiador. jurídica, nela permanecendo os sujeitos
(arts. 1.659, I e II, e 1.668, I – Cód. Civil;
b) Dívida prescrita – Não se pode repetir o Decreto-lei 3.365/41 – art.31).3
que se pagou em função de dívida prescrita b) Sub-rogação pessoal – Substituição de
ou de obrigação natural (art. 882). uma pessoa, como sujeito da relação
jurídica, na titularidade de um direito de
Art. 882. Não se pode repetir o que se crédito. Esta é a sub-rogação tratada no
pagou para solver dívida prescrita, ou Código Civil.
cumprir obrigação judicialmente inexigível. c) Sub-rogação (conceito) – Transferência
dos direitos do credor, com todos os seus
c) Fim ilícito – Não se pode repetir o que atributos, para aquele que solveu a
decorre de entrega de coisa para fim ilícito, obrigação ou emprestou dinheiro para o
imoral ou proibido por lei (art.883). pagamento.
Finalidade ética do Direito: destinação da
coisa. Pagamento com sub-rogação

Aquele em que a obrigação não se


extingue, alterando-se apenas o sujeito
2
- O pagamento indevido de dívida ativo da relação (jurídica) creditória
verdadeira por quem não é devedor é válido (art.346).
e não dá direito à repetição quando quem
recebe (accipiens) inutiliza o título (com o
3
qual poderia cobrar do verdadeiro devedor), - “Art.31 – Ficam sub-rogados no preço
deixa prescrever a pretensão (não podendo, quaisquer ônus ou direitos que recaiam sobre o
assim, fazer a cobrança regular) ou abre mão bem desapropriado.” (Cf. RSTJ 78/132; e RESP
das garantias. nº 37.128 – 7/SP, DJ 13/03/95.)
a dívida em relação ao credor satisfeito,
Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno mas não em relação ao devedor.
direito, em favor:
I - do credor que paga a dívida do devedor Modalidades de sub-rogação
comum;
II - do adquirente do imóvel hipotecado, A lei distingue duas modalidades se sub-
que paga a credor hipotecário, bem como rogação, conforme a fonte donde promane:
do terceiro que efetiva o pagamento para
não ser privado de direito sobre imóvel; Sub-rogação legal
III - do terceiro interessado, que paga a Processa-se de pleno direito
dívida pela qual era ou podia ser obrigado, (automaticamente), dispensando convenção
no todo ou em parte. entre os interessados ou pronunciamento do
juiz (art.346).
Natureza jurídica da sub-rogação a) Credor que paga a dívida – Dá-se em
favor do o credor que paga a dívida do
Conquanto estudada como um pagamento devedor comum (art.346, I).
especial ou indireto, a doutrina discute a b) Adquirente do imóvel hipotecado –
verdadeira natureza jurídica do instituto da Dá-se em favor do o adquirente do imóvel
sub-rogação, a partir da sua peculiaridade: hipotecado que paga a dívida a credor
pagamento sem extinção da dívida. hipotecário (art.346, II).
c) Terceiro interessado – Dá-se em favor
a) Teoria da ficção jurídica – Seria uma do terceiro interessado que paga a dívida
criação artificial do legislador, para chegar pela qual podia ser obrigado, no todo ou em
a um resultado conveniente, como ocorre parte (art.346, III).
em outras áreas do Direito. Crítica: se a lei Þ Casuística – Fiador (art.831) devedor de
pode ordenar, não precisa do recurso à obrigação indivisível (art.259, parágrafo
ficção. único), segurador (art. 786 e Súmula nº
b) Teoria do ato misto – Seria uma 1884 – STF) etc. A questão do devedor
operação de dupla face, contendo uma solidário (art.283/CC e art.77, III – CPC).
parcela de pagamento (em relação ao credor Propriedade fiduciária (art. 1.368).
sub-rogante e o terceiro) e outra de cessão
de crédito: relação entre sub-rogado e o Sub-rogação convencional
devedor. Crítica: não se trata de
pagamento, que extingue a obrigação. Ocorre pela vontade das partes, embora não
c) Teoria da cessão de crédito – Seria uma exija acordo entre credor e devedor.
cessão de crédito especial, como uma forma
de transmissão das obrigações. a) Sub-rogação do credor – O credor, que
Þ Crítica: a cessão independe de recebeu o pagamento do terceiro não
pagamento (1), tem caráter especulativo interessado, expressamente transfere-lhe os
(almeja lucro) (2) e demanda notificação (3) seus direitos (art.347, I). Ocorre por sua
do devedor (art.290). iniciativa, mesmo sem o conhecimento do
Þ Sub-rogação – Pressupõe pagamento (1), devedor.
não tem caráter especulativo (2) e dispensa b) Cessão de crédito – A hipótese não é de
notificação (3). sub-rogação legal – o terceiro paga a dívida
d) Teoria do instituto autônomo – Cuida-
4
se de um instituto autônomo, pelo qual, - Súmula nº 188 – STF – “O segurador tem
feito o pagamento por terceiro, extingue-se ação regressiva contra o causador do dano,
pelo que efetivamente pagou, até o limite
previsto no contrato de seguro.”
em seu próprio nome (art.305) –, mas o O sub-rogado, na sub-rogação legal, não
credor pode fazer a transferência, como poderá exercer direitos além do que tiver
uma cessão de crédito (348), podendo ter desembolsado, pois não tem finalidade
caráter especulativo. lucrativa (art.350).

Art. 348. Na hipótese do inciso I do artigo Art. 350. Na sub-rogação legal o sub-
antecedente, vigorará o disposto quanto à rogado não poderá exercer os direitos e as
cessão do crédito. ações do credor, senão até à soma que tiver
desembolsado para desobrigar o devedor.
c) Sub-rogação do devedor – Dá-se em
favor do terceiro que financia (empresta a) Exatidão patrimonial – A substituição,
dinheiro) o pagamento, sob a condição de na titularidade do crédito, deve ser
ficar sub-rogado nos direitos do credor “decalcada” exatamente sobre a extensão
satisfeito (art.347, II). Opera material do pagamento efetuado.
independentemente da vontade do credor b) Sub-rogação convencional – Isso pode
que recebeu o pagamento. ser excetuado na sub-rogação convencional,
que pode ter caráter especulativo.
Art. 347. A sub-rogação é convencional:
I - quando o credor recebe o pagamento de Dação em pagamento (lineamentos)
terceiro e expressamente lhe transfere todos
os seus direitos; O credor de coisa certa não pode ser
II - quando terceira pessoa empresta ao obrigado a receber outra, ainda que mais
devedor a quantia precisa para solver a valiosa (art.313). Fator de segurança para a
dívida, sob a condição expressa de ficar o realização do direito subjetivo (satisfação
mutuante sub-rogado nos direitos do credor exata).
satisfeito.
Art. 313. O credor não é obrigado a receber
prestação diversa da que lhe é devida, ainda
Efeitos da sub-rogação que mais valiosa.

Transferência, legal ou contratual, ao novo Dação em pagamento


credor, de todos os direitos, ações,
privilégios e garantias do credor anterior O credor pode, excepcionalmente, consentir
(art.349). em receber prestação diversa da que lhe é
a) Duplo efeito – Liberatório: entre o devida (art.356), sem a satisfação exata.
devedor e o credor originário; e
translativo: entre o credor que recebe e Art. 356. O credor pode consentir em
aquele (novo credor) que financia o receber prestação diversa da que lhe é
pagamento. devida.

Art. 349. A sub-rogação transfere ao novo a) Conceituação – É a realização e


credor todos os direitos, ações, privilégios e aceitação de uma prestação diferente da
garantias do primitivo, em relação à dívida, devida, com o fim e aptidão para extinguir a
contra o devedor principal e os fiadores. obrigação.
b) Origem histórica (datio in solutum) –
Exercício da sub-rogação Proteção do devedor executado mediante a
entrega de bens, para evitar a sua ruína
econômica.
partes regular-se-ão pelas normas do
Requisitos da dação em pagamento contrato de compra e venda.

Implicando uma prestação diversa da b) Regência da compra e venda –


contratada, a dação requer requisitos Havendo determinação do preço da coisa
especiais: dada em pagamento, o negócio será
Diversidade de objeto oferecido regulado pelas normas da compra e venda.

A coisa dada em pagamento deve ser Dação com título de crédito


diversa da que constitui o objeto da
prestação, podendo variar a casuística: Se for título de crédito a “coisa” dada em
a) Coisa – Coisa móvel ou imóvel em vez pagamento, a transferência importará
de outra (rem pro re), de dinheiro (rem cessão (do crédito – art.358).
pro pecunia) ou de um fato (rem pro
facto). Art. 358. Se for título de crédito a coisa
b) Fato – Um fato (positivo ou negativo) dada em pagamento, a transferência
do devedor, em lugar de outro fato importará em cessão.
(factum pro facto), de uma coisa (factum
pro re) ou de dinheiro (factum pro Evicção da coisa
pecunia).
c) Crédito – Um crédito em lugar de coisa Se houver evicção – perda da coisa
(nomem juris pro re), de dinheiro (nomem recebida, pelo credor, para terceiro, por
juris pro pecunia) ou de um fato (nomem vício do título, anterior ao negócio –,
juris pro facto). restabelece-se a obrigação, para todos os
d) Entrega de dinheiro – Alguns não efeitos (art.359).
admitem a entrega de dinheiro no lugar de
uma coisa (pecunia pro re), pois isso Art. 359. Se o credor for evicto da coisa
equivaleria a uma compra e venda.5 recebida em pagamento, restabelecer-se-á a
obrigação primitiva, ficando sem efeito a
Consentimento do credor quitação dada, ressalvados os direitos de
terceiros.
Tratando-se de prestação diversa, é
imprescindível o consentimento do credor Extinção das obrigações sem pagamento
(art. 356).
Dá-se a liberação do devedor, mas não
a) Incoincidência de valores – A coisa ocorre o pagamento, direta ou
entregue não pode ser taxada (art.357), com indiretamente (pagamentos especiais!):
especificação de valor. Não deve haver novação e compensação.
equivalência necessária (comutatividade) de
valor na substituição. Outros casos
Prescrição, descumprimento fortuito e
Art. 357. Determinado o preço da coisa advento do termo ou da condição [extinção
dada em pagamento, as relações entre as da relação jurídico-obrigacional como um
todo]. Não são casos de extinção sem
pagamento.
5
- Rezava o art. 995 do Código Civil de 1916:
“O credor pode consentir em receber coisa Novação
que não seja dinheiro, em substituição da
prestação que lhe era devida.”
Convenção pela qual as partes criam nova credor, indica terceira pessoa para resgatar
obrigação para extinguir uma obrigação a dívida.
anterior (art.360). b) Expromissão – A substituição do
devedor se dá sem o seu consentimento, por
Art. 360. Dá-se a novação: um ajuste exclusivo entre o credor e
I - quando o devedor contrai com o credor terceiro (art.362).
nova dívida para extinguir e substituir a
anterior; Art. 362. A novação por substituição do
II - quando novo devedor sucede ao antigo, devedor pode ser efetuada
ficando este quite com o credor; independentemente de consentimento deste.
III - quando, em virtude de obrigação nova,
outro credor é substituído ao antigo, ficando Novação subjetiva ativa
o devedor quite com este.
Ocorre com a alteração do credor, em
substituição ao antigo, ficando o devedor
a) Origem histórica – O Direito romano e quite com este (art.360,III).
a imutabilidade das obrigações (não havia
cessão de crédito): procuração em causa Requisitos da novação
própria (procurator in rem suam), o
progresso e a novação. Existência de obrigação anterior (válida –
b) Importância da novação – A novação art.367), elemento novo (criação de
como instrumento de transmissão de obrigação nova – aliquid novi) e a intenção
obrigações e o fim da intransmissibilidade. de novar (art.361), como elemento
O declínio do instituto em face dos psicológico (animus novandi).
institutos da cessão de crédito e da sub-
rogação. Art. 367. Salvo as obrigações simplesmente
O aspecto da funcionalidade não existe. anuláveis, não podem ser objeto de novação
c) Código Civil – Manutenção do obrigações nulas ou extintas.
instituto, porém com feições próprias Art. 361. Não havendo ânimo de novar,
(art.999 – CC/16 e art.360 – CC/02). expresso ou tácito mas inequívoco, a
segunda obrigação confirma simplesmente
Modalidades de novação: a primeira.

a) Objetiva (ou real) – A alteração se dá no Efeitos da novação:


objeto ou na causa da obrigação, sendo uma
obrigação transformada em outra (art.360, a) Efeito extintivo – Extinção da obrigação
I). anterior (efeito principal) e dos seus
b) Subjetiva (ou pessoal) – A alteração se acessórios (juros etc), garantias (penhor,
dá em relação aos sujeitos da relação anticrese e hipoteca) e preferências, exceto
obrigacional: passiva ou ativa. (estas) quanto ao devedor solidário
(arts.364 – 365).
Novação subjetiva passiva
Art. 364. A novação extingue os acessórios
O devedor é substituído por outro na e garantias da dívida, sempre que não
relação jurídico- obrigacional. houver estipulação em contrário. Não
a) Delegação – Novo devedor sucede ao aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o
antigo, ficando este quite com o credor penhor, a hipoteca ou a anticrese, se os bens
(art.360, II): o devedor, com a anuência do
dados em garantia pertencerem a terceiro a) Legal – Promana da lei e opera
que não foi parte na novação. automaticamente (sine facto hominis),
Art. 365. Operada a novação entre o credor desde que presentes os seus requisitos (arts.
e um dos devedores solidários, somente 368 – 369).
sobre os bens do que contrair a nova
obrigação subsistem as preferências e Art. 369. A compensação efetua-se entre
garantias do crédito novado. Os outros dívidas líquidas, vencidas e de coisas
devedores solidários ficam por esse fato fungíveis.
exonerados. Art. 370. Embora sejam do mesmo gênero
Art. 366. Importa exoneração do fiador a as coisas fungíveis, objeto das duas
novação feita sem seu consenso com o prestações, não se compensarão,
devedor principal. verificando-se que diferem na qualidade,
Art. 367. Salvo as obrigações simplesmente quando especificada no contrato.
anuláveis, não podem ser objeto de novação
obrigações nulas ou extintas. b) Convencional – Voluntária ou
contratual, resulta da vontade das partes e
b) Efeito criativo – Surgimento de nova independe dos requisitos legais do art.369.
obrigação, sem nenhum efeito vinculativo c) Judicial – Determinada pelo juiz,
com a anterior, provindo eventuais (novos) quando o devedor cobrado (ou executado)
acessórios e garantias da sua própria força. opõe um crédito ao demandante, mesmo
sem os requisitos do art.369. Compensação
Novação e institutos afins: reconvencional.

a) Cessão de crédito e sub-rogação – O Vantagens da compensação:


crédito cedido ou sub-rogado é exatamente
o mesmo que pertencia ao cedente ou ao a) Simplificação – Os “pagamentos” são
sub-rogante, o que não ocorre na novação realizados sem a circulação física da moeda
(subjetiva ativa), onde surge novo crédito. (e outros bens) simplificando, barateando e
b) Dação em pagamento – Ambas conferindo segurança aos negócios
implicam uma prestação diferente da jurídicos.
devida, mas na novação isso se dá em b) Garantia – Funciona como garantia para
virtude de uma nova obrigação, o que não cada um dos credores recíprocos, pois o seu
se dá na dação em pagamento. crédito é assegurado pelo débito pelo qual é
responsável.
Compensação
Requisitos da compensação:
Extinção de duas obrigações, até onde se
compensarem reciprocamente, quando os a) Reciprocidade de obrigações –
credores forem, ao mesmo tempo, Cuidando-se de um encontro de contas, na
devedores um do outro (art.368). medida de suas forças (extensão), é
indispensável que as obrigações sejam
Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo recíprocas.
tempo credor e devedor uma da outra, as Þ Obrigação por terceiro – Obrigando-se
duas obrigações extinguem-se, até onde se uma pessoa (v.g. o mandatário) por terceiro
compensarem. (v.g. o mandante), não pode compensar essa
dívida com a que o credor dele lhe dever
Modalidades de compensação: (art.376).
Art. 376. Obrigando-se por terceiro uma coisa (comodato e depósito), não podem ser
pessoa, não pode compensar essa dívida compensadas; no caso dos alimentos, a sua
com a que o credor dele lhe dever. natureza (alimentar) impede a operação
(art.373,II).
Þ Cessão de crédito – O devedor que, c) Bem impenhorável – A compensação de
notificado da cessão do crédito, a ela não se uma dívida de coisa impenhorável levaria à
opõe, não pode opor a compensação (que alienabilidade, frustrando a garantia (art.
faria ao cedente) ao cessionário (art.377). 373,III).
d) Direito de terceiro – A compensação
b) Liquidez das dívidas – Dívidas com não pode ser feita se acarretar prejuízo a
montante determinado: certa quanto à direito de terceiro (art.380).
existência (an debeatur) e determinada Þ Ratio – Se, intimado da penhora, não
quanto ao objeto (quantum debeatur). deve o devedor pagar ao credor (art.312),
c) Vencimento da prestação – Se somente também não pode opor compensação ao
a dívida vencida é exigível, somente ela exequente
pode ser compensada.
d) Fungibilidade dos débitos – As dívidas Art. 373. A diferença de causa nas dívidas
(prestações) devem ser homogêneas não impede a compensação, exceto:
(fungíveis): mesma espécie, qualidade e I - se provier de esbulho, furto ou roubo;
quantidade (art.370). II - se uma se originar de comodato,
depósito ou alimentos;
Art. 370. Embora sejam do mesmo gênero III - se uma for de coisa não suscetível de
as coisas fungíveis, objeto das duas penhora.
prestações, não se compensarão, Art. 380. Não se admite a compensação em
verificando-se que diferem na qualidade, prejuízo de direito de terceiro. O devedor
quando especificada no contrato. que se torne credor do seu credor, depois de
penhorado o crédito deste, não pode opor
Compensação tributária ao exeqüente a compensação, de que contra
o próprio credor disporia.
Deve ser feita em sintonia com as normas Art. 312. Se o devedor pagar ao credor,
fiscais, entre créditos tributários com apesar de intimado da penhora feita sobre o
créditos líquidos e certos, vencidos ou crédito, ou da impugnação a ele oposta por
vincendos, do sujeito passivo contra a terceiros, o pagamento não valerá contra
Fazenda Pública (art.170 – CTN). estes, que poderão constranger o devedor a
Þ Tributo contestado – Somente pode ser pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o
compensado depois do trânsito da sentença regresso contra o credor.
em julgado (art.170 – A/CTN).
16. Renúncia à compensação – As partes
Dívidas não compensáveis podem afastar a compensação, por mútuo
acordo ou unilateralmente, por renúncia
A diferença de causa não impede a prévia de uma delas (art. 375).
compensação, exceto nos seguintes casos
(art.373): Art. 375. Não haverá compensação quando
a) Causa ilícita – “Dívidas” provenientes as partes, por mútuo acordo, a excluírem,
de esbulho, furto ou roubo não podem ser ou no caso de renúncia prévia de uma delas.
objeto de compensação (art.373,I). Art. 376. Obrigando-se por terceiro uma
b) Comodato, depósito e alimentos – pessoa, não pode compensar essa dívida
Tendo as dívidas por objeto a devolução da com a que o credor dele lhe dever.
Art. 377. O devedor que, notificado, nada reunir neste (fiduciário) as posições de
opõe à cessão que o credor faz a terceiros credor e devedor, que se restabelecem com
dos seus direitos, não pode opor ao a passagem dos bens ao fideicomissário
cessionário a compensação, que antes da (art.1.951).
cessão teria podido opor ao cedente. Se, Þ Renúncia à herança – Aberta a
porém, a cessão lhe não tiver sido sucessão, a herança transmite-se, desde
notificada, poderá opor ao cessionário logo, aos herdeiros legítimos e
compensação do crédito que antes tinha testamentários (art.1.784). Se um dos
contra o cedente. herdeiros era devedor do de cujus, opera-se
a confusão, na exata proporção da dívida,
que cessa em virtude da renúncia
(abdicativa) à herança por parte deste.
CONFUSÃO E REMISSÃO b) Ineficácia da relação jurídica – A
anulação do testamento que conferiu
direitos sucessórios (legado ou herança) ao
devedor.
Þ Justificativa técnica – Dá-se, em
1. Extinção das obrigações sem verdade, a neutralização ou paralisação do
pagamento – Dá-se a liberação do devedor, direito creditório. A pós-eficacização da
mas não ocorre o pagamento, direta ou relação obrigacional, em face da separação
indiretamente (pagamentos especiais!): das posições de credor e devedor.
confusão e remissão.
5. Consolidação – No campo dos direitos
2. Confusão – Reunião, em uma única reais (a confusão não é exclusiva do direito
pessoa, e na mesma relação jurídica, das das obrigações), as situações jurídicas de
qualidades (situações jurídicas) de credor e confusão dever ser chamadas de
devedor. consolidação.
Þ Ninguém pode ser credor de si mesmo.
Confusão (própria) total ou parcial a) Usufruto – Morto o usufrutuário,
(imprópria). transfere-se (retorna) o direito real (uso e
gozo do bem) ao nu-proprietário, que
3. Casuística da confusão – Herança: o recobra (consolida-se) a plenitude da
devedor se torna herdeiro do credor; propriedade (art.1.410, I).
legado: o devedor é feito legatário pelo b) Servidão – O dono do prédio serviente
credor legante; cessão de crédito: o adquire o domínio do prédio dominante e
cessionário é sucedido pelo devedor cedido vice-versa (art.1.389,I). Penhor (art.
etc. 1.436,IV).

4. Extinção da confusão – Cessada 6. Confusão e interesse de terceiros:


confusão, fica restabelecida a obrigação
anterior com todos os seus complementos a) Obrigações solidárias – A confusão,
(acessórios). envolvendo a pessoa do credor ou do
devedor solidário, extingue o crédito ou a
a) Transitoriedade da causa – Cessando a dívida apenas em proporção, subsistindo
causa transitória da confusão, restaura-se a quanto ao mais a solidariedade (art.383).
obrigação (dívida) integralmente.
Þ Fideicomisso – Se o fideicomitente é b) Obrigações indivisíveis – Havendo
credor do fiduciário, a morte daquele faz confusão na obrigação indivisível, quanto a
um dos credores, a extinção, da mesma remitir inferida de forma indireta, em razão
forma, somente se dá na mesma proporção de uma conduta incompatível com o
(art.262, parágrafo único). exercício do poder de exigir.
Þ Entrega voluntária do título ao devedor
7. Remissão – Ato de liberalidade pelo qual (art.386) e a restituição voluntária do objeto
o credor dispensa (perdoa) o devedor do empenhado (art.387).
pagamento da dívida (art.385).
Þ Remissão e remição – O termo remissão 12. Efeitos da remissão:
(remitir = perdoar, indultar), como perdão,
não deve ser confundido com remição a) Efeito comum – Equivalendo a um
(remir = libertar, resgatar), entendido como “pagamento” (extinção da obrigação sem
o resgate da dívida (art. 1.481, § 2º - CC; e pagamento), a remissão, em regra (art.387),
arts. 651 e 787 – 790/CPC). elimina a obrigação principal e as
8. Requisitos da remissão: obrigações acessórias.
b) Remissão e solidariedade – Na
a) Capacidade de alienar – Como a solidariedade passiva, a remissão concedida
remissão corresponde a um ato de a um dos co-devedores extingue a dívida
disposição, exige-se a capacidade do credor apenas em proporção (arts. 277 e 388); na
remitente. solidariedade ativa, se concedida por um
b) Capacidade de adquirir – Toda pessoa dos credores, extingue inteiramente a
é capaz de direitos e deveres (art. 1º), mas, dívida (art.272).
como a remissão tem caráter contratual c) Remissão e indivisibilidade – Se um
(afastada a polêmica a respeito), a lei exige dos credores remitir a dívida, os demais
a capacidade de consentir do devedor somente poderão cobrá-la descontando a
remitido (art.386). quota do credor remitente (art. 262).

9. Remissão e renúncia – A renúncia é


unilateral e pode ter por objeto direitos sem COMPROMISSO6
patrimonialidade; a remissão é
convencional, opera sobre os direitos de Conceito
crédito e depende de aceitação, expressa ou É o acordo/contrato pelo qual as partes
tácita. (Recusa e pagamento em convencionam que uma pendência [litígio
consignação.) judicial ou direito controvertido] existente
entre elas será submetida à decisão de
10. Remissão e doação – A remissão é árbitros, comprometendo-se a aceitá-la.
sempre sinalagmática (bilateral) e nem Litigio judicial pode estar em processo
sempre contém o animus donandi, que é judicial ou não
imprescindível na doação.
Significação jurídica
11. Formas de remissão: O compromisso faz uso do mecanismo
alternativo [em relação à jurisdição oficial
a) Remissão expressa – Dá-se por do Estado] da arbitragem na solução de
manifestação formal – explícita, conflitos privados.
inconfundível – do credor (escrito público 6
- O compromisso é disciplinado pelo CC/02
ou particular), no sentido de que abdica da como contrato, diferentemente do que
cobrança da dívida. ocorria com o CC/16, que o colocava no título
b) Remissão tácita – Aquela que resulta de dos efeitos das obrigações, mas a matéria,
por ora, continua a ser estudada na disciplina
fatos concludentes, sendo a vontade de “direito das obrigações”.
Sistema brasileiro Vantagens do juízo arbitral:
O Código Civil alude ao compromisso a) Celeridade – Evita a utilização da
(arts.851 – 853), mas remete a matéria para “máquina” judiciária, cara e demorada, e
a lei especial – Lei nº 9.307, de elimina os formalismos inúteis e
23/09/1996, com alterações da Lei 13.129, desnecessários.
de 26/05/2015. b) Barateamento – A supressão de
formalismos reduz os custos e apressa a
Art. 851. É admitido compromisso, judicial solução da contenda: seis meses, no
ou extrajudicial, para resolver litígios entre máximo (art.23). Eficácia do mecanismo
pessoas que podem contratar. (pouca utilização).
Art. 852. É vedado compromisso para
solução de questões de estado, de direito Art. 23. A sentença arbitral será proferida
pessoal de família e de outras que não no prazo estipulado pelas partes. Nada
tenham caráter estritamente tendo sido convencionado, o prazo para a
patrimonial. apresentação da sentença é de seis meses,
Art. 853. Admite-se nos contratos a contado da instituição da arbitragem ou da
cláusula compromissória, para resolver substituição do árbitro.
divergências mediante juízo arbitral, na
forma estabelecida em lei especial. Cláusula compromissória e compromisso

Campo de localização Os dois institutos estão afetados à mesma


Discute-se se a matéria é de direito material finalidade, mas têm feições jurídicas
(civil) ou de direito processual. distintas:
a) Orientação tradicional – O CC/16
punha o compromisso [acordo entre as Cláusula compromissória
partes] como um modo extintivo das
obrigações [direito material, portanto], mas, Cláusula inserida num contrato, pela qual as
em verdade, o juízo arbitral, como a forma partes remetem (prevêem) a solução de
de realizar a composição do conflito, era divergências para o juízo arbitral
matéria de direito processual. (art.853/CC e Lei nº 9.307/96 – art. 4º).
— O Código Civil/2002 passou a regular a
matéria no campo dos contratos (solução Art. 4º A cláusula compromissória é a
mais cientifica), para resolver litígios entre convenção através da qual as partes em um
pessoas que podem contratar (arts. 851 – contrato comprometem-se a submeter à
853). arbitragem os litígios que possam vir a
b) Orientação atual – A Lei nº 9.307/96, surgir, relativamente a tal contrato.
com as alterações da Lei 13.129/2015, § 1º A cláusula compromissória deve ser
regula a parte de direito material – a estipulada por escrito, podendo estar inserta
convenção de arbitragem (o atual no próprio contrato ou em documento
compromisso) – e a forma de realização da apartado que a ele se refira.
arbitragem, tratando, portanto, de normas § 2º Nos contratos de adesão, a cláusula
mistas. compromissória só terá eficácia se o
c) Código Civil – Mantém a sistemática, aderente tomar a iniciativa de instituir a
pois regula o compromisso, como acima arbitragem ou concordar, expressamente,
conceituado [direito material contratual], e com a sua instituição, desde que por escrito
remete a matéria do juízo arbitral para a lei em documento anexo ou em negrito, com a
especial, acima mencionada. assinatura ou visto especialmente para essa
cláusula.
contrato que contenha a cláusula
a) Objeto – Questões patrimoniais de compromissória
caráter privado [direitos patrimoniais
disponíveis], não envolvendo questões de d) Obrigatoriedade – A cláusula
estado e de direito de família (art.852/CC e compromissória obriga as partes, podendo o
1º - Lei). interessado, havendo recusa, chamar o
Art. 1º As pessoas capazes de contratar outro contratante a juízo para firmar o
poderão valer-se da arbitragem para dirimir compromisso arbitral (art.6º, parágrafo
litígios relativos a direitos patrimoniais único).
disponíveis.
b) Administração Pública — A Lei Art. 6º Não havendo acordo prévio sobre a
13.129/2015 admitiu que a administração forma de instituir a arbitragem, a parte
pública, direta e indireta poderá valer-se da interessada manifestará à outra parte sua
arbitragem (de direito) para dirimir intenção de dar início à arbitragem, por via
conflitos relativos a direitos patrimoniais postal ou por outro meio qualquer de
disponíveis, respeitado o principio da comunicação, mediante comprovação de
publicidade (Lei 9.307/1966 – art. 1º, § 1º e recebimento, convocando-a para, em dia,
art. 2º, § 3º). hora e local certos, firmar o compromisso
arbitral.
§ 1o A administração pública direta e Parágrafo único. Não comparecendo a parte
indireta poderá utilizar-se da arbitragem convocada ou, comparecendo, recusar-se a
para dirimir conflitos relativos a direitos firmar o compromisso arbitral, poderá a
patrimoniais disponíveis.    outra parte propor a demanda de que trata o
§ 2o A autoridade ou o órgão competente da art. 7º desta Lei, perante o órgão do Poder
administração pública direta para a Judiciário a que, originariamente, tocaria o
celebração de convenção de arbitragem é a julgamento da causa.
mesma para a realização de acordos ou
transações.   e) Contrato de adesão – A eficácia da
Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito cláusula compromissória depende da
ou de eqüidade, a critério das partes. iniciativa do aderente; ou da sua
§ 3o A arbitragem que envolva a concordância por escrito, em documento
administração pública será sempre de anexo ou em negrito, com assinatura ou
direito e respeitará o princípio da visto específico para a cláusula (art. 4º, §
publicidade.           2º).
c) Forma – Cláusula – “pactum de
compromittendo” –, autônoma no ajuste Compromisso
(art.8º), devendo ser escrita, no contrato ou
em outro documento (art.4º, § 1º). Convenção pela qual as partes, em
cumprimento de cláusula compromissória,
Art. 8º A cláusula compromissória é ou sem ela, submetem a solução do litígio
autônoma em relação ao contrato em que ao juízo arbitral (arbitragem – art. 9º). A lei
estiver inserta, de tal sorte que a nulidade o chama de compromisso arbitral.
deste não implica, necessariamente, a
nulidade da cláusula compromissória. Art. 9º O compromisso arbitral é a
Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir convenção através da qual as partes
de ofício, ou por provocação das partes, as submetem um litígio à arbitragem de uma
questões acerca da existência, validade e ou mais pessoas, podendo ser judicial ou
eficácia da convenção de arbitragem e do extrajudicial.
§ 1º O compromisso arbitral judicial § 2º Quando as partes nomearem árbitros
celebrar-se-á por termo nos autos, perante o em número par, estes estão autorizados,
juízo ou tribunal, onde tem curso a desde logo, a nomear mais um árbitro. Não
demanda. havendo acordo, requererão as partes ao
§ 2º O compromisso arbitral extrajudicial órgão do Poder Judiciário a que tocaria,
será celebrado por escrito particular, originariamente, o julgamento da causa a
assinado por duas testemunhas, ou por nomeação do árbitro, aplicável, no que
instrumento público. couber, o procedimento previsto no art. 7º
desta Lei.
§ 3º As partes poderão, de comum acordo,
Modalidades do compromisso estabelecer o processo de escolha dos
árbitros, ou adotar as regras de um órgão
a) Compromisso judicial – Quando a arbitral institucional ou entidade
causa já está ajuizada, devendo ser especializada.
efetivado por termo nos autos do processo § 4º Sendo nomeados vários árbitros, estes,
(art.9º,§1º) ou de forma substitutiva, por por maioria, elegerão o presidente do
sentença, se houver recusa (art.7º, § 7º). tribunal arbitral. Não havendo consenso,
Cessa a competência da justiça togada. será designado presidente o mais idoso.
§ 4o As partes, de comum acordo, poderão
Art. 7º Existindo cláusula compromissória e afastar a aplicação de dispositivo do
havendo resistência quanto à instituição da regulamento do órgão arbitral institucional
arbitragem, poderá a parte interessada ou entidade especializada que limite a
requerer a citação da outra parte para escolha do árbitro único, coárbitro ou
comparecer em juízo a fim de lavrar-se o presidente do tribunal à respectiva lista de
compromisso, designando o juiz audiência árbitros, autorizado o controle da escolha
especial para tal fim. pelos órgãos competentes da instituição,
§ 7º A sentença que julgar procedente o sendo que, nos casos de impasse e
pedido valerá como compromisso arbitral. arbitragem multiparte, deverá ser observado
o que dispuser o regulamento aplicável.   
b) Compromisso extrajudicial – Quando a § 5º O árbitro ou o presidente do tribunal
divergência ainda não evoluiu para a ação designará, se julgar conveniente, um
judicial, devendo ser efetivado mediante secretário, que poderá ser um dos árbitros.
escritura pública ou por escrito particular § 6º No desempenho de sua função, o
(art.9º, § 2º). árbitro deverá proceder com
imparcialidade, independência,
Escolha dos árbitros: competência, diligência e discrição.
a) Sistemática – São escolhidos – um ou § 7º Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral
mais – livremente pelas partes, entre determinar às partes o adiantamento de
pessoas da sua confiança, sempre em verbas para despesas e diligências que
número impar. Se escolhidos em número julgar necessárias.
par, nomearão eles mais um (art. 13 e §§).  

Art. 13. Pode ser árbitro qualquer pessoa b) Regime legal – Os árbitros são juízes de
capaz e que tenha a confiança das partes. direito, porque formulam o comando
§ 1º As partes nomearão um ou mais concreto da lei, expresso na sentença; e de
árbitros, sempre em número ímpar, fato, porque investidos pelas partes [não
podendo nomear, também, os respectivos pelo Estado] e porque pesquisam, apuram e
suplentes.
avaliam fatos (art.18). Autorização para uso árbitros. Caberá ao presidente do tribunal
do Direito ou da equidade (arts. 2º e 11,II). arbitral, na hipótese de um ou alguns dos
árbitros não poder ou não querer assinar a
Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito, sentença, certificar tal fato.
e a sentença que proferir não fica sujeita a Art. 32. É nula a sentença arbitral se: III -
recurso ou a homologação pelo Poder não contiver os requisitos do art. 26 desta
Judiciário. Lei;
Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito
ou de eqüidade, a critério das partes. Þ Título executivo – A execução coativa
Art. 11. Poderá, ainda, o compromisso da sentença somente pode ser feita perante
arbitral conter: II - a autorização para que o o Poder Judiciário, constituindo título
árbitro ou os árbitros julguem por eqüidade, executivo judicial (art. 31 – Lei 9.307/1996
se assim for convencionado pelas partes; e art.515, VII – CPC).

c) Decisão proferida – A sentença, escrita Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as
(art.24), proferida por voto de maioria partes e seus sucessores, os mesmos efeitos
(art.24, § 1º), não está sujeita a recurso da sentença proferida pelos órgãos do Poder
(judicial) no seu comando decisório, e Judiciário e, sendo condenatória, constitui
nem a homologação pelo Judiciário título executivo.
(art.18). Art. 515. São títulos executivos judiciais,
cujo cumprimento dar-se-á de acordo com
Art. 24. A decisão do árbitro ou dos árbitros os artigos previstos neste Título: VII - a
será expressa em documento escrito. sentença arbitral
§ 1º Quando forem vários os árbitros, a
decisão será tomada por maioria. Se não Þ Medidas coercitivas: os árbitros não
houver acordo majoritário, prevalecerá o poderão tomar medidas coercitivas ou
voto do presidente do tribunal arbitral. cautelares, que, se necessárias, deverão ser
solicitadas ao órgão do Poder Judiciário
Þ Requisitos – Deve conter relatório, (art.22, §§ 2º e 4º).
fundamentação e dispositivo (art.458 – rt. 22. Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral
CPC), sob pena de nulidade (arts. 26 e tomar o depoimento das partes, ouvir
32,III). testemunhas e determinar a realização de
perícias ou outras provas que julgar
Art. 26. São requisitos obrigatórios da necessárias, mediante requerimento das
sentença arbitral: partes ou de ofício.
I - o relatório, que conterá os nomes das § 2º Em caso de desatendimento, sem justa
partes e um resumo do litígio; causa, da convocação para prestar
II - os fundamentos da decisão, onde serão depoimento pessoal, o árbitro ou o tribunal
analisadas as questões de fato e de direito, arbitral levará em consideração o
mencionando-se, expressamente, se os comportamento da parte faltosa, ao proferir
árbitros julgaram por eqüidade; sua sentença; se a ausência for de
III - o dispositivo, em que os árbitros testemunha, nas mesmas circunstâncias,
resolverão as questões que lhes forem poderá o árbitro ou o presidente do tribunal
submetidas e estabelecerão o prazo para o arbitral requerer à autoridade judiciária que
cumprimento da decisão, se for o caso; e conduza a testemunha renitente,
IV - a data e o lugar em que foi proferida. comprovando a existência da convenção de
Parágrafo único. A sentença arbitral será arbitragem.
assinada pelo árbitro ou por todos os
Procedimento no juízo arbitral Muitas vozes têm apontado
Será estabelecido pelas partes na convenção inconstitucionalidades na Lei nº 9.307/96:
de arbitragem, que poderá se reportar às
regras de uma Câmara de Arbitragem, ou a) Jurisdição paralela – Adotando o Brasil
deixar a matéria a critério dos árbitros um sistema de jurisdição única (ou uma), a
(art.21, §1º). arbitragem (arts.18 e 21) estaria usurpando
do Poder Judiciário a prerrogativa de dizer
Art. 21. A arbitragem obedecerá ao o Direito em definitivo.
procedimento estabelecido pelas partes na
convenção de arbitragem, que poderá b) Inafastabilidade do controle judicial –
reportar-se às regras de um órgão arbitral A CF diz que “a lei não excluirá da
institucional ou entidade especializada, apreciação do Poder Judiciário lesão ou
facultando-se, ainda, às partes delegar ao ameaça a direito” (art. 5º, inciso XXXV). O
princípio da “ubiqüidade” da Justiça.
próprio árbitro, ou ao tribunal arbitral,
regular o procedimento. § 1º Não havendo
Posição predominante
estipulação acerca do procedimento, caberá
Não têm prevalecido as alegações de
ao árbitro ou ao tribunal arbitral discipliná-
inconstitucionalidade, tal como se dera no
lo.
modelo anterior.

Þ Princípios processuais – São


a) Monopólio da jurisdição – O Poder
obrigatórios os princípios do contraditório,
Judiciário tem o monopólio da jurisdição
da igualdade das partes (isonomia), da
[jurisdicional], mas não o monopólio da
imparcialidade do árbitro e do livre
realização da Justiça, que pode ser
convencimento (art. 21, § 2º).
alcançada por outros meios, segundo os
interesses das partes.
§ 2º Serão, sempre, respeitados no
b) Direitos disponíveis – Ressalvadas as
procedimento arbitral os princípios do
normas de ordem pública, a garantia que a
contraditório, da igualdade das partes, da
CF oferece aos cidadãos pode ser afastada
imparcialidade do árbitro e de seu livre
pela autonomia privada das partes em
convencimento.
matéria de direitos patrimoniais
disponíveis.
Þ Carta arbitral — O árbitro ou tribunal
poderá expedir carta arbitral para que o Não exclusão do controle
órgão do Poder Judiciário nacional pratique
ou determine o cumprimento, na sua área A lei não afasta o controle judicial de
territorial, de ato solicitado pelo árbitro (art. eventuais lesões a direitos das partes no
22 – C) juízo arbitral:
a) Nulidades da sentença – A sentença
Art. 22-C.  O árbitro ou o tribunal arbitral arbitral pode ser anulada no Judiciário por
poderá expedir carta arbitral para que o vícios formais (arts. 32 – 33).
órgão jurisdicional nacional pratique ou
determine o cumprimento, na área de sua
Art. 32. É nula a sentença arbitral se: I - for
competência territorial, de ato solicitado
nula a convenção de arbitragem; II -
pelo árbitro.      
emanou de quem não podia ser árbitro; III -
não contiver os requisitos do art. 26 desta
Constitucionalidade do juízo arbitral
Lei; IV - for proferida fora dos limites da
convenção de arbitragem; VI - comprovado
que foi proferida por prevaricação, especial para tal fim. § 7º A sentença que
concussão ou corrupção passiva; VII - julgar procedente o pedido valerá como
proferida fora do prazo, respeitado o compromisso arbitral.
disposto no art. 12, inciso III, desta Lei; e
VIII - forem desrespeitados os princípios de f) Direitos indisponíveis – O procedimento
que trata o art. 21, § 2º, desta Lei. ficará suspenso se surgir controvérsia a
Art. 33.  A parte interessada poderá pleitear respeito de direitos indisponíveis, até que
ao órgão do Poder Judiciário competente a haja o pronunciamento do Judiciário.
declaração de nulidade da sentença arbitral,
nos casos previstos nesta Lei.      g) Sentença estrangeira – A sentença
     arbitral estrangeira somente terá eficácia no
b) Embargos do devedor – Igual controle Brasil depois de homologada pelo STJ (CF
pode ser feito nos embargos do devedor, – art.105,I, “i”). O art.35 da Lei nº 9.307/96
cuja sentença poderá anular a decisão (“Para ser reconhecida ou executada no
arbitral (art.33, § 3º). Brasil, sentença arbitral estrangeira está
sujeita, unicamente, à homologação do
Art. 33.  A parte interessada poderá pleitear Supremo Tribunal Federal.”) foi derrogado
ao órgão do Poder Judiciário competente a em parte pela EC nº 45/2004.
declaração de nulidade da sentença arbitral,
nos casos previstos nesta Lei. § 3o A Art. 35.  Para ser reconhecida ou executada
decretação da nulidade da sentença arbitral no Brasil, a sentença arbitral estrangeira
também poderá ser requerida na está sujeita, unicamente, à homologação do
impugnação ao cumprimento da sentença, Superior Tribunal de Justiça.
nos termos dos arts. 525 e seguintes do
Código de Processo Civil, se houver Paulo lobo- posição:
execução judicial.    
Posição do STF
c) Execução judicial – A sentença arbitral,
mesmo dispensando homologação, somente O Supremo Tribunal Federal, julgando
pode ser executada perante o Poder agravo regimental em sentença estrangeira
Judiciário. [SE – 5206], em 12/12/2001, deu pela
constitucionalidade da Lei nº 9.307/96. (Cf.
d) Medidas coercitivas – Eventuais informativo nº 254.)
medidas coercitivas e cautelares, se
necessárias, imprescindem da atuação do
Judiciário (art. 22, § 4º). Livro programa de responsabilidade civil

e) Resistência ao compromisso – Havendo RESPONSABILIDADE CIVIL


recusa no cumprimento do compromisso, a (NOÇÕES GERAIS) –
sentença do juiz valerá como tal, a pedido INADIMPLEMENTO DAS
da outra parte (art.7º,§ 7º). OBRIGAÇÕES –
RESPONSABILIDADE CONTRATUAL
Art. 7º Existindo cláusula compromissória e – RESPONSABILIDADE
havendo resistência quanto à instituição da EXTRACONTRATUAL– CLÁUSULA
arbitragem, poderá a parte interessada PENAL
requerer a citação da outra parte para
comparecer em juízo a fim de lavrar-se o
compromisso, designando o juiz audiência
Responsabilidade civil: Aquela que impõe dia em que executou o ato de que se devia
o dever de reparar o prejuízo material abster.
causado. A pessoa é civilmente responsável
quando está sujeita a reparar o dano Responsabilidade extra-contratual
causado a outrem. Danos matérias e danos Tem origem na ofensa a um direito
morais. subjetivo sem que entre o ofensor e a vítima
Þ a) Importância do tema na atualidade preexista uma relação jurídica (ato ilícito),
– O avanço tecnológico e o progresso traduzindo um inadimplemento
material, com freqüentes perigos à normativo. Sua fonte é a inobservância da
integridade da vida humana. lei, tendo o lesante o dever de indenizar a
Þ b) Evolução – A vingança coletiva (um vítima, cabendo a esta a prova da culpa do
grupo contra o outro), a vingança individual agente.
(vingança privada) e a responsabilidade Þ a) Base legal – Seu fundamento legal é o
pessoal (nexum). A Lex Poetelia Papiria art. 927 – CC (“Aquele que, por ato ilícito
(ano 326 antes de Cristo). (arts.186 e 187), causar dano a outrem, fica
Þ c) Conceituação – “Conjunto de regras obrigado a repará-lo”), pois as partes não
que obrigam o autor de um dano causado a estão ligadas antecipadamente por uma
outrem a reparar este dano, oferecendo à relação contratual.
vítima uma compensação.”
Þ d) Fatores causais – Repara-se o dano Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts.
causado a terceiros por ato próprio (1), 186 e 187), causar dano a outrem, fica
por ato de pessoa por quem se obrigado a repará-lo.
responsabiliza (2), por alguma coisa que Parágrafo único. Haverá obrigação de
pertença ao agente (3) e por disposição reparar o dano, independentemente de
de lei (4). culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente
Espécies de responsabilidade civil desenvolvida pelo autor do dano implicar,
por sua natureza, risco para os direitos de
No que concerne ao fato gerador, a outrem.
responsabilidade pode ser:
Responsabilidade contratual Responsabilidade contratual
Tem origem no descumprimento de um O efeito imediato (e substancial) da
contrato, unilateral ou bilateral, total ou obrigação é o seu exato cumprimento: no
parcial, propiciando o pagamento de perdas tempo, no lugar e na forma devidos. É
e danos. assentada na noção de culpa [dolo ou culpa
Þ a) Base legal – Representa uma violação em sentido estrito] e deve apresentar certos
de uma obrigação pré-existente (o contrato) requisitos:
e tem como pressuposto a culpa (arts.389 – Þ a) Obrigação violada – As perdas e
390). danos pressupõem uma obrigação
[preexistente] violada [o contrato] ou, no
Art. 389. Não cumprida a obrigação, descumprimento fortuito, a sua assunção
responde o devedor por perdas e danos, pelo devedor (art.393), ou o estado de
mais juros e atualização monetária segundo mora (art.399).
índices oficiais regularmente estabelecidos, Art. 393. O devedor não responde pelos
e honorários de advogado. prejuízos resultantes de caso fortuito ou
Art. 390. Nas obrigações negativas o força maior, se expressamente não se
devedor é havido por inadimplente desde o houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força Ou inexecução definitiva [total ou parcial],
maior verifica-se no fato necessário, cujos quando o devedor não cumpre a obrigação
efeitos não era possível evitar ou impedir. no tempo, no lugar e na forma contratados;
Art. 399. O devedor em mora responde pela ou, mesmo podendo cumpri-la com
impossibilidade da prestação, embora essa imperfeição, ela se torna inútil para o
impossibilidade resulte de caso fortuito ou credor.
de força maior, se estes ocorrerem durante Þ a) Diferenciação – O inadimplemento
o atraso; salvo se provar isenção de culpa, [em sentido amplo] envolve também a mora
ou que o dano sobreviria ainda quando a [retardamento culposo no pagamento] e
obrigação fosse oportunamente ambos podem propiciar o pagamento de
desempenhada. indenização (arts. 389 e 395).
Art. 389. Não cumprida a obrigação,
Þ b) Nexo de causalidade – Deve haver responde o devedor por perdas e danos,
uma relação de causa e efeito [causalidade mais juros e atualização monetária segundo
imediata] entre o inadimplemento e a índices oficiais regularmente estabelecidos,
redução patrimonial do devedor, excluindo- e honorários de advogado.
se os danos indiretos (art.403). Art. 395. Responde o devedor pelos
Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de prejuízos a que sua mora der causa, mais
dolo do devedor, as perdas e danos só juros, atualização dos valores monetários
incluem os prejuízos efetivos e os lucros segundo índices oficiais regularmente
cessantes por efeito dela direto e imediato, estabelecidos, e honorários de advogado.
sem prejuízo do disposto na lei processual. Þ b) Conseqüências – O inadimplemento
dá ensejo a uma indenização substitutiva; a
Þ c) Culpa do devedor – O mora, a um acréscimo [plus] no objeto da
descumprimento deve ser imputado ao obrigação, a uma indenização
devedor, como um erro de conduta expresso complementar, sem prejuízo do seu
em dolo, culpa ou mora (art. 396). cumprimento.
Art. 396. Não havendo fato ou omissão Þ c) Formas de indenização – “In
imputável ao devedor, não incorre este em natura”, nas obrigações genéricas [o
mora. gênero não perece] e nas obrigações de
fazer não personalíssimas; ou substitutiva,
Þ d) Prejuízo do credor – Deve haver buscando o credor a recomposição do seu
ofensa a um bem jurídico do credor, um patrimônio [equivalente em dinheiro].
dano material ou moral. Não havendo, não Þ d) Obrigação de indenizar –
há o que indenizar. Conseqüência do inadimplemento, leva à
composição do dano causado
Inadimplemento [modalidades] [responsabilidade civil] e funda-se na noção
O inadimplemento das obrigações, campo de culpa em sentido lato = violação do
da responsabilidade civil contratual, pode dever jurídico de cumprimento da
ser: obrigação.
Inadimplemento transitório
Ou inexecução transitória, ocorre uma Inadimplemento culposo (ou voluntário)
imperfeição no adimplemento, sem que a Decorre de ato voluntário imputável ao
prestação se torne inútil ao interesse do devedor, dolosa ou culposamente.
credor [v.g., um aluguel pago fora do
prazo]. Þ a) Noção de culpa – Omissão do devedor
Inadimplemento absoluto [violação do dever de diligência] que se
abstém do que deveria fazer, ou o faz com suplementar, modificando
imperfeição. quantitativamente a obrigação.
Þ b) Dolo e culpa – A inexecução
voluntária envolve o dolo [o devedor pode, Inadimplemento fortuito
mas não cumpre o devido] e a culpa, em
sentido estrito. Decorre de fato estranho e superior à
Þ c) Contratos benéficos (unilaterais) – O vontade do devedor, extinguindo-se a
contraente que tem proveito responde por obrigação sem indenização.
simples culpa, enquanto o não favorecido Þ a) Conceito lógico [de fortuitidade] – A
responde somente por dolo (art.392). impossibilidade somente ocorre quando a
Art. 392. Nos contratos benéficos, responde obrigação não pode ser cumprida de
por simples culpa o contratante, a quem o nenhum modo, mesmo com sacrifícios
contrato aproveite, e por dolo aquele a intoleráveis para o devedor, com a sua ruína
quem não favoreça. Nos contratos onerosos, pessoal.
responde cada uma das partes por culpa, Þ b) Conceito jurídico [de fortuitidade] –
salvo as exceções previstas em lei. A impossibilidade ocorre quando o
cumprimento da obrigação exige esforço
Perdas e danos extraordinário e injustificável, não devendo
Não cumprida a obrigação, ou cumprida de o dever de prestar ir além de um limite
forma imperfeita [tempo, lugar e forma], razoável.
responde o devedor pelos prejuízos Þ c) Impossibilidade funcional – A
causados ao credor, chamados de perdas e impossibilidade deve ser funcional [ligada
danos (art.389 e 395). ao mecanismo da obrigação]: jurídica [a lei
Þ a) Extensão das perdas e danos – A proíbe a conduta], econômica [gasto
expressão, como sinônima de indenização, absurdo ou perda material intolerável] e
abarca a perda sofrida, ou dano positivo psíquica, levando a um risco pessoal
[“damnum emergens”] e o que se deixou excessivo.
razoavelmente de ganhar (art.402), os
chamados lucros cessantes [lucros Exclusão de responsabilidade
cessantes = “lucrum cessans”] ou dano O inadimplemento fortuito acarreta a
negativo. extinção da obrigação, sem
Art. 402. Salvo as exceções expressamente responsabilidade por perdas e danos
previstas em lei, as perdas e danos devidas (art.393).
ao credor abrangem, além do que ele Art. 393. O devedor não responde pelos
efetivamente perdeu, o que razoavelmente prejuízos resultantes de caso fortuito ou
deixou de lucrar. força maior, se expressamente não se
Þ b) Perdas e interesses – Costuma-se houver por eles responsabilizado.
também usar a expressão “perdas e Parágrafo único. O caso fortuito
interesses”, do francês “dommages- (imprevisibilidade) ou de força maior
intérêts” [prejuízos e lucros perdidos]. (irresistibilidade) verifica-se no fato
Þ c) Mutação objetiva da obrigação – As necessário, cujos efeitos não era possível
perdas e danos, no inadimplemento evitar ou impedir.
absoluto, consubstanciam uma mutação
objetiva da obrigação, pois há uma Þ a) Vetores – A exoneração da
indenização substitutiva [seu equivalente responsabilidade decorre de caso fortuito ou
em dinheiro = “id quod interest”]. força maior (art.393) e de ausência de culpa
Þ d) Indenização complementar – Na (art.392).
mora, implicam uma indenização
Þ b) Exceções – O devedor responde pela Ausência de culpa [o devedor não pode
obrigação, mesmo nas hipóteses de caso facilitar ou concorrer para o evento] e
fortuito ou força maior, quando assim se inevitabilidade: fato intransponível e
obrigar (art.393) ou quando estiver em invencível, como força indomável.
mora (art.399). A prática do Þa) Casuística – A fortuitidade, como
substabelecimento proibido (art.667, § 1º). causa de exoneração de responsabilidade do
devedor, pode resultar de vários fatores:
Art. 399. O devedor em mora responde pela Þ b) Causas materiais – Acontecimentos
impossibilidade da prestação, embora essa da natureza, como terremoto, vulcões,
impossibilidade resulte de caso fortuito ou inundações, furacões, tempestades etc.
de força maior, se estes ocorrerem durante Þ c) Ação de terceiros – Ações ilícitas de
o atraso; salvo se provar isenção de culpa, terceiros, sem o concurso do devedor, como
ou que o dano sobreviria ainda quando a o roubo a mão armada, um incêndio
obrigação fosse oportunamente criminoso, movimento paredista etc.
desempenhada. Þ d) Fato da pessoa – O devedor, por uma
Art. 399. O devedor em mora responde pela crise de loucura, pode chegar a destruir a
impossibilidade da prestação, embora essa coisa a ser entregue.
impossibilidade resulte de caso fortuito ou Þ e) Ato de autoridade – A proibição de
de força maior, se estes ocorrerem durante importar ou exportar determinada
o atraso; salvo se provar isenção de culpa, mercadoria [“fato do príncipe”].
ou que o dano sobreviria ainda quando a
obrigação fosse oportunamente Responsabilidade extracontratual
desempenhada. Origina-se de uma ofensa a um direito
subjetivo sem que entre o ofensor e a vítima
Þ c) Casuística – O inadimplemento preexista uma relação jurídica (ato ilícito),
fortuito ocorre ordinariamente nas traduzindo um inadimplemento normativo.
obrigações de dar coisa certa; não nas Sua fonte é a inobservância da lei, tendo o
obrigações genéricas (art.246) e nas lesante o dever de indenizar a vítima,
obrigações de fazer não personalíssimas cabendo a esta a prova da culpa do agente.
(art.249). Þ a) Base legal – Seu fundamento legal é o
Caso fortuito e força maior art. 927 – CC (“Aquele que, por ato ilícito
[conceituação] (arts.186 e 187), causar dano a outrem, fica
Assim podem ser entendidos, ladeando obrigado a repará-lo”), pois as partes não
divergências doutrinárias: estão ligadas antecipadamente por uma
Þ a) Caso fortuito – Acontecimento, relação contratual.
natural ou humano, que não pode ser Þ b) Terminologia – Responsabilidade
previsto pelas partes. Nota peculiar: a delitual, extracontratual ou aquiliana, nome
imprevisibilidade. ligado à “Lex Aquilia”, votada por
Þ b) Força maior – Acontecimento, natural proposição do tribuno da plebe Aquílio.
ou humano, que não pode ser vencido,
mesmo previsível pelas partes. Nota Fundamento
peculiar: a irresistibilidade. A obrigação de indenizar está ligada
Þ c) Código Civil – Não fez distinção tradicionalmente à noção de culpa – teoria
teórica, tratando a ambos como o “fato da culpa, ou subjetiva –, como violação de
necessário cujos efeitos não era possível um dever jurídico, noção que, conquanto
evitar ou impedir” (art.393, parágrafo ainda aceita (art.186 – CC), modernamente
único). tem-se revelado insuficiente para as
Elementos configuradores
necessidades de segurança da vida por sua natureza, risco para os direitos de
moderna. outrem
Þ a) Presunção de culpa (ainda é Þ a) Sistemática – Aquele que lucra com
responsabilidade subjetiva) – Para dar uma atividade que gera riscos deve suportar
resposta a muitas solicitações da vida as conseqüências (risco-proveito):
moderna, a lei faz uso do processo técnico servidores públicos (art.37, § 6º - CF),
de presunção de culpa para explicar a acidentes do trabalho, transportes terrestres
imposição de responsabilidade e aéreos etc.
extracontratual. Þ b) Culpa “in vigilando” – É a expressão
Þ b) Sistemática – O autor prova apenas o clássica para a infração do dever de
dano e o nexo de causalidade (elo entre o vigilância e é imputada, objetivamente, a
dano e o fato gerador). O dano é indenizado quem tem legalmente esse dever, nos casos
por quem a ele se liga por um nexo de do art.932, I, II e IV. Os pais, tutores e
imputação (elo entre o dano e a pessoa por curadores responderão, mesmo que não
ele responsável), invertendo-se o ônus da tenham culpa (art. 933). Não mais se
prova: o demandado pode provar que a indaga, em face do novo CC, se agiram
culpa foi da vítima (arts. 936 e 937). com culpa “in vigilando.”

Art. 936. O dono, ou detentor, do animal Art. 932. São também responsáveis pela
ressarcirá o dano por este causado, se não reparação civil:
provar culpa da vítima ou força maior. I - os pais, pelos filhos menores que
Art. 937. O dono de edifício ou construção estiverem sob sua autoridade e em sua
responde pelos danos que resultarem de sua companhia;
ruína, se esta provier de falta de reparos, II - o tutor e o curador, pelos pupilos e
cuja necessidade fosse manifesta. curatelados, que se acharem nas mesmas
condições;
Þ c) Ressarcimento - Pode haver prova da IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas
culpa exclusiva da vítima e ressarcimento ou estabelecimentos onde se albergue por
por quem fez o pagamento (art. 934). dinheiro, mesmo para fins de educação,
pelos seus hóspedes, moradores e
Art. 934. Aquele que ressarcir o dano educandos;
causado por outrem pode reaver o que V - os que gratuitamente houverem
houver pago daquele por quem pagou, salvo participado nos produtos do crime, até a
se o causador do dano for descendente seu, concorrente quantia.
absoluta ou relativamente incapaz. Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I
a V do artigo antecedente, ainda que não
Responsabilidade sem culpa haja culpa de sua parte, responderão pelos
Em certos casos, a lei imputa a atos praticados pelos terceiros ali referidos.
responsabilidade civil independentemente
de culpa do agente. É a responsabilidade Þ c) Culpa in eligendo – É a expressão
objetiva, fundada somente no risco da clássica para a infração do dever de
atividade (arts.927, parágrafo único). O escolher bem, sendo atribuída,
risco toma o lugar da culpa. objetivamente, a quem escolheu mal (male
Parágrafo único. Haverá obrigação de electio), nos casos do art.932, III. Também
reparar o dano, independentemente de aqui não mais se indaga se os empregadores
culpa, nos casos especificados em lei, ou agiram com culpa “in eligendo.”
quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar,
III - o empregador ou comitente, por seus Þ b) Terminologia – É também chamada
empregados, serviçais e prepostos, no de multa convencional ou de pena
exercício do trabalho que lhes competir, ou convencional, como estabelece o art. 416.
em razão dele; 7.1. Espécies de cláusula penal – Em face
dos preceitos do Código Civil, há duas
Þ d) Fato da coisa – O ato ilícito se modalidades de cláusula penal:
manifesta através de uma coisa da qual o 7.1.1. Cláusula penal compensatória – É
agente tem a guarda ou o controle (arts. estabelecida para a hipótese de inexecução
936, 937 e 938). A responsabilidade deriva completa da obrigação, servindo como um
de fato imputável ao homem. A coisa como cálculo antecipado de perdas e danos
arma. (art.409).
Þ a) Finalidade histórica – Esta é a
Art. 937. O dono de edifício ou construção finalidade histórica do instituto, servindo à
responde pelos danos que resultarem de sua consecução de uma indenização substitutiva
ruína, se esta provier de falta de reparos, (qualitativamente diversa).
cuja necessidade fosse manifesta. Þ b) Benefício do credor – O credor,
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou firmado o inadimplemento, pode exigir o
parte dele, responde pelo dano proveniente pagamento da cláusula ou o cumprimento
das coisas que dele caírem ou forem da obrigação, se isso for juridicamente
lançadas em lugar indevido. possível. É, posta, portanto, a benefício do
credor (art. 410).
Þ d) Obrigação alternativa – A obrigação
Ilícito civil e ilícito penal torna-se alternativa em prol do credor; não
do devedor, que não pode recusar-se ao
O ilícito civil infringe uma norma de tutela cumprimento do contrato e preferir a
de interesse privado, não exigindo entrega do valor da pena convencional.
tipificação legal; o ilícito penal violada uma Þ c) Tríplice opção – Ao credor restam três
norma de defesa da sociedade e exige caminhos em face do inadimplemento:
tipificação. exigir o cumprimento da obrigação (1);
Þ a) Jurisdições independentes – A exigir o pagamento do valor da cláusula
responsabilidade civil é independente da penal (2); ou exigir o pagamento da
criminal, mas não se discute no cível o que indenização normal, abrindo mão da pena
já estiver definido no crime (art.935). convencional (3).
Þ b) Sentença penal – Faz coisa julgada no 7.1.2. Cláusula penal moratória – É
cível a sentença penal que reconhece estabelecida para a hipótese de inexecução
excludente de criminalidade (art.65 – CPP) de alguma cláusula especial do contrato, ou
7. Cláusula penal – Pacto acessório ao para o caso de mora no cumprimento da
contrato pelo qual as partes, de antemão, obrigação (art. 409).
estabelecem o valor da perdas e danos para Þ a) Função intimidativa – Serve de
a hipótese de inadimplemento. Trata-se, reforço no cumprimento da obrigação
portanto, de uma pré-liquidação de danos. principal, tendo uma função intimidativa:
Þ a) Forma – A cláusula penal pode ser um elemento compulsório que atua em prol
estabelecida no próprio contrato – uma da execução da obrigação.
cláusula nele inserida – ou em ato Þ b) Exigência cumulativa – Pode ser
autônomo, como um aditamento, desde que exigida cumulativamente com o
anterior à inexecução (art.409). cumprimento da obrigação principal, como
uma indenização complementar (art.411),
o que não pode ocorrer na cláusula
compensatória. Generalidades
Os pólos da relação jurídica podem ser
Diferenciação das cláusulas vistos e tratados juridicamente de forma
isolada (o poder de exigir = crédito ou o
Incumbe às partes, no contrato, estabelecer dever de prestar = débito) ou de forma
a modalidade de cláusula penal adotada. conjunta (crédito + débito).
Þ Dúvida – Na dúvida, observa-se o valor Transmissão das obrigações
estipulado como “multa”: se igual ou Essas posições obrigacionais podem ser
aproximado do valor da obrigação, tem-se a objeto de negócios jurídicos: cessão de
cláusula compensatória; se pequeno, crédito (circulação do pólo ativo), cessão
sensivelmente inferior, tem-se a cláusula de débito (circulação do pólo passivo =
moratória. assunção de dívida) e cessão de contrato
ou de posição contratual (circulação dos
Valor da cláusula penal dois pólos).
3. Cessão de crédito – O credor transfere a
Não pode ser superior ao da obrigação terceiro a sua posição (seus direitos) na
principal, pois a sua função é indenizar relação obrigacional simples,
danos (art. 412). independentemente do consentimento do
Þ a) Redução proporcional – O juiz pode devedor. O crédito e o seu valor econômico
mandar reduzir o valor, se excessivo em de mercado (ativo patrimonial).
vista do negócio, ou quando houver a) Partes – Cedente, aquele que cede
adimplemento parcial (art. 413). Não (“vende”) o seu crédito; cessionário, aquele
haverá redução se a parcela cumprida não que recebe (“compra”) o poder de exigir; e
for útil ao credor. cedido, aquele que tem o dever de prestar, o
Þ b) Irredutibilidade do ajuste – Mesmo devedor da relação jurídica.
que as partes estipulam a irredutibilidade, b) Função econômico-social – A cessão de
entende-se que o juiz pode mandar reduzir, crédito, em relação a direitos, tem função
pois a norma (art.413) é de ordem pública – (fim típico) semelhante à compra e venda
aquela que não pode ser derrogada pelas para os bens corpóreos. O crédito como
partes – na tendência de humanizar o uma promessa de pagamento futuro.
direito. 4. Histórico – A obrigação como vínculo
Þ c) Alegação de prejuízo – Ocorrido o pessoal (intransmissibilidade) no Direito
inadimplemento culposo, o devedor incorre Romano e seus segmentos históricos
de pleno direito (automaticamente) na evolutivos: delegação novatória, procuração
cláusula penal (art. 409), sem necessidade em causa própria e cessão de crédito.
de alegação de efetivo prejuízo pelo credor a) Delegação novatória – O devedor,
(art.416). concordando o credor, indica terceira
Þ d) Indenização complementar – Não é pessoa para resgatar a dívida (novação
permitida a exigência de indenização além subjetiva passiva por delegação – art.360,I).
do valor da cláusula (prejuízo maior), Dificuldades operacionais: a adesão do
exceto sem assim for convencionado, credor e a extinção da dívida anterior.
hipótese em que a cláusula será tida como b) Procuração em causa própria – Na
uma indenização mínima (art.416, procuração, o mandatário era dispensado de
parágrafo único). prestar contas ao mandante (“procuratio em
rem suam”). Código Civil (art. 685).
TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES c) Cessão de crédito – Como os
mecanismos ainda representavam exceções
à intransmissibilidade, o direito moderno
passou a admitir a cessão de crédito,
rompendo o vínculo pessoal da obrigação.

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