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É isso que nos acontece em relação a Deus. Como o ser de Deus não é evidente
para nós, é-nos vetada uma demonstração que parta das causas. Porém, é
possível demonstrar o ser de Deus pelos seus efeitos por nós conhecidos, que
são suas obras.
Aquilo que se move deve necessariamente ser movido por um outro. Esse outro
deve estar em ato em relação àquele que é movido. O movente foi por sua vez,
necessariamente, movido por um outro agente, e este por um outro, e assim por
diante. Porém, não é possível que se continue até o infinito. É necessário que
exista um Primeiro Motor que seja causa primeira de todo movimento. Esse
Primeiro Motor move sem ser movido. Se não é movido, entende-se que nele
não há potência, mas que é Ato Puro (Actus Purus). Somente o Primeiro Motor
é Ato Puro. Os demais motores necessitam dele para existir. Esse Primeiro Motor
é, pois, entendido por Tomás como Deus.
A causa é entendida como aquilo pelo qual algo vem a ser. A causa, portanto,
da vinda do efeito à existência é o que se chama de causa eficiente. Santo
Tomás explica que é possível identificar entre os entes uma ordem de causa
eficiente. Não é possível que algo seja causa eficiente de si próprio, senão seria
anterior a si próprio. Todo ente necessita de uma causa eficiente
necessariamente anterior a si próprio.
Como a ordem entre as causas eficientes não pode ir até o infinito, se percebe
que existe uma Causa Eficiente Primeira que causa as intermediárias. Se não
existisse essa causa primeira, não existiriam nem as intermediárias, tampouco o
efeito último. Como nossos sentidos nos atestam a existência do efeito último,
necessariamente deve existir a Causa Primeira, que Santo Tomás denomina
Deus.
Se houve realmente esse momento, teríamos que considerar que ainda agora
nada existiria, pois somente pela mediação de algo que já existe aquilo que
existe passa a existir. Como é um fato a existência dos entes, com sua
contingência, não podemos afirmar que tudo é contingente. É preciso afirmar a
existência de um Ser Necessário pelo qual os seres contingentes passam a
existir.
Algo que é necessário pode ou não ter a causa de sua necessidade em um outro
ser necessário anterior a si (causa). Como se provou nas causas eficientes, a
série das coisas necessárias que necessitam de uma causa da própria
necessidade não pode ir até o infinito. É preciso assumir a existência de um Ser
Necessário em si, que não encontra em nenhum outro ser a causa de sua
necessidade, mas é, por sua vez, causa da necessidade dos outros seres. Esse
Ser Necessário é o que chamamos Deus.
A quarta via vai examinar o grau de perfeição que é encontrado nas coisas. Para
entender essa via é importante compreendermos o sentido metafísico de
participação. Participar é realizar em si, de forma parcial, o que está em outro de
forma plena. Há, então, uma relação de dependência entre o ente participante e
aquele do qual ele participa.
Essa via explica que nossos sentidos captam que entre as coisas existe certa
relação de graus: algo pode ser considerado mais ou menos bom, mais ou
menos verdadeiro, mais ou menos nobre. Só é possível dizer ”mais ou menos”
conforme algo se aproxima daquele que é o máximo. Para Aristóteles, se algo
possui determinada qualidade em alto grau, será em virtude dela que as outras
coisas possuirão determinada qualidade.
Santo Tomás, partindo dessa ideia, diz que, como encontramos nas coisas, em
variados graus, algo de bom, de verdadeiro, de perfeito, deve, pois, existir um
ente que seja para os entes causa de ser de todas essas qualidades, possuindo
em si essas qualidades em supremo grau. Esse ente é conhecido como Deus.
Santo Tomás também expressa certa equivalência entre bem e fim: somente
enquanto uma coisa é boa, ela é atraída a ser. O bem, portanto, é aquilo para o
qual tudo irá tender. Isso vai implicar, pois, a noção de um fim. Dessa forma, o
que move a causa eficiente na ordem da causalidade é aquilo que vem primeiro,
o princípio da ação: o bem e o fim.
Nessa quinta via, Santo Tomás explica que as coisas, mesmo aquelas que
carecem de conhecimento, tendem para um fim, para alcançarem o que é ótimo.
Mas isso não acontece por acaso. Não pode uma coisa que carece de
conhecimento tender por si mesma para esse fim. É necessário afirmar a
existência de algo inteligente que governa todas as coisas naturais ao fim. Esse
algo se chama Deus.
As qualidades de Deus
Primeiro Motor, Primeira Causa, Ser Necessário, Ser por essência e Suprema
Inteligência ordenadora da natureza são os atributos de Deus que as “cinco vias”
nos proporcionaram. Apesar de não esgotarem o ser de Deus, nem é essa a
intenção de Santo Tomás, esses atributos são qualidades de Deus que a razão
foi capaz de demonstrar. O ser humano, então, apesar de limitado, possui, no
seu exercício da razão, essa capacidade de transcendência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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