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ABSTRACT: The proposal outlined in this essay was based on critical theory, whose
phenomenology and reflections point to the construction of a society shaped by
consumption patterns, relegating the idiosyncrasies of the individual and purging the
values of personality construction from freedom. The constant Baumanian liquidity is
erected as a theoretical reference of work, pointing to the illusion of consumption and the
seduction of perfection by acquisition as the standard to be deviated from the project of
life based on the stability of social and affective relationships. As a research methodology,
reflexive research and bibliographic review were used, whose hypothetical-deductive
method serves the conclusion of eugenics as a means of standardization and control of
the bodies, which serves the marketing logic of stabilizing the human personality from
belonging to the notion of merchandise, making the individual's own value saleable, or,
mercantilized.
KEY WORDS: Consumption, Alienation. Not belonging
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Doutoranda em Direito na Universidade Cesumar - Unicesumar. Bolsista Capes/Prosup. Mestre em
Direito pelo Universidade Cesumar - Unicesumar (2018). Especialista em Direito Processual Civil
Contemporâneo (onde?).
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Doutor em Direito Constitucional (UFPR). Mestre em Direito (UEL). Mestre em Ciência Política (UEL).
Professor no Programa de Doutorado e Mestrado em Ciência Jurídica na Universidade Cesumar -
Unicesumar, na UEL e Coordenador do Mestrado em "Direito, Sociedade e Tecnologias". Membro eleito
da Academia Paranaense de Letras Jurídicas. Presidente do IDCC - Instituto de Direito Constitucional e
Cidadania. Pesquisador do ICETI.
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INTRODUÇÃO
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e
cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha
toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde
a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras
falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso,
reincidência, costume, hábito, premência,
indispensabilidade, e fazem de mim homem anúncio
itinerante, escravo da matéria anunciada (DRUMMOND,
1987, p. 47).
alternativa viável à geração high-tech, cujas experiências face a face foram caindo no
vazio. O segredo é que cada indivíduo em seu próprio casulo passou a ser presa fácil aos
encantos da interação virtual.
Mas, por quê?
Segundo o autor (BAUMAN, 2009, p. 10), a interação humana é carregada de
uma ambivalência pungente, que a um só tempo conforta e estimula, noutras incomoda,
já que comunicar-se é estar disposto a sofrer a opressão de opiniões contrárias. Entre
interações virtuais não há exigência de fidelidade, nem de presença física, o ‘ficar só em
meio à multidão’ ou ‘espiritualmente ausente’ depende de um único clique. Estando
conectado ninguém estará completamente só.
Ocorre que o paradoxo se mantém ao considerar que o verdadeiro estado de
solitude só pode ser conhecido após muita ponderação, intuição e reflexão. O ser humano
sozinho consigo mesmo, na tentativa de extrair dos símbolos comunicativos seu
verdadeiro sentido, algo que a conexão não permite, e, se a desconexão amedronta e
provoca abstinência, a fuga da solidão é uma pseudo solução. Um arquétipo que trai a si
mesmo.
As profundas e aceleradas mudanças nas condições de vida da era moderna foram
as responsáveis pela produção de desconfianças intergeracionais. Isso porque, o abandono
da característica letárgica de tempos idos trouxe às pessoas a consciência de processo
transformativo, sobremaneira nas rotinas e habilidades entre pessoas de idades diferentes.
O que ‘era normal’ deixou de sê-lo, mudaram os pontos de vista e também os critérios
objetivos de solução de problemas3.
Para além disso, parte da discrepância pode ser explicada em função do
aprendizado internalizado pelas gerações mais idosas em relação aos jovens,
especialmente no que se refere à problemas de desemprego em massa, depressão
econômica e outros. A juventude destes tempos nasceu e cresceu presenciando discursos
de serviços comunitários socialmente produzidos e políticas públicas de acesso aos bens
e serviços essenciais, desconhecendo os reveses da escassez provocada pelas crises.
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A consequência disso é que jovens e velhos tendem a se perceber mutuamente com um misto de
incompreensão e mal-entendido. Os mais velhos temem que os recém-chegados ao mundo acabem
estragando e destruindo a “normalidade” que conhecem e lhes parece confortável e decente, mas que
custaram tanto a construir e preservar com carinho; os mais jovens, ao contrário, têm uma enorme urgência
de consertar o que os mais velhos estragaram. Nenhum dos grupos se sentirá satisfeito (pelo menos não
completamente) com o atual estado de coisas e com o rumo que seus mundos parecem seguir – e culpa o
outro por sua insatisfação. (BAUMAN, 2009, p. 13).
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última análise ecoa na própria ausência de dignidade. Por isso se diz que a cultura líquida
moderna (BAUMAN, p. 130) conclama o rápido descarte e a descontinuidade em troca
do desejo de consumir. É como se o modelo de conhecimento e aprendizagem cedesse
espaço à fugacidade do desejo momentâneo, que leva em última medida à
insustentabilidade do modelo de consumo, assim como à depravação da sociedade.
Sabe-se que a infinidade de informações a todo tempo compromete a compreensão
e a consistência do que é dito ou lido. Os fragmentos de narrativas promovem a longo
prazo a superficialização do aprendizado, tornando o processo raso e limitado. Para
Bauman (2013, 131p), a ascensão social e a criação de ‘celebridades’ ocorrem de forma
instantânea, restando ao conhecimento a desvalorização do anonimato.
Importa dizer, ademais, que o presente estudo não se dedica a desconstruir a
expectativa de mobilidade social ascendente, mas, eleva ao grau máximo de importância
a tendência contemporânea de conexão, de sedução pelo espetáculo (já noticiado por Guy
Debord na década de 70) e pela satisfação dos impulsos consumistas infinitos.
(MAZZEO; BAUMAN, 2013).
Portanto, a promessa consumista eleva os sujeitos a uma posição de servos
voluntários, ou seja, por escolha positiva o consumo é vivenciado como expressão de
autonomia e domínio da própria vida. Difícil é escapar das formas de prazer, conforto e
satisfação instantâneas, por isso é que as escolhas e ações positivas das pessoas caminham
no sentido de ceder ao fetiche da mercadoria, da conexão e da servidão. (BOÉTIE, 2006).
e nos inebria pelo fetiche da mercadoria, a servidão pelo consumo cresce naturalmente
independente de coerção ou uso da força, mas pelo erotismo produzido pelo marketing
do consumo. A sociedade é relegada à condição de mercadoria, implica dizer: como
enxames, os agrupamentos de indignações provocado pelos movimentos sociais que
tomam as ruas juntam-se e desfazem-se com facilidade, sem institucionalizações
(MAZZEO;BAUMAN, 2013).
As explosões populares resultado de manifestações que nascem e são mediadas
pelas redes sociais não se sustentarão sob o ponto de vista dos autores
(MAZZEO;BAUMAN, 2013), ou seja, não colherão a mudança de rumo governamental.
A isso se some o agigantamento das desigualdades sociais que sobressaem na lógica
consumista mercadológica a partir do instante em que o ‘não-pode-comprar significa
não-ser’ emerge e torna indigna a existência.
À medida que o valor da dignidade se expressa também pela capacidade de
acúmulo material na sociedade do espetáculo, o modelo de crescimento social caminha
não na lógica cidadã de melhoramento de índices socioeconômicos, mas na necessidade
de incorporação do acesso a bens sem precedentes. A lógica de contenção e temperança
governamentais, que busca tratar com governos mais conscientizados das necessidades
de incorporar ações sociais e ambientais às metas do mercado, encontra grande
dificuldade de proliferação, ao passo que as pessoas consolam-se na busca incessante do
mercado.
A solução e o remédio para as crescentes frustrações humanas estão nas
prateleiras, cabendo à cobiça a condição de motor que alimenta a sociedade do consumo,
num esquema de forças do bem e do mal que se retroalimentam pelo poder da
comunicação online. Para Bauman e Mazzeo (2013, 78p.), a globalização é imatura e
compromete o futuro de uma juventude em um mundo cada vez mais recheado de
desigualdades, trazendo consequências nefastas para o processo educacional.
Um mundo marcado pela classe de consumidores (ou classe de humanidades)
tende a ser nefasto nas conjunturas econômica-social-política futuramente. As praças e
ruas ocupadas pelas manifestações denunciam antes de tudo a fúria de protesto e
indignações que estão enraizados na desesperança e na desunião, o apelo por gritos e sons
ofuscam as reivindicações que pairam sem significados, cada pessoa está ali a exercer um
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propósito individual e, quiçá, solidário, mas inebriada em sua própria voz e solidão4.
(MAZZEO;BAUMAN, p. 121).
A crítica não busca a invalidação dos manifestos e atos sociais, mas antes disso,
acredita que os novos métodos reivindicatórios alcançam mais a efervescência de
rebeliões que efetivamente soluções e melhorias categóricas na política, na educação ou
em sociedade. A diversão provocada pela manifestação metaforicamente traduz a
expressão divertida e efêmera, consumida no ato pelos que a acompanham e aderem.
Assemelham-se a um novo laboratório5, nas palavras do autor (BAUMAN, 2013, p. 124),
já que através delas os jovens eclodem em novas coexistências, cujo futuro ainda se
desconhece.
Dentre os fatores e convergências distópicas apresentadas, Bauman em Vida para
Consumo (2008,) afirma que o verdadeiro objetivo da lógica do consumo é tornar os
consumidores vendáveis, ou seja, o conjunto de pessoas que aderem à busca incessante
do ter devem servir como publicidade ativa, ou seja, devem ser capazes de tornar pública
a propaganda do bem que possuem, a fim de que sem nem se darem conta, alcancem o
sucesso da vocação consumista moderna: ter e fazer propaganda disso.
A gratuidade do merchandising depende de nossa aquisição e de nossa adesão ao
gosto da maioria, quando nos tornamos sujeitos ativos do mercado, elevando a
publicidade ao nível mais íntimo e profusor de frustrações: quando nos vestimos da
propaganda gratuitamente. (BAUMAN, 2008, p. 74).
Os membros da sociedade de consumidores são eles próprios
mercadorias de consumo, e é a qualidade de ser uma mercadoria de
consumo que os torna membros autênticos dessa sociedade. Tornar-se
e continuar sendo uma mercadoria vendável é o mais poderoso motivo
de preocupação do consumidor, mesmo em que geral latente e quase
nunca consciente (BAUMAN, 2008, p. 76).
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As jornadas de julho de 2013, protagonizadas pela juventude brasileira com suas reivindicações difusas
em centenas de cidades brasileiras, assemelham-se a diversas manifestações europeias: são organizadas
pelas redes sociais e impulsionadas pela crise social e econômica, mas faltam demandas e estratégias claras
para a efetiva transformação. Com esses aspectos em comum, Bauman acredita que as distâncias
geográficas já não contam para o (re)ordenamento/a transformação da sociedade e redefine o conceito de
globalização, asseverando que “os estímulos viajam de maneira independente de suas causas; as causas
podem ser locais, mas o alcance de suas inspirações é global; as causas podem ser globais, mas seus
impactos são moldados e direcionados em âmbito local” (BAUMAN, 2013, p. 124).
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Hoje a questão do bem-estar social nas famílias brasileiras se vincula à questão da facilidade do crédito e
à aquisição de eletrodomésticos, automóveis, entretenimento, entre outros bens e serviços. Isso vem
formando no Brasil uma legião de endividados e de “excluídos do consumo” que, de modo semelhante ao
caso inglês de 2011, promovem ondas de saques a lojas de eletrodomésticos e depredação a instituições
financeiras, seja no intuito de obter seus desejos de consumo ou para demonstrar sua indignação à pilhagem
financeira promovida pelos bancos. (Revista da Unidade Acadêmica Especial de História e Ciências
Sociais, p. 104).
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A definição exata do fetiche da mercadoria foi conseguida ainda em 1867 por Karl
Marx (1867, O Capital), que a construiu categorizando as relações sociais dentro do
sistema capitalista por meio da ocultação de relações escravizantes de trabalho.
A subjetivação do fetiche relatado por Bauman anos mais tarde (2004) leva em
consideração o decaimento de todo o organismo social amparado em uma mentira, ou
seja, em última análise, é o sujeito humano que tem resistido à sua objetificação
promovida ao longo do tempo pelo abuso do valor real da mercadoria para além de sua
atribuição, criando uma realidade inatingível.
Bauman busca expor que embora os meios de publicidade e as mídias sociais
noticiem o contrário, a aquisição dos bens é atividade demasiado solitária que o indivíduo
pode experimentar. O sentimento que subjaz no contexto é: se eu não consumir, não me
enquadro e serei exluído da sociedade’, o arquétipo da solidão.
Alienando-se em uma sociedade cujo valor individual é medido à custa de cifras
acumuladas para a aquisição de algo, o arquétipo da solidão do homem encaminha sua
existência para a objetificação. Não se é mais pessoa, mas coisa, isto é, abandona-se a
condição de homem e sujeito para servir ao modelo de mercado que coisifica seus pares.
Carlos Drummond de Andrade no poema ‘EU, ETIQUETA’ (1984, O Corpo) nos
seus anos finais denuncia com clareza o viés de objetificação da sociedade do consumo,
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cuja linguagem poética conduz a um servo que cede sua força de trabalho ao sistema que
por sua vez desperdiça sua capacidade de escolha, tornando-o verdadeira mercadoria
ambulante. Ou seja, para o poeta, quando o sujeito adere ao gosto coletivo para enquadrar-
se no sistema e relega seus gostos pessoais, renuncia sua própria identidade, empobrece-
se em essência e dignidade e torna-se mera etiqueta.
Embora a convergência dos textos poéticos e filosóficos seja sentida, o conteúdo
de suas prosas e textos elevam a crítica ao patamar de crise de identidade social. Ou seja,
quando o consumidor torna-se um outdoor ambulante, sua individualidade, sua identidade
e seus qualificativos são ocultados em prol de um mercado que está ansioso à espera da
usurpação e reificação de sua identidade, com o fito de torna-lo vendável.
A visão alucinada de uma humanidade desumanizada pelo condicionamento da
soma tende a produzir tamanha manipulação de funções e critérios de vida e
autodeterminação, que o custo do progresso pode escancarar um mundo de controle social
infalível, como se a sociedade estivesse desejosa de produzir somente a continuação de
seu próprio modelo, à guisa de corromper a diversidade e a desigualdade.
Um espaço cuja gama de pessoas usufruem do conforto e satisfação que o
consumo lhes permite, a tendência dos desejos é experimentar a padronização no mesmo
molde dos produtos, o que implica dizer: pessoas produzidas em série e atingidas pelo
grau de perfeição esperado pelo mundo criterioso e egóico que lhes precedeu podem se
tornar o vir-a-ser da escala evolucionista e consumista.
Da promessa de progresso e de felicidade construída a partir do culto à ciência, a
eugenia parece servir ao modelo integralmente produtivista e perfeccionista, que busca
em última análise a estabilização dos padrões atingidos pelo culto ao erotismo da
objetificação humana. Por isso é que se em Admirável Mundo Novo (HUXLEY, 2014) a
americanização do planeta havia se completado, a realidade tem poder de replicar a prosa
em especialização e tarefas.
A obsessão pela estabilidade tem (teria) poder e genialidade de construir modelos
variados de indivíduos num futuro próximo, mas amparados num padrão de subserviência
ao sistema, como um grande laboratório científico de condutivismo e controle de
comportamento: a construção da humanidade eugênica.
Por isso é que a alienação produzida pela lógica consumista no processo
mercadológico tende a enfraquecer a identidade do indivíduo e abrir espaço para a
padronização amparada no controle dos comportamentos e ações, à medida em que a
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estabilidade passe a ser o viés de conformação social, tudo aquilo que fuja à ideia de
estabilizar poderia oferecer desequilíbrios ao sistema autopoiético em essência.
Neste ponto, os seres humanos terão perdido sua razão de ser, e terão assistido sua
condição humana ser maquinizada, como viés condutor de equilíbrio e estabilidade
sociais, transfigurando a eugenia em controle total de corpos. Pessoas teledirigidas e
felizes não provocariam ruídos no sistema, quanto menos exporiam as mazelas humanas
que a técnica e o progresso científico objetivam camuflar.
O risco à espécie humana poderia ter se afigurado utópico se o contraponto
houvesse sido construído nos idos de 1950, contudo, a instrumentalização da razão tem
servido a um processo alienatório e progressista, que encontra na ciência a justificativa e
na eugenia a padronização que o mercado de consumo inaugurou, ou seja: de
objetificação da identidade do indivíduo, que existe à medida que se permite ser vendável.
O vigiar do processo evolutivo não cessa, e encontra na identidade humana e em
suas idiossincrasias seu maior obstáculo. A sensibilidade continua a encontrar no
indivíduo a resistência à sociedade delirante do progresso e da tecnologização.
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CONCLUSÃO
O processo evolutivo da humanidade é marcado por movimentos pendulares, ora
de tentativa de construção de estabilidade, ora por ideários progressistas, cujo maior valor
passa a ser a experimentação da liberdade do sujeito como vetor de construção da
coletividade.
Ocorre que os tempos pós modernos, sob o olhar da filosofia Baumaniana tem
expurgado a noção de perpetuação dos valores e de laços perenes, retroalimentando-se
pela constância consumista que adere ao modelo mercadológico de pertencimento a partir
da noção de aquisição.
O consumo, em seu viés mais expansivo, tem sido um dos responsáveis pela
alienação do indivíduo, marcado em sua gênese pela necessidade de constante adesão às
seduções e fetiches da mercadoria, a ponto de tornar o próprio ser vendável. A isso se
soma a frustração de não pertencimento, que ampara as faces daqueles que não alcançam
o ápice da escalada evolucionista e tecnológica em sua exata medida, ou seja, àqueles que
se furtam às conquistas do mercado, sejam por ausência de condições ou resignação
pessoal, acabam por carecer de dignidade, de liberdade e de reconhecimento sociais.
Por isso é que se conjectura a partir da contraposição dos valores intergeracionais
a conclusão de que o indivíduo pós moderno é marcado pela sensação constante de vazio,
como se lhe faltasse o ímpeto de autodeterminação a partir do desencaixe aos valores
primordiais do mercado: aquisição a qualquer custo, acumulação de mercadorias e
construção da realidade cujo maior signo não ressoa na imanência, mas na fugacidade.
Ao fim e ao cabo, o controle de corpos e a seleção de padrões estáveis aptos a
suportar a efemeridade dos laços e relações sociais encontra na eugenia a justificativa de
manutenção do padrão normalizado, amparado em valores que destoam das
idiossincrasias individuais com o fito de maquinizar a condição humana, aproximando-
se da objetificação do humano, tornando-o também valor vendável no seio do mercado.
O grande laboratório científico que instrumentaliza a razão e se ampara em
condutivismo comportamental serve ao mecanismo de controle, ladeia o indivíduo que
não pertence e expurga os que estão aquém da lógica consumista da vida. O vir-a-ser do
humano só encontra legitimidade à medida em que converge aos valores mercadológicos
e acessa (ou tenciona acessar) a sedução comercializada e concretizada na lógica do ter.
Carece dignidade a este ser humano, controlado, vigiado, alienado e exilado de si.