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A ênfase na promoção da saúde e prevenção da doença abre uma nova

dimensão na compreensão dos fenômenos da saúde e da doença: a da determinação


social da doença. O social se faz presente não apenas na explicação do processo
saúde-doença, como também na esfera do comportamento, trazendo para a discussão a
reflexão sobre a cultura de classe e significados do adoecimento. O atendimento em
nível primário, dependendo da aderência ao serviço e/ou ao tratamento, torna premente
a questão dos sentidos polissêmicos da saúde e da doença e dos papéis
desempenhados por diferentes profissionais. A saúde toma-se multidisciplinar.
Obviamente, a noção de integralidade, assim, como a organização de serviços básicos de
saúde com base em equipe multiprofissional, abre as portas desses serviços para a
Psicologia, que passou a integrar as equipes profissionais que atuavam nos centros
de saúde e nas unidades básicas de saúde.
Na década seguinte, o debate sobre saúde volta -se mais especificamente à promoção,
com expansão progressiva dos componentes da saúde que, para além dos aspectos biológicos
do adoecimento e das ações voltadas à prevenção, cura e recuperação, passa a incluir na
agenda o ambiente (físico, psicológico e social), assim como o estilo de vida. São
documentos-chave desta proposta a Carta de Ottawa (1986) e o Projeto Cidades Saudáveis da
OMS (1986/1995).
Nesse enquadre, abrem-se novas perspectivas para a pesquisa e intervenção de caráter
psicossocial que têm por fundamento conceitos como risco, vulnerabilidade, construção de
sentidos; por foco, a violência e a exclusão social e como prática, o uso de estratégias
diversificadas (como grupos e rodas de conversa) definidas em diálogo com a população
atendida e com os demais profissionais da saúde. De modo geral, entretanto, as novas
inserções criam tensões, uma vez que as ferramentas psi, de certo modo, continuaram as
mesmas.
Na Saúde Coletiva: A Psicologia contribui retomando na Saúde a problemática do
sujeito e, contanto que as pesquisas e teorizações sejam definidas de forma crítica,
contrapondo-se às tendências universalizantes e biologizantes da Saúde Pública, enriquece o
campo da Saúde Coletiva.
Multidisciplinaridade envolve uma ampliação dos objetos de intervenção,
extrapolando as noções clássicas de prevenção e atenção primária e passando a pautar-se,
também, por conceitos como promoção à saúde e qualidade de vida. Extrapola, ainda, a
inserção institucional em serviços de atenção à saúde, pois é prática compatível com a ação
em comunidades e em outros espaços de sociabilidade que algumas vertentes da Psicologia
transitam há muito tempo.

Desafios da prática Psicológica no Sus:


1- Consolidação do SUS

2- A noção de indivíduo. A prática privada dos psicólogos e sua identificação histórica


com o modelo médico- normativo, como discutido anteriormente, formaram a
identidade cultural do psicólogo, que identificamos com o tempo vivido. A
perspectiva diagnóstica e clínica, que tem sido produzida nas unidades de saúde do
SUS por meio de práticas dissociadas dos contextos só- cio-sanitários e da
integralidade trazem a marca do enorme desafio de formação, pesquisa e organização
do trabalho que a Psicologia tem pela frente. Não é incomum encontrarmos psicólogos
em atividades prioritariamente ambulatoriais, em hospitais e unidades de atenção
básica.

3- Instituir um diálogo profícuo entre a Saúde Mental e a Saúde Publica, e não mais tratá-
los como “universos paralelos” (Vasconcelos, 2004). Para atingir os objetivos da
Reforma Sanitária é necessário expandir seu campo de interpretação e ação,
incorporando os desafios da Re- forma Psiquiátrica, a partir da integralidade das ações
de saúde.

Incorporar a integralidade :Integralidade foram se construindo para além de seu


sentido constitucional, focalizando a atenção à pessoa como um todo e não somente
sua descrição biológica, compreendendo o processo saúde-doença como constituído a
partir dos registros social, econômico, político e também psicológico. Resinifica,
portanto, o paciente como um sujeito de direitos, que deve ser atendido a partir de suas
necessidades, dando origem a discursos e práticas como a Medicina Integral, a
Psicologia Médica e a Bioética.
Integralidade torna -se também uma ética; um valor que pretende construir as
políticas, os processos de trabalho e as ações propriamente ditas, a partir da
centralidade do usuário e dos sujeitos envolvidos na ação. Trata -se de uma
micropolítica dos processos de atenção à saúde
Implica no conceito de humanização: necessidade que toda política e ação de saúde
devam ter como eixo a humanização. Condição de sujeito apresentando necessidades
que vão além dos cuidados com a doença e com o corpo. É reorganizar os processos
de trabalho, formar e qualificar trabalhadores, garantir os direitos e a cidadania dos
usuários por meio do controle e da participação.

Quase 15 mil psicólogos atuam no Sistema Único de Saúde (SUS) nos mais
diferentes ser viços: nas Unidades Básicas de Saú- de (UBS); nos Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS); em Centros de Convivência, Cooperativa e Cultura:
Ambulatórios de Saúde Mental; em Hospitais-Dia; em Centros de Reabilitação Física;
em Centros de Referência à Saúde do Trabalhador; Centros de Apoio e Orientação
sobre DST/AIDS; Equipes de Atenção a Presidiários; Hospitais Gerais e Hospitais
Psiquiátricos. Isto sem conta r os serviços internos ao SUS: Centros de Formação e
Educação do Trabalhador de Saúde; apoio técnico aos programas da mulher, idoso,
criança e adolescente, saúde mental; serviços de epidemiologia, de hemoterapia, de
práticas alternativas em saúde e outros de acordo com a organização da gestão local.

Enfim, um modelo que exige do psicólogo saber compor uma equipe


multiprofissional e multidisciplinar, que trabalhe a inclusão do usuário, se inclua
buscando constituição de rede de cuidado intersetorial e permita a invasão de seu fazer
clínico pelas necessidades do sujeito (Braga Campos, 1992)
Birman (2005) é um dos muitos autores a propor que Saúde Pública e Saúde
Coletiva não campos são homogêneos. A Saúde Pública se constituiu no final do
século XVIII, marcando o “investimento político da medicina e a dimensão social das
enfer midades” (p. 11). Teve como estratégia básica o esquadrinhar do espaço
urbano, adotando medidas sanitárias para combater as epidemias e endemias, tomando
i mpulso com as descobertas bac- teriológicas de Pasteur "que representaram um
avanço fundamental no conhecimento biológico das infecções” (p. 12).
Para Birman, a Saúde Pública encontrou seu fundamento na Biologia e nos
tratamentos estatísticos da Epidemiologia, que se formalizava nes sa época. Em
direção oposta, para o autor, a Saúde Coletiva "Se constituiu através da crítica
sistemática do universalismo naturalista do saber médico” (p. 12), estando
intimamente associa da à entrada das Ciências Humanas na Saúde que passam a
criticar categorias universais da Saúde Pública. É um campo aber to à
multidisciplinaridade. incluindo aí a Psicologia.

No Brasil, o processo de ressignificação dos sentidos de saú- de e doença e das


formas de cuidado com a saúde, além do diálogo com fóruns internacionais, tem em
sua matriz o Movimento da Re- forma Sanitária e a própria criação do Sistema Único
de Saúde, que se configuram como marcos significativos, mesmo que seus sentidos
nucleares se desgarrem nos processos cotidianos de implementação, que como
afirmam Merthy e Queiroz (1993)
Na área da Psicologia, conforme discutimos anteriormente, foi nesse período
que denominamos de transição, que ocorreu a ampliação das contratações de
psicólogos para atuarem nos servi- ços públicos de saúde, principal mente após a
criação do SUS, em 1988. No entanto, nesse período, a ênfase dessa prática psicoló-
gica ainda estava atrelada à atenção secundária.
A contribuição da Psicologia Clínica para a atuação da Psi- cologia na Saúde
apresenta vários matizes, com permanências dos saberes e fazeres clássicos e com
rupturas provocadas por novas práticas, desenvolvidas na ár ea específica da saúde
que, pior exem- plo, colocam em xeque a di cotomia saúde física e saúde mental. Em
pesquisa realizada por Bianco, Bastos, Nunes e Silva (1994), essas permanências e
rupturas são discutidas e os autores sin teti- zam as novas propostas da clinica.
Psicologia Social mais implicada com as proble- máticas de saúde, busca-se
privilegiar a compreensão de processos coletivos de produção de sentidos e, portanto,
de pessoas que se posicionam e são posicionadas de diferentes maneiras em suas r e-
lações cotidianas, que inclui a busca do cuidado com a saúde (Spink. 2003). Procura-
se, portanto, ir ao encontro das necessidades de nosso tempo histórico: necessidades
de uma determinada comuni- dade (indígenas, assentamentos agrários, colônias de
pescadores etc.) e de determinados grupos (grupos de mães, grupo de planeja- mento
familiar, grupos de pessoas que se articulam por serem portadores de determinada
doença crônica, etc.).

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