UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS - FACULDADE DE LETRAS
GOIÂNIA, 18 DE DEZEMBRO DE 2020
SELENA CARNEIRO PROF. RENATA ROCHA RIBEIRO
LÍVIA - LIMA BARRETO
Análise do conto
Escritor combativo, ambivalente no que diz respeito às suas contradições,
Lima Barreto, era bastante criticado por ser polêmico em suas indagações. Sua importância transcende os limites da contrariedade de seu eu, e nisso há proximidade com o leitor, por reconhecer que as contradições fazem parte do existir, e assim, se fazer atual. Era visionário por ser uma voz desgradável, por falar de problemas sociais, em um contexto histórico que fechava os olhos para esse tipo de reflexão. Ainda que o cuidado com a preservação do contexto em que o autor viveu e escreveu seja imprescindível, o anacronismo de Lima Barreto, deve ser pontuado, não pela imprudência entre períodos históricos, mas pelo reconhecimento de que suas obras e críticas resistiram e ultrapassaram seu contexto, de modo em que permanecem atuais. De suas obras nascem e ressoam ironias que abrem espaço para uma análise crítica da realidade, que o fazem assim, parte da chamada literatura militante. Lívia de Lima Barreto traz em sua narrativa alguns impasses de ordem social como o lugar da mulher no século XIX e suas respectivas implicações. A história de Lívia se passa no subúrbio do Rio de Janeiro, onde ela divide a vida e a rotina com seus familiares; mãe, pai, irmã e cunhado, com quem frequentemente tem atritos por se sentir presa e dependente dos mesmos. Por não se ver feliz em sua realidade, seus devaneios de liberdade se fundem com a juventude da personagem, que vislumbra em um matrimônio, o encontro de sua felicidade. Suas reflexões sobre si mesma e sobre os seus amores, são sempre interrompidos por sua família que delega à ela papéis domésticos. A personagem é apresentada no conto revestida de submissão, que assim como as outras mulheres da época, dedicava seus dias a vislumbrar um casamento. Como ainda não escolhida, Lívia se submetia às ordens da família, sempre idealizando um casamento como válvula de escape para seus anseios.
Era pouco - convinha - mas servia, pois, assim
ficaria livre da tirania do cunhado, das impertinências do pai; teria sua casa, seus móveis e, certamente, o marido lhe dando algum dinheiro [...]. (1986, pág 132).
A construção da personagem se dá sob a figura de uma jovem sonhadora,
ingênua e passiva. Em meio à sua realidade, Lívia nada mais é que o reflexo de sua socialização. Isto é, a personagem representa um ideal construído e esperado de todas as mulheres, principalmente para a sua época. Atrelar casamento à ideia de sucesso era um valor da época, e assim sendo, Lívia cumpria no conto exatamente o papel que lhe fora dado. O mundo externo não contempla a interioridade de Lívia. Produzida a partir deste conflito, a ironia estrutural do conto reflete a não realização dos desejos da personagem. Ainda assim, Lívia não aprende com as constantes irrealizações e continua com seus devaneios. (Gouveia, 1998, 1999, p.2)
Ao desejar a liberdade que a seu ver só seria adquirida através do
casamento, Lívia é acompanhada pela angústia de não ser escolhida, evidenciando, assim, o motivo da transcendência da obra de Barreto, por mostrar uma dinâmica social, que embora tenha ganhado novos contornos, continua com os mesmos ideais sobre a vida e a socialização das mulheres. A angústia vivida por Lívia marca o ideal social não cumprido pela personagem enquanto mulher.
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