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Mas o indivíduo resiste. A resistência é o excesso de lei e do medo que sua transgressão traz à
subjetividade do analisante. Conduzir a análise é enxugar o excesso legal nessa subjetividade.
A psicanálise nasce da prática. A partir da escuta Freud estabelece a teoria que fala da
estrutura do sofrimento. Entender a neurose é entender como o indivíduo se defende dos
próprios afetos: daquilo que o afeta e contra o qual a reação é impedida, reprimida e defendida.
A teoria tem por função estruturar uma prática que visa reduzir ao máximo possível as
resistências ao tratamento.
“E, finalmente, não devemos esquecer que o relacionamento analítico se baseia no amor à
verdade – isto é, no reconhecimento de uma realidade – e que isso exclui qualquer tipo de
impostura ou engano."
(FREUD, 1937a/[200-], VII)
A realidade, aqui, é o que o indivíduo deveras experimenta. O engodo são as histórias que o
ego nos contar sobre nós mesmos, nos afastando do desejo. A resistência mostra a dificuldade
de abrir mão dessas histórias. O grande objetivo do Ego é manter o Id afastado. Cabe ao
clínico possibilitar a superação da resistência do registro egóico. Reforçar a fantasia que o
indivíduo tem de si mesmo - o Ego - enrijece o processo analítico por estagnação do registro
imaginário do Eu. Quanto menos dinâmica for a ideia que o indivíduo tem de si, maior a
incidência de ansiedade, angústia, fobia, compulsão, obsessão, histeria, pesadelos, atos falhos
e todo o quadro psicopatológico conhecido.
O analista sabe que cada analisante vivencia seus sintomas de maneira individual e que essa
subjetividade deve ser convidada à tona dentro de sua própria e única angústia. A
especificidade individualizante na psicanálise faz perder o sentido a comparação de um quadro
a outro.
A fala livre estrutura a técnica da escuta. Que o analisante desfile seu sofrimento e exponha a
estrutura de suas reações à vida. A neurose, o quadro do exagero, o afeto que representa o
conflito, deve ser simbolizado, verbalizado sem julgamento, inquisição e impunemente nas
condições do setting, diante da neutralidade emocional do analista. Uma neutralidade ética.
Uma promessa de cura em um setting analítico é algo próximo a um estelionato. Esse controle
não existe. O factível é a conscientização. O que advém do processo de conscientização -
alívio, angústia ou ambivalência - pode se tornar material para mais simbolizações. Enquanto o
analisante simboliza a ideia de si, escuta-se e desincha o imaginário, aumenta a sua
capacidade crítica sobre as próprias fantasias. O indivíduo muito se pensa. Mas ao se escutar,
com auxílio das pontuações do analista, tornará consciente os processos defensivos presentes
em seu discurso. Escutar-se é revolucionário, e algo raramente presente em sua história.