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Capítu[o I

11m esboç.o da fiistória e das


teorias da fiipnos e
o hipnotismo é tão velho quanto o tempo e provavel-
mente tenha se originado quando o primeiro homem arrastava-
se na lama primitiva. Ele tem sido empregado por séculos de
uma forma ou de outra, em todas as partes do mundo. Socieda-
des primitivas já usavam o "tá-tá-tá" e o "tom-tom" do ritmo dos
tambores e das dal1.ças rituaIísticas das tribos, para induzir um
estado de transe semelhante ao da hipnose. Existem algumas
centenas de referências sobre o possível uso de métodos hipnó-
ticos na Bíblia. Por exemplo, a imposição das mãos para obten-
ção de curas já era bem conhecida no tempo de Cristo.
O "toque real" ou cura divina durante a Idade Média é
uma forma de hipnose. Indivíduos sensíveis e sugestionáveis
ávidos na busca por um toque de uma figura sagrada eram in-
duzidos ao estado hipnótico em questão de segundos. No
Oriente, a ioga é unIa outra fornla de hipnose. Ela usa exercí-
cios de respiração e postura para obter respostas fisiológicas no
corpo. Os sacerdotes gregos e egípcios usaram a hipnose 2 mil
anos atrás no tratanlento de várias doenças.

A história modenla da hipnose começou com Franz


Mesmer em 1773. Mesmer trabalhava com o sacerdote jesuíta
Maxinlilian Heli, que era astrônomo real em Viena. Eles usaram
ímãs no tratamento de vários casos de histeria. Heli achava que
o Ílllã curava por causa das suas propriedades físicas, enquan-
to que Meslner acreditava que as curas eram produzidas pela
redistribuição de algLml tipo de ±1uido,que ele chamou de mag-
netismo animal, para distingüi-lo de magll.etismo mineraL Mais
tarde ele abandonou o uso dos ímãs, porque sua doutrina esta-
va mal compreendida continuamente. Muitas pessoas pensa-
vanl que ele atribuía suas curas ao magnetismo mineral. Poste-
riormente, Mesmer observou o padre Gassner obtendo curas
pela imposição das mãos e dando passes sobre o corpo do pa··
ciente. Em 1775, Mesmer acreditava que Gassner estava usan-
do magnetismo animal sem conhecê-Io. O bispo, ao qual Gas-
sner era subordinado, proibiu imediatamente que continuasse
aplicando aquele método.
Mesmer, então, passou a aprimorar a técnica de Gas-
sner. Postulou que um certo fluido que circulava no corpo era
influenciado por forças magnéticas originadas a partir dos cor-
pos astrais. A teoria parecia científica naquela época. Ela coin-
cidiu com o descobrimento da eletricidade e alguns avanços em
astronomia. Mais tarde, Mesmer passou a dizer que ele possuía
forças especiais e que seus pacientes eram. curados quando os
raios magnéticos fluíam dos seus dedos.
Pressões públicas forçaram.-no a deLxarViena e ele se
mudou para Paris por volta de 1778. Lá. ele desenvolveu uma
estrutura semelhante a um "box",guarnecida com fios de ferro
e ímãs. Quando o paciente entrava no "box",restabelecia-se da
sua doença ou indisposição. Neuróticos abandonados pelos
seus médicos reuniam -se no salão de Mesmer, provenientes de
toda a Europa. Ele fazia um acompanhamento dos seus pacien-
tes e atingia uma grande porcentagem de curas. Conseguiu
também uma tremenda reputação profissional que acabou pro-
vocando a animosidade dos seus colegas. Em 1784, a Academia
Francesa designou uma comissão formada por Benjamin
Franklin, o químico Lavoisier, Dr. Guillotin - o inventor da
guilhotina - e outros para investigar Mesmer.
A comissão descobriu que certas pessoas, supostamen-
te muito sensíveis ao magnetismo animal e capazes de experi-
mentar uma reação convulsh-a quando tacadas por pedaços de
madeira magnetizadas, não conseguiam.identificar quais árvo-
res ou quais pedaços de madeira tinham. sido magnetizadas a
menos que tivessem visto a magnetização acontecer. Se alguém
lhes dissesse que a madeira tinha sido magnetizada (tendo ou
não sido), poderiam ter convulsões quando a tocavam. A comis-
são declarou, então, que os efeitos atribuídos ao magnetismo
animal eram resultados da imaginação do paciente e com base
nisso denunciaram Mesmer por fraude, o que, conseqüente-
mente, abalou sobremaneira sua reputação. Todavia, aqueles
cientistas falharam por não perceber que as sugestões resul-
tantes de um intenso rapport, eram realmente as responsáveis
por aquelas curas. O fato é que, mesmo desacreditado, Mesmer
lançou as bases que fundamentaram a psiquiatria dinâmica
modema e suas pesquisas levaram a um melhor entendimento
das relações entre a sugestão hipnótica e a psicoterapia.
O interesse pelo mesmerismo renasceu com Elliotson,
professor de medicina da Universidade de Londres; ele que foi
também o médico que em 1838 apresentou o estetoscópio à In-
glaterra. Elliotson foi convidado a demitir-se do hospital-escola
em conseqüência do seu profundo interesse pelos fenômenos
mesméricos. Depois da sua demissão, ele e seus colaboradores
continuaram suas pesquisas sobre o mesmerismo e publicaram
sua descobertas numjomal intitulado Zoíst.
Em 1841, outro médico inglês chamado James Braid,
que inicialmente tinha feito oposição ao mesmerismo, interes-
sou-se pelo assunto. Declarou que o magnetismo animal não
estava envolvido nas suas curas e que elas eram conseqüentes
da sugestão. Desenvolveu a técnica de fixação-visual para a in-
dução de estados de relaxamento e chamou-a de "hipnose". Ini-
cialmente pensava que a hipnose era idêntica ao sono, então
usou o termo hyprws, urna palavra grega que significa "sono".
Mais tarde, depois de reconhecer seu erro, tentou mudar o
nome para monoídeísmo, que significa concentração sobre uma
idéia. Entretanto, o termo "hipnose" persistiu apesar dele ser
tecnicamente errado.
Em 1845, o cirurgião James Esdaile, que trabalhava
nas florestas da Índia, fez centenas de pequenas cirurgias em
nativos usando anestesia mesmérica. O livro de Esdaile, Mes-
mensmo na Índia1 publicado em 1850, descrevia 250 opera-
ções cirúrgicas, muitas das quais eram formidáveis, corno am-
putação de pema, remoção de tumores da próstata, amputação
de pênis e outras cirurgias semelhantes. Ele descreveu em de-
talhes muitos dos fenômenos hipnóticos da mesma forma corno
os conhecemos atualmente. Ainda hoje esse livro é um valioso
documento cientifico. Como os atuais pesquisadores, observou
que havia uma sensível diminuição do trauma cirúrgico em
seus pacientes hipnotizados. Ele ou seus auxiliares nativos
mesmerizavam pacientes pela manhã e os deixavam em estado
cataléptico. Enquanto isso, Esdaile ia cuidar de seus afazeres e,
retomando mais tarde, fazia rapidamente as cirurgias. Seus ca-

1 Esdalle, James. Hypnosis in medicine and surgery: originally entitled mes-


merism in India, Nova Iorque: Julian Press, Inc., 1957.
sos eraITltodos documentados e observados por autoridades lo-
cais e médicos. Contudo, quando Esdaile voltou à Inglaterra e
relatou suas experiências, foi ridicularizado e relegado ao ostra-
cismo por seus colegas. Entào ele foi para a Escócia e eventual-
mente repetia com êxito, em outros pacientes, suas cirurgias
aparentemente milagrosas. É interessante notar que ele enfati-
za, em seu belíssimo livro, que não apenas era difícil convencer
as pessoas sobre o valor do seu trabalho, mas também era difí-
cillutar contra a opinião pública. Isso é igualmente verdadeiro
para os dias de hoje.
Ao mesmo tempo, em Nancy, na França, o médico Am-
broise-Auguste Liébault, leu sobre os trabalhos de Braid e inte-
ressou-se por hipnose. Para evitar ser chamado de charlatào,
trabalhou sem remuneração. Os resultados do seu trabalho fo-
raITl divulgados por :Hippolyte Bernheim. um famoso neurolo-
gista e professor da faculdade de medicina. Bernheim enviou a
Liébault um paciente que sofria de ciática, que estava tratando
há seis anos sem qualquer êxito. Liébault curou-o aplicando al-
gumas sessões de hipnose. Isto interessou Bernheim pelo tra-
balho de Liébault e, juntos, trataraITl cerca de 10 mil pacientes.
Bernheim escreveu o primeiro tratado científico sobre hipnose,
Suggestive therapeutics, em 1886. Esse tratado aparece em
qualquer literatura a respeito da evolução histórica da hipno-
se.

Na França, a hipnose encontrou um obstáculo muito


sério na pessoa de Charcot, outro neurologista francês, que dis-
cordou das idéias de Bernheim e Liébault de que a sugestào era
um fator importante na hipnose. Charcot afirmava que era ape-
nas uma outra forma de manifestação da histeria. Numa déca-
da inteira, ele encontrou apenas uma dúzia de casos de "hipno-
tismo maior". Seus experimentos eram conduzidos principal-
mente com três pacientes que eraITlhistéricos. Charcot retomou
a teoria de Mesmer sobre o magnetismo animal e uma grande
controvérsia surgiu entre as duas escolas teóricas. Com o pas-
sar dos anos, a história foi provando que Charcot estava errado
e Bernheim & Liébault estaVaITlcertos. Naquele tempo, muitos
outros cientistas faITlosos, como por exemplo Broca, Heide-
nhain, Krafft-Ebing e outros começaraITl a ficar interessados
pelo hipnotismo.

Freud ouviu falar dos trabalhos de Liébault e Bernheim


e em 1890 chegou a Nancy. Ele e Breuer tinham usado a hip-
Hiprwse Médica e Odoniológica
to!.-/:,
.. ;/11 Iv

nose e estavam interessados em usar ess~~~Lca :e.~a ajudar.,..


pessoas com
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distúrbios
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emocionais.
"'""-'
Freud queria desenvolver
as -suas próprias técnicas; estudou com Charcot e Bemheim.
Para os seus objetivos achava, entretanto, que as curas eram
muito superficiais e conseqüentemente abandonou o método. A
rejeição da hipnose por parte de Freud infelizmente retardou o
seu desenvolvimento em pelo menos cinqüenta anos. Existe,
contudo, um fundamento para a crença de que Freud desenvol-
veu seus ínsights mais profundos sobre o comportamento hu-
mano e os trabalhos da mente a partir dos seus contados ini-
ciais com a hipnose. Ele também achava que o hipnotismo era
uma ferramenta muito ütil para a recuperação das memórias
submersas.
Por causa da grande incidência de choques traumáticos
entre soldados durante a Primeira Guerra Mundial, Emst Sim-
mel, um psicanalista alemão, decidiu-se pelo uso da hipnose
para o tratamento das neuroses de guerra. Simmel desenvolveu
a técnica que chamou hipnoanálise. Aqui, pela primeira vez, o
uso da hipnose foi combinado com técnicas psicodinãmicas.
Hadfield e Horsley. trabalhando independentemente, e mais
tarde Grinl;:er e Spiegel. durante a II Guerra. usaram barbitúri-
cos para induzir UDl estado de hipnose medicamentosa (ou nar-
cossintese) com o objeti\'o de trazer à tona o material traumáti-
co. Durante a última guerra. a hipnose representou uma parte
proeminente no tratamento de cansaço de combate e outras
neuroses.

A fusão da hipnose com a psicanálise foi um dos mais


importantes avanços médicos decorrentes da I e da II Guerras
Mundiais. A I Guerra reavivou o interesse pela hipnose, nos Es-
tados Unidos. Hull1, um professor de psicologia em Yale, inte-
ressou-se pelos aspectos experimentais da hipnose. Seus dados
e observações são descritos no seu livro Hypnosís and suggestí-
biLity. Desde então. muitos livros apareceram sobre a teoria e,
atualmente, a hipnose está progredindo cada vez mais. Diver-
sas escolas como, por exemplo, a Universidade da Califórnia, a
Universidade de Long Island, a Universidade de Roosevelt, a
Universidade de Tufts e outras estão ensinando hipnose nos
Estados Unidos. Não é o bastante, mas pelo menos foi dada a

1 Hull. C. L. Hypnosis and suggestibiliLy. Nova Iorque: D. Appleton-Century.


1933.
largada. É gratificante que muitos médicos e dentistas estejam
se interessando por essa ciência tão antiga. Recentemente a
British Medica! Association, depois de uma completa investiga-
ção sobre a hipnose, decidiu que todos os estudantes de medi-
cina e médicos deveriam ter bem sedimentados os fundamentos
da hipnoterapia, uma técnica muito valiosa no tratamento das
neuroses e como anestesia em cirurgias e obstetrícia. Seguindo
o mesmo exemplo, a Associação Médica Americana recentemen-
te aprovou o uso da hipnose por profissionais médicos qualifi-
cados.

Em 1956 um comitê da Associação Médica Americana


discutiu como a hipnose moderna poderia ser integrada ao en-
sino médico e relatou seus resultados no seu jornal de 13 de
setembro de 19581. Vários outros jornais médicos também pu-
blicaram artigos sobre hipnose. Existem diversos jornais volta-
dos exclusivamente para as aplicações clínicas e experimentais
da hipnose como, por exemplo: The American Joumal of Clinical
Hypnosis, British Joumal of Medícal Hypnotism e The Jownal of
Clinical and Experimental Hypnosis, dois jornais na Espanha e
muitos outros pelo mundo afora.

É interessante notar que em tempos imemonalS a hip-


nose foi mascarada por múltiplos rótulos. No final do século
XIX existia o método Janet, Pierce e DuBois de relaxamento.
Mais recentemente, havia o relaxamento progressivo de Jacob-

1 Profissionais em geral, médicos especialistas e dentistas podem achar a


hipnose válida como terapêutica coadjuvante dentro da área específica de
sua competência, mas deveria ser enfatizado que todos aqueles que usam a
hipnose necessitam estar cientes da natureza complexa do fenõmeno envol-
vido.
O ensino relacionado a hipnose deveria estar sob a direção responsável de
médicos, odontõlogos e integrados a programas de ensino que deveriam in-
cluir não apenas as técnicas de indução, mas também as indicações e lJmi-
tações para seu uso dentro de cada área específica envolvida. A instrução
limitada apenas as técnicas de indução deveria ser desen-corajada.
Certos aspectos da hipnose ainda permanecem desconhecidos e controver-
sos. corno constatado em muitas outras áreas da Medicina e ciências psico-
lõgJcas. Portanto, participação ativa e pesquisa de alto nível pelos profissio-
nais médicos e odontôlogos devem ser estimuladas. O uso da hipnose corno
diversão é v1gorosamente condenado.
sono Atualmente, o autocondicionamento e treinamento autogê-
nico são muito populares na Alemanha. Outros rótulos conve-
nientes para a hipnoanestesia são o relaxamento psicoprofiláti-
co russo e parto natural de Read.
Acredita-se que as curas religiosas feitas pela imposição
das mãos são crivadas por várias formas de sugestão hipnótica.
As referências deste método de relaxamento são encontradas
na literatura.

Algumas considerações sobre as várias teorias da hip-


noses precisam ser feitas. Numa definição operacional, a hipno-
se pode ser vista como uma suscetibilidade ampliada para a su-
gestão, tendo como efeito uma alteração das capacidades sen-
soriais e motoras para iniciar um comportamento apropriado. A
dificuldade com muitas teorias é que elas não distinguem o
processo de indução do transe, do fenômeno real, resultante do
estado hipnótico. São entidades diferentes. Em hipnose, há in-
teresse por um segmento ou fenômeno do comportamento que
não pode ser separado do conteÀ'io do comportamento humano.
Quer seja consciente ou inconscientemente, o homem usou su-
gestão e/ ou hipnose muito antes que estivesse ciente dela. A
hipnose é uma manifestação comum da vida diária e muitas
pessoas têm sido hipnotizadas milhares de vezes, ainda que
elas não tenham consciência desse fato. Por exemplo, um pes-
cador sentado em seu barco pescando por várias horas pode
sentir que a luz está dançando e o balanço da água pode levá-lo
a um estado sonambúlico. Por isso é comum a um pescador
olhar para seu relógio e dizer o seguinte: "Meu Deus, estive
aqui por seis ou oito horas e parece que se passaram apenas
três ou quatro horas para mim!" Muitas sensações visuais, au-
ditivas, táteis, olfativas ou gustativas podem induzir a um esta-
do de aumento de suscetibilidade à sugestão. Os estimulos ver-
bais e não-verbais podem facilmente produzir relaxamento
quando o estimulo é repetidamente mantido. Há pessoas que
têm lembrança de terem estado sentadas numa sala de aula
enquanto o professor falava de forma monótona sem parar. Po-
dem lembrar-se de que às vezes seus olhos tomaram-se muito
pesados e sua cabeça começava a pender quase num cochilo e,
então, entravam num estado hipnoidal. Isso freqüentemente
leva a um sono. A consciência pode flutuar para cilna e para
baixo no amplo espectro do consciente.
Hipnose e suscetibilic1ade à sugestão representam urn
importante papel na vida das pessoas, especialmente na arte de
anunciar (marketing) . Um comercial de televisão ou rádio repe-
tido muitas e muitas vezes, pode vir a tomar-se um estimulo
condicionado, afetando o comportamento, para produzir a res-
posta desejada.
Em alguns indivíd uos, o estac10 hipnótico pode parecer
um atavismo, análogo ao estado inanimado ou cataléptico, co-
mumente observado enl animais assustados, que ficanl parali- 1.
sados de nledo fingindo-se mortos para escaparem da~. A fi
presença de l.UTIcártex alta.'11ente desen,'oh'ido no ser hl.UTIano
toma desnecessários os "ários nlecanismos instü"ltivos de defe-
sa, a não ser que o indi,iduo seja submetido a medo ou perigo
incomUTIl. Ern alguns, a tenc1C'nciaatá,'ica é nlais bloqueada do
que em outros. Isso eÀ"plicao fato de algurls indivíduos serem

~~~-~-----~--
tão facilmente hipnotizáveis ç outros não.
Schneck tanlbém acredita que o estado de hipnose é l.UTI
retonlO a um nível muito primitivo de furlÇão psicológica e está
presente em todos os animais, especialmente no hOnlen1.
A hipnose pode ser observada por todo o reino anmlal.
Uma cobra hipnotiza unl pássaro conl seus m.ovmlentos sinuo-
sos. Em contrapartida, a cobra pode ser hipnotizada pelo ato de
acariciar. Bastante estranhamente as cobras são surdas. Todos
nós já VÜl10Sou OLlVÜl10S filmes ou histórias sobre o flautista
que "encanta" a cobra nlU11estado parecido com o da hipnose.
No entanto, é o balanço elo i1autista ao tocar o instrlilllento que
"il1.duz"a cobra a lilll estado semelhante à hipnose. A hipnose
animal foi bem descrita e alguém que tenha vivido enl fazendas
sabe que se colocarmos unm galil1.ha no chão e desenharmos
um círculo ao alcance dos seus olhos, ela desenvolverá l.UTIa
certa imobilidade tônica nos nlernbros. Um açougueiro põe a
cabeça de uma galinha debai.'\:o das suas asas e observa o inle-
diato enrUecmlento do músculo e:\.i:ensor da asa. A galil1.hafica-
rá imóvel. Esta é uma forma ele hipnose anÜl1al.
É importante enfatizar que a hipnose não é um estado
de sono. Isso é comprovado por estudos eletroencefalográficos,
testes de reflexo, pulso e pressão sangüínea, que revelam que
eles são idênticos ao estado ele vigilia, mas são diferentes do es-
tado de sono, ml.úto embora anlbos (a hipnose e o sono) sejilln
estados alterados de consciência. Um pode fundir-se no outro.
O fechar dos olhos freqüentemente associado à hipnose é usado
para bloquear estimulos visuais e, conseqüentemente, promo-
ver uma maior concentraçào na verbalização do hipnotizador.
Trata-se de um fenômeno COnlUnl.Os amantes da nIúsica, nunl
concerto que requeira concentração, inclinam a cabeças para
trás e fecham os olhos pcccraouvirenl melhor.
Hoje em dia, a reí1exologia condicionada, que ainda é
um outro termo para hipnose, é muito popular na Rússia. Pav-
lov, o grande fisiôlogo russo, é provavelmente mais conhecido
pelos cientistas sobre hipnose do que pelo seu trabalho sobre
reí1exos condicionados. Pavlov diz que é verdade que as pala-
vras e idéias adquirem para nós mn significado condicionado.
De qualquer maneira, condicionamento é apenas Ullla parte da
hipnose, e tanto esta idéia corno o conceito de Pavlov sobre a
inibição cortical são realmente muito simples para dar conta de
explicar o fenômeno hipnótico. Pavlov tanIbém errou na sua
concepção de que a hipnose era urlla forma modificada de sono.
Urna outra teoria, proposta pelo psican.alista Ferenczi,
era de que a hipnose seria urna regressão à infància. Onde se
ensinava Ullla técnica perrllissiva, reconhecia-se ali um tipo
matenlal de hipnose. Ferenczi acreditava que ser hipnotizado
era simplesmente regressar à infància nmn tipo de relaciona-
mento de dependência entre a criança e os pais. Esta teoria não
é sustentá\-el, conlO foi assinalada por McDougall.1 Se isso fos-
se verdadeiro, "LillIanIulher poderia hipnotizar apenas aqueles
que a identificasserll corno mãe, e lUll homem só poderia hipno-
tizar aqueles que o identificassem corno pai. Mas, corno sabe-
nIOS,a hipnose não funciona dessa forma.
Robert White acha que na hipnose o paciente age corno
pensa que unIa pessoa hipnotizada deveria agir. Ele se refere a
isso conlO "um empenho significativo rLUllOa um objetivo deter-
minado". Para a indução do transe, isso poderia ser verdadeiro
em Ulll certo grau, mas nada e)qJlica corno lillIa criança, que
nada sabe sobre esse tipo de experiência, poderia ser levada a
"Lilllestado hipnótico e Illcmifestar a maioria dos fenônlenos hip-
nóticos. Nem ex})licar como um adulto pode regredir à infància
ou exatanIente para a idade de 1 ou 2 anos. A validade da re-

1 McDougall, Wj[Uam. O!LL/i,w of u}morrTwl pS!Jcolog!J. Nova loque: Charles Se-


ribcr's Sons, 1926, pp.132-:,4
gressão pode ser substanciada pela resposta ao reflexo de Ba-
binski, que ocorre somente durante o primeiro ano de vida.l
Uma outra teoria é a de Janet, na qual ele defende que
uma parte da personalidade é quebrada para promover a disso-
ciação. Isso também falha em explicar outros tipos de compor-
tamento de pacientes hipnotizados. Nem todos os indivíduos
são dissociados. A hipnose pode ser induzi da por outras moda-
lidades sensoriais além de palavras, tais como, estimulos não-
verbais, extraverbais e intraverbais ou demais processos de co-
municação. Alguém escutando um orador está em comunicação
bilateral com ele, analisando sua entonação de voz, seus ges-
tos, sua conduta e a sua própria resposta a tudo isto. "Analisa-
dores" no cérebro estão constantemente prognosticando ou ava-
liando tudo o que sentimos, vemos ou ouvimos. Estes "analisa-
dores" corrigem e supercorrigem os estímulos que vêm do exte-
rior e do interior. Como na eletrônica. eles são conhecidos como
mecanismos defeedback. Existe um processo continuo de co-
municação acontecendo a todo momento entre indivíduos e o
ambiente. Palavras e gestos e outros estiInulos podem ser inter-
pretados somente em termos de memórias de experiências pas-
sadas. Realmente, a hipnose, que facilita o processo de apren-
dizagem, toma-se um eficaz mecanismo de controle na presen-
ça de um bom rapport, permitindo que sugestões sejam aceitas
imediatamente (o que, por sua vez, afeta as respostas do orga-
nismo).
Finalmente, as bases para a compreensão da verdadeira
natureza das respostas hipnóticas certamente requerem um co-
nhecimento da natureza humana. Nós estam os interessados
numa explicação da própria hipnose, mas também em saber
como ela se ajusta à estrutura de todo o comportamento huma-
no.

Gidro-Frank, L. e Bowersbuch, M.K.A study ofthe plantar response in hyp-


notic age regression, Journal of Nervous & Mental Dtsease.

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