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GRADUAÇÃO
2017.1
Sumário
Crime e Sociedade
I — APRESENTAÇÃO DO CURSO
Cada aula terá como ponto de partida um ou mais casos concretos cuja
análise será objeto de debates em sala de aula. Os alunos deverão elaborar,
para cada caso estudado, uma ficha de análise, contendo as informações prin-
cipais do caso.
A pretensão é suscitar diferentes possibilidades de aplicação do direito ao
caso concreto. Essa metodologia aposta na capacidade do aluno de graduação
da FGV Direito Rio de discutir, com profundidade, os temas mais relevantes
do direito penal e processual penal da atualidade.
O uso de casos concretos que possuem ligação com situações cotidianas
traz a realidade da aplicação do direito para dentro da sala de aula e estimula
a participação do aluno no processo de aprendizado, criando-se um ambiente
de interatividade entre aluno e professor e aprimorando sua capacidade de
FICHA DE ANÁLISE
Qual o tribunal que prolatou a decisão e qual o órgão desse tribunal; qual
1. Identificação do caso o julgador relator; qual o resultado da votação (votos vencidos, votos concor-
rentes, votos majoritários); qual a data do julgamento.
Se houve decisões judiciais anteriores e o que decidiram; quais as deci-
2. Relato da situação
sões das cortes que examinaram o caso antes de sua chegada ao Supremo
processual
Tribunal Federal.
Resumo dos argumentos indicando qual a solução que cada parte pleiteia
3. Pretensão das partes
no caso concreto.
4. Classificação das Identificar e classificar as normas jurídicas em discussão, para saber o re-
normas gime jurídico aplicável.
5. Questões jurídicas Identificar a questão jurídica que está em discussão (ou se for mais de
em discussão uma, fazer isso com todas).
6. Decisão do tribunal e
Expor a decisão (parte dispositiva) em comento e seus fundamentos.
sua motivação
III — AVALIAÇÃO
IV — BIBLIOGRAFIA
A leitura obrigatória está limitada aos textos da apostila, aos casos que
serão debatidos e ao livro que serve de base para o júri simulado. A relação
abaixo é uma bibliografia complementar, destinada àqueles que desejarem
aprofundar seu conhecimento sobre os temas trabalhados em sala.
V — PLANO DE ENSINO
BLOCO 4 – AVALIAÇÕES
5ª feira | 30/março Prova escrita
5ª feira | 30/março Vista de prova
3ª feira | 20/junho Prova de 2ª chamada
3ª feira | 04/julho Prova final
BLOCO 5 – JÚRI SIMULADO
6ª Feira | 24/março (EXTRA 14h-17h) Júri Simulado – Rodadas classificatórias
2ª Feira | 27/março (EXTRA 14h-17h) Júri Simulado – Rodadas classificatórias
JÚRI SIMULADO – Final no Rio de Janeiro
A DEFINIR
Disputa contra os alunos da FGV Direito SP (DATA A COMBINAR COM SP)
JÚRI SIMULADO – Final em São Paulo
A DEFINIR
Disputa contra os alunos da FGV Direito SP (DATA A COMBINAR COM SP)
I — INTRODUÇÃO
conteúdo da lei possa ser conhecido por seus destinatários, os cidadãos, per-
mitindo-lhes diferenciar entre o penalmente lícito e o ilícito. Neste sentido,
as leis penais devem ser precisas, de modo que não surjam dúvidas quanto a
sua aplicação ao caso concreto.
Esse princípio também vincula o julgador, pois estabelece os limites inter-
pretativos aos quais ele está vinculado. A aplicação da norma penal incrimi-
nadora deve se pautar pelos parâmetros em que foi formulada, evitando-se
assim o abuso judicial decorrente de uma interpretação que possa abranger
um número indeterminado de comportamentos.
É importante mencionar que o princípio da taxatividade ou da determi-
nação não está expresso em nenhuma norma legal, pois se trata de uma cons-
trução doutrinária, fundamentada no princípio da legalidade e no Estado
Democrático de Direito. O modelo oposto, no qual o juiz pode preencher
livremente o conteúdo da norma incriminadora, está associado a sistemas
jurídicos autoritários e representa a previsão de condutas puníveis de modo
indeterminado e valorativo, permitindo discriminações fundadas nas carac-
terísticas pessoais e esvaziando o princípio da legalidade.
O princípio da reserva legal tem como escopo que os tipos penais incri-
minadores somente podem ser criados através de lei pelo Poder Legislativo e
respeitando o procedimento previsto na Constituição Federal.
Vale destacar, que o princípio da legalidade impõe respeito ao que a lei
expressa, ou seja, possui um caráter mais amplo. Já o princípio da reserva
legal, com seu caráter mais específico, estabelece que determinada matéria
só pode ser tratada através de lei. No campo do Direito Penal, essa limitação
serve para assegurar que somente normas produzidas de forma democrática,
pelos representantes eleitos pelo povo, podem vincular os cidadãos. Normas
emanadas diretamente pelo Executivo não preenchem esse critério, pois em-
bora o Presidente da República tenha legitimidade popular, somente o Poder
Legislativo (com todas as dificuldades que tenha ou possa vir a ter) representa
a pluralidade de concepções de justiça de uma sociedade.
Desta forma, pode-se fazer uma ligação direta do princípio da Reserva
Legal com o princípio da vedação do uso de Direito Costumeiro, que seria
uma faceta daquele. Retomando a fórmula em latim, pode-se usar a seguinte:
Nullum crimen, nulla poena sine lege scripta. Deste modo, também complemen-
ta o princípio da Reserva Legal ao estipular um requisito formal pelo qual a lei
penal deve se pautar.
Esta expressão explicita que a previsibilidade das sanções estatais são um dos
fundamentos estruturais que diferenciam um Estado de Direito de um despotismo.
Por último, existe um princípio extramamente correlato com o anterior-
mente destacado: Nullum crimen, nulla poena sine lege stricta. O princípio da
vedação de aplicação da analogia no Direito Penal impede que se use uma
norma penal para punir uma conduta com base na analogia ou extensão. Isso
significa que o juiz não pode realizar uma interpretação integrativa ou am-
pliativa da hipótese que foi originalmente estabelecida na lei. Exceção a essa
regra é quando se faz uma analogia para beneficiar o indivíduo4.
A correlação dos últimos dois princípios decorrentes da Legalidade é a
restrição ao arbítrio judicial (e, por extensão, do Estado) contra o acusado.
Usa-se a palavra “contra” em consonância com uma interpretação teleológica
do ordenamento, que permite a flexibilização de regras para o favorecimento
do réu (vide nota de rodapé anterior).
II — O CASO
V. LEITURA COMPLEMENTAR
I — INTRODUÇÃO
II — O CASO
em dias e meses incertos, não se sabe se antes ou depois da edição das Leis
8.072/90 (Lei dos crimes hediondos) e 8.069/90 (ECA), trazendo a discus-
são de qual lei deveria ser aplicada.
Para entender melhor a situação deve-se ter em mente o seguinte panora-
ma de sucessão das leis relevantes ao caso. No início de 1990 é editado o ECA
que entra em vigor no final de 1990 e acrescenta um agravante ao crime (se
praticado contra menor, pena: 03-09 anos). Contudo, antes dessa lei entrar
em vigor, a Lei de Crimes Hediondos entra em vigor e altera a pena do caput
para de 06-10 anos. Desta forma, a pena do caput era maior que a do agra-
vante. Para mitigar a situação, em 1996 foi publicada uma lei que revogou o
agravante (observar tabela).
1) Quando uma norma ingressa no “mundo jurídico”? Ela pode ser revo-
gada, antes de entrar em vigor?
2) É possível a revogação implícita da lei penal? É possível a revogação
implícita da lei penal gerando piora na situação jurídico-penal do réu?
3) Há retroatividade in malan partem no caso concreto? Houve violação
ao Princípio da Irretroatividade?
4) O Poder Judiciário pode violar o princípio da Irretroatividade em nome
da “coerência legislativa”? e da Justiça?
I — INTRODUÇÃO
II — O CASO
IV — LEITURA OBRIGATÓRIA
Caso 1
Caso 2
Caso 3
www.academico.direito-rio.fgv.br/wiki/O_caso_dos_denunciantes_invejosos
INTRODUÇÃO
CONTEXTO JURÍDICO-POLÍTICO
A RESTAURAÇÃO DA DEMOCRACIA
OS DENUNCIANTES INVEJOSOS
DEVEM SER PUNIDOS CRIMINALMENTE?
I — INTRODUÇÃO
II — O CASO
Professor Emergix
Professor Demorradicalix
Professor Natuliberalix
Professor Garantilix
Vejo que os colegas que falaram antes de mim estão conduzidos pela emo-
ção, mais do que pela razão. Em primeiro lugar, interessa saber se a tortura é
um meio eficiente de obtenção de informação.
Eu considero que não é. O medo de ser torturado fará com que pessoas
fracas façam declarações falsas que apenas atrapalharão as investigações. Por
outro lado, pessoas fortes nada falarão, mesmo se torturadas até a morte.
Nesse caso, o que fará o investigador do GSS? Passará a torturar a esposa do
terrorista para que ele fale? Trará para a sala de torturas a filha de quatro anos
do terrorista e começará a espancá-la?
Por trás do desejo de torturar não está a busca pela informação, mas sim
a vontade de determinados homens, que no momento são mais fortes que
outros, de usar essa força para subjugar, ofender, humilhar, machucar e matar
seus semelhantes mais fracos.
A questão moral, levantada pelo Professor Natuliberalix, não se aplica.
Não interessa saber se a tortura é moral ou não, pois o conceito de moral
é variável. Aqueles que consideram haver uma guerra entre nós dirão que
a guerra é, em si, imoral e atinge tanto culpados como inocentes e que agir
assim nessa situação não é imoral.
Penso que se a tortura for legalizada pelo congresso, como propõe o pro-
fessor Demorradicalix, isso incentivará sua prática. Com o tempo, será tão
fácil conseguir um mandado para tortura como ocorre hoje com a busca e
apreensão ou a prisão. Será instituída a “tortura para averiguações”.
Além disso, será que o suspeito tem obrigação de confessar o crime? Será
razoável exigir que alguém forneça as provas para sua própria condenação?
Ao admitirmos a tortura, estamos supervalorizando a confissão como meio
de prova. Logo, ele voltará a ser a “rainha das provas” exatamente como ocor-
ria durante a Inquisição, quando muitas pessoas foram mortas por causa de
perseguições religiosas.
A história já deu provas que os governos não hesitam em transformar
seus opositores políticos em “inimigos”, “subversivos”, “terroristas”, etc. Na
minha opinião, devemos ter cuidado para que o direito não dê margem aos
abusos dos governos. Admitir a tortura é um convite ao abuso do poder.
Por mais pungente que seja o argumento da “bomba-relógio prestes a ex-
plodir”, nós temos a responsabilidade de seguir os princípios e valores que
julgamos serem corretos sem nos desviarmos desse caminho. Não devemos
submeter aos argumentos de “emergência” e nos conduzirmos de acordo com
nossa consciência, sob risco de destruirmos, nós mesmos, os valores pelos
quais lutamos: liberdade, igualdade e fraternidade.
IV — LEITURA OBRIGATÓRIA
I — INTRODUÇÃO
II — O CASO
IV — LEITURA OBRIGATÓRIA
so. Em alguns Estados norte-americanos, isso funciona dessa forma até hoje.
Devemos tratar todos como culpados, mesmo que a condenação ainda não
seja definitiva? Ou devemos tratá-los como inocentes?
O próprio STF tem colocado em liberdade centenas de pessoas contra as
quais não havia dados concretos que justificassem a prisão-cautelar. Alguns
foram posteriormente considerados culpados, tendo se aproveitado da deci-
são judicial para fugir (isso ocorreu com Salvatore Cacciola e Roger Abdel-
massih, por exemplo).
É verdade que essa regra permite que acusados ainda não condenados de-
finitivamente fujam. Mas é essa mesma regra que permite que inocentes não
sejam punidos em nome de uma condenação que poderá ser modificada.
I — INTRODUÇÃO
II — DINÂMICA DA AULA
IV — LEITURA OBRIGATÓRIA
I — INTRODUÇÃO
coisa alheia (que tenha valor pecuniário) por meios ilícitos (usando ou não o
atributo da violência); enquanto o segundo grupo não apresenta esta relação
aparente.
Neste sentido, o criminoso econômico pode ser encarado como um “em-
presário”, o qual é descrito por Schaefer (2000) como um agente que irá
organizar a sua produção, reunindo os fatores de produção disponíveis, as-
sumindo os riscos inerentes à atividade criminal. As expectativas do “em-
presário” criminoso também são de auferir lucro ou prejuízo. No caso de
malogro de uma operação ilegal, o prejuízo pode significar punições previstas
no Código Penal.
Se o crime lucrativo faz parte da questão econômica, as questões nucleares
que emergem desta contextualização resumem-se em: quais as circunstâncias
socioeconômicas da escolha ocupacional entre o setor legal e ilegal da econo-
mia, e por que os indivíduos decidem praticar crimes econômicos? Analisar
esses aspectos para uma amostra de réus − julgados e condenados −, oriundos
de estabelecimentos carcerários paranaenses, a partir de dados primários ob-
tidos via aplicação de questionário seguido de entrevista, poderá contribuir
para elucidar questões que outros delineamentos metodológicos não permi-
tem inferir. Reconhece-se, portanto, a importância e a necessidade do estudo
científico como ferramenta para a elaboração e implementação de políticas
de prevenção e combate à criminalidade, com um aspecto diferente, as causas
e imbricações da criminalidade lucrativa são explicitadas e discutidas pelo
próprio criminoso.
(...)
O crescimento do número de crimes e a insatisfação com as tradicionais
explicações da participação dos indivíduos em atividades ilícitas têm moti-
vado os economistas a estudarem com mais afinco a criminalidade (BAL-
BINOTTO NETO, 2003). Isso, no entanto, não é recente. Para Araujo Jr.
(2002), talvez tenha sido Fleisher (1963) o primeiro autor a relacionar a
importância de fatores econômicos na determinação da variação das taxas de
criminalidade. Mas, foi Becker (1968), com forte suporte em teoria econô-
mica, que fez o clássico trabalho que veio preencher a lacuna existente entre a
economia e o crime, e que apresentou “um modelo microeconômico no qual
os indivíduos decidem cometer ou não crimes, ou seja, fazem uma escolha
ocupacional entre o setor legal e o setor ilegal da economia” (ARAUJO JR.,
2002, p.3). A hipótese mor de Becker (1968) é que os agentes criminosos são
racionais, calculando o seu benefício de atuar ou não no setor ilícito da eco-
nomia.9 No tocante à concepção de Becker (1968), Balbinotto Neto (2003, 9
Competentes revisões de literatura
sobre economia do crime, nacional e
p.1) expõe que: internacional, foram feitas por Araujo
Jr. (2002), Cerqueira e Lobão (2003),
Brenner (2009), Mariano (2010) dentre
outros. Maiores considerações sobre
O argumento básico da abordagem econômica do crime é que os in- tais revisões, além de trabalhos empí-
fratores reagem aos incentivos, tanto positivos como negativos e que o ricos sobre esta temática, ver os autores
supracitados.
A economia do crime assume que uma pessoa age racionalmente com base
nos custos e benefícios inerentes às oportunidades legais e ilegais. Grande
parte dessa idéia advém do modelo de escolha ocupacional de trabalho. Na
realidade, essa teoria do comportamento criminal baseia-se na suposição de
escolha racional proposta por Beccaria e Bentham (EIDE, 1999; MARIA-
NO, 2010).
Outrossim, fundamentada na sua maioria em modelagens matemáticas, a
teoria econômica do crime experimentou mais recentemente alguns avanços
no estudo da criminalidade. A partir de citação de Borilli e Shikida (2002,
p.198) esses modelos podem ser classificados em:
Retorno
líquido +
médio do S
crime
Volume de crime
A
O C
B
E
D
D
THIAGO BOTTINO
Graduado em Direito pela Universidade Federal do Estado do Rio de Ja-
neiro (1999), Mestre (2004) e Doutor (2008) em Direito pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro. ; Pós-Doutor (visiting scholar)
na Columbia Law School (2014); Professor Adjunto da Escola de Direito
do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas e Coordenador do Cur-
so de Graduação em Direito. Leciona as disciplinas Crime e Sociedade,
Direito Penal Econômico e Direito Processual Penal na Graduação e na
Pós-Graduação lato sensu. É professor do curso de mestrado em Direito
e Regulação, lecionando a disciplina Reflexos Penais da Regulação Eco-
nômica.; Membro efetivo do IAB onde integra a Comissão Permanente
de Direito Penal.; Membro da Comissão de Estudos Penais da OAB/RJ.;
Coordenou projeto de pesquisa sobre as medidas cautelares no Proces-
so Penal em parceria com o Ministério da Justiça e com financiamento
do PNUD (base para o PL nº 2902/2011, em tramitação na Câmara dos
Deputados). ; Coordenou projeto de pesquisa sobre Habeas Corpus na
condição de Pesquisador-Visitante do IPEA (2014).; Integrou a Comis-
são de Exame de Ordem da OAB/RJ e a Comissão de Direitos Humanos
da OAB/RJ, tendo recebido a Medalha Chico Mendes oferecida pelo
Grupo Tortura Nunca Mais/RJ por sua atuação nesse período.; Autor de
livros e artigos sobre Direito Penal e Processual Penal, tendo proferido
palestras no Brasil e no exterior (Alemanha, França e Índia).; Link para
o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3134056986747443
COLABORADORES
Colaboraram na elaboração dessa apostila em 2013 a ex-aluna Paloma
Caneca e o aluno da Graduação Arthur Lardosa dos Santos.; Colaborou
na elaboração dessa apostila em 2014 o aluno da Graduação David Casz
Schechtman.
FICHA TÉCNICA