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Gabriel Callari e

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índice
Apresentação ................................................06
Sigmund
FREUD .................................................10
Carl Gustav
JUNG.................................................... 30
Eric
BERNE ................................................. 50
Abraham
MASLOW ........................................... 64
4
A Psicologia possivelmente é um dos campos
científicos mais instigantes para os leigos
e também um dos campos com maior possibilidade
de más interpretações. Digamos que boa parte das
pessoas desconhece o real objetivo da Psicologia
e o que realmente fazem os seus profissionais.
Por: Gabriel Callari

A
o pensar em Psicologia, o conceito popular remete à pro-
cura de um psicólogo ao tratamento de loucura, como se
isso em si fosse um diagnóstico preestabelecido, único e
indissociável, e, então, uma parte das pessoas associará imedi-
atamente a indivíduos com jalecos brancos tentando dominar a
mente de algum paciente em uma clínica (manicômio) na qual
os pacientes estão amarrados em camisas de força, com enfer-

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apresentação
“ O que nós somos é o que fazemos, e o que


ambiente nos faz fazer.
fazemos é o que o

John B. Watson

meiras que andam para cima e para baixo sempre munidas de


seringas com drogas tranquilizantes prontas para serem injeta-
das, ou mesmo ao divã (aquela “cadeira” longa em que os paci-
entes se deitam enquanto são analisados) e, enfim, uma série
de estereótipos comumente percebidos.
No entanto, a Psicologia vai muito além do que imaginamos
e por meio deste livro, dando um gostinho especial ao tratarmos
alguns detalhes e também, em alguns casos, apenas poucos
nuances da vida de famosos psicólogos ou psicanalistas que
tiveram grande contribuição para o desenvolvimento saudável
da profissão, esperamos despertar em cada um dos leitores a
curiosidade e a vontade de ir mais a fundo, de compreender
ainda mais a plenitude do trabalho desenvolvido pelo “pai da
psicanálise”, Sigmund Freud, e seus colegas de profissão, Carl
Jung, Eric Berne e Abraham Maslow.
Abordaremos de forma clara e concisa a história de vida des-
ses ícones da história mundial da Psicologia e lhes daremos a
possibilidade de contato com suas obras, suas linhas de pesqui-

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Manual Básico de P S I C O L O G I A

sa e o desenvolvimento da compreensão do que ocorre dentro


de nós, em nosso inconsciente, algo que surpreendentemente
até poucos anos atrás era desconhecido pela humanidade e tal-
vez exatamente por isso tenha sido tão desacreditado.
Basicamente, podemos definir a palavra Psicologia como es-
tudo/relato da alma/mente. A palavra deriva da união do grego
antigo psyche, ou seja, “alma” ou mesmo “mente”, com logia,
isto é, “estudo” ou mesmo “relato”. Creio que essa definição nos
dá uma vaga ideia da abrangência disponível nesta área de es-
tudos tão rica.
Não é novidade que a Psicologia possui mais de uma abor-
dagem. Em seu início, nos Estados Unidos, sua abordagem era
derivada da filosofia e, portanto, teóri-


ca. Na Europa, seu início foi com raízes
O objetivo da psicologia científicas, explorando os processos
mentais. Quando, na década de 1890,
é nos fornecer uma ideia o fisiologista Ivan Pavlov começou a
completamente diferente conduzir experimentos que provaram
que animais poderiam ser condicio-
sobre as coisas que


nados a responder e a reagir median-
conhecemos melhor. te estímulos, deu origem a uma linha
de pesquisa conhecida até hoje como
behaviorismo.
Os behavioristas focavam suas pesquisas na forma e nos
motivos pelos quais a interação com o ambiente moldava o com-
portamento dos animais e das pessoas.
Contudo, enquanto o behaviorismo se desenvolvia e começa-
va a tomar forma nos Estados Unidos, na Europa um jovem neu-
rologista seguia uma abordagem completamente diferente e por
meio da observação de pacientes desenvolveu a teoria psica-
nalítica, que marcou de vez o curso do comportamento contem-
porâneo. Esse jovem chamava-se Sigmund Freud e focava-se
na infância, no inconsciente, nas memórias esquecidas e como
elas influenciam o comportamento das pessoas. Essa teoria foi

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A P R E S E N TA ÇÃ O

recebida com muita surpresa, polêmica e resistência, no entanto


desenvolveu-se para a “cura pela fala” e é utilizada até hoje.
Com o passar dos anos, diversos estudiosos das teorias ci-
tadas deram continuidade aos estudos de seus “mestres”, o que
originou novas linhas de pesquisa e ramos das iniciais. No en-
tanto, conforme o tempo passou, tanto o behaviorismo quanto a
psicanálise caíram em desuso, o que proporcionou o crescimen-
to de outras teorias, como a psicologia cognitiva. Mas mesmo
com a diminuição de adeptos, a psicanálise não se extinguiu,
ao contrário, se desenvolveu e aos poucos foi reconquistando
seu espaço profissional e, ainda, foi se tornando mais aceita e
interessante para os leigos.
As propostas e polêmicas realizadas por esses quatro gran-
des ícones da psicologia abriram as portas para um mundo até
então bastante “ignorado” e permitiram que o pedestal em que
muitas nações se mantinham erguidas, no qual se considera-
vam plenas e conscientes de suas ações, fosse derrubado e
entrasse com tudo em um plano inconsciente em que nossas
ações seriam reflexo de memórias antigas, vontades reprimidas
e medos impronunciáveis, além de “memórias herdadas” que
se manifestam como símbolos, necessidades humanas, traduzi-
das como fomes, ou mesmo como a sociedade em si joga jogos
emocionais buscando satisfações internas e geralmente egoís-
tas, a necessidade humana e seu grito por contato físico, por
carícias e a manifestação do ego, a fuga da realidade por meio
de roteiros de vida atribuídos a nós por terceiros e, ainda, as
necessidades básicas existentes na “pirâmide da vida”.
Conforme disse o poeta francês Paul Valéry, “o objetivo da
psicologia é nos fornecer uma ideia completamente diferente
sobre as coisas que conhecemos melhor”. Portanto, esperamos
que este livro desperte a sua curiosidade e possibilite que você
descubra uma forma completamente diferente de enxergar aqui-
lo que você acredita conhecer por inteiro.
Boa leitura!

9
Sigmund
FREUD
A trajetória de vida de Freud foi no mínimo instigante. O
psicanalista era um homem obstinado pela busca da ver-
dade e da transformação dos métodos utilizados em sua
época. Foi considerado o criador da Psicanálise e um dos
maiores pensadores de todos os tempos.
10

Somos feitos de carne, mas temos
de viver como fôssemos de ferro.

Sigmund Freud

Conhecendo Sigmund Freud

N
ascido em 1856, em Freiburg, Morávia (atual Pribor, na
República Tcheca), sob o registro de Sigismund Schlomo
Freud, filho de Jacob Freud e Amalie Nathansohn, foi o
primogênito de cinco filhos. No entanto, em 1859 sua família se
mudou para a cidade Lípsia (Leipzig em alemão) e no ano se-
guinte, para Viena, cidade em que realmente se desenvolveu e
onde Sigismund tornou-se Sigmund.

Seus pais perceberam sua inteligência desde cedo e o conce-


deram um quarto de estudos individual para ser educado. Prepa-
rou-se para estudar Direito na Universidade de Viena, entretanto
no último momento matriculou-se como estudante de Medicina em
1873. Formou-se apenas em 1881, especializando-se em Psiquia-
tria, quando ficou noivo de Martha Bernays e trabalhou no Vienna
General Hospital, especializando-se em anatomia cerebral. Era
um homem revolucionário e com coragem suficiente para mu-
dar sua direção caso acreditasse ser necessário para alcançar a
verdade. Dedicou seus estudos sobre os efeitos terapêuticos da
cocaína no principal hospital de Viena, sofrendo uma desilusão
quando um amigo morreu por overdose dentro do laboratório.

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Manual Básico de P S I C O L O G I A

Freud, então, tirou uma licença e começou a trabalhar no


Saltpetriere Hospital, em Paris, sob a supervisão direta de Jean
Martin Charcot, um dos maiores clínicos e professores da Fran-
ça e grande estudioso da hipnose como meio de tratamento de
doenças psíquicas, mais especificamente da histeria.
De volta ao Vienna General Hospital, entusiasmado com es-
tudos com Charcot, Freud dedicou a maior parte de seus atendi-
mentos a jovens judias que sofriam de sintomas aparentemente
neurológicos, como paralisia, cegueira, perda de controle motor,
alucinações e mudanças no apetite. Na época, o tratamento uti-
lizado compreendia massagens, repousos e hipnose.
Em 1886, Freud casou-se com Martha. Diziam que sua pai-
xão por ela foi arrebatadora desde o momento em que se viram
pela primeira vez. Entretanto, ela nunca teria sido sua compa-
nheira na jornada intelectual. Martha atuava mais nos bastido-
res, cuidando dos detalhes domésticos que facilitavam a vida
do marido. Dizem, inclusive, que a esposa de Freud se sentia
deslocada e que o psicanalista tinha em sua mesa de trabalho
fotos de três mulheres, nenhuma delas era de Martha. A primeira
seria de Marie Bonaparte, princesa, paciente e amiga da família,
além de fundadora da Sociedade Psicanalítica de Paris; a se-
gunda, Yvette Guilbert, famosa bailarina e cantora e a terceira,
Lou Andreas-Salomé, discípula e parceira intelectual de Freud.
Nesse mesmo período, trabalhou com o psicólogo austríaco
Josef Breuer, com quem posteriormente escreveu e publicou o li-
vro “Estudos sobre a histeria”, considerado até hoje como o marco
inicial da teoria psicanalítica. O maior destaque obtido durante o
contato de Freud e Breuer se dá pela análise feita com uma das
pacientes de Breuer, Ana O., na verdade Bertha Pappenheim.
Ana O. apresentava uma série de sintomas que a faziam so-
frer paralisia com contratura muscular, dificuldades de pensar,
inibições e até cegueira. Tais sintomas haviam surgido durante
o período em que seu pai havia falecido. Quando estava em seu
estado natural, a paciente não conseguia indicar a origem dos
sintomas e possuía muita dificuldade em se manter sã e lúcida.
No entanto, em estado de hipnose, conseguia relatar a origem
de cada um deles, que estavam diretamente conectados com
seus sentimentos em relação à morte de seu pai.

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Sigmund F R E U D

Ao relembrar a origem e se defrontar com a realidade, os


sintomas desapareciam, não de forma mágica, mas sim devido
à liberação de todas as reações emotivas associadas ao evento
que a traumatizou. Breuer concluiu que os sintomas eram produ-
to de suas memórias perturbadoras que permaneciam obscuras
em sua mente inconsciente e que ao resgatá-las e trazê-las de
volta à realidade, dando voz aos pensamentos, possibilitou o
desaparecimento dos sintomas. Esse foi o primeiro caso de psi-
coterapia intensa como tratamento de doença mental.
Breuer denominou o tratamento que viabiliza a libera-
ção de afetos e emoções associadas aos acontecimentos trau-
máticos que não puderam ou não foram expressos na época do
trauma de método catártico. Freud e Breuer atuaram juntos por
certo tempo, até que as discordâncias de Breuer sobre a ênfase

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Manual Básico de P S I C O L O G I A

dada por Freud nas origens e nos conteúdos sexuais das neuro-
ses culminou no rompimento da parceria.
Em sua “Autobiografia (1925)”, Freud afirma ter utilizado a
hipnose desde o início de sua prática a fim de obter a origem
dos sintomas dos pacientes e que, em seguida, passou a utilizar
o método catártico e aos poucos o abandonou conforme modi-
ficava a técnica de Breuer e passou a utilizar a “concentração”,
na qual as lembranças surgiam por meio da conversação com
os pacientes. Afirma ainda que por meio de sugestão de uma
paciente, abandonou as perguntas e passou a confiar a direção
da sessão à fala desordenada do paciente.
Somente após a morte de seu pai, em 1896, Freud come-
çou a trabalhar no livro “A interpretação dos sonhos”, durante
um longo período de intensa reflexão, estudos e autoanálises.
Sua publicação ocorreu apenas em 1900. Meses após sua pu-
blicação, saiu também o livro “Sobre a psicopatologia da vida
cotidiana”, que abordava os “atos falhos”, revelando, por fim,
a mente inconsciente.
Edson Souza e Paulo Endo (2012), no livro intitulado “Sig-
mund Freud”, elucidam sobre o lançamento do livro “A interpre-
tação dos sonhos”:

“ Freud escreveu esse livro movido pela morte de seu pai,


ocorrida quatro anos antes, e nele revela muitos dos seus
sonhos e apresenta essas ideias como produção científica. Um
dos célebres e provocativos enunciados desse livro continua
vivo até hoje: ‘Os sonhos são realizações de desejos.’

Entretanto, o livro não foi bem aceito na época de seu lança-
mento, precisando de quase oito anos para esgotar a primeira
tiragem de apenas 600 livros. Bem diferente da percepção e da
aceitação atual. No ano de 1902, Freud se tornou professor de
psicopatologia na Universidade de Viena e em 1905 publicou

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Sigmund F R E U D

“Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” e “Os chistes e


sua relação com o inconsciente”, abrindo caminho para o cres-
cimento da Psicanálise.
Em 1920, Freud lançou o livro “Além do princípio do prazer”,
no mesmo ano em que sua segunda filha, grávida do terceiro
filho, morreu decorrente de uma epidemia de gripe. Durante
essa década, Freud lançou outros livros, como “O ego e o id
(1923)”, a já citada “Autobiografia (1925)” e “O futuro de uma
ilusão (1927)”. Na década seguinte, houve o lançamento de “O
mal-estar na civilização (1930)”, abordando o até hoje falado
“instinto de morte”, e “Por que a guerra? (1933)”, em parceria
com Albert Einstein.
Em função do regime nazista e a proibição da prática da psica-
nálise, Freud se mudou para Londres em 1938 com sua família.
Em 1939, morreu vítima de um câncer provavelmente origi-
nado em sua assiduidade em fumar charutos durante a vida.
Freud lutou contra esse câncer desde a década de 1920 de
forma otimista, surpreendente e, em alguns aspectos, me atre-
veria a dizer, bem-humorada. Conforme a doença avançava,
seus pacientes já não mais conseguiam entendê-lo claramente
e, acompanhado por muitos anos por seu médico, Max Schur,
acordara que quando a doença lhe tirasse as condições dignas
de sobrevivência, ele deveria ajudá-lo a morrer. Schur cumpriu o
acordo e em 23 de setembro de 1939, após algumas aplicações
de injeções intradérmicas de morfina, Freud faleceu. Seu corpo
foi cremado e suas cinzas foram depositadas em um vaso que
Freud ganhara de Marie Bonaparte.

Buscando a explicação
sobre os sonhos e os disfarces mentais
Os sonhos despertaram o interesse de Freud enquanto ele
trabalhava com pessoas com sintomas de psicose. Sua percep-
ção era de que os sonhos eram mais alguns sintomas a serem
somados no momento do entendimento das condições dos pa-
cientes, e eles identificavam sua saúde mental
Segundo Freud, “A interpretação dos sonhos é a principal via de

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Manual Básico de P S I C O L O G I A

acesso para se conhecer as atividades inconscientes da mente”.


Freud efetuou uma profunda pesquisa sobre o que se sabia
sobre sonhos em sua época e concluiu que pouco se sabia so-
bre sua real origem. Até então, sonho era tido como o resultado
de “excitações sensoriais”. Ou seja, segundo essa teoria, nossos
sonhos eram baseados em ações externas que se manifesta-
vam em forma de sonhos. Por exemplo, quando sonhamos que
estamos sem roupas em público, seria simplesmente o resultado
de nossos lençóis escorregando por nosso corpo rumo ao chão.
No entanto, Freud não estava convencido de que nossos
sonhos seriam moldados apenas por ações externas, que re-
almente faziam sentido em diversas situações, mas não ex-
plicariam tudo o que ele buscava, como as dimensões éticas,
morais e situacionais que construíam, por diversas vezes,
nossos sonhos. Logo, não poderiam ser originadas de estí-
mulos físicos externos.
Quando escreveu “A interpretação dos sonhos”, Freud havia
interpretado mais de mil sonhos e categorizado suas conclu-
sões. Dentre suas análises, pôde concluir que quase todos os
sonhos são realizações de desejos, que os sonhos podem ter
múltiplas camadas de significados onde vemos algo ou estamos
em algum lugar que na verdade significam outra coisa ou lugar,
sonhos são sempre sobre o self e apesar de geralmente utiliza-
rem impressões relacionadas aos dias recentes, podem também
utilizar acesso às memórias da infância.
Freud concluiu, portanto, que os sonhos podiam ter influência
de ações externas (físicas), como também influência das memó-
rias do dia ou mesmo distantes, da infância, para criarem o real
significado do sonho, mas não necessariamente serem a causa
dele. Os sonhos nada mais seriam do que um espaço, como
um campo ou mesmo uma arena, em que as pessoas podiam
manifestar os desejos mais profundos que em grande parte se
manifestavam de forma codificada. Mas Freud queria mesmo
era saber o porquê disso.
Novamente, dentro de suas análises, chegou à conclusão de
que, como parte de uma sociedade e com medo dos julgamen-
tos alheios, o ser humano reprime seus desejos tão fortemente,
que, mesmo se manifestando em sonhos, eles às vezes só con-

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Sigmund F R E U D

seguem chegar até nós quando estão disfarçados em alguma


instância, chegando ao cúmulo de se manifestar de forma opos-
ta ao que desejamos pelo simples fato de estarmos em negação
em relação a esse desejo específico, querendo escondê-lo dos
outros e de nós mesmos. Freud chamou esse fenômeno de “dis-
torção do sonho”.
Freud considerou que a razão principal para esquecermos
tão facilmente os nossos sonhos era devido ao eu consciente
querer reduzir o impacto causado pelo inconsciente. Para ele,
os sonhos são sempre autocentrados. Ou seja, mesmo quan-
do sonhamos com outras pessoas, elas simbolizam apenas nós
mesmos ou o que elas significam para nós. Quando sonhamos
com estranhos, desconhecidos ou quando não conseguimos
efetivamente identificar a pessoa no sonho, ela seria uma parte
de nosso eu que não conseguimos expressar quando estamos
acordados, ou seja, com a mente em vigília.
Tom Butler-Bowdon (2012), em “50 grandes mestres da psi-
cologia”, afirma que:

“ Na cosmologia de Freud, a civilização mal conseguiu


colocar uma tampa em nossos instintos, e o sexo era o mais
poderoso destes. Sonhos eram, então, muito mais do que
entretenimento fútil noturno – ao revelar nossas motivações
inconscientes, eles eram a chave para o entendimento da
natureza humana.

Freud foi centro de muita polêmica, principalmente nos Esta-
dos Unidos, onde consideravam que ele atacava o livre-arbítrio
humano, pois afirmava que nós, seres humanos, não estávamos
no comando das nossas mentes tanto quanto acreditávamos e
que os sonhos eram realmente o melhor meio pelo qual poderí-
amos entender a real natureza humana.

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Manual Básico de P S I C O L O G I A

Sexo,
o início de tudo
Durante as investigações sobre as causas e sobre o funcio-
namento das neuroses, Freud concluiu que grande parte dos
pensamentos e dos desejos reprimidos referia-se a conflitos de
origem sexual, que estariam localizados nos primeiros anos de
vida do indivíduo, ou seja, experiências traumáticas reprimidas
na fase infantil surgiam como sintomas na fase adulta, marcan-
do de vez a estruturação da pessoa.
Afirmar a existência da função sexual desde o princípio da
vida, logo após o nascimento, assim como afirmar que o pro-
cesso de desenvolvimento da sexualidade é longo, até chegar
à fase adulta, contrariava as ideias predominantes da época de
que o sexo estava ligado única e exclusivamente à reprodução e
causou muita repercussão na sociedade puritana, que caracte-
rizava a fase infantil como “inocente”, mesmo que efetivamente
uma coisa não excluísse a outra. Ainda segundo Freud, nos pri-
meiros anos de vida os indivíduos têm sua função sexual liga-

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Sigmund F R E U D

da à sobrevivência, portanto o prazer é encontrado no próprio


corpo. Ele classificou o desenvolvimento progressivo em fases:
fase oral, cuja zona de erotização é a boca; fase anal, cuja zona
de erotização é o ânus; fase fálica, cuja zona de erotização é o
órgão sexual. Em seguida, há um intervalo, um período latente
em que as atividades sexuais diminuem até a puberdade, alcan-
çando, por fim, a fase genital, em que o desejo sexual não se
encontra mais no próprio corpo, mas sim no corpo do outro.
Durante as fases citadas, vários processos se sucedem. Po-
demos destacar o Complexo de Édipo, baseado na tragédia de
Sófocles, “Édipo Rei”. Ocorre entre os três e os cinco anos de
idade, durante a fase fálica. No livro “Psicologias: uma introdu-
ção ao estudo de psicologia” (1999), os autores descrevem o
Complexo de Édipo proposto por Freud como:

“ [...] a mãe é o objeto de desejo do menino, e o pai é o ri-


val que impede seu acesso ao objeto desejado. Ele procura,
então, ser o pai para ‘ter’ a mãe, escolhendo-o como modelo
de comportamento, passando a internalizar as regras e as
normas sociais representadas e impostas pela autoridade
paterna. Posteriormente, por medo da perda do amor do
pai, ‘desiste’ da mãe, isto é, a mãe é ‘trocada’ pela riqueza
do mundo social e cultural, e o garoto pode, então, partici-
par do mundo social, pois tem suas regras básicas inter-
nalizadas através da identificação com o pai.

Freud também fala de Édipo Feminino, quando esse proces-
so ocorre com as meninas, tendo invertidas as figuras de desejo
e de identificação. Carl Jung descreve esse mesmo processo
como Complexo de Electra.

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Manual Básico de P S I C O L O G I A

A origem
do Tabu do incesto
Por meio do livro “Totem e tabu” (1917), o criador da psica-
nálise revelou ao mundo sua própria explicação sobre a origem
do tabu do incesto. Segundo definição do dicionário Michae-
lis, incesto é a união sexual entre parentes (consanguíneos ou
afins), condenada pela lei, pela moral e pela religião. Freud de-
senvolveu sua hipótese baseado num suposto modelo original
da sociedade humana, a horda, comparando-o a uma horda de
chimpanzés ou de babuínos, ou seja, um conjunto autorreprodu-
tivo de homens, mulheres e filhos, dominado por um ou poucos
homens, representando machos dominantes que detêm o con-
trole da sexualidade dos demais membros, inclusive dos filhos
e das filhas.
Mércio Pereira Gomes (2009), no livro “Antropologia”, descre-
ve a origem do tabu do incesto proposto por Freud:

“ Na hipotética sociedade humana em formação, o ma-


cho dominante, que seria o pai ancestral, é obedecido, mas
ao mesmo tempo odiado, porque exclui os filhos dos favores
sexuais das outras mulheres, suas irmãs. Um dia, os filhos
se rebelam e matam o pai para obter acesso sexual às irmãs.
No momento seguinte, são acometidos por um tremendo
sentimento de culpa pelo parricídio, o que os faz buscar uma
expiação, a qual se realiza pela elevação da memória do pai
a um status de respeito sobre-humano, quase divino.

Neste caso, demonstraria a origem do totem, que representa o
sagrado, que em muitas sociedades é representado por animais,

20
Sigmund F R E U D

plantas e pontos da natureza. Em seguida, Gomes (2009) descre-


ve que os filhos parricidas se proíbem de casar com suas irmãs e,
portanto, buscam as mulheres de outras hordas, proporcionando
uma espécie de troca de mulheres, instituindo, portanto, grupos
de parentesco, com a proibição do incesto, assim como a socie-
dade humana, como a conhecemos e vivenciamos hoje.
Esse mito especulativo e não científico instituído por Freud
explicaria a origem do sagrado, da reverência por outrem, a uni-
versalidade do tabu do incesto e a origem do parentesco como
importante parte organizadora da sociedade.

Inconsciente,
pulsões biológicas e o id, o ego e o superego
Segundo Freud, o consciente é apenas uma fração de tudo
o que existe em nossa realidade psicológica, existindo em um
nível mais superficial, de acesso fácil. Sob o consciente estão
as dimensões de armazenamento do inconsciente, que abrange

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Manual Básico de P S I C O L O G I A

tudo, o consciente e o chamado pré-consciente, que estaria em


um estado intermediário, podendo vir à tona ou não.
Freud disse: “A mente é como um iceberg que flutua com um
sétimo de seu volume acima da superfície.” Ou seja, mais uma
vez ele afirma a existência do inconsciente e do pré-consciente.
Dizia ainda que inconsciente é a dimensão que abriga as pul-
sões instintivas biológicas que orientam nosso comportamento e
nos direcionam para satisfazermos nossas necessidades bási-
cas, garantindo nossa sobrevivência: água, calor, abrigo, sexo.
Mas além das pulsões positivas que garantem nossa sobrevi-
vência, Freud afirmou a existência de outra pulsão, a pulsão de
morte, que seria autodestrutiva, mas nos faria caminhar para
frente, ainda que em direção à morte. O inconsciente abriga ain-
da, segundo Freud, uma enormidade de forças conflitantes, as-
sim como a intensidade das memórias e das emoções, muitas
vezes negativas, de baixa autoestima, e também as emoções
contraditórias em relação à nossa realidade reprimida diante de
nossa realidade consciente.
O psicanalista reforçava a importância em não lutarmos
contra nós mesmos, pois os problemas que ocorrem em nos-
so inconsciente surgem como sintomas manifestados em nosso
consciente. Seu tratamento inovador consistia em lidar com os
conflitos existentes no inconsciente, enfrentando o sofrimento
emocional enquanto livrava os pacientes das emoções e memó-
rias reprimidas para aliviar o sofrimento mental. Um processo in-
tenso e geralmente muito demorado, que exige muita disposição
do paciente e do psicanalista que realiza, podendo possuir ses-
sões que levam horas e que podem prosseguir por muitos anos.
Seus pacientes ficavam deitados em um divã e Freud se sen-
tava atrás deles, fora de seu alcance de visão, buscando pistas
que o levassem à origem do conflito interno vivenciado por eles.
Com o tempo, Freud se distanciou do conceito de que a mente é
estruturada em consciente, inconsciente e pré-consciente e inseriu
uma nova estrutura: o id (impulsos primitivos), o ego e o superego.
O id obedece ao Princípio do Prazer, no qual todos os desejos
devem ser imediatamente satisfeitos. O ego obedece ao Princí-
pio da Realidade, no qual não podemos ter tudo o que queremos
e devemos considerar o mundo em que vivemos. Segundo essa

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Sigmund F R E U D

estrutura, o ego negocia com o id para encontrar maneiras de


conseguir aquilo que se deseja de forma sensata. O superego
domina o ego e representa a moralidade imposta pela socieda-
de, é a fonte da culpa, da vergonha e da consciência, é a voz
internalizada dos pais.

As manifestações do inconsciente:
atos falhos e a associação livre
Os atos falhos e o processo de associação livre são ou-
tras formas bastante conhecidas de manifestações do nosso
inconsciente.
O primeiro trata-se de um erro verbal que demonstra um pen-
samento reprimido, algo que a pessoa estava pensando naquele
momento, mas não pretendia dizer, ou seja, a substituição de
uma palavra por outra parecida que revela total ou parcialmente
o que a pessoa queria dizer. Por exemplo, uma pessoa que está
atraída pela outra e quer dizer que está com saudades, em vez
de dizer “quero muito te ver”, no momento de um ato falho pode-
ria dizer “quero muito te ter”, revelando o que seu inconsciente
realmente pensa ou sente.
Buscando uma tentativa de impedir que o consciente detives-
se o inconsciente, Freud utilizava a técnica de associação livre
(desenvolvida por Carl Jung, que apresentaremos mais à fren-
te), na qual os pacientes deveriam dizer exatamente o que lhes
vinha à mente ao ouvir uma palavra qualquer dita por Freud.
Assim, os pensamentos ocultos poderiam surgir livremente, sem
a censura do consciente.
As emoções não digeridas frequentemente tentam emergir
e fazem com que as pessoas tomem cada vez mais medidas
extremas para mantê-las bem longe do consciente. A análise
permite que elas venham à tona e comumente pacientes que
passam por esse tipo de situação se emocionam com sentimen-
tos e emoções que julgavam estar mais do que resolvidas, su-
peradas, e ainda assim se mostram muito vivas internamente,
de forma recalcada e prejudicial para os seus desenvolvimentos
pessoal, profissional e social saudáveis.

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Manual Básico de P S I C O L O G I A

Freud usava o termo “catarse” para explicar esse momento


de liberação do sentimento e das emoções que viviam conecta-
das às memórias recalcadas.

Fragmentos
de uma vida sentida
Grande e impulsivo colecionador, apaixonado por antigui-
dades, Freud era capaz de fazer diversos sacrifícios para con-
cretizar a aquisição de determinado objeto. Algumas coleções
podem ser vistas no Museu Freud, localizado na casa em que
morou em Londres.
O próprio Freud descreveu como três as principais humilha-
ções da humanidade: a descoberta de Galileu de que a Terra
não é o centro do Universo, a descoberta de Darwin sobre os
humanos não serem o centro da criação, mas sim originados
dos macacos, e sua própria descoberta sobre o inconsciente
e de não estarmos sobre o comando pleno de nossas mentes

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Sigmund F R E U D

como imaginávamos. Seu filho Martin publicou em 1956, du-


rante a comemoração do centenário de seu nascimento, um
livro no qual relata detalhadamente alguns aspectos da vida
com o pai. Nele, Martin lembra emocionado os momentos de
brincadeiras e de muita atenção que recebia do pai. Apesar de
confirmar que Freud trabalhava muito, afirma que o pai sempre
dava muita atenção aos filhos durante as férias e inclusive os
colocava na cama.
No livro “Dia a dia com a família Freud”, publicado após a
morte da filha caçula, Anna Freud, o autor e também psicanalista
Detlef Berthelsen relata a aceitação de Freud diante do relacio-
namento amoroso e duradouro de Anna com a divorciada Doro-
thy Tiffany-Burlingham.
Em pouco mais de dez anos após a morte de Freud, sua es-
posa, Martha, também faleceu. Foi quando o biógrafo oficial de
Freud, Alfred Ernst Jones, teve acesso à correspondência do ca-
sal. Jones encontrou nada menos do que 1500 cartas trocadas
entre eles que revelam muitas características de Freud através
do tempo, apaixonado, inseguro, inquieto, sonhador, confiante,
com problemas financeiros, triste. Sousa e Endo (2012) relatam
uma passagem humana de Freud em uma das cartas à Martha
em que ele claramente filosofa sobre o amor:

“ Suponha simplesmente, querida menina, que o suces-


so correspondesse precisamente ao mérito do indivíduo: o
amor não se exporia a perder um pouco da sua pureza? Eu
não teria certeza se seria a mim que você amava ou ao meu
prestígio e se me sobreviesse um infortúnio, minha namo-
rada, você poderia dizer: ‘Não te amo mais, teu desmere-
cimento ficou provado’. Seria tão horrível como no mundo
dos uniformes, onde cada um usa seu mérito escrito no co-
larinho e no peito.

25
Manual Básico de P S I C O L O G I A

Entretanto, Freud buscou reconhecimento e prestígio em


cada sucesso, elogio, nova publicação ou êxito em que sempre
repartiu com Martha, pois isso significava uma melhor chance de
vida ao lado da amada.
Em uma carta ao médico otorrinolaringologista e amigo Fliess,
Freud relata um episódio marcante em sua vida e que demonstra
como algumas lembranças da infância impulsionam muitos acon-
tecimentos futuros. Diz que aos sete anos de idade, Freud urinou
no quarto dos pais e seu pai, extremamente irritado, teria excla-
mado: “Este menino nunca vai ser nada na vida!”. A mágoa de
Freud se estendeu ao longo dos anos e ele relata que constante-
mente sonhava com a cena do quarto dos pais e que em seguida
vinham imagens de algumas de suas conquistas, o que seria uma
forma de autoafirmação, provando que ele venceu na vida.
As cartas também mostraram o seu lado idealista, em que ele
conversava com a esposa sobre pacientes com situação finan-
ceira desfavorável e que ele atendia sem custo algum.
A cocaína foi um item indispensável durante a vida de Freud.
Na época, o uso dela era livre e as pessoas a consumiam com
chás, em cápsulas e até mesmo fazia parte da composição da

26
Sigmund F R E U D

Coca-Cola até 1903. Em algumas cartas, Freud relata a sensa-


ção que tinha ao consumir cocaína em momentos de desampa-
ro, angústia e depressão.
Em cartas enviadas ao genro Max Halberstadt, Freud relatou
sua angústia e pesar pela morte da filha Sophie, e em cartas à
sua mãe, ele utilizou critério e calma, mas mesmo assim refor-
çou a permissão de chorar pela perda de sua amada filha.
Sousa e Endo (2012) transcrevem fragmentos de uma carta
de Freud em que fica claro todo seu desamparo e descrença ao
se referir à perda de sua filha e onde ele busca claro conforto
nas palavras dos clássicos literários Schiller e Goethe:

“ A morte, dolorosa como é, não afeta minha atitude


perante a vida. Durante vários anos fui preparado para a
perda de nossos filhos e agora é a nossa filha; descrente in-
veterado, não tenho ninguém a quem acusar e compreendo
que não há lugar onde eu pudesse apresentar queixa. ‘A
hora do dever, sempre igual e que ainda volta’ (Schiller)
e ‘O caro e lindo hábito de viver’ (Goethe) farão sua parte
para deixar tudo prosseguir como antes.

Para os amigos e seguidores que estavam tão envoltos em
cartas e textos pautados no bom humor, característica marcante
em Freud, as cartas seguidas da morte de sua filha foram um
tanto quanto desanimadoras.
Freud fundou ainda a Sociedade de Psicanálise em Viena, por
meio da qual exerceu muita influência na formação dos profissio-
nais da época. No entanto, com o passar do tempo, a Socieda-
de se dividiu em três linhas: freudianos (fiéis às concepções de
Freud), kleinianos (seguidores de Melanie Klein) e neofreudianos
(utilizavam as ideias de Freud em uma prática mais ampla).

27
Manual Básico de P S I C O L O G I A

O avanço desconstruído.
Freud e o nazismo
Freud acompanhou a ascensão de Adolf Hitler e do Partido
Nacional-Socialista alemão, que disseminou as práticas antisse-
mitas em todos os lugares. A violência contra os judeus tornou-
-se uma política de Estado na Alemanha e posteriormente nos
demais países aliados e invadidos, como no caso da Áustria,
onde Freud viveu grande parte de sua vida.
Em 1933, Hitler se tornou chanceler e imediatamente deter-
minou a incineração pública de livros na Alemanha. Claro que os
alvos principais eram os livros de políticos e intelectuais judeus e
de esquerda. Dentre eles, estavam os livros de Freud, Einstein,
Marx, Kafka, dentre muitos outros. Foi neste momento que o
humor peculiar de Freud se manifestou em um conhecido co-
mentário direcionado a Ernst Jones: “Que progresso está acon-
tecendo! Na Idade Média teriam queimado a mim, hoje em dia
contentam-se em queimar meus livros.” Ainda nesse ano, Freud
negou os apelos de seus amigos para que ele deixasse Viena,
como tantos outros judeus e intelectuais de esquerda fizeram.
Mas Freud não queria saber de deixar sua cidade.
Conforme o regime nazista se alastrava, Freud registrou em
cartas o receio de não sobreviver por muito mais tempo, princi-
palmente após a implantação do programa de extermínio ocorri-
do na Segunda Guerra Mundial.
Em 1938, a Áustria foi finalmente tomada pelos alemães e as
práticas nazistas estavam mais presentes do que nunca. Viena
não era mais um lugar seguro para Freud e seus familiares, que
contaram com a ajuda de manobras de seus amigos, discípulos
e admiradores que trabalharam para transformar sua segurança
em um assunto internacional. Sua casa era vigiada 24 horas por
dia e chegou a ser invadida mais de uma vez por saqueadores
que sempre eram tratados com muita ironia por Freud e sua es-
posa, Martha.
Neste mesmo ano, o primogênito de Freud, Martin, foi deti-
do e levado por soldados nazistas para prestar esclarecimentos
por ter sido encontrado destruindo os comprovantes na editora
criada por Freud que tratava de periódicos de psicanálise, o que

28
Sigmund F R E U D

era proibido naquele absurdo regime. Martin passou o dia sendo


ameaçado com armas apontadas em sua direção. A situação
ficou ainda mais dramática quando sua filha, Anna, foi detida e
quase foi vítima de fuzilamento.
Com a ajuda de Marie Bonaparte, Ernst Jones e do embaixa-
dor dos Estados Unidos na Rússia, William Bullit, Freud e sua fa-
mília finalmente conseguiram deixar a Áustria. Em sua lista esta-
ria sua mulher, seus filhos, sua cunhada, duas assistentes, seu
médico pessoal com sua família e até cachorro. No entanto, nem
todos os parentes listados teriam podido deixar o país, como
suas quatro irmãs, Marie, Rosa, Adolfine e Pauline, já com ida-
des avançadas. Segundo o romance ficcional “A Irmã de Freud”,
o autor Goce Smilevski conta que Freud poderia tê-las salvado,
mas não o fez, o que gerou grande polêmica e questionamentos
por parte de seus admiradores.

29
Carl Gustav
JUNG
A trajetória da vida de Jung, pai da psicologia analítica,
foi marcada pela busca do objetivo mais nobre da psico-
terapia: possibilitar ao paciente firmeza e paciência para
suportar os sofrimentos da vida.
“Nós precisamos entender melhor a natureza
humana,porque o único perigo real que realmente


existe é o próprio homem.
Carl Gustav Jung

Conhecendo Jung

N
ascido em 1875, em Kesswil, pequena vila da Suíça, no
Cantão Turgóvia, foi muito próximo da depressiva mãe,
Emilie Preiswerk Jung, que nasceu em 1848 e faleceu
em 1923. Excêntrica e com distúrbios emocionais, chamada
por muitos de endemoninhada e incoerente, por diversas vezes
foi internada durante a infância do filho. O biógrafo Ellenberger
(1978) chegou a comentar que todo o lado da família materna de
Jung parecia apresentar traços de insanidade. Jung afirmava ter
herdado da mãe a capacidade de ver homens e coisas. O inte-
resse pela filosofia e ocultismo deu-lhe o título de místico.

O pai, Johann Paul Achiles Jung, pastor da reformada igreja


suíça, apresentou ao filho as escrituras bíblicas. Jung as reve-
renciou em sua experiência interior com Deus e fez da religiosi-
dade o foco de suas explorações e afirmava que se nas religiões
faltasse o empirismo, isso alimentaria a sede da personalidade.
Jung afirmava possuir duas personalidades separadas: um ego
público, exterior, que era envolvido com o mundo familiar, e um
eu interno, secreto, que tinha uma proximidade especial para
com Deus. Afirmava também que a psique humana tem natureza
religiosa, um dos focos de suas explorações. Jung é fonte de
estudos nas ciências da religião até hoje.
Manual Básico de P S I C O L O G I A

Desde a mais tenra idade utilizando-se da leitura na biblio-


teca familiar, ocupando o vazio de uma família desestruturada,
para sair da solidão, dedicou-se à leitura das obras de Heráclito,
Pitágoras, Platão, Kant e Goethe, que serviram de inspiração
para a construção de seu pensamento.
Em 1895, entrou no curso de Medicina da Universidade de
Basileia e já defendeu uma visão holística, propondo uma análi-
se integral do paciente e evitando generalizar qualquer método.
Propôs que as perguntas feitas pelos médicos devessem abran-
ger o ser humano em sua totalidade, não se limitando aos sinto-
mas que o paciente relatava sentir naquele momento. Em 1900,
especializou-se em psiquiatria e trabalhou na clínica psiquiátrica
Burghöolzli, em Zurique, como assistente de Eugen Bleuler, que
o incentivou a se tornar pesquisador. Em 1902, defendeu a tese
de doutoramento “Sobre a psicologia e a patologia dos chama-
dos fenômenos ocultos”. Mudou-se para Paris, onde estudou
com Pierre Janet, regressando no ano seguinte ao hospital de
Burghöolzli, onde assumiu um cargo de chefia e onde, em 1904,
montou um laboratório experimental em que implementou o tes-
te de associação de palavras para o diagnóstico psiquiátrico.
Em 1903, casou-se com Emma Rauschenbach, uma herdeira
suíça abastada, com quem teve cinco filhos: Franz Jung-Merker,
Agathe Niehus, Marianne Niehus, Helene Hoerni e Gret Baumann.
Em 17 de agosto de 1904, foi internada em Burghölzli a his-
térica Sabina Spielrein, com quem Jung envolve-se emocional-
mente, colocando em prática pela primeira vez o método de
Sigmund Scholomo Freud. Os conflitos que a relação traz para
o cristão e monogâmico são relatados em 1951 por Sabine Ri-
chebächer no livro “Sabina Spielrein de Jung a Freud”. Em 2012,
o diretor David Cronenberg, também baseado no romance amo-
roso, filma “A Dangerous Method”, traduzido para o português
como “Um Método Perigoso”.
Jung foi acusado de ser simpatizante ao nazismo, pois assu-
miu em 1933, ano da chegada ao poder de Adolf Hitler, a presi-
dência da Sociedade Médica Internacional Geral para a Psicote-
rapia. Acusação reafirmada quando, em 1934, diz que os judeus,
povo nômade, apoiavam-se no povo anfitrião para desenvolver
seus instintos. Se houve simpatia, também houve rebeldia. Na

32
Carl Gustav J U N G

presidência da Sociedade Médica Internacional de Psicoterapia


realizou dois congressos fora da Alemanha: 1937, em Cope-
nhague, e 1938, em Oxford. Interpretou o nacional-socialismo,
o comunismo e outros “ismos” em geral como fenômenos pa-
tológicos de identidade, uma irrupção do inconsciente coletivo.
Com a publicação, em 1940, da obra Psicologia e Religião, as
autoridades alemãs decidiram que toda sua obra fosse queima-
da nos países ocupados por Hitler.
Faleceu em 06 de junho de 1961, aos 85 anos, em sua casa,
às margens do lago de Zurique. Está sepultado na Protestant
Church Graveyard, Küsnacht, Suíça.

Sigmund Scholomo Freud


e Carl Gustav Jung
Jung viu em Sigmund Scholomo Freud um companheiro para
desbravar os caminhos da mente, enviou-lhe cópias de seus tra-

33
Manual Básico de P S I C O L O G I A

balhos sobre a existência do inconsciente, confirmando as con-


cepções freudianas de recalque e repressão. Encantaram-se
um com o outro, principalmente porque os dois desenvolviam
trabalhos inéditos em medicina e psiquiatria. A partir de 1913,
Freud e Jung passaram a se corresponder (359 cartas que pos-
teriormente foram publicadas entre 1906 e 1913).
O primeiro encontro entre eles ocorreu em Viena, em 27 de
fevereiro de 1907. Dizem que o trivial e simples encontro trans-
formou-se numa conversa de ininterruptas 13 horas. Depois
desse encontro, estabeleceram uma amizade de aproximada-
mente sete anos, durante a qual trocavam informações sobre
seus sonhos, análises, confidências, discutiam casos clínicos.
McGuirie (1974) afirma que Freud chegou a considerar Jung seu
substituto e herdeiro do movimento psicanalítico, chamando-o
de “meu sucessor e príncipe coroado”.
A parceria durou até o momento em que Jung desenvolveu
teorias divergentes de Freud e publicou em 1912 o livro “Trans-
formações e símbolos da libido”. Muitos afirmam que Freud

34
Carl Gustav J U N G

não aceitava ser contrariado. Nunca mais se viram ou trocaram


correspondências. Jung jamais conseguiu aceitar a insistência
de Freud de que as causas dos conflitos psíquicos sempre en-
volveriam algum trauma de natureza sexual. Freud não admitia
o interesse de Jung pelos fenômenos espirituais como fontes
válidas de estudo em si e afirmava que nossas experiências
são afetadas por pulsões primais contidas no inconsciente.
Jung leva essa ideia adiante e investiga os elementos cons-
tituintes do inconsciente e seus mecanismos. No livro “Sabina
Spielrein de Jung a Freud”, já mencionado, é afirmado que o
romance de Jung colocou em xeque a relação dele com seu
mestre Sigmund Freud e é considerado o primeiro escândalo
que a psicanálise vivenciou.

Psicologia analítica
Jung justificou o surgimento da psicologia apenas na moder-
nidade, afirmando que o vazio espiritual do ser humano antes
era preenchido pela mitologia e religiões.
A psicologia analítica, também conhecida como teoria sobre a
personalidade, psicologia junguiana ou psicologia complexa, foi
desenvolvida a partir de 1914, depois do rompimento da amiza-
de com Freud. Na psicologia analítica, encontramos uma noção
mais alargada da libido, criação dos conceitos de inconsciente
coletivo, sincronicidade e individuação. Esses são os grandes
pilares que distinguem a psicologia analítica da psicanálise ini-
ciada por Freud. Jung a desenvolveu com base na experiência
psiquiátrica, estudos de Freud e no conhecimento de alquimia,
mitologia, história das religiões.

Teoria da libido
Ampliando a teoria de libido de Freud, Jung caracteriza-
va a libido como toda a energia mental de um homem, ao
contrário de Freud, que considerava libido como um poder
semelhante ao conceito do Extremo Oriente do chi ou prana,

35
Manual Básico de P S I C O L O G I A

ou seja, como um esforço geral para alguma coisa. Segundo


a teoria da libido de Freud, na infância a libido se desenvolve
por várias etapas características do desenvolvimento: oral,
anal, fálica, edipiana e, finalmente, uma fase genital. Segun-
do ele, o distúrbio do desenvolvimento da libido pode levar a
transtornos mentais.

Inconsciente coletivo
Analisando as sociedades espalhadas ao redor do mundo,
Jung constatou que compartilhavam dos mesmos símbolos há
milhares de anos, concluindo que o ser humano tem uma parte
que não se apoia em nossas experiências individuais: o incons-
ciente coletivo (predisposições funcionais de organização do
psiquismo, composto por memórias herdadas).
Em “O Livro da Psicologia” (2012), os colaboradores afirmam
que o inconsciente individual repousa sobre uma camada mais
profunda, o inconsciente coletivo.
Tom Butler-Bowdon (2012), em “50 grandes mestres da psi-
cologia”, escreve que:

“ Freud tinha compreendido o inconsciente como algo


pessoal, contido dentro de um indivíduo. Jung, por outro
lado, acreditava que a mente inconsciente pessoal estava
situada em cima do inconsciente coletivo – a parte herdada
da psique humana que não era desenvolvida por experiên-
cia pessoal...

Alguns pesquisadores estudam até hoje para comprovar
que o registro do inconsciente coletivo está no ácido desoxir-
ribonucleico (DNA, do inglês “DeoxyriboNucleic Acid”, e ADN

36
Carl Gustav J U N G

em português). As pesquisas partem da premissa que a cons-


ciência genética e o inconsciente coletivo surgem exatamente
quando o sistema nervoso central se torna consciente de sua
ligação com os genes.
Para Jung, o inconsciente é um sistema passado de geração
em geração e em constante atividade, contendo todo o esque-
cido e também informações criativas organizadas segundo fun-
ções coletivas e herdadas. Seguindo esse raciocínio, afirmava
que uma criança não é uma tábula rasa, pois já nasceu pronta
para perceber padrões arquétipos e símbolos.

Sincronicidade
Sincronicidade ou coincidência significativa é um concei-
to desenvolvido por Jung para definir acontecimentos que se

37
Manual Básico de P S I C O L O G I A

relacionam pelo significado, e não por relação causal. A sin-


cronicidade difere da coincidência, pois não implica somen-
te a aleatoriedade das circunstâncias, mas sim um padrão
subjacente ou dinâmico que é expresso por meio de eventos
ou relações significativos. Este conceito uniu Jung ao físico
Wolfgang Pauli, dando início às pesquisas interdisciplinares
em Física e Psicologia.
A sincronicidade se manifesta atemporalmente em eventos
energéticos não causais e em ambos os casos são violados
princípios associados ao paradigma científico vigente. A sincro-
nicidade é reveladora e necessita de uma compreensão espon-
tânea, sem raciocínio lógico. Essa compreensão instantânea foi
denominada por Jung de “insight”.

38
Carl Gustav J U N G

Individuação
Individuação é o conceito central da psicologia analítica e do
processo central do desenvolvimento humano, no qual o indiví-
duo é capaz de integrar os opostos dentro de si.
O processo de individuação consiste em confrontar os vários
aspectos sombrios, reconhecendo-os e despindo-se da perso-
na e das imagens primordiais. Segundo Jung, o processo de
individuação nada tem de individualismo, muito pelo contrário,
é um processo que estimula o indivíduo a criar condições para
que cada um desperte o melhor de si e do outro o tempo todo,
fazendo-o sair do isolamento e empreender uma convivência
mais ampla e coletiva por estar mais próximo conscientemen-
te da totalidade, mas ainda mantendo sua individualidade. A
individuação consiste em aproximar o mundo do indivíduo. O
autoconhecimento é o caminho para promover as necessárias
quebras de padrões comportamentais que atravancam o pro-
cesso de individuação.
Tom Butler-Bowdon (2012), em “50 grandes mestres da psi-
cologia”, afirma que:

“ [...] o objetivo da vida era a ‘individuação’ deste self, um


tipo de união do consciente de uma pessoa e das mentes in-
conscientes, para que sua promessa original única pudesse
ser alcançada. Esta concepção mais ampla do self também
era baseada na ideia de que humanos são expressões de
uma camada mais profunda de consciência universal. Para
compreender a singularidade de cada pessoa, paradoxal-
mente, tínhamos que ir além do self pessoal para entender o
funcionamento deste conhecimento coletivo mais amplo.

39
Manual Básico de P S I C O L O G I A

Para Rosangela Corrêa, psicoterapeuta especialista em psi-


cologia junguiana, individuação é um arquétipo, mas o fato de
termos este arquétipo não significa que o processo de indivi-
duação esteja em andamento, mas o self promove chamados
para este processo sem um final determinado, visto que a psi-
que é dinâmica. Entretanto, é preciso que o Ego queira e se
sinta motivado a empreender este processo, cuja tendência
muitas vezes é no sentido contrário, visto que normalmente é
um processo doloroso.
Jung aponta os sonhos como forças naturais que auxiliam o
ser humano no processo de individuação. Mais à frente tratare-
mos dos sonhos dentro da interpretação da psicologia analítica.

40
Carl Gustav J U N G

Personalidade
extrovertida e introvertida
Atualmente tão conhecido e disseminado, mas foi Jung que
desenvolveu o conceito da personalidade extrovertida e intro-
vertida. Elvina Lessa, do Instituto Junguiano do Rio de Janeiro,
afirma que a distinção que Jung faz entre as personalidades re-
side na direção dos interesses e no movimento da libido (energia
psíquica).
Jung determina os dois principais tipos psicológicos, as duas
grandes direções da libido: a extroversão e a introversão.
Pessoas de personalidade extrovertida têm o enfoque dado
ao objeto e pessoas de personalidade introvertida têm o enfoque
dado ao sujeito. As extrovertidas encarregam-se da iniciativa, da
ação prática. As introvertidas encarregam-se da reflexão.
Na extroversão, a energia da pessoa flui de maneira natural
para o mundo externo de objetos, fatos e pessoas. Encontramos
nos extrovertidos ações realizadas antes de pensar, comunica-
bilidade, sociabilidade e facilidade de expressão oral.
Extroversão é o fluir da libido de dentro para fora.
O indivíduo extrovertido vai confiante de encontro ao objeto,
favorecendo sua adaptação às condições externas.
Na introversão, o indivíduo direciona a atenção para o seu
mundo interno de impressões, emoções e pensamentos.
Encontramos nos introvertidos ações voltadas para o interior,
o pensar antes do agir, postura reservada, retraimento social, re-
tenção das emoções, discrição e facilidade de expressão escrita.
O introvertido ocupa-se dos seus processos internos suscita-
dos pelos fatos externos.
Pessoas introvertidas têm sua orientação por fatores subjeti-
vos, dentro da realidade, e não se baseiam pelo aspecto objetivo.

Classificação
de Myers Briggs (MBTI)
A classificação de Myers Briggs (MBTI) é um instrumento utili-
zado para identificar características e preferências pessoais de-

41
Manual Básico de P S I C O L O G I A

senvolvido por Katharine Cook Briggs e sua filha Isabel Briggs


Myres durante a Segunda Guerra Mundial (de 1939 a 1945),
com base nas teorias de Jung sobre os tipos psicológicos. Esta
classificação considera que os indivíduos acham certas manei-
ras de pensar e agir mais fáceis do que as outras, com base em
quatro pares opostos de maneiras de pensar e agir, chamados
dicotomias (extroversão/introversão, sensorial/intuição, razão/
sentimento e julgamento/percepção).
Indivíduos extrovertidos obtêm energia por meio da ação, rea-
lizam várias atividades; agem primeiro e depois pensam. Quando
inativos, sua energia diminui. Em geral, são sociáveis. Os introver-
tidos obtêm energia quando estão envolvidos com ideias; refletem
antes de agir e novamente refletem. Precisam de tempo para pen-
sar e recuperar sua energia. Em geral, são pouco sociáveis.
Os sensoriais são indivíduos que confiam em coisas palpáveis,
concretas, informações sensoriais. Gostam de detalhes e fatos.
Para eles, o significado está nos dados. Precisam de muitas infor-
mações. Os intuitivos preferem informações abstratas e teóricas,
que podem ser associadas a outras informações. Gostam de inter-
pretar os dados com base em suas crenças e experiências pesso-
ais. Trabalham bem com informações incompletas e imperfeitas.
Os racionalistas decidem com base na lógica e procuram ar-
gumentos racionais. Em contrapartida, os sentimentais decidem
com base em seus sentimentos, lembrando que sentimentos
são diferentes de emoções. Sentimento é o que os seres huma-
nos são capazes de sentir nas situações que vivenciam. Medo é
uma informação de que há risco, ameaça ou perigo direto para
o próprio ser ou para interesses correlatos. A empatia é infor-
mação sobre os sentimentos dos outros. Esta informação não
resulta necessariamente na mesma reação entre os receptores,
mas varia, dependendo da competência em lidar com a situação
e como isso se relaciona com experiências passadas e outros
fatores. Emoções são experiências subjetivas, associadas ao
temperamento, personalidade e motivação. Motivação deriva do
latim “emovere”, que significa movimento de fora para dentro.
Pessoas julgadoras são aquelas que se sentem tranquilas
quando as decisões são tomadas, e pessoas perceptivas sen-
tem-se tranquilas deixando as opções em aberto.

42
Carl Gustav J U N G

Arquétipos
Para Jung, cada um dos mitos das mitologias representa uma
faceta do ser humano. Jung era fascinado pelo fato de diferentes
sociedades espalhadas pelo mundo apresentarem os mesmos
mitos e símbolos há milhares de anos. Ele definiu as partes do
ser humano encontradas na Mitologia como Arquétipos. Arquéti-
po, do latim, “archetypum”, primeiro modelo, imagem atemporal
de alguma coisa, antigas impressões sobre algo. Jung afirmava
que utilizamos os arquétipos inconscientemente para organizar
e compreender nossas próprias experiências.
Philipp Wilhelm Adolf Bastian (1826-1905), etnólogo alemão que
desenvolveu a teoria do Elementargedanke e que propiciou o de-
senvolvimento da psicologia analítica de Jung, entendia os arqué-
tipos como pensamentos repetidamente vistos em culturas tribais
e povos. Para comprovar que os arquétipos moldam os relaciona-
mentos, Jung conheceu povos nativos da América e da África.
Na Psicologia Analítica, arquétipo é a forma imaterial à qual os
fenômenos psíquicos tendem a se moldar, estruturas inatas que
servem de matriz para a expressão e desenvolvimento da psique.

43
Manual Básico de P S I C O L O G I A

Ao estudar os mitos gregos, Jung encontrou o amor, a agressi-


vidade, a transformação, a religiosidade etc. O ser humano traz
consigo predisposições dos seus ancestrais mais distantes e in-
conscientemente repete os mitos, símbolos de maneira tão atuali-
zada a seu tempo, que fica difícil encontrar a origem mitológica. O
inconsciente fala com o homem por meio da linguagem simbólica,
eis também aí o ponto de partida para os estudos sobre os so-
nhos de Freud e Jung.
Jung, ao estudar os fenômenos paranormais, encontrou no per-
sonagem mitológico Hermes o arquétipo dos videntes. Seguindo
o mesmo raciocínio, quando encontramos uma mulher vaidosa,
sedutora, envolvida, dentre tantas possibilidades, em um relacio-
namento não duradouro por culpa do homem, estamos diante da

44
Carl Gustav J U N G

versão atual e inconsciente de uma deusa Afrodite. A Psicologia


Analítica sugere que devemos desenvolver todas as qualidades
oferecidas pelos nossos deuses e deusas. Não é aconselhável
a reprodução de um único arquétipo em detrimento da riqueza
inconsciente que carregamos.
A interpretação de sonhos é uma ferramenta crucial para a
psicologia analítica, utilizando-se dos arquétipos. Logo mais
trataremos disso. O escritor, filósofo e psicólogo Robert Anton
Wilson afirma que Jung mostrou que os arquétipos não são
oriundos de mundos exteriores, espirituais e metafísicos, mas
sim frutos de uma redução mínima para a qual retorna todo o or-
ganismo, incluindo o ser humano e sua mente racional e criativa.
Os deuses não eram algo posterior ao mundo, mas algo anterior
ao corpo e ainda presente nele. “Conhece a ti mesmo e conhe-
cerás o teu Senhor”, ensinou o Islamismo, enquanto a tradição
cristã apregoava “O Reino dos Céus está dentro de ti”.
Os estudos arquétipos de Jung com a mitologia, mais do que
um ponto de chegada, põem-se como ponto de partida de con-
tínuos estudos.

Os sonhos
Jung analisou os sonhos e sua simbolização baseado na ob-
servação dos seus pacientes e em experiências próprias.
Jung constatou que alguém masculinizado pode sonhar com
figuras femininas que tentam demonstrar ao sonhador a neces-
sidade de uma mudança de atitude. Na busca pelo equilíbrio,
personagens arquetípicas interagem nos sonhos em um conflito
que busca levar ao consciente conteúdos do inconsciente.
Segundo Jung, encontramos nos sonhos as personagens:
Anima, Animus e Sombra. Anima é o componente feminino da
personalidade masculina. Animus é o componente masculino da
personalidade feminina. Sombra é a força que se alimenta dos
aspectos não aceitos de nossa personalidade. Quando nos tor-
namos inteiramente homem ou mulher, deixamos de explorar
metade do nosso potencial. Porém, podemos acessar a outra
metade a qualquer momento por meio de um arquétipo.

45
Manual Básico de P S I C O L O G I A

Jung afirmava que toda sombra negada, também chamada


por ele de a “vilã”, inevitavelmente seria projetada. As projeções
geralmente provocam grandes movimentos de energia, desper-
tando passionalidade em todas as partes envolvidas. A sombra
pode estar projetada de forma positiva ou negativa, ou seja, a
pessoa pode ficar fascinada pelo outro, tentando possuí-lo ou
destruí-lo doentiamente – amor ou ódio, dependerá da influência
que o conteúdo projetado provoque no projetor.
Ao longo de sua vida, Jung experimentou sonhos periódicos
e visões com notáveis características mitológicas e religiosas, os
quais despertaram o seu interesse por mitos, sonhos e a psico-
logia da religião; logicamente, tudo isso ligado à influência pelo
pai com as escrituras bíblicas já mencionadas. Ao lado destas
experiências, certos fenômenos parapsicológicos emergiam,
sempre para lhe redobrar o espanto e o questionamento.
Para interpretar os sonhos, é necessário também saber como
o protagonista lida com as sombras, as adversidades, a autori-
dade e a oposição de ideias.
Jung categoriza dois sonhos: os comuns e os arquetípicos. Os
últimos, revestidos de grande poder revelador para quem sonha.
Os sonhos são cargas emocionais armazenadas no inconscien-
te que projetam imagens e sons e, de acordo com Freud, sabemos
que os objetos nos sonhos são derivados de cargas emocionais,
podemos através deles chegar à raiz. Se forem estudados corre-
tamente, pode-se conhecer o momento psicológico do indivíduo.
Fazendo uma analogia, poderíamos pensar numa espécie de
“fotografia” do inconsciente naquele momento. Por isso, o so-
nho sempre demonstra aspectos da vida emocional por meio de
uma linguagem denominada, também por Freud, de símbolos.
Para entender os conteúdos dos sonhos, temos que reconhecer
o que os símbolos representam para o protagonista.
Para Konstantin Sergeievich Alekseiev, mais conhecido por
Constantin Stanislavski , ator, diretor, pedagogo e escritor russo
de grande destaque entre os séculos XIX e XX, a simbologia dos
sonhos não só está dada pelo contato que o criador do sonho teve
com o objeto, mas também com o caráter, ou seja, a forma que
ele relaciona sentimentalmente esse objeto a coisas de sua vida.
O mar pode apresentar distintas simbologias, conforme a

46
Carl Gustav J U N G

época, variando de pessoa a pessoa. O mar pode significar des-


truição e, para outros, invasão, pois a água pode significar algo
ou alguém invadindo o território do protagonista. Para Freud, o
que a pessoa sente quanto ao objeto ou situação é fundamental
para a interpretação de um sonho.
Segundo Jung, o inconsciente pessoal consiste fundamental-
mente de material reprimido e de complexos; o inconsciente co-
letivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sen-
sibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que conste-
lam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos.
Ao contrário de Freud, as situações absurdas dos sonhos
para Jung não seriam uma fachada, mas a forma própria do in-
consciente de se expressar, uma ferramenta da psique que bus-
ca o equilíbrio por meio da compensação.
Em 1900, Freud publica o livro “A interpretação dos sonhos”,
dando caráter científico à matéria e entendendo que o conteúdo
do sonho é a realização de um desejo.

47
Manual Básico de P S I C O L O G I A

No enredo do sonho, encontramos dois sentidos: o sentido


manifesto (a fachada) e o sentido latente (o significado), este
último realmente importante. A fachada seria um despiste do su-
perego (o censor da psique, que escolhe o que se torna cons-
ciente ou não dos conteúdos inconscientes), enquanto o sentido
latente, por meio da interpretação simbólica, revelaria o desejo
do sonhador por trás dos aparentes absurdos da narrativa.
Jung tornou mais abrangente o papel dos sonhos, que não
seriam apenas reveladores de desejos ocultos.
Waldemar Magaldi, fundador do Instituto Junguiano de Ensino e
Pesquisa (IJEP), ensina que os sonhos sempre foram seus guias,
desde a mais tenra idade, para a sua vida cotidiana, as suas esco-
lhas, os seus medos e incompletudes. Por meio da própria autoa-
nálise, constatou que os sonhos contêm imagens e associações
de pensamentos que não criamos através da intenção consciente.
Eles aparecem de modo espontâneo, sem nossa intervenção, e
revelam uma atividade psíquica alheia à nossa vontade arbitrária.
Na psicoterapia de orientação junguiana, o sonho é o porta-
-voz do inconsciente, com a função de revelar os segredos que
a consciência desconhece, indicando as tendências básicas do
processo psíquico. A psicologia analítica defende a teoria de que
os sonhos são os deuses disfarçados em suas inúmeras faces.
Eles habitam o mundo das trevas, onde existem leis próprias e to-

48
Carl Gustav J U N G

talmente diferentes do mundo da luz, que é o ego. Por essa razão,


não poderemos trabalhar os sonhos com a lógica do ego, e sim
com a não lógica da alma. Simplificadamente, os sonhos seriam o
diálogo entre o self consciente e o ego e o inconsciente coletivo.
Os arquétipos atuam como símbolos, facilitando o diálogo.
Muitas terapias psicanalíticas usam os sonhos como a estra-
da real para o conhecimento da mente.
Após anos estudando os sonhos e estruturando a psicologia
analítica, Jung propõe que a psique é formada em três partes:
ego, inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. O ego repre-
senta a mente consciente, o self; o inconsciente pessoal, as
memórias do indivíduo, inclusive as suprimidas; o inconsciente
coletivo abriga os arquétipos.

Obra de Jung
A obra de Jung influencia até os dias de hoje a psiquiatria, o
estudo das religiões e a literatura.
Já mencionamos que em 1902 Jung lançou sua tese de dou-
toramento “Sobre a psicologia e a patologia dos fenômenos ditos
ocultos”. Em 1907, escreveu “Psicologia da Demência Precoce”,
em 1911-1912 escreveu “Psicologia do inconsciente” e em 1912,
“Símbolos da transformação”.
Em 1913, Jung batizou sua psicologia de “Psicologia Analíti-
ca”. Em 1916, escreveu “Sete Sermões aos Mortos” e “A Função
Transcendente” (estudo sobre os gnósticos). Já em 1921, escre-
veu “Tipos Psicológicos”, em 1928, “O Eu e o Inconsciente”, e
em 1934, “Os arquétipos e o inconsciente coletivo”.
Em 1936, foi condecorado com o título Doutor “honoris cau-
sa” na Universidade Harvard nos Estados Unidos e em 1945 na
Universidade de Genebra.
Em 1937, escreveu “Psicologia e Religião”; em 1944, “Psi-
cologia e Alquimia”; em 1945, “On The Nature of Dreams”; em
1951, “Aion”; em 1952, “Sincronicidade” e “Resposta a Jó”. Em
1957, escreveu “Eu Desconhecido” e começou a redação de sua
autobiografia “Memórias, Sonhos e Reflexões”, com Aniela Ja-
ffé. Em 1961, dez dias antes de morrer, terminou o ensaio “O
homem e seus símbolos”.

49
Eric
BERNE
O criador da Análise Transacional nasceu em 10 de maio
de 1910 no Canadá, com nome de registro Eric Lennard
Bernstein, filho de um médico e de uma escritora. Apenas
quando recebeu sua cidadania americana, em 1943, mu-
dou seu nome para Eric Berne.
“Os jogos são um compromisso entre intimidade


e manter a intimidade de distância.
Eric Berne

Conhecendo Eric Berne

B
erne se formou em medicina na Universidade de McGill
em 1935, especializando-se em psicanálise na Univer-
sidade de Yale. Seu primeiro emprego foi como Clínico
Assistente em Psiquiatria no Hospital Mt. Zion, em Nova York
até começar a trabalhar no Corpo Médico do Exército Ameri-
cano. Retomou seus estudos, sendo supervisionado pelo ga-
nhador do Prêmio Pulitzer, Erik Erikson, no Instituto Psicana-
lítico de São Francisco.

O que se acredita ter originado a Análise Transacional está


contido nos primeiros cinco artigos que Berne escreveu em 1949
sobre a intuição. Ele nunca escondeu sua vontade em desen-
volver uma nova abordagem para a psicoterapia. Foi por meio
da produção de artigos que Berne demonstrou como chegou ao
conceito de estados do ego e o motivo de separar “Adulto” de
“Criança”. Assim como o esquema utilizado atualmente de Pai,
Adulto e Criança, que é demonstrado em um diagrama em três
círculos, e como esquematizar as contaminações, denominou de
teoria da “análise estrutural” e a classificou como uma nova abor-
dagem psicoterapêutica.
Manual Básico de P S I C O L O G I A

Em 1957, apresentou um terceiro artigo, intitulado “Análise


Transacional: um novo e efetivo método de terapia de grupo”,
que foi apresentado no Encontro Regional da Associação Ame-
ricana de Terapia de Grupo em Los Angeles, que, além de re-
forçar os conceitos P-A-C, análise estrutural e estados de ego,
incluiu os jogos e os scripts (roteiros). O Jornal Americano de
Psicoterapia publicou o artigo em 1958, inserindo, definitivamen-
te, a Análise Transacional na literatura psicoterapêutica.
Em 1964, Berne e seus colegas fundaram uma Associação
de Análise, a International Transactional Analysis Association,
devido ao enorme número de Analistas Transacionais profissio-
nais que não parava de crescer.
Em seu 60º aniversário, Berne conversou com seus amigos e
lhes disse que se sentia muito bem, no entanto poucas semanas
depois teve dois ataques do coração, o que ocorreu pouco de-
pois de ter enviado para a editora Grove Press o manuscrito de
“O que você diz depois de dizer olá”. Porém, em 26 de junho ele
sofreu novas dores e teve outro ataque cardíaco, que resultou
em sua morte, no dia 15 de julho de 1970.

Do desprezo
ao reconhecimento
O livro base de sua pesquisa foi lançado em 1961 sob o título
de “Análise Transacional em psicoterapia”. Apenas em 1964 ele
lançou a sequência de seu trabalho, pautada nos mesmos con-
ceitos, mas com um toque bem diferente, a começar pelo título,
que despertava a curiosidade imediata, “Os Jogos da Vida”, e
atraiu muito mais atenção do que o primeiro, em aproximada-
mente dois anos o livro já tinha alcançado a venda de 300 mil
cópias em capa dura.
O livro alcançou um marco incomum, principalmente por não
se tratar de ficção, e permaneceu dois anos na lista dos mais ven-
didos do The New York Times, permitindo que Berne, já com mais
de 50 anos, casasse de novo, comprasse uma casa e um carro.
Os psicólogos mais tradicionais na época consideravam o livro de
Berne superficial e condescendente com o público, desprezando-o.

52
Eric B E R N E

O autor de “50 Grandes Mestres da Psicologia”, Tom Butler-


-Bowdon (2012), descreve o sentimento vivido na época e o que
levava o público a comprar o livro:

“[...] marcou o início do boom da psicologia popular, por


um lado, diferente da mera autoajuda e, por outro, dife-
rente da psicologia teórica da academia. [...] na realidade,
as primeiras 50 ou 60 páginas são escritas em um estilo
muito sério, erudito. Só na segunda parte o tom fica mais
leve e esta é a seção pela qual a maioria das pessoas com-
prou o livro.”

53
Manual Básico de P S I C O L O G I A

O autor finaliza informando que até hoje o livro vendeu mais de


cinco milhões de cópias e que a expressão “jogos da vida” foi intro-
duzida na língua inglesa.

Carícias
ou estímulos (Strokes)
Por meio de uma pesquisa, Berne pôde concluir que crianças
privadas de contato físico frequentemente sofriam algum tipo de
deterioração mental e/ou física irreversível e sugeriu que adultos
que fossem privados de contato físico pudessem desenvolver
psicose temporária.
O ser humano como um todo necessita de contato físico, mas
como nem sempre o contato está disponível, pode ser subs-
tituído por outros meios. Hoje em dia podemos tratar das re-
des sociais e tenho certeza de que a maioria das pessoas que
possui perfis em redes sociais tem ao menos um amigo virtual
que constantemente posta fotos, vídeos ou textos somente para

54
Eric B E R N E

chamar a atenção e ter seu ego alimentado. Esse toque é ca-


racterizado por Berne como “carícias”, não no sentido sexual da
palavra, mas sim como forma de contato emocional simbólico
vindo de outras pessoas, podendo ser até mesmo apenas um
elogio. Berne chamou as carícias de uma “unidade fundamental
de ação social”.

Jogos emocionais
ou psicológicos
Segundo Berne, jogos são “uma série de progressos de tran-
sações ulteriores complementares que se desenvolvem até um
desfecho bem definido e previsível”.
Tendo em vista sua conclusão sobre a necessidade humana
de receber carícias, Berne definiu que para os seres humanos
qualquer tipo de estímulo é melhor do que nenhum, mesmo que
negativo. É exatamente para receber esses estímulos que mui-
tas pessoas se ocupam com os jogos, que nada mais são do que
padrões disfuncionais de comportamento, buscando substituir o
contato em si, em que a pessoa busca satisfazer uma motivação
nem sempre clara, mas que sempre envolve uma recompensa.
Os jogos podem ser comparados ao pôquer, um jogo basea-
do no blefe, ou seja, quando escondemos o motivo real e busca-
mos a recompensa, o dinheiro. A maioria das pessoas não tem
consciência de que está jogando um jogo psicológico, mesmo
que faça isso diariamente.
Muitas pessoas não conseguem manter uma relação íntima
com outra se não for baseada no jogo psicológico em que a re-
compensa envolva aumento do controle ou satisfação emocional.
Segundo Berne, os jogos são passados de geração a gera-
ção, sendo que os jogos mais praticados por um indivíduo pro-
vavelmente têm sua origem em seus pais ou avós e provavel-
mente também serão repetidos por seus filhos. Essa grande ma-
triz histórica de jogos desenvolvida nas famílias somente poderá
ser quebrada se houver uma intervenção bem-sucedida. Criar
os filhos é apenas uma forma de ensiná-los quais jogos devem
jogar, tão simples e prejudicial assim. Portanto, o conhecimento

55
Manual Básico de P S I C O L O G I A

dos papéis envolvidos e das emoções vividas nessas situações


pode ser uma “carta na manga” para um desenvolvimento mais
saudável e feliz, individual ou em grupo.
Berne escolheu nomes fáceis de serem entendidos para que
fique bem claro o processo de cada um deles. Segue alguns
exemplos:

1- “Por que você não... – Sim, mas...”


Este jogo tem início quando se expõe um problema a outra pes-
soa e esta o responde, oferecendo diversas sugestões construtivas
para resolvê-lo. No entanto, a pessoa que apresentou o problema
sempre responde “sim, mas” e busca, dentro do estado do ego
Criança, encontrar novos problemas para não resolver o inicial e,
assim, ganhar a simpatia dos outros devido à sua incapacidade de
resolver seus próprios problemas. A pessoa que tenta ajudar ganha
a possibilidade de usar o estado do ego do Pai sábio.

2- “Perna de pau”
O jogador deste jogo atuará na defensiva o tempo todo e uti-
lizará qualquer aspecto de sua vida, por mais insignificante que
este seja, para justificar a sua falta de motivação e competência
diante de algumas situações, para se isentar da responsabilida-
de na solução dos problemas enfrentados. Geralmente, trará de
volta ao presente problemas do passado, deficiências físicas,
falta de dinheiro etc.

3- “Se não fosse por você”


Visando escapar da responsabilidade de seus medos e fa-
lhas, esse jogo geralmente é jogado entre casais, de forma a
culpar o parceiro/parceira por não alcançar na vida algo que
gostaria muito. Talvez deixar de vivenciar algo que você gosta-
ria, mas que inconscientemente te apavora e, para não ter que
lidar com isso, a culpa vai para o(a) parceiro(a), que acaba sen-
do transformado(a) em um obstáculo.

4- “Agora te peguei, miserável”


Esse jogo é comumente jogado entre patrão e empre-
gado. O chefe, quando está querendo descontar sua raiva

56
Eric B E R N E

acumulada em alguém, escolhe um dos funcionários, prova-


velmente aquele que ele sabe, mesmo inconscientemente,
que jogará seu jogo, e então começa “Aquele relatório que
lhe pedi já deveria estar pronto a esta altura, certo?”, então
o funcionário, com cara de piedade, sabe que é melhor não
mentir para o chefe e responde “Sim, deveria, mas tive que
fazer aquele outro negócio que o senhor me pediu, por isso
não está pronto”, dando a deixa para que o chefe, irritado,
possa descarregar sua raiva “Viu? Sempre você! O que eu
poderia esperar de você, né? Mais uma dessas e você vai
ver o que eu faço com você!”. Esse jogo é muito utilizado por
possibilitar que o chefe acumule a raiva de tal forma, que
possa fulminar sua vítima no momento de descarregá-la, au-
mentando, assim, seu nível de satisfação ao fazê-lo. Muitas
vezes, para conseguir jogar o jogo, o chefe entrega tarefas
difíceis ou quase impossíveis de serem cumpridas no prazo
estipulado para que ele obtenha a satisfação em descarre-
gar sua raiva e frustrações nos subordinados.

57
Manual Básico de P S I C O L O G I A

Berne nomeou ainda outros jogos, como: “O meu é melhor do


que o seu”; “Imbecil”; “Alcoólatra”, “Devedor”, “Me bata” e “Olha o
que você me fez fazer”. O papel desempenhado pelas pessoas
durante os Jogos Emocionais atraiu a atenção de outros profissio-
nais, como Stephen Karpman, que desenvolveu uma forma sim-
ples de análise de três papéis destrutivos, o chamado Triângulo
Dramático de Karpman, que objetiva classificar e posicionar os
papéis comumente desempenhados. O de Perseguidor (P), o de
Salvador (S) e o de Vítima (V), que pode ser submissa ou rebelde.
Os três papéis são destrutivos. O Perseguidor quer o con-
trole do outro, o Salvador impede o crescimento e a Vítima usa
sua condição submissa ou rebelde para conseguir o que quer.
A única regra desse jogo é que todos permaneçam transitando
em seus papéis destrutivos enquanto estiverem jogando. É uma
forma, digamos, triste de seguir vivendo sua vida.
Após a morte de Berne, muitos analistas transacionais deram
continuidade a seu legado, desenvolvendo e aprofundando-se
ainda mais nas possibilidades de jogos. Claude Steiner desen-
volveu uma análise sobre os jogos de poder e certa vez falou
sobre o legado de Berne:

“Berne é nosso líder morto, que teve qualidades incrivel-


mente positivas que causaram o fato de a AT (Análise
Transacional) ser hoje uma organização mundial. Apesar
disso, tinha certos problemas, e nós temos de seguir adiante
criando nossa organização, assumindo a responsabilidade
do que nos vai passar de agora em diante”.

Steiner, em seus estudos sobre os jogos de poder, diz que


o objetivo desse jogo é oprimir e reduzir a liberdade com um
propósito de determinar que outras pessoas façam o que não
fariam por vontade própria.

58
Eric B E R N E

Estados do ego
e as Transações
Berne criou o termo Análise Transacional para definir a dinâmica
da interação social e melhorar a qualidade e eficácia na comunica-
ção e na interação entre as pessoas.
A criação da Análise Transacional foi baseada nos estudos
praticados por Berne sobre a psicanálise desenvolvida por Freud.
Dentre seus estudos e nos atendimentos de seus pacientes, Berne
concluiu que cada ser humano possui três estados do ego (três
selves), formados por instâncias psíquicas e caracterizados por:

Pai - Postura parental e/ou autoritária, exteropsique;


Adulto - Racionalidade, aceitação da verdade
e objetividade, neopsique;
Criança - Postura infantil, emoções, arquipsique.
P P
A A
C Simbiose Competitiva C

Sua base corresponde, ainda que de forma não fidedigna, às


definições freudianas de superego (Pai), ego (Adulto) e id (Crian-
ça). O ego funciona como um mediador entre realidade e emoção,
sendo que o estado do ego Pai possui subdivisões:
Pai Crítico Positivo, que é encorajador e de forma alguma des-
qualifica a outra pessoa, mas sim critica de forma positiva, visando
ao crescimento e ao aprendizado; Pai Crítico Negativo, que diminui
a personalidade do criticado, é preconceituoso, autoritário, agressi-
vo, perseguidor e pessimista; Pai Nutridor Positivo, que é bastante
afetuoso, positivo e incentiva a liberdade de vida das pessoas; Pai
Nutridor Negativo, que impede o desenvolvimento da outra pessoa,
é possessivo e negativo.
Nos estados do ego Criança, as subdivisões são:
Criança Livre Positiva, que é espontânea, intuitiva, com emo-
ções autênticas (falaremos mais sobre as emoções a seguir), cria-
tiva e curiosa; Criança Livre Negativa, que é egoísta e manipulado-
ra; Criança Adaptada Positiva, que se adapta às rotinas de forma
natural e rapidamente; Criança Adaptada Negativa, que pode ser

59
Manual Básico de P S I C O L O G I A

Submissa, quando se inferioriza perante os outros e atende sem-


pre às necessidades dos outros, ou pode ser Rebelde, agressiva,
rancorosa e negativa.
Berne afirmava que a qualquer momento durante uma interação
social podemos manifestar qualquer um dos três estados, desen-
volvendo posturas e atitudes produtivas ou mesmo improdutivas.
Nos jogos, algum dos três estados do ego se manifestará, pois po-
demos sentir a necessidade de agir como um pai autoritário, um
adulto racional ou uma criança mimada.
Um exemplo clássico: um homem está em seu ambiente de tra-
balho e, de forma racional, manifestando o estado do ego corres-
pondente ao Adulto, pergunta ao seu colega objetivamente “Que
horas são?”, mas seu colega, em estado do ego infantil, responde
como uma Criança “A mesma de ontem”. Neste caso, o que houve
foi uma Transação Cruzada, ocorrida porque a resposta não veio do
estado do ego solicitado. Caso a resposta tivesse sido a esperada,
ou seja, o colega de trabalho tivesse respondido adequadamente,
teria ocorrido uma Transação Complementar ou Paralela. Há, ain-
da, a possibilidade de ocorrer uma Transação Oculta ou Ulteriores,
que geralmente ocorrem quando a resposta é aparentemente ade-
quada, mas na verdade o Adulto manipula a mensagem, como no
caso de vendedores.
Certa vez, Berne descreveu-se como “um adolescente de 56
anos”, fazendo referência ao fato de considerar que seu estado do
ego Criança era bem desenvolvido.

Fomes (necessidades) dos seres


humanos e as Emoções Autênticas
e Disfarçadas
Em meio aos seus estudos, Eric Berne classificou três necessi-
dades que os seres humanos possuem, mas que ele nomeou de
Fomes: Fome de Reconhecimento, Fome de Carícias (Estímulos)
e Fome de Estruturação do Tempo.
A primeira Fome, de Reconhecimento, é caracterizada como a
necessidade de sermos notados, vistos, reconhecidos. Um exem-
plo cotidiano: quando entramos em um elevador no qual já há

60
Eric B E R N E

pessoas e dizemos “Bom dia” e ninguém responde. Essa Fome


não foi suprida.
A segunda Fome, de Carícias (Estímulos), é caracterizada pela
nossa necessidade de sermos estimulados. Queremos que as ou-
tras pessoas nos transmitam mensagens positivas como: Seja!
Viva! Cresça! Essas carícias podem ser físicas ou não, positivas
ou negativas, independentes ou gratuitas, autênticas, falsas, hi-
pócritas ou não verbais, como um olhar, um grunhido ou mesmo
uma risada.
A terceira Fome, de Estruturação do Tempo, pode ocorrer de
diversas formas, saudáveis ou não.
Berne classifica seis formas de Estruturação do Tempo: Isola-
mento, podendo ser saudável quando voluntário e temporário, por
meio de meditação, para estudar ou utilizar sua criatividade, ou de
forma não saudável, movido por fobias, timidez ou ressentimen-
to; Rituais, podendo ocorrer de forma saudável em cerimônias ou
mesmo rituais de cuidados pessoais, ou de forma não saudável
quando ocorrem fanatismos e narcisismos; Atividades, geralmen-
te ocorre no estado do ego Adulto, podendo ocorrer de forma sau-
dável para realizações pessoais ou profissionais e de forma não
saudável quando ocorre estresse ou estafas; a estruturação do
tempo ainda pode ocorrer por meio de Passatempos, de forma
saudável, com finalidades positivas para se ver o tempo escoar,
falando sobre assuntos banais, como futebol ou a previsão do
tempo, e de forma não saudável quando se passa o tempo fazen-
do fofocas; Jogos Psicológicos, que somente possuem aspectos
negativos; Intimidade, que somente possui aspectos positivos.
Eric Berne abordou também as emoções, tratando-as como
Emoções Autênticas e Disfarces (emoções falsas). Segundo essa
abordagem, as pessoas podem manifestar as Emoções Primiti-
vas ou Primárias (autênticas) e que são proporcionais ao estímulo
e à duração: amor, alegria, medo, raiva e tristeza.
Mas há também os Disfarces (emoções falsas), que geralmen-
te ocorrem como forma de desqualificar a emoção ou mesmo
proibi-la. Ex: “Quando casar, passa!”. As pessoas aprenderiam a
usar as falsas emoções por meio de modelos das figuras paren-
tais; rindo de tudo e de todos; tendo emoções desqualificadas ou
também proibindo o medo.

61
Manual Básico de P S I C O L O G I A

Roteiros
de Vida (Scripts)
Plano pré-consciente, formado na primeira infância sob influ-
ência parental, que dirige a conduta do indivíduo nos aspectos
mais importantes de sua vida. Formado por injunções e estímu-
los. Em sua proposta, Berne categoriza o comportamento dis-
funcional como resultado de decisões autolimitantes tomadas
na infância, em busca de entendimento da situação e de sobre-
vivência. Essas decisões são o ‘script ou roteiro’, o plano pré-
-consciente de vida que governa os caminhos da pessoa. Mudar
esse roteiro de vida é um dos objetivos da Análise Transacional
em trabalhos individuais ou mesmo grupais.
Analistas transacionais ensinam às pessoas que é OK ser e
estar OK, podendo ser amadas, aceitas e estabelecerem relacio-
namentos saudáveis em sua vida cotidiana. Esta forma busca de-
senvolver a autoestima e cooperação entre indivíduos e grupos.
Há também o chamado Contra Script, que é o nome dado à men-
sagem verbal geralmente dada por nossos pais para nos mudar.
O papel que a pessoa desempenhará no roteiro da vida
(Script), o juízo de valor que temos sobre nós e sobre os outros,
é conhecido como Posições Existenciais ou Psicológicas. São
quatro as Posições Existenciais ou Psicológicas:

Vencedor
(eu estou OK/você está OK)
A pessoa estabelece metas alcançáveis; incorporação de
mensagens construtivas; visão realista e construtiva. Aceita as-
pectos positivos de si mesmo e dos outros. Tem consciência de
suas potencialidades. Não se sente inferior aos demais.

Não vencedor
(eu não estou OK/você está OK)
A pessoa estabelece metas parcialmente alcançáveis. Não
perde, mas também não ganha. Reconhece apenas as suas limi-
tações, e não as dos outros, colocando aspectos negativos ape-
nas em si mesmo. Mensagens que recebeu provavelmente quan-
do criança: “você não é capaz”, “não tenha sucesso”, “os outros
são melhores do que você”, “para quem você é, está bom”.

62
Eric B E R N E

Carreirista/manipulador
(eu estou OK/você não está OK)
A pessoa estabelece metas alcançáveis com métodos nem
sempre éticos. Usa outras pessoas para conseguir seus obje-
tivos. Visão projetiva e egocêntrica. Tendência a atribuir aspec-
tos negativos apenas nos outros. Uma pessoa nessas posições
existenciais tende a ter sido muito maltratada ou muito mimada.
Costuma não assumir responsabilidade sobre seus erros. Men-
sagem que provavelmente recebeu quando criança: “primeiro
VOCÊ”, “o mundo é dos espertos”, “o sucesso a qualquer preço”.

Perdedor
(eu não estou OK/você não está OK)
A pessoa se desculpa a toda hora. Estabelece metas inal-
cançáveis. Visão pessimista e fútil, só enxerga aspectos negati-
vos em si e nos outros. Mensagens que provavelmente recebeu
quando criança: “você é imprestável”, “você não merece”, “por
que você nasceu?”. Geralmente pessoas nessa situação têm
um final dramático.

De acordo com Eric Berne, “Todos temos potencialida-


de para estarmos OK”. Portanto, a identificação da Posi-
ção Existencial vivida é apenas o primeiro passo para que
as pessoas consigam caminhar em direção à Posição que
gostariam de viver.
Eric Berne foi muito criticado pelos psiquiatras da época, foi
chamado de popular e sem conteúdo. No entanto, a Análise
Transacional ainda hoje é muito utilizada por psicoterapeutas
ao lidarem com pacientes evasivos e com personalidade difí-
cil. O livro “Jogos da Vida” possui muitos dos jogos baseados
nas ideias de Freud e pode ser uma leitura esclarecedora pelo
simples fato de que as pessoas jogam jogos e talvez sempre
jogarão. Berne acreditava que todos poderiam parar de jogar os
jogos se descobrissem outra alternativa e por esse motivo, ele
propõe o desenvolvimento da consciência sobre os três selves,
para que finalmente consigamos nos sentir melhores sendo nós
mesmos, sem a necessidade de aprovação de outras pessoas
como recompensa.

63
Abraham
MASLOW
A vida do psicólogo humanista Abraham Maslow foi marca-
da por pesquisas que permitiram a criação da hierarquia das
necessidades humanas, mundialmente utilizada e conhecida
simplesmente por “pirâmide das necessidades de Maslow”.
“Se a única ferramenta que você tem é um


parecer com um prego.
martelo, tudo começa a
Abraham Maslow

Conhecendo Maslow

N
asceu em 1º de abril de 1908 em Nova York, Estados Uni-
dos, filho de imigrantes russo-judaicos semianalfabetos
que trocaram a Rússia pelos Estados Unidos para fugir
da confusa situação política russa. O pai tornou-se próspero ho-
mem de negócios e influenciou o filho mais velho a ser advogado.
Maslow iniciou o curso de Direito na Faculdade de Nova Iorque.
Em 1928, casou-se com sua prima em primeiro grau, Bertha Goo-
dman, e mudaram-se para Wisconsin, onde conheceu Harry Mar-
low, psicólogo, behaviorista, pesquisador de primatas, responsá-
vel pelos estudos do comportamento de filhotes de macaco.

Maslow definitivamente apaixonou-se pela Psicologia, o que o


fez largar o curso de Direito. Graduou-se em Psicologia, bachare-
lado, em 1930, obtendo o título de Mestre em 1931 e o título de
Doutor em Psicologia no ano de 1934, na Universidade Wiscon-
sin. Neste período, também nasceram suas duas filhas: Dra. Ellen
Maslow e Ann Kaplan. Em 1935, voltou a Nova York para realizar
trabalhos controversos sobre a vida sexual de mulheres universi-
tárias com Edward Thorndike na Universidade de Columbia. No
mesmo ano, conheceu o futuro mentor Alfred Adler e começou
a lecionar na Faculdade do Brooklin, sempre estudando a moti-
vação e as necessidades humanas. A carreira acadêmica durou
14 anos e foi marcada pela admiração por mentores como Eric
Fromm, Karen Horney e a antropóloga Margaret Mead.
Manual Básico de P S I C O L O G I A

Em 1941, Maslow publicou “Princípios da psicopatologia” e


em 1943 publicou seu artigo sobre a teoria da motivação, que
introduziu o conceito da hierarquia das necessidades.
Em 1946, no centro de pesquisa “National Laboratories for
Group Dynamics”, lançou os resultados da pesquisa realizada
em Connecticut com um grupo de pessoas negras e judias em
conflito. Maslow apelidou o grupo de T-group ao constatar que a
melhor forma de expor as áreas de conflito do ser humano era
reunindo-os em grupos. Os T-groups, “T” com a conotação de
formação, foram estudados alterando-se os padrões comporta-
mentais, descongelando-os e depois os congelando novamente.
Chefiou o departamento de psicologia da Universidade de
Brandeis de 1951 a 1969. Em 1954, escreveu “Motivação e per-
sonalidade”. Como visitante em uma companhia californiana de
alta tecnologia, possibilitou relacionar a ideia de autorrealização
ao ambiente empresarial. Em 1962, escreveu “Introdução à psi-
cologia do ser” e em 1968 foi eleito presidente da Associação
Americana de Psicologia.
Faleceu em 08 de junho 1970 de ataque cardíaco, na Califór-
nia, Estados Unidos.
Depois de sua morte, foi publicada a coleção de artigos “Os alcan-
ces mais distantes da natureza humana”, The farther reaches of
human nature, uma excelente introdução aos seus pensamentos.

Pirâmide
de Maslow
Para Maslow, o estado máximo de ser do ser humano é a au-
torrealização e a autotranscendência. Autorrealização é a satis-
fação da necessidade de autossatisfação. Autotranscendência é
a necessidade de superação e conexão com algo maior, como
Deus, ou ajudar outros a alcançarem seus potenciais.
Maslow adverte que se um indivíduo não está fazendo aquilo
para o qual foi talhado na vida, não fará a menor diferença se to-
das as suas necessidades forem satisfeitas. Encontramos aqui
aquele indivíduo eternamente inquieto e insatisfeito.
Para atingir o grau mais alto da satisfação das necessidades,

66
CAPÍT U L O IM•AAmbientes
Abraham S L OW

o indivíduo precisa descobrir qual é o seu verdadeiro propósito


na vida e sair em busca dele, por meio do desenvolvimento de
consciência e utilização máxima de todo potencial. Maslow afir-
mava: “Todo homem deve ser o que pode ser”.
Estudando as necessidades dos seres humanos, Maslow
propôs uma divisão hierárquica, apresentando uma pirâmide re-
presentada por um triângulo equilátero, dividido horizontalmente
em cinco partes iguais, representando os cinco agrupamentos
das necessidades: fisiológicas, segurança, amor/relacionamen-
to, estima e realização pessoal.
As necessidades de nível mais baixo, encontradas na base
do triângulo, devem ser satisfeitas antes das necessidades de
nível mais alto.
Para Maslow, as necessidades fisiológicas (respiração, co-
mida, água, sexo, sono, excreção e homeostase) devem ser sa-

67
Manual Básico de P S I C O L O G I A

ciadas. Homeostase é o equilíbrio que os elementos internos


do corpo humano encontram para viver em harmonia. Atendidas
as necessidades básicas que ficam na base do triângulo, o ser
humano desenvolve metanecessidades relativas aos valores do
ser e que também precisam ser satisfeitas, como as necessi-
dades de segurança (segurança do corpo, do emprego, de re-
cursos, da moralidade, da família, da saúde, da prosperidade.
Exemplificando: sentir-se seguro em casa, emprego estável,
plano de saúde, seguro de vida). Saciadas essas necessidades,
o ser humano buscaria saciar o grupo que chamou de amor e
relacionamento, onde encontra as necessidades de amizade,
família, intimidade sexual, busca fazer parte de um grupo ou de
um clube. Sucessivamente, o ser humano buscaria satisfazer a

68
CAPÍT U L O IM•AAmbientes
Abraham S L OW

estima (autoestima, confiança, conquista, respeito dos outros,


respeito aos outros, o reconhecimento das nossas capacidades
pessoais e o reconhecimento dos outros em face à nossa ca-
pacidade de adequação às funções que desempenhamos) e as
necessidades de realização pessoal, etapa final da felicidade
humana: moralidade, criatividade, espontaneidade, solução de
problemas, ausência de preconceito e aceitação dos fatos, eta-
pa na qual o indivíduo procura ser aquilo que pode ser, segundo
as palavras de Maslow: “O que os humanos podem ser, devem
ser. Eles devem ser verdadeiros com a sua própria natureza,
cada um desenvolvendo os seus potenciais”.
Quando todas as necessidades estiverem de acordo, o ser hu-
mano encontra a autorrealização e consequentemente a felicida-
de, iniciada com a satisfação de oxigênio e água e terminada com
a satisfação da necessidade de realização espiritual e psicológica.
Quando Maslow conheceu a obra de Peter Druker e Mc Gre-
gor , na década de 1960, relacionou a pirâmide das necessida-
des com as teorias sobre a gestão nas empresas.

Autorrealização
Autorrealização, termo de origem inglesa, self actualisation,
significa a tendência de um ser humano em desenvolver todas
as suas possibilidades de crescimento como pessoa. O termo foi
criado pelo psicólogo Kurt Goldstein (nasceu em 1878 e faleceu
em 1965) e desenvolvido por Maslow e Carl Rogers (nasceu em
1902 e faleceu em 1987).
Os despertar do interesse de Maslow pela autorrealização é
influência de seus professores Ruth Benedict (nasceu em 1887
e faleceu em 1948), antropóloga americana, e Max Wertheimer
(nasceu em 1880 e faleceu em 1943), psicólogo checo.
Maslow afirma que sujeitos autorrealizados haviam alcança-
do a humanidade completa escutando suas próprias vozes, acei-
tando responsabilidades, sendo honestas e trabalhando duro,
portanto uma mistura de saúde mental e devoção ao trabalho.
Eles descobriram quem são não só em relação à sua missão
na vida, mas também pelo modo como seus pés doem quando

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Manual Básico de P S I C O L O G I A

eles calçam estes e aqueles sapatos, se eles gostam ou não de


berinjela, ou se ficam acordados a noite toda ou se bebem mui-
ta cerveja. Eles encontram suas próprias naturezas biológicas,
suas naturezas congênitas, que são irreversíveis ou difíceis de
mudar. Os autorrealizados devotam suas vidas aos valores do
ser: verdade, beleza, bondade e simplicidade. E esses valores
satisfazem suas necessidades.
Tom Butler-Bowdon, em “50 Grandes Mestres da Psicologia”
(2012), ensina que a autorrealização envolve:
Viver com total concentração. O engajamento em algo que nos
faz esquecer nossas defesas, poses e timidez. Nós readquiri-
mos a inocência da infância nesses momentos.
Percepção da vida como uma série de escolhas. Um caminho
nos faz progredir em direção ao crescimento pessoal, o outro
envolve um retrocesso.
Estar ciente de que você tem um self e de escutá-lo, em vez de
ouvir um parente ou a sociedade.
Decidir ser honesto e, como resultado, assumir a responsabili-
dade pelo que você pensa e sente. Disposição para dizer “não,
eu não gosto disso e daquilo”, mesmo se isso o fizer impopular.
Disposição para trabalhar e dedicação para extrair o máximo
de suas habilidades. Não importa o campo em que você esti-
ver, esteja entre os melhores.
Desejo real de descobrir suas defesas psicológicas e abrir mão delas.
Estar disposto a ver as outras pessoas pelo seu melhor ângu-
lo, “sob o aspecto da eternidade”.

Maslow muda o enfoque da psicologia estudando pessoas


saudáveis, criativas e plenamente realizadas, pois anteriormente
a psicologia ocupava-se de pessoas com doenças psicológicas.

Psicologia
humanista
Conforme nos ensinam os autores em “O Livro da Psicolo-
gia”, a psicologia humanista, por meio de seu fundador, Maslow,
analisa a experiência humana investigando as coisas mais im-

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CAPÍT U L O IM•AAmbientes
Abraham S L OW

portantes para o humano: o amor, a esperança, a fé, a espiritua-


lidade, a individualidade e a existência.
A psicologia humanista traz o homem e sua história para o
centro do debate. Um homem que toma posse do seu destino e
é senhor do seu tempo e do seu mundo, capaz de autogerir-se,
autogovernar-se na busca da autorrealização.
Acredita-se que o homem é um completo vir a ser, portanto
traz a ideia de algo em constante transformação e mudança.
Afinal de contas, a mudança faz parte da essência do homem
se considerarmos que uma certeza todo homem tem: a morte, e
uns dos mistérios que persegue todos os homens durante a vida
é não saber quando esta mudança finalista ocorrerá.
Antes da psicologia humanista de Maslow, a psicologia esta-
va dividida em três grandes grupos: os positivistas, os behavio-
ristas e os freudianos. Os simpatizantes dos dois primeiros gru-

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Manual Básico de P S I C O L O G I A

pos defendiam a ideia de que na psicologia nada era válido sem


comprovação. Maslow não via o ser humano como máquinas
respondendo ao ambiente ou escravos de forças subconscien-
tes. Aborda o indivíduo como criativo, com livre-arbítrio e dese-
jando satisfazer suas necessidades com potencial.
A psicologia humanista é uma reunião de diversas correntes
teóricas, que têm como eixo central o enfoque humanizador do
aparelho psíquico e defendem o homem como detentor de li-
berdade de escolha, utilizando-se da filosofia fenomenológica
existencial. Contou com diversos colaboradores que passamos
a expor abaixo.
A psicanálise de Carl Ransom Rogers, norte-americano
nascido em 1902 e falecido em 1987, mundialmente conhecido
apenas por Carl Rogers, também contribui. Com ele, surge a
fala livre, com poucas intervenções do psicanalista e utilizando-
-se do sentimento do paciente e do terapeuta. Com os anos de
prática, constatou que o paciente era o detentor do tratamento,
não ocupando uma posição passiva, como o nome paciente

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CAPÍT U L O IM•AAmbientes
Abraham S L OW

pode conduzir a erro. Passou a utilizar a denominação cliente.


Sua terapia passa a ser centrada no cliente, influenciando a
pedagogia para o desenvolvimento de uma educação centra-
da no aluno. Apresenta três conceitos: congruência, empatia e
aceitação incondicional.
Congruência significa ser o que se sente, sem mentir para
si mesmo e para os outros. Empatia é a capacidade de sentir
o que o outro quer dizer e de entender seu sentimento. Acei-
tação incondicional é aceitar o outro como ele é, com seus
defeitos e angústias.
Erik Homburger Erikson, nascido em Frankfurt em 1902
e falecido em 1994, psiquiatra responsável pelo desenvolvi-
mento da Teoria do Desenvolvimento Psicossocial e um dos
teóricos da psicologia do desenvolvimento, também contribui,
afirmando que o crescimento psicológico ocorre através de
estágios e depende da interação do indivíduo com o meio que
o rodeia. Cada estágio é atravessado por uma crise psicos-
social entre uma vertente positiva e uma vertente negativa. A
forma como cada crise é ultrapassada ao longo dos estágios
irá influenciar a capacidade para se resolver os futuros con-
flitos da vida. Esta teoria concebe o desenvolvimento em oito
estágios, um deles na adolescência, contrariando as quatro
fases psicossexuais propostas por Freud, encerrando-se na
primeira infância.
Estágios do desenvolvimento psicossocial de Erik Erikson:
confiança/desconfiança, autonomia/dúvida e vergonha, iniciati-
va/culpa, indústria/inferioridade, identidade/confusão de identi-
dade, intimidade/isolamento, generatividade/estagnação e inte-
gridade/desespero.
Viktor Emil Frankl, médico psiquiatra austríaco que nasceu
em 1905 e faleceu em 1997, foi o criador da logoterapia, que
explora o sentido existencial do indivíduo e a dimensão espiri-
tual da existência. Contribuiu para a psicologia humanista, que
agrega sua teoria de que a existência humana busca auxílio
quando se depara com um vazio no sentido da vida, principal-
mente influenciada por eventos muito fortes que criam descon-
forto, trauma intenso e podem criar um aspecto fortalecedor no
interior do indivíduo.

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Manual Básico de P S I C O L O G I A

Terapia
Gestalt
A abordagem humanista da terapia Gestalt, também conhe-
cida por Gestalt-Terapia, é absorvida pela psicologia humanista,
que considera o homem sempre em três esferas indivisíveis e
inter-relacionadas: física, mental e psíquica. Gestalt é uma pala-
vra de origem alemã sem tradução para o português que signifi-
ca estrutura ou configuração e envolve a ideia de totalidade, or-
ganização, correlação, integração e interdependência. A terapia
Gestalt é uma nova abordagem psicológica com uma visão de
homem e de mundo pautada na doutrina holística, na fenome-
nologia e no existencialismo. Basicamente, tem o foco de levar
o indivíduo a restabelecer o contato consigo mesmo, com os ou-
tros e com o mundo, tudo pautado na capacidade do ser huma-
no em se autorrealizar e no desenvolvimento do seu potencial.
Fundada na década de 1940, entre os fundadores podemos ci-
tar Friederich Salomon Perls, conhecido simplesmente por Fritz
Perls (psicoterapeuta e psiquiatra nascido em Berlim em 1893
e falecido em 1970), Laura Perls (esposa de Fritz Perls) e Paul
Goodman (escritor americano, dramaturgo, poeta e psicotera-
peuta, nascido em 1911 e falecido em 1972).
Como já dissemos, a terapia Gestalt possui um visão holís-
tica de homem e de mundo, portanto pretende compreender
o homem, a natureza, o planeta, cada ser vivo, cada objeto
ou fenômeno do Universo enquanto uma totalidade, indivisível
corpo/mente, um todo que é muito maior do que a soma das
partes e é compreendido pelas interações interdependentes
entre as partes.
A terapia Gestalt é utilizada para atendimento individual de
adultos e crianças. Sua visão holística também permite o atendi-
mento de grupos, como famílias, casais e organizações.
O terapeuta Gestalt precisa livrar-se de todas as suas pre-
concepções, teorias, explicações universais sobre o ser huma-
no e apenas observar o fenômeno, por isso o importante papel
que a fenomenologia ocupa no tratamento. A fenomenologia, o
estudo das essências, propõe um modelo de compreensão do

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CAPÍT U L O IM•AAmbientes
Abraham S L OW

mundo por meio do estudo dos fenômenos. Os fenômenos es-


tão relacionados com o que aparece, com o manifestar-se, pois
as coisas têm um apelo interno para revelação. O terapeuta é o
maior instrumento de trabalho desta terapia, pois há uma pre-
ponderância da análise do como sobre os porquês.
Para tudo que existe há intencionalidade, uma consciência
para lhe atribuir significado.
O existencialismo traz o homem para o centro da sua singu-
laridade, sua subjetividade é o ponto de equilíbrio, e é na sua
intersubjetividade que se faz humano, afinal de contas o homem
é o único ser que vive num constante devir (vir a ser), uma obra
inacabada, tendo o projeto em suas próprias mãos.
Fritz Perls demonstrou que o objetivo da terapia era tornar o
cliente mais suportivo, consciente, capaz de realizar bons conta-
tos e que se olha cada vez mais, utilizando-se do fragmento 28
do filósofo grego Heráclito de Éfeso (aproximadamente nasceu
em 535 a.C. e faleceu em 475 a.C.), que viveu no século VI a.C.

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Manual Básico de P S I C O L O G I A

em Éfeso, na Jônia, Ásia Menor, atual Turquia, um homem cada


vez mais caminhando em busca de si mesmo. Aqui, podemos
parar e observar há quantos séculos o homem continua na mes-
ma simples busca... conhecer a si mesmo.
Segundo Tellegen (1984), a terapia Gestalt, além das teorias
anteriormente citadas, utiliza-se também do caráter de Reich, da
teoria organísmica de Kurt Goldstein, do zen-budismo, da teoria
do campo de Kurt Lewin (psicólogo alemão-americano que nas-
ceu em 1892 e faleceu em 1947) e da Psicanálise.

Psicologia
Transpessoal
Maslow, utilizando-se da teoria de Stanislav Grof, acrescen-
tou à sua teoria o aspecto da espiritualidade e as características
da consciência alterada. Utilizando-se das ideias de Jung, incor-
porou os aspectos transcendentais da consciência. E assim está

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CAPÍT U L O IM•AAmbientes
Abraham S L OW

criada a Psicologia Transpessoal, ou psicologia da consciência,


que defende vários níveis de consciência, indo do obscuro (a
sombra) até o aspecto mais alto, o transpessoal.
Em momentos de transcendentais, o ser humano encon-
tra sentido em tudo e aparece o sentimento de unidade in-
terna e externa.

Críticas
Manfred Max-Neef, economista, filósofo e ecologista, nasceu
no Chile em 1932, hoje com 81 anos. Contrariando Maslow, en-
tende que as necessidades do ser humano não são passíveis
de hierarquização, pois são ontologicamente universais e invari-
áveis em sua natureza.
Outros autores discordam de Maslow ao encontrar indivíduos
que chegaram à autorrealização sem cumprir todas as etapas
da pirâmide e indivíduos realizados, bem-sucedidos, felizes, que
sentem falta de algo ou de alguma coisa. Para esses autores, a
personalidade, a motivação e o meio social de cada um influen-
ciam a autorrealização.

Liderar é identificar
e satisfazer necessidades
No best-seller “O monge e o executivo” (2004), uma história
sobre a essência da liderança, James O. Hunter afirma que um
líder se preocupa com as necessidades dos liderados, e não
com as suas vontades. Por meio do personagem Simeão, o es-
critor apresenta a diferença entre necessidade e vontade. Ne-
cessidade é uma legítima exigência física ou psicológica para o
bem-estar do ser humano, enquanto vontade é um anseio que
não considera as consequências físicas ou psicológicas daquilo
que se deseja. Alerta para a questão de que os indivíduos são
diferentes uns dos outros, portanto têm diferentes necessida-
des, por isso um líder deve constantemente perguntar a si mes-
mo quais são as necessidades das pessoas que lidera.

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Manual Básico de P S I C O L O G I A

Utilizando-se da hierarquia das necessidades humanas de


Maslow, a personagem Kim, enfermeira, apresenta uma nova
linguagem para explicar as necessidades: primeiro nível: comi-
da, água, moradia; segundo nível: segurança e proteção; tercei-
ro nível: pertencimento e amor; quarto nível: autoestima e quinto
nível: autorrealização. As necessidades de nível mais baixo de-
vem ser satisfeitas antes das necessidades de nível mais alto.
Pagar um salário justo e dar benefícios satisfazem as neces-
sidades de comida, água e teto. Para satisfazer as necessida-
des de segurança e proteção, é necessário que o líder ofereça
aos liderados um ambiente de trabalho seguro, juntamente com
o fornecimento de limites e o estabelecimento de regras e pa-
drões. “Atendidos os dois níveis básicos das necessidades, os

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CAPÍT U L O IM•AAmbientes
Abraham S L OW

sentimentos de pertencer à empresa e de ser amado tornam-


-se necessidades incentivadoras... satisfeitas essas necessida-
des, o estímulo vem da autoestima, o que inclui a necessidade
de sentir-se valorizado, tratado com respeito, apreciado, enco-
rajado, tendo seu trabalho reconhecido, premiado e assim por
diante.” Satisfeitas essas necessidades, o liderado passa a ter a
necessidade de autorrealização. A enfermeira define autorreali-
zação como tornar-se o melhor que você pode ser ou é capaz
de ser. O líder deve incentivar e dar condições para que os lide-
rados se tornem o melhor que podem ser.
Discorrendo acerca da vida de dois dos grandes líderes que
a humanidade já viu, Jesus Cristo, a quem é atribuída a frase:
“Quem quiser ser líder deve ser primeiro servidor. Se você qui-
ser liderar, deve servir”, e Gandhi, o escritor define liderança em
quatro palavras: identificar e satisfazer necessidades.

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“ O que nós somos é o
que fazemos, e o que
ambiente
fazemos é o que o


nos faz fazer.
John B. Watson
‘O objetivo da Psicologia é nos fornecer uma ideia completamente
diferente sobre as coisas que conhecemos melhor.’
(Paul Valéry, poeta)

A
Psicologia favorece não somente más interpretações em
relação àquilo que ela realmente é e representa no cam-
po da ciência, como suscita, por parte dos leigos, uma
coleção de estereótipos.
Este Almanaque da Psicologia vem dirimir dúvidas e desfazer os
conceitos equivocados, fornecendo resumos das linhas de pesquisa
dos principais mestres da Psicologia, a começar pelo ‘pai’ dessa ci-
ência, Sigmund Freud, e seus colegas de profissão, Carl Jung, Eric
Berne e Abraham Maslow.
Também são abordadas as histórias de vida desses ícones e suas obras,
a repercussão de suas ideias nos meios acadêmico, filosófico, científi-
co e intelectual; a influência que tiveram sobre os demais psicólogos e
psicanalistas, as polêmicas despertadas pelas suas descobertas.
Além de trazer conhecimento, Almanaque da Psicologia vai aguçar
sua curiosidade, possibilitando que você encontre formas novas de
enxergar aquilo que acha conhecer por inteiro.

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