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CULTURA BRASILEIRA
Autor - G
ustavo Casseb Pessoti
AULA 1
Antropologia: a Cultura como Objeto de Estudo
Autor: Prof. Dr. Marcelo Flório
1.1 INTRODUÇÃO
O
objetivo da unidade 1 é conceituar a ciência antropológica que tem como premissa o entendimento
do homem completo e cuja preocupação é a compreensão da existência humana em sua expressão
global, ou seja, biopsicocultural. É destacada a importância do trabalho de campo para o antropólogo
da cultura e suas etapas de pesquisa. O estudo da Antropologia cultural propicia ao ser humano o
desenvolvimento de uma atitude sempre aberta ao aprendizado com a alteridade e, desse modo, estimula o
respeito às diversidades culturais.
Na unidade 1, serão abordadas as seguintes temáticas:
» » Conceituação da Ciência Antropológica;
» » Os Campos de Estudo da Antropologia;
» » As Etapas de Pesquisa da Antropologia Cultural;
» » A Antropologia Cultural e a Noção de Alteridade.
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AULA 1 - ANTROPOLOGIA: A CULTURA COMO OBJETO DE ESTUDO
sua pretensão inicial de ter como foco o estudo do homem em sua complexidade e totalidade, pois
durante muito tempo esteve presa a paradigmas limitadores que funcionaram como camisa de força
para o pensamento antropológico, de modo a separar natureza de cultura.
O homem é um ser de nível muito mais complexo se comparado com outros habitantes do planeta:
os animais irracionais. O homem é um ser humano, porque é racional, simbólico e ser “aprendente”
(a capacidade ilimitada de desenvolver aprendizados na vida cotidiana em sociedade). De acordo
com Brandão (apud ROCHA; TOSTA, 2009, p.12), o aprendizado do homem é ilimitado e é diferente
do aparato cognitivo dos animais irracionais, cujos aprendizados são limitados pelo primado do
condicionamento genético:
(...) não somos humanos apenas porque somos racionais ou simbólicos. Somos
humanos porque somos seres aprendentes. Os animais pertencem ao primado
do condicionamento genético, da instrução, do treinamento, do adestramento,
e esses são os limites de seu aprendizado. Nós, os humanos, somos seres disso
tudo também. (...) Somos seres de algo bem mais complexo. Algo que ao
longo da história foi recebendo nomes como capacitação, educação, formação
humana. Afinal, os animais sabem e sentem. E nós sabemos e sentimos. Mas
a diferença está em que nós sabemos que sabemos, e nos sabemos (ou não
sabendo); e nos sentimos sabendo e nos sabemos sentindo.
Além das dimensões da vida humana, denominadas como “racional” e “aprendente”, a dimensão
simbólica é também parte constitutiva do ser humano, porque o homem está imerso na linguagem e
na cultura. Pode-se compreender um valor simbólico como um significado cultural atribuído pelo ser
humano a gestos, palavras e/ou objetos materiais de acordo com seu contexto social e histórico. A
atribuição de significado é o que faz com que o homem crie/recrie representações e visões de mundo
demarcadas por seus valores e sentimentos num determinado espaço geográfico e época histórica.
Nessa vertente, o Antropólogo norte-americano Cifford Geertz (1989) discorreu em sua obra sobre
o que vem a ser um traço simbólico na cultura humana e exemplificou com o ato da piscadela. A
piscadela é uma contração de pálpebras. Já do ponto de vista simbólico pode ter interpretações
diversas. Dentro dessa dimensão analítica, pode significar um convite à cumplicidade. E, para se
chegar a uma conclusão de qual o significado do ato “piscadela” é necessário avaliar o contexto social
no qual está inserida a referida piscadela.
De acordo com Travancas (2008, p. 99), uma piscadela pode ter múltiplos significados:
Uma piscadela pode ter significados distintos. Pode ser um tique nervoso, pode
ser um código de comunicação entre pessoas, pode ser um sinal de paquera,
entre outros. E o papel do antropólogo ao realizar uma etnografia (descrição
da cultura) será sair da descrição superficial dos fatos e compreender como as
piscadelas são produzidas, percebidas e interpretadas pelos “nativos” daquela
sociedade. E esta interpretação pode ser completamente diversa daquela do
grupo a que pertence o pesquisador.
Pode-se afirmar que a antropologia promove um processo de educação ininterrupto, pois estimula a
compreender o “outro” e suas diferenças, como a perceber as diversas possibilidades de ser e estar
no mundo. Nesse sentido, convida ao conhecimento de outros modos de sociabilidades e interação
socioculturais (idem, 2009, p. 20).
O foco da ciência antropológica é o estudo da cultura produzida pelo ser humano em diversas
sociedades. Desse modo, a antropologia não prioriza a pesquisa apenas da civilização ocidental, mas
de todos os tipos de sociedades existentes no planeta, sem nenhum juízo de valor e/ou preconceito.
Para atingir esse intento, a antropologia promove uma abordagem integrativa, que leva ao estudo das
múltiplas facetas da vida humana em sociedade.
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Nessa concepção, o objetivo é não parcelar o estudo do homem, mas decifrá-lo de modo a relacionar
os diversos campos de investigação da Antropologia para que se possa compreender a existência
humana vivenciada no cotidiano de todas as sociedades. E, é nesse sentido, que o antropólogo
Laplantine (2007, p. 15- 16) entende que a antropologia produz um estudo que consiste em estudar
o homem inteiro, “em todas as sociedades, sob todas as latitudes em todos os seus estados e em
todas as épocas”.
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A Antropologia pode ser dividida em cinco campos de estudo, segundo o estudioso Laplantine:
Antropologia Biológica, Antropologia Pré-histórica, Antropologia Linguística, Antropologia Psicológica
e Antropologia Cultural (2007, p. 16-20).
1) A Antropologia Biológica
A Antropologia Biológica tem como objetivo o estudo das características biológicas humanas no
tempo e no espaço. O antropólogo biologista tem como preocupação em pesquisar como os fatores
culturais influenciam o crescimento dos indivíduos, de modo a analisar as particularidades morfológicas
e biológicas articuladas ao meio ambiente. É o estudo das formas dos crânios, esqueletos, como
também das genéticas das populações.
2) A Antropologia Pré-histórica
A Antropologia Pré-histórica visa reconstituir as culturas do passado que foram extintas em épocas
distantes, pois são sociedades que desenvolveram formas culturais que representam fases da
humanidade e não estão registradas em documentos escritos. O antropólogo pré-histórico, por
meio de técnicas utilizadas no trabalho de escavação e coleta de materiais, interpreta as culturas
desaparecidas e trabalha muito próximo do historiador e do arqueólogo e objetiva analisar tanto as
técnicas e organizações sociais, quanto suas produções culturais.
3) A Antropologia Linguística
A Antropologia Linguística tem como intenção compreender como os homens expressam suas vivências
por meio da linguagem. Isto significa compreender como são expressos os pensamentos, sentimentos
e valores através das diversas linguagens produzidas pelo próprio homem: escrita, oralidade, literatura,
meios de comunicação, cultura audiovisual e também as culturas tecnológicas virtuais.
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4) A Antropologia Psicológica
A Antropologia Psicológica consiste no estudo do funcionamento da capacidade psíquica do ser
humano, pois expressa seus comportamentos de modo consciente e inconsciente. Desse modo, a
dimensão psicológica, é importante porque é uma parte constitutiva de toda vida humana e é por esta
razão que este estudo atravessa todos os campos da área da Antropologia.
5) A Antropologia Social e Cultural
A Antropologia Cultural tem como objetivo o estudo do homem como ser cultural. Nessa perspectiva,
de acordo com os autores Marconi e Presotto (2011, p.4), a intenção é investigar as culturas humanas,
suas origens e desenvolvimento, suas semelhanças e diferenças com outras formas culturais. O foco de
seu interesse é desvendar o comportamento humano e como o homem desenvolveu seu aprendizado
social e cultural.
A Antropologia Social e Cultural estuda tudo o que abrange uma sociedade em suas diversidades históricas
e geográficas. Nesse sentido, detém sua preocupação em desvelar um determinado grupo cultural, a
partir de uma interpretação de seus modos de produzir economicamente, suas formas de estabelecer as
regras das organizações políticas, seus sistemas de parentesco, suas crenças religiosas, suas línguas, suas
formas de conhecimento, entre outros aspectos culturais (LAPLANTINE, 2007, p. 19-20).
Para a ciência antropológica na atualidade, a cultura pode ser definida como sendo os valores, ideias
e percepções que são compartilhados por uma sociedade e geram comportamentos que refletem
um determinado modo de ser e estar no mundo. A cultura é compartilhada pelos membros de um
grupo, porém é importante compreender que nem tudo é uniforme, à medida que as pessoas podem
apresentar diferentes versões, visões, representações e modos de experienciar a cultura, tanto em
sua própria sociedade, quanto de uma sociedade para outra (HAVILLAND ET AL., 2011, p. 191-192).
A antropóloga Ruth Benedict definiu cultura como uma lente por meio da qual o homem vê o mundo.
(apud LARAIA, 2006, p. 76) Nessa linha de raciocínio, as pessoas usam lentes diferentes e desse modo
apresentam visões diversas sobre a vida. O antropólogo Roque Laraia exemplifica a ideia de lente ao
relatar os diferentes olhares sobre os significados da floresta amazônica produzidos por um índio tupi
e por um cientista social (2006, p. 67):
(...) a floresta amazônica não passa para o antropólogo – desprovido de um
razoável conhecimento de botânica – de um amontoado confuso de árvores
e arbustos, dos mais diversos tamanhos e com uma imensa variedade de
tonalidades verdes. A visão que um índio Tupi tem deste mesmo cenário é
totalmente diversa: cada um desses vegetais tem um significado qualitativo e
uma referência espacial. Ao invés de dizer como nós: “encontro-lhe na esquina
junto ao edifício X”, eles frequentemente usam determinadas árvores como
ponto de referência. Assim, ao contrário da visão de um mundo vegetal amorfo,
a floresta é vista como um conjunto ordenado, constituído de formas vegetais
bem definidas.
A cultura, além de compartilhada e apresentar variações nos modos dos homens vivenciarem o
cotidiano em sua sociedade, é também aprendida. Todos os membros de uma sociedade aprendem
as normas e regras estabelecidas a partir da vivência e experiência na cultura: ”Toda cultura é
socialmente aprendida, não é herdada biologicamente. Aprende-se a cultura crescendo com ela”
(idem, 2011, p. 191).
Desse modo, pode-se afirmar que na cultura as pessoas aprendem os comportamentos sociais
adequados para a satisfação das necessidades biológicas (idem, 2011, p. 191). Por exemplo, os seres
humanos aprendem culturalmente a comer e a beber em horários estabelecidos culturalmente pelos
grupos sociais. Os horários de alimentação variam de uma cultura para outra. De acordo com o
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antropólogo Laraia (2006, p. 77), a sensação da fome é estabelecida diferentemente em cada cultura,
porém a fome é um condicionante biológico:
A sensação de fome depende dos horários de alimentação que são estabelecidos
diferentemente em cada cultura. (...) Estamos condicionados a sentir fome ao
meio dia, por maior que tenha sido o nosso desjejum. A mesma sensação se
repetirá no horário determinado para o jantar. Em muitas sociedades humanas,
entretanto, estes horários foram estabelecidos diferentemente, e em alguns
casos, o indivíduo pode passar um grande número de horas sem se alimentar e
sem sentir a sensação de fome.
Pode-se citar, também, outro exemplo de atuação da cultura sobre o biológico. É o caso das doenças
psicossomáticas, que são influenciadas pelo padrão estabelecido por uma determinada cultura. Há
pessoas que no Brasil comentam que sentem mal-estar provocado pela ingestão de certos alimentos e
consideram perigosa a combinação de leite e manga: “Muitos brasileiros, por exemplo, dizem padecer
de doenças do fígado, embora grande parte dos mesmo ignoram até a localização do órgão. (...) quem
acredita que o leite e a manga constituem uma combinação perigosa, certamente sentirá um forte
incômodo estomacal se ingerir simultaneamente esses alimentos” (idem, 2006, p. 77).
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A imagem que se construiu sobre a pesquisa etnográfica foi a de que a pesquisa é realizada com grupos
culturais que vivem distantes e isolados dos grandes centros urbanos. No entanto, é importante frisar
que, também, as sociedades industrializadas são objetos de estudo da antropologia. Desse modo, os
antropólogos do mundo todo empregam as mesmas técnicas etnográficas para o conhecimento de
assuntos variados e que fazem parte do cotidiano do homem contemporâneo, como por exemplo:
movimentos religiosos, relações afetivas e sexuais, gangues de rua, cotidiano da escola, práticas de
casamento, lutas pelo direito a terra, sistemas de saúde, cotidiano das corporações e organizações.
(idem, 2011, p. 10-11).
Segundo Havilland et al (2011, p. 10-11), o antropologia na modernidade utiliza as seguintes
ferramentas para a pesquisa de campo: “lápis e caneta, cadernetas de campo, máquina fotográfica,
gravador, diários de campo e, cada vez mais, computadores. Porém, o mais importante de todos: o
etnógrafo precisa ter habilidades sociais flexíveis”.
Travancas (2008, p. 101-102) exemplifica o que vem a ser o trabalho etnográfico de uma pesquisa.
Para tanto, relata dois tipos de trabalho de campo etnográfico:
1) O trabalho etnográfico com aldeias indígenas:
Quando se vai estudar uma aldeia indígena, há todo um processo que começa muito antes da chegada
do investigador lá. Há muitas etapas e negociações com os órgãos envolvidos, como a Funai, por
exemplo, com as lideranças indígenas, para o pesquisador saber se será aceito e quais serão as
condições e exigências para sua entrada; em muitos casos, ainda é necessário o apoio ou mesmo a
interferência de um outro antropólogo que já tenha investigado a mesma aldeia.
2) O trabalho etnográfico com jornalistas:
Quando decidi acompanhar os repórteres em suas rotinas de apuração, precisei da autorização das
chefias. Ou seja, era possível circular pelas redações sem problemas, se você tinha um “passe” –
crachá de visitante – concedido por um colega, mas não sair daquela esfera. E para a autorização do
chefe de redação era fundamental apresentar uma carta explicando a pesquisa, seus objetivos, prazos
e atividades. Feito isso, obtive a autorização, e me solicitaram que eu assinasse uma declaração que
desobrigava a empresa de qualquer espécie de seguro de saúde ou de vida para mim, caso ocorresse
algum acidente com o carro da reportagem m que eu estivesse.
De acordo com o antropólogo Malinowiski, a etnografia deve incluir uma descrição detalhada de
gestos, expressões corporais, usos alimentares, os silêncios e suspiros, os sorrisos, as caretas, os ruídos
da cidade e do campo de uma determinada cultura (apud LAPLANTINE, 2004, p. 15), como também o
trabalho de campo deve despertar o olhar para uma observação atenta da cultura, de modo a preparar
a observação para incluir o inesperado, o desconhecido, a descoberta da outra cultura.
Desse modo, o estudioso Laplantine entende que o ato de “ver” deve ir além do conhecimento já
previsto ou do imaginado e abrir-se aos novos conhecimentos da cultura estudada (2004, p. 14):
O ato de ver, informado pelos modelos (e até pelos modos) culturais, está
estreitamente ligado ao de prever, e o conhecimento muitas vezes, nessas
condições, não vai além de um conhecimento do que já sabíamos. Ver é, na
maioria das vezes, por memorização e antecipação, desejar encontrar o que
esperamos e não o que ignoramos ou tememos, a tal ponto que pode acontecer-
nos de não acreditar que vimos (ou seja, não ver) se tal não corresponde a
nossa espera (...).
A Etnologia (idem, 1993) é quando os pesquisadores antropólogos utilizam os dados coletados na
etapa da etnografia e desenvolvem uma primeira interpretação e análise das culturas, estabelecendo
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semelhanças e diferenças com outras culturas por meio de um estudo comparativo. A fase etnológica
representa um primeiro passo em direção a uma síntese explicativa.
E, por fim, a antropologia cultural (ibidem, 1993) representa a última etapa da síntese explicativa,
tomando por base as conclusões da etnografia e da etnologia. Desse modo, a Antropologia Cultural
empreende uma análise conclusiva sobre o comportamento cultural humano e deve ser analisado em
todo seu processo.
Desse modo, pode-se inferir que o antropólogo é, ao mesmo, tempo o etnógrafo e o etnólogo.
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De fato, presos a uma única cultura, somos não apenas cegos à dos outros, mas
míopes quando se trata da nossa. A experiência da alteridade (e a elaboração
dessa experiência) leva-nos a ver aquilo que nem teríamos conseguido imaginar,
dada a nossa dificuldade em fixar nossa atenção no que nos é habitual, familiar,
cotidiano e que consideramos evidente. Aos poucos, notamos que o menor dos
nossos comportamentos não tem realmente nada de “natural”. Começamos,
então, a nos surpreender com aquilo que diz respeito a nós mesmos, a nos espiar.
O conhecimento da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento de
outras culturas; e devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura
possível entre tantas outras, mas não a única.
O encontro com as outras culturas (a alteridade), a partir da reflexão antropológica, contribui para que
o homem ocidental entenda que sua sociedade não é natural; é cultural. Essa constatação possibilita
que o homem compreenda que não há apenas uma cultura no mundo. A partir dos estudos da ciência
antropológica, é possível vislumbrar que a humanidade habita o universo de maneira pluralizada e
multifacetada.
A abordagem antropológica produziu uma revolução do olhar, pois rompeu com a noção de que
existe um tipo de homem que é o centro do mundo - como o europeu foi identificado durante tanto
tempo como a cultura superior e mais importante do planeta - e de que as outras culturas, por serem
diferentes, são selvagens. Diante desse acontecimento científico, descobre-se a alteridade (a cultura
do outro), o que faz com que o homem seja confrontado constantemente com a multiplicidade de
culturas (ibidem, 2007, p.22).
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SÍNTESE
A Ciência Antropológica é o estudo do homem completo e tem como premissa a compreensão da
existência humana, em sua expressão global, ou seja, BIOPSICOCULTURAL. Desse modo, o objetivo é
entender o homem como ser biológico pensante, como produtor de culturas e como participante da
sociedade.
A Antropologia pode ser dividida em cinco campos de estudo: Antropologia Biológica, Antropologia
Pré-histórica, Antropologia Linguística, Antropologia Psicológica e Antropologia Cultural.
Além das dimensões da vida humana, denominadas como “racional” e “aprendente”, a dimensão
simbólica é também parte constitutiva do ser humano, porque o homem está imerso na linguagem e
na cultura. Pode-se compreender um valor simbólico como um significado cultural atribuído pelo ser
humano a gestos, palavras e/ou objetos materiais de acordo com seu contexto social e histórico. A
atribuição de significado é o que faz com que o homem crie/recrie representações e visões de mundo
demarcadas por seus valores e sentimentos num determinado espaço geográfico e época histórica.
É importante ressaltar que o antropólogo cultural utiliza, com mais prioridade, as etapas de pesquisa
denominadas: Etnografia e Etnologia. Segundo o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, a Etnografia,
Etnologia e Antropologia são três etapas e momentos específicos de uma mesma pesquisa.
Nessa perspectiva, a Etnografia consiste no estudo das descrições das sociedades humanas. A
etapa etnográfica tem como objeto de estudo a observação e análise de grupos humanos em sua
particularidade e visa à reconstituição de seus modos de viver e tem como especialidade o estudo
da cultura material e/ou imaterial de cada povo. Já a etapa denominada Etnologia é quando os
pesquisadores antropólogos utilizam os dados coletados na etapa da etnografia e desenvolvem uma
primeira interpretação e análise das culturas, estabelecendo semelhanças e diferenças com outras
culturas por meio de um estudo comparativo.
O trabalho de campo da etnografia deve despertar o olhar para uma observação atenta da cultura,
de modo a preparar a observação para incluir o inesperado, o desconhecido, a descoberta da outra
cultura Desse modo, o estudioso Laplantine entende que o ato de ver deve ir além do conhecimento
já previsto ou do imaginado e abrir-se aos novos conhecimentos da cultura estudada.
A fase etnológica representa um primeiro passo em direção a uma síntese explicativa. E, por fim, a
antropologia cultural representa a última etapa da síntese explicativa, tomando por base as conclusões
da etnografia e da etnologia. Desse modo, a Antropologia Cultural empreende uma análise conclusiva
sobre o comportamento cultural humano e deve ser analisado em todo seu processo.
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Discutiu-se, também, nesta unidade, que o encontro com as outras culturas (a alteridade), a partir
da reflexão antropológica, contribui para que o homem ocidental entenda que sua sociedade não é
natural; é cultural. Esta constatação possibilita que o homem compreenda que não há apenas uma
cultura no mundo e, principalmente a partir dos estudos da ciência antropológica, pode-se vislumbrar
que a humanidade é plural.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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TRAVANCAS, Isabel. Fazendo Etnografia no mundo da Comunicação. In: DUARTE, Jorge; BARROS,
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