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Aprender a soltar, para se permitir receber

24 Janeiro, 2017

Às vezes, soltar não é necessariamente um sacrifício nem um adeus, mas sim um


“obrigado” por tudo que aprendemos. É deixar partir o que já não se sustenta em si
mesmo para nos permitirmos ser mais livres e autênticos, e então receber o que tiver
que chegar.

Se pensarmos nisso por um instante, veremos que as melhores decisões, essas


seguidas de um estado de grata felicidade, justamente implicam ter que soltar alguma
coisa. Pode ser um medo, uma angústia, traçar certa distância de um lugar ou mesmo
de uma certa pessoa. A renúncia é parte do processo da vida. É uma coisa natural,
porque todos somos obrigados a escolher no que e em quem investir nossos tempos e
nossos esforços.

Solto, entrego, confio e agradeço, porque é preciso deixar partir o que já não quer
ficar, o que pesa, o que já é falso… Para permitir então que o nosso próprio coração
fique apenas com o que é autêntico.

Um fato a considerar é que o ato de soltar, por si só, não implica apenas cortar esses
laços que colocam limites ao crescimento pessoal e a felicidade. Soltar significa em
certos casos ter que se desprender e repensar muitos dos próprios conceitos
psicológicos, tais como o ego, o rancor, ou mesmo o próprio medo da solidão.

Porque aquele que quiser receber precisa ter o coração preparado para receber essa
nobreza que não entende de egoísmo, nem de tempestades interiores.

A ambição e a necessidade de acumular

Na sociedade atual associamos a conquista de certas coisas com a ideia de felicidade.


“Serei feliz quando fizer essa viagem, quando tiver namorado, quando tiver minha
própria casa, quando tiver um aumento de salário, quando tiver um carro novo, celular
novo, quando perder uns quilos, quando estrear a nova temporada do meu seriado
favorito…”
Compramos livros e mais livros para aprender a ser felizes, enquanto esperamos que
alguma coisa mude, enquanto aguardamos que em algum momento tudo que foi
acumulado nos ofereça a resposta que esperamos. Frédéric Beigbeder, famoso
escritor, criativo e publicitário francês, disse que no mundo da publicidade ninguém
deseja que as pessoas sejam felizes. Simplesmente porque as pessoas felizes “não
consomem”.

A felicidade é uma coisa que as sociedades modernas nos vendem como uma “ilusão”,
algo que deve ser breve e efêmero para nos obrigar então a consumir mais. Por isso a
“obsolescência programada” dos aparelhos eletrônicos, por isso a ideia de que para
ser feliz é preciso ser atraente e andar com certas roupas, ter muitos amigos, e
encontrar o amor ideal nas páginas de contatos, onde os relacionamentos podem
começar hoje e acabar amanhã com apenas um “click”.

Criamos um mundo onde valores como a ambição e o inconformismo patológico nos


afastam completamente do verdadeiro sentido da felicidade. Vivemos atentos ao que
nos falta, sem perceber tudo o que, na verdade, nos sobra. Tudo aquilo que
deveríamos soltar para compensar o equilíbrio, para sermos nós mesmos.

Para ser feliz é preciso tomar decisões e… soltar

A vida é muito curta para vivermos permanentemente frustrados. Por isso, e se de


verdade desejamos ser felizes, precisamos ser capazes de tomar decisões, de saber no
que e em quem desejamos investir o nosso próprio tempo. Mas, como você já deve
imaginar, decidir implica muitas vezes ter que renunciar, um exercício que precisa ser
feito de forma consciente e madura assumindo as consequências.

A vida é um eterno deixar partir, porque somente com as mãos vazias você será capaz
de receber.

Para ajudá-lo no complexo caminho da renúncia e na arte de soltar, vale a pena


lembrar que para a filosofia budista a felicidade nada mais é do que um estado mental
de calma e bem-estar. Portanto, preste atenção com calma e com sabedoria a tudo
aquilo que rodeia você para sentir o que lhe oferece serenidade e o que traz ruído, o
que e quem nutre a sua alma com respeito e o que ou quem lhe traz tempestades em
dias claros. Decida, escolha, confie no seu instinto e, simplesmente, solte.

Outro aspecto que é preciso lembrar é que quem tem a coragem para soltar também
precisa ser digno para receber. Por isso, vale a pena refletir alguns instantes sobre
estas ideias:

É preciso renunciar à necessidade de sempre ter o controle sobre os outros. É preciso


“ser” e “permitir ser”. Quem reclama de liberdade pessoal para crescer precisa ser
capaz, por sua vez, de poder oferecê-la.

Renuncie à necessidade de ter sempre razão. Assumir o erro é crescer e saber guardar
silêncio quando o momento requer é um gesto de sabedoria.

Solte seu ego, liberte-se da necessidade de impressionar, de ter que competir, de


exigir atenção quando ninguém o observa, de procurar qualquer falsa companhia
quando você tem medo da solidão. Solte seu medo para se permitir ser verdadeiro,
para ser você mesmo, essa pessoa que é tão capaz de dar quanto de receber.

Concluindo, nesta complexa mas fascinante luta cotidiana para ser feliz, todos nós
deveríamos praticar o saudável exercício de soltar o que nos pesa, amar o que já
temos e ser agradecidos diante de tudo que é bom, que sem dúvida está por vir.

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