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MENTE HUMANA = Quando a alma se manifesta.

Marcos Paterra

A mente humana é objeto de estudo a centenas de anos, e até hoje os mais


renomados cientistas ainda não conseguem explicar com exatidão seu funcionamento.
Mas o que é mente? Descartes1 afirmava em sua obra “Meditações”i :
“Eu uso esse termo (mente) para incluir tudo o que está dentro de nós de tal
modo que estamos imediatamente conscientes. Assim, todas as operações da vontade,
do intelecto, da imaginação e dos sentidos são pensamentos”. (DESCARTES. 1999)
Dessa forma o termo “pensamento”, abrange a mente como um todo, todavia
questões quanto a complexidade tais como: se é um processo químico, ou talvez
neurológico, ou mesmo divino, ou quem sabe uma mistura de todos?
Muitas linhas de pesquisa abordam a forma como pensamos, onde temos desde
os cognitivistas2 que acreditam que formamos nosso conhecimento e forma de pensar
devido a particularidades do cérebro, e que nascemos com essa aptidão e é desenvolvida
naturalmente; os interacionistas3 acreditam que nascemos com essa aptidão, mas é
necessária a socialização com o outro para que possamos desenvolver o conhecimento e
dele nossa forma de pensar, e mais recentemente temos os “interacionistas
construtivistas”, que confirmam que nascemos com aptidões, precisamos da vida
social/familiar para despertar os conhecimentos... Mas... Os pensamentos (como
progresso “mental”) são individuais, destacando a nossa personalidade, para
exemplificar supúnhamos que um individuo conviva a infância e adolescência
navegando em barcos não quer dizer que se torne um marinheiro, poderá optar em
aprender também a pilotar aviões e tornar-se aviador, sob esse prisma o sujeito teria
o conhecimento marítimo e adquire de forma somatória o aéreo, e opina conforme suas
afinidades; ou seja, estamos em constante construção de conhecimento.
“O mundo é do tamanho do conhecimento que temos dele. Alargar o
conhecimento, para fazer o mundo crescer, e apurar seu sabor, é tarefa de seres
humanos. (RIOS. 2001)ii

1
René Descartes (1596-1650), filósofo, cientista e matemático francês.
2
Perspectiva cognitivista: o pensamento é normalmente caracterizado como uma atividade cognitiva responsável
pela manipulação de informações adquiridas do ambiente com a finalidade de executar comportamentos manifestos.
3
Perspectiva interacionista: O funcionamento psicológico humano é resultado de elementos que vem do sujeito e
do ambiente. Resultado de uma troca, ou seja, de uma interação. Acrescentando que essa interação entre o eu e o
outro, o eu e o ambiente, acontece mediada pela linguagem e estimula os processos cognitivos.
Sob esse prisma Adenauer de Novais4 na obra “Psicologia e Universo
Quântico” nos brinda com a frase:
“O ser humano nasce inconsciente e transita pela consciência para o encontro
com sua própria unidade, isto é, sua individualidade ou designação divina. Antes de se
perceber unidade, entende-se como grupo. Nesse processo, faz-se necessária a projeção
de sua unidade (individualidade) no mundo.” (NOVAES. 2009)iii
Descartes complementa :
“Mas o que sou eu, então? Uma coisa que pensa. Que é uma coisa que pensa? É
uma coisa que duvida, que concebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que
imagina também e que sente” (DESCARTES. 1999a) iv
O estudo da mente é efetuado pela psicologia que na verdade é estudo da “alma”
do Homem.
“O termo psicologia, no qual reside à raiz etimológica psiché (alma) mais o
sufixo “logos” (razão, estudo), surgiu no final do século XVI com Rodolfo Goclenio e a
publicação Psychologhía, hoc est de hominis perfectione, animo et in primis ortu eius,
commentationes ad disputationes. A proposta original da psicologia foi estudar e
compreender o espírito – do latin spiritus –, que significa literalmente respiração. Os
limitados métodos científicos dos séculos passados favoreceram o distanciamento da
Psicologia em relação ao estudo do “não palpável”, enquanto a medicina desenvolvia
métodos para investigações do corpo (do latin corpus: parte essencial). Objetivando
tratar, remover ou modificar sintomas de natureza emocional e promover o crescimento
e o desenvolvimento da personalidade surgiram, em meados do século XIX, as
Psicoterapias no ocidente, com influências de diferentes escolas filosóficas,
perspectivas epistemológicas, teorias e métodos”.v(PERES. 2004)
Nesse ponto destacamos que a “Revista Espírita” tinha o subtítulo de: Jornal de
Estudos Psicológicos. Fundada em 1958 por Allan Kardec, Trazia a frase: “Todo efeito
tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. O poder da causa
inteligente está na razão da grandeza do efeito.”
Mas... Se o pensamento é alma, surge ai outra questão... O que é “ALMA”?
Na Bíblia, a palavra hebraica mais vezes traduzida por “alma” ou “criatura” é
nephesh. O dicionário bíblico “Strong”5 , define sucintamente esta palavra como :“uma
criatura vivente”.

4
Adenáuer Marcos Ferraz de Novaes - Filósofo e Psicólogo, autor De vários livros.
Kardec na introdução do livro dos espíritosvi define a “ALMA” originária do
latim que significa : anima, sopro, emanação, ar.
Todavia nos esclarece que o termo “Alma” corresponde quando o espírito esta
sob a vestimenta da carne (encarnado).6
No livro Discurso sobre o Métodovii e nas Meditações Sobre a Primeira
Filosofia, Descartes distingue duas espécies de entidades: a matéria e a alma. A essência
da matéria é a sua extensão espacial; a essência da alma é a cogitatio7. Toda a
substância possui um atributo principal, aquele da alma é o pensamento, assim como
aquele do corpo é a extensão.8
Freud9, a par da evolução relacionada com o conhecimento do cérebro,
desenvolvida pela neurologia na segunda metade do século XIX, inaugurou-se uma
investigação extraordinária da natureza íntima do ser humano; frequentador da escola
neurológica de Charcot10 e conhecedor dos avanços da hipnose da escola de Lyon pode
desenvolver uma Teoria da psique.
Ele sugeriu uma organização para o nosso aparelho psíquico, esclareceu a
natureza do inconsciente, sua importância na determinação das nossas condutas e os
métodos para desvendar as mensagens sutis amortecidas por este inconsciente. Para
Freud o inconsciente retém os nossos desejos que não podem ser expressos na
consciência devido a censura ética e moral a que estão submetidos.
Carl Gustav Jung11 entre outros, expandiram e modificaram o pensamento
freudiano, mas sempre considerando a existência de uma energia psíquica nas atitudes e
na motivação dos nossos comportamentos.

5
Dicionário: Strong’s Exhaustive Concordance of the Bible (Concordância Exaustiva de Strong da Bíblia)
6
Espirito é o princípio inteligente do Universo (LE Item 23), e Alma é o espirito encarnado (LE Item 134). A
diferença é relativa a ligação com o corpo carnal.
7
Cogitatio = Pensamento.
8
Extensão: ação do corpo por atos reflexos, como dilatação de pupila em local escuro, ou pensamentos rápidos por
reflexo como elevar a mão para se defender.
9
Sigmund Freud (1856-1939), médico neurologista, nascido na Morávia (atual República Tcheca), autor da maior
literatura acerca do inconsciente humano, fundador da psicanálise.
10
Jean-Martin Charcot (1825-1893) foi um médico e cientista francês; alcançou fama no terreno da psiquiatria na
segunda metade do século XIX. Foi um dos maiores clínicos e professores de medicina da França e, juntamente com
Guillaume Duchenne, o fundador da moderna neurologia. Suas maiores contribuições para o conhecimento das
doenças do cérebro foram o estudo da afasia e a descoberta do aneurisma cerebral e das causas de hemorragia
cerebral.
11
Carl Gustav Jung (Kesswil, 26 de julho de 1875 — Küsnacht, 6 de junho de 1961) foi um psiquiatra suíço e
fundador da psicologia analítica, também conhecida como psicologia junguiana.
A complexidade do psiquismo humano ainda não encontrou na Ciência uma
teoria suficientemente ampla para abranger toda extensão de suas propriedades.
“A Psicologia necessita de espiritualidade. Denominamos espiritualidade tudo
que se refere à natureza subjetiva do ser humano. Seu aspecto psíquico, não material,
transcendente às concepções fisico-energéticas, distanciado do causalismo fisiológico,
muito embora interferindo nele. É na sua manifestação amorosa, sensível às emoções
nobres não contaminadas pelas conexões lógicas do ego12, que vamos encontrar essa
natureza espiritual. Espiritualidade não é Espiritismo ou espiritualismo, é amorosidade
e inclusão da percepção do espírito como ser existente e eterno”.(NOVAES. 1999.
P.17)viii
Sob essa perspectiva concluímos que a mente humana é a alma se manifestando em nosso
corpo, ajudando-nos a evoluir tanto como “Homens” quanto como espíritos .
“O pensamento é energia que expressa nossos desejos. Somos sensibilizados por
estímulos externos que desencadeiam percepções cerebrais de vários matizes. As cores,
os sons, os sabores ou os afetos geram em nós sensações que despertam desejos, criam
ideias e organizam pensamentos que expressamos pela linguagem. Esta experiência
sensorial nos permitiu desenvolver reflexos, hábitos, instintos, automatismos,
discernimento, raciocínio e, finalmente, a inteligência e a consciência de si mesmo num
processo evolutivo do ser unicelular ao homem com seus bilhões de neurônios. Por
efeito das vibrações que emitimos ao pensar, estamos obrigatoriamente ligados, por
sintonia mental, à todas as criaturas que no mundo inteiro pensam como nós.[...]
Somos livres para pensar e induzir aos outros a pensarem como nós. Porém, somos
escravos das ideias que fixamos para nós mesmos e das sugestões que nos
incomodam.”(FACURE. 2004)ix

12
EGO = Instância psíquica da vida consciente, centro da consciência. Vale ressaltar que a cada encarnação
formamos um novo ego que absorve as características pessoais e coletivas do meio em que renascemos. As
sucessivas encarnações formam um determinado padrão de atitudes a qual chamamos de personalidade e que difere
da individualidade. Esta última é a singularidade de cada um, fruto da criação de Deus.
Referencias Bibliográficas
i
DESCARTES, René. Meditações Sobre a Primeira Filosofia. Ed.: Hemus. São Paulo.
1997
ii
RIOS, Terezinha Azeredo. Compreender e ensinar: por uma docência da melhor
qualidade. São Paulo: Cortez, 2001.
iii
NOVAES, Adenáuer Marcos Ferraz. Psicologia e Universo Quântico, um olhar sob
o paradigma espiritual. Cap. A Busca da Unidade. Fundação Lar Harmonia.
Salvador/BA 2009.
iv
DESCARTES, René. As paixões da alma. In: FLORIDO, J. Ed. Nova Cultural.
Trad. E. Corvisieri. São Paulo., 1999a. p.101-245. (Obra original publicada em 1649).
v
PERES, Júlio. Psicoterapia e espiritualidade: convergência possível e necessária. In
TEIXEIRA, Evilázio Francisco Borges . MÜLLER, Marisa Campio, SILVA, Juliana
Dors Tigre da. Orgs Espiritualidade e Qualidade de Vida. EDIPUCRS. Porto
Alegre/RS. 2004
vi
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Introdução, Ed. FEB. Rio de Janeiro 1999
vii
DESCARTES, René. Discurso sobre o método. Ed.: Hemus, São Paulo. 1999.
viii
NOVAES, Adenáuer Marcos Ferraz. Psicologia e Espiritualidade. Fundação
Harmonia; Salvador/BA 1999.
ix
FACURE, Nubor Orlando. A CONQUISTA DO CORPO E DA MENTE - in Jornal
Espírita. Julho.2004.

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