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A NOVA CONFIGURAÇÃO FAMILIAR A FAMÍLIA - A Familia Contemporanea Usuaria Das Politicas Públicas
A NOVA CONFIGURAÇÃO FAMILIAR A FAMÍLIA - A Familia Contemporanea Usuaria Das Politicas Públicas
hoje o psicólogo que trabalha com a rede social, como uma utopia nos dias de hoje, pois as difi-
tem como foco fornecer o suporte para esses culdades enfrentadas pelos profissionais de Psi-
sujeitos perante aos seus conflitos, porém o cologia são temerosas, sua inserção está focada
que acontece na maioria das vezes é que esses a cuidados primários e que são compartilhados
profissionais acabam se perdendo em meio aos por outras disciplinas, uma vez que os currícu-
seus papéis de atuação, visto que a população los de formação estão voltados ao atendimento,
que o procura possui características marcantes, ajustados a um modelo biomédico refletido de
além disso muitas são conduzidos por outros uma proposta biopsicossocial.
profissionais da saúde que desconhecem a ne- Para constituir uma Psicologia Social da
cessidade da atuação do psicólogo. Saúde coletiva, a formação é um ponto crucial,
Entretanto, essas pessoas ao conversar que precisa ser repensada nas instituições que
com o psicólogo possuem a visão de que devem formam esses profissionais. Essa formação con-
lhe contar tudo de sua vida, a fim de que seus tribuirá no processo de acúmulo das aprendiza-
problemas possam ser resolvidos de imediato. É gens e ampliação de consciência perante a luta
nesse entremeio que o psicólogo não visualiza da reforma psiquiátrica, pela desinstitucionaliza-
outras relações significantes, pois na medida em ção nas defesas dos direitos humanos, gerando
que tenta fornecer suporte, perde esse indivíduo um compromisso ético-político, envolvido com a
que está inserido a um determinado contexto produção de saúde, e a promoção da vida.
que possui uma história e que precisa de uma Hoje em dia, a área da Assistência So-
reflexão por parte da rede para se ater ao pro- cial compõe um dos maiores emblemas desse
cesso de intervenção. (MORÉ, 2006). assunto, dada as suas recentes conformações
Em presença desse desempenho social legais e a consequente existência de espaços
do psicólogo e a transcendência social, vem se destinados a psicólogos, por exemplo, nas equi-
ampliando o campo de investigação objetivando pes dos Centros de Referência da Assistência
outras formas de intervenção, diferenciando do Social (CRAS) - unidades públicas - responsá-
modelo antigo para tratamento de saúde mental, veis desde 2004 pela execução dos programas,
ponderadas de condições mais humanas, pre- projetos e serviços da Proteção Social Básica
ventivas que antecedem as doenças, caracteri- (PSB).
zada por uma melhor qualidade de vida a esse
sujeito. (VASCONCELOS apud VIZZOTTO, Políticas da Assistência Social
2003)
Com a participação sistêmica do psicó- Em 1993 com a Lei Orgânica da Assis-
logo, numa integração do campo interdisciplinar tência Social – LOAS em que a Assistência So-
na área da saúde em um contexto histórico re- cial foi reconhecida como política pública, dever
cente no Brasil, embora esses profissionais este- do Estado e direito do cidadão, sendo de caráter
jam atuando a mais de vinte anos, surgem novas não contributivo, que provê os mínimos sociais,
concepções de bem-estar refletidas de novas sendo realizada por intermédio de ações de
demandas de saúde e doença, novos campos iniciativa pública e da sociedade para que seja
de trabalho, novas ideias que se propagam so- garantido o atendimento às necessidades bási-
bre aspecto político, social e econômico, vestem cas do sujeito (Brasil, 1993). A Política Pública
a inovação de promover saúde. A comunidade de Assistência Social atualmente é realizada de
nesse feitio se diferencia de uma instituição, pois forma a considerar as desigualdades sócio-ter-
é um lugar onde desenvolve-se vidas cotidianas, ritoriais, visando garantir a universalização dos
sem objetivos definidos, pautados de aspectos direitos aos sujeitos vulneráveis sócioeconomi-
de coesão e inter-relação. (VIZZOTTO, 2003). camente. (BRASIL, 2004), é com a implantação
De acordo com Menegon e Coelho do Sistema Único de Assistência Social - SUAS
(2005) a demanda de psicólogos para atuarem que se dá o fortalecimento desse compromisso.
nessa área fez com que houvesse a busca pela O SUAS, criado a partir do modelo do
definição da área, do papel e principalmente das Sistema Único de Saúde – SUS, define as ba-
competências e os conhecimentos que devem ses e as diretrizes para a Política Nacional de
constituir o currículo para a formação desses Assistência Social – PNAS. Sua implantação foi
profissionais. Para esses autores esse modo de o marco para uma nova forma de proteção da-
se pensar sobre o cuidado com a saúde é visto queles que se enquadram em uma situação de
num todo, dentro do seu contexto social e políti- objeto para o lugar de sujeito.
co no qual está inserido. Os cidadãos devem ser Nos serviços de Assistência Social traba-
pensados como sujeitos que têm sentimentos, lham-se intervenções em programas e projetos,
ideologias, valores e modos próprios de interagir visando um trabalho social que atinja as famílias
com o mundo, constituindo uma subjetividade de ou alguns membros da mesma. Esses trabalhos
construção na interação contínua dos indivíduos interventivos servem de base para a construção
com os aspectos histórico-culturais e afetivo-re- e a potencialização dessas famílias inseridas
lacionais que os cercam. Essa dimensão subje- nos projetos e grupos comunitários, visando o
tiva deve ser levada em consideração quando se fortalecimento de atividades e interações dos
organizam e executam a política pública no país. membros, nos arranjos familiares e até mesmo
O indivíduo, em interação constante com na própria atuação dos grupos. Através dessas
seu contexto social (familiar, comunitário), é o práticas objetiva-se uma melhor convivência fa-
eixo da produção e utilização do conhecimen- miliar e comunitária favorecida na construção de
to psicológico numa prática comprometida com laços afetivos e colaborativos entre os mesmos.
o desenvolvimento à justiça. A capacidade de Dessa forma trabalham-se vários temas com es-
enfrentamento das situações da vida é afetada ses indivíduos, nos quais a autoestima e a es-
pelas experiências e significados construídos ao cuta são fundamentais para reelaborar e avaliar
longo do processo de desenvolvimento. Alterar suas histórias de vida, motivando-os a centra-
o lugar do sujeito nas políticas de Assistência rem com maior autonomia a mesma. Entretanto
Social, potencializando a sua capacidade de os programas de complementação de renda se
transformação, envolve a construção de novos tornam numericamente significativos, pois estão
significados para esse sujeito (MARTINEZ apud articulados a processos de apoio sócio-educa-
BRASIL, 2005). cional juntamente ao fortalecimento da autono-
Por intermédio desses planejamentos mia familiar, como pontua Brasil (2005).
de ações conduzidas pelo Estado, as políticas Esses planejamentos são derivados das
voltadas a família vem ganhando um lugar de políticas sociais, formados por meio de estudos
destaque na política pública. Devido a esses analisados a respeito da desigualdade social e a
contextos constituídos por uma diversidade cul- diversidade cultural, na qual revelam o formato
tural pode se pontuar que a família ocupe um que a sociedade apresenta suas organizações
lugar dentro da política social, pois além de ser familiares, gerando questões a serem discutidas
beneficiária é também uma mini prestadora de no âmbito educacional, modalidades de cuida-
serviços de proteção e inclusão social. Os ser- dos com a saúde e utilização dos serviços públi-
viços públicos vêm fornecendo maior escuta a cos e até mesmo em assuntos de singularidade
queixas familiares ou de algum de seus mem- das situações vividas pela população de vulne-
bros, regidos de observações e acolhimento de rabilidade, como pontua Romanelli (2001).
uma escuta humanizada, na qual obtém muitos
resultados. A família e Políticas Públicas
O psicólogo e o CRAS devem se posi-
cionar contra o que está definido e que favorece De acordo com Romanelli (2001), a fa-
para a desigualdade e afastamento da autono- mília vem se destacando como uma instituição
mia do sujeito, contando com o apoio dos profis- privada, sendo responsabilizada pela produção
sionais da assistência social, em atendimentos social, transmissora de padrões culturais e a co-
individuais e coletivos, o qual é prioridade de ordenação a vida social. Constitui-se também
atendimento nesse âmbito. Como propõe Luce- como formadora de grupos sociais, oferecendo
na Filho (2008), essa transformação social se dá afetividade e sociabilidade. Dessa forma, as mo-
a partir do momento em que ao sujeito é dada a dificações demonstram a heterogeneidade dos
oportunidade de se ouvir, de se descobrir, de en- novos arranjos domésticos, referindo-se ao ta-
tender sua própria subjetividade, esta que é pro- manho da família, ao número de filhos e ao au-
duzida pelas redes e campo social de onde ele mento de famílias mono- parentais.
está inserido. É nessa proposta que o psicólogo No âmbito do serviço social, esses índi-
deverá trabalhar para trazer a esse indivíduo a ces marcam a necessidade de construção de
sua história de vida, ajudando-o na re-significa- órgãos que encarem a família como eixo funda-
ção de sua existência, saindo da condição de mental das atuações, considerando, que é em
seu interior que os indivíduos se formam e pro- em que estão inseridos. É preciso compreender
duzem suas condições de existência (SILVA et a família em seu movimento, dentro de uma or-
al., 2004). ganização e reorganização, devido aos novos
Em consonância com Silva et al. (2004), arranjos familiares, bem como, os estigmas so-
a família sempre foi assunto de preocupação bre as formas diferenciadas, evitando a natura-
das políticas públicas. Essa justificativa é devi- lização dos grupos sociais de desorganização e
da ao núcleo familiar que simboliza a estrutura reorganização em relação a determinados con-
básica da sociedade envolvendo os objetivos do textos sócio-culturais. É preciso refletir sobre o
Estado em garantir que os direitos fundamentais significado família numa sociedade contemporâ-
de seus integrantes sejam preservados. Não nea e principalmente no lugar que a mesma ocu-
há uma única definição familiar, estática, visto pa dentro de uma política social. As expectativas
que se trata de uma instituição de transforma- em relação à família contemporânea vêm sendo
ções históricas. Todavia, essa forma de pensar direcionadas de um imaginário coletivo, passivo
implica em re-significar a representação familiar de idealizações sobre o símbolo de família nu-
em termos de organização e estrutura, tornando clear.
referência a família nuclear, embasado na diver- Osório (1996) afirma, no entanto, que
sidade. não existe conceito único a respeito de família,
Dessa maneira, como afirma Carneiro muito menos definição enquanto a sua estrutura
(2004), as políticas sociais trabalham com várias fixa perante a sociedade. Não é uma expressão
perspectivas, dentre elas a centralidade dessa passível de conceituação, porém tão somente
família, apostando em sua capacidade de cuida- de descrição, sendo possível descrever suas
dos e proteção, na qual a intervenção do Estado várias estruturas assumidas por essa família de
seja de caráter temporário. Outra perspectiva é acordo com a evolução histórica. Dessa forma,
direcionada a família em estar protegendo seus obtém-se um conceito operativo para família
membros, garantido pelo Estado por intermédio como unidade básica da integração social. En-
das políticas sociais e públicas. A família brasi- tretanto não basta apenas situar a família dentro
leira hoje quer ser reconhecida como instância desses novos arranjos do contexto sócio-históri-
de cuidados e proteção, porém a mesma precisa co, evolutivo do processo civilizatório. É impor-
ser cuidada, protegida atribuindo à responsabili- tante observar nas famílias os papéis distintos
dade pública. que cada membro exerce, sendo principal em
A proteção à família tornou-se uma es- todas as culturas.
tratégia vinculada às políticas sociais, em es- A nova constituição familiar, como propõe
pecial pela Política de Assistência Social, como Osório (1996), há três tipos de relações familia-
alvo dos programas definidos como unidades de res, sendo elas, aliança (casal), filiação (pais e
intervenção, como é o caso do Programa Bol- filhos) e consanguinidade (irmãos), do mais, há
sa Família. Porém, é de suma importância es- outros referenciais como o parentesco denomi-
clarecer que o programa Bolsa Família, assim nado de relações de pessoas que se vinculam
como, uma política social, não tem a capacida- pelo casamento, ou pela existência de filhos por
de de superar a pobreza das famílias, de forma ancestrais comuns etc.
que a pobreza é resultado de como a socieda- A família é caracterizada como modelo
de se organiza na produção de suas relações natural, na qual visa assegurar a sobrevivência
e desigualdades, fundamentadas entre o capital biológica da espécie, juntamente ao desenvol-
e o trabalho. A centralidade da família enquanto vimento psíquico dos descendentes, a aprendi-
direitos sociais devem ser efetivados pelo Esta- zagem e a interação social. Além de preservar
do, de maneira que as políticas estejam voltadas a espécie, o papel de nutrir e proteger, dentre
às unidades familiares, como propõe Carneiro outros aspectos como a transmissão de valo-
(2004). res éticos, estéticos, religiosos e culturais, po-
De acordo com Carvalho (2000), a família dendo se apresentar em nove tipos de compo-
tem como princípios estar promovendo cuidados sição familiar distintas: nuclear (incluindo duas
de proteção, aprendizado, construção de iden- gerações, com filhos biológicos); extensa (vários
tidade entre outros gerenciadores que leve me- membros com laços de parentesco, incluindo
lhor qualidade de vida a seus membros e dessa três ou quatro gerações); adotivas temporárias;
forma efetive a inclusão social nas comunidades adotivas que podem ser bi-raciais ou multicultu-
rais; casais, famílias mono parentais (chefiadas lógica e social, tornando-o habilitado para a pró-
por pai ou mãe) casais homossexuais (com ou pria constituição familiar, como pontua Osório
sem crianças) famílias reconstituídas (depois do (1996).
divórcio) e várias pessoas vivendo junto sem la- No interior dos contextos supracitados
ços legais, mais com forte compromisso mútuo. pelo Osório (1996), os indivíduos que compõem
De acordo com o autor supracitado, os uma família fazem parte de um ciclo vital evo-
papéis familiares não correspondem aos indi- lutivo. A família nasce, cresce, amadurece ha-
víduos na maioria das vezes, pois nem sem- bitualmente se reproduzem em novas famílias,
pre há uma ligação entre o sujeito e o papel a encerram o seu ciclo vital com a morte dos
ser desempenhado na família. Diante o modelo membros que a originaram e a separação das
sócio-histórico as funções da família ficam es- pessoas para a constituição de novos núcleos
tagnadas a reprodução sexual e a socialização, familiares. O ciclo vital da família é algo dinâmi-
permitindo a reprodução, acrescentados a fun- co não podendo ser retido a tamanha descrição.
ções econômicas. Os divórcios que se fazem presentes hoje na
As funções familiares são pautadas em sociedade em grandes números, não deixam de
mecanismos biológicos, psicológicas e sociais, compor uma nova estrutura familiar, bem como
tais desempenhos estão vinculados as estrutu- as alterações significativas que favorecem ao
ras familiares ao processo civilizatório, respon- ciclo vital da família obrigando a pensá-los em
sáveis pela organização dos indivíduos como novos contextos. A versão que o autor faz do ci-
agente processador das mudanças humanas, clo da família com o divórcio e com as famílias
tanto no âmbito individual como no coletivo, pro- reconstruídas não é a extinção do ciclo vital, po-
posto por Osório (1996). O desempenho bioló- rém trata-se de uma abertura para o surgimento
gico da família é dirigido não apenas para a re- de um novo ciclo.
produção, e sim a sobrevivência dos sujeitos por Pode-se afirmar então que a família é um
meio dos cuidados ministrados ao longo da vida, grupo predestinado a desenvolver funções que
porém não é descartada a idéia de que a família envolvam os indivíduos, num modelo biopsicos-
tenha uma função reprodutiva. A função biológi- social, permitindo o crescimento e a facilitação
ca da família se resigna a assegurar a sobrevi- do processo de individualização, afirma Osório
vência dos novos seres, de cuidados requeridos (1996). As exigências da sociedade contempo-
como características da espécie humana. As rânea e as condições mínimas baseadas nas re-
funções psicossociais são norteadas a questões lações de posse e poder, norteadas por aspec-
de alimento afetivo, ou seja, a importância do tos culturais ao longo do século, diferenciam-se
afeto provida pelos pais ou sob rogados a esse de acordo com cada cultura. Visto que essas
cuidado. Sem esses cuidados o ser humano não relações de dominação e posse sempre existi-
desabrocha, não desenvolve seus aspectos que ram, na qual o papel do homem aparece como
interligam o afeto, o emocional, como contextua- o provedor, e o da mulher como reprodutora e
liza Osório (2002). cuidadora da casa e dos filhos.
A função social da família frente ao pro- Contudo, essa relação de dominação vem
cesso civilizatório resigna a transmissão das tomando novos rumos acerca dos diferentes ar-
pautas culturais dos agrupamentos étnicos, en- ranjos familiares de um mesmo contexto. Essas
tre outras funções como a preparação para o mudanças podem ser observadas na transfor-
exercício da cidadania, lembrando que a família mação do modelo nuclear (pai+mãe+filho) para
constitui a principal agência formadora do indi- a família descasada (mãe+filho ou pai+filho) em
víduo, de acordo com Osório (1996) compõe o seguida re-casada (pai+esposa/madrasta+filho;
primeiro dos muitos grupos que esses sujeitos mãe+esposo/padrasto+filhos) essa passagem
irão participar ao longo da vida. Dessa forma a de um modelo a outro de família determina aos
família será o primeiro grupo que terá contato indivíduos que pertencem a novos ajustamen-
ao nascer e que servirá de base para tornar-se tos às alterações de relacionamento, papéis e
homem ou mulher contribuindo para a produção estrutura familiar e esse processo de mudança
de sua subjetividade enfocando na construção é caracterizado na maioria das vezes como um
de sua identidade. É esse grupo que fornecerá momento de crise.
a esses indivíduos os suprimentos necessários De acordo com Osório (2002) a família
em aspectos de sobrevivência biológica, psico- organiza sua história num longo processo de
na estrutura familiar (Fleck; Wagner, 2003). condições de uma vida independente ou ao sa-
De acordo com essas autoras, fica evi- írem da casa dos pais por motivo de casamento
dente que os novos arranjos familiares exigem ou em função de trabalho, retornam. Muitas ve-
uma nova organização na questão dos papéis e zes os que separam retornam, com seus filhos,
divisão de tarefas, a organização das finanças aumentando o número de pessoas na casa e
e é na convivência familiar que se cria o espa- ampliando a família, como propõe Osório (2009).
ço para discutir e redimensionar esses padrões. Desse modo, percebemos o movimen-
Portanto, de acordo com Fleck e Wagner (2003) to familiar em suas complexidades e heteroge-
parece fundamental essa reavaliação desses neidade, podendo assim refletir em torno dessa
conceitos, fazendo uma ampliação no canal de família e não apenas de uma família estática e
comunicação das famílias, principalmente no fechada. Entretanto, as conversações em famí-
que diz respeito às mudanças nas atribuições lia proporcionaram inventar a vida privada acar-
delegadas socialmente como papéis para ho- retada de sentimentos individualizados, caracte-
mens e mulheres. rizados pela transmissão de tradições e valores.
Diante os fatos, cada família organiza sua his-
A forma de organização da família é um ele- tória para construir significados e experiências
mento relevante no modo como ela conduz dentro dos limites da sua cultura, como contex-
o processo de socialização dos imaturos, tualiza Szymanski (2005).
transmitindo-lhes valores, normas e mode- Ainda referindo-se ao mesmo autor as
los de conduta e orientando-os no sentido
tendências globais refletem significativas mu-
de tornarem-se sujeitos de direitos e deveres
no universo doméstico e no domínio público. danças no contexto familiar, a exemplo disso,
(Romanelli, 2000, p. 73) percebemos que as famílias tendem a serem
menores, vistos que as famílias sempre foram
Diante desse enfoque, renasce uma fa- mais numerosas, a disponibilizar menos mobili-
mília do futuro, na qual a sociedade evolui para dade para as crianças, as famílias ficam menos
o surgimento de novas idéias, novas vivências, tempo juntas, ou seja, houve um aumento nos
favorável a diferentes estruturas familiares e aos membros das famílias que passaram a trabalhar.
novos arranjos que ocorrem na família contem- Perante os fatos as crianças passam mais tem-
porânea. De acordo com o pensamento de Osó- po em creches, nas escolas, diminuindo o conta-
rio (2009) os meios de comunicação em geral, to entre adultos e crianças e assim ocorre maior
juntamente com o governo e outros órgãos não interação com grupos de amigos do que com a
governamentais como igreja entre outros, estão própria família. A família tende a ser menos es-
voltados a um processo de prevenção para a tável socialmente, esse evento é percebido atra-
família nessa última década, em mudanças, re- vés do declínio das uniões formais, junto com
cuados atentamente a estudos sobre esse perfil os divórcios como também o aumento de novas
familiar, os desejos e as necessidades dessas uniões.
famílias. Estão preocupados em saber quem são E consonância com o autor supracitado,
esses homens e essas mulheres e seus com- a diversidade faz com que haja mudança no foco
portamentos em diversas etapas da vida, sendo da estrutura familiar nuclear como modelo de or-
preciso lembrar que para se obter uma compre- ganização familiar, passando a ser considerada
ensão precisa é valido considerar as etapas do como novas demandas em relação à convivên-
ciclo de vida que está passando cada família. cia entre as pessoas na família e sua relação
Hoje em dia para cada classe social se com a comunidade e com a sociedade. Diante
tem uma demanda, exemplo disso são as famí- de todas essas proposições teóricas sobre famí-
lias de classe média que estão priorizando cada lia, ela se destaca como rede de apoio e solida-
vez mais a educação dos filhos, o plano de saú- riedade perante a sociedade moderna.
de, obtendo-se cada vez mais as reduções do
número de filhos, além de mudanças que atin- Redes de Apoio e a Família
gem o gênero feminino. É de grande importância
estar atentos enquanto profissionais da área das De acordo com Romanelli (2001) o grupo
ciências sociais, sobre essa geração contempo- familiar é o primeiro grupo que o indivíduo tem
rânea, os filhos de hoje tendem a ficarem mais ao iniciar a vida, ensinando questões de papéis,
tempo na casa de seus pais, mesmo tendo eles do tornar-se pessoa para o mundo, tendo por
base para sua formação e socialização realiza- visando a capacidade de ajustamento de uma
das através de valores culturais, concepção de crise. (SLUZKI, 1997).
mundo, maneira de se portar diante das dificul- De acordo com Sluzki (1997) são ca-
dades entre outras constituições que depositara racterísticas estruturais das redes as funções
a família como referência para os indivíduos em de vínculos e dos atributos de cada vínculo, ou
suas formações tanto pessoais como sociais. Os seja, o tamanho-número de pessoas que com-
valores absorvidos pelos sujeitos são tomados põem a rede; densidade - conexão entre pes-
como culturais, favorecendo a formação de sua soas (que se conhece, se encontra e troca in-
identidade grupal que podem vir a ser de poder formações) composição – se a rede é composta
e saber, na qual a convivência com todos ser- por familiares, amigos, conhecidos ou se é mais
virá para a construção da subjetividade desses heterogênea, dispersão – refere-se à distância
sujeitos. geográfica, a facilidade, homogeneidade/hetero-
O mundo familiar apresenta-se numa di- geneidade – todo tipo de funções a respeito das
versidade de formas e organizações, destaca- diferenças sócio culturais, de idade, de sexo, de
dos a crenças, valores e práticas que em con- cultura e de nível socioeconômico dos membros.
sonância com o autor supracitado é ampliada As funções da rede são bem claras, visando os
a vivência moderna. Contudo, a família aborda aspectos predominantes de intercâmbio inter-
uma perspectiva de várias configurações tan- pessoal sendo: a companhia social - estar jun-
to no espaço cultural como nos grupos sociais, to, conversar, apoio emocional - compreensão,
tornando-se um espaço privilegiado onde apren- apoio, guia cognitiva e conselho – expectativas,
demos a ser e a conviver. modelos e papéis, regulação social – reafirma-
Szymanski (2005) considera a família ção de responsabilidade e papéis, ajuda material
enquanto mediadora das relações entre sujeitos e de serviços e acesso a novos contatos. Pode-
e agrupamento, num plano de vida fundamenta- -se considerar que existem diversos aspectos do
do na solidariedade, gerado por formatos comu- relacionamento da rede entrelaçando, com suas
nitários, na qual se pode dizer que essa família é características, produzindo maior ou menor pos-
uma espécie de associação de pessoas que se sibilidade de apoio.
ajuntam por características incomuns ou não, e Já para Feijó (2006), as funções das re-
que escolhem conviver por razões efetivas assu- des são mencionadas por meio das relações dos
mindo compromissos de cuidados mútuos. Se- indivíduos para com elas. Algumas redes são
guindo o pensamento do autor acima, articula-se voltadas aos cuidados pessoais, incentivando
que com as novas configurações familiares, se que essas pessoas se cuidem ao ponto de irem
faz necessário mudar o foco da estrutura vigente procurar um médico. Outras redes incentivam o
de família nuclear, para que dessa forma sejam crescimento profissional, de forma geral. Dessa
pensadas novas questões referentes à convi- forma, as redes acabam por exercer várias fun-
vência de pessoas dentro de uma família, sua ções.
relação com a comunidade e com a sociedade. As temáticas das redes sociais correla-
Contudo, ao tentar compreender essa cionam a varias ideias, juntamente a diversas
família é necessário entender as redes sociais, práticas, considerada por abordagem socioedu-
como forma de associação dessas pessoas que cativa enquanto família, definindo a função de
se identificam e compartilham de problemas rede social como desenvolvimento e transforma-
semelhantes, como contextualiza Szymanski ção de cada um dos seus membros. As conse-
(2005). Os modelos da rede social são emba- qüências do fortalecimento comuns das redes
sados em contextos culturais e subculturais, caracterizam o desenvolvimento da capacidade
na qual estamos imersos aos contextos históri- autoreflexiva, implicada em modificações em
cos, políticos, econômicos, religiosos, de meio seu meio social. Dessa maneira, o processo ten-
ambiente, de essência e de serviços públicos. de a aperfeiçoar as relações sociais viabilizando
Dessa forma, a rede social pessoal é explicada a construção coletiva na ação de cada indivíduo
através das relações individuais. Essa rede con- de acordo com o seu contexto social, propõe
tribui para seu próprio reconhecimento como in- Feijó (2006).
divíduo na construção de sua autoimagem, iden- Sluzki (1997) articula que a rede social
tidade, bem estar, competência e promoção que pessoal ou a rede de pessoas, acaba sendo
favoreçam os hábitos de cuidados de saúde, caracterizada como um conjunto de seres com
quem interatuamos de maneira regular, com porânea, deve-se levar em consideração o mo-
quem se conversa, com quem altera sinais que delo nuclear como hegemônico, que tem papéis
verbalizam e que nos tornam autênticos. Rela- claramente definidos e estabelecidos em uma
ta que as relações dos sujeitos pensadas como estrutura familiar, modelo este que deu origem
relevantes contribuem para o seu reconheci- aos outros vigentes.
mento pessoal, visto que as relações eram de- Dessa forma, é necessário re-valorizar
terminadas por seus familiares, sendo que hoje a família diante do novo ciclo e como propõe
se reconsidera toda e qualquer medida em que Silva et. al (2004), faz-se necessário a criação
outras pessoas podem ser muito significativas e de órgãos que encarem a família como o todo
proeminentes ao fato de serem parentes. fundamental, na qual os indivíduos se formam
De acordo com Giddens (1991), os re- e produzem a sua condição de existência. É im-
sultados das redes macros sociais da sociedade portante olhá-la no seu momento, enquanto ins-
moderna juntamente com as perdas de signifi- tituição, que permite a vinculação dos indivíduos,
cados dos contextos a esses indivíduos estaria a criação dos padrões sociais e culturais e o de-
produzindo sensações de desamparo da rede. senvolvimento da autogestão dos seus compo-
Isso seria explicado por meio do esgotamento nentes. Esses fatores decorrem de um processo
das relações afetivas entre os indivíduos, con- evolutivo da história, na qual os profissionais de
traposta ao plano político, do enfraquecimento Psicologia introduziram um novo olhar para co-
da cidadania. munidade e o social, originando uma Psicologia
Perante a atualidade, percebe-se que há Social Comunitária.
uma aproximação dos efeitos prejudiciais para a Ao atentarmos para a atual questão da
saúde da população devido o enfraquecimento configuração familiar constatamos estar diante
das redes, diante as estruturas sociais de países de novos moldes, para uma família antes nuclear
subdesenvolvidos, exemplo disso é o desempre- que hoje se sustenta de muitas outras versões,
go entre outros fatores, que expõem cada vez com novos arranjos de papéis familiares e em
mais informações de pessoas em situações de outros contextos socioeconômicos, que se apre-
risco. Diante de tal concepção, evidencia-se a senta necessitando de políticas e programas em
compreensão de saúde direcionada como resul- consonância com as mudanças no olhar para
tados de entrecruzamento de fatores sociais e essa família, que deve ser re-pensada enquanto
emocionais, devido à problemática econômica, convivência, relação intra-familiar e na comuni-
que reflete por vezes as ações de promoção a dade, como propôs Szymansky (2005).
saúde cada vez mais incipientes diante as com- Osório (2002) destaca a importância de
plexidades de muitos fatores, como articula Gi- se entender o ciclo vital da família, pois o esse
ddens (1991). Diante a essas articulações as ciclo se faz dinâmico, levando a pensar sobre
redes sociais contribuem oferecendo sentido a novas estruturas familiares e dessa maneira
vida de seus integrantes potencializando e orga- obter-se uma reflexão sobre as famílias recons-
nizando as identidades por meio das ações dos truídas, pois elas não estão fora do ciclo, ao con-
outros, e tendo como conseqüência as experiên- trário, é um novo ciclo que se inicia com novos
cias através de cuidados do viver. membros.
Mediante essas contextualizações faz-
CONSIDERAÇÕES FINAIS -se importante analisar como os profissionais
das políticas públicas trabalham com essas fa-
Com base no que foi apresentado no ar- mílias, direcionando a atenção para o trabalho
tigo sobre o tema da nova configuração familiar do psicólogo, com essa nova estrutura familiar,
e suas várias estruturas, destacamos que não reestabelecendo a importância e poder para
existe família certa ou errada, o que existe são essa estrutura, sob a orientação e acompanha-
famílias, diferentes em seus papéis e contextos mento dos programas e órgãos sociais compe-
econômicos histórico-sociais. O profissional in- tentes para fornecer apoio a essa família. Diante
serido nas políticas públicas precisa trabalhar de tais acontecimentos, essa família tornou-se
com esses novos arranjos familiares, de acordo organizadora de sua própria história na constru-
com o contexto de cada indivíduo e o meio que ção e definição de papéis vividos dentro de uma
está inserido. diversidade cultural.
Antes de compreender a família contem- Portanto, destacamos neste estudo a im-
portância de compreender essa família na con- contemporânea em debate. São Paulo: Cortez,
temporaneidade, pois ela se encontra em mo- 2000.
vimento, aleatório de um único conceito muito
menos de definição, que ao olhar das políticas FEIJÓ, M. R. Família e rede social. In:
públicas precisa ser repensada como algo que Cereveny, C. M. O. (Org.). Família e. São
vá ampliar a qualidade de vida dos indivíduos, Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.
propiciando o desenvolvimento individual e gru-
pal das famílias e como dever principal do Esta- FLECK, A. C.; WAGNER, A. A mulher como a
do e das políticas públicas, garantir os direitos principal provedora do sustento econômico
dos cidadãos, aos quais são negados e omitidos. familiar. Psicologia em Estudo, v. 8, n. esp. p.
O profissional pautado nas políticas públicas se 31-38, 2003.
propõe a acrescentar na vida desses sujeitos o
protagonismo, permitindo que esses tenham au- FREITAS, H. C. Psicologia social comunitária:
tonomia de sua própria história, como sujeitos da solidariedade á autonomia. Petrópolis: Vozes,
de direitos e deveres. 2007.
VASCONCELOS, E. M. Desinstitucionalização
e interdisciplinaridade em saúde mental. São
Paulo: Cortez, 1985.