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n°1 | ano 01| Julho | 2009

Governo do Estado do Ceará |Secretaria do Desenvolvimento Agrário


CEARÁ

Agricultura Familiar
O desenvolvimento passa por aqui
Projeto São José | Cadastro Agropecuário | Crédito Fundiário | Regularização Fundiária |
Plano Safra | Agricultura Orgânica | Programa de Peixamento |
Programa de Cisternas | Programa Territórios da Cidadania
Ensaio

Cid Ferreira Gomes


Governador do Estado do Ceará
Camilo Sobreira de Santana
Secretário do Desenvolvimento Agrário
Antônio Rodrigues Amorim
Secretário Adjunto da SDA
Wilson Vasconcelos Brandão
Secretário Executivo da SDA
José Maria Pimenta
Presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão do Ceará (Ematerce)
Edílson de Castro
Presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Estado (Adagri)
Francisco Bessa
Superintendente do Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace)
Reginaldo Moreira
Presidente da Central Abastecimento do Ceará (Ceasa)
Marcelo Pinheiro
Presidente do Instituto Agropolos do Ceará

Coordenação Editorial - Celso Oliveira


Textos – Cláudia Albuquerque, Natercia Rocha, Mikaela Feitosa
Fotografia – Celso Oliveira, Davi Pinheiro, Fábio Lima
Projeto Gráfico – Ponto2design
Arte final, digitalização e tratamento de imagens – LocalFoto
Jornalistas Responsáveis - Cláudia Albuquerque, Natercia Rocha (registro n.39996-SP)

Contatos: Assessoria de Comunicação e Marketing da Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará.


(85) 3101.7631 / 3101.8058. www.sda.ce.gov.br , nossaterra@sda.ce.gov.br

Tiragem 5 mil exemplares / Impressão – Expressão Gráfica

Julho de 2009
CEARÁ

Apresentamos o primeiro número da revista “Nossa Terra - Ceará”, canal de


comunicação para mostrar a força da Agricultura Familiar em nosso Estado. A
ideia é compartilhar as experiências reais do desenvolvimento no campo,
melhorias e desafios do modo de vida do nosso sertanejo, bravo povo há tanto
tempo castigado pelo descaso e pelo esquecimento.
Com a criação da Secretaria do Desenvolvimento Agrário, em 2007, o Governo do
Estado do Ceará demonstrou especial interesse em valorizar esse importante
segmento da população. Agora, trabalhadores e trabalhadoras rurais dispõem de
um espaço institucional inteiramente dedicado aos seus interesses.
Inspirados pela coragem e determinação com que a gente do campo enfrenta
adversidades, trabalhamos com uma visão renovada do desenvolvimento rural,
com participação social e a busca da universalização dos direitos fundamentais,
considerando sempre a abordagem territorial e o caráter intersetorial do
desenvolvimento.
Nesta primeira edição, mostramos exemplos de pessoas e comunidades de
agricultores que vêm enfrentando desafios, que conquistaram o direito à terra e ao
trabalho digno e que hoje dispõem de renda que lhes garante melhores condições
de vida e, mais que isso, cidadania.

Secretaria do Desenvolvimento Agrário


Sumário

Projeto São José


A vida melhora na terra do caju - 06

Cor e sabor das frutas da serra - 09

Pingo d´Água: o verde que brota do Sertão - 11

No embalo das redes do Sítio Mocotó - 13

Regularização Fundiária
Um marco na história do Ceará - 16

Crédito Fundiário
Acesso à terra para 2.317 famílias no Ceará - 18
Jovens abraçam vida no campo - 20
Construindo sonhos - 22
A modernidade da tradição - 25

Defesa Agropecuária
Pela 1ª vez Ceará sedia Circuito Pecuário Nordeste - 26

Banco do Nordeste
Agroamigo faz quatro anos de atuação - 30

Agricultura Orgânica
Saúde na mesa do Interior à Capital - 32
Programa de Peixamento
Se cai na rede é peixe - 36

Programa Leite Fome Zero


O leite que transforma vidas - 38

Plano Safra
Plano Safra 2009: Mais recursos para Agricultura Familiar - 42

Agricultura Familiar
Feceaf: mais de 100 mil pessoas em quatro dias de evento - 45

Territórios da Cidadania
Territórios para o desenvolvimento - 49

Programa de Cisternas
Cisternas garantem acesso à água e facilitam

convívio com o semiárido - 57


Projeto São José

A vida melhora
na terra do caju
Associação Comunitária de Barreiras

Unidade de beneficiamento de castanha, da Associação Comunitária de Barreira, no interior do Ceará, atendida pelo Projeto São José.

Somente acompanhando de perto o trabalho que envolve a preparação das


deliciosas e tradicionais castanhas de caju produzidas no município de Barreira,
no interior do Ceará, para saber o porquê de sua boa fama e forma.

06 Nossa Terra - Ceará


Quando a dupla tem prática, um corta a castanha e outro retira a amêndoa. Com agilidade
impressionante, eles chegam a descascar até 80 quilos por dia.

Tudo lá é feito com capricho. Até o embora pra outro município, meus própria comunidade. Temos, agora, a
maquinário, bem zelado pelos amigos tirando documentos para ir cultura do processamento da castanha.
funcionários da sede da Associação embora para São Paulo, Manaus, Jovens, de 18, 20 anos, terminam os
Comunitária de Barreira, não substituiu Brasília. Um dia, deu uma vontade de estudos e vão direto trabalhar nas
a conferência manual de tamanho, cor e implantar uma pequena fábrica de fábricas, não tem mais vergonha de ser
possíveis defeitos que garantem a processamento de castanha de caju”. cortador de castanha. Atualmente,
qualidade da castanha. Outra etapa Resumindo a história, hoje, o agricultor temos pessoas que estão voltando do
interessante do beneficiamento é o Peixoto, que foi buscar no Governo do sul para trabalhar nas minifábricas”,
método de corte da castanha para Ceará, através da Secretaria do comemora o ex-presidente da
retirada da amêndoa. Duplas de Desenvolvimento Agrário, recursos do Associação.
profissionais realizam uma espécie de Projeto São José para concretizar seus Titular da Coordenadoria de
balé sincronizado, em equipamentos planos, virou prefeito da cidade. E, Programas e Projetos Especiais, da
rústicos e ágeis, alternando pés e mãos. pelas redondezas, famílias que SDA, Josias Farias Neto, comemora o
Mas o que chama atenção mesmo na aprenderam a valorizar o que têm em sucesso de Barreiras e, juntamente com
pequena e pacata cidade de Barreira, abundância no quintal de suas casas, já sua equipe, já trabalha a renovação do
distante cerca de 90km de Fortaleza, é somam, entre si, mais de 50 minifábri- Projeto São José III.
a história de luta de um agricultor de cas de beneficiamento de castanhas, “A proposta inicial concentra-se em
coragem chamado, Antonio Peixoto que produzem cerca de 10 tonela- agricultores familiares e busca sinergias
Saldanha, que, ainda jovem, no final da das/dia e geram mais de mil empregos com Políticas Públicas congêneres nas
década de 80, acreditou que podia diretos. três esferas de Governo”, comenta o
mudar o rumo da história de seu povo e “Nosso processamento de castanha, coordenador do projeto, explicando
lutou para conquistar sonhos. “Eu hoje, em Barreira, fica em torno de que “dentro deste contexto, quatro
ficava olhando aquele tanto de quatro mil toneladas/ano e o produtor vertentes estão sendo postas: universali-
produção de castanha, tudo indo passou a ganhar e a ter emprego na zação no abastecimento de água,

Nossa Terra - Ceará 07


Projeto São José

10 toneladas/dia
Vanair Peixoto Saldanha
Presidente em exercício da
Associação Comunitária de Barreira

“Recentemente, com o Projeto São José,

de produção conseguimos reformar a Associação.


Antigamente, aqui era cheio de ‘quartim’, só
cubículo. Conseguindo economizar aqui e ali,
ainda conseguimos fazer outro galpão. As
estufas, a máquina de embalagem, o despelicu-
lador, muita coisa daqui foi conquistada com
intensificação de políticas de apoio a pela própria organização, têm articulação parceria. Quando começamos, há mais de 20
anos, Barreira tinha quase nada. Hoje, a criação
núcleos ou arranjos produtivos emergen- com várias instituições governamentais e dessa entidade vem gerando muitas outras.
tes - na perspectiva de economia solidária, não governamentais”. Temos cerca de 50 unidades caseiras de famílias,
focalização no conjunto da agricultura minifábricas que trabalham sua própria
Enquanto isso, o São José Agrário castanha, e 90% deles aprenderam manusear
familiar, nas etnias quilombolas e encerrou o ano de 2008 com 121 máquinas no PA Rural. Esse lugar aqui é de
indígenas, geração, gênero e meio ensino. Muita gente vem aprender, inclusive de
subprojetos atendidos, dos 180 previstos, outros estados, e nós ensinamos, porque quando
ambiente, como uma questão transversal. somando, até o momento, recursos de, melhora pra um, fica bom pra todos.”
Saindo de subprojetos pontuais, focando a aproximadamente, R$ 9 milhões. A
otimização dos mesmos com o fortaleci- previsão para este ano é atender os
mento das cadeias produtivas, atuando em demais. “São projetos destinados a
gargaloseatraindoparceiros”. assentamentos estaduais e federais, por
Josias Neto comenta que, em 2008, isso nós mapeamos as áreas socialmente
foram liberados recursos referentes a mais organizadas”, pontua Josias Neto,
404 subprojetos, com aplicação de R$ acrescentando que houve também um
32,3 milhões. “Empenhamos R$ 10,3 mapeamento das comunidades
milhões para ações de abastecimento quilombolas e indígenas, nos 40
de água e saneamento, em comunida- municípios de menor IDS, para
des com subprojetos apresentados ao identificar prioridades a serem atendidas
São José, concentrados nos 40 pelo São José Inclusão Social.
municípios de menor Índice de
Antonio Peixoto Saldanha
Desenvolvimento Social (IDS)”. Prefeito de Barreira e
ex-presidente da Associação Comunitária
Já o São José Produtivo vem avançando SERVIÇO
na questão da geração de emprego e Mais informações com Vanair “Com apoio de Sebrae, do Projeto São José, na
SDA, e de outros parceiros, trabalhamos o
renda. “Com muita responsabilidade, Peixoto Saldanha, atual Presidente melhoramento de pequenas fábricas e de nossa
estamos desenvolvendo o financiamento da Associação Comunitária de estrutura. Agora, temos mais espaço, caldeira,
Barreira, pelo telefone (85) equipamentos importantes e, com isso,
de subprojetos produtivos, dando passamos a ter presença mais forte no mercado
preferência, principalmente, a comuni- 3331.1735; ou com Ivani Gabriel, consumidor do Ceará. Tivemos tempos bons com
Relações Públicas, no (85) 3331.1216 exportação, mas, hoje, com essa crise, tem sido
dades mais organizadas, que trabalham mais viável ampliar vendas para São Paulo,
ou 3331.1171. Sede do PA Rural,
com redes de Associações, com acesso Minas Gerais, Bahia e outros. Barreira é
Avenida Francisco Torres da Gama, conhecida como ‘Terra do caju’, lugar onde a
ao mercado, mesmo diante das circuns- s/n, centro, Barreira (CE). amêndoa é de ótima qualidade. Nosso produto
tâncias adversas. São comunidades que, tem sido bem aceito dentro e fora do Brasil”.

08 Nossa Terra - Ceará


Cor e sabor
das frutas da serra
Distrito de Umarizeiras

Na Sede da Associação Comunitária dos Pequenos Produtores Rurais da Região de Umarizeiras, na serra de Maranguape, com apoio
do Projeto São José, toda produção de frutas está sendo transformada em polpa.

O vermelho vivo e o sabor da polpa de acerola, produzida na Associação


Comunitária dos Pequenos Produtores Rurais da Região de Umarizeiras, distrito
de Maranguape, Região Metropolitana de Fortaleza, vem chamando atenção de
grandes redes de supermercados da Capital. De acerola e de frutas tropicais como,
abacaxi, cajá, goiaba, caju, graviola, manga, seriguela e outras variedades, cultivadas
na Serra, e processadas por gente da comunidade.
O presidente da Associação, Francisco Eliziário Maia Cordeiro, disse que, cerca de
40 produtores, que vivem da agricultura familiar, estão envolvidos no sucesso dessa
organização. “Tivemos bom êxito em 2008 e, esse ano, o Projeto continua. Agora
precisamos de uma câmera fria e uma envasadeira automática, que faz até mil
embalagens/hora. Temos condições de fazer até 2.400 quilos de polpa/dia, mas
nosso espaço pra congelar é só de 500 quilos. Tem os períodos de escassez, é
importante ter onde armazenar”.
Eliziário revelou o segredinho rubro da polpa de acerola de Umarizeiras. “Para ter
uma qualidade vermelhinha, ela tem que estar bem madura. Tão madura que só Serviço
pode ser colhida perto da fábrica, para ser processada no mesmo instante. Como Mais informações pelo número (85)
tudo, tem que ter o ponto”. 8888.9668, com Eliziário

Nossa Terra - Ceará 09


Projeto São José

“Por longos anos trabalhei só moendo cana-de-açúcar, farinha de


mandioca, todo tipo de cultura eu topei. E, quando chegou o Projeto
Pingo D´Água, lhe digo que não foi fácil mudar, mente é coisa difícil.
Mas mudei de uma maneira, que plantar milho e feijão nunca mais. Era
muito sacrifício. Agora é diferente, toda tempo a gente tá colhendo
alguma coisa”.
Seu Paulo Tavares
Produtor da Várzea Grande, em Quixeramobim
Pingo d’Água: o verde
que brota do Sertão
Quixeramobim

A história do Projeto Pingo D’Água se passa lá no Vale do Riacho Forquilha, em


Quixeramobim, onde a realidade de quase duas mil pessoas foi transformada da
seca para fartura.

Antigamente, os homens da terra se repolho, cheiro-verde e outros, é um


dedicavam à agricultura de sequeiro: grande modelo de agricultura familiar.
milho, feijão, mandioca, arroz, depois Nosso grupo sempre teve preocupação
colocavam joelho no chão, olhos no em Fortalecer parcerias, como nós, eles
céu, e pediam a Deus água para fazer acreditam nesse projeto”, ressalta
brotar aquele pouco. Se o inverno fosse Deusimar.
bom, muito bem, racionando com O agricultor elogia, também, a força e
sacrifício, quase dava para esperar a união dos produtores que, a cada dia,
safra no ano seguinte. Mas, se as chuvas veem florescer melhor suas hortas.
não caíssem, a situação era cruel. “Aqui tem gente de muita qualidade, “Esse projeto é muito interessante e a
Hoje, a realidade é outra. Desde pessoas comprometidas com o Secretaria do Desenvolvimento Agrário vem
quando o poder público local, uniu-se à incrementando os trabalhos com incentivos no
trabalho. Isso é determinante para que sistema de irrigação, cultivo protegido, além da
universidades cearenses e francesas, qualquer projeto dê certo”, diz assistência técnica da Ematerce”
com o objetivo de aplicar experiências Deusimar. José Maria Pimenta
bem-sucedidas em ex-colônias Presidente da Ematerce
francesas da África, o assunto é
desenvolvimento.
Deusimar Cândido de Oliveira,
presidente da Associação dos
Produtores do Vale do São Bento,
conta, com alegria, o envolvimento,
cada vez mais enraizado, dos cerca de
50 produtores da região. “Plantamos
tomate, pimentão, maracujá, melão,
batata-doce, pimenta-de-cheiro,

“Temos o melhor acompanhamento técnico e


queremos seguir somente com adubação
orgânica, biofertilizante, cultivo protegido
através de telado. Conseguimos reduzir 70% da
adubação química e o objetivo é conseguir tirar
totalmente o uso de adubos químicos. Nossa
produção é de alta qualidade”.

Deusimar Cândido de Oliveira


Presidente da Associação dos Produtores do
Vale do São Bento

Ceará - Nossa Terra 11


Projeto São José

Os agricultores do Projeto Pingo D´Água, em Quixeramobim,


produziram 660 mil quilos de tomate em 2008.

“Antes minha mulher


só conseguia produzir coentro.
Ela saía daqui toda terça,
comprava na Várzea do Meio
R$ 2,00 de coentro, e fazia 30
mói de cheiro-verde. Levava
para feira e ganhava R$ 1,00.
Hoje, fazendo mil mói por dia,
dá R$ 100. Por semana, dá R$
600, onde é que tem um ganho
desse por aqui?”

Elano Nogueira da Silva


Agricultor Maria do Socorro Fernandes de Oliveira, Antonio Elano Nogueira da Silva,
Salete Tavares de Sousa, Leudiana Fernandes Andrade - Vale do Forquilha – São Bento II - Quixeramobim.

O cheirinho de tempero e terra trabalho. Tem feito a família trabalhar semana, na Feira de Agricultura
molhada fica espalhado pelo ar. E é só junto”, diz Socorro. Familiar, em Quixeramobim. Ela
olhar para os mais de 30 canteiros de O marido, Elano Nogueira, que dá recebe o cheiro-verde, faz entregas,
coentro, cebolinha e alface, cultivados assistência à plantação de hortaliças, recebe pagamentos, faz novos pedidos
com esmero, por Socorro, Salete e também deixa brotar a satisfação com e liga para a mãe”, diz Elano.
Leudiana, para compreender a o empreendimento comandado pela E faz gosto mesmo. Hoje, no pequeno
espetacular transformação que vem força feminina. A filha já está na terreno, cerca de 900 mói (molhos) de
acontecendo no Vale Forquilha, nos faculdade, mas é ela que, da cidade, coentro e cebolinha seguem para a
arredores de Quixeramobim. “Eu era garante apoio aos pais que cuidam da cidade com destino certo. E, se a
professora, e adorava. Mas nunca mais produção no campo. “Minha menina produção fosse maior, a venda também
deixo isso aqui, é uma alegria esse cuida dos produtos expostos, toda estava assegurada.

Seu Francisco e seu Raimundo,


ambos Alves de Andrade, são
dois, de 12 irmãos nascidos no
lugarejo chamado Vale do Meio,
nos arredores do Vale do São
Bento, em Quixeramobim. Eles
relembraram dificuldades do
passado e comemoraram
transformações das gerações
atuais. “Na época de pai, num
tinha luz, água era só quando
chovia e o sequeiro só dava de
ano em ano. Agora não, de
quatro em quatro mês, se
conseguir plantar, tem o que
Raimundo Alves de Andrade e Francisco Eudo Alves de Andrade - agricultores colher”.

12 Nossa Terra - Ceará


Na sede da Associação Comunitária do Sítio Mocotó, moradores se reúnem para confeccionar as redes que conquistaram fama internacional

No embalo das redes


do Sítio Mocotó - Várzea Alegre
Essa história poderia contar a vida de sertanejas guerreiras, que vêm
transformando a realidade da Comunidade do Sítio Mocotó, lá no município
de Várzea Alegre, com disposição para trabalhar belíssimas redes
artesanais. Ou narrar saga de mais uma família do Sertão do Ceará que, com
10 crianças pequenas para criar, a mãe morre precocemente, de parto, ainda
na década de 70, época onde energia em sítio nem se cogitava.
Seria suficientemente grandioso tendo somente esses dois argumentos, mas tem
mais. Entre os irmãos que rápido ficavam adolescentes, três das meninas evoluíam
diferente, e mostravam necessidades e talentos bem especiais. Francisca Miguel
Sobrinha, a pequena Cileide, relembra que foi observando, de longe, a habilidade
com agulha e linha da nova madrasta, que conseguiu aprender muitos pontos de
crochê e ensinar às amigas, “embaixo dum pé de mangueira, com lua”, o que, mais
tarde, evoluiriam para compor as bonitas varandas das redes de solasol. “Era
brincando, acho que tenho habilidade pra ensinar. Conseguia pegar o ritmo da
agulha olhando, sempre soube todo tipo de crochê, e repassava pras criança da
comunidade”, diz Cileide.

Nossa Terra - Ceará 13


Projeto São José

“A gente tem que acompanhar o


desenvolvimento, a globalização, porque, senão,
depois, fica que nem os Estados Unidos, tudo
aperreado com a crise em cima.”
Maria Miguel de Oliveira, a Rosinha,

Cileide Rosinha Ceilda

Hoje, ao lado da mangueira onde Várzea Alegre, Região do Cariri, com Desenvolvimento Agrário, do Sebrae e
alinhavavam o futuro, está construída a qualidade padronizada aqui na Banco do Nordeste, que foi erguida e
sede da Associação Comunitária do Associação. Mas precisamos ter venda transformada nossas vidas”. Rosinha
Sítio Mocotó. No salão grande, 10 certa”, alerta Ceilda. termina a frase chamando para o
máquinas industriais, que podem A mais falante das três pequenas- banquete com galinha à cabidela,
ajudar a produzir até 170 redes/mês, grandes artesãs, sem dúvida, é Maria preparado no antigo casarão onde tudo
trabalho que envolve até mil pessoas, Miguel de Oliveira, a Rosinha, que já começou.
de quatro comunidades próximas. viajou o Brasil inteiro, “e até para o
Francisca Reinaldo de Oliveira, a exterior” mostrando o artesanato de MAIS INFORMAÇÕES:
Ceilda, além de talentosa, mostra que qualidade produzido no Sítio Mocotó. Quem quiser comprar redes da
continua aguerrida por melhoras para Um retrato do bom humor espalhado Associação Comunitária do
a comunidade. “O Projeto São José pra entre as 43 famílias do lugar. “A gente
Sítio Mocotó, tratar pelo telefone
nós aqui foi tudo, é maravilhoso, nossa tem que acompanhar o
(88) 3541.1776, distante
vida é outra, temos ajuda de boas desenvolvimento, a globalização,
instituições. Mas queremos reivindicar 12 quilômetros, ou pelo celular,
porque, senão, depois, fica que nem os
agora comercialização. Temos, Estados Unidos, tudo aperreado com a (88) 9259.8498, que nem sempre
estoque de 170 redes, sem mercado crise em cima. Tem que ser esperto. funciona. Aliás, conseguir telefone
certo. Essas redes tão gerando Digo, com alegria, que foi com muito fixo é outra reivindicação antiga
emprego na Carrapateira, Lagoa Seca, esforço, e o apoio do Governo do dos moradores, que o Governo já
e nos bairros Riachinho e Varjota, em Estado, através da Secretaria do está providenciando.

14 Nossa Terra - Ceará


Ensaio
Regularização Fundiária

Um marco
na história agrária

Por ocasião do lançamento do Plano Safra em Fortaleza, o governador Cid


Gomes enfatizou a importância do convênio que foi firmado entre o Governo
Federal e o Governo do Estado, através do Incra e Idace, para a regularização
fundiária em 121 municípios cearenses.

16 Nossa Terra - Ceará


“A Regularização Fundiária
promove a inclusão social e o
resgate da cidadania”

Francisco Bessa
Superintendente do Idace

acesso aos agentes públicos de financia-


mento da produção agrícola, podendo
ampliar e variar sua produção, também
melhorando a qualidade e aumentando a
Municípios atendidos pelo Programa de Regularização Fundiária produtividade dos produtos cultivados.
Pequenos agricultores e agricultoras de
O acordo é um marco na história situação dos imóveis. Com a posse dos municípios da região do Cariri, como de
agrária do Ceará, visto que 70% dos títulos das terras, os agricultores têm Jati, Brejo Santo, Barro, Penaforte,
imóveis rurais do Estado não estão acesso a recursos financeiros e à Porteiras, além de Quixeramobim,
regularizados. “Essa ação conta com assistência técnica, “Um reflexo Lavras da Mangabeira e Crateús, já
um investimento de R$ 48 milhões e bastante positivo na qualidade de vida e tiveram acesso a agentes públicos de
atingirá mais de 190 mil pequenas na renda familiar do meio rural”, financiamento de produção, como o
propriedades, beneficiando cerca de destaca o secretário Camilo Santana. Banco do Nordeste e Banco do Brasil,
200 mil famílias”, disse o governador Emídio Alves, produtor de milho do além de assistência técnica especializada.
Cid Ferreira Gomes. município de Pentecoste, recebeu Para Francisco Bessa, Superintendente
A assinatura do convênio de simbolicamente das mãos do secretário do Instituto do Desenvolvimento
Regularização Fundiária está possibili- Camilo Santana o título de regulariza- Agrário do Ceará (Idace), “a regulari-
tando o levantamento, identificação, ção. A propriedade faz parte da zação fundiária, através do cadastro
georreferenciamento e caracterização primeira leva de 190 mil terrenos que georreferenciado, tendo como
da malha fundiária nas diversas regiões estão sendo regularizados. Na opinião produto final o título de propriedade,
do Ceará, para a implantação do do agricultor, o grande ganho obtido a se constitui num dos maiores
cadastro de imóveis rurais e a conse- partir do título de posse de terra é a programas de inclusão social, pelos
quente regularização fundiária. oportunidade de se inscrever em benefícios que traz aos agricultores e
Com isso, é possível conceder títulos de programas de financiamento ofertados agricultoras familiares, no que tange
propriedade rural para os produtores pelo Governo. ao acesso às políticas públicas e
que não os possuem, legalizando a Com isso, os pequenos agricultores têm resgate da cidadania”.

Nossa Terra - Ceará 17


Crédito Fundiário

Acesso à terra para


2.317 famílias no Ceará

O Programa Nacional de Crédito Fundiário beneficia famílias de pequenos


produtores rurais que não têm acesso a terra, facilitando aquisição de
propriedades comunitárias. É um programa que vem ganhando destaque,
principalmente, pelas transformações efetivas no aumento da qualidade de vida
das famílias beneficiadas.

18 Nossa Terra - Ceará


70 mil hectares
de terras adquiridas

“O Programa Nacional de
Crédito Fundiário possibilita
às famílias beneficiadas
acesso a outras políticas
públicas”

Adhemar Lopes de Almeida


Secretário de Reordenamento
Agrário do MDA

Financiamento com prazo de pagamen-


to de 14 a 17 anos, carência de dois anos
e juros de 2% a 5% ao ano. É o que a
linha de Combate à Pobreza Rural do
Programa Nacional de Crédito
Fundiário (PNCF) representa para as zação do Crédito Fundiário no Ceará. Crédito Fundiário tem permitido às
famílias de pequenos produtores rurais, famílias de agricultores rurais se fixarem na
“O programa permite ao trabalhador
que com isso desenvolvem condições terra. Isto revela que o objetivo de
acessar a terra através do financiamento
de adquirir a própria terra. Pagando combater a pobreza no campo está sendo
do Governo Federal, pelo Programa
em dia, o trabalhador ainda tem um alcançado, possibilitando às famílias
Nacional de Crédito Fundiário na linha
bônus de 40% sobre o valor das parcelas beneficiadas acesso a outras políticas
de Combate à Pobreza Rural. É um
e, quando a terra é adquirida, ficam públicas de incentivo à produção,
projeto alternativo e complementar ao
garantidos recursos para investimentos moradia, infraestrutura, educação e
Plano Nacional de Reforma Agrária”,
básicos de estruturação da propriedade. saúde”,afirmou.
completa Leuda.
Em 2008, foram beneficiadas no Ceará O melhor de tudo é que os benefícios
Apesar das dificuldades, a técnica está
372 famílias, em área de mais de 9 mil estão ao alcance de todos. “Basta o
animada: “O trabalhador escolhe a terra,
hectares. Em 2009, a meta é atender trabalhador querer. Inicialmente ele
os companheiros e o programa que quer,
cerca de 700 famílias, nos 181 municípi- decide a propriedade, depois a empresa
não há interferência externa. Isso é
os do Ceará, com exceção do Eusébio, parceira, Sindicato dos Trabalhadores,
importantíssimo, tanto pela transparên-
Maracanaú e Fortaleza, que pratica- assistência técnica e outros. Nos
cia quanto pela liberdade. Muitos deles
mente não possuem área rural. Até o municípios, há ONGs credenciadas e os
viram pais e avós arrendando terras de
primeiro semestre deste ano, o total de escritórios da Ematerce para mobilizar e
patrões para poderem trabalhar. Com
famílias beneficiadas no Estado atingiu capacitar esse trabalhador a formular a
esse programa, caso um proprietário
2.317 famílias, em área adquirida de proposta e encaminhar para o Núcleo de
resolva vender um pedaço do chão, os
quase 70 mil hectares. Apoio à Gestão. Quando há dificuldades
que já estão dentro conseguem comprar
“Mas esse não é um trabalho fácil. a terra. Daí em diante, a história muda e, lá, o trabalhador vem e nós orientamos,
Como em toda grande família, há quem era empregado vira dono do fazemos a articulação com todos os
diversidade de opiniões, conflitos, próprio negócio.” atores”, encerra Leuda Cândido.
estamos aprendendo juntos a melhorar
Quem também enfatiza a importância do
sempre”, comenta a engenheira- Serviço:
programa é Adhemar Lopes de Almeida,
agrônoma Maria Leuda Cândido, Mais informações pelo
Secretário de Reordenamento Agrário, do
supervisora do Núcleo de Apoio à www.creditofundiario.org.br ou
Ministério do Desenvolvimento Agrário
Gestão, responsável pela operacionali- (85) 3101.8051 ou (85) 3101.8052
(MDA). “O Programa Nacional de

Nossa Terra - Ceará 19


Crédito Fundiário

Jovens abraçam
vida no campo
Barbalha

CRÉDITO FUNDIÁRIO
O Assentamento Estrela tem
plantado 10 ha de Goiaba, 7 ha de
banana e 8 ha de caju de sequeiro.
São 10 famílias, morando em
sistema de Agrovilas, com casas
próximas umas das outras
facilitando o compartilhamento de
energia, telefone e outros. A
comunidade dispõe de 3 poços
profundos para fazer irrigação e
abastecer casas.
Agricultores experientes e jovens estudantes unidos pela valorização do trabalho no campo

“Meus amigos brincam dizendo que aprenderam nos bancos da escola. de roça aqui, outro acolá, só sequeiro.
saí da roça, mas a roça não saiu de “Essa é a primeira turma e tem sido Agora, com o apoio desses governante,
mim. Estudei na cidade, me formei e uma experiência fantástica, todos estão tem onde nóis trabaiá, e eu quero é que
voltei para cá. Aquele sonho de parabéns. Na minha época, não tive evolua mais daqui pra frente”, diz seu
americano, a ilusão da cidade grande, essa oportunidade, 90% do curso foi Ciço. E comemora. “Agora, inda tem
acabou. Todos esses jovens aqui são a teoria. Quem quisesse prática, tinha esse pessoal jovem, estudando, partindo
prova disso”. que ir para outras regiões do Estado. pra agricultura. É futuro bom pra eles e
A empolgação do tecnólogo, Antonio Agora eles só têm que estudar e voltar pra nóis também”.
Carlos dos Santos Ferreira, aagente para ajudar suas comunidades a
rural da Ematerce, que dá assistência crescer”, diz Antonio Carlos.
ao Assentamento Estrela, em E energia para trabalhar não falta.
Barbalha, na região do Cariri, é a Quem diz é seu Cícero Raimundo de
imagem verdadeira do que vem Melo, 60 anos, Presidente da
acontecendo pelo interior do Ceará. Associação dos Produtores de Fruta do
Cada vez mais, condições favoráveis, Distrito Estrela. O agricultor conta,
valorização e ações sincronizadas do com alegria, a expansão e melhoria da
Governo do Estado, têm incentivado a vida das 10 famílias beneficiadas com o
permanência de jovens, de todas as crédito fundiário.
cidades, no campo. No assentamento “Sou nascido e criado aqui na Estrela,
Estrela, cinco estagiários em fase de junto com meus companheiro, na
conclusão do Curso Técnico em batalha. Conseguimo terra, água,
Fruticultura, em Barbalha, praticam, implantamo as cultura, principalmente,
com agricultores experientes, o que da goiaba, antes, plantava um pedacim

20 Nossa Terra - Ceará


Crédito Fundiário

Construindo sonhos
Região Norte: Fazenda Atalho, em Groaíras e Forquilha

Trabalhadores da Fazenda Atalho, em Groaíras, construindo casas adquiridas pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário e Governo do Estado.

O lugar está ficando bonito, mas as dezenas de coqueiros destruídos por


queimadas ainda contrastam com a energia de crescimento e evolução que vem
se alinhando entre as 10 famílias que irão morar na Fazenda Atalho, município
de Groaíras, região norte do Ceará que, no final do ano passado, foi adquirida
pelo Programa Nacional do Crédito Fundiário.

22 Nossa Terra - Ceará


Aos poucos, o sonho desses
agricultores, que já foram peões, e hoje O Programa Nacional de Crédito Fundiário, do Ministério do
são donos da terra onde moram, vai se Desenvolvimento Agrário (MDA), implantado em parceria com Governos
tornando realidade, quase fazendo Estaduais e entidades ligadas à agricultura familiar, tem como meta
lembrar a antiga história da Terra viabilizar o acesso dos agricultores familiares à terra em áreas que não
podem ser desapropriadas para Reforma Agrária. Além de financiar a
Prometida. O lugar tem, em
compra de imóveis rurais, o Programa investe em infraestrutura básica e
abundância, o bem mais precioso: água. produtiva.
Nada menos que três rios: Groaíras,
Jacurutu e o perene Acaraú, cruzam a
propriedade de 82 hectares. Além
disso, os assentados que irão morar nas
casas que estão sendo construídas e
reformadas com benefícios do
financiamento, e contrapartida do
Governo do Estado, através da
Secretaria do Desenvolvimento Agrário
(SDA), também já adquiriram
equipamentos de irrigação,
implementos agrícolas, material de
construção, tudo guardadinho,
somente esperando hora de serem
usados. Tem, também, um trator
'aradando' os três hectares de terra onde
serão plantadas banana pacovan, e os
dois hectares de capineira para o gado,
que virá com o próximo financiamento.
“Fizemo uma reunião e tudim se
engajaro no serviço. Todo mundo tá
disposto a produzir dentro da terra.
Depois que terminar a implantação
desse projeto, vem o Pronaf A, para
adquirir gado, ovelha. É o começo de
um ciclo grande que a gente pretende
fazer aqui dentro”, diz, José Carneiro
do Nascimento, presidente da
Associação Comunitária dos
Assentados da Fazenda Atalho. Dona Maria, seu Raimundo, Sebastiana, Larissa, Wesley, Werles, Verlênio,
Isso não é tudo. A movimentação Gleiciane, Ivo e Maria do Livramento, fazem parte das famílias assentadas, no final
do ano passado, na Fazenda Rocha, em Forquilha, zona Norte do Ceará. Eles, que
positiva em torno da permanência do já passaram pela fase da construção da habitação, com recursos reembolsáveis do
homem no campo, também tem atraído Subprojeto de Aquisição de Terra (SAT) e da SDA, agora mostram, com satisfação,
curral, aprisco, cercas, estábulo, viabilizados com recursos não-reembolsáveis dos
jovens cada dia mais interessados em
Subprojetos de Investimentos Comunitários, os SICs.
incrementar esse setor. Dárcio Silveira

Nossa Terra - Ceará 23


Crédito Fundiário

91 famílias beneficiadas
Graciano, é tecnólogo em irrigação e, Agente. “Os assentados já pediram
atualmente, presta serviço à Ematerce, A assessora do Crédito Fundiário da orientação na questão do cultivo
como Agente de Assistência Técnica Região Norte, da Ematerce de Sobral, de frutas. Hoje, tudo que Groaíras
de Extensão Rural (Ater), no Maria Goretti de Freitas Ribeiro, consome, vem de outros
municípios. Quando a gente
assentamento da Fazenda Atalho. “O explicou que, esse projeto, tem como
conseguir produzir aqui, e
sistema de irrigação escolhido para cá é meta facilitar o acesso de agricultores abastecer a cidade, ficará
um dos mais caros e viáveis para terra. familiares à terra, em áreas que não valorizado o trabalho do agricultor,
Ele raciona a água diretamente para a podem ser desapropriadas para além de incrementar a circulação
da renda local.” Dácio Silveira Graciano
cultura, sem nenhum extravio. Os Reforma Agrária. “Elaboramos 51
Agente de Assistência Técnica de Extensão Rural
assentados já pediram orientação na Subprojetos de Investimentos (ATER)

questão do cultivo de frutas. Quando a Comunitários, que beneficiaram 91


famílias, em 10 assentamentos. Esse “Tem a questão do associativismo,
gente conseguir produzir aqui, e
cooperativismo, onde as famílias
abastecer a cidade, ficará valorizado o programa vem se desenvolvendo bem se unem para fazer trabalhos
trabalho do agricultor, e incrementada aqui na região Norte. Todos estamos coletivos para pagarem os imóveis.
Maria Goretti de Freitas Ribeiro
a circulação da renda local”, destacou o bem satisfeitos”, destacou Goretti. Assessora do Crédito Fundiário da Região Norte
Ematerce-Sobral

24 Nossa Terra - Ceará


A modernidade da tradição
Ponta da Serra - Crato

Lá no Assentamento da Comunidade no padrão de vida das famílias da cadastrados”, disse a gerente em


Malhada, a 13km de Crato, região do Malhada. “A comunidade tinha um exercício.
Cariri, os membros da Associação terreno que explorava em regime de Para José Acácio de Moraes Lima,
Comunitária Padre Frederico comodato. Quando venceu, passou-se a engenheiro-agrônomo da Ematerce,
trabalham direitinho. Cedo, moradores discutir a aquisição da terra, através do
outros dois fatores fundamentais na
se espraiam para limpar os seis hectares Crédito Fundiário. Elaboramos projeto
evolução na Comunidade Malhada são
de goiaba irrigada, cuidar das que contemplasse as atividades
bananeiras, do maracujá consorciado diversificadas que os trabalhadores a permanência dos jovens no campo e a
com amendoim, da mandioca de rurais já vinham desempenhando de facilidade de escoamento da produção.
sequeiro, da criação de ovinos, caprinos forma rudimentar. Taí, deu certo”, “Aqui eles trabalham com toda família
e gado leiteiro, das hortaliças, além, disse Elcileide Mendonça. envolvida e isso é muito interessante,
claro, do cultivo de milho e feijão, Tão certo, que, recentemente, até a porque tem jovem que não quer se
vendidos, ainda verdes, na famosa feira antiga Casa de Farinha, depois de mais engajar nesse tipo de atividade. Aqui,
quinzenal de Ponta da Serra. ce cem anos de funcionamento, pais, filhos, moças e rapazes fazem
É lá também onde está instalada a recebeu recursos do Projeto São José, parte desde o preparo da terra até as
miniusina de pasteurização de leite, de passou por reparos, ganhou uma versão vendas. Eles também têm o Rio Carás,
propriedade de 22 membros, da mais moderna, mantendo a estrutura perenizado pelo açude Tomaz
Associação dos Pequenos Produtores original, e conseguiu facilitar os
Osterne, do Crato, têm energia e estão
de Leite do Sítio Malhada; e a Casa do trabalhos nas farinhadas. “Durante o
localizados próximo a um grande
Mel, onde são feitos trabalhos ligados à ano, a comunidade produz, além da
apicultura, processando e distribuindo tapioca tradicional, beiju com centro consumidor, que é a Região do
rendimentos de forma compartilhada. amendoim, gergelim, carne de sol ou Cariri. Veja que, juntos, somente Crato,
De acordo com Maria Elcileide queijo coalho, e vendem em exposições Juazeiro e Barbalha, somam cerca de
Nogueira Mendonça, Extensionista e feiras distritais. Eles fazem, em média, 500 mil habitantes. Tudo que se produz
Social da Ematerce do Crato, vêm quatro farinhadas/ano, para garantir aqui, é fácil escoar, tanto faz ser inverno
acontecendo mudanças significativas beiju e tapioca para consumidores ou verão”, comemora Acácio Lima.

Nossa Terra - Ceará 25


Defesa Agropecuária

Pela 1ª vez Ceará sedia


Circuito Pecuário Nordeste

26 Nossa Terra - Ceará


O Circuito Pecuário Nordeste (CPNE), evento que reúne Estados do Pernambuco, Maranhão, Rio Grande do Norte, Piauí,
além, esse ano, da participação especial de representantes de Bahia, Sergipe e Tocantins, foi sediado, em março, pela primeira
vez, no Ceará. O sucesso do encontro fortaleceu a certeza de que, no Brasil inteiro, todas as esferas de poder estão unidas para
certificar o Nordeste como “Zona Livre de Febre Aftosa”.
Durante o encontro, as principais lideranças e autoridades locais, regionais e nacionais, ligadas ao setor, expuseram
experiências em registros antológicos e narrações históricas de líderes que fazem a história contemporânea na luta pela
erradicação da febre aftosa no nosso continente.

“Essa reunião está sendo grandiosa, tem tudo para alavancar o comprometimento com a
vontade de melhorar. Obter reconhecimento de status sanitário é uma conquista, tem
que ser buscada. Todos os Estados devem fazer esforços para que se assista o maior
número de propriedades, se lancem dados de forma correta, porque não adianta por um
número qualquer. Temos que intensificar ações pró-ativas durante campanhas e pós-
campanhas. Hoje, podemos até estar na direção certa, mas temos, também, que
avançar na velocidade adequada”.
Inácio Kroetz
Secretário Nacional de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)

“A primeira coisa que tem que fazer é Cadastro. Sem cadastro pronto, não adianta fazer
mais nada, porque não vai servir. Isso é lição de casa, tem que fazer cadastro, e
cadastro bem feito. A segunda coisa é a manutenção do cadastro. Não adianta fazer
cadastro, se não tiver programa de atualização das informações de trânsito, nascimento,
etc. Tem que ser simultâneo, cadastro e manutenção. A terceira raiz principal de tudo
isso é a Legislação. Se não tiver apoio da Legislação não adianta fazer cadastro, nem
manutenção de cadastro. Funciona como três pilares que ajudam, e muito, a tocar o
trem. Tem que concentrar nisso.
Outra coisa é criar um Fundo e colocar as Guias de Trânsito Animal (GTA) para funcionar.
Em Goiás, desde o início de abril, 100% dos escritórios estão informatizados. Acho absurdo
que, em pleno século 21, estejamos discutindo febre aftosa. Fico envergonhado quando
vou lá fora, em reuniões internacionais, e tenho que justificar aftosa no Brasil. Tem outra
coisa. Lei de Defesa Sanitária só funciona se doer no bolso do produtor.
Apesar de tudo, acho que o Nordeste avançou, há entusiasmo, está no ponto de evoluir.
Com isso, não ganha somente o Nordeste, mas o Brasil todo. Estamos sem acesso a
60% do mercado mundial de carne, porque o Brasil não é um país livre de aftosa. Ver
isso aqui faz acreditar que, em breve, o Nordeste todo estará livre da doença com
vacinação”.
Antenor Nogueira
Presidente do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA

“Esse encontro em Fortaleza foi uma surpresa extraordinária. Ver um grupo de pessoas
tão comprometidas, dos diversos setores: público, privado, produtores, indústria, toda
uma conjugação de vontades que, realmente, não tem como fracassar. Essa meta
estabelecida para 2010 acho fantástica, porque não podemos mais conviver com esse
problema. Quem sabe seremos o primeiro continente livre de febre aftosa. O que mais
me chamou atenção foi que aqui não existe competição entre organizações, setores, ou
estado. Todos estão visando o esforço conjunto”.
Albino Belotto
Diretor do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa –PANAFTOSA-OPAS/OMS

Nossa Terra - Ceará 27


Cadastro Agropecuário

“O Governo vem fazendo “É um desejo forte de “O produtor vai melhorar


esforços com vacinação, todos no Nordeste, a qualidade do rebanho,
concurso público, avançarmos na questão da com animais vacinados,
cumprindo todas as defesa animal. No Ceará, acompanhados, e no final,
diretrizes que o Ministério há muita disposição, todos terão alimentos mais
da Agricultura, Pecuária e temos aprendido muito. seguros, saudáveis de boa
Abastecimento (Mapa) está Não queremos perder qualidade. Com o
exigindo. Queremos o mais tempo, essa é uma georreferenciamento é
Ceará fora do nível de questão de segurança, de possível localizar qualquer
risco desconhecido, e esse saúde pública, importante unidade produtiva dentro
esforço conjunto dos para o Brasil. Por isso, as do mapa do Ceará, com
Estados é fundamental parcerias e a união de acompanhamento
para que o Nordeste do todos são fundamentais. A posterior às vacinações,
Brasil crie a barreira cobrança é grande e não saber que produtores
sanitária necessária contra vamos medir esforços para vacinaram seus rebanhos e
aftosa” evoluir. muito mais.”

Francisco Pinheiro Camilo Santana Edilson de Castro


Vice-governador do Ceará Titular da Secretaria do Desenvolvimento Presidente da Agência de Defesa Agropecuária
Agrário do Ceará (SDA) do Estado do Ceará (Adagri)

2 - A carne e o leite de animais 3 - Os principais sintomas da doença são:


Saiba Mais contaminados não devem ser usados nem febre alta, afta na língua, falta de apetite,
comercializados. O FMDV é altamente baba em excesso, lesões nos cascos, feridas
1 - A Febre Aftosa é uma enfermidade viral contagioso e infecta todos os animais de na boca e nas narinas e dificuldade de
de evolução aguda que não tem cura, casco fendido, disseminando-se, locomoção. Além dos prejuízos diretos,
ocasionada por vírus contagioso, rapidamente, em populações susceptíveis existem os indiretos: suscetibilidade a
pertencente à família Picornaviridae, através de vários meios de transmissão. O outras doenças (mastites, miocardites, etc.),
gênero Aphtovírus. O vírus pode ser vírus pode ser encontrado em altas desvalorização dos animais e seus
contraído por bovinos, bubalinos, ovinos, concentrações em fluidos das vesículas, produtos, proibição da movimentação dos
caprinos e suínos, provocando perda de saliva, fezes, urina, sêmen e leite, animais, interdição de propriedades, perda
peso, diminuição na produção de carne e encontrando-se presente no sangue e em de tempo e dinheiro no tratamento de
leite, comprometimento da função todos os tecidos do animal no pico da lesões secundárias.
reprodutiva, levando à morte; infecção;
FONTE: Relatório do Programa Ceará Livre de Febre Aftosa (Celfa) | Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri)

MAIS INFORMAÇÕES
Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri), na Avenida
Bezerra de Menezes, 1820, bairro São Gerardo, Fortaleza (CE), CEP 60.325-002,
ou pelos números (85) 3101.2500 e Fax (85) 3101.2499. E-mail:
adagri@adagri.ce.gov.br

28 Nossa Terra - Ceará


AGRONEGÓCIO E AGRICULTURA FAMILIAR
O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
PATATIVA
DO ASSARÉ 12 a 19 de julho de 2009
100 Parque de Exposição
Pedro Felício Cavalcanti
ANOS Crato - Ceará - Brasil

Promoção
Agroamigo faz
quatro anos de atuação
Criado em 2005, o Programa de Microcrédito
Rural do BNB já aplicou mais de R$ 650 milhões

O Banco do Nordeste do Brasil chegar a 40%”, afirmou. adotar o Agroamigo como política de
(BNB), comemora quatro anos de Smith atribui os bons resultados à financiamento para todos os agriculto-
atuação do Agroamigo, com mais de metodologia de atendimento aos res enquadráveis no Pronaf B. Além
530 mil operações de crédito realiza- pequenos agricultores, proporcionada disso, recebemos visitas dos governos
das e R$ 650 milhões investidos na pela equipe de assessores de crédito de Angola e Cabo Verde, que se
economia da região. Criado pelo BNB rural do Programa. “O Agroamigo mostraram bastante interessados na
em 2005, com o objetivo de atender consegue operar de uma maneira muito iniciativa”, afirmou Luís Sérgio, que
comunidades rurais do Nordeste e próxima dos nossos clientes, não só na lembrou ainda o convênio estabeleci-
norte de Minas Gerais e Espírito Santo, questão da orientação para o financia- do com o MDA por meio do qual
o Programa passou a financiar a mento, mas também na concessão de foram fornecidas 375 motocicletas
produção de agricultores de pequeno crédito, que é muito mais desburocrati- para os assessores, estando previstas a
porte enquadráveis no grupo B do zada. Esse ponto é extremamente liberação de mais 250 unidades para
Pronaf. importante para o sucesso das opera- este ano.
O presidente do BNB, Roberto Smith ções realizadas”, afirmou. Ele ressaltou também o acordo de
destacou a importância da iniciativa, O superintendente da Área de cooperação técnica firmado entre o
ressaltando os resultados alcançados Agricultura Familiar, Microfinanças BNB, o Banco da Amazônia (Basa) e o
pela metodologia de atendimento Rurais e Crédito Fundiário, Luís Sérgio Instituto Nordeste Cidadania (Inec)
utilizada pelo Programa. “Nos Farias Machado, enfatizou o reconheci- para a operacionalização do microcré-
sentimos muito recompensados com mento que a metodologia de atendi- dito rural nas comunidades a serem
os números do Agroamigo. Um mento do Agroamigo vem conquistan- atendidas. Por meio da parceria, o
programa com taxa de inadimplência do em níveis nacional e internacional. Banco repassará a metodologia do
situada entre 2% e 4% no contexto do “O Ministério do Desenvolvimento Agroamigo, capacitará assessores de
Pronaf B, onde esse percentual pode Agrário (MDA) já anunciou que irá crédito e instituições envolvidas no

30 Nossa Terra - Ceará


Luís Sérgio Farias, o objetivo é projetar tadas na operacionalização do
o Agroamigo como o maior programa Programa como, por exemplo, o
de microcrédito rural da América do incremento no total de assessores de
Sul. “Com isto, chegaremos a marca crédito, que passarão de 572 para 800.
expressiva de 962 mil produtores rurais De acordo com Luis Sérgio, a medida
atendidos, com R$ 1,2 bilhão de faz parte da estratégia de criação da
recursos investidos desde o inicío do unidade de microfinanças, por meio da
Programa”. qual o Banco do Nordeste se propõe a
Entre as metas estabelecidas, está ainda a trabalhar o Agroamigo e o Crediamigo
ampliação da área de atuação do com carteiras diferenciadas e indepen-
Agroamigo para todos os municípios que dentes em cada agência.
Luis Sérgio Farias Machado disponham de agricultores enquadráveis “Ressalte o trabalho realizado pelos
Sup. da Área de Agricultura Familiar, dentro do Pronaf B, ou seja, produtores gestores do BNB e pela equipe do Inec,
Microfinanças Rurais e Crédito Fundiário
rurais de renda bruta anual familiar de até que fornece estrutura de apoio a todo o
R$ 4 mil. “Nas localidades que contarem Programa. A razão de sucesso do
com o atendimento do Programa, não Agroamigo reside principalmente na
processo e acompanhará a execução do atenderemos mais pelo método ação direta de todos, que levam o
projeto-piloto, a ser desenvolvido na tradicional do Pronaf B, o que significa crédito à comunidade de forma
área de atuação do Basa. dizer que disporemos de 1985 municípi- orientada e acompanhada”, destacou.
os para trabalhar exclusivamente a Na opinião do presidente do Instituto
EXPECTATIVAS metodologia do Agroamigo”, informou. Nacional de Educação e Cultura (Inec),
Visando à expansão do Programa, a Área Cloves Polte, os assessores são peça
de Agricultura Familiar prevê, para 2009, ASSESSORES fundamental para o crescimento do
a ampliação do volume financiado em Para garantir o cumprimento das metas, Programa, graças ao conhecimento que
mais R$ 620 milhões, contemplando o superintendente informou algumas detêm da comunidade, de seus clientes
mais de 500 mil operações. Segundo melhorias que estão sendo implemen- e da cultura local.

Nossa Terra - Ceará 31


Agricultura Orgânica

Cícero, Luiz Carlos,


Cleide, Vanderléia,
Ismael, Valéria,
Eliane, Ariane,
Denísio e João, na
Sede da Associação
dos Produtores
Orgânicos da
Ibiapaba (APOI).
Eles organizam
grande parte dos
produtos orgânicos
consumidos em
Fortaleza (CE).

Saúde na mesa
do Interior à Capital
Associação dos Produtores Orgânicos da Ibiapaba (APOI) - São Benedito
Tomate cereja, alface americana, repolho roxo, alho poró, macaxeira, pimentão,
berinjela, beterraba, cenoura, além de outras hortaliças, frutas e grãos,
produzidos de maneira limpa, correta, sadia, livres de agrotóxicos.
São assim os produtos cultivados no iniciativa tem se mostrado bem A Associação dos Produtores
alto da Serra da Ibiapaba, no municí- sucedida. Orgânicos da Ibiapaba (Apoi) vende
pio de São Benedito, região Norte do Tanto que João Costa Gomes, técnico tudo que produz para duas grandes
Ceará, distante cerca de 250 quilôme- em agropecuária, um dos produtores redes de supermercados do Ceará e
tros de Fortaleza. Lá, a vanguarda de da Apoi, conta, com alegria, as recentes Piauí, e trabalha, também, com
agricultores da Associação dos conquistas que evidenciam a importân- entregas de cestas na região para
Produtores Orgânicos da Ibiapaba cia dessa luta. famílias cadastradas. João Costa
(Apoi), movimenta 13 produtores, de “O tabu da serra era tomate e repolho. Gomes encerra de vez com o mito de
outras três cidades, Ibiapina, Ubajara e Quando iniciamos, muita gente que agricultura sem agrotóxicos é
Carnaubal – unidos pelo objetivo de apostou que não daria certo. Mas taí, os sinônimo de má qualidade. “Nossos
repensar novos modelos agrícolas, que dois são os que produzimos com produtos são bonitos por dentro e por
valorizem o homem do campo, melhor regularidade e sem usar fora. Hoje, só se fala em segurança
respeitem o meio ambiente e evolua nenhum tipo de agrotóxico”, destaca alimentar, e isso só tem consumindo
em tecnologias sustentáveis. E a João Gomes. produto orgânico”, afirma.

32 Nossa Terra - Ceará


produtor, quanto consumidor tem
consciência que estão preservando
mananciais, lençol freático e economi-
zando com remédio”, diz o técnico.
Hermínio Moreira lembra que o
grande desafio é fazer com que a
população em geral consuma esses
produtos, e não somente as classes A e
B. “É importante que esses produtos
entrem na merenda escolar. Só assim
as crianças terão contato desde cedo
com a questão de produtos mais
limpos. Temos estimulado a venda
local, dentro da comunidade, para que
o excedente seja vendido para outras
redes de comercialização, chamado
“mercado solidário”.
Para encerrar, o técnico João Costa
Gomes dá uma dica preciosa. “Produ-
ção orgânica é equilíbrio de solo. É
igualzinho na família, se tem desequilí-
brio em casa, dá doença, depressão. Se
está bem equilibrada, principalmente na
questão nutricional, o resultado é
positivo, fica tudo sadio”.
“Social, econômico e ambiental,
esse tripé precisa ficar
equilibrado. Aqui a gente não
queima nada, respeitamos os
mananciais, a saúde do produtor é
assegurada, porque o que
queremos é um trabalho viável,
com sustentabilidade, que não
seja só marketing. Só assim o
produtor sempre terá renda e não
dependerá somente da chuva”.
João Costa Gomes
O engenheiro-agrônomo, Hermínio redes, que até vendem, mas colocam São Benedito, Chapada da Ibiapaba
José Moreira Lima, do Núcleo de preços elevados, que afastam o Território Rural da SDA

Apoio a Agricultura Orgânica, da consumidor. Temos produção o ano Técnico em Agropecuária e Produtor da
Secretaria do Desenvolvimento todo, mas, para colocar no mercado, Associação dos Produtores Orgânicos da
Ibiapaba (Apoi)
Agrário, avalia as dificuldades dos que muitas vezes há restrição de quantida-
apostam nos orgânicos. “Muitos de”, diz Hermínio Moreira.
agricultores querem entrar nesse “E num vai me perguntar por que SERVIÇO
sistema, mas ainda se deparam com produto orgânico é caro?” Se adianta,
bem humorado, seu João. “Pois lhe Mais informações na Sede da
descaminhos na assistência técnica ou
em como colocar o produto no digo que não é caro. O problema é que Associação dos Produtores
mercado. Em relação ao consumidor, ainda não tem loja especializada em Orgânicos da Ibiapaba (Apoi),
muitas pessoas procuram, mas os produtos orgânicos, para ser vendido a pelo telefone (88) 3626.2498.
mercados convencionais ainda estão granel. Daí tem que ir assim, em Falar com João ou Diana.
fechados, principalmente as grandes bandejas, e isso agrega valor. Mas tanto

Nossa Terra - Ceará 33


A sustentabilidade das terras de seu Antônio Simeão e dona Gracinha, localizadas no Sítio Baixa do
Cedro, em Carnaubal, região da Serra da Ibiapaba, é de tirar o chapéu. Agricultor experiente e forte,
o patriarca de 11 filhos, cultiva quase tudo que necessita para viver. Como todo bom sertanejo, a sala
de visita é a cozinha, primeiro vão da casa, com fogão à lenha aceso, esquentando a água do café
plantado lá mesmo e moído na hora. Na prateleira, feijão, arroz, frutas, ovos... E, lá fora, além das
galinhas caipiras presas, aguardando comprador que vem da cidade, pilhas e pilhas de composto
orgânico, feito do bagaço da cana-de-açúcar, palha, cinza e esterco animal, permutado ou vendido a
outros membros da Associação dos Produtores Orgânicos da Ibiapaba (APOI), para ser utilizado em
adubação. Aliás, outra pérola de seu Simeão é a cachaça de alambique produzida de forma artesanal.
Com a matéria-prima cultivada sem aditivos químicos, o processo inicia com a moagem da cana, que
vai para dornas de fermentação, onde é colocado sobre o alambique e, depois de aquecido, destilado.
“A parte de fermentação, inclusive, sem nenhum químico, tudo natural”, enfatiza Zé Maria, um dos
filhos do casal.

Antonio Simeão e Dona Gracinha, do Sítio Baixa do Cedro, em Carnaubal

34 Nossa Terra - Ceará


Ensaio
Programa de Peixamento

Se cai na rede é peixe

“Esse programa é muito importante para o Ceará e vem sendo muito bem
recebido pela população. As pessoas comemoram quando veem nosso
caminhão carregado de alevinos”, celebra Max Dantas, coordenador do
Desenvolvimento da Pesca, da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA),
se referindo ao Programa de Peixamento de açudes, lançado em 2008, pelo
Governo do Estado do Ceará, com excepcionais resultados e números grandes
para mostrar.

00 Ceará
36 nossa -terra
Nossa Terra
mil toneladas de pescado”, calcula
Max, acrescentando que os açudes
foram cadastrados pela Empresa de
Assistência Técnica e Extensão do
Ceará (Ematerce) e pela Companhia
de Gestão dos Recursos Hídricos
(Cogerh).
Ano passado a SDA investiu mais de
R$ 300 mil no projeto que, de fato, está
ampliando a oferta de alimentos, além
de possibilitar o aproveitamento do
potencial produtivo das águas
represadas. As comunidades rurais de
baixo poder aquisitivo, localizadas nas
proximidades dos reservatórios
cadastrados, são as grandes
beneficiadas.
O peixamento contempla todos os
municípios cearenses que atendam as
recomendações técnicas para a
execução da atividade. As espécies
utilizadas são as que já estão presentes
nos reservatórios do Estado, adaptados
Só ano passado, foram beneficiadas Nacional de Obras Contra as Secas às nossas condições ambientais, como
31.475 famílias de 124 municípios, (Dnocs). “Foi um ano muito é o caso da Tilápia do Nilo, Carpa
com a distribuição de 6.200.000 auspicioso para nós. Todos os Comum, Curimatã Comum,
alevinos em 1.259 açudes. Essa objetivos foram atingidos e quebramos Tambaqui e Pescado do Piauí.
distribuição foi gratuita e teve como o recorde de distribuição de alevinos. As localidades beneficiadas foram
meta o repovoamento de reservatórios Agora é continuar trabalhando”, diz definidas primeiramente a partir de
públicos, comunitários e de áreas de Max Dantas. locais com menor Índice de
assentamentos, todos devidamente O Programa de Peixamento vem Desenvolvimento Humano (IDH). A
cadastrados. O primeiro município a repondo os estoques pesqueiros de Ematece, as secretarias de agricultura
receber os alevinos foi Guaiúba, onde reservatórios públicos, aumentando a municipais e as entidades parceiras
o programa foi lançado, em janeiro de produção de pescado e ajudam na distribuição dos alevinos.
2008, Na ocasião, foram depositados proporcionando mais oportunidades Todas as famílias beneficiadas
10 mil alevinos no açude de Itacima. de trabalho e renda para as recebem instruções de procedimentos
Conduzida pela Coordenadoria do comunidades cearenses situadas nas técnicos, como o tipo de rede a ser
Desenvolvimento da Pesca da SDA, a regiões ribeirinhas, além de ser uma utilizada e o tamanho ideal para o peixe
primeira etapa do programa começou fonte de segurança alimentar para as ser pescado, de forma a evitar a pesca
em fevereiro e terminou em abril de famílias. predatória. Após cinco meses da
2008, atingindo 212 açudes e 4.137 Esse ano o programa foi lançado em implantação, já dá para avaliar o
famílias, num total de 33 municípios. Icó e as metas continuam grandes: 5 impacto e as mudanças ocorridas, pois
Em julho, teve início a segunda etapa, milhões de alevinos serão distribuídos este é o tempo necessário para o
que se estendeu até dezembro, com a em 1.072 reservatórios, beneficiando crescimento dos alevinos.
distribuição de alevinos do Governo 26.800 famílias de baixa renda. “A
do Estado e do Departamento gente espera aumentar a produção em

Nossa Terra - Ceará 37


Programa Leite Fome Zero

O leite que transforma vidas

O Programa Leite Fome Zero, parceria do Governo do Estado do Ceará com


o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) distribui,
diariamente, 54 mil litros de leite para crianças de até seis anos e gestantes
em situação de insegurança alimentar, em 146 municípios cearenses,
beneficiando cerca de 60 mil famílias.

38 Nossa Terra - Ceará


USINAS DE
BENEFICIAMENTO

No início do programa, todo o


trabalho era feito em parceria com as
usinas de beneficiamento de leite. A
produção era repassada para essas
usinas, que realizavam a
pasteurização do leite de vaca tipo C.
Depois desse processo, o leite era
distribuído para a comunidade.
Agora esse processo está mudando.
No Assentamento da Comunidade
Malhada, a 13 km do Crato, já foi
inaugurada a miniusina de
pasteurização do leite, que começa a
dar mais autonomia aos 22 membros
da Associação dos Pequenos
Produtores de Leite do Sítio
Malhada.
Com a miniusina, o produtor passa a
ser o industrial do leite, não mais
dependendo das grandes usinas de
pasteurização. Isso agrega valor ao
produto gerando mais renda.
O próximo município beneficiado será
Mauriti.

Além de contribuir para o combate à estamos entrando com a palma


fome nos municípios cearenses com forrageira, um alimento resistente ao
menores índices de desenvolvimento, semiárido e de alto valor energético”,
o Programa Leite Fome Zero fortalece explica o engenheiro.
a agricultura familiar do Estado do Além da alimentação, cuidados
Ceará, pois garante a compra do leite sanitários. “Garantimos vacinação
de cerca de 1.800 produtores. contra febre aftosa, e estamos contro-
“O programa é principalmente voltado lando a tuberculose e a brucelose no
para o produtor. Claro que ele rebanho”. Kits de inseminação e boas
beneficia crianças, idosos e gestantes. práticas de ordenha são difundidos
Isso é muito importante, mas a nossa entre os produtores e, até agora, o
meta maior é o homem do campo, o programa injetou, no Ceará, recursos
pequeno produtor pronafiano de até da ordem de R$ 45 milhões, sendo
30 litros de leite por dia”, enfatiza que, 20% deste valor é contrapartida
Augusto Júnior, coordenador de do Governo do Estado.
Pecuária, da Secretaria de
Desenvolvimento Agrário do Estado TANQUES DE RESFRIAMENTO
(SDA). Como todo leite precisa ser resfriado
A distribuição do leite garante o antes de passar pelo processo de
escoamento do produto, movimentan- industrialização, os produtores estão
do a economia local. Para melhorar a também recebendo tanques de
qualidade do rebanho e aumentar a resfriamento. “A meta é distribuir 140
produção, a SDA orienta sobre a tanques, cada um deles beneficiando
alimentação do gado. “Estamos de 20 a 30 produtores. Já instalamos
distribuindo sorgo forrageiro e 63 tanques”, contabiliza o coordena-
leguminosas para o rebanho. Também dor de Pecuária da SDA.

Nossa Terra - Ceará 39


Ensaio
Plano Safra

Ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, o Governador do Ceará, Cid Gomes e


Secretário do Desenvolvimento Agrário, Camilo Santana.

Plano Safra 2009:


Mais recursos para a Agricultura Familiar.
O pacote governamental reforça programas estratégicos, como a distribuição
de sementes e mudas, assistência técnica e crédito rural para o pequeno
produtor cearense.
O lançamento do Plano Safra 2009, produção agrícola cearense. Um dos qualidade, assistência técnica gratuita,
ocorrido no início deste ano, foi destaques do pacote de ações é a crédito para a compra de terra e
marcado pelo otimismo de boa política de correção de solos que está equipamentos, garantia de comerciali-
colheita demonstrado nos discursos sendo implantada pela Secretaria do zação e outras iniciativas estratégicas
afinados entre o ministro do Desenvolvimento Agrário (SDA). para o homem do campo: são as
Desenvolvimento Agrário, Guilherme “Queremos disseminar novas fronteiras de atuação do Plano Safra
Cassel , o governador do Estado do tecnologias que respeitem o meio 2009, um guarda-chuva institucional
Ceará, Cid Ferreira Gomes, e o ambiente e que tragam bons resultados que agrega ações, programas e projetos
secretário do Desenvolvimento para a nossa agricultura”, explica de apoio ao pequeno produtor.
Agrário, Camilo Santana. Camilo Santana. “A agricultura não espera por ninguém
A ampliação dos investimentos e sua principal característica é a
federais e estaduais no Plano Safra visa PARA O CEARÁ PRODUZIR MAIS oportunidade. É preciso preparar o
impulsionar o processo competitivo da Distribuição de sementes de alta solo na hora certa, distribuir as

42 Nossa Terra - Ceará


sementes antes das chuvas, obter
crédito no momento ideal e comercia-
lizar no período propício. O Plano
Práticas Corretas
Safra envolve todas essas questões e é
"O aumento dos recursos no Plano Sampaio, por exemplo, ganhou o
inédito no Ceará, porque acompanha
Safra da Agricultura Familiar é prêmio “Selo Verde” por ter
o processo de produção do início ao
proporcional à importância que o incentivado essa prática.
fim, ou seja, do preparo do solo à
setor vem tendo no processo de A parceria com o Banco do Nordeste
comercialização do produto” declara
desenvolvimento do Ceará. Os (BNB) tem sido importante para
José Maria Pimenta, presidente da
governos federal e estadual têm impulsionar programas como o
Ematerce.
trabalhado juntos na construção de Programa Nacional de
Concordando com Pimenta, Francisco
políticas públicas com geração de Fortalecimento da Agricultura
Sombra, da Delegacia Regional do
mais trabalho, mais renda e mais Familiar (Pronaf) que, este ano, está
Ministério do Desenvolvimento
alimentos para todos os cearenses", expandindo o financiamento e
Agrário (MDA), acrescenta que o
avalia o ministro Guilherme Cassel. simplificando as normas para
Plano Safra funciona como um reforço
Os maiores produtores de alimentos obtenção de crédito rural. Roberto
à política do Governo Federal,
no Brasil são os agricultores Smith, presidente do Banco do
beneficiando 4,1 milhões de estabele-
familiares e assentados de Reforma Nordeste, comenta: “O Pronaf é uma
cimentos da agricultura familiar,
Agrária. Daí a importância que eles iniciativa que tem no BNB um grande
responsáveis pela produção de 70%
assumem na preservação do meio parceiro. É um programa com
dos alimentos que chegam à mesa dos
ambiente. O secretário Camilo desdobramentos e avanços a cada
brasileiros.
Santana observa: “É importante que ano”. Dentre as perspectivas para
“O MDA trabalha fundamentalmente
o agricultor se preocupe com o 2009 destaca-se a implantação de
com quatro eixos: combate à pobreza,
cuidado com a terra. O programa metodologias de crédito, permitindo
segurança alimentar e nutricional,
estimula a correção do solo com uso que o Pronaf, dentro do BNB, tenha
sistema de produção ecológico e
de calcário, além de práticas de tratamento preferencial em termos
geração de renda. O Plano Safra vem
conservação como captação “in de tecnologia da informação e mais
ao encontro desses itens e traz
sito”. A prefeitura de General agilidade no atendimento.
novidades, como o aumento do
volume de recursos para assistência
técnica”.
Este ano o montante de recursos para o
Ceará ultrapassa os R$ 780 milhões de Zona Norte do Estado, por exemplo, financiado 11 mil tratores. Para ter
reais, beneficiando mais de 300 mil receberam recursos para a construção ideia do sucesso do programa, em
famílias de agricultores familiares, de barracas de produção e processa- 2002, os tratores de até 78 cavalos
espalhadas em todo o Estado. A mento de algas marinhas, bóias (como os financiados pelo Mais
parceria entre Governo do Ceará e diferenciadas para zoneamento da área Alimentos) representavam 37% do
Governo Federal é mais uma vez de mar, barragens de alvenaria e total produzido no Brasil. Hoje,
fundamental para o bom andamento cisternas, dentre outros equipamentos. chegam a 75%. Tem mais: de todos os
da iniciativa, que assegura verbas para o tratores produzidos no país de janeiro
Programa de Distribuição de MAIS MÁQUINAS E MAIS a maio de 2009, 61% foram comerciali-
Sementes e Mudas, Biodiesel do ALIMENTOS zados por meio do Mais Alimentos.
Ceará, Garantia Safra e Crédito Rural Para modernizar a infraestrutura Ou seja, a cada cinco tratores, três são
Mais Alimentos, dentre outras frentes. produtiva das unidades familiares, o vendidos com apoio dessa linha de
O Plano Safra contempla ainda Governo Federal criou, também, o crédito. Trata-se, pois, de uma
projetos de piscicultura. Os produtores Programa Mais Alimentos que, entre oportuna parceria entre governo,
de peixes e algas do Litoral Oeste e julho de 2008 e maio deste ano, já havia indústria e movimentos sociais.

Nossa Terra - Ceará 43


Plano Safra

Sementes Para Todos


Para o Programa de Distribuição
de Sementes e Mudas, o Plano Normas Simplificadas No Pronaf
Safra reservou mais de R$ 22
milhões, viabilizando a Em 2009, o Plano Safra destinou R$ 550 milhões para o Programa Nacional de
distribuição de 5 milhões de Fortalecimento da Agricultura (Pronaf). Este montante é 50% maior que o da
quilos de sementes. “O Estado safra anterior (2007/2008), quando foram disponibilizados R$ 350 milhões ao
está aumentando o número de Estado. Os atuais recursos do Pronaf contemplarão 167 mil pequenos
beneficiados e ampliando o valor produtores.
dos investimentos. As sementes A principal novidade nesta safra é o Crédito Mais Alimentos, que financia a
foram na hora certa, chegando modernização da infraestrutura produtiva da propriedade familiar. A linha de
antes das chuvas, para que o crédito atende projetos associados à produção de olerícolas, frutas, arroz, feijão,
agricultor plante na hora certa”,
milho, mandioca, trigo, leite e ovinocaprinocultura. O limite de financiamento
pontua o secretário Camilo
é de R$ 100 mil por agricultor familiar, com prazo de pagamento de até 10 anos,
Santana. O programa cearense é
carência de até três anos e juros de 2% ao ano.
referência em todo o Brasil.
Além de simplificar as normas para obtenção de crédito rural do Pronaf, o
Plano Safra reduziu as taxas de juros. Para os financiamentos de custeio, elas
Assistência Técnica agora variam entre 1,5% e 5,5% ao ano, contra 3% e 5,5% na safra 2007/08. Nas
operações de investimento, as taxas foram reduzidas para 1% a 5% ao ano (antes
Os recursos para Assistência
Técnica e Extensão Rural (Ater) variavam de 2% a 5% ao ano).
foram elevados de R$ 168
milhões para R$ 397 milhões em
todo o País. No Ceará, o Governo
Federal liberou para a Empresa
de Assistência Técnica e Extensão
do Ceará (Ematerce), R$ 15,5
milhões para o fortalecimento da
extensão rural local.

Garantia Safra
O programa Garantia Safra
funciona como seguro de
produção para o agricultor, em
caso de perda comprovada de
mais da metade da colheita,
devido à estiagem ou ao excesso
de chuvas. Na safra 2008/2009,
um total de 260.970 agricultores
familiares cearenses aderiram ao
programa. O Ceará é o Estado
Veículos novos, computadores, motos,
com o maior número de tratores e implementos agrícolas, como
municípios (165) que têm
sulcadores de tração motora, pulverizadores
aderido, por isso o Ministério do
Desenvolvimento Agrário de tração animal e trilhadeiras de mamona
disponibilizou 300 mil cotas para
foram entregues durante o lançamento do
os produtores locais.
Plano Safra 2009

44 Nossa Terra - Ceará


Agricultura Familiar

Feceaf:
Mais de 100 mil pessoas em quatro dias de evento
A Feira Cearense de Agricultura Familiar reuniu cerca de mil agricultores e
artesãos, de 500 empreendimentos de todas as regiões do Ceará
A Capital se rendeu aos encantos
do interior. A II Feira Cearense de
Agricultura Familiar (Feceaf), que
aconteceu de 2 a 5 de julho de
2009, trouxe para Capital cerca de
mil agricultores e artesãos, de 500
empreendimentos de todas as
regiões do Ceará, representando
mais de 100 municípios ligados à
agricultura familiar no Interior.
Cerca de 100 mil visitantes passa-
ram pelo Parque de Exposições
Governador César Cals, nos quatro
dias do evento e saíram de lá com as
mãos repletas de mercadorias
tradicionais, como as tapiocas e
beijus feitos na casa de farinha, e
exóticas, como o suco e sorvete de
macaúba trazidos do Cariri.
Quem esteve no Parque de
Exposições viu, também, uma
bodega iluminada à lamparina,
com sanfoneiro, triângulo e Agrário (MDA), Humberto prefeitos e agricultores familiares,
zabumba tocando na porta e Oliveira, do Secretário Nacional da que formam a base da economia
representação do Horto do Padre Agricultura Familiar do MDA, dos territórios rurais. São muitas
Cícero, com banquinha vendendo Adoniran Sanches Peraci e outras ações e todo esforço em comum
produtos religiosos, além de bela autoridades. está sendo feito para melhorar a
pintura em grafite reproduzindo as De acordo com o Secretário do vida do homem do campo”,
casas da subida da ladeira. Desenvolvimento Agrário, Camilo ressaltou Santana.
No dia da abertura da Feceaf, Santana, é preciso criar um Durante a II Feira Cearense da
aconteceu o 1º Encontro Estadual ambiente para interlocução entre Agricultura Familiar, os visitantes
de Prefeitos para Promoção do gestores públicos e sociedade. “É puderam aproveitar, ainda, o
Desevolvimento Territorial muito importante ter trazido para a pesque-e-pague em miniaçude
Sustentável do Ceará, que contou Feira o debate em torno do povoados com tilápias que eram
com a presença do Secretário do Programa Território da Cidadania. tratadas na hora, o abate de galinha
Desenvolvimento Territorial, do Tivemos aqui os principais atores caipira, a casa do queijo, o beneficia-
Ministério do Desenvolvimento que envolvem esse processo, mento de castanha e outros.

Nossa Terra - Ceará 45


Ensaio
Territórios da Cidadania
Territórios para o
desenvolvimento
Programa Territórios da Cidadania reúne
ações de desenvolvimento regional e de
garantias de direitos sociais, combinando
políticas públicas para promover o
crescimento sustentável.
Cidadania, melhoria de renda e qualidade de vida para a população, com foco
nos habitantes do meio rural. Lançado pelo Governo Federal, o Programa
Territórios da Cidadania combina diferentes ações para reduzir as
desigualdades e promove uma maior integração da União, Estados e
Municípios, na busca por soluções conjuntas para o desenvolvimento do país.
O programa quebra a lógica setorial de governos, prioriza o ambiente rural e
combate a concentração de renda nos grandes pólos, firmando acordos de
cooperação técnica para a execução de ações solidárias em todo o Brasil.
Saúde, saneamento, acesso à água, educação, cultura, infraestrutura, apoio à
gestão territorial e ações fundiárias são suas áreas de abrangência.
No Ceará, o Programa Territórios da Cidadania foi lançado oficialmente em
fevereiro de 2008, somando recursos de R$ 1.686.706.372. Seis territórios já
estão constituídos: Cariri, Inhamuns/Crateús, Sertão Central, Sertão de
Canindé, Sobral e Vale do Curu/Aracatiaçu. “Esses territórios já estão com os
colegiados estruturados, após oficinas que aconteceram em maio”, explica
Bartolomeu Cavalcante, coordenador do Desenvolvimento Territorial e
Combate à Pobreza Rural da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA).
A escolha das regiões obedeceu critérios como menor Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) e baixo dinamismo econômico. “Com a
implantação do programa, o Ceará ganha uma poderosa arma de combate à
desigualdade nas três esferas de poder. São ministérios, secretarias estaduais e
os vários representantes dos municípios, todos decidindo em conjunto,
buscando novos investimentos e aproveitando melhor os recursos disponíveis.
As ações têm o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e
seguem a mesma metodologia que está sendo implantada nos territórios de
todo o Brasil. Com isso, o Ceará avança na estratégia de gestão social e aposta no
desenvolvimento sustentável”, acredita Bartolomeu Cavalcante.
Territórios da Cidadania

Territórios da
Cidadania no Ceará

NÚMEROS PARA AVANÇAR


Sessenta territórios rurais em todo
o Brasil foram contemplados em
2008 pelo Programa Territórios da
Cidadania. A meta é duplicar este
número em 2009, com ações de 22
ministérios, que aportam recursos
de R$ 23,5 bilhões, sob a coordena-
ção da Casa Civil da Presidência da
República. O Nordeste recebe o
maior volume de recursos entre as
regiões, sendo que, no Ceará, a fatia
mais gorda de investimentos vai
para o desenvolvimento social.
Diferente de outros projetos, o
Territórios da Cidadania não se
limita a enfrentar problemas
específicos com ações dirigidas. Ele
combina diferentes ações para
reduzir as desigualdades sociais e “O envolvimento dos Comitês de Articulação Estaduais,
inclusive o do Ceará, que é um dos melhores em termos de
promover um desenvolvimento funcionamento regular e discussões temáticas, está
harmonioso e sustentável. diretamente relacionado à adesão do Governo do Estado”

Humberto Oliveira, secretário do Secretário de Desenvolvimento Territorial do MDA,


Humberto Oliveira
Desenvolvimento Territorial do
Ministério do Desenvolvimento COMITÊ ESTADUAL: tantes da União, do Estado e dos
Agrário (MDA), afirma que DECIDINDO EM CONJUNTO municípios, cuja tarefa inicial foi
“apesar de recente, o programa No Ceará, o Comitê Estadual de mapear as iniciativas e vocações de
vem tendo uma atuação muito Articulação do Programa cada território, para que fosse
positiva”. Ele explica que, em 2009, Territórios da Cidadania foi possível definir os investimentos
a participação dos colegiados e a formalizado em abril de 2008, com prioritários das regiões.
metodologia do trabalho em grupo a missão de definir as ações e os Cabe aos Comitês Estaduais
renderam bons frutos. “Quero investimentos em benefício das articular as políticas públicas a
destacar o envolvimento dos políticas públicas para o interior do serem implementadas e fiscalizar a
Comitês de Articulação Estaduais, Estado. O acordo foi assinado pelo execução das ações do Territórios
inclusive o do Ceará, que é um dos governador Cid Gomes e pelo da Cidadania em todo o Brasil. A
melhores em termos de funciona- Secretário de Desenvolvimento linha norteadora das ações do
mento regular e discussões Territorial do MDA, Humberto Comitê segue um regime de
temáticas. Nesses casos, a adesão Oliveira. colaboração mútua na organização
do Governo do Estado faz toda a O Comitê de Articulação do das diversas políticas públicas que
diferença”, conclui o secretário. programa é formado por represen- estão sendo implementadas.

50 Nossa Terra - Ceará


Produtores do Assentamento Lagoa do Mato, em Quixadá, na Casa do Mel

Casa do Mel é fonte de renda


Quixadá

No assentamento Lagoa do Mato, trabalham com a agricultura do Estado do Ceará, da Prefeitura de


distrito de Cipó dos Anjos, a 50 km da familiar. Cada um tem uma Quixadá e da Fundação Banco do
sede de Quixadá, os agricultores determinada quantidade de Brasil, além do Programa Territórios
descobriram uma doce alternativa de colmeias, e cada produtor traz o da Cidadania.
renda: o mel de abelha. seu mel para beneficiar aqui. A A produção de mel de abelha em
As colmeias ficam no campo e, na Casa do Mel é para atender toda Quixadá já é uma alternativa para quem
época da colheita, os apicultores região de Cipó dos Anjos”. Uma mora na zona rural do município. Em
levam o que colheram para a Casa das metas atuais é implementar a 2007, os agricultores foram beneficia-
do Mel, onde trabalham na embalagem do mel em sachê. dos com kits de apicultura. No ano
produção e embalagem do produ- O trabalho local é aproveitado ao seguinte os investimentos foram
to. Inaugurada em 2008, a Casa do máximo. A Associação dos maiores, com a entrega de duas Casa do
Mel de Lagoa do Mato foi equipada Apicultores de Quixadá fez um projeto Mel. Além de Cipó dos Anjos, foi
com recursos do Programa para vender o produto para a merenda beneficiado o distrito de Riacho Verde.
Territórios da Cidadania. escolar. “O mel deles, por enquanto, Inicialmente toda a produção está
José Carlos, técnico da Secretaria está indo por um preço melhor”, sendo destinada para escolas públicas
de Agricultura de Quixadá, comemora José Carlos, lembrando municipais, o que contribui com uma
explica: “Todos os apicultores que o projeto teve o apoio do Governo merenda escolar mais saudável.

Nossa Terra - Ceará 51


Territórios da Cidadania

POUSADA RURAL EM SÃO da região, como galinha caipira, queijo da caprinocultura, com apoio do
JOÃO DOS QUEIROZ fresco, pamonha e leite. Com o apoio Projeto Dom Helder Câmara e o
No assentamento Boa Vista, distrito do Sebrae, já aconteceram vários recebimento de 200 cabras de leite. A
de São João dos Queiroz, a 20 km de treinamentos. O município entra com Embrapa está trabalhando com o
Quixadá, região do Sertão Central, 10%, como é obrigatório no Programa parque de alimentação, melhoramento
outro projeto importante conta com Territórios da Cidadania. O Governo genético e organização das famílias.
recursos do Territórios da Cidadania. do Estado quer que a administração São 28 famílias, com renda média de
Em maio de 2008 foi assinada a ordem local fique a cargo das famílias. um salário mínimo. Todos serão
de serviço para a reforma da casa-sede Todos os que trabalham nas obras envolvidos direta e indiretamente no
do assentamento. O local dará espaço (eletricistas, bombeiros-hidráulicos, funcionamento da pousada, cada um
a um novo hotel-fazenda, na estrada pedreiros, serventes e carpinteiros) são com o que puder oferecer. “O que vai
que liga à BR 116. Além das belezas da da própria comunidade. “Já existia melhorar para o morador é o seguinte:
paisagem, os turistas e hóspedes uma mão de obra qualificada aqui, e ao se ele tem uma charrete ou uma
desfrutarão de um amplo espaço para ser utilizada, ela agrega valor ao projeto carroça, vai poder alugar para o turista.
esportes, passeios a cavalo, trilhas, e traz emprego para as famílias, Se o turista quiser andar em um
canoagem e pescaria. melhorando a renda de todos”, animal, o morador aluga o animal.
A própria comunidade vai gerenciar o comenta o técnico José Carlos. As Também tem o leite, a galinha para
famílias do assentamento Boa Vista vender, o ovo, tem a horta que está
empreendimento. Os jovens serão
vivem da agricultura familiar, e sendo implantada, tem o coco. Então,
capacitados para recepcionar os
trabalham principalmente com a o que a gente espera é que, pelo menos,
hóspedes, como guias turísticos. As
pecuária e a bovinocultura de leite. 70% do que for utilizado aqui, saia de
famílias vão produzir alimentos típicos
Agora começam também a se ocupar dentro do assentamento”.

52 Nossa Terra - Ceará


falou dos novos desafios de execução o diretor-presidente do Instituto
assumidos para 2009, frente ao Agropolos, acrescentando que, a
Programa de Desenvolvimento partir desse ano, “passamos a
Sustentável de Territórios Rurais, enxergar o Estado dividido em 13
abordando novos planos para o territórios rurais, sete acompanha-
Programa do Biodiesel, dos pelo MDA e seis pela SDA,
Desenvolvimento Rural, Agricultura todos com atuação do Instituto.
Familiar, Pequenos Produtores e Somos executores das duas
outros. organizações”.
Marcelo Pinheiro explica que, quando
o Instituto Agropolos foi criado, em
2002, sua missão era incentivar algumas
atividades produtivas do Ceará,
principalmente fruticultura irrigada e Mais informações:
floricultura, em que nos tornamos Instituto Agropolos do Ceará,
referência nacional e internacional. Rua Barão de Aratanha, 1450,
Instituto Agropolos Mas, com o passar do tempo, o José Bonifácio, Cep. 60.050-
Instituto foi agregando serviços, 071, em Fortaleza (CE).
Marcelo Sousa Pinheiro é diretor- fazendo contratos de gestão com outras
secretarias do Estado e, a partir de
Fone: (85) 3101.1670,
presidente do Instituto Agropolos do
Ceará, Organização Social de 2007, com o advento da Secretaria de Fax (85) 3101.1679,
destaque no cenário político- Desenvolvimento Agrário (SDA), www.institutoagropolos.org.br,
administrativo, nacional e internacio- passou a incorporar novas temáticas. agropolos@agropolos.org.br.
nal, principalmente, nas áreas de “Nesse governo, a Secretaria do
Fruticultura Irrigada e Floricultura Desenvolvimento Agrário tem olhado
do Ceará. Em conversa com a equipe muito para a questão do
da Revista, o administrador de Desenvolvimento Rural, priorizando a
empresas, pós-graduado em agricultura familiar, com foco no
Controladoria e Cooperativismo, desenvolvimento sustentável”, pontua

Ceará - nossa terra 00


GENTE DA TERRA
Francisco Dalci Gomes Paz e sua
mulher, Helena da Silva Lopes, têm
seis filhos. Eles moram no assentamen-
to Boa vista há nove anos, com água
encanada e energia elétrica, que chegou
através do Projeto São José. Como eles,
todas as 28 famílias do local participam
da associação dos moradores do
assentamento Boa Vista. Eles plantam,
principalmente, milho, feijão e girassol.
Para Francisco, o trabalho na pousada
rural começou, já que ele labuta como
pedreiro na reforma da sede. “Esse
projeto aí é o nosso sonho se realizan-
do. Ele vai gerar renda e emprego para
os jovens que estão terminando os
estudos. Com isso, a gente vai poder
receber os turistas. Temos também um
projeto de horticultura orgânica. Quem
não se empregar na pousada, vai
produzir na horta, vai fornecer a
galinha caipira, o queijo, o doce”,
aposta.
Ao seu lado, a mulher, Helena, recorda
que os tempos já foram duros para eles.
“Quando a gente chegou aqui, não
tinha nada. Agora nós já temos nosso
gadozinho, já diferenciou muito.
Antes, para comprar um litro de leite,
era ruim. Hoje, graças a Deus, a gente
tem que sobra pra fazer o queijo. Eu
tiro 20 litros de leite, antes mal dava
para comprar um”.
Ela explica como a mudança foi
possível: “Antigamente a gente não
sabia o que era trabalhar em parceria
com outras instituições. Hoje, a gente
tem a Secretaria da Agricultura, tem o
apoio dos técnicos do Governo, tem o
Programa Dom Helder...” O assenta-
mento já ganhou uma escola. Helena
sonha: “Vamos levar o queijo que nós
produzimos para lá. Temos planos de
construir uma casinha para fazer o
queijo. A gente já usa a cozinha, mas
queremos um quartinho só pra isso”,
completa Francisco Gomes.

Ceará -Terra
Nossa nossa terra 55
- Ceará 00
Programa de Cisternas
Cisternas garantem acesso
à água e facilitam convívio
com o Semiárido
Programa de Cisternas

Longas caminhadas até o açude mais próximo, doenças provocadas pelo consumo
Programa de água salobra, precárias condições de higiene, extensos períodos na dependência
desenvolvido pelo de carros-pipa. Problemas como esses já não fazem parte da vida do agricultor José
Pinto de Souza, que comemora a construção de uma cisterna no terreno em que
Governo Federal em vive, na localidade de Divertido, a 40 quilômetros de Russas: “Água agora é dentro
parceria com o de casa! É só colocar o balde e trazer!” Morador antigo do local, seu José, de 67
anos, está entre os beneficiados do Programa Cisternas.
Governo do Estado A iniciativa integra uma das frentes de convívio com o semiárido e beneficia
do Ceará leva famílias de baixa renda que não possuem fonte de água ou meios para armazená-la.
Com a tecnologia simples e eficiente das cisternas de placa, está sendo possível
cisternas para melhorar a capacidade hídrica, através da captação da água da chuva. Seu José
localidades de todo considera que o projeto chegou em boa hora em Divertido. “Antes não dá nem pra
contar como era a vida aqui. A dificuldade era a maior do mundo. Eu carregava
o interior. É mais água lá do assentamento, e antes disso eu pegava no rio. Andava uns 13 km com
saúde, conforto e jumento. Era muito difícil.”
dignidade para a Construídas em regime de mutirão, com treinamento dirigido e utilização da mão
de obra local, as cisternas garantem água de boa qualidade e em quantidade
população rural de suficiente para o período da estiagem, que dura de seis a oito meses por ano. As
baixa renda. famílias aprendem não só a construir o reservatório, mas também a fazer a sua

58 Nossa Terra - Ceará


1milhão de habitantes
beneficiados com a instalação de 221mil cisternas no Semiárido

manutenção e a tratar da água. “Eu cisternas através do programa mantido diz o secretário, lembrando que dentro
ajudei a construir. Cavei os buracos, pelos governos Estadual e Federal, desse processo existe uma demanda
botei os trabalhadores para ajudar o além de 500 cisternas pelo Programa ainda maior. “Nós temos comunidades
pessoal que veio de fora. Depois Um Milhão de Cisternas (P1MC), que estão fazendo levantamento, no
chegou a professora e eu participei das lançado em julho de 2003 pela intuito de serem beneficiadas. Existem
aulas sobre os cuidados com a água. Articulação no Semiárido Brasileiro famílias que pensavam em ir embora,
Foram três dias. A comunidade estava (ASA), em parceria com o Governo mas que hoje não querem mais sair
toda junta, todo mundo apoiava, Federal. Este programa já beneficiou daqui. Água é vida. E hoje as pessoas
porque nós precisávamos mesmo”, cerca de 1 milhão de habitantes, com a têm uma fonte de vida no quintal de
recorda José Pinto de Souza. instalação de 221 mil cisternas no suas casas. Com isso a gente estimula a
Construídas com areia e cimento, cada semiárido. permanência, evitando o êxodo rural
cisterna tem capacidade para 17 mil Ambas as iniciativas vão além da por conta da falta de energia e água.
litros. Até setembro de 2009, o simples construção de obras de Hoje, sentimos o prazer dos que
Governo do Estado e o Ministério do captação de água da chuva, pois ficam.”
Desenvolvimento Social e Combate à incluem ações pedagógicas e de Na avaliação do Presidente da
Fome (MDS) pretendem construir gerenciamento do sistema pelos Federação dos Trabalhadores e
13.450 cisternas no Ceará, em 61 beneficiados. O secretário da Trabalhadoras na Agricultura do
municípios cearenses, que já estão em Agricultura de Russas, José Cândido Estado do Ceará (Fetraece), Moisés
andamento. As chuvas desse período da Silva de Freitas, informa que no Braz, o Programa Cisterna é um marco
vêm atrapalhando um pouco, mas os município uma parte dos recursos na história do sertão cearense. “Nossa
trabalhos continuam. Nossa meta é chegou ao final de 2006 e a outra parte meta é que, até 2012 todas as casas do
construir mais de 100 mil cisternas”, em 2007. O município ajuda com o semiárido cearense tenham uma
afirma Mércia Cristina Mangueira material necessário e faz todo o cisterna.”
Sales, da célula de planejamento e acompanhamento, desde a fase de
coordenação da Coordenadoria de mobilização da comunidade até o EDUCAR PARA NÃO
Programas Especiais, da Secretaria do período final da construção. DESPERDIÇAR
Desenvolvimento Agrário (SDA). “A diarreia e verminose, causada pelo Mais do que construir reservatórios, o
consumo da água sem tratamento, são objetivo é educar e envolver as famílias
UNIÃO DE ESFORÇOS, problemas que desapareceram das no processo. São elas que executam os
MULTIPLICAÇÃO DE comunidades beneficiadas. A serviços gerais de escavação, aquisição
BENEFÍCIOS população tem agora uma água mais e fornecimento da areia e da água.
Em Russas foram construídas 262 pura e limpa, o que evita as doenças”, Pedreiros locais são capacitados pelos

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Programa de Cisternas

“Depois que
saiu a cisterna
está uma beleza!”
Edimilson Guedes Simões

técnicos do programa, com remunera-


ção assegurada.
Depois de construída a cisterna, a
família aprende a zelar pelo patrimô-
nio.
“Para nós essa questão é importantíssi-
ma. Não se trata apenas de construir, cuidado, a sujeira se mistura com a com a mulher, Expedita, e a cunhada,
mas de saber usar. A cisterna é um água e fica tudo uma imundície”. Maria Maura. Eles plantam milho e
equipamento fundamental na feijão, e têm uma pequena criação de
convivência com o semiárido, e o UM NOVO FUTURO boi, porco, ovelha, cavalo e jumento.
diálogo com as famílias faz parte dos Quando seu José Pinto de Souza “Aqui a gente vive do que cria”.
benefícios do programa, que vem nasceu, em 1941, Russas já era um Uma das filhas de seu José e dona
provando que é possível haver uma centro importante do Vale do Expedita, Eleneide Maria de Souza,
parceria bem sucedida entre a Jaguaribe. “Eu nasci e me criei aqui. vive na sede do município. Ela lembra
sociedade civil e o poder público”, Tenho 13 filhos e 18 netos. Eu criei dos tempos difíceis em Divertido: “Eu
considera Cristina Nascimento, da minha família com o poder de meus mesma sofri muito carregando água de
Articulação no Semiárido Brasileiro. braços trabalhando. E sempre fui carroça. Passava o dia na roça limpan-
Na residência de José Pinto de Souza a muito feliz, mesmo com toda dificulda- do mato com enxada, apanhando
cisterna e o telhado da casa são lavados de”. Os filhos constituíram suas feijão, fazendo de tudo. Quando dava
uma vez por ano, e a tampa do próprias famílias e, hoje, seu José mora três horas da tarde, eu pegava uma
reservatório é sempre fechada para
evitar a entrada de poeira, folhas e
pequenos animais. Seu José chama a
atenção da mulher, Expedita, quando O Que é Cisterna de Placa
ela deixa a porta aberta. “Eu reclamo
A cisterna é uma tecnologia popular para a captação de água da chuva e
na mesmo hora, que é pra água ser
representa uma solução de acesso a recursos hídricos para a população
limpa né? Eu tenho muito cuidado”,
rural do semiárido brasileiro. Uma cisterna de 16 mil litros permite que
garante ele, que chamou um filho que
uma família de cinco pessoas tenha água para beber, cozinhar e escovar os
mora em Russas para ajudá-lo na
dentes durante o período de estiagem, que dura de seis a oito meses.
limpeza da cisterna.
Mais eficiente que o tipo anteriormente utilizado, a cisterna de placa é um
Ele recorda: “Ah, se você soubesse o
reservatório cilíndrico, coberto e semienterrado, que é construído perto da
que nós fizemos na primeira chuva!
residência da família, a fim de captar a água da chuva por meio de calhas
Esse meu filho veio me ajudar, porque
instaladas no telhado.
eu não podia mais subir no telhado pra
limpar. Nós varremos tudo, limpamos Os benefícios são muitos, a começar pela queda vertical dos casos de
todinho. No verão, o telhado fica verminose. A cisterna diminui a dependência aos caminhões-pipa e
pegando poeira, aparando folhas promove a educação em questões de saúde, higiene, ecologia e cidadania.
dessas árvores, cai tudo em cima dele. Também ajuda na geração de renda, já que torna o grupo beneficiado
Quando bate a chuva, se não tiver autossustentado, e favorece a fixação do homem na terra.

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carroça, botava num boi, enchia de
tambor e ia pegar água lá no assenta-
mento Santa Fé. O gado eu rebocava
Sobre o Semiárido
para o açude mais perto que tivesse”. O semiárido brasileiro é oficialmente definido pelo Ministério da
Eleneide porém, faz questão de Integração Nacional e abrange o norte dos Estados de Minas Gerais e
ressaltar: “Eu adoro esse lugar, só não Espírito Santo; o sertão da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba,
moro mais aqui por causa do meu Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, e sudeste do Maranhão.
emprego, mas a vida aqui, em vista do Estima-se que vivam aproximadamente 8 milhões de pessoas na área rural
que era antes, está uma maravilha!”. dessa região, o que a torna o semiárido mais populoso do mundo.
Dona Expedita Jacinta de Souza, a mãe,
finaliza: “Às vezes, de noite, conversan-
do na calçada, a gente fica pensando no
tanto que já sofreu por aqui. Agora,
depois de velhos, temos tudo nas mãos.
Eu digo é graças a Deus, porque não
podemos fazer o que fazíamos antes.
Agora estamos aproveitando”.

COM MAIS CONFORTO


Não muito longe de dona Expedita e
sua família, vivem Edimilson Guedes
Simões e Maria Fernandes de
Amorim. O casal tem dois filhos
pequenos. Para a família, o ano de
2008 inaugurou uma fase de mais
conforto e saúde em casa, pois eles
também estão entre os beneficiados do
Programa Cisternas. “O projeto
chegou aqui em outubro de 2007. Veio
uma equipe do governo e nós ajuda-
mos na mão de obra. Antes eu andava
muito para pegar água no açude.
Depois que saiu a cisterna está uma
beleza! A água só não sangrou porque a
casa é pequena, mas está quase cheia”,
pontua Edimilson.
Maria, sua mulher, também elogia a
iniciativa: “Para mim foi muito bom!
Antes era complicado, agora faço tudo
aqui: cuido da casa, estou perto dos
meninos, tudo melhorou”. Foi ela
quem participou do treinamento para
aprender a cuidar da água. “Até hoje eu
tenho guardado o catálogo que a
professora distribuiu. Aqui de casa, fui eu
quefizocurso.Foramtrêsdiasdeaula”.
A vida prossegue mansa em Divertido,
mas agora, a exemplo de muitas outras
localidades do semiárido, existe água
de boa qualidade ao alcance da mão.

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