Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Liderança
Objetivos
Ao completar o estudo deste capítulo, você
deverá estar preparado para explicar e exercitar
I'
as seguintes ideias:
Introdução
Liderança é palavra que tem conotação de
certa imponência, evocando personagens da
História, com qualidades sobrenaturais. No en-
tanto, as pessoas que têm liderança são comuns
em muitas situações, nas organizações e na vida
social. A capacidade de liderar é importante não
I.
i
l:I
i.
1.!
1i
Jl:'
Tm
·.·I',",
··.· ,',
Outra definição:
I ~ , i
., 11
I
I.
Liderança 283
I'
tempo e no espaço geográfico, social acredita no líder ou precisa dele. Os limites
ou organizacional. Os limites definem a da liderança definem a área de influência
jurisdição da autoridade. do líder.
! i
Autoridade formal e liderança nem sempre andam e nem precisam andar juntas. A
pessoa que ocupa uma posição de autoridade formal (a "figura de autoridade") pode não
ter liderança informal sobre seus colaboradores ou jurisdicionados e nem precisar dela.
É o caso dos agentes da lei que exercem poder de polícia. Da mesma forma, a pessoa
que exerce liderança informal sobre um grupo pode não ocupar um cargo com autori-
dade formal correspondente e nem precisar dele. Isto acontece, por exemplo, em grupos
284 Enfoque Comportamental
sociais organizados, que precisam de líderes n;:tas não de chefes: grupos de voluntários,
associações, condomínios.
II 1.2 Consentimento
('I
A ideia de seguidores de um líder pressupõe consentimento. Um elemento importante
em qualquer definição de liderança é o consentimento dos liderados. Só há liderança
quando os liderados seguem o líder espontaneamente. O consentimento pode depender da
crença na validade da missão que o líder propõe ou no desejo de receber uma recompensa
prometida pelo líder. A ideia do consentimento exclui a coerção como base da liderança.
No entanto, certos grupos baseiam-se na aceitação de um líder que é pessoalmente auto-
ritário ou personifica valores autoritários. Além disso, é difícil dizer se o consentimento
é produto das convicções dos liderados ou das habilidades de persuasão do líder.
ümsentimento, por sua vez, pressupõe identidade de interesses. A liderança ocorre
quando há identidade entre a proposta do líder e a recompensa esperada pelo grupo,
ou o problema que o grupo precisa resolver. Essa identidade cria no grupo a disposição
(ou motivação) para fazer o que o líder propõe.
Os seguidores consentem em seguir o líder porque enxergam nele a possibilidade
de resolver um problema que os afeta. Quanto mais pessoas consentem em seguir o
líder, maior é sua área de influência. A grandeza do líder mede-se mais pelo número
de pessoas a quem sua mensagem influencia, e pela forma como ele apresenta essa
mensagem, do que propriamente pelo conteúdo intrínseco da mensagem, que depende
de sintonia com as necessidades e aspirações dos liderados. Isso torna a liderança um
fenômeno localizado no tempo e no espaço. O líder que é venerado em uma localidade
pode ser (e frequentemente é) detestado em outra. A liderança também pode desapa-
recer quando desaparecem as circunstâncias que a sustentam ou justificam. Assim, há
líderes que "perdem a liderança" porque seu tempo passou. Na História, há muitos casos
de liderança que se desvanece. Um exemplo interessante é o de Winston Churchill, que
conduziu a Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial e perdeu as eleições quando
o conflito terminou.
Com base na relação entre líder e liderados, três tipos diferentes de liderança podem
ser identificados:
2 Contexto da liderança
Muitas definições de liderança parecem pressupor pessoas dotadas de virtudes ex-
traordinárias, que foram grandes condutores de pessoas, em situações também extraor-
dinárias. De fato, a liderança muitas vezes parece ser definida como uma virtude ou
qualidade singular e inata, que torna algumas pessoas diferentes, porque têm a solução
mágica para influenciar outras. Líder é sinônimo de grande homem (ou grande pessoa).
Certos candidatos a líder procuram projetar essa imagem por meio da propaganda ou
da manipulação do comportamento de seus seguidores potenciais ou reais.
No entanto, a liderança não pode ser vista apenas como habilidade pessoal, que torna
algumas pessoas mais aptas a influenciar outras. ÀB vezes, é o contrário que ocorre. Um
grupo necessita de um líder e escolhe alguém para desempenhar o papel. Em outros ca-
sos, o líder parece ser uma figura temporariamente eficaz, cujo sucesso depende apenas
da existência de uma missão. Completada a missão, o líder torna-se desnecessário e é
dispensado pelo ,grupo.
Não se deve enxergar a liderança apenas como habilidade pessoal, mas como pro-
cesso interpessoal dentro de um contexto complexo, no qual outros elementos estão
presentes. A liderança não é apenas um atributo da pessoa, mas uma combinação de
quatro variáveis ou elementos: (1) as características do líder, (2) as características
dos liderados, (3) as características da missão ou tarefa a ser realizada e (4) a con-
juntura social, econômica e política. Esta concepção da liderança está retratada na
Figura 13.2.
Em seguida, esses quatro elementos serão analisados sucintamente. Todos serão
retomados em profundidade nas partes seguintes deste capítulo.
Figura 13.2
Quatro CARACTERÍSTICAS CARACTERÍSTICAS
componentes PESSOAIS DOS PESSOAIS DO
do contexto da LIDERADOS LÍDER
liderança.
\
Motivções, \ Motivações,
necessidades, competências
competências estilo
------------------------------~~LIDERANÇA
Cultura
I
Conteúdo mora/,
calculista ou organizacional
alienatário e social
CARACTERÍSTICAS CONTEXTO
DA TAREFA OU ORGANIZACIONAL
MISSÃO E SOCIAL DA
LIDERANÇA
I~
r' I
I'
I
286 Enfoque Comportamental
I . .,'
I,,' 1 Motivações
A ligação entre os processos de motivação e liderança revela que o líder sempre é um '":,,I'
'
instrumento do grupo. O entendimento das motivações dos seguidores explica o processo ,['
social da liderança e também possibilita o desenvolvimento de líderes. Quem quiser se I•'
'i'
candidatar a posições de liderança deve aprender a transmitir mensagens sintonizadas I
I
com os problemas e interesses do grupo potencial de seguidores. ,,
··i ,,
'I
r
Outro aspecto a ser analisado no processo de liderança são as competências dos li-
derados. Quem precisa de líder? Muitos estudos e proposições teóricas sobre a liderança I
baseiam-se na premissa de que a competência dos liderados é uma variável determinante
da liderança. A competência dos liderados varia de forma proporcionalmente inversa à
liderança. Mais competência dos seguidores, menos necessidade de intervenção do líder.
Menos competência dos seguidores, mais necessário se torna o líder.
Tão importante é a competência como determinante do processo de liderança que
há uma teoria da substituição da liderança. Essa teoria diz, nada menos, que os líderes
são desnecessários, desde que as pessoas saibam cuidar de si próprias e que as condições
sejam apropriadas. A competência e a organização podem substituir a liderança, como
ocorre em certas equipes esportivas (Figura 13.3). O desempenho do grupo durante o
jogo, no final das contas, depende apenas do próprio grupo.
Figura 13.3
Competência
e organização
podem
substituir a
liderança. O
líder pode criar
essas condições
e tornar~se
dispei!Sável.
As missões que o líder propõe ao grupo podem ser classificadas em dois tipos: moral
e calculista.
1 Missão moral
A missão que apresenta um desafio ou problema para o grupo resolver tem conteúdo
moral. O líder que lança o desafio apela ao senso de responsabilidade, valores, desejos,
aptidões e habilidades ou outros fatores do comportamento dos liderados. Líderes que
desejam enfatizar o conteúdo moral de sua tarefa, em qualquer contexto, usam palavras
como missão, visão, compromisso e comprometimento. A recompensa que o liderado recebe
é nada mais do que a realização da missão (ou a tentativa de realizá-la). Lembrando o
Capítulo 5, Amitai Etzioni dá o nome de contrato psicológico do tipo moral ou compro-
metimento a esse comportamento dos seguidores. Seguidores que exemplificam esse
tipo de comportamento são: missionários, adeptos de seitas e pessoas que se dedicam a
atividades em que encontram recompensas psicológicas intrínsecas.
O envolvimento moral está associado com o poder que Etzioni chama de normativo
e com a liderança carismática. A obediência dos seguidores é fruto da crença ou fé na
norma, pessoa ou ordenação e não da expectativa de alguma recompensa ou receio de
alguma punição.
É possível que a disposição dos seguidores para se deixar influenciar dependa muito
mais do tipo de missão do que das qualidades do líder. A liderança, nesse caso, não é um
atributo do líder, mas da própria missão.
2 Missão calculista
O líder que promete uma recompensa (que pode ser psicológica ou material) em troca
da obediência dos seguidores é transacional. O líder transacional estabelece metas e oferece
'•:
,,,,
li
liI
:!
;i
Liderança 289
incentivos para sua realização. Tanto o gerente quanto Q funcionário, em uma relação transa-
dona], enxergam o trabalho como um sistema de trocas entre contribuições e recompensas.
A troca tende a ser racional, sem o fundo emocional que caracteriza a missão moral.
A relação governada por trocas entre contribuições e recompensas chama-se, segun-
do Etzioni, contrato psicológico do tipo calculista. Quando há um contrato deste tipo
entre uma pessoa e uma organização, ou entre duas pessoas, predomina entre os dois
lados alguma espécie de interesse recíproco. Pessoas que trabalham em regime diarista
e prestadores de serviços sob encomenda, e as pessoas que os contratam, de forma ge-
ral, exemplificam o contrato calculista, regido por uma relação de compra e venda. O ,I
3 A pessoa do líder
O estudo da figura humana do líder tenta entender quais comportamentos, traços
de personalidade, habilidades, atitudes e outras características pessoais são determinan-
tes de seu desempenho eficaz. Nesta parte do Capítulo 13, serão analisados os traços
de personalidade, as motivações e as habilidades do líder. Pense em uma pessoa, como
essa, que represente um líder para você, a fim de fazer a ligação entre os conceitos e a I
realidade prática da liderança.
I
AB conclusões dos estudos desse tipo não têm nenhum valor de previsão. Sabe-se
que os líderes têm determinados traços de personalidade. No entanto, as pessoas que
têm os mesmos traços não são nem se tornam, necessariamente, líderes. Além disso,
.I até hoje não se conseguiu identificar um conjunto de traços de personalidade comum
a todos os líderes. Alguns são bem-humorados, outros são rabugentos. Alguns são taci-
turnos, outros extrovertidos. Por fim, não se conseguiu demonstrar que os líderes têm
traços de personalidade diferentes dos de outras pessoas. Apesar desses problemas, o
estudo dos traços de personalidade mostra conclusões importantes. Alguns dos traços
de personalidade mais característicos dos líderes são a iniciativa nas relações pessoais e
o senso de identidade pessoal.
3.3 Habilidades
Outra linha de pesquisa focaliza a liderança como habilidade que pode ser desenvol-
vida. Um dos autores mais conhecidos dessa linha é Mintzberg, que enxerga a liderança
não como habilidade singular, mas como complexo de tarefa e habilidades.
Habilidades podem ser desenvolvidas a partir das aptidões. O estudo das habilida-
des torna a liderança uma competência acessível por meio da educação, treinamento
i'
'
Liderança 291
4 Estilos de liderança
O uso da autoridade é um tipo específico de habilidade. A habilidade no uso da
autoridade é outro foco importante no estudo da liderança. Os termos autocracia e de-
mocracia, transpostos do terreno da política para o da administração, são empregados
para definir duas formas (ou estilos) de usar a autoridade, tanto a autoridade formal,
quanto a autoridade produzida pelo consentimento dos liderados.
O estilo pode ser autocrático ou democrático, dependendo de o líder centralizar ou
compartilhar a autoridade com seus liderados. Esses estilos são reconhecidos desde a
Antiguidade clássica, assim como suas disfunções: o excesso de democracia (a demago-
gia, que consistia em buscar a popularidade com os governados) e a tirania (o abuso da
autoridade). Ao longo dos séculos, o conceito não mudou. A Figura 13.4 sintetiza esses
conceitos.
Figura 13.4
Quatro estilos .
!i
1 Autocracia
Quanto mais concentrado o poder de decisão no líder, mais autocrático é seu compor-
tamento ou estilo. Muitas formas do comportamento autocrático abrangem prerrogativas
da gerência, como as decisões que independem de participação ou aceitação. O estilo
autocrático pode degenerar e tornar-se patológico, transformando-se no autoritarismo.
Arbitrariedade, despotismo e tirania, que representam violências contra os liderados, são
exemplos de comportamentos autoritários.
lll'j
!J!i.
2 Democracia
Quanto mais as decisões forem influenciadas pelos integrantes do grupo, mais demo-
crático é o comportamento do líder. Os comportamentos democráticos envolvem alguma
espécie de influência ou participação dos liderados no processo de decisão ou de uso da
autoridade por parte do dirigente.
Pesquisadores e praticantes da administração há muito vêm fazendo perguntas como
as seguintes, a respeito dos estilos de liderança:
Apesar de continuar sem uma resposta definitiva, essa questão deu origem a inúmeras
tentativas de explicar as categorias básicas de estilos de liderança e de indicar formas
de utilizá-los corretamente.
Uma ideia bastante disseminada sobre os estilos de liderança coloca dois comporta-
mentos - autocracia e democracia - como pontos opostos de uma escala. Tannenbaum
e Schmidt são dois autores que desenvolveram a ideia de uma "régua" dos estilos de
liderança, dentro da qual a autoridade do gerente e a liberdade dos integrantes da equipe
se combinam. Conforme a autoridade se concentra no líder, a autonomia do liderado
diminui, e vice-versa (Figura 13.5).
Figura 13.5
Liderança orientada Liderança orientada
Modelo de
para o chefe para os subordinados
liderança de
Tannenbaum e
Uso da autoridade
Schmidt.
pelo gerente
Área de Iiberdade dos
subordinados
D D D D D D D
O gerente O gerente O gerente O gerente O gerente O gerenteO gerente
decide e "vende" a apresenta apresenta apresenta define permite
comunica decisão ideias e uma o limites, que a
a decisão promove decisão problema, equipe
dentro dos
debates possível, pede quais o trabalhe
sujeita a sugestões grupo sozinha
mudança e toma a decide dentro dos
decisão limites
_____./
~
Amplitude do comportamento
Liderança 293
Figura 13.6 - -
ESIILO ORIENTADO PARA AS PESSOAS ESTILO ORIENTADO PARA A TAREFA
Do L' estilos
(DEMOCRÁTICO) (AUTOCRÁTICO)
bdsicos de
liderança.
• Estilo pessoas • Estilo tarefa
'·
'
! :'
as pessoas acredita que o processo administrativo deve procurar criar um clima em que
as pessoas sintam-se confortáveis. O líder orientado para pessoas tende a apresentar os
seguintes comportamentos:
Figura 13.7
Democracia e
autocracia não D
são dois estilos E
mutuamente M
exclusivos, mas o
comportamentos c
que se R
combinam. A
c Orientação
DEMOCRACIA para TAREFA
I
A
I___ AUTOCRACIA
Figura 13.8
Eficácia e
ineficácia estão ______E_sT_IL_o__TA_R_E_F_A____~I
Lc= j ESTILO PESSOAS -~
associadas aos
<fl
dois modelos • De forma geral, o estilo tarefa • De forma geral, o estilo
básicos de ~ tem efeito positivo sobre o pessoas tem impacto positivo
z
liderança. u.J<f) desempenho da tarefa. sobre a satisfação das pessoas.
~u.J
<(N
r-< • Dirigir a tarefa e manter • Reforçar o espírito de equipe é
t>'':d
0"-
o._"-' distanciamento social são um comportamento específico
~ comportamentos associados associado à eficácia do líder.
o à eficácia do líder. 'i
u
---
<fl
~
Z<fl
u.J u.J
• O comportamento autocrítico, • A permissividade ou
~~ que restringe a autonomia do demagogia diminui a
;:ôu
t>'Ü: subordinado, resulta na satisfação e a produtividade.
ow
o._Z ineficácia do líder.
~-
0
u
296 Enfoque Comportamental
Figura 13.9
Grade gerencial :;;::"" 1,9 9,9
~
~
6
o
~
~
'" 5,5
Q)
0.. Administração do tipo 11 funcionário":
~
5 o desempenho adequado da organização é
'c"
Q) alcançado por meio do eqt,~ilíbrio entre a
~
3
1'1 9,1
Administração precária: Autoridade e obediência:
2
a permanência como membro da a eficiência das operações é produto de um
organização requer um mfnimo de esforço sistema de trabalho no qual a interferência
para fazer o serviço. do elemento humano·é mfnima.
2 3 4 5 6 7 8 9
Baixa ~nfase na produção-------~ Alta
De acordo com Blake e Mouton, melhor é o estilo qu(lnto mais se aproximar da possi-
I,
bilidade "9-9", ou quanto mais o comportamento do líder for o de um gerente de equipe.
Depois de alcançar grande repercussão, o modelo de Blake e Mouton foi criticado por ,•
li,,
causa de sua proposta de um comportamento que funcionaria bem em qualquer situação.
Não há um estilo que seja melhor que os outros, qualquer que seja a situação, diziam
os críticos. A ideia de que a eficácia do estilo é condicionada pela situação resultou no
desenvolvimento de diversas teorias da liderança situacional.
5 Liderança situadonal
Para ser eficaz, o estilo tem que se ajustar à situação - é a essência das teorias da
liderança situacional. Porém, nenhuma das teorias da liderança situacional consegue dar
explicação definitiva para a questão da eficácia do líder. Todas as ideias a esse respeito
têm seus defensores e críticos. Em seguida, serão analisadas as principais hipóteses a
respeito da liderança situacional, apontando seus pontos fortes e suas fragilidades.
O principal problema que a teoria da liderança situacional procura resolver é des-
cobrir qual estilo ajusta-se a qual situação. Para isso, é preciso resolver outro problema:
como avaliar a situação?
• A liderança orientada para a tarefa é eficaz nas situações que são muito favo-
ráveis ou muito desfavoráveis para o líder.
• A liderança orientada para as pessoas é eficaz nas situações de dificuldade
intermediária.
é jamais imaturo de forma completa, porque pode dominar diferentes tarefas de forma
diferente.
Quanto mais maduro o seguidor, menos intenso deve ser o uso da autoridade pelo
líder e mais intensa a orientação para o relacionamento. Inversamente, a imaturidade
deve ser gerenciada por meio do uso "forte" da autoridade, com pouca ênfase no relacio-
namento. Segundo Hersey e Blanchard, esta ideia principal divide-se em quatro estilos
ou formas de liderança, conforme mostra a Figura 13.10:
Figura 13.10
Modelo de
liderança
Estilo do líder
situacional
de Herseye
Blanchard.
r
o
-o o Muito. relacionamento, •r&' Mui ta tarefa,
"'-
-ai c(!) pouca tarefa ~
·$:
muito relacionamento
·g ~ & E3
o c o.."'
·c .Qu
(!)
E.!;!
-e"' i'!o
o"-~
"' E4 E1
E "'
o "-
u
1 Pouco relacionamento,
pouca tarefa
Muita tarefa,
pouco relacionamento
8=>
o
0..
Comportamento orientado
Pouco «----- ---~ Muito
para a tarefa
.I
I
,i:
• E1: Comando. Este estilo, adequado a pessoas com baixo nível de maturidade,
prevê alto nível de comportamento orientado para a tarefa, com pouca ênfase
no relacionamento. Um comportamento específico neste caso é dar ordens e
reduzir o apoio emocional.
1
'
' .1''
,,
'
300 Enfoque Comportamental
., .. ,1 Esses pontos resumem grande parte das críticas que sofrem todas as teorias da lide-
I'',
I''' rança. Em essência, todas as teorias recebem críticas quando tentam estabelecer receitas,
1::' !1:11
I' ;::;:
e são elogiadas quando propõem princípios, como o próprio princípio da liderança situ-
(I' acional, ou o princípio de que a liderança deve ser flexível, ajustada à situação.
'1·:
,,h:I·
il
:,:li 6 Liderança carismática e liderança transacional
:':·H'
1:::1
1: ',1
i·!;!'· Todos os modelos de liderança estudados até este ponto baseiam-se no comporta-
"'i' mento do líder em relação aos liderados. São modelos que dependem da ideia de que a
autoridade pode ser mais orientada para a equipe de colaboradores (democracia) ou mais
'1, orientada para o próprio líder e para a execução da tarefa (autocracia). Os outros modelos
':
de liderança, mencionados no início deste capítulo, baseiam-se no tipo de recompensa que
··: l:
! :!'' o líder oferece aos seguidores. São modelos que analisam o estilo motivacional do líder.
!i''
i li,
I I
!·
li;
li·'i I
1
1.'
l
Liderança 301 !il
1:;1,
:',,1:.
Na passagem para o século XXI, o estudo da liderança focaliza o estilo motivacional, :1!!
!.
identificando dois tipos de líder: o carismático e o transacional. A Figura 13.11 apresenta
uma síntese dos dois tipos.
Figura 13.11
Uma síntese das
características
da liderança Lfder inspirador Líder negociador
carismática e
da liderança Lfder transformador Liderança baseada na promessa de recompensas ' i
transacional.
Lfder revolucionário Liderança manipulativa
Agente de mudanças
Lfder renovador
·I:
1:
6.1 Liderança carismática li
Carisma significa dom divino, que causa forte impressão nos seguidores. Normal-
mente, sugere santos, heróis e personagens extraordinários. Entretanto, as características
pessoais associadas à ideia de carisma são muito humanas e relativamente bem distribuí-
das, a ponto de o estudo da liderança carismática ser um ramo importante do enfoque
comportamental na atualidade. Outras designações do líder carismático são:
o Promoções.
o Aumentos salariais.
o Autonomia e liberalidade no uso do tempo.
o Atendimento de solicitações relacionadas a transferências, designação para
outros projetos e dispensas.
suas tarefas. Há seis níveis hierárquicos entre o soldado de infantaria e o coronel que co-
!!
manda um regimento. No entanto, quando a ação começa, a hierarquia entra em colapso, .i
para ser substituída por um sistema situacional. Em todos os níveis, os marines podem
tomar decisões sem consultar a cadeia de comando. Até mesmo os soldados sabem que
devem tomar a iniciativa necessária para completar uma missão.
Para poder delegar decisões críticas de combate aos níveis inferiores, os marines dão
muita atenção às habilidades das pessoas que recebem essa responsabilidade. Seleção
e treinamento estão entre as prioridades mais altas. A melhor oportunidade de carreira
para um oficial- o posto mais dificil de conseguir, e que, certamente, poderá levá-lo ao
topo - é selecionar e treinar novos marines.
A primeira experiência de um candidato a oficial dos marines (a menos que seja
oficial da Marinha americana) é a Escola de Candidatos a Oficial (OCS, Officer Candidate
School). "Escola" é eufemismo, já que a OCS não ensina nada a suas "vítimas". Seu papel
é fazer passar pela peneira aqueles que não têm o estofo certo. Basicamente, a escola .,
consiste de uma entrevista de emprego. A entrevista dura dez semanas de sete dias de 24 I
I
horas. O comandante da escola acha ridículo gastar esse tempo para avaliar um gerente
em potencial. "É insuficiente", disse ele em tom de brincadeira.
Os candidatos passam por muitos desafios físicos e acadêmicos na OCS. A qualida-
de mais observada, no entanto, é aquilo a que os marines chamam constante e, quase
casualmente, de liderança. "Não tem definição", diz o comandante da escola. "Nosso
trabalho é reconhecê-la."
Seja qual for o significado, a OCS coloca a liderança em evidência, submetendo os
candidatos a uma série de problemas práticos. Um dos exercícios consiste em levarem
um camarada ferido, atravessando um campo minado, com o uso de cordas e tábuas.
Em outro exercício, têm que escalar uma parede aparentemente insuperável. Enquanto ,I.i
I
li'
A solução do problema em si não conta muito. O comandante da escola pergunta, illi
para exemplificar as habilidades realmente procuradas: ,,
:li
!I
I
I
• Quem assume o comando? Quem pede sugestões aos outros? Quem reconhece :1'
que um plano falhou e recomeça tudo?
1
:1 I.
Baseado em Corps Values, matéria de David H. Freedman. Inc., Aprill998, p. 54w66. Consulte também <www.inc.com/
incmagazine/archives/0498054l.html>.
1/
i'
1
1. . .
1' I
i i .
304 Enfoque Comportamental
Quando a fumaça se dissipa, cerca de 25o/o dos candidatos são eliminados. Os apro-
vados vão para a Escola Básica, um curso de seis meses destinado a transformar tenentes
em oficiais dos marines. A escola distingue-se de outras instituições de treinamento por
preferir desenvolver a liderança, em vez de ensinar habilidades específicas. Sua filosofia
é treinar alunos para saber como funciona a organização, e entender e motivar pessoas.
A metodologia é expor os alunos à maior quantidade possível de cenários, para que o
cérebro aprenda a reconhecer padrões que possa aplicar a situações novas.
Tomar decisões com informações insuficientes, sabendo que vidas estão em risco,
é muito desconfortável. A indecisão, no entanto, é considerada fatal. É pior do que to-
mar uma decisão medíocre. O compromisso dos marines com a decisão tem raízes em
sua missão de 200 anos: uma tropa de assalto rápido não perdoa os estilos gerenciais
autocráticos e burocráticos. Para realizar uma missão, os marines definem um "estado
final". O estado final é um objetivo razoável e mensurável, que define as capacidades do
grupo e seu entendimento dos obstáculos. O estado final é um conceito crítico, porque,
via de regra, os marines não fornecem detalhes a seus subordinados. Eles apenas dizem
qual é a situação agora e como querem que termine, deixando os detalhes da ação aos
executores. A razão para isso é o desdobramento rápido dos eventos no tipo de ambiente
em que os marines trabalham. Os meios particulares para realizar uma tarefa podem
tornar-se inviáveis de repente. Se, no entanto, o objetivo for bem compreendido, os
meios são indiferentes.
Uma vez escolhido o estado final, o grupo propõe três cursos de ação para o co-
mandante, que tem a prerrogativa da última decisão. No entanto, o desacordo é não
apenas permitido, mas praticamente exigido. Esse é o pensamento padrão dos marines:
homens e mulheres, soldados e oficiais, todos devem manifestar suas dúvidas a respeito
de decisões e ordens questionáveis. Um dos maiores erros que um oficial pode cometer
é ignorar esse questionamento.
O treinamento para decidir inclui visitas aos escritórios de investimento em Wall Street,
onde se aprende a tomar decisões com base em informações produzidas por bancadas
de monitores. Esse pode ser exatamente o cenário que os oficiais enfrentarão no futuro.
Outra ideia que vem sendo discutida é a prática, da Segunda Guerra Mundial, de re-
crutar gerentes civis e promovê-los a coronéis. Os marines admitem que o mundo exterior
tem competências e soluções gerenciais que atendem a suas necessidades. Afinal, há pelo
menos um ponto em comum entre os marines e o mundo dos negócios: competição dura.
Questões
4. As organizações militares são cercadas pelo mito da. hierarquia, segundo o qual as
ordens não podem ser questionadas pelos subordinados. Quais são, em sua opinião,
as vantagens e desvantagens de estimular o espírito crítico e o questionamento das
decisões nas organizações?
S. Algumas pessoas argumentam que a disciplina, nas organizações militares conven-
cionais, não é verdadeiramente disciplina. Trata-se apenas de obediência cega. Em
sua opinião, disciplina é diferente de obediência?
I
I :
'
:
BLAKE, Robert R.; MOUTON, Jane S. The managerial grid. Houston: Gulf, 1964.
DELUGA, Ronald J. The relationships of leader-member exchanges with laissez-faire, transac-
iiJ
tional, anel transformationalleadership in naval environments. CLARK, Kenneth E.; CLARK, 'li
Miriam B.; CAMPBELL, David P. Greensboro: Center for Creative Leadership, 1992. p. 237-247. ''I
ETZIONI, Amitai. Análise comparativa das organizações complexas. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.
HERSEY, Paul; BLANCHARD, Kenneth H. Management of organizational behavior. Englewood
Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1972.
LEWIN, Kurt. Experimentos com espaço social: problemas de dinâmica de grupo. São Paulo:
Cultrix, 1970.
LOHMAN, David. The impact ofleadership on corporate success. CLARK, Kenneth E.; CLARK,
Miriam B.; CAMPBELL, David P. Greensboro: Center for Creative Leadership. 1992. p. 59-80.
MAIER, Norman R. E Psychology in industrial organizations. 4. ed. Bastou: Houghton-Mifflin,
1973.
MASSIE, Joseph L.; DOUGLAS, John. Managing. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1992.
McCLELLAND, David C. The achieving society. Princeton: Van Nostrand, 1961.
McGREGOR, Douglas. The human side of enterprise. New York: McGraw-Hill, 1960.
MINTZBERG, Henry. The nature of managerial work. New York: Harper & Row, 1970.
PLUTARCO. Vidas paralelas. São Paulo: Paumape, 1991.
PETRACCA, Orazio M. Liderança. In: BOBBIO, Norberto et aL Dicionário de Polltica. Brasília:
I i
Editora Universidade de Brasília, 1992.
li
PRENTICE, W. H. C. Understanding leadership. Harvard Business Review (16.511), Sept./Oct.
:'1
1961.
1:,
SIMS JR., Henry P.; LORENZI, Peter. The new leadership paradigm. Thousand Oaks: Sage, 1992.
p. 293.
li
TANNENBAUM, Robert; SCHMIDT, Warren H. How to choose a leadership pattern. Harvard
Business Review, p. 166, May/June 1973. li
Corps Values, David H. Freedman. Inc., April 1998, p. 54-66. Disponível em: <www.inc.com/
li
incmagazine/archives/04980541.html>. .,.il