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VENDA PROIBIDA | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Pesquisa ANO XII | N° 44 | DEZEMBRO 2018

Para proteger a vida


marinha no litoral
Pesquisa realizada na Restinga da
Marambaia avalia o impacto do
vazamento de petróleo
em áreas de manguezais

Um plano de saúde do
tamanho do seu bolso
Startup cria plataforma na Internet
que compara planos e oferece
opções personalizadas de
assistência privada à saúde

GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO | SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO SOCIAL
SUMÁRIO

10

3 | TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Startup voltada para a área médica
cria plataforma na Internet que
compara planos e oferece opções 13
personalizadas de assistência privada
à saúde

6 | ENSINO 20 | DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA


Documentário produzido pelo Rio recebe a sexta edição do Science
Observatório Jovem do Rio de Slam, da Euraxess, iniciativa da
Janeiro, da UFF, reúne depoimentos União Europeia para fortalecer a
de jovens adultos que decidiram colaboração científica entre o Velho
voltar a estudar, e da relação deles Continente e o resto do mundo
com a escola
23 | BIOCIÊNCIAS
10 | NUTRIÇÃO Estudo interinstitucional associa a cor
Com previsão de término em 2020, da casca do ovo do Aedes aegypti
projeto de pesquisa em rede fará com sua sobrevivência em locais
um amplo diagnóstico do estado secos
nutricional de crianças com até cinco
anos de idade no País
26 | JOVENS TALENTOS
IFRJ Niterói recebe última etapa da
13 | REPORTAGEM DE CAPA XIX Jornada do Programa Jovens
Estudo realizado na UFRJ avalia o Talentos, que contribui para o
impacto do vazamento de petróleo despertar de vocações para a ciência
em áreas de manguezais. Na entre os jovens
pesquisa, sementes foram coletadas
no preservado manguezal da
Restinga da Marambaia 29 | MATEMÁTICA
Associado a uma rede de antenas
mundiais, portal administrado pela
16 | HISTÓRIA UFF contribui para despertar o gosto
Livro Cartografias da Cidade (In) pela Matemática entre os estudantes
Visível investiga o acesso à cultura
escrita e à educação dos setores 32 | EDITORAÇÃO
populares no Rio de Janeiro imperial Principal programa de apoio à
edição de livros e obras digitais e
audiovisuais da FAPERJ, o Auxílio
à Editoração (APQ 3) atinge a
maturidade em 2018, ao completar
23 18 anos

Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII | 1


CARTA AO LEITOR

A
s dificuldades fiscais e eco- cadeia produtiva, e as inovações tec-
nômicas por que passa o nológicas possam oferecer soluções SECRETARIA DE
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E
DESENVOLVIMENTO SOCIAL
Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo
à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

País desde meados dos anos para os entraves que nos impedem de
2010 tiveram reflexos também no alavancar o crescimento econômico e,
nível dos investimentos em Ciência, consequentemente, alcançar níveis de Governo do Estado do
Tecnologia e Inovação (C,T&I) ao desenvolvimento humano similares Rio de Janeiro
longo dos últimos anos. Enquanto aos de nações mais ricas. Do contrá- Governador:
em alguns países a receita para com- rio, o País continuará a depender do Luiz Fernando de Souza Pezão
bater a desaceleração do crescimento capital e dos investimentos externos,
foi justamente aumentar o fomento pagando royalties pela transferência Secretaria de Estado de Ciência,
Tecnologia e Desenvolvimento Social
a pesquisas que pudessem orientar de tecnologia e pela exploração de
novas políticas para superar garga- marcas e patentes. Para nós, da Rio Secretário:
Gabriell Carvalho Neves Franco dos Santos
los e obstáculos – por exemplo, na Pesquisa, a inauguração de um novo
infraestrutura e no desenvolvimento ano, encerrando um ciclo eleitoral de
Fundação Carlos Chagas Filho de
social –, o que se viu por aqui foi um alcance nacional, traz um sopro de Amparo à Pesquisa do Estado do
contingenciamento de verbas que esperança de que o Brasil e o estado Rio de Janeiro – FAPERJ
prejudicou sobremodo o andamento do Rio de Janeiro encontrem nova- Presidente:
de importantes estudos que vinham mente o caminho do crescimento e Gabriell Carvalho Neves Franco dos Santos
sendo realizados nas instituições que coloquem a Ciência, Tecnologia e
Diretora Científica:
se dedicam à pesquisa em C,T&I em Inovação no centro de uma política Eliete Bouskela
solo nacional. Diante desse nosso de desenvolvimento nacional que per-
Diretor de Tecnologia:
cenário, é imperativa a construção mita a construção de um país melhor,
Mauricio Guedes
de um Sistema Nacional de Ciência mais democrático, justo e inclusivo.
e Tecnologia que ofereça a gestores e Boa leitura! Diretora de Administração e Finanças:
pesquisadores as condições para que o Ana Paula T. Fernandes da Rocha
Paul Jürgens
conhecimento gerado em universida- Coordenador do Núcleo de Difusão
des e centros de pesquisa chegue até a Científica e Tecnológica (NDCT)
Rio Pesquisa. Ano XII. Número 44
Foto: Lécio Augusto Ramos
Dezembro/2018

Coordenação editorial e edição:


Paul Jürgens
Redação:
Débora Motta, Juliana Passos
e Paula Guarimossim
Diagramação:
Mirian Dias
Revisão:
Katia Martins
Periodicidade:
Quadrimestral

Foto de capa:
Diego Baravelli

Av. Erasmo Braga, 118/6° andar - Centro


Rio de Janeiro - RJ - CEP 20020-000
Tel.: 2333-2000 | Fax: 2332-6611

riopesquisa@faperj.br
A educação científica nos anos da formação estudantes na sociedade. Parceria do Cecierj
escolar básica é, na opinião de quem pesquisa com a FAPERJ, o programa Jovens Talentos As opiniões expressas em
o assunto, a melhor porta de entrada para realizou em 2018 mais uma de suas Jornadas artigos de colaboradores e
o universo da Ciência entre os jovens, Científicas, que premiou, entre outros, João
pesquisadores convidados são de
despertando carreiras e abrindo caminho e Carlos (foto), que ficaram em 2º lugar na
para uma participação mais inclusiva desses categoria “Exatas”. Confira à pág. 26. responsabilidade de seus autores

2 | Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Quanto você pode Startup cria


plataforma na
investir na sua saúde? Internet que
compara planos
e oferece opções
personalizadas de
assistência privada
à saúde
Paula Guatimosim

D
ecidir qual a melhor escolha
de plano de saúde para am-
parar a família e a cobertura
ideal que caiba no orçamento tem sido
tarefa árdua para um crescente número
de brasileiros ao longo das últimas
décadas. E foi exatamente essa dificul-
dade, em comparar e escolher planos
de saúde com melhor custo-benefício,
que motivou Pedro Macharoto a criar
a startup Consultorio.com. Trata-se
da “primeira solução brasileira 100%
digital de recomendação e contratação
de plano de saúde”, nas palavras do
fundador da plataforma.
Ele explica que, na maioria das vezes,
o interessado em contratar o serviço de
saúde é atendido por um representante
de uma corretora, vinculada a uma
ou mais administradoras de planos
de saúde, que apresenta planilhas pa-
drões e, muitas vezes, não esclarece
todas as dúvidas do potencial cliente.
E o mais grave, alerta Macharoto, é
a possibilidade de fraudes de todo
tipo. “Pode até acontecer de a pessoa
contratar o plano, pagar ao corretor, e
depois descobrir que o contrato nem
Foto: Divulgação

Página inicial do programa, no celular: objetivo


é oferecer escolha de planos de saúde com
melhor custo-benefício

Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII | 3


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Foto: Divulgação
de saúde disponíveis no mercado. precisam de um atendimento de
Quanto à possível insegurança de qualidade e não podem pagar quan-
usuários em realizar compras via to aos médicos, que podem atender
Internet, ele alerta que o sistema pelo mesmo valor da consulta pago
online, na verdade, oferece mais pelos planos de saúde.
segurança, pois evita o erro humano
Estimativas do ano de 2016 in-
e fraudes na corretagem.
dicavam que o valor de mercado
Mas nem tudo é virtual. A Consul- dos planos de saúde era de R$ 5,3
torio.com disponibiliza atendentes bilhões. O CEO da Consultorio.com
e canais de contato específicos calcula que os potenciais clientes,
para o pós-venda. O empreendedor que poderiam se interessar em
explica que os valores oferecidos acessar a plataforma, representam
são os mesmos da tabela pratica- 32% deste mercado e, se conquis-
da pelas operadoras de planos de tados, equivaleriam a uma fatia de
saúde no mercado e a comissão de R$ 1,7 bilhão. Segundo ele, com a
comercialização, paga pelo plano validação do MVP (Minimum Via-
de saúde ao corretor, é igual a do ble Product), ou seja, do protótipo,
modelo tradicional, ou seja, de uma a Consultorio.com captou mais de
Pedro Macharoto: de acordo com o a três mensalidades ou, dependendo R$ 600 mil de 11 investidores anjo,
empreendedor, trata-se da primeira iniciativa do contrato, até 5% ao mês. A meta R$ 96 mil repassados pela FAPERJ
brasileira 100% digital de recomendação e
contratação de plano de saúde de Macharoto é digitalizar todo o via Programa Startup Rio, e que o
processo até o final de 2018, via- ROI (retorno do investimento) na
foi feito, amargando prejuízo”, diz bilizando a inclusão – via platafor- largada foi de 160%. Entre julho
o empreendedor. Segundo ele, que ma – de toda a documentação, da e agosto a plataforma fechou 20
passou pela experiência tradicional declaração de saúde e do contrato vendas 100% digitais. “Começar
de contratação de plano de saúde, assinado pelo cliente. Segundo ele, o negócio com ROI positivo e
no modelo tradicional disponível a Agência Nacional de Saúde Su- ticket médio maior que o custo de
há poucas informações online; plementar (ANS) já reconhece o captação do cliente é muito positi-
o atendimento – por telefone ou login do usuário como assinatura, vo, e acredito que é muito viável
presencial – muitas vezes é des- a exemplo do que ocorre nos mo- dobrarmos ou triplicarmos esse
qualificado; muitos corretores não dernos bancos digitais. ROI”, afirma, otimista. Com uma
querem ou realmente não entendem equipe de nove pessoas, que inclui a
Macharoto diz que seu objetivo é
as necessidades dos clientes; infor- presença de profissionais das áreas
“curar as dores do acesso à saúde”.
mam apenas as opções existentes, e, de Engenharia, Economia, Admi-
Dores, segundo ele, ocasionadas
por fim, o interessado precisa fazer nistração e Biomédica, a empresa
pelos mais variados infortúnios, ex-
as comparações e análises por conta está pronta para crescer, “investindo
periências negativas e dificuldades
própria. mais em marketing, testando novos
de todo tipo. Com bagagem de três
segmentos – como o de microem-
O CEO da Consultorio.com diz modelos de negócios anteriores,
presários –, transformando o ser-
que o diferencial do seu produto é ele almeja uma meta bem mais
viço 100% self service de ponta a
a conveniência, pois tudo é feito via ambiciosa, a de criar um modelo
ponta, e viabilizando a cotação em
plataforma. Além disso, o serviço de clínica popular e levar serviço
20 minutos”, diz Macharoto.
oferecido é personalizado, pois o médico de qualidade àqueles que
cliente responde a algumas per- não podem pagar um plano de saú- A Consultorio.com foi contem-
guntas, o sistema avalia seu perfil e de. Para tanto, já iniciou a criação plada no programa Startup Rio
indica o produto mais adequado às de uma rede de médicos de diversas de Apoio à Difusão de Ambiente
suas necessidades. Outra vantagem, especialidades, clínicas e presta- de Inovação em Tecnologia Di-
de acordo com Macharoto, é a trans- dores de serviços como exames, gital no Estado do Rio de Janei-
parência, já que o sistema disponi- terapias complementares etc. Dessa ro – uma iniciativa conjunta da
biliza os valores de todos os planos forma, espera ajudar tanto aos que FAPERJ, com a Secretaria Estadual

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TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

de Ciência, Tecnologia, Inovação e mo depois da apresentação, tanto


Desenvolvimento Social (Sectids) a YC quanto a rede de ex-alunos
e o Sebrae. Agora, tem uma nova continuam a trocar experiências e
oportunidade para acelerar ainda se amparar indefinidamente.
mais os negócios após o pitch que
“Espero ampliar minha rede de
fará na aceleradora Y Combinator
relacionamento, trocar ideias com
(YC), em dezembro, em São Fran-
pessoas de diversas partes do mun-
cisco (EUA). Esta breve apresen-
do, ter acesso a uma maior rede
tação representa a última fase do
de investidores e repassar essa
processo seletivo da YC. Segundo
experiência para a rede de startups
Macharoto, se ele for aprovado
brasileiras”, diz Macharoto.
nesta entrevista presencial, em ja-
neiro voltará para a Califórnia, onde Empreendedor: Pedro Macharoto
permanecerá três meses recebendo Empresa: Consultorio.com
Fomento: edital Startup Rio de
consultoria na maior aceleradora do
Apoio à Difusão de Ambiente de
mundo. Criada em 2015, a YC já Inovação em Tecnologia Digital
financiou quase 2.000 startups, ava- no Estado do Rio de Janeiro
liadas em cerca de US$ 100 bilhões,
entre elas a Airbnb, e gerou mais de
28 mil empregos. A cada semestre a
aceleradora investe US$ 150 mil em
empresas iniciantes com boas ideias
e, além do financiamento, oferece
consultoria em negócios. Cada ciclo
culmina no Demo Day, quando as
startups apresentam suas empresas
a um público selecionado. E mes-

Serviço personalizado: o cliente


responde a algumas perguntas,
o sistema avalia o seu perfil
e indica o produto mais
adequado às suas necessidades

Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII |


Ri 5
ENSINO

Pelo direito
à educação
Documentário Débora Motta faixa etária dos alunos escolhidos
como personagens. O nome do
produzido pelo filme também funciona como um

N
o depoimento de cada jogo de palavras que busca destacar
Observatório aluno, uma lição de vida
e um recorte preciso da
o esforço extraordinário de jovens
que insistem em perseguir o direito
Jovem do Rio de realidade social de jovens adultos à educação. São pessoas que estão
que decidiram voltar a estudar, e além da idade escolar convencional,
Janeiro reúne da relação deles com a escola. Esse pois tiveram que se afastar do co-
é o espírito do documentário Fora
depoimentos de de Série, longa-metragem produ-
légio por diversas questões, como
a imposição familiar para trocar os
zido pelo Observatório Jovem do
jovens adultos estudos pelo trabalho para ajudar
Fotos: Divulgação/Fora de Série

Rio de Janeiro, grupo de pesquisa no sustento da casa, o racismo, a


que decidiram “coordenado pelo professor Paulo
Carrano, da Faculdade de Educação
gravidez na adolescência, o uso
de drogas e a violência domésti-
voltar a estudar, e da Universidade Federal Flumi-
nense (UFF). Carrano é Cientista
ca. “O filme reúne depoimentos
de 13 jovens adultos no Ensino
da relação deles do Nosso Estado da FAPERJ. O Médio, todos entre 23 e 29 anos”,
filme é produto de uma pesquisa diz Carrano. Como uma colcha de
com a escola com estudantes do Ensino Médio retalhos, o filme apresenta, a partir
na modalidade Educação de Jovens das subjetividades presentes nos
e Adultos (EJA) de 13 escolas relatos dos estudantes, um olhar
públicas estaduais, localizadas no nu e cru sobre a evasão escolar, e
município do Rio. faz pensar sobre os processos de
O documentário foi denomina- inclusão social que precisam ser
do Fora de Série em alusão à construídos no País.

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ENSINO

Foto: Reprodução

do estudante-trabalhador-pai, que
ajuda a fechar a loja onde trabalha,
Os personagens são protagonistas
durante o dia, e segue de metrô
de suas próprias histórias e revelam
lotado para estudar à noite. “Estão
suas trajetórias de escolarização e
vendo, esta é a vida do trabalhador
seus percursos biográficos. “Eu fui
brasileiro”, diz ele, assumindo o
engolido pelo mundo, pelos erros
papel de um repórter.
da vida, e o mundo te engole se
você não souber andar”, ponde- Outra personagem, Clarice Santos,
ra um deles, Jhonata Barbosa, ao de 29 anos, conta como a neces-
lembrar como foi difícil superar os sidade de trabalhar na roça até os
obstáculos que precisou enfrentar 15 anos para ajudar a sustentar a
quando chegou do Nordeste no Rio família foi o fator determinante
e teve que largar a escola. Em outro para que ela deixasse os bancos
trecho, o filme acompanha a rotina escolares. “Teve um dia (...) que eu

Clarice Santos, em cena do filme: a


estudante conta que teve que
abandonar a escola para trabalhar

Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII | 7


ENSINO

Fotos: Divulgação/Fora de Série e Camilla Shaw


com a realização de uma investiga-
ção quantitativa. Um questionário
foi aplicado junto a cerca de mil
alunos de escolas públicas do Rio
– jovens e adultos e da modalidade
EJA. Depois dessa etapa, foi reali-
zada uma pesquisa qualitativa, mais
detalhada, com alguns estudantes, e
só então foram escolhidos os per-
sonagens que participam do filme.
“O filme revela narrativas de jovens
que denunciam um sistema escolar
que pouco dialoga com seus desa-
fios como, por exemplo, a falta de
assistência com transporte escolar,
a conciliação com estudos e tra-
balhos, a relação com professores
desmotivados e escolas pouco de-
mocráticas. Mas, que também dão
testemunho de que a escola e muitos
professores podem ser porto seguro
e suporte para a superação dos de-
safios que enfrentam na retomada
da escolarização. São assim jovens
que seguem apostando na escola
e que resistem na busca de seus
direitos a uma educação pública
de qualidade”, destaca Carrano. “O
projeto de pesquisa e a realização
do documentário tiveram como
base a ideia de que é indispensável
escutar o jovem para que a escola
melhore. Se a gente escutar mais
No alto, personagens do filme discutem sobre os desafios do cotidiano escolar; acima, o os alunos, a escola pode melhorar”,
diretor Paulo Carrano fala no lançamento do Fora de Série, realizado no Cine Arte UFF
conclui Carrano.
Uma das pesquisadoras que partici-
peguei minha mochila e botei nas conversa; exercícios de análise fo- param da realização das entrevistas,
costas. Quando botei o pé fora de tográfica; diários de bordo visuais, Ana Karina Brenner, professora
casa meu padrasto veio. Ele disse: os entrevistados receberam câmeras da Faculdade de Educação da
‘Tu vai pra onde?’ ‘Papai eu vou para contarem suas histórias; e seus Universidade do Estado do Rio de
pro colégio, eu vou pra escola’. Ele cotidianos foram acompanhados. Janeiro (Uerj), acrescenta: “Acho
falou: ‘Pode tirar a bolsinha das Segundo o professor, Fora de Sé- que o filme vai ajudar gestores e
costas, pode guardar a mochila e rie pode ser considerado um filme educadores a pensarem sobre a
trabalhar’”, diz, em uma cena do dentro de uma pesquisa (ou vice- realidade da educação dos jovens
documentário. -versa), como destaca a sinopse e adultos. É importante enfrentar
Para registrar essas experiências, do longa-metragem. A filmagem os desafios para a educação a partir
o longa utiliza, além de entrevistas propriamente dita, que começou no dos depoimentos reunidos no filme.
em profundidade, outros disposi- final de 2014, foi a última etapa da Muitos professores vão se reconhe-
tivos: foram realizadas rodas de pesquisa, que teve início em 2013, cer a partir das falas dos jovens e é

8 | Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII


ENSINO

possível elaborar políticas públicas


a partir do que eles têm a dizer.”
nora); de Ana Karina Brenner e Ra-
quel Stern (produção); de JV Santos
O documentário
O filme foi lançado em março,
e Luciano Dayrell (fotografia, revela narrativas
câmeras e som direto); de Caio Mi-
no Cine Arte UFF, e está dispo-
randa e Carolina R. Ussler (câmera de jovens que
nível para exibição mediante o
preenchimento de um formulário
de apoio); de Rodrigo Maia e Bruno
Ramos (som direto de apoio); de
denunciam um
(filmeforadeserie.com/organizar-
-exibicao) e o agendamento pelo
Luciano Dayrell (edição); de Ana sistema escolar
Karina Brenner, Luciano Dayrell,
site (filmeforadeserie.com) do
Marcela Betancourt, Paulo Carra- que pouco dialoga
documentário. “Estamos disponi-
bilizando um formulário na nossa
no, Patricia Abreu, Taynã Ribeiro com as dificuldades
e Viviane de Oliveira (roteiro); e de
página para todos que quiserem
programar uma exibição. Já temos
Alexandre Nascimento Guimarães, dos alunos, como
Jhonata Franscisco Barbosa e Maria
68 exibições programadas no Brasil
Cidicléia Silva Nunes (dispositivos
a necessidade de
todo”, conta Ana.
Além de Carrano e Ana Karina, o
de foto e vídeo). conciliar estudo e
Pesquisador: Paulo Carrano
projeto contou com a participação Instituição: Universidade Federal
trabalho
de Marcio Amaral e Patrícia Abreu Fluminense (UFF)
(realização das entrevistas); de Lu- Fomento: programa Cientista do
cas Fixel e Thiago Sobral (trilha so- Nosso Estado O filme propõe uma reflexão sobre a
realidade da educação de jovens adultos

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NUTRIÇÃO
Foto: Reprodução

Entre os pontos a serem


investigados na pesquisa, estão
o nível de consumo de alimentos
ultraprocessados pelas crianças,
como por exemplo os biscoitos

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NUTRIÇÃO

Pesquisa fará raio X da alimentação


e nutrição infantil no País
Débora Motta
Com previsão de término em 2020, projeto
fará um amplo diagnóstico do estado

U
m esforço de pesquisa em
rede, que envolve 60 pes- nutricional de crianças com até cinco anos
quisadores de 19 estados
do País, mais o Distrito Federal,
de idade ao longo de três anos
vai resultar na elaboração do pri-
meiro estudo nacional de avaliação cinco anos de idade. “A realização nas rural e urbana, capitais e interior
do consumo alimentar e estado desse projeto é uma demanda an- dos estados, a faixa etária e o sexo”,
nutricional, incluindo carências tiga do MS, pois, até hoje, nunca explica Kac.
de micronutrientes, em crianças foi realizado um estudo nacional
Com uma metodologia semelhante
brasileiras menores de cinco anos. de alimentação e nutrição infantil.
à utilizada pelas equipes de recen-
A iniciativa, resultado de uma par- É um projeto de grande porte, que
seadores do Instituto Brasileiro de
ceria entre o Ministério da Saúde recebeu financiamento de R$ 15 mi-
Geografia e Estatística (IBGE), os
(MS) e o Conselho Nacional de lhões. Vamos estudar 15 mil crian-
pesquisadores coletarão dados em
Desenvolvimento Científico e ças em 123 municípios brasileiros,
domicílios nesses 123 municípios.
Tecnológico (CNPq), é coordenada distribuídos por todo o Brasil”, con-
“O levantamento será realizado pela
pelo professor Gilberto Kac, do Ins- ta Gilberto Kac. Em anos recentes,
Science (Sociedade para o Desen-
tituto de Nutrição Josué de Castro, Kac, que é pesquisador nível 1A do
volvimento da Pesquisa Científica),
da Universidade Federal do Rio de CNPq, recebeu apoio da FAPERJ
que é atualmente presidida pelo
Janeiro (INJC/UFRJ). Em território por meio de diferentes editais e
estatístico Maurício Teixeira Leite
fluminense, a comissão executiva programas de fomento. Projetos
de Vasconcellos, em uma amostra
do projeto conta com a participa- submetidos pelo pesquisador foram
representativa da população in-
ção dos professores Inês Rugani contemplados nos editais Apoio a
fantil, que represente o urbano e o
Ribeiro de Castro, da Universidade Núcleos de Excelência (Pronex),
rural das cinco macrorregiões, por
do Estado do Rio de Janeiro (Uerj); Pensa Rio, Apoio a Projetos Temá-
faixa etária e sexo. Mas não vamos
Luiz Antonio dos Anjos, professor ticos no Estado do Rio de Janeiro e
distinguir especificamente os perfis
da Universidade Federal Flumi- também no programa Cientista do
de renda e etnia entre os indicado-
nense (UFF) e Cientista do Nosso Nosso Estado.
res, nesse momento da pesquisa.
Estado, da FAPERJ; Cristiano
“O objetivo é avaliar, entre as Faremos o sorteio dos domicílios
Siqueira Boccolini, do Instituto de
crianças brasileiras menores de a serem incluídos no estudo em
Comunicação e Informação Cien-
cinco anos, as práticas de aleita- cada município e, do mesmo modo
tífica e Tecnológica em Saúde da
mento materno, alimentação com- como ocorre no Censo, faremos
Fundação Oswaldo Cruz (Icict/
plementar e consumo alimentar, o as visitas para pesar e medir as
Fiocruz); e Elisa Maria de Aquino
estado nutricional antropométrico crianças, para fazer o diagnóstico
Lacerda, também do INJC/UFRJ.
e a magnitude das deficiências de nutricional antropométrico; para
O propósito do projeto, aprova- micronutrientes (ferro, vitamina aplicar um questionário, que inclui
do em novembro de 2017 e com A, vitamina D, vitamina E, folato, informações sobre amamentação e
previsão de ser executado em três vitamina B12 e vitamina B1, zinco consumo alimentar; e para coletar
anos, até 2020, é fazer um amplo e selênio) nas cinco macrorregiões sangue, para fazer o diagnóstico
diagnóstico do estado nutricional (Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e de carência de micronutrientes”,
das crianças brasileiras de zero a Centro-Oeste), considerando as zo- detalha.

Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII | 11


NUTRIÇÃO

Foto: Divulgação/Pixabay
Além das universidades fluminen-
ses, participam do projeto pesqui-
sadores da Universidade de São
Paulo (USP), campus de Ribeirão
Preto; da Universidade Federal de
Pelotas, da Universidade Federal de
Goiás, da Universidade Federal do
Maranhão, da Universidade Fede-
ral do Amazonas, da Universidade
Federal do Acre, da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, da
Universidade Federal de Santa Ca-
tarina, da Universidade Federal de
Alagoas, da Universidade Federal
de Minas Gerais, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, da
Universidade do Vale do Rio dos
O padrão alimentar das crianças brasileiras será investigado no Inquérito Nacional de
Alimentação e Nutrição Infantil, que vai incluir dados sobre a carência de nutrientes Sinos, da Universidade Federal de
Pernambuco, da Universidade de
De acordo com o professor, o pro- anos em âmbito nacional, de caráter Brasília, da Universidade Federal
jeto também investigará aspectos abrangente, sabemos apenas por in- do Pará, da Universidade Federal da
pouco estudados – ou mesmo formações de outros estudos, como Bahia, da Universidade Federal da
inéditos – em estudos de nível na- a Pesquisa Nacional de Demografia Paraíba e da Universidade Federal
cional. Entre eles, estão o ambiente e Saúde (PNDS), que os maiores do Paraná, além da empresa Cam-
alimentar doméstico; as habilida- desafios nutricionais infantis no pos D’Almeida Patologia Clínica
des culinárias dos cuidadores das Brasil, atualmente, são o sobrepeso Ltda.
crianças; o padrão alimentar das e a obesidade, considerada uma Pesquisador: Gilberto Kac
crianças; avaliação do consumo de epidemia, e a desnutrição, que vem Instituição: Universidade Federal do
alimentos processados e ultrapro- reduzindo sua incidência, mas ainda Rio de Janeiro (UFRJ)
cessados; e algumas práticas rela- existe, especialmente nos estados Fomento: programa Cientista do
cionadas ao aleitamento materno, mais pobres, como o Maranhão. A Nosso Estado
como amamentação cruzada (como partir da realização desse estudo,
é conhecida a prática de mães que teremos essas informações atualiza- Foto: Divulgação
amamentam filhos de outras que das e poderemos conhecer melhor
apresentam alguma dificuldade a realidade brasileira e formular
com o aleitamento), doação de leite políticas públicas de saúde mais
materno e uso de acessórios para a adequadas”, conclui. A pesquisa
amamentação; além da constituição encontra-se na etapa de execução
de um biorrepositório, que possibi- do estudo piloto e a previsão é de
litará realizar análises inéditas em que a coleta de dados seja iniciada
estudos de base populacional. em fevereiro de 2019.
A proposta é que os resultados do
projeto subsidiem a formulação de
políticas públicas de promoção da
alimentação saudável e de controle
de agravos nutricionais na popu-
lação infantil. “Como nunca foi Gilberto Kac: para o professor, conhecimento
sobre a realidade nutricional das crianças
realizado um estudo de alimentação brasileiras pode nortear a formulação de
e nutrição em menores de cinco políticas públicas mais adequadas

12 | Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII


REPORTAGEM DE CAPA

Para proteger a
vida marinha em
áreas costeiras
Estudo realizado na UFRJ avalia o
impacto do vazamento de petróleo
em áreas de manguezais
geneticista Marcio Alves-Ferreira
Paula Guatimosim
vem se dedicando a estudos que
Foto: Divulgação

podem, no futuro, gerar um kit

B
erçários para muitas es-
diagnóstico para o monitoramento
pécies da fauna, que ali
das áreas costeiras ameaçadas por
realizam a desova, os man-
derramamento de óleo.
guezais são responsáveis pelo
sustento da maioria da força de Em alguns dos experimentos reali-
trabalho dedicada à pesca ao redor zados no laboratório, o pesquisador
do mundo. Sua presença em áreas constatou que quando a Laguncu-
costeiras tem papel importante na laria racemosa (mangue branco),
proteção contra a ação de ondas e uma das principais espécies de
marés. Apesar de sua importância árvore que compõem os mangue-
econômica e ecológica, os man- zais, é exposta ao petróleo, sofre
guezais são ambientes altamente um processo de impermeabilização,
ameaçados. Um dos principais resultando na hipóxia, ou seja, in-
riscos que essas áreas correm é o da capacidade da planta de realizar as
contaminação por petróleo. No La- trocas gasosas, em receber oxigê-
boratório de Genética e Biotecnolo- nio, o que decorre em grandes pro-
gia Vegetal do Instituto de Biologia blemas metabólicos. Outro impacto
da Universidade Federal do Rio decorrente da impermeabilização é
de Janeiro (IB/UFRJ), o biólogo causado pelo estresse ao calor, pois,

Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII | 13


REPORTAGEM DE CAPA

Fotos: Divulgação
avaliava o impacto de apenas um
dos componentes do petróleo”,
conta Alves-Ferreira.
A escolha da espécie a ser estu-
dada – Laguncularia racemosa
– partiu da constatação de quão o
mangue branco está presente nos
manguezais do País. Na literatura
pesquisada sobre a frequência dessa
espécie constam apenas dois estu-
dos no Brasil (no Espírito Santo e
na Bahia), demonstrando que ela
representa de 30% a 40% da área
total de manguezal avaliada. Em
outros países, como a Costa Rica, o
mangue branco pode chegar a 80%
do total de espécies que compõem
o manguezal. Uma das motivações
para a realização do trabalho, ex-
plica o pesquisador, é a extrema
importância dos manguezais para
a produção da vida marinha. “Eles
servem de berçários para muitas
espécies da fauna, que ali realizam
a desova, especialmente peixes da
Mosaico de fotos com várias etapas da pesquisa com a Laguncularia racemosa (popularmente região costeira e até de alto mar,
conhecida como mangue branco), conduzida no Laboratório de Genética e Biotecnologia
Vegetal do Instituto de Biologia da UFRJ. Imagens mostram a etapa de coleta de sementes no
como por exemplo, a anchova.”
preservado manguezal da Restinga da Marambaia, na Costa Verde, e a produção de mudas Outra função importante, segun-
do o biólogo, é a proteção que
como as trocas gasosas são reduzi- ao estresse salino. O estudo foi esta vegetação exerce sobre áreas
das, a planta não consegue baixar publicado no periódico Aquatic costeiras, que sofrem impacto de
sua temperatura, o que prejudica a Toxicology, do grupo Elsevier, no ondas e marés, pois em locais onde
produção de enzimas e proteínas, mês de setembro. o manguezal foi destruído, o mar
levando a espécie a expressar genes Fruto de oito anos de investigação, altera sua capacidade, começa a
que respondem ao calor. “Ao obser- o trabalho contou com incentivo e invadir áreas adicionais, modifica
varmos essas respostas, concluímos a parceria de pesquisadores do Ins- o transporte de sedimentos.
que essas plantas não têm a capa- tituto de Microbiologia da UFRJ, Apesar de sua importância econô-
cidade evolutiva para lidar com o que já estudavam os impactos do mica e ecológica, os manguezais
petróleo, já que esse evento não faz óleo sobre os micro-organismos e são ambientes altamente ameaça-
parte do histórico de estresse a que também a biorremediação (recu- dos. Geralmente estão localizados
geralmente estão submetidas, como peração com utilização de micro- na região de interseção entre o rio
inundações, salinidade e alta lumi- -organismos) das áreas de mangue- e o mar, onde a salinidade não é
nosidade”, explica Alves-Ferreira. zais afetadas. Outra motivação para tão alta, e permite o crescimento de
Outro resultado, secundário, da a sua realização foi o ineditismo do plantas, nutridas pelos sedimentos
pesquisa foi a caracterização dos trabalho. “Achava que havia muito trazidos pelo rio e que também são
genes expressos em L. racemosa estudo sobre o tema, mas quando carreados para a área costeira, ali-
que podem ser utilizados no me- comecei a pesquisar constatei que mentando peixes e outras espécies
lhoramento genético de cultivos, não havia quase nada, apenas um da fauna marinha. “Estima-se que
como o arroz, para a resistência único estudo, mesmo assim, que os manguezais são responsáveis por

14 | Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII


REPORTAGEM DE CAPA

sustentar, direta ou indiretamente, similar a de um derramamento de dário. A etapa de sequenciamento


80% de todo o pescado mundial. petróleo. Após um tempo de ex- massivo e análise de dados permi-
Sua proteção é, então, uma questão posição, folhas e raízes coletadas tiram desvendar a caracterização
de segurança alimentar para o ser foram comparadas com as “plantas dos genes presentes nessa planta,
humano”, sentencia o geneticista. controle” (sem contato com o óleo). que ainda não eram conhecidos.
Como o mangue branco é muito
O biólogo conta que a metodolo- Os pesquisadores concluíram que
tolerante a vários tipos de estresse,
gia de pesquisa foi difícil de ser o mangue branco não possui ca-
como salinidade, calor e incidência
estabelecida. “Talvez, por isso não pacidade evolutiva para lidar com
lumínica, o pesquisador espera que
existam estudos prévios”, arrisca o petróleo, pois este evento não
o trabalho possa contribuir para
Alves-Ferreira. Numa primeira eta- faz parte do histórico de estresse a
o melhoramento de plantas que
pa, o experimento utilizou a espécie que geralmente essas plantas estão
tenham importância agronômica,
Arabidopsis thaliana, que contou submetidas, como salinidade, falta
como o arroz, por exemplo, bas-
com a ajuda da bióloga Sarah d’água e excesso de radiação so-
tante sensível ao sal. Segundo ele,
Nardelli. Segundo o pesquisador, lar, cujo processo evolutivo já as
áreas de plantio de arroz no Sul do
outra dificuldade foi trabalhar com preparou.
País, que dependem de irrigação,
o petróleo, que é muito viscoso.
O estudo também buscou estabe- estão ficando salinizadas e não
Por fim, os pesquisadores esta-
lecer marcadores genéticos para podem mais ser cultivadas, pois o
beleceram uma metodologia que
o impacto ambiental causado pelo arroz é muito sensível à salinização.
utilizou a fração solúvel do petróleo
derrame de petróleo. Segundo “Quem sabe podemos isolar algum
submetida à agitação, simulando a
Alves-Ferreira, no médio prazo gene encontrado no mangue branco
movimentação das águas. Apenas
será possível identificar plantas que para aumentar a resistência do arroz
na segunda fase do estudo, con-
estejam sofrendo estresse pelo óleo, ao sal?”, questiona o geneticista.
templado pelo edital Prioridade
por meio de um kit de diagnóstico.
Rio, da FAPERJ, e apoiado pelo Pesquisador: Marcio Alves-Ferreira
Esse trabalho preventivo possibili- Instituição: Universidade Federal do
Centro de Pesquisas da Petrobras
tará avaliação de quanto o mangue- Rio de Janeiro (UFRJ)
(Cenpes), que forneceu o petróleo,
zal está saudável e qual a proteção Fomento: edital Prioridade Rio
foi utilizada a Laguncularia race-
a ser dada àquela área. Pioneira, – Apoio ao Estudo de Temas
mosa. Foi avaliado como as plantas
a pesquisa também resultou na Prioritários para o Governo do
respondem à presença do óleo, até Estado do Rio de Janeiro
descoberta de um produto secun-
quando elas resistem e quais são os
genes envolvidos na resposta ao es-
tresse provocado por derramamento
de óleo, com foco nos aspectos da
genética molecular. As sementes fo-
ram coletadas no preservado man-
guezal da Restinga da Marambaia,
com 42 quilômetros de praias que se
estendem pelos municípios de Man-
garatiba, Itaguaí e Rio de Janeiro.
Os experimentos foram realizados
em ambiente controlado de casa de
vegetação. Após a germinação, as
plantas foram cultivadas entre três
e seis meses e depois submetidas à
aplicação do óleo, numa proporção

Sarah Nardeli e Marcio Alves-Ferreira


em casa de vegetação, com ambiente
controlado: bióloga colaborou com o
pesquisador na primeira fase do trabalho

Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII | 15


HISTÓRIA

Reprodução da obra Maison à louer, cheval et chèvre à vendre, do pintor Jean Baptiste Debret (1748-1848): a cena retrata o cotidiano...

Livro investiga a A educação popular


cultura escrita,
a educação e a nos tempos do Império
leitura no Rio de Débora Motta questão, parte, frequentemente,
da premissa de que esses setores
Janeiro imperial
H
avia educação acessível da população eram excluídos, ou
às camadas populares na muito distanciados, do acesso ao
época do Império? Se sim, ensino e do mundo letrado nessa
como ela era? Fazia parte de uma época. As trajetórias brilhantes dos
política de Estado? A historiogra- expoentes das Letras Machado de
fia brasileira, pouco atenta a essa Assis, Lima Barreto e Francisco

16 | Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII


Foto: Reprodução
HISTÓRIA

organizada por Giselle Martins Ve-


nancio, María Verónica Secreto e
O livro apresenta
Gladyz Sabina Ribeiro (Ed. Mauad um aspecto pouco
X, 2017, p. 262).
conhecido do
O livro desvela um Rio de Janeiro
que parecia improvável: o da lei- Rio de Janeiro
tura e escrita dos grupos populares
do século XIX. “O analfabetismo
imperial: a leitura e
era muito alto no século XIX, mas escrita dos grupos
apesar de ter existido um sistema
excludente, isso não significou que populares no século
as camadas populares não tivessem
acesso, em absoluto, à cultura letra-
XIX, mesmo em um
da, e nem que elas concentrassem sistema excludente
suas formas de transmissão cultural
apenas nas práticas orais. Esse seg-
dos dez artigos reunidos na coletâ-
mento populacional também lidou
nea, que foi publicada com recursos
com a questão do letramento. Havia
do programa Apoio à Produção
práticas de escrita e letramento de
e Publicação de Livros e DVDs
homens e mulheres pobres, negros
Visando à Celebração dos 450 Anos
e mulatos na sociedade imperial”,
da Cidade do Rio de Janeiro, da
destacou Giselle, que é professora
FAPERJ.
e coordenadora do programa de
Pós-Graduação em História na Na primeira parte do livro, intitula-
Universidade Federal Fluminense da “Usos populares da leitura e da
(UFF) e Cientista do Nosso Estado escrita”, Giselle apresenta, no artigo
da FAPERJ. “Em primeira pessoa”, a história de
Maria Rosa, uma escrava liberta
Na obra, que apresenta uma co-
que pediu, por meio de uma carta
letânea de artigos sobre o tema,
escrita em primeira pessoa e en-
estão os resultados de pesquisas
viada à imperatriz Teresa Cristina,
sobre os modos de circulação da
a libertação da sua filha, chamada
escrita na época, realizadas em
Ludovina, pois não tinha recursos
diferentes fontes históricas, como
para pagar pela alforria. “Havia a
...popular no Rio de Janeiro imperial processos criminais, inventários e
tradição de, no dia do aniversário da
testamentos, que revelam a relação
imperatriz, outorgar alguns pedidos
dos populares com a cultura escrita
de Paula Brito – todos nascidos no de libertação gratuita de escravos.
na época. “A ideia de escrever o
Rio do século XIX, e que tinham E assim ocorreu quando, em 14 de
livro surgiu a partir de um semi-
em comum o fato de serem negros março de 1886, o nome de Ludovi-
nário realizado no Departamento
ou mestiços, com origem familiar na constou na lista de 176 escravos
de História da UFF, em 2015, inti-
pobre – costumam ser apontadas libertados por ação da Câmara Mu-
tulado ‘Setores populares, cultura
como exceções à regra social de nicipal da Corte, ela que havia sido
escrita, educação e leitura no Rio
exclusão educacional. Um outro propriedade do médico José Pereira
de Janeiro imperial’. Nesse encon-
olhar sobre a educação na socieda- Peixoto, que tinha consultório no
tro, levantamos questões iniciais
de imperial, no entanto, é proposto bairro de São Cristóvão”, informou
sobre o tema, e as distribuímos a
em Cartografias da Cidade (In) a historiadora.
diferentes pesquisadores, de áreas
Visível – setores populares, cultura multidisciplinares, como História, A carta, que apelava à caridade e
escrita, educação e leitura no Rio Educação e Economia”, contou. As ao amor materno da imperatriz,
de Janeiro imperial, uma coletânea pesquisas nortearam a elaboração gerou desdobramentos positivos.

Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII | 17


HISTÓRIA

Foto: Brasiliana Fotográfica/Biblioteca Nacional


sus mundo do trabalho livre e pobre
na cidade do Rio de Janeiro”, de
Gladys Sabina Ribeiro e Paulo
Cruz Terra; “A educação popular
no Rio de Janeiro oitocentista: o
caso do Liceu Literário Português
(1860-1880)”, de Alexandro
Henrique Paixão; e “Pelo caminho
da liberdade: sujeitos, espaços e
práticas educativas (1880-1888)”,
de Alexandre Lima da Silva e Ana
Chrystina Venancio Mignot.
No artigo “Ler, escrever e contar
(...)”, por exemplo, as autoras
destacam a existência de estabele-
cimentos de ensino denominados
“Colégios Ticos-Ticos”, que se
destinavam, no século XIX, à ins-
Uma cena do Colégio Menezes Vieira, fundado em 17 de fevereiro de 1875: alunos trução elementar básica, ou seja,
uniformizados e professor demonstram trabalhos em pequenas máquinas. Situado à Rua
dos Inválidos, nº 26, o colégio foi visitado algumas vezes pelo imperador D. Pedro II eram as escolas que só ensinavam
a ler, escrever e contar. Esses
colégios particulares com baixas
“Maria Rosa, certamente, conhe- Fernando Saraiva e Rita de Cássia mensalidades, voltados a pessoas
cia o poder da palavra escrita e, da Silva Almico; e “Escrever como muito pobres, foram citados pelo
mais particularmente, o papel das custo de transação dos pequenos jornalista e cronista do início do
correspondências, narrativas, sem- agentes do Rio de Janeiro na metade século XX Luiz Edmundo, no li-
pre de mão dupla, que sugerem, do século XIX”, de Carlos Eduardo vro O Rio do meu tempo. A partir
necessariamente, uma resposta, em Valencia Villa. do relato presente nessa obra lite-
forma escrita ou em forma de ação. rária, as pesquisadoras indagam
A segunda parte, intitulada “Práti-
Ao apostar na carta que escreveu à
cas educativas de populares no Rio
imperatriz, Maria Rosa transfor-
de Janeiro oitocentista”, apresenta
mou esperança em atitude e pôde
os artigos “Ler, escrever e contar:
conhecer o poder das cartas – a dela
cartografias da escolarização e
e a de alforria da sua filha – como
práticas educativas no Rio de Ja-
sinônimos de libertação”, disse Gi-
neiro oitocentista”, de Alessandra
selle, que apresentou as conclusões
Frota Martinez de Schueler e Irma
do livro no “21º COLE – Leituras
Rizzini; “A educação no Rio de
dissonantes”, no início do mês de
Janeiro joanino nas páginas da
julho na Universidade Estadual de
Gazeta do Rio de Janeiro: espaços
Campinas (Unicamp).
abertos para a mobilidade social”,
A primeira parte do livro ainda de Camila Borges da Silva; “Ca-
reúne os artigos “Posta em cena: madas populares e higienismo no
educação moral e estética e hetero- Rio de Janeiro em fins dos anos
geneidade social no teatro oitocen- 1870”, de Jonis Freire e Karoline
tista”, de María Verónica Secreto e Carula; “Cidade solidária: bene-
Viviana Gelado; “Saber ler, contar ficência educacional no cotidiano
e poupar: reflexões entre economia popular da Corte imperial”, de
popular e cultura letrada no Rio Marconni Marotta; “Aulas do Co-
de Janeiro, 1831/1864”, de Luiz mércio: mundo da educação ver-

18 | Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII


HISTÓRIA

Foto: Divulgação
questões como: O que sabemos, de Alessandra e Irma apresentam uma
fato, sobre essas escolas da capital cartografia das práticas de escolari-
daqueles tempos do Império ou nos zação no Rio imperial. Consideran-
primeiros tempos republicanos? do a localização, a distribuição das
Como se estabeleciam as relações escolas e os mecanismos de difusão
entre público e privado em matéria do ensino da leitura e da escrita,
educacional? Qual a relação entre assinalam uma maior incidência de
a criação dessas escolas com a de- iniciativas educativas nas regiões
manda por escolarização, tendo em centrais da cidade. Historicamen-
vista a densidade e a composição te, afirmam, essas regiões, que
populacional das áreas urbanas e eram locais de moradia, comércio,
suburbanas? trabalho e práticas culturais da po-
pulação trabalhadora, escravizada
A afirmação da gratuidade da ins-
e livre, também foram as de mais
trução primária foi inscrita no rol
altos índices de matrículas nas es-
dos direitos dos cidadãos brasilei-
colas públicas, sobretudo a partir
ros no artigo 179 da Constituição
de 1870.
outorgada de 1824, regulamentado
em 1827 para todo o território na- Com base em dados oficiais, as
cional. “Essa regulamentação (...) autoras concluem que parte do
público escolar era composta pela Giselle Martins Venancio, que organizou a
é considerada uma das primeiras obra com Gladiz Ribeiro e Verónica Secreto:
tentativas de impor uma política população trabalhadora e seus um outro olhar sobre a educação no Império
nacional de instrução pública, ao filhos, incluindo parcelas da popu-
determinar que em povoados e vilas lação negra, e assim inscrevem seu
mais populosos fossem estabeleci- trabalho no diálogo com os estu-
dos historiográficos concernentes dade para a qual pouco se atentou,
das escolas, uma para cada sexo,
às lutas históricas pela educação embora ela ali estivesse, contida no
destinadas à instrução elementar
escolar. “De acordo com os mapas traçado das ruas, no cotidiano de
da população livre”, relatam as
estatísticos escolares analisados na seus moradores, na vida comum.
autoras. A presença da escola par-
pesquisa, defendemos a hipótese de “Trata-se da cidade que se inscreve,
ticular era significativa. “Em 1830, no território, por meio das práticas
por exemplo, quando havia seis uma presença significativa da oferta
de instrução pública primária nas de cultura escrita vivenciadas por
escolas públicas no Rio de Janeiro homens e mulheres pobres no Rio
– todas masculinas –, o número de áreas centrais da cidade [São José,
Candelária, Sacramento, Santa Rita, de Janeiro imperial. Não se trata de
estabelecimentos particulares re- voltar uma vez mais sobre Machado
gistrados elevou-se para 53. Esses Santo Antônio, Santana, Espírito
Santo], que englobavam o 2º e 3º de Assis e Lima Barreto para dizer
estabelecimentos de ensino estavam como eles foram excepcionais, mas
concentrados na Cidade Velha, en- distritos escolares. Igualmente,
na Zona Sul da cidade [1º distri- para mostrar o que eles tiveram
tão composta pelas freguesias da em comum com outras pessoas
Candelária, Sacramento, Santana, to], que abrangia Gávea, Lagoa e
Glória, havia número expressivo pobres, negros, mulatos ou não: a
São José e Santa Rita, área central e aprendizagem do ler e escrever, e
portuária da cidade”, destacam. Por de escolas. No ano de 1892, por
exemplo, a Diretoria de Instrução evidenciar como ela aconteceu”,
outro lado, crescia a importância da conclui Giselle.
instrução pública primária, devido Pública registrou o quantitativo de
ao projeto político de “formação 120 escolas públicas e 8.500 alunos, Pesquisadoras: Giselle Martins
sendo que os dois distritos centrais Venancio, María Verónica Secreto e
do povo” na constituição do Estado
(2º e 3) concentravam 40 escolas e Gladys Sabina Ribeiro
imperial. Havia também locais de Fomento: Programa Apoio à
ensino mantidos por associações 3.882 alunos”, afirmam no artigo.
Produção e Publicação de Livros e
beneficentes, ligadas aos grupos Para Giselle, o desafio do projeto DVDs Visando à Celebração dos
abolicionistas, além dos professores é cartografar um Rio de Janeiro 450 Anos da Cidade do Rio de
particulares. (ainda) invisível. Mapear uma ci- Janeiro

Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII | 19


DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Ciência com
samba no pé e
batida de funk

Uma das paródias musicais


usadas no concurso
chamou atenção da plateia
sobre uma mistura de bolo
sem glúten, à base do
cereal sorgo (em detalhe
na imagem abaixo)
Foto: Reprodução

20 | Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII


DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Foto: Raphael Pizzino/COORDCOM/UFRJ

Prêmios e
competições
para incentivar
atividades de
divulgação
científica por
pesquisadores
ganham espaço
no País

Com uma apresentação bem humorada, que teve início com uma paródia da canção ‘A público em geral. Essa atividade é
voz do morro’, de Zé Keti, Caroline sensibilizou os jurados e terminou em primeiro lugar realizada uma vez por ano em 350
cidades europeias”, contou. Even-
Juliana Passos tiveram cinco minutos para explicar tos no mesmo gênero estão cada
a importância e os resultados de vez mais populares no País. Outro
sua pesquisa em suas áreas para prêmio bastante disputado e um

L
iteratura de cordel para
um público não especializado, de pouco mais antigo é o FameLab,
explicar a fabricação do
forma criativa. Os cinco finalistas organizado pelo Conselho Britâni-
diamante sintético, poesia e
foram selecionados entre mais de co desde 2005. Há ainda o Pint of
rap para entender a importância das
100 participantes que enviaram seus Science, criado em 2012, também já
brincadeiras no rendimento escolar
vídeos para a comissão. A FAPERJ chegou ao País, tendo sido realizado
das crianças, paródias com samba e
apoiou a realização do evento desde em 56 cidades brasileiras em 2018
funk para falar de uma nova mistura
a sua primeira edição.
para bolo sem glúten. E tem mais. A vencedora do Science Slam este
Stand up para falar da importância Na ocasião, Charlotte Grawitz, ano foi Caroline Alves Cayres,
das emoções no controle da dor e representante da Euraxess Brazil, doutoranda em Engenharia de Pro-
para explicar de que maneira os agradeceu o apoio da FAPERJ e o cessos Químicos e Bioquímicos na
músculo esquelético se comunica interesse demonstrado pelos brasi- Escola de Química da Universidade
com outras partes do corpo para leiros na competição, bastante co- Federal do Rio de Janeiro (EQ/
vivermos mais e melhor. Assim foi mum na Europa. “Com essas ativi- UFRJ), em parceria com a Embrapa
a final da sexta edição do Science dades de comunicação científica, o Agroindústria de Alimentos. Cayres
Slam da Euraxess – iniciativa da que o Euraxcess queria era mostrar está na reta final de seu doutorado
União Europeia destinada a for- um pouco da tradição europeia de e desenvolveu uma pré-mistura
talecer a colaboração científica popularizar a ciência. Na Europa, sustentável e sem glúten para bolo.
do Velho Continente com o resto temos muitos museus de ciência, Sua apresentação bem humorada
do mundo por meio de certames muitos concursos similares a esse iniciou com uma paródia da canção
voltados para o conhecimento organizados pelos países membros. “A voz do morro”, de Zé Keti, para
científico –, realizada no terraço Também queríamos lembrar de uma falar do sorgo, cereal de origem
do Consulado da Itália, no centro atividade organizada pela Comissão africana pouco conhecido no Bra-
do Rio de Janeiro, na terceira Europeia chamada Noite dos Pes- sil. “O sorgo não contém glúten, é
semana de outubro. Nessa etapa quisadores, quando a ciência sai pouco calórico e exige pouca água
presencial e final, os participantes do laboratório e vai ao encontro do para sua produção, portanto, uma

Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII | 21


DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Fotos: Raphael Pizzino/COORDCOM/UFRJ

Acima, os finalistas do concurso; à dir., a diretora Científica da FAPERJ, Eliete Bouskela, ao lado da ganhadora, Caroline Alves Cayres

opção sustentável. Além disso, o Ramos, da Universidade Católica preciso que se entenda que a ciên-
cereal contém uma grande quan- de Brasília (UCB), que procurou cia é importante para a sociedade,
tidade de antioxidantes”, disse a explicar o impacto positivo do que ajudará a melhorar a vida das
vencedora. Para falar do segundo exercício físico na melhoria do de- pessoas. E nós também temos que
ingrediente fundamental de sua sempenho de atividades intelectuais dar uma satisfação ao contribuinte
receita, a doutoranda recorreu a em pesquisas com crianças. Em porque os recursos que recebemos
outro samba bastante famoso “O seguida, Raimundo Soares Júnior, são fruto dos impostos pagos pelo
bagaço da laranja”, rico em fibras mestrando em Neurociências pela contribuinte”, disse.
e importante para o intestino. O Universidade de São Paulo (USP),
Diretor do Instituto de Pós-gra-
bagaço é importante não só para falou sobre a importância de sentir
dução e Pesquisa em Engenharia
dar sabor à mistura como um com- e não sentir dor e de que maneira
da Universidade Federal do Rio
ponente fundamental para a dieta. nossas emoções podem influenciar
de Janeiro (Coppe/UFRJ), Edson
De acordo com a pesquisadora, nesse processo. Guilherme Telles,
Watanabe também comentou sobre
três a cada quatro brasileiros não também da USP, comparou a co-
a importância de se divulgar ciência
consomem fibras suficientes. Para municação do músculo esquelético
para um público mais amplo, sem
finalizar, ela explicou a receita em com o uso do WhatsApp e como
perder a correção das informações.
ritmo de funk de Anitta. nosso estilo de vida pode contribuir
Ele disse que tem abordado, com
Como prêmio, a pesquisadora ga- para melhorar essa comunicação.
frequência, em suas palestras,
nhou uma viagem para a Europa A última a se apresentar foi Silvia
apresentações e conversas com os
onde poderá visitar um laboratório Garcez, mestranda na Universidade pares, sobre a necessidade de todos
de sua escolha. Depois de sambar Estadual de Santa Cruz (Uesc), da aqueles que trabalham com ciência
e dançar funk no palco, Caroline Bahia. Em trajes de cangaceira, saberem comunicar de forma clara
recebeu com entusiasmo o anúncio ela narrou em cordel a produção o que fazem e os resultados de suas
de sua vitória. “Há três anos que eu de diamante sintético realizada por pesquisas. “Esses concursos são
já flertava com essa final e fiquei seu laboratório. um ótimo exercício para ajudar na
ainda mais feliz de ver minha avó na Entre os jurados do evento, a dire- Divulgação Científica. Mas não é
plateia e ter a certeza de que ela en- tora Científica da FAPERJ, Eliete fácil encontrar o tom certo entre o
tendeu o que eu faço no laboratório Bouskela, elogiou a iniciativa e uso de recursos, vamos dizer, tea-
e a importância da minha pesquisa”, lembrou que a Fundação apoia o trais, e o conteúdo da informação
comemorou. evento desde seu início. “Acho que se quer transmitir ao grande
A concorrência não foi nada fácil que a FAPERJ tem de ficar mais público. É sempre um desafio para
para Caroline. A primeira a entrar próxima da população e um evento os concorrentes, o de sensibilizar os
no palco foi a pesquisadora Isabela como esse faz exatamente isso. É jurados e a plateia”, disse.

22 | Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII


BIOCIÊNCIAS

Melanina protetora dificulta


combate ao mosquito
Débora Motta característica, de resistir tanto tem-
Estudo po em ambientes secos, dificulta
bastante o combate ao mosquito.
interinstitucional
U
ma relação inusitada pode
ajudar a compreender me- Essa foi a conclusão de um estudo
interinstitucional, que envolve
associa a cor lhor o ciclo de vida do
pesquisadores da Universidade Es-
mosquito Aedes aegypti – trans-
da casca do missor de doenças como a dengue, tadual do Norte Fluminense (Uenf),
do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/
chikungunya, febre amarela e zika
ovo do Aedes – e, quem sabe assim, levar a solu- Fiocruz) e da Universidade da Fló-
ções mais eficazes para combatê-lo: rida, nos Estados Unidos, e que teve
aegypti com sua quanto mais escura é a casca do como desdobramento a publicação
de artigo na revista científica PLOS
sobrevivência em ovo de um mosquito, mais tempo
ele sobrevive em ambientes secos. Neglected Tropical Diseases.

locais secos E justamente por ser bem escura,


a casca do Aedes aegypti protege
“Uma das causas da maior resis-
tência do Aedes aegypti, quando
melhor o ovo do mosquito e faz comparamos com outras espécies
com que ele resista muito tempo de mosquito, é a grande quantidade
fora da água, por até um ano. Essa de melanina presente na casca dos

Foto: Divulgação

Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII | 23


BIOCIÊNCIAS

seus ovos. Esse pigmento, também encontrado na


pele humana, é responsável pela cor escura dos
ovos, que são pretos”, resumiu o coordenador do
estudo, o biomédico e professor Gustavo Lazzaro
Rezende, do Centro de Biociências e Biotecnologia
da Uenf. Também fazem parte do grupo de pesquisa
as doutoras Denise Valle – que foi a orientadora de
doutorado de Gustavo – e Luana Farnesi, ambas
do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), além
da doutoranda Helena Vargas, do Programa de
Pós-Graduação em Biociências e Biotecnologia
da Uenf.
Os ovos do Aedes aegypti são bem pequenos –
medem cerca de 0,6 mm – e adquirem rapidamente
resistência contra a perda de água. Passadas apenas
15 horas da postura, eles já são capazes de resistir a
longos períodos de ressecamento, podendo sobrevi-
ver por até um ano em ambientes secos. Assim, por
essa resistência, os ovos aguentam mesmo quando
são transportados a longas distâncias, em recipientes
secos, e são capazes de sobreviver por muitos meses
Comparação entre os níveis de melanina de diferentes mosquitos: à esq.,
no alto, a casca de ovo preta do Aedes aegypti, ao lado de ovo marrom
até o verão seguinte, quando o clima quente e chu-
escuro do Anopheles; e, abaixo, de casca marrom clara, do Cullex voso oferece condições propícias para que ocorra
sua eclosão e a formação das larvas e, em seguida,
do mosquito adulto. Para se ter ideia, uma fêmea
adulta pode dar origem a mil mosquitos durante a
sua vida, que dura, em média, apenas 30 dias.
Um dado inédito no estudo foi a comparação da
resistência dos ovos do Aedes aegypti, em am-
bientes secos, com a de outras espécies. “Vimos
que os ovos dos mosquitos do gênero Culex, que
transmitem filariose, sobrevivem por apenas cinco
horas. Já os de mosquitos do gênero Anopheles,
transmissores da malária, resistem por cerca de um
dia. Não por acaso, a cor da casca do ovo do Aedes
aegypti é preta, enquanto a do Anopheles é marrom
escuro e a do Culex é marrom muito clara”, contou
Gustavo, que conta com apoio da FAPERJ em suas
pesquisas, por meio do programa Jovem Cientista
do Nosso Estado.
No trabalho, os pesquisadores demonstraram que
essas diferenças de sobrevivência no seco estão
relacionadas com o grau de melanização da casca
dos ovos. “Quanto mais escuros são os ovos, mais
resistentes no seco. Confirmamos que a melanina
Embriogênese do mosquito Anopheles quadrimaculatus, nas fases: A) aumenta a sobrevivência dos ovos fora da água ao
ovos, B) larvas, C) pupas e D) adultos. A montagem compara imagens estudar um mosquito mutante do gênero Anopheles,
dos tipos selvagem (WT) e mutante (GORO). Nos dois casos, a formação
da cutícula serosa é fundamental para a sobrevivência do embrião no que não é capaz de melanizar corretamente, durante
interior do ovo, quando precisa resistir em locais secos pesquisa realizada por Luana Farnesi no período

24 | Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII


BIOCIÊNCIAS

Foto: Divulgação
em que fez doutorado-sanduíche
na Universidade da Flórida. Essa
colaboração científica foi importan-
te, pois esse mosquito mutante só
existe nos Estados Unidos, e por ser
uma espécie natural da América do
Norte não poderia ser trazida para o
Brasil”, explicou.
Mas qual a relação entre a cor dos
ovos e o tempo de sobrevivência do
mosquito? Os cientistas ainda não
sabem exatamente ao certo. Gustavo
explica que uma das hipóteses é de
que a melanina pode atuar como uma
molécula hidrofóbica, que repele as
moléculas de água, e ajudaria a evitar A partir da esquerda, Denise Valle, o coordenador Gustavo Rezende, Luana Farnesi e
Helena Vargas: o trabalho do grupo resultou na publicação de um artigo na revista PLOS
a perda de água do ovo, que ocorre
naturalmente pela casca, quando
os ovos estão no seco. “Aliada à Gustavo, que dará continuidade nos Pesquisador: Gustavo Lazzaro
presença de uma fina película que estudos investigando, dessa vez, a Rezende
se desenvolve debaixo da casca, relação hídrica dos ovos na linha de Instituição: Universidade Estadual do
denominada cutícula serosa, a me- evolução dos insetos, comparando, Norte Fluminense (Uenf)
lanina então exerceria o papel de por exemplo, colêmbolos, besouros Fomento: Programa Jovem Cientista
uma “barreira” biológica”, concluiu e libélulas. do Nosso Estado (JCNE)

Esquema ilustra o mecanismo de absorção da água presente no ambiente externo através da casca do ovo do inseto, antes e depois
da formação da cutícula serosa, em três espécies de mosquito. Em todas elas, a cutícula funciona como uma barreira que restringe a
passagem da água. Entretanto, quanto mais escura é a casca, mais água ela retém no interior do ovo, como no caso do Aedes aegypti

Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII | 25


JOVENS TALENTOS

Primeiros passos na
Juliana Passos

A
terceira e última etapa

educação científica da XIX Jornada Jovens


Talentos, realizada anual-
mente pelo Centro de Ciências e
Educação Superior a Distância do
IFRJ Niterói recebe última etapa da XIX Estado do Rio de Janeiro (Cecierj),
em parceria com a FAPERJ, acon-
Jornada do Programa Jovens Talentos, teceu em meados de dezembro,
que contribui para o despertar de no campus provisório do Instituto
Federal do Rio de Janeiro (IFRJ),
vocações para a ciência entre os jovens às margens da baía de Guanabara,
no Caminho Niemeyer, em Niterói.

Fotos: Lécio Augusto Ramos

Em sentido horário:
a plateia que lotou
o Auditório do IFRJ,
em Niterói; Ana
Carla Alves, do
Cefet-RJ, recebe
prêmio de Belizário;
a mesa formada
por Belizário, Eudes
Pereira e Monica
Damouche; e a antiga
Jovem Talento Milena
Enderson Silva

26 | Rio Pesquisa - nº 43
44 - Ano XI
XII
JOVENS TALENTOS

Na abertura, o coordenador do pro- feito. Uma comprovação do esforço Já no trabalho “Mate_Mágica_


grama, Jorge Belizário, saudou os efetuado, um momento ímpar”, Mente”, em que se explora diferen-
84 inscritos para a terceira etapa da disse. O coordenador também lem- tes jogos para o ensino de matemá-
jornada e fez um agradecimento es- brou o crescimento do programa. tica, ocorreu o oposto. Cursando o
pecial aos orientadores, que torna- Quando ele assumiu a coordenação, técnico em Edificações, João Pedro
ram possível a realização do evento. em 2002, eram cerca de 200 jovens Braga revela que quer cursar Antro-
Também presente à cerimônia, o contemplados. Hoje, a FAPERJ pologia, e como seu projeto envolve
diretor-geral do campus de Niterói financia mais de 800 bolsistas. Pedagogia, o que já o encaminha
do IFRJ, Eudes Pereira, agradeceu a para a área de Licenciatura, está
Estudante do segundo ano do Ensi-
oportunidade por sediar um evento
no Médio, Caio Monteiro conta que
de tanta importância para o ensino
foi convidado a entrar no programa
no estado do Rio de Janeiro e fez
devido ao seu excelente desem-
votos para a manutenção do projeto.
penho escolar. Sua pesquisa está
“Torcemos para que possamos dar
vinculada ao campus de Niterói do
continuidade a esse trabalho e que,
IFRJ e busca entender a percepção
assim, tenhamos a oportunidade de
dos moradores dos bairros vizinhos
continuar divulgando a ciência no
à região do Sapê, localizada no bair-
nosso Estado”, disse.
ro niteroiense de Pendotiba, e como
A vice-presidente de Divulgação os moradores da localidade a enxer-
Científica do Cecierj, Monica Dah- gam. Ao apresentar seu pôster, Caio
mouche, enfatizou a importância do destacou as propagandas dos novos
projeto para o amadurecimento dos empreendimentos imobiliários que
estudantes. Esse aprendizado passa valorizam a área, por ser próxima
por questões mais básicas, como a a um vasto comércio e a escolas,
formação de hábitos de organização mas que escondem a área do Sapê,
e um primeiro contato com o fazer de renda mais baixa. A região tam-
científico, até pela tomada de deci- bém vai sediar o novo campus do
são sobre o futuro profissional. “A IFRJ, que será transferido para lá
gente tem um carinho enorme pelo a partir de janeiro de 2019. O es-
programa Jovens Talentos devido tudante pode ser um dos exemplos
à importância dele na educação de como a bolsa ajuda a escolher
científica dos jovens e o retorno a área de atuação profissional. “É
que ele traz. Os estudantes ganham legal entrevistar as pessoas, andar
maturidade, autoconhecimento, pelos lugares que nunca estive, mas
capacidade de sistematização e de eu sou mais da área de Exatas. Eu
realização das suas escolhas”, falou. gosto mesmo é de matemática. É
muito mais fácil”.
Ao circular pelos pôsteres, Belizá-
rio não escondeu a satisfação em
ver tantos estudantes empenhados
em apresentar seus projetos e a
transformação pela qual passaram
ao longo do período. “É uma forma
de mostrar o trabalho que está sendo

A partir do alto: a coordenadora da sessão


de pôsteres da Jornada Jovens Talentos, Kate
Batista; as alunas do Colégio Pedro II Beatriz
Milanez e Déborah Silva; e um panorama do
público que visitou a sessão de pôsteres

Rio Pesquisa
Rio Pesquisa -- nº
nº 44
43 -- Ano XI | 27
Ano XII
JOVENS TALENTOS

bastante animado. Para seu colega porque gosto muito de falar”, tos. Milena Enderson Chagas da
na pesquisa, Carlos Oliveira, o pro- confessou Déborah. Já Beatriz Silva foi premiada na edição de
jeto o auxiliou a pensar em novas foi informada do projeto por uma 2014 e agora participa como jurada
formas de aprender Matemática, amiga que sabia de sua vontade de da área de Biológicas junto com
uma matéria bastante importante cursar História. Com o incêndio outros 29 avaliadores. Na época
para quem pretende ingressar no que destruiu o prédio da institui- em que ingressou no programa,
curso de Arquitetura e Urbanismo ção, o objetivo do trabalho, que era ela cursava o Técnico em Análises
no próximo ano. aumentar a visitação de estudantes Clínicas e estava focada no mer-
A oportunidade de participar do de escolas de São Cristóvão ao Mu- cado de trabalho. Com o ingresso
projeto “O Museu Nacional e as es- seu, precisou ser alterado. Agora, o no projeto, ela recebeu o convite
colas de São Cristóvão: um estudo papel das estudantes é, a partir de do orientador Antônio Henrique
da relação” despertou o interesse entrevistas, saber como aproximar a de Moraes, da Fundação Oswaldo
das estudantes do segundo ano do comunidade do entorno, entenden- Cruz (Fiocruz), para continuar as
Colégio Pedro II Déborah Silva e do suas expectativas em relação ao pesquisas como graduanda em Far-
Beatriz Milanez para a importância Museu Nacional e levar as coleções mácia. “Eu achava que a vida aca-
da visitação aos museus. “Quando do Museu às escolas. “Já que agora dêmica se limitava à sala de aula.
apareceu a oportunidade de partici- não é possível visitar o Museu, o E eu me apaixonei pela pesquisa,
par desse projeto, me dei conta de Museu está indo até as escolas”, tanto que estou aqui há cinco anos.
que nunca tinha visitado o museu contou Beatriz. Participei de diversas publicações
e fiquei com muita curiosidade de A cerimônia também contou com e conheci diversos lugares”, relem-
saber mais. Também me animei retornos de antigos Jovens Talen- brou orgulhosa.

Confira a lista dos vencedores da etapa final da XIX Jornada Jovens Talentos

Exatas diferentes fitoplanctonicas isoladas na Alunos: Gabriel Silva, Maria Santos e


Lagoa de Jacarepaguá Melina Ferreira
1º Explorando a matemática em jogos
etninomatemáticos Aluna: Beatriz de Souza Orientadora: Karina Semerano
Aluna: Ana Carla Alves Orientador: Marcelo Manzi Instituição: Escola Técnica Estadual
Instituição: Universidade do Estado do Ferreira Viana
Orientador: Wellington de Carvalho
Rio de Janeiro (Uerj) 2º Laboratório de Leituras
Instituição: Centro Federal de Educação
Tecnológica Celso Suckow da Fonseca 2º Construindo o saber Alunos: Ana Flávia Ferreira Pilar Cos-
(Cefet/RJ) Alunos: Ana Paula de Olveira e Arthur ta, Anna Beatriz Nunes de Carvalho,
2º Mate_Mágica_Mente Lessa Beatriz Santos de Souza, Caique de
Orientadora: Débora Anjos Sousa Nunes, João Victor Loureiro
Alunos: Carlos Miguel de Oliveira e dos Santos, Thais Galvão Costa e Jean
João Pedro Braga Instituição: Universidade Federal do
Michel Barbosa
Rio de Janeiro (UFRJ)
Orientador: Viviane Tatagiba Orientadores: Ana Lígia Matos de
Instituição: Instituto Federal Fluminen- 3º Caracterização da matriz extrace- Almeida
se – Campus Maricá lular dos nichos de hematopoiéticos
Instituição: Escola Técnica Estadual
do fígado fetal de camundongos
3º Uso de smarthphones como ferra- Ferreira Viana
Aluno: Gustavo Gomes
mentas no ensino de Matemática apli- 3º Bertha Lutz e a sua atuação na
Orientadora: Jackline da Silva
cada ao curso técnico de edificações conferência de São Francisco em
Instituição: Fundação Oswaldo Cruz 1945: a inclusão da igualdade de
Aluno: Vinícius de Oliveira
(Fiocruz) gênero na carta da ONU
Orientador: Everton de Moraes
Instituição: Instituto Federal Fluminen- Humanas Alunas: Sofia Pugliese e Thailany
se – Campus Maricá Colodino
1º Preservação do Patrimônio his-
tórico da Escola Técnica Estadual Orientadora: Maria das Graças Freitas
Biológicas Souza Filho
Ferreira Viana: Laboratório de Con-
1º Avaliação da pressão herbívora de servação de Documentos do Centro Instituição: Museu Nacional/UFRJ
28 | Rio Pesquisa
populações - nº 44de
naturais - Ano XII
cladócero em de Memória
MATEMÁTICA

Antenado nos números


Débora Motta Universidade Federal Fluminense
(IME/UFF), em parceria com a
Associado a uma professora Telma Pará, da Escola

N
o momento em que o Brasil
celebra o Biênio da Ma- Técnica Estadual Adolpho Bloch,
rede de ‘antenas’ temática 2017-2018, um ligada à rede Fundação de Apoio à
Escola Técnica (Faetec-RJ). O pro-
projeto vem ajudando a popularizar
mundiais, o gosto pela Matemática entre os jeto recebeu apoio da FAPERJ por
alunos do Ensino Médio e pode meio dos editais Apoio à Difusão e
portal contribui ser utilizado como uma ferramenta Popularização da Ciência e Tecno-
logia no Estado do Rio de Janeiro
para despertar de apoio à didática de professores
da disciplina. Trata-se do portal e Cientista do Nosso Estado(CNE),
ambos coordenados por Simone.
o gosto pela Antena Brasileira de Matemática
(http://www.antenabrasil.uff.br/), A Antena Brasileira de Matemática
Matemática entre uma iniciativa coordenada pela é um núcleo de pesquisa, criado
professora Simone Dantas, do Ins- em 2008, que se integra à rede de
os estudantes tituto de Matemática e Estatística da antenas mundiais Maths à Mode-

Foto: Divulgação

Detalhes do jogo Clobber, que utiliza noções


da Matemática Combinatória para tornar o
estudo da disciplina mais atraente aos alunos

Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII | 29


MATEMÁTICA

ler, lideradas pelo professor Sylvain duas pessoas são amigas, estes dois estrutura matemática utilizada para
Gravier, da Université Grenoble pontos são ligados por uma linha, representar diversas situações de
Alpes, na França, que atualmente chamada de aresta; esta estrutura interesse prático, e que pode ajudar
é diretor de pesquisa do Centro é denominada grafo”, resume na resolução de questões em áreas
Nacional de Pesquisa Científica, o Simone, que também dá aula de diversas, como na Biologia ou nas
CNRS, na sigla em francês, princi- “Combinatória” para o curso de Ciências da Computação. “É pos-
pal agência pública de fomento à Licenciatura em Matemática e de sível pensar matematicamente as
pesquisa científica da França. “O “Matemática Discreta” na gradua- relações de evolução entre DNAs,
Sylvain foi meu orientador durante ção em Ciências da Computação, por exemplo, usando a teoria dos
o doutorado-sanduíche que reali- ambos na UFF. Os grafos são uma grafos”, acrescenta.
zei na França e hoje participa do
projeto coordenando essa rede de Foto: Divulgação
antenas, que são núcleos de popu-
larização da Matemática, na França
e na Bélgica”, conta Simone.
O objetivo dessa rede de pesquisa
é difundir entre os estudantes, de
forma lúdica, com jogos e brin-
cadeiras, o gosto pela Matemática
e, especialmente, introduzi-los ao
estudo de um ramo dessa disciplina
denominado “Matemática Discreta
e Combinatória” – que trata, entre
outros conteúdos, de problemas de
contagem, como Permutações e
Combinações, além da Teoria dos
Grafos. Simone explica que essa
área da Matemática, estudada, por
exemplo, por alunos de graduação
em Matemática, Engenharias e
Ciências da Computação, utiliza re-
presentações com grafos para ana-
lisar as relações entre os objetos de
um determinado conjunto e, assim,
tentar elucidar diversas questões
presentes no nosso dia a dia.
“Imagine a relação de uma pessoa
com seus amigos em uma deter-
minada rede social. As pessoas
podem ser consideradas como
pontos, chamados de vértices e, se

Jogos e brincadeiras despertam, de forma


lúdica, o interesse dos jovens para resolver,
por exemplo, problemas de contagem

30 | Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII


MATEMÁTICA

Foto: Divulgação
Para popularizar esse tema de
forma divertida entre os jovens,
o grupo da Antena Brasileira
de Matemática vem realizando
diversos minicursos, workshops
(www.mda.uff.br), seminários
de Combinatória, concursos de
curtas-metragens voltados para a
ciência, intervenções em sala de
aula e outras atividades em escolas
da rede Faetec e no Colégio Pedro
II, no Rio, além de acompanhar,
durante viagens de intercâmbio de
pesquisa, atividades de difusão da
Matemática nas escolas da França,
realizadas pelo Maths à Modeler.
“Nossas atividades envolvem
pessoas de diversas idades e níveis
de escolaridade que contribuem,
desde a confecção dos materiais
disponíveis no portal, até a sua
participação em jogos, vídeos,
A partir da esq., a coordenadora do projeto, Simone Dantas, o professor do CNRS, na França,
apostilas e artigos. Em todas estas Sylvain Gravier, o diretor da Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch, José Adriano Alves, e a
atividades proporcionamos a expe- professora da Faetec Telma Silveira Pará, durante o Festival da Matemática, em abril de 2017
rimentação do ‘fazer pesquisa’ e o
despertar do interesse matemático Licenciatura no Instituto de Ma- feito para a melhoria do ensino da
entre os alunos e o grande públi- temática e Estatística da UFF, que disciplina nas escolas.
co”, diz Simone. estão se preparando para seguir a
“Esse ranking refere-se à excelência
Um dos jogos utilizados para carreira de professor ou fazendo
que temos em pesquisa superior
tornar mais atraente o ensino uma reciclagem na área. “O projeto
em Matemática, mas, ao mesmo
de Matemática nas escolas é o também tem contribuído na forma-
tempo, precisamos fazer com que
Clobber, que trabalha noções de ção dos alunos de Licenciatura e na
os alunos tenham uma educação de
combinatória. O jogo começa reciclagem de professores de Ma-
qualidade na escola para terem a
com o posicionamento de pedras temática, por meio da apresentação
oportunidade de chegar até o nível
pretas e brancas nos vértices de de novas técnicas de ensino mais
de pesquisa. Precisamos despertar
um grafo. O movimento consiste compatíveis com o cotidiano”, fala
o interesse pela Matemática desde
em pegar uma pedra e eliminar Simone.
cedo. Parece que existe, no senso
outra da cor oposta, localizada no Apesar de a pesquisa em Mate- comum, um orgulho de a pessoa
vértice adjacente, ocupando assim mática brasileira ter conquistado dizer que detesta a disciplina, o que
o seu lugar. O jogo termina quando avanços, como a recente entrada do demonstra que o ensino precisa ser
não for mais possível movimentar País no “Grupo 5” – o grupo das mais interessante”, conclui.
as pedras. O objetivo é terminar cinco maiores potências do mundo
com o menor número de pedras Pesquisadora: Simone Dantas
em pesquisa na área –, segundo
no tabuleiro. Instituição: Universidade Federal
classificação da União Matemática Fluminense (UFF)
Outro objetivo do projeto é aju- Internacional (veja reportagem da Fomento: Programas Apoio à
dar no treinamento de recursos FAPERJ sobre o tema aqui: http:// Difusão e Popularização da Ciência
humanos na área de Matemática, www.faperj.br/?id=3525.2.0), a e Tecnologia no Estado do Rio de
propondo técnicas pedagógicas professora reforça que há todo um Janeiro e Cientista do Nosso Estado
lúdicas para alunos do curso de trabalho de educação básica a ser (CNE)

Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII | 31


EDITORAÇÃO
EDITORAÇÃO

Obras apoiadas pela FAPERJ difundem pesquisas das universidades fluminenses

C om recursos oriundos de progra-


mas, bolsas e editais, livros e obras
audiovisuais têm sido publicados com
difundir, de forma ampla e para públicos
variados, a produção acadêmica e o traba-
lho de laboratórios, institutos e centros de
de referência do apoio dado, por meio da
difusão editorial, do conhecimento e da
pesquisa empreendidos pelos estudiosos
regularidade desde o ano 2000. Estas pesquisa do Estado. O acervo de publica- e pesquisadores fluminenses. Conheça, a
obras, abrangendo quase todas as áreas ções e produtos apoiados pela Fundação seguir, algumas obras recentes publicadas
do conhecimento, têm contribuído para constitui, assim, um importante marco com o apoio da FAPERJ.

Pensando o cinema moçambicano: Escritos Policiais - Elísio de


ensaios Carvalho
Esta coletânea (Ed. Kapulana, 2018, 152 p.) Este volume da Coleção Rio de Crônicas,
organizada pela professora Carmen Lucia financiado por meio do edital Apoio à Produ-
Tindó Secco, da Faculdade de Letras da ção e Publicação de Livros e DVDs Visando
UFRJ, apresenta onze ensaios que se pro- à Celebração dos 450 Anos da Cidade do
põem a analisar filmes e obras literárias de Rio – 2014, reúne seis séries de crônicas
Moçambique. Produzidos no âmbito do evento “Encontro publicadas pelo cronista Elísio de Carvalho (1880-1925) na
com Luís Carlos Patraquim”, durante a II Mostra de Cinema imprensa carioca entre 1910 e 1913. Os textos são atraves-
Africano, na Faculdade de Letras da UFRJ em 2017, os textos sados pela emergência de uma criminalidade sofisticada e
apresentam e analisam obras cinematográficas clássicas do pretensamente civilizada, e a aspiração a uma modernização
cinema moçambicano e adaptações de obras literárias, como da polícia que permitisse combatê-la. A obra (Ed. Contra
o romance Terra sonâmbula, de Mia Couto. A obra resulta de Capa, 2017, 174 p.) tem organização de Diego Galeano e
apoio recebido da FAPERJ por meio do programa Cientista Marília Rodrigues de Oliveira, e a Coleção Rio de Crônicas
do Nosso Estado. (quatro volumes) é coordenada pelo pesquisador Leonardo
Affonso de Miranda Pereira.
Imprensa, livros e política no
Oitocentos Clio-Psyché - Discursos e práticas
Este é o terceiro volume (Ed. Alameda, 2018, na história da Psicologia
384 p.) de coleção organizada por quatro histo- Este livro, publicado com recursos oriundos
riadoras da Universidade Federal Fluminense e do programa Cientista do Nosso Estado,
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, é uma coletânea de artigos derivados de
fundadoras da Sociedade de Estudos do Oito- apresentações do XI Encontro Clio-Psyché,
centos (SEO) – Tânia Bessone, Gladys Sabina Ribeiro, Monique realizado em outubro de 2014 na Uerj. Orga-
de Siqueira Gonçalves e Beatriz Momesso. Os textos reunidos nizado por Ana Maria Jacó-Vilela e Dayse de Marie Oliveira
trazem novos modos de entendimento do século XIX, a partir (Ed. EdUERJ, 2018, 362 p.), a obra reflete a ampliação da
de estudos sobre livros e imprensa, priorizando a compreensão participação de historiadores da Psicologia de outros países
do circuito comunicacional do Rio de Janeiro como principal no evento, com trabalhos de autoria de brasileiros e de es-
porto de entrada de impressos e sede da maior efervescência trangeiros em relativa igualdade. Os textos versam sobre os
cultural da época. Este livro sintetiza e consolida resultados das modos de fazer psicologia, sobre a relevância de determinados
pesquisas realizadas pela pesquisadora Gladys Sabina Ribeiro personagens, como o espanhol Emílio Mira y López, e sobre
no âmbito do programa Cientista do Nosso Estado. a Reforma Psiquiátrica.

Viola & Violão em Terras de São Sebastião


A história da inserção social da viola e do violão na instrumento, desde seus antepassados à chegada
cultura da cidade do Rio de Janeiro é o objeto do ao Brasil Colônia até meados do século XX, com
DVD Viola e Violão em Terras de São Sebastião uma linguagem audiovisual atraente e didática. A
(Direção de vídeo de Raul Taborda, 2017, 47min33s exposição é acompanhada por um recital em que
+ 22min23s,), de Marcia Taborda, professora e Marcia Taborda executa um repertório com oito
pesquisadora da Escola de Música da Universidade clássicos do repertório violonístico. O trabalho foi
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A obra consiste contemplado pela FAPERJ, por meio do programa
de uma aula-espetáculo, gravada em junho de 2016, Apoio à Produção e Publicação de Livros e DVDs
na Sala Guiomar Novaes, anexa à Sala Cecilia Visando à Celebração dos 450 Anos da Cidade do
Meireles, em que a autora apresenta a história do Rio de Janeiro, lançado em 2014

32 | Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII


32 | Rio Pesquisa - nº 44 - Ano XII

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