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ciencias-de-verdade-ao-alcance-de-todos

Publicado em NOVA ESCOLA 07 de Março | 2018

Ensino Fundamental e Ensino Médio

Uma feira de ciências de


verdade ao alcance de
todos
Com a Metodologia Científica ao Alcance de Todos, baseada
na linguagem das histórias em quadrinhos, professores e
alunos fazem perguntas e buscam por soluções de acordo
com o percurso científico, tal como os cientistas

O QUE É?
Metodologia Científica ao Alcance de Todos (MCAT), vencedora Projeto
vencedor do prêmio Desafio Aprendizagem Criativa Brasil 2017,
promovido pela Fundação Lemann, pelo MIT Media Lab e pela Rede
Brasileira de Aprendizagem Criativa.
E-mail para contato: cienciarn@gmail.com

QUEM FEZ?
Professores e servidores da Universidade Federal Rural do Semi-Árido
(UFERSA): Carlos Eduardo Soares, Celicina Azevedo, Cristiane de
Carvalho Moura, Cybelle Vasconcelos, Darlan Dantas de Araújo, Felipe
Ribeiro, Késia Castro, Natália Celedonio, a professora da Universidade
Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), Simone Santos, a técnica
pedagógica da Rede Estadual de Ensino, Maria Goretti Silva, e o
professor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), Renato
Silva Castro.

PODE TE INSPIRAR PORQUE...


Com base em material de linguagem bem acessível (história em
quadrinhos) e refinado ao longo de sete anos, o MCAT descomplica o
método científico de modo a torná-lo acessível a professores e alunos,
convidando-os a investigar, tal como os cientistas fazem, o que lhes
desperta curiosidade. Como produto final do trabalho, é organizada
uma feira de ciências na escola. É também inspirador porque é um
método capaz de empoderar comunidades, como acontece no
semiárido brasileiro, inclusive dando a chance de alunos fazerem a
exposição dos projetos em feiras de ciências de São Paulo e do
exterior.

Etapa
Ensino Fundamental e Médio.

ANO
6° ao 9° e 1° ao 3°

CONTEÚDOS
Ciências Exatas, Ciências Humanas, Ciências Biológicas, método
científico.

MCAT - Metodologia Científica ao Alcance de Todos


Introdução
Não raro, as feiras de ciências organizadas nas escolas têm mais a ver com a
apresentação de trabalhos demonstrativos, resultados de pesquisas feitas na
internet, do que com a apresentação de investigações científicas encaminhadas
e assinadas pelos alunos, como deveria ser. É preciso incutir nas salas de aula
do Ensino Fundamental e Médio a importância de despertar e alimentar a
curiosidade e a criatividade dos alunos, incentivando-os a formular, planejar e
realizar uma pesquisa considerando as próprias ideias e fazendo uso da
metodologia científica de forma lúdica, mas sem perder o rigor científico.

Histórico
Em 2006, um grupo de professores universitários e estudantes de graduação e
pós-graduação fizeram um levantamento da situação das escolas na 12a.
Diretoria Regional de Educação do Rio Grande do Norte e constataram um
ensino teórico em demasia, basicamente pautado em leituras e resolução de
questionários. Faltavam atividades de campo e práticas em laboratório. O grupo
também notou que os professores tinham pouca ou nenhuma formação em
metodologia científica e que não existia tradição de realizar feiras de ciências
nas escolas usando a metodologia. Constatado isso, foi organizada uma ação de
formação docente que tinha como objetivo final a realização de feiras de
ciências de qualidade na região. As barreiras para a realização de feiras de
ciências também foram constatadas em outras cinco Diretoria Regional de
Educação do estado, para onde a MCAT foi levada em 2011 e 2012. Atualmente,
os trabalhos desenvolvidos pelos alunos são apresentados na feira de ciências
da escola em que estudam, em uma feira regional, na Feira de Ciências do
Semiárido Potiguar (esfera estadual) e feiras nacionais e internacionais. Entre a
ação de formação docente, geralmente realizada logo no início do ano letivo, e a
realização da feira de ciências na escola, passam quatro meses. Depois disso,
até a realização da feira regional, entre um e dois meses. E, por fim, mais um
mês e meio até a Feira de Ciências do Semiárido. Nesse período, os alunos
podem aprimorar o trabalho, até mesmo modificando algum aspecto
fundamental.

Objetivos
- Formar novos cientistas e estimular a inovação nas escolas.
- Tirar o foco da escola do ensino puramente teórico, permitindo que os alunos
coloquem as próprias ideias em xeque e busquem respondê-las.
- Desenvolver feiras de ciências em escolas com apresentação de trabalhos
investigativos e de qualidade, seguindo as etapas e as premissas do método
científico.
- Estimular os alunos a seguir carreira científica.

Desenvolvimento
1ª etapa
Dois encontros de formação de professores de disciplinas variadas a respeito
do método científico por meio do estudo dos gibis “Eu, Cientista?” e “Feira de
Ciências” a fim de que conheçam as etapas do método científico, a validade de
trabalhar com ele, a importância de despertar nos alunos o interesse em fazer
boas perguntas que possam levá-los a investigações científicas. No primeiro
encontro, é apresentada a Metodologia Científica ao Alcance de Todos (MCAT) e
como fazer uma tempestade de ideias: os professores são organizados em
grupos de até três pessoas, com 5 minutos para fazer perguntas sobre qualquer
assunto que têm curiosidade, sem julgar o teor delas ou tentar respondê-las.
Um dos membros fica responsável por anotar as perguntas formuladas pelos
colegas. No segundo encontro da formação, os professores apresentam as
questões propostas pelos alunos durante a tempestade de ideias na escola (leia
a segunda etapa) e os formadores trabalham as questões, reformulando-as se
necessário, para que abarquem os critérios que fazem dela uma pergunta
científica: ser clara e precisa, estar delimitada a uma dimensão viável, não
envolver julgamento de valor e ser possível de solução.

2ª etapa
Trabalho dos professores em sala de aula, diretamente com os alunos. Abre-se
o debate: o que nos impede de pensar livremente e ser criativos? Em seguida,
todos os estudantes são convidados a formular perguntas livremente em
grupos, fazendo uma tempestade de ideias, a mesma que os professores
realizaram durante o primeiro encontro de formação (leia a 1a. etapa). Fica a
cargo de um aluno de cada grupo anotar todas as questões levantadas.

3ª etapa
Os alunos são convidados a ler o gibi “Eu, Cientista?” e posteriormente, com
base no que aprenderam, analisar, selecionar e reescrever as perguntas feitas
anteriormente. Em paralelo, durante o segundo encontro de formação dos
professores, as perguntas formuladas pelos alunos são debatidas e
reformuladas, se necessário, para que atendam aos critérios de formulação de
um problema científico, como descrito na 1a. etapa. Confira alguns exemplos de
perguntas reformuladas, retiradas do do livro Metodologia Científica ao
alcance de todos (Ed. Manole):

1. Qual o sentido do preconceito e porque as pessoas são preconceituosas?


Embora seja uma pergunta muito boa, é muito ampla e fica difícil formular um
projeto de feira de ciências com ela. Entretanto, partindo desta ideia, é possível
reformular a questão para que fique mais delimitada e objetiva e assim possa
ser o ponto de partida de um projeto de pesquisa: Quais os principais
preconceitos observados entre os habitantes da cidade X (nome da cidade) e
qual a relação entre o grau de preconceito observado e a faixa etária e nível
socioeconômico dessas pessoas? Com essa reformulação, é perfeitamente
possível investigar, num universo mais restrito, usando um questionário bem
elaborado, a ideia inicial de saber porque as pessoas são preconceituosas e os
motivos que concorrem para isso. A expressão natural ao fazermos um
questionamento é: Por quê? A expressão, entretanto, gera muitas respostas,
isto é, muitas hipóteses, precisamos restringi-la . É interessante tentar substituir
o “por quê” por outra expressão que gere uma resposta mais específica.

2. Porque os peixes não respiram fora d'água? Podemos substituir o por quê
por uma outra expressão que facilite a formulação de uma hipótese: Qual o
fator fisiológico impede os peixes de respirar fora d’água? Com essa pergunta, é
mais fácil formular uma hipótese e realizar um experimento ou levantamento
para testá-la. Outra ideia é partir do por quê para encontrar outra forma de
questionar.

3. Por que crianças e adolescentes passam a consumir mais cedo bebidas


alcoólicas? Nesse caso, o por quê praticamente já é uma afirmativa de que as
crianças e adolescentes iniciam o consumo de álcool muito cedo. O ideal, no
entanto, é saber se a ideia é mesmo verdadeira, investigando o consumo de
álcool nas diferentes faixas etárias, numa determinada localidade. É possível
reformular a questão: Qual a faixa etária que os jovens da cidade X (nome da
cidade) iniciam o consumo de bebidas alcoólicas e quais os motivos que levam
esses jovens a consumirem álcool?

4ª etapa
Os alunos devem, com ajuda dos professores, formular hipóteses para
responder às perguntas, ainda que de modo provisório.

5ª etapa
Depois de escolher um professor orientador para o tema que vai ser
pesquisado, cada grupo deve escrever o projeto de pesquisa e partir para a
prática da pesquisa tendo em mente a exposição do processo e do resultado
em uma feira de ciências a ser organizada na escola.

Para escolher o professor orientador, não é necessário que ele lecione na área
do tema do projeto dos alunos. O orientador tem um papel central para ajudar
os alunos a buscarem respostas, ajudá-los a encontrar caminhos e se organizar
para pesquisar. É fundamental que ele se engaje no projeto. Depois da
formação docente do projeto, na teoria, todo professor, seja lá qual sua
especialidade, está apto a atuar como orientador.
Leia, no quadro ao final do texto, o exemplo de um trabalho desenvolvido sobre
energia eo?lica, por alunos da EE 11 de Agosto, em Umarizal (RN) pelos alunos
Jonas Medeiros de Paiva, Marcondes Matheus de Morais Silva e Fla?via Kaline de
Paiva Silva, orientado por Jose? Everton Pinheiro Monteiro.

6ª etapa
Encerrada a etapa de prática de pesquisa, os alunos chegam a conclusões
considerando os resultados obtidos durante o processo e devem escrever o
relatório final da pesquisa. Para organizar a apresentação na feira de ciências da
escola, cada grupo de alunos deve elaborar um banner simples - na forma de
cartaz, por exemplo, que apresente um resumo do trabalho e planejar uma boa
apresentação oral para o público em geral e avaliadores que visitarão o
projeto.

Produto final
Feira de ciências apresentada na escola e em outras feiras de ciências
(regionais, nacional e internacionais).

Projeto desenvolvido por estudantes para feira de ciências


Título: Energia Eo?lica: Energia do Futuro! - Projeto participante Primeira Feira
de Ciências da 14a. DIRED.
Escola: EE 11 de Agosto
Município: Umarizal (RN)
Orientador: José Everton Pinheiro Monteiro
Alunos: Jonas Medeiros de Paiva, Marcondes Matheus de Morais Silva, Flávia
Kaline de Paiva Silva
Pergunta: Qual a quantidade de hélices, e dimensões adequadas para uma
maior produção de energia?

Hipótese: O tamanho e o número de hélices de um aerogerador de eixo


horizontal podem influenciar na quantidade de energia produzida. Sendo os
aerogeradores de 3 hélices mais eficazes com diâmetros proporcionais ao fluxo
de vento e a potência do motor estudado (diâmetro da hélice: 6,5 cm).

Foco do trabalho: comparar os diferentes tipos e tamanhos de hélice para


provar que as hélices dos aerogeradores de eixo horizontal também
influenciam na quantidade de energia produzida pelo aerogerador.

Metodologia: Leitura de textos, pesquisa na internet, criação de maquetes,


realização de experimentos.

Como foi desenvolvido o trabalho: Com sucessivas pesquisas, elaboração de


maquetes e experimentos em relação ao tamanho e número de hélices de
aerogeradores de eixo horizontal, obtendo resultados plausíveis para a
comprovação da situação problema.

Objetivos do projeto:
- Mostrar o que é a energia eólica e seus princípios, vantagens e desvantagens.
- Mostrar que, quando o petróleo acabar e a água se tornar mais escassa, essa
seria uma solução para a produção de energia limpa, já que é inesgotável, não
emite gases poluentes nem geradores de resíduos, diminuindo a emissão de
gases do efeito estufa.

O que foi comprovado com o trabalho: Com os resultados obtidos, os alunos


provaram que o tamanho e o número de hélice de um aerogerador de eixo
horizontal pode influenciar na quantidade de energia produzida. Com os
experimentos, comprovaram que mini aerogeradores de três hélices, com o
diâmetro variando entre 6,5 a 8,5 cm, têm uma maior produção de energia,
obtendo melhores valores com aerogeradores de 6,5 cm de diâmetro.
Mostraram também a proporcionalidade entre voltagem produzida (volts),
tamanho de hélice (diâmetro em cm), número de hélices, admitindo um fluxo de
vento específico: gerado por um secador da marca NKS com potência de 2200
watts.

Conclusão dos alunos: “A energia eólica é uma solução sustentável para o


futuro. Em nossos experimentos concluímos que o tamanho e o número de
hélices de um aerogerador de eixo horizontal pode influenciar na quantidade de
energia limpa produzida. Em nossos experimentos também comprovamos a
eficácia dos mini aerogeradores de três hélices com o diâmetro variando entre
6,5 a 8,5 cm.”

Acesse o diário de bordo dos alunos para conhecer o passo a passo, em


detalhes, do percurso investigativo percorrido por eles.
Acesse o relatório de pesquisa completo.
Acesse o painel desenvolvido pelos alunos e exposto na feira.

Observação: Durante a Feira, os avaliadores sugeriram aos alunos que fizessem


algumas mudanças trabalhadas entre o período da feira da Dired (Diretoria
Regional de Educação, Cultura e Desportos) e a 1a Feira de Ciências do
Semiárido Potiguar. O trabalho então recebeu primeiro lugar na Feira de
Ciências do Semiárido e foi credenciado para participar da FEBRACE 10 (Feira
Brasileira de Ciências e Engenharia). Lá, os alunos ganharam quarto lugar de sua
categoria e foram convidados pela Rede POC (Rede de Programas de
Olimpíadas do Conhecimento) para participar da Feira Internacional de
Empreendedorismo Produtivo, Ciências e Cultura do Equador e conquistaram o
primeiro lugar geral na feira e U$ 1.500,00 (entre os projetos de estudantes do
Brasil, Equador, Peru e Uruguai).

E você, leitor? O que acha de organizar uma feira de ciências em sua escola?
Deixe seus comentários e relatos de experiências abaixo, no espaço indicado.

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