Você está na página 1de 32

Índice

VINHOS PORTUGUESES 3
Um vocabulário indispensável 4

AS REGIÕES VITINÍCOLAS 6
Vinhos generosos 9
Porto 9
Madeira 11
Setúbal 12
Carcavelos 12
Outros vinhos 13
Vinho Verde 13
Douro 14
Bairrada 15
Dão 15
Lisboa 16
Península de Setúbal 18
Alentejo 18
Vinhos de outras regiões 19
Os Rosés 20

CONSELHOS PARA UM BOM


APRECIADOR DE VINHOS 21
Um vinho para cada prato 21
Cuidados a ter com os vinhos
antes de os servir 23
O serviço do vinho 24
A GARRAFEIRA PARTICULAR 26
Vinhos
PORTUGUESES

A
escolha certa de um vinho e saber servi-lo
correctamente têm uma importância decisiva
no êxito de uma refeição.

Esta magnífica bebida proporciona sempre, ao redor de


uma mesa, as mais animadas conversas, porque o acto de
apreciar um vinho constitui, só por si, uma arte.

A qualidade de um vinho nasce invariavelmente da


qualidade da vinha e dessa matriz depende todo o
processo evolutivo a jusante, considerando cinco aspectos
decisivos: o solo onde a vinha está implantada, as castas
seleccionadas, o clima local, a orientação e disposição das
videiras e por fim o processo de vinificação. Se um destes
parâmetros falha, compromete o resultado final.

Portugal é actualmente o 12.º produtor mundial de vinho


e tem uma grande e antiga tradição vinícola. Aqui se
produzem os mais variados tipos de vinho, em geral
de boa qualidade, numa grande diversificação, fruto de
uma conjugação de factores naturais e humanos que os
condicionam e distinguem.

Os produtos vínicos nacionais abrangem um vasto leque


de tipos de vinho, sistematizados em função da sua
origem e características, e controlados por entidades
certificadoras credenciadas.

Neste guia, só nos ocupamos dos principais tipos de


vinho de consumo e dos vinhos generosos.

3
Um vocabulário indispensável

O s bons apreciadores servem-se de um ritual e de


um vocabulário extenso e por vezes ininteligível
aos não iniciados... De tudo isto convém conhecer-se um
pouco, sob pena de se «ficar de fora» quando à volta da
mesa se discutir um vinho.

Se este é servido em garrafa originária, a primeira


atenção, embora discreta, do conhecedor deve dirigir-
-se à própria garrafa. Depois, no copo, aprecie-se-lhe
a cor e o aspecto geral. Aspire-se-lhe seguidamente o
aroma, fazendo-o revelar-se enquanto se gira docemente
o copo entre os dedos. Para preparar o paladar, à mesa,
pode mastigar-se um pedacinho de pão ou a tradicional
bolacha de água e sal, habitualmente utilizada nas
provas. Para provar um vinho deve beber-se apenas
um pequeno gole, sendo possível ainda um segundo,
depois de uma pequena pausa.

Quanto à cor, os vinhos podem ser tintos, rosés, claretes


ou palhetes e brancos. Os tintos, por sua vez, conforme
a sua tonalidade, podem ser retintos, tintos, rubis,
tintos alourados, casca de cebola e alourados. Os
brancos podem ser brancos pálidos, citrinos, brancos
palha, brancos doirados, etc. Note-se que a coloração
num vinho não se mantém imutável, antes varia com
o tempo.

Quanto ao aspecto, há a considerar a limpidez, a viscosidade


e a espuma ou rama (nos vinhos novos). Quanto à limpidez,

4
os vinhos podem ser brilhantes, límpidos, encobertos,
irisados, enevoados, sujos ou turvos. Por viscosidade
entende-se a maior ou menor aderência do vinho ao copo,
ou seja, a intensidade com que, nas paredes deste, se forma a
chamada lágrima, de grande interesse para a apreciação dos
vinhos generosos. A espuma ou rama pode ser apreciada
quanto à cor (incolor, esbranquiçada, rósea, etc.), quanto
à persistência (persistente, fugaz ou evanescente, etc.) e
quanto à natureza (fina, grossa, etc.).

Pelo olfacto aprecia-se o aroma geral dos vinhos nos


seus diferentes matizes (os bons: a flores, a fruta, etc.;
os maus: a rolha, a mofo, a terra, a enxofre, etc.). Nos
vinhos tintos avalia-se geralmente o bouquet (o aroma
resultante da combinação das diferentes essências no
decurso da evolução do vinho, podendo assim ser mais
ou menos acentuado); a apreciação dos vinhos brancos
é usualmente feita pelo perfume, que pode ser mais ou
menos intenso.

Os caracteres gustativos são revelados pelo paladar.


Um vinho deve ser apreciado quanto à doçura (brutos –
apenas em relação aos espumantes –, extra secos, secos,
meio secos, doces, muito doces, ajeropigados), quanto
à adstringência (macios, suaves, aveludados ou redondos –
os não adstringentes; ásperos ou duros – os adstringentes),
quanto à acidez (insípidos, frescos, acidulados e ácidos) e
quanto ao corpo (sensação de enchimento e riqueza
alcoólica do vinho ao paladar). Dizem-se os vinhos muito
ou pouco encorpados. Os pouco encorpados também se
chamam leves ou ligeiros.

5
AS REGIÕES
VITIVINÍCOLAS

A
classificação dos vinhos era, em si própria,
uma ciência à parte, com categorias que nos
habituámos a conhecer, como por exemplo,
VQPRD – Vinhos de Qualidade Produzidos em
Região Determinada, mas que têm caído em desuso,
especialmente depois de 2009 com as novas classificações
da União Europeia. De igual modo, o Vinho de Mesa
passou a designar-se simplesmente Vinho.

Hoje em dia, os vinhos podem enquadrar-se em três


grandes categorias: os que possuem Denominação de
Origem (ou DO), os que possuem Indicação Geográfica
(ou IG, também conhecidos como Vinhos Regionais)
e os restantes Vinhos (antigamente conhecidos como
Vinhos de Mesa, tal como acima referido).

Na rotulagem dos «Vinhos com DO», podem ser


utilizadas as menções DOC (DO Controlada) ou DOP
(DO Protegida), designações associadas a regiões e
regras bem definidas.

Para os «Vinhos com IG», pode ser utilizada a menção


«Vinho Regional» ou «Vinho da Região de» ou «Indicação
Geográfica Protegida» (IGP).

Há 14 zonas de produção com IG, que cobrem a quase


totalidade do território nacional, e 31 zonas com DO,
que ocupam uma área substancialmente menor. Para
se perceber melhor, por exemplo, na IG Lisboa, há

6
várias pequenas zonas DO, como Colares, Bucelas e
outras. Na IG Península de Setúbal, há apenas duas DO,
a de Palmela e a de Setúbal, que ocupam uma pequena
proporção daquela IG. Na vasta IG Alentejo, as regiões
DO têm o mesmo nome, Alentejo, mas abrangem
áreas muito mais pequenas, de que são exemplo as sub-
-regiões de Borba, Redondo ou Vidigueira. Já a IG
Minho corresponde geograficamente à DO Vinho Verde.
Quase se pode dizer que cada caso é um caso...

Enfim, uma classificação complexa, como rica é a


tradição vitivinícola portuguesa!

VINHO VERDE BEIRA INTERIOR ALENTEJO


IGP Minho IGP Terras da Beira IGP Alentejano
1 DOP Vinho Verde 9 DOP Beira Interior 22 DOP Alentejo

TRÁS-OS-MONTES LISBOA ALGARVE


IGP Transmontano IGP Lisboa IGP Algarve
2 DOP Trás-os-Montes 10 DOP Encostas d´Aire 23 DOP Lagos
11 DOP Óbidos 24 DOP Portimão
12 DOP Alenquer 25 DOP Lagos
DOURO
13 DOP Arruda 26 DOP Tavira
IGP Duriense
14 DOP Torres Vedras
3 DOP Douro
15 DOP Lourinhã
4 DOP Porto MADEIRA
16 DOP Bucelas
17 DOP Carcavelos IGP Terras Madeirenses
TÁVORA-VAROSA 18 DOP Colares 27 DOP Madeira
IGP Terras de Cister 28 DOP Madeirense
5 DOP Távora-Varosa
TEJO
IGP Lisboa AÇORES
DÃO 19 DOP DoTejo IGP Açores
IGP Terras do Dão 29 DOP Graciosa
6 DOP Lafões 30 DOP Biscoitos
PENÍNSULA DE SETÚBAL
7 DOP Dão 31 DOP Pico
IGP Península de Setúbal
20 DOP Setúbal
BAIRRADA 21 DOP Palmela
IGP Beira Atlântico
8 DOP Bairrada

7
8
VINHOS GENEROSOS

O s portugueses sempre tiveram um grande orgulho


na qualidade dos seus vinhos generosos, vinhos
esses que, além do mais, representam um capital
importante de prestígio internacional, fruto do peso
que as exportações desses produtos representam no
contexto económico da sua produção.

Porto

A região do Vinho do Porto está demarcada desde


1756, sendo a mais antiga do mundo. No seu
centro geográfico fica o Pinhão, em cujas imediações
se situam «quintas» famosas. A Régua é o seu centro
de actividade económica e comercial. Em 2001, o
Alto Douro Vinhateiro foi classificado pela UNESCO
como Património Mundial da Humanidade pela sua
«paisagem cultural, evolutiva e viva».

É no entreposto de Vila Nova de Gaia que se efectua, na


maioria, a armazenagem e o envelhecimento do Vinho do
Porto e é aí, também, que tradicionalmente se situam os
armazéns dos grandes exportadores. Daí, da proximidade
ao Porto, o nome por que é mundialmente conhecido.

De entre as castas cultivadas destacam-se, para os


vinhos tintos, as Bastardo, Mourisco Tinto, Tinta
Amarela, Tinta Barroca, Tinta Francisca, Tinta Roriz,
Tinta Cão, Touriga Franca e Touriga Nacional; para os
vinhos brancos assinalam-se as Donzelinho, Esgana
Cão, Folgazão, Gouveio ou Verdelho, Malvasia Fina,
Rabigato e Viosinho.

O Vinho do Porto distingue-se dos vinhos comuns


pelas suas características particulares: uma enorme
diversidade de tipos, surpreendendo pela riqueza e
intensidade de aromas incomparáveis, uma persistência

9
muito elevada, quer de aromas quer de sabor, um teor
alcoólico elevado (geralmente entre os 19 e os 22%
vol., ou graus), numa vasta gama de doçuras e grande
diversidade de tons.

Existem vinhos do Porto brancos e tintos.

Dentro da sua classificação, distinguem-se dois


grandes grupos:

a) Sem Data de Colheita – onde se incluem os vinhos


do Porto Ruby, Vintage Character, Tawny e Tawny
com indicação de idade (neste grupo estão os Porto
10 Anos, 20, 30, 40 e mais Anos), que constituem uma
lotação de vinhos de diferentes colheitas, envelhecidos
em madeira, cuja idade média é a indicada no rótulo.

b) Com Data de Colheita – neste grupo distinguem-se


dois tipos de vinho do Porto. Os que são envelhecidos
em madeira (envelhecimento oxidativo, com estágio
mínimo de 7 anos, que aparecem com ano de colheita
no rótulo) e os que após um estágio relativamente
curto em madeira, prosseguem o envelhecimento em
garrafa (envelhecimento redutivo), de que são exemplo
os Vintage, «jóia da coroa», e os LBV – Late Bottled
Vintage, vinhos datados, também de grande qualidade,
mas que têm uma passagem por madeira um pouco
mais longa que os Vintage.

Como, tradicionalmente, a Inglaterra era o grande


consumidor de Vinho do Porto, e também porque
eram os ingleses os principais exportadores, são
frequentes as designações em inglês nos rótulos
(Vintage, L.B.V., etc.). Quanto à cor os vinhos também
se designam usualmente por Full ou Red (vermelho-
-escuro, geralmente novo e doce), Ruby (vermelho
vivo, menos novo, também doce), Tawny (alourado,
geralmente mais velho, meio seco e doce) e White
(branco, geralmente seco).

10
O Vinho do Porto valoriza-se extraordinariamente com a
idade (dentro de certos limites, é claro), mas naturalmente
a qualidade varia muito de ano para ano.

Além do Vinho do Porto, a região produz muito


bons vinhos comercializados com a designação
«Douro», referida em local próprio neste guia.

Ainda na região, e com base na casta Moscatel, pequenas


áreas produzem bons vinhos licorosos, de entre os quais
se destaca o Moscatel de Favaios.

Madeira

A vinha foi das primeiras culturas introduzidas na ilha


após o seu descobrimento. A paisagem vitícola na
Região da Madeira é única e caracterizada pela orografia
acidentada do relevo. As condições particulares do solo,
de origem vulcânica, a proximidade com o mar, as
condições climatéricas e o processo único de produção
conferem ao vinho características únicas e singulares.
As zonas mais importantes de vinhedos situam-se em
Câmara de Lobos, São Vicente e Santana.

O Madeira é um vinho generoso, com uma graduação


alcoólica entre os 18 e os 20 graus. Conforme as castas
cultivadas, variam as suas características organolépticas.
Assim, o Sercial é um vinho seco, leve, de cor clara e
perfume suave. O Malvasia é muito doce, encorpado,
cor escura e perfume forte. Como tipos intermédios
entre estes dois extremos situam-se o Verdelho (meio-
-seco) e o Boal (meio-doce).

A designação Solera, com grande tradição, associada a


uma data de vindima, aplica-se a vinhos de determinada

11
colheita, lotados com outros vinhos de acordo com
certas regras, e desde que o produto apresente uma
qualidade destacada.

O Madeira, que, como todos os vinhos generosos,


melhora com a idade, é dos que se conserva mais tempo,
encontrando-se ainda hoje vinhos muito velhos que
constituem verdadeiras preciosidades.

Setúbal

A região, situada na zona dos Três Castelos (Palmela,


Sesimbra, Setúbal), produz, na parte mais declivosa,
o conhecido Moscatel de Setúbal, proveniente da casta
com o mesmo nome, com acentuado perfume e agradável
frescura, graduação alcoólica de 18-20 graus, e tonalidade
que vai do topázio-claro ao topázio-queimado.

No mercado encontram-se com facilidade, além de


vinhos sem qualquer qualificação especial, vinhos com
indicação de idade (5, 20, 25 anos), mais raramente
vinhos de anos especiais (1900, 1934, etc.) e, mais
raramente ainda, poderão encontrar-se até vinhos
mais velhos.

Na região, conhecida com a designação Terras do Sado


e mais recentemente Península de Setúbal, produzem-
-se também muito bons vinhos de consumo, incluindo
os DO Palmela, adiante referidos.

Carcavelos

É produzido actualmente por um número muito


reduzido de produtores, na Costa do Estoril,
em muito pequenas quantidades, a partir das castas

12
Galego-Dourado, Arinto e Boal (brancas), Trincadeira,
Torneiro e Negra-Mole (tintas).

A proximidade do rio e do mar, aliada à exposição


sul dos vinhedos e ao solo calcário em que estão
implantados, proporcionam um meio óptimo para
a maturação das uvas.

Suave e aveludado, com boas características para um


rápido envelhecimento, é comercializado hoje apenas
como meio doce. A sua graduação é de 18-20 graus.

OUTROS VINHOS

Vinho Verde

E stendendo-se praticamente por toda a região natural


de Entre Douro e Minho, estes vinhos ocupam uma
posição de grande relevo entre os vinhos portugueses,
pelas suas características básicas inconfundíveis; certas
particularidades, contudo, permitem considerar várias
sub-regiões, como Amarante, Ave, Baião, Basto, Cávado,
Lima, Monção, Paiva e Sousa.

As castas tintas mais importantes são as Vinhão,


Borraçal, Espadeiro e Azal Tinto; das brancas, citem-se
Azal Branco, Dourado e Loureiro. Na zona de Monção
e Melgaço a casta predominante é a Alvarinho.

Naturalmente gasosos (com agulha), o que lhes


imprime agradável frescura, os vinhos verdes são
geralmente de baixa graduação alcoólica (9-11,5
graus), com excepção do Alvarinho, que chega a
atingir 13 graus. A frescura destes vinhos deve--

13
se principalmente à sua elevada acidez fixa e ao
anidrido carbónico natural que contêm.

Os vinhos tintos apresentam uma cor vermelho-


-violeta, espuma vermelha e certa adstringência. Os
brancos são de cor citrina, bastante acidulados, com
aroma fino e delicado, frutado; tradicionalmente são
secos, mas preparam-se também ligeiramente doces.

Estes vinhos, brancos ou tintos, são muito dessedentantes.


Devido ao seu baixo teor alcoólico, não suportam o
envelhecimento, com a relativa excepção do Alvarinho
de Monção e Melgaço, que se aguenta «em forma» por
alguns anos.

Douro

A diversidade que distingue a Região Demarcada


do Douro é a sua grande riqueza, tratando-se de
uma região vitivinícola com duas denominações de
origem, Porto (para os generosos) e Douro, com cerca
de 50% da produção para cada uma.

Protegida pelas serras que a cercam, a Região Demarcada


do Douro, com as suas encostas de xisto e a disposição
dos vinhedos em socalcos, beneficia de uma diversidade
de microclimas e está dividida em três sub-regiões:
Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior.

Os vinhos do Douro são produzidos a partir de castas


autóctones como a Touriga Nacional, Touriga Franca,
Tinta Roriz, Tinta Barroca e Tinto Cão. A grande
maioria dos vinhos resulta de um lote de várias castas,
com uma complexidade e riqueza ímpares, que lhes
imprimem um perfil característico da região. Tintos,
brancos e rosés, são vinhos de fermentação completa
que se afirmaram no mercado mundial, ganhando

14
notoriedade e revelando o dinamismo dos viticultores
durienses, nas suas muitas quintas e adegas regionais.

Bairrada

A produção de vinho na região, situada entre as


serras do Caramulo e Buçaco e o litoral, e com
o seu maior centro produtor na Anadia, remonta ao
tempo dos romanos. As vinhas, em geral, situam-se em
terrenos planos ou de meia encosta.

As castas características são, para os vinhos tintos, as


Baga, Castelão ou Periquita e Rufete; para os vinhos
brancos as Bical, Fernão Pires e Rabo de Ovelha.

O vinho tinto apresenta cor granada, é bem equilibrado,


encorpado e desenvolve um belo bouquet, de aroma
e sabor penetrantes. Ganha apreciavelmente com o
envelhecimento. O vinho branco é fino, aromático e de
cor citrina, sendo largamente utilizado na preparação de
espumantes naturais, vinhos de que foi uma das regiões
nacionais pioneiras na sua adopção e exploração. O clima
fresco, húmido e de forte ascendência marítima favorece
a sua elaboração, oferecendo uvas de baixa graduação
alcoólica e acidez elevada, condição indispensável para a
produção dos vinhos espumantes.

Dão

A zona com DO Dão, de longa tradição vinhateira,


tem o centro em Viseu e é atravessada pelos rios
Dão e Mondego.

15
Das castas cultivadas são de destacar as tintas Touriga
Nacional, Tinta Pinheira, Jean, Alfrocheiro Preto
e Alvarelhão; e as brancas Arinto do Dão, Barcelo,
Cerceal, Encruzado e Bical.

Os tintos são perfumados, de gosto suave, com uma


maravilhosa cor rubi; melhoram muitíssimo com a
idade, oferecendo então um bouquet esplendoroso e,
ao serem suavemente agitados no copo, a cor rubi toma
laivos atijolados.

Os brancos são frescos, suaves, de uma bela cor citrina,


com aroma e sabor pronunciado a fruta.

Lisboa

A cultura da vinha na Idade Média, a partir do


Séc. XII desenvolveu-se consideravelmente,
devendo-se este facto à acção de diversas Ordens
Religiosas, com particular destaque para Alcobaça.
Identificada como uma das maiores regiões vitivinícolas
do país em termos de área de vinha e de produção de
vinho, na sua parte central encontramos as mais vastas
manchas de vinha desta região, instaladas nas encostas
suaves das colinas, onde, para além do vinho com
Indicação Geográfica «Lisboa», foram reconhecidas
pelas suas características de elevada qualidade as
Denominações de Origem «Alenquer», «Arruda»,
«Torres Vedras», provavelmente o maior centro produtor
do país, e «Óbidos», onde se produzem brancos
relativamente secos.

16
Junto ao mar é de referir uma zona produtora de
vinhos particularmente vocacionados para a produção
de aguardentes de qualidade, e que mereceram o
reconhecimento da DO «Lourinhã». Na zona mais
a Norte, encontram-se os vinhos com direito à DO
«Encostas d’Aire».

Na parte Sul da região estão as zonas vitícolas de


três Denominações de Origem conhecidas pela sua
tradição e prestígio: «Carcavelos», já referido aquando
da menção aos generosos, «Bucelas» e «Colares».

Na zona de DO Bucelas só os vinhos brancos têm direito


à DO, embora na zona se produzam também vinhos
tintos de apreciável qualidade. As castas brancas mais
importantes são Arinto e Sercial. O vinho apresenta-se
bastante ácido quando novo, e seco, com características
inconfundíveis de aroma e paladar, quando envelhecido.

Os terrenos em que estão implantados os vinhedos


característicos da zona de DO Colares dividem-se em
duas subzonas: «chão de areia» (região das dunas)
e «chão rijo» (solos calcários, pardos de margas ou
afins). As características únicas do vinho que se produz
nesta região devem-se às castas, ao solo e ao clima,
sendo de realçar o facto de continuar a ser mantida
a tradição de «pé franco» sendo a vara «unhada» no
estrato de argila subjacente à camada de areia. A casta
que serve de base aos vinhos tintos é a Ramisco.
De entre as castas brancas assinale-se a Malvasia.
De graduação alcoólica pouco elevada, o vinho tinto
é de cor rubi, áspero e adstringente enquanto novo
mas, se envelhecido, desenvolve um belíssimo aroma,
torna-se macio e a sua tonalidade aproxima-se da casca
de cebola. Deve, assim, ser bebido muito velho (7-10
anos), a uma temperatura próxima dos 18º C. O vinho
branco, de cor citrina, é geralmente mais alcoólico que
o tinto, fresco, de aroma agradável, acentuado sabor a
fruta, e melhora também extraordinariamente com o

17
envelhecimento, devendo ser bebido frio (a 12º, sendo
velho, 10º quando novo).

Península de Setúbal

A qualidade dos vinhos desta região justificou o


reconhecimento das DOC «Setúbal» para a produção
do vinho generoso, e «Palmela», na qual, para além dos
vinhos branco e tinto, se inclui também a produção de vinho
frisante, espumante, rosado e licoroso. O Vinho Regional
«Península de Setúbal» produz-se em todo o distrito de
Setúbal, principalmente a partir da casta tinta Castelão,
também chamada Periquita, com uma graduação alcoólica
nunca inferior a 12 graus.

Alentejo

O Alentejo produz vinhos de muito boa qualidade e


que vão sendo cada vez mais considerados pelos
apreciadores. Destacam-se, merecidamente, os tintos
de Reguengos de Monsaraz, os brancos da Vidigueira,
e os brancos e tintos de Borba, Redondo e Portalegre.

Os tintos são de cor rubi, aromáticos, robustos, de elevado


teor alcoólico, beneficiando muito com o envelhecimento.
Provêm, principalmente das castas Trincadeira, Tinta
Carvalha, Monvedro, Castelão e Moreto. Os brancos
são de cor citrina, de sabor agradável e alta graduação
alcoólica; as castas principais são Boal, Arinto, Roupeiro
e Tamarez.

A similitude das características organoléticas dos vinhos


do Alentejo justificam a comum DO «Alentejo», na qual
estão incluídas as seguintes 8 sub-regiões: Portalegre,
Borba, Redondo, Reguengos, Vidigueira, Évora, Granja-
-Amareleja e Moura.

18
A IG do Vinho Regional «Alentejano» abrange a totalidade
dos distritos de Évora, Beja e Portalegre.

Vinhos de outras regiões

M uitas outras regiões vitivinícolas mereceriam


um justo destaque.

É o caso de Entre Varosa e Távora, que produz vinhos


tintos e brancos, sendo especialmente apreciados pela
sua leveza e frescura. Ou Pinhel, que produz um vinho
clarete leve, muito agradável.

Na região de Lafões, encravada entre as regiões dos Vinhos


Verdes e do Dão, os vinhos têm características próximas
dos vinhos verdes mas menos acentuadas, são pouco
alcoólicos, apresentam elevada acidez e sabor a fruto.

Na actual região Tejo, antigo Ribatejo, Almeirim e


Cartaxo são os principais centros produtores. Na
generalidade os vinhos são bastante alcoólicos e os
tintos de cor forte e encorpados.

No Algarve, os vinhos tintos são de cor bastante aberta,


pouco encorpados, macios mesmo quando novos,
com sabor a fruta e elevada graduação alcoólica (os
brancos apresentam cor citrina, são também bastante
alcoólicos mas, apesar disso, suaves e aromáticos).
Além dos vinhos de consumo, produzem-se no Algarve
certos vinhos especiais de que cumpre destacar o
vinho aperitivo obtido a partir da casta Crato, que é
envelhecido em cascos de madeira. Tem uma graduação

19
mínima de 15 graus, é seco, cor citrina, e possui aroma
e sabor característicos.

Nos Açores, para além dos vinhos da Graciosa e dos


Biscoitos (ilha Terceira), tem uma tradição vinícola
muito antiga a ilha do Pico onde se produz, a partir
das castas Arinto e Verdelho, um belíssimo vinho de
elevada graduação alcoólica – entre 15 e 17 graus –
muito apreciado como aperitivo.

Os rosés

D ada a posição que Portugal obteve no comércio


internacional dos vinhos rosés, as autoridades
competentes consideraram necessário regulamentar
as respectivas técnicas de vinificação e características
analíticas e organolépticas. De acordo com tais princípios,
estes vinhos são produzidos a partir de castas tintas mas
por processos muito semelhantes aos usados no fabrico
dos vinhos brancos, donde resulta a sua cor rosada.
Podem ser secos ou mais ou menos doces. Todos os rosés
têm aroma frutado, são leves ao paladar e possuem a
graduação alcoólica normal dos vinhos de consumo.

Ao contrário do que durante muito tempo se pensou,


os vinhos rosés não são um tinto de 2.ª linha, mas sim
um vinho premium planeado e concebido como tal,
desde a escolha criteriosa das castas até ao momento
da vindima e da opção sobre o método da vinificação.

20
CONSELHOS
PARA UM BOM
APRECIADOR
Um vinho para cada prato

S e, para uma refeição comum, um só vinho pode


acompanhá-la totalmente, ao pretender-se um
pouco mais de requinte, dois vinhos são indispensáveis,
ou mesmo três, mas não mais.

Deve ter-se presente que a comida e os vinhos devem


constituir um todo harmónico, pelo que a escolha daquela
e destes se deve fazer simultaneamente (sempre que
possível). Até se pode dar o caso de a existência em casa
de um vinho excepcional, com que se quer obsequiar um
amigo, dever condicionar a escolha das iguarias a servir,
para que as qualidades do vinho possam ser devidamente
expostas e apreciadas. Ora, harmonizar os componentes
de uma boa refeição é sempre possível e... não é difícil.

Aqui ficam alguns conselhos:

Com aperitivos – Vinho generoso seco ou meio-seco


(Porto branco seco, Madeira Sercial, Madeira Verdelho,
Pico) ou vermutes. No tempo quente, o Alvarinho pode
constituir um magnífico e elegante aperitivo.

Depois da sopa, deve logo ser servido o vinho que irá


acompanhar o primeiro prato e que será:

Com ostras, ameijoas, etc. – Vinho branco muito seco


e leve: Vinhos Verdes, Lafões ou Vale do Varosa;

21
Com crustáceos e peixes frios – Vinho branco seco ou
ligeiramente doce, encorpado: Bucelas, Colares, Douro,
Bairrada, Alcobaça, Algarve;

Com peixes quentes, lampreia, atum – Vinho branco


mais aveludado e mais encorpado: Dão, Vidigueira,
Borba, Palmela;

Com peixes guisados ou caldeirada, bacalhau assado


e sardinhas assadas – Além dos vinhos indicados para
os peixes quentes, um vinho tinto também se pode
harmonizar: Ribatejo, Dão, Alentejo;

Com entradas ou charcutarias frias – Vinho leve, branco


ou rosé: Bairrada, Lafões, Pinhel, Vinhos Verdes;

Com entradas ou charcutarias quentes – Vinhos brancos


mais encorpados ou tintos medianamente encorpados:
Dão, Douro, Bucelas, Colares, Alentejo (brancos) ou Dão,
Douro, Alcobaça, Algarve (tintos);

Com criação e caça de penas – Um grande vinho


envelhecido: Dão, Reguengos, Colares;

Com carnes brancas assadas e grelhadas – Vinho tinto


medianamente encorpado: Borba, Portalegre, Colares,
Alcobaça. Com certos assados, especialmente o leitão,
harmoniza-se bem o espumante natural bruto;

Com carnes vermelhas, assadas e grelhadas ou guisadas


– Vinho tinto velho encorpado: Dão, Bairrada, Palmela,
Ribatejo, Reguengos, Vinhos Verdes (Amarante e Penafiel);

Com queijo – Se este for servido antes dos doces ou


fruta, pode ser acompanhado com o vinho que tiver
acompanhado a carne. Ou é então a ocasião de servir a
melhor preciosidade que se possui em vinho tinto, bem
encorpado e de grande bouquet: velhos tintos do Dão,
de Reguengos de Monsaraz, de Borba ou de Colares. Se

22
o queijo for depois do doce ou da fruta, pode servir-lhe
de companhia um bom vinho generoso meio-seco ou
doce: Porto, Carcavelos, Madeira (Boal ou Malvasia);

Com doces – Para além dos generosos já referidos, como


um Porto, Moscatel ou um Madeira, também os brancos
de colheita tardia poderão ser adequados;

Com o café – Uma aguardente velha.

Cuidados a ter com os vinhos


antes de os servir

O vinho, para expandir todas as suas qualidades,


deve ser servido a uma temperatura correcta, que
varia conforme os tipos de vinhos.

De uma maneira geral, devem ser servidos à temperatura


ambiente, ou ligeiramente superior (18-22º C), os vinhos
generosos doces, os vinhos velhos e os tintos encorpados,
ainda que recentes, bem como as aguardentes. Os vinhos
tintos leves, os brancos secos, os claretes, palhetes e os rosés,
e também os generosos secos, devem beber-se ligeiramente
frios (7 a 12º C). Muito frios beber-se-ão os vinhos brancos
doces e os espumantes naturais.

O vinho nunca deve ser sujeito a variações bruscas de


temperatura, mas antes ser levado gradualmente àquela
que se pretende. Por isso, nem deve, no frigorífico, ser
colocado na zona de congelação, nem, para o aquecer,
se deve usar calor directo.

As garrafas de bons vinhos devem ser abertas cerca


de 30 minutos antes do serviço, para que a oxidação do
produto, ao contacto com o ar, provoque um começo
de desenvolvimento do bouquet. Convém usar um saca-
-rolhas de rosca ou espiral, munido de alavanca para

23
evitar sacudir o vinho. Tratando-se de vinhos velhos,
convém sempre prová-los antes de os servir, para evitar
surpresas desagradáveis (pode estar passado ou morto).

O serviço do vinho

O s vinhos devem ir à mesa nas próprias garrafas


originais, depois de devidamente limpas, tendo
o cuidado de as apresentar de forma que se vejam os
rótulos, excepto em caso de necessidade de decantação.

Devem servir-se sempre com cuidado. Os brancos podem


ser vertidos nos copos de altura de 10-15 cm, sobretudo
quando se quiser evidenciar o desprendimento de espuma;
os tintos, especialmente se forem velhos, devem ser
servidos de menor altura, ou até encostando o gargalo da
garrafa ao copo e deixando o vinho correr suavemente. O
uso de um anti-pingos também é recomendável.

Os copos nunca devem ser completamente cheios, mas até


2/3 tratando-se de vinho branco, ainda um pouco menos se
for tinto ou generoso, para melhor se apreciarem os aromas.

Os copos devem ser incolores, suficientemente grandes


para que se lhes possa imprimir um certo movimento de
rotação, indispensável ao desprendimento do bouquet,
sem o perigo de o vinho sair; devem, de preferência,
ter pé e boca mais ou menos fechada e, finalmente, ser
discretos para não desviarem excessivamente a atenção
do vinho que contêm. Deve pegar-se pelo pé e base e
não no corpo do copo para não alterar a temperatura
do vinho.

Quando não se disponha de mais de dois tipos de copos


para os vinhos de consumo, devem ser usados os mais
pequenos para o vinho branco e os maiores para o tinto.

24
OS COPOS MAIS APROPRIADOS

25
A GARRAFEIRA
PARTICULAR

T
er uma pequena mas cuidada garrafeira não
é tão difícil como à primeira vista se supõe.
E a sua manutenção constitui um óptimo
passatempo, além de ser uma prova de consideração
para com os convidados.

Idealmente, a garrafeira deve ser uma ampla divisão, em


princípio, na cave, com pouca luz, isenta de vibrações,
arejada, mantendo uma temperatura média de 10 a 12º C
e um pouco húmida. Mas num andar citadino também
é possível manter uma pequena garrafeira que permita,
em qualquer momento, desfrutar do prazer de um bom
vinho cujo envelhecimento se foi acompanhando. Uma
parede da despensa pode conter facilmente 100 a 200
garrafas (100 garrafas, em cacifos plásticos, ocupam
aproximadamente 1 m2).

E o que deve conter uma garrafeira (ou o seu embrião)?

Naturalmente, algumas garrafas de vinhos generosos:


Porto Vintage ou L.B.V., de boas colheitas, Porto seco,
Madeira seco e doce. Se se quiser diversificar um pouco
mais, acrescentar Carcavelos que, pela sua raridade,
empresta sempre uma nota de distinção ao serviço.

No capítulo dos vinhos brancos são indispensáveis


umas garrafas bem escolhidas de Bucelas, Colares,
Dão, Alentejo e algum Vinho Verde. O vinho do Douro
também faz falta numa garrafeira cuidada.

26
No que respeita aos vinhos tintos é fundamental que
não faltem os Douro, os Dão envelhecidos, de grande
bouquet, e bem assim os Alentejo (especialmente
Reguengos de Monsaraz e Borba) e os Colares. Um
bom vinho da Bairrada também se pode considerar
importante assim como alguns vinhos verdes
bem escolhidos.

É evidente que estas indicações não pretendem excluir


nenhum vinho português da garrafeira de cada um. Pelo
contrário. O que se pretende é que cada um, à medida
que se vai tornando «conhecedor», faça as suas próprias
«descobertas» e vá, de dia para dia, personalizando a
sua garrafeira, seja ela grande ou pequena. E, para os que
se vão iniciar, um último conselho: explorem as adegas
cooperativas dispersas pelo país e vão descobrindo
os seus segredos. Encontram-se, frequentemente,
verdadeiras preciosidades.

É de grande utilidade ter-se um Livro da Garrafeira,


onde se irão anotando as aquisições de cada vinho, a
data de entrada, a origem, o ano da colheita, e outras
indicações particulares.

27
FONTES CONSULTADAS
Anuário do Instituto da Vinha e do Vinho
Instituto do Vinho do Porto
Vinhos e Queijos Portugueses
Guia de Vinhos Proteste

Você também pode gostar