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Moralidade e Felicidade

Do ponto de vista formal, a felicidade consiste “num máximo de bem-estar no meu


estado presente e em toda a minha condição futura”; isto é, no contentamento de um ser
finito, cujas necessidades e desejos estariam plenamente satisfeitos. Mas, se se quiser
precisar a matéria desse contentamento, construir “um conceito determinado de
felicidade”, fracassa-se inevitavelmente, porque ela depende de condições múltiplas que
escapam ao nosso domínio. Há que confessar que nós não sabemos em que consiste a
felicidade nem como obtê-la. E no entanto não podemos impedir-nos de procurá-la:
trata-se de “um fim que pode supor-se com certeza e a priori em todos os homens,
porque faz parte da sua essência”. Através dos fins particulares que nós nos propomos,
temos implicitamente a mira da felicidade. A felicidade parece pois o fim supremo de
um ser racional e sensível.

Kant nega que a felicidade seja o princípio em que assenta a vida moral. Distingue
cuidadosamente moralidade e procura da felicidade: a moralidade supõe um dever; o
desejo de felicidade é natural e necessário  e não se obriga ninguém a querer o que em
todo o caso já quer.
Ignorando a natureza da felicidade, nós nunca temos a certeza dos meios a empregar
para alcançá-la; aqueles em que nos detemos têm apenas um carácter “hipotético”,
“prudencial”. Enfim: ao confundirmos moralidade e procura de felicidade,
subordinaríamos a primeira a algo de heterogéneo e arriscar-nos-íamos a transformar a
atitude moral num cálculo interesseiro. De todos os princípios que se invocam para
fundamentar a moral, “o princípio da felicidade pessoal é o mais condenável”.

Se é preciso distingui-las com cuidado, não se deve contudo separar nem opor
moralidade e felicidade. Kant supõe que o desejo da felicidade não pode ser frustrado se
se preencherem as condições morais necessárias para alcançá-la, e que o justo não pode
ser definitivamente infeliz.

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